PRIMEIRA PÁGINA
Plano federal previa polícia na cracolândia só em abril
O cronograma federal para ações na cracolândia,
obtido pelo Estado, previa que a polícia só começaria a atuar em abril. A
proposta, para ser discutida com os governos estadual e municipal de São Paulo,
era fortalecer os serviços de retaguarda em saúde e proteção social a partir de
fevereiro. Depois, em abril, seriam criadas bases móveis da PM. Além de São
Paulo, estão previstas ações no Rio, no Recife, em Salvador, no Distrito
Federal e em Porto Alegre. Como São Paulo interveio na cracolândia já em janeiro,
com a PM, acabou não avançando nas discussões com o Planalto. A Secretaria de
Justiça paulista informou que não teve acesso a nenhum documento federal com um
cronograma para agir na cracolândia
Uma nova tragédia
Bombeiros resgatam corpo em Sapucaia, no Rio:
deslizamentos de terra mataram oito pessoas, entre elas duas crianças, e 15
continuavam desaparecidas; em Minas, o número de mortes provocadas pela chuva
desde o fim do ano passado chega a 15
Bezerra criou comitê em ministério e nomeou o tio
O ex-deputado Osvaldo Coelho, tio do ministro
Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), foi nomeado há 4 meses pelo
sobrinho para integrar comitê para o desenvolvimento da agricultura irrigada,
criado dias antes. Trata-se do segundo integrante da família em cargo
subordinado ao ministro. A lei proíbe nomeação de parentes
Trânsito: Ministro na escolinha
Há dois anos sem carteira de habilitação por
excesso de multas, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) aproveitou as
férias para fazer o curso de reciclagem para motoristas em Brasília. Ele
reconhece que a maioria das infrações foi por excesso de velocidade e por uso
de celular ao volante: "É melhor fazer logo do que tentar dar jeitinho.
Isso nunca funciona", disse
Brasil estuda impor barreiras a celular chinês
Levantamento mostra que participação da China
nesses importados saltou de 54% para 85%, com aparelhos comprados até por US$
12
ECONOMIA
CHUVAS
11 morrem por causa das chuvas no Rio e em Minas
Deslizamento de terra em Sapucaia (RJ) deixou 8 mortos e 15
desaparecidos; em Além Paraíba (MG), foram 3 vítimas
PEDRO DANTAS / RIO, MARCELO
PORTELA, BELO HORIZONTE - O Estado de S.Paulo
Pelo menos oito pessoas (seis adultos e duas
crianças) morreram por causa da chuva em Sapucaia, no Médio Paraíba, Estado do
Rio, na madrugada de ontem, e outras três vítimas foram encontradas em Além
Paraíba, em Minas. Com isso, o número de mortes causadas pelos temporais nos
dois Estados chega a 24 desde o fim do ano passado - nove no Rio e 15 em Minas.
No principal incidente em Sapucaia, um deslizamento
de terra às 3h30 soterrou oito casas no distrito de Jamapará e deixou sete
mortos. Segundo os bombeiros, cerca de 15 pessoas continuavam desaparecidas
ontem. As buscas continuavam durante a noite. Em outro bairro da cidade, uma
casa desabou e matou um morador, de 45 anos.
A rapidez do deslocamento da terra surpreendeu os
moradores de Jamapará, cujas casas ficam em uma encosta, separada do Rio
Paraíba do Sul apenas pela BR-393. Outros moradores já haviam deixado suas
casas durante a noite de anteontem, logo após o início da enxurrada, prevendo
um acidente como o ocorrido em janeiro do ano passado, quando não houve
vítimas. Uma família, que tentava deixar o bairro em um Fusca, foi soterrada
dentro do carro.
Os mortos resgatados até a noite de ontem eram Luiz
Carlos Nassifi, de 40 anos, e sua neta, Ana Maria Costa Bela Nassifi, de 3; um
casal identificado como Sérgio e Solange, cujo filho de 8 anos está
desaparecido; Rosiani Gomes Bastos, de 23, o filho Josiel, de 3, e Tiago
Carvalho, de 18.
A avalanche de lama e lixo desceu por toda a
encosta e parou apenas na altura do km 108 da pista da BR-393, que permanece interditada.
O governo federal enviou o Exército para auxiliar o trabalho de resgate dos
corpos e a desobstrução da rodovia. A Polícia Civil do Rio participa do resgate
com o transporte de bombeiros por helicóptero.
Em Outeiro, distrito de Cardoso Moreira, onde um
dique se rompeu anteontem e a água ameaçava invadir as casas, cerca de 300 dos
900 moradores ainda resistiam a deixar seus imóveis.
Minas.
Em Além Paraíba, segundo os bombeiros, um homem foi vítima de soterramento e
uma criança de 5 anos morreu afogada após ser arrastada pela água que invadiu a
cidade com a elevação do nível do Rio Paraíba do Sul. Durante a tarde, a
corporação conseguiu encontrar, após uma denúncia, o corpo de uma mulher que
também havia sido arrastada pela correnteza.
Outra mulher que teria sido levada pela enchente
está desaparecida. Além dela, o Estado tem outras duas desaparecidas - uma em
Santo Antônio do Rio Abaixo, na região metropolitana de Belo Horizonte, e outra
em União de Minas, no Triângulo Mineiro.
A enchente ainda deixou Além Paraíba isolada e sem
energia elétrica. Os principais acessos ao município, a BR-393 e a BR-116,
foram totalmente interditados em alguns trechos. Problemas semelhantes
ocorreram em Juiz de Fora e Muriaé, na Zona da Mata, que fica na divisa de Minas
com o Rio, e em Carandaí, Barroso e Barbacena, na região vizinha do Campo das
Vertentes.
Em Juiz de Fora, a tempestade que atingiu a região
também fez com que um prédio de dois andares e quatro apartamentos desabasse.
Segundo vizinhos, um dos moradores teria ficado soterrado, mas os bombeiros não
confirmaram a informação.
NACIONAL
Depois de pôr irmão em estatal, ministro deu cargo ao tio
em comitê
Osvaldo Coelho, ex-deputado e tio de Bezerra, não tem remuneração,
mas possui atuação política
Marta Salomon
BRASÍLIA - O ex-deputado federal Osvaldo Coelho
(DEM), tio do ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho, foi
nomeado há quatro meses, pelo sobrinho, membro do comitê técnico-consultivo para
o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes por portaria do
ministério. Trata-se do segundo integrante da família Coelho a ter cargo
indicado pelo ministro e subordinado a ele, contabilizada a permanência do
irmão Clementino na presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do
São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Osvaldo Coelho se diz perito em irrigação, tema que
atrai muito a atenção do sobrinho-ministro. Procurado pelo Estado, o tio
queixou-se de trabalhar pouco. Desde a criação, o comitê só se reuniu uma vez,
para a sua instalação, em 20 de setembro. "Estou fazendo de conta de que
sou conselheiro, mas não estou dando conselho nenhum. Não sei se o conselho é
que está estático ou se é o ministro", queixa-se.
A legislação - expressa em decreto presidencial e
em códigos de conduta - impede a nomeação de familiares por autoridades. O
Ministério da Integração nega que seja caso de nepotismo. Em nota, alegou que o
comitê não tem "personalidade jurídica". "Trata-se de um órgão
colegiado, paritário, consultivo e opinativo. A função de conselheiro não é
cargo em comissão ou função de confiança", diz a nota.
O Ministério da Integração Nacional alega ainda que
os integrantes do comitê da agricultura irrigada apenas opinam sobre a política
nacional de irrigação, sem direito a remuneração. "Quando necessário,
podem ser solicitadas apenas passagens e diárias", afirma a Integração. A
Controladoria-Geral da União (CGU) endossa o entendimento do ministério,
baseada no decreto editado em junho de 2010.
"Princípio
da moralidade". O código de conduta da Comissão de Ética Pública,
subordinado à Presidência da República afirma, porém, que "nomear, indicar
ou influenciar, direta ou indiretamente, a contratação, por autoridade
competente, de parente consanguíneo ou por afinidade para o exercício de cargo,
emprego ou função pública" ofende o princípio da moralidade administrativa
e compromete a gestão ética.
A nomeação do tio do ministro da Integração
Nacional deve ser analisado pela Comissão de Ética Pública, que volta a se
reunir em fevereiro.
Água e vinho.
Osvaldo Coelho nega que seja nepotismo. "Eu e o ministro somos água e
vinho, não temos nada para estarmos juntos. Apenas como eu tinha essa bandeira
da irrigação, decidi aceitar o convite", explica o ex-deputado.
Divergências políticas à parte, o sobrinho-ministro
Fernando Bezerra Coelho está seguindo à risca as recomendações feitas pelo tio.
As prioridades apontadas por Osvaldo Coelho são respaldadas pelo Programa Mais
Irrigação, em estudo pelo ministério e que deverá ser lançado em breve pela
presidente Dilma Rousseff.
A Codevasf, hoje presidida pelo irmão do ministro,
Clementino Coelho, vai ser a principal gestora do programa.
O perímetro batizado de Nilo Coelho, nome do
ex-senador e outro tio do ministro, em Pernambuco, será um dos primeiros a ter
edital publicado para parceria público-privada, ainda no primeiro semestre do
ano. Mais de 30% dos projetos de irrigação são considerados ociosos.
O Programa Mais Irrigação prevê a operação de 775
quilômetros quadrados de perímetros de irrigação até 2014, ano da próxima
eleição presidencial. "É uma coisa muito bacana", disse recentemente
o ministro.
Bezerra não registra 1ª compra e paga terreno duas vezes
Em nota, o ministro afirmou ontem que foi
"induzido a erro" ao usar recursos públicos na compra do mesmo
terreno duas vezes quando era prefeito da Petrolina (PE). A primeira compra
ocorreu em 1996, na primeira gestão de Bezerra, e a segunda, em 2001. Nas duas
vezes o dinheiro teria beneficiado o empresário José Brandão Ramos.
O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo.
"Por equívocos na gestão subsequente, a primeira aquisição do imóvel
deixou de ser registrada no Cadastro Imobiliário e no Registro Geral de
Imóveis, não sendo, tampouco, lavrada a escritura de compra e venda. Esse foi o
motivo pelo qual, em 2001, confiando nas informações oficiais, o município foi
induzido a erro e adquiriu novamente o terreno Raso da Catarina", diz a
nota. / RAFAEL MORAES MOURA e ANDREA
JUBÉ VIANNA
Por apoio do PSB, Dilma decide blindar ministro
VERA ROSA , RAFAEL MORAES MOURA / BRASÍLIA - O Estado de
S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff decidiu blindar o
ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e escalou o auxiliar
como porta-voz da reunião realizada ontem, no Palácio do Planalto, para criar
uma força-tarefa que atuará em áreas de risco de Estados afetados pelas chuvas.
Dilma avaliou como "inconsistentes" as denúncias que apareceram até
agora contra Bezerra e também não quer comprar briga com o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), padrinho do ministro.
Ao voltar a despachar ontem no Planalto, após as
férias de fim de ano, a presidente fez questão de demonstrar que mantém a
confiança em Bezerra. "Se eu não contasse com a confiança e apoio dela, não
estaria aqui", disse o ministro aos jornalistas, depois de apresentar as
diretrizes traçadas pelo governo para definir providências diante das fortes
chuvas que castigam o Sudeste. "Estou tranquilo porque nenhuma das
denúncias irá prosperar. O Tribunal de Contas aprovou todas as minhas
contas."
Sob intenso fogo cruzado, Bezerra enfrenta uma
série de acusações que vão de nepotismo a uso indevido de dinheiro público
quando era prefeito de Petrolina, em Pernambuco. No dia 3, o Estado revelou que
90% das verbas da Integração para obras contra desastres naturais foram
destinadas a Pernambuco, Estado natal de Bezerra.
Explicações.
Dilma orientou o ministro a dar explicações públicas sobre as denúncias e
acionou aliados para que saiam em sua defesa. Na quinta-feira, Bezerra prestará
esclarecimentos a uma "comissão representativa" do Congresso, chamada
assim por causa do recesso parlamentar.
Questionado se ainda pretende concorrer à
Prefeitura do Recife pelo PSB, ele desconversou. "Eu te respondo isso na
quarta-feira", disse, embora a sua ida ao Congresso deva ocorrer na
quinta. Na prática, a pré-candidatura de Bezerra não passa de uma estratégia de
Eduardo Campos para forçar o dividido PT a se entender na capital pernambucana,
compondo com os socialistas.
Na semana passada, o ministro foi alvo de
cotoveladas petistas. "Acho que a Defesa Civil tem de ser tratada como
política nacional. Não pode ficar subordinada a interesses político-partidários
aqui e acolá", afirmou o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação
do PT.
Aliado de Dilma, o governador de Pernambuco reagiu
com irritação às estocadas de Vargas e insinuou que o PSB poderia dar o troco
no PT nas eleições municipais. Diante do impasse, o presidente do PT, Rui
Falcão, divulgou nota dizendo que as relações entre os dois partidos são
"as melhores possíveis".
Sem querer se indispor com Campos, o deputado João
Paulo Lima e Silva - um dos pré-candidatos do PT à prefeitura do Recife -
também manifestou solidariedade a Bezerra. "Não vamos permitir que a adoção
de providências necessárias e urgentes seja tratada como um mero privilégio de
um Estado em relação aos demais", escreveu ele.
Bezerra falará para comissão 'governista'
ROSA COSTA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra
Coelho, deve ser ouvido pelos integrantes da comissão representativa do
Congresso na próxima quinta-feira e não na quarta-feira, como ele informou no
Palácio do Planalto. Bezerra ligou ontem para o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), quando sugeriu uma data para ser ouvido pelos parlamentares.
O Congresso está de recesso e é representado por uma comissão presidida por
Sarney.
Os partidos querem explicações do ministro Fernando
Bezerra sobre três denúncias que surgiram na semana passada: a de que
transferiu para seu Estado, Pernambuco, 90% dos recursos destinados à prevenção
de calamidades; a de que burlou a Lei do Nepotismo, ao manter seu irmão
Clementino Coelho na presidência interina da Codefasv por quase um ano; e a de
que teria favorecido o seu filho, deputado Fernando Coelho (PSB-PE), na
distribuição de recursos do ministério para atender às emendas parlamentares.
A composição da comissão representativa, com 7
senadores e 16 deputados, repete a proporção dos partidos. A oposição tem
apenas uma vaga de titular, ocupada por Alvaro Dias (PSDB-PR), e outra de
suplente no Senado. Na Câmara, a oposição tem três vagas de titulares e três de
suplentes, o que deixa o governo em situação confortável.
Sob protesto, Lupi volta à presidência do PDT
Posse foi marcada por manifestação de correligionários que
pedem a substituição imediata do ex-ministro
LUCIANA NUNES LEAL / RIO - O Estado de S.Paulo
Cerca de um mês depois de deixar o governo, o
ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi reassumiu ontem a presidência nacional do
PDT, da qual estava licenciado, sob protestos do Movimento de Resistência
Leonel Brizola. Lupi deixou o ministério depois de uma série de denúncias de
fraudes em convênios com ONGs e da revelação de que foi funcionário fantasma da
Câmara e da Câmara de Vereadores do Rio.
"Dilma, eu te amo: Cadê minha boquinha?",
dizia um dos cartazes de protesto, em referência a uma declaração feita por
Lupi quando ainda tentava se manter na pasta. Houve princípio de tumulto entre
os manifestantes e aliados do ex-ministro.
O ex-deputado Vivaldo Barbosa informou que o grupo
levará à próxima reunião do diretório nacional, em 30 de janeiro, a proposta de
substituição imediata de Lupi e convocação de nova eleição. "Lupi não pode
voltar à presidência do partido porque é uma figura política enxovalhada
nacionalmente", protestou.
O mandato de Lupi no comando do PDT vai até março
de 2013. "Nem Cristo conseguiu unanimidade. Quem está insatisfeito deve
organizar uma chapa, disputar as próximas eleições do partido e ganhar",
reagiu Lupi. O ex-ministro disse ter sido injustiçado, mas que não guarda
mágoas. "Não há um inquérito sequer aberto contra mim. Fiz minha retirada
estratégica e agora o tempo vai dizer quem tinha razão."
O ex-ministro vai percorrer o País organizando a
sigla para as eleições. Segundo Lupi, o PDT vai concorrer à prefeitura em pelo
menos 15 capitais. Ele negou a intenção de disputar uma vaga de vereador no
Rio.
NOTAS&INFORMAÇÕES
Descuidos bilionários
O Brasil tem bilhões de reais investidos em obras
sem possibilidade de uso por falta de um complemento. Outros bilhões serão
desperdiçados neste e nos próximos anos, se o planejamento e a execução dos
projetos continuarem tão ruins quanto têm sido há muitos anos. Um porto sem via
de acesso é tão inútil quanto uma hidrelétrica sem linha de transmissão, uma
termoelétrica sem combustível, uma eclusa sem rio navegável ou uma reserva de
petróleo sem equipamento de perfuração. Exemplos como esses poderiam parecer
casos de ficção em outros países, mas não no Brasil, onde o governo federal se
mostra incapaz, há muito tempo, de entregar obras em condições de
funcionamento. Em alguns Estados e municípios ainda resta competência
administrativa, mas a maior parte do setor público vai muito mal nesse quesito.
Isso foi comprovado, mais uma vez, em reportagem publicada no Estado desta
segunda-feira.
As eclusas de Tucuruí, segundo a reportagem,
custaram R$ 1,6 bilhão e foram inauguradas em 2010, mas só funcionam plenamente
em épocas de cheias, porque faltam as obras complementares para tornar o rio
navegável. A primeira turbina da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira,
deverá estar em condições de gerar energia cerca de um ano antes da linha de
transmissão estar pronta. O Porto de Itapoá, em Santa Catarina, é um dos mais
modernos da América Latina, mas seu uso é limitado porque o governo estadual
foi incapaz de concluir 23 quilômetros da Rodovia SC-415.
Todos esses casos - e muitos outros - indicam uma
falha fundamental no planejamento e na execução de projetos. Os administradores
descuidaram de condições críticas para a conclusão dos trabalhos e para o pleno
aproveitamento das obras. Por despreparo, desleixo ou mera incompetência na
execução das tarefas de supervisão e de coordenação, deixaram de respeitar a
sequência das operações e perderam de vista o objetivo global do investimento.
O descuido ocorreu, em alguns casos, em relação a
uma obra complementar - como a via de acesso a um porto ou a linha de
transmissão entre a usina geradora e os consumidores da energia. Em outros, em
relação ao fornecimento de um insumo, como o combustível necessário a uma
termoelétrica. Mas o cardápio de falhas é mais amplo.
O governo federal poderia ter financiado um número
muito maior de obras de saneamento básico, nos últimos anos, se mais municípios
tivessem capacidade para elaborar projetos. Muito dinheiro ficou parado, por
falta de uso, antes de se perceber a importância daquele detalhe: a maior parte
das prefeituras simplesmente carece de condições para planejar o investimento.
Esse item é um impedimento tão sério quanto o atraso na construção de uma
rodovia de acesso ou de uma linha de transmissão.
No caso da exploração do pré-sal, um dos grandes
problemas tem sido a incapacidade do governo de fixar prioridades. A Petrobrás
tem sido forçada a combinar dois objetivos - a dificílima e custosa exploração
do petróleo e do gás localizados em grandes profundidades e a compra de
equipamentos com elevado grau de nacionalização. A exigência de 70% de conteúdo
nacional tem criado problemas técnicos e de custos e isso tem prejudicado a
licitação para compra de sondas de perfuração.
A exploração do pré-sal pode gerar recursos muito
importantes para o desenvolvimento do País, mas esse é um empreendimento muito
caro e tecnicamente complicado. O governo comete um erro gravíssimo de
estratégia, ao torná-lo mais caro e mais complicado para atender a objetivos de
política industrial. O correto seria realizar essa política por outros meios,
desonerando a produção e procurando tornar as indústrias mais eficientes e mais
competitivas. A mistura de objetivos, especialmente quando envolve um
empreendimento do porte do pré-sal, é uma inequívoca demonstração de
incompetência na fixação de prioridades e na gestão de programas públicos. Essa
mesma incompetência se revela também nos investimentos custeados pelo Tesouro,
com realização sempre muito inferior à programada e sempre com a transferência
de grande volume de restos a pagar de um ano para outro.
ESPAÇO ABERTO
A (des)ordem internacional em 2012
Rubens Barbosa
ex-embaixador em Washington (1999-2004)
O novo ano nasce sob a marca da instabilidade
política no cenário internacional e da volatilidade e da incerteza na área
econômica. A democracia e o mercado estarão em xeque em 2012.
O mundo vive em sobressalto diante da crise
econômica e financeira que se abate sobre os EUA e a União Europeia (UE). Não
bastasse, são igualmente inquietantes alguns sinais que, isolados, podem não
parecer preocupantes, mas, quando vistos em conjunto, adquirem o caráter de uma
possível grave crise nos próximos meses.
O quadro mais complexo está no Oriente Médio.
Permanece a possibilidade de um ataque, aberto ou por meio de ações
clandestinas, às instalações nucleares no Irã. Notícias de que o Reino Unido e
Israel se preparam militarmente para atacar o Irã diminuíram, mas não
desapareceram, como evidenciado pela questão da passagem do petróleo pelo
Estreito de Ormuz. A concentração de tropas norte-americanas no Kuwait e o
lançamento bem-sucedido de mísseis de longo alcance israelense e iraniano
indicam que preparativos de lado a lado se intensificam. Isso não quer dizer
que o ataque seja iminente nem que será levado a efeito, mas esses fatos ajudam
a aumentar a tensão na área, agravada pelos ataques recíprocos Israel-Hamas,
apesar da retomada das conversações. O estado de guerra civil na Síria contra o
governo de Bashar Assad pode propiciar a repetição da fórmula utilizada pela
Otan na Líbia. Para complicar ainda mais a situação, depois da queda dos
regimes autoritários da Tunísia, do Egito e da Líbia, no Norte da África a
primavera árabe começa a se defrontar com as inevitáveis rivalidades internas,
questões tribais e religiosas afloram e ameaçam a transição para a democracia,
podendo reacender focos de guerra civil. A retirada do Afeganistão e do Iraque
das forcas militares dos EUA não contribuirá para reduzir as tensões e vai
concentrar as atenções nas ações do Irã nesses dois países. O Paquistão nuclear
continuará a preocupar pela instabilidade política.
As Nações Unidas, locus para a discussão de
questões de paz e de segurança, saíram desgastadas depois dos episódios na
Líbia. A resolução aprovada permitindo medidas necessárias para proteger vidas
humanas foi ampliada, sem autorização da comunidade internacional, pelos
membros da Otan, liderados pelo Reino Unido e pela França, com a tácita
cumplicidade dos EUA. Não só para interferir numa guerra civil, mas para caçar
e matar Muamar Kadafi. A experiência líbia é o primeiro caso de aplicação do
novo conceito estratégico de atuação de uma forca da segurança global capaz de
intervir em outros países com ou sem autorização do Conselho de Segurança.
Estabeleceu-se perigoso precedente que poderá ser invocado a qualquer momento
contra a Síria, o Irã ou outros países vistos como ameaça à comunidade
internacional. O Brasil, que corretamente se absteve quando da aprovação da
resolução sobre a Líbia, está apresentando proposta para limitar esse tipo de
excesso, sugerindo que a preocupação da ONU seja não só no sentido de exercer a
responsabilidade de proteger, mas também ao proteger.
Por outro lado, o pedido da Autoridade Palestina de
ingresso como membro permanente da ONU, feito ao Conselho de Segurança, foi
esquecido. Os EUA e Israel retaliaram, com corte de dotações orçamentárias, a
decisão de entrada da Palestina na Unesco.
Ao preocupante cenário político internacional
devem-se acrescentar a instabilidade e o baixo crescimento, que deverão
perdurar entre cinco e dez anos em razão das crises econômicas na Europa e nos
EUA.
A crise europeia continuará a manter alta a
temperatura política no continente, por causa da negociação de um novo tratado
de responsabilidade fiscal e da possibilidade concreta de que outros países
tenham de ser socorridos a fim de evitar a ameaça de rompimento do sistema
monetário ou mesmo da união política do continente.
O G-20 continuará procurando se consolidar como um
fórum para o exame da evolução da crise econômica e o dólar continuará a perder
valor. A produção de petróleo não está aumentando, o que manterá os preços
altos por muito tempo, acrescentando mais um elemento de pressão contra a volta
do crescimento.
As demonstrações anticapitalismo, fruto da
frustração da classe média, que surge como grande perdedora, espalhar-se-ão por
diversas capitais e continuarão a exercer pressão sobre os principais centros
financeiros, embora sem consequências práticas.
Os países emergentes, China à frente, continuarão a
liderar o crescimento da economia global e deverão superar em 2012, em termos
de produto interno bruto, os países desenvolvidos. O Brasil deverá ter seu
crescimento reduzido pela crise. O comércio internacional deverá estagnar ou
registrar uma expansão menor, em função da desaceleração econômica nos EUA e na
UE e da restrição dos financiamentos a exportação.
Eleições em 24 países, inclusive nos EUA, na
França, na China e na Rússia, definirão os novos líderes que terão de enfrentar
os desafios impostos pelas incertezas e instabilidades.
Os EUA, no meio de uma continuada crise de
confiança, de baixo crescimento e de aumento do desemprego, começam a se
preparar para as eleições presidenciais. A campanha para as prévias, do lado
republicano, mostra como o sistema político naquele país está disfuncional, com
efeito negativo direto sobre o funcionamento do governo. O fator preocupante é
que os neoconservadores - fundamentalistas falando inglês - estão de volta, com
toda a força, e a reeleição de Barack Obama - que até aqui parece a melhor
perspectiva - não está assegurada. A vitória de um candidato republicano certamente
teria um impacto expressivo sobre o cenário político e econômico global.
VIDA/AMBIENTE
Europa exige que companhias aéreas compensem emissão de
gases-estufa
Norma da União Europeia, que entrou em vigor no dia 1º,
obriga empresas voem para o bloco a comprar permissões de emissão
Karina Ninni
Desde o dia 1.º, a União Europeia está exigindo a
compensação das emissões de gases-estufa das empresas aéreas que fazem voos
para o bloco. Elas devem entrar no mercado de carbono europeu, comprando
permissões de emissão de projetos ou empresas.
As emissões da aviação representam 2% das emissões
globais de gases causadores do efeito estufa (GEEs), mas estão em ascensão. As
emissões da aviação internacional dos países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto
subiram 61,8% de 1990 a 2009.
"A eficiência do transporte aéreo é bem maior
que a do terrestre. Além do mais, a frota de veículos é muito superior à de
aviões", explica a consultora Rafaela Tocalino, da WayCarbon.
As novas medidas causaram a ira de países como os
EUA e a China. Empresas norte-americanas haviam contestado a lei na Corte
Europeia de Justiça que, no final de 2011, julgou improcedente o argumento das
companhias e referendou a norma.
Agora, os EUA estudam formas de retaliação, além de
apelar para a Organização Internacional da aviação Civil (Icao, na sigla em
inglês). A China já afirmou que não vai cumprir a norma e a Índia faz coro.
Especialistas falam em "guerra comercial". No Brasil, a TAM, única
companhia nacional a voar para a Europa, afirmou em nota que está alinhada com
a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que
representa 240 companhias aéreas e é contra a medida.
"A oposição à obrigatoriedade de entrar no
esquema europeu de permissões de emissão é generalizada fora da Europa, não só
por parte das companhias aéreas, mas dos países em que são sediadas. Em
setembro de 2011, 21 nações assinaram a Declaração de Délhi, formalizando a
oposição", afirma Perry Flint, chefe de comunicação corporativa da Iata
para as Américas. "Na opinião da Iata, medidas de mercado devem ser
introduzidas pela Icao. Normas regionais vão criar distorções mercadológicas,
retardar esforços para uma solução global e fomentar a adoção de medidas
unilaterais em outras partes do globo, que vão se sobrepor umas às outras,
levando a novas distorções."
Adesão.
Até agora, quatro empresas norte-americanas já aderiram às normas e anunciaram
repasse dos custos para o consumidor final: American Airlines, US Airways
Group, Delta Air Lines e United Airlines. Elas acrescentaram US$ 3 por trecho
às passagens para destinos europeus. A alemã Lufthansa também já avisou que vai
elevar as tarifas, mas a cúpula da empresa crê que as regras serão postergadas.
"O esquema vai ter de ser adiado, pois há
queixas de todos os lados. A União Europeia não pode pagar o preço de um
conflito de longo alcance com seus parceiros mais importantes", afirma
Peter Schneckenleitner, do setor de comunicações da empresa, que calculou o
custo com a lei em 130 milhões.
As empresas aéreas norte-americanas esperam um
posicionamento formal do governo Obama a esse respeito.
"Temos a palavra da Casa Branca de que vai
tomar uma atitude, que pode incluir ações legais, retaliações e qualquer medida
que faça com que a UE retire suas medidas unilaterais", afirmou Steve
Lott, porta-voz do grupo Airlines for America.
Cai Haibo, secretário-geral da China Air Transport
Association (Cata), afirmou que a China não vai cooperar e que pode haver
"enorme pressão" contra as normas europeias.
"Se os governos de países como os EUA, a China
e a Rússia lançarem mão de medidas retaliatórias, farão enorme pressão e espero
que mudem a conduta da UE", afirmou ele. A associação estima que o esquema
de compra de permissões de emissão vá custar às companhias chinesas US$ 123 milhões
em 2012.
As novas regras exigem, no primeiro ano de
vigência, que as empresas compensem apenas 15% de suas emissões. Essa
porcentagem aumenta depois de 2013.
As companhias aéreas que não voarem com o número
adequado de licenças de emissão poderão pagar multa de até US$ 130 por tonelada
de emissão de dióxido de carbono e, segundo autoridades da UE, em último caso,
podem ser até banidas do espaço aéreo europeu. Já o valor médio da tonelada de
carbono equivalente (igual a 1 crédito) no mercado europeu em 2011 foi de US$
17,75. "Estimamos que, no primeiro ano, a norma vá custar às companhias
aéreas US$ 1,144 bilhão e, até 2020, US$ 3,559 bilhões", afirma Flint, da
Iata. / COM REUTERS e AP
AVIAÇÃO
Concessões vão exigir aporte extra da Infraero
Estatal vai precisar de mais R$ 403 milhões para Guarulhos,
Viracopos e Brasília
EDNA SIMÃO, RENATO ANDRADE / BRASÍLIA - O Estado de
S.Paulo
O governo federal terá de fazer uma injeção
adicional de R$ 403 milhões nas empresas que serão constituídas após a concessão
dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília para garantir a participação
acionária de 49% no negócio. O leilão está marcado para 6 de fevereiro.
A previsão inicial da Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) era de entrar com R$ 195,8 milhões.
Porém, as alterações no edital de leilão dos aeroportos após avaliação do
Tribunal de Contas da União (TCU) fizeram com que o desembolso previsto
saltasse para R$ 598,8 milhões.
O aumento do aporte da Infraero será necessário
porque o TCU elevou em mais de três vezes o capital social mínimo, ou seja, o
montante necessário para se constituir e iniciar as atividades da nova empresa
enquanto ela não tiver recursos suficientes para se sustentar.
Na minuta do edital de concessão, o capital mínimo
exigido para os três aeroportos era de R$ 399,6 milhões. Esse valor, no
entanto, teve uma alta de mais de 200%, atingindo R$ 1,2 bilhão. No caso do
Aeroporto de Guarulhos, passou de R$ 191,5 milhões para R$ 543,3 milhões.
A situação se repete em Viracopos, cujo montante
subiu de R$ 125,97 milhões para R$ 435,5 milhões, e em Brasília, de R$ 82,1
milhões para R$ 243,25 milhões. Uma fonte do governo avalia que o TCU quer
impedir a entrada de empresas "aventureiras" no negócio.
Por exigência dos editais de concessão, os três
aeroportos terão de ser operados por sócios estrangeiros. Os grupos privados
que forem disputar o leilão terão de contar com um operador com pelo menos
cinco anos de experiência em aeroportos com trânsito de mais de 5 milhões de
passageiros por ano.
Preço mínimo.
Além da mudança no capital social do futuro concessionário, o TCU também
determinou outras alterações. O preço mínimo do leilão praticamente dobrou. O
valor total dos três aeroportos passou de R$ 2,9 bilhões para R$ 5,5 bilhões.
O lance mínimo para o leilão do Aeroporto de
Guarulhos, por exemplo, passou de R$ 2,3 bilhões para R$ 3,4 bilhões. O governo
aposta que haverá competição pelos aeroportos, o que deve garantir um preço
final das outorgas acima dos valores fixados nos editais.
A elevação do preço mínimo foi baseada na revisão
dos valores de investimentos a serem feitos pelos futuros concessionários, que
foram reduzidos, em média, em 25%.
Agora estão previstas aplicações de R$ 16,2 bilhões
para o período de concessão que varia de 20 a 30 anos, sendo R$ 4,7 bilhões em
Guarulhos, R$ 8,7 bilhões em Viracopos e R$ 2,8 bilhões em Brasília.
Até a Copa do Mundo de 2014, os vencedores do
leilão terão de aplicar R$ 2,9 bilhões. Originalmente, a previsão era de
investimentos de R$ 21,3 bilhões, sendo R$ 4,2 bilhões até a Copa do Mundo de
2014.
Atrasos.
A ideia inicial do governo federal era licitar os três aeroportos em 22 de
dezembro do ano passado. Como houve atraso no cronograma - provocado, por
exemplo, pelas alterações no edital para atender às recomendações do TCU -, o
leilão foi adiado para fevereiro.
A mudança na data já faz com que algumas obras
sejam adiadas. Esse é o caso do segundo terminal de passageiros do Aeroporto de
Guarulhos, que será construído no galpão da Transbrasil.
Essa obra terá de aguardar até fevereiro para ser
iniciada. Isso porque, se o governo realizasse uma licitação agora, demoraria,
pelo menos, três meses para que o empreendimento começasse a sair do papel. Com
isso, o governo não quis arcar com esse investimento, que será feito pelo
vencedor do leilão.
METRÓPOLE
Plano do governo federal previa ação policial na
cracolândia só em abril
Cronograma obtido pelo "Estado" mostra também que
ainda neste semestre Rio, Recife, Salvador, DF e Porto Alegre terão intervenções
BRUNO PAES MANSO - O Estado de S.Paulo
O cronograma traçado pelo governo federal para ser
discutido com o Estado e a cidade de São Paulo previa o começo das ações
policiais na cracolândia apenas em abril. A proposta era começar o ano
fortalecendo serviços de retaguarda nas áreas de saúde e proteção social e
inaugurar os consultórios de rua em fevereiro. Só depois seriam instaladas
bases móveis da Polícia Militar em locais com alta concentração de consumidores
de drogas e iniciado o policiamento ostensivo na região, com monitoramento das
ruas por câmeras. Em maio, o policiamento dessas áreas ganharia apoio de
equipes de ronda ostensiva - no caso de São Paulo, a Rota.
O cronograma ao qual o Estado teve acesso - e que
está sendo coordenado pela Casa Civil do governo federal - prevê uma série de
intervenções em cracolândias ainda neste semestre em seis capitais brasileiras:
além de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Distrito Federal e Porto
Alegre. Mas a antecipação da intervenção no centro paulistano para janeiro
acabou prejudicando o diálogo com a União, que deveria ser intensificado neste
mês.
"Cenas". Uma das ações dificultadas pela
ocupação da PM na cracolândia foi, por exemplo, o mapeamento pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) dos mais de cem pontos de consumo de crack em São Paulo
- chamados no estudo de "cenas do crack". Os 12 pesquisadores da
entidade - que estão conversando com usuários para identificar necessidades de
tratamento e equipamentos públicos - enfrentam problemas por causa da migração
de dependentes pela região central. O plano do governo federal previa ainda
estratégias para o caso de dispersão de consumidores, com deslocamento de bases
policiais e escritórios de rua.
O detalhamento e a sequência das ações eram uma
tentativa de facilitar que o pacote de R$ 4 bilhões em ações para combater o
crack, divulgadas em dezembro pela presidente Dilma Rousseff, começassem
rapidamente a sair do papel. Na estratégia discutida pela União, os policiais
ainda têm tarefas bem detalhadas. No caso de encontrarem uma pessoa
inconsciente ou correndo risco de morte, por exemplo, devem chamar o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência. Caso um adulto seja flagrado com droga, deve ser
encaminhado ao Distrito Policial, onde será indicada uma Unidade Básica de
Saúde, Centro de Apoio Psicossocial ou Centros de Referência Especializado de
Assistência Social.
A secretária de Estado da Justiça, Eloisa de Sousa
Arruda, diz, no entanto, que não teve acesso a nenhum documento do governo
federal com definição de datas para ações na cracolândia. Mas isso, segundo
ela, não significa que Estado e União não pretendam conversar daqui para a
frente. Eloisa diz que a parceria com a União já permitiu a São Paulo montar um
Centro de Atendimento de Saúde Mental em Perdizes, na zona oeste.
"Queremos ampliar as conversas para termos mais recursos."
A Assessoria de Comunicação do Ministério da
Justiça ressaltou que constitucionalmente o governo federal não pode tomar
medidas unilaterais sem que Estado e município sejam ouvidos, pois são eles que
tomam as decisões locais.
Paulo Bernardo volta às aulas
Com 30 pontos na carteira e há 2 anos sem habilitação,
ministro fez ontem curso no Detran
LISANDRA PARAGUASSU ,
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Em uma sala do primeiro andar da Escola de Educação
de Trânsito de Brasília um aluno ilustre assistia ontem, discretamente, à sexta
aula do programa de reciclagem para motoristas que perderam a carteira. O
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, há dois anos sem habilitação, decidiu
aproveitar as férias para retomar o direito de dirigir.
Na sua sala, a maior parte dos cerca de 50 alunos
não sabia que o colega era ministro até a reportagem do Estado chegar. O
assunto, no entanto, virou piada quando os colegas entenderam quem era o senhor
grisalho sentado na primeira fila.
"Se até ministro tem aqui, a lei está
funcionando. Quem sou eu para reclamar", disse um dos presentes,
arrancando risadas dos colegas.
Paulo Bernardo contou que perdeu a carteira há mais
de dois anos, quando passou dos 30 pontos em infrações - o limite máximo é de
20 pontos. Ao ser notificado pelo Departamento de Trânsito (Detran), entregou a
carteira e, afirmou, não dirigiu mais. Em Brasília, usava o motorista do
ministério. Em Curitiba, entregava a direção para sua mulher, a ministra da
Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
"Tinha de fazer o curso, mas cadê
tempo?", disse. "Agora aproveitei as férias." Ao sair do curso,
pegou uma carona e fez piada sobre o colega que saiu do prédio do Detran
dirigindo apesar de, obviamente, estar sem carteira.
Apertado em uma carteira pequena demais, o ministro
parecia concentrado no que dizia a instrutora, mas reagiu com bom humor ao ser
fotografado. Alguns colegas, no entanto, preferiram sair da sala para não
correr o risco de aparecer em uma foto como infratores. A maioria também perdeu
a carteira por excesso de pontos.
Paulo Bernardo reconhece que suas infrações são
principalmente excesso de velocidade e falar ao celular enquanto dirige.
Justifica que em Curitiba, sua cidade natal, a fiscalização é muito rígida. Tem
certeza que alguns pontos não são seus, mas conta que não contestou e agora é
tarde. "A responsabilidade é minha. E é melhor fazer logo do que tentar
dar jeitinho. Isso nunca funciona", disse.
Reciclagem.
O curso do Detran é feito em oito dias úteis de aulas, das 8h às 11h30. O
motorista revisa as leis de trânsito, aprende sobre direção defensiva e tem
noções de primeiros socorros. Ao final dos oito dias - Paulo Bernardo termina
na próxima quarta-feira -, é preciso acertar 70% das 40 questões da prova. Se
isso não acontece, há uma nova chance. Mais um fracasso e o motorista precisa
fazer todo o curso de novo.
Paulo Bernardo não é a primeira presença ilustre na
Escola de Trânsito de Brasília. Há quatro anos e meio, o campeão de Fórmula 1,
Nelson Piquet, também foi pego fazendo o curso. Piquet tinha 128 pontos na
carteira, de acordo com o Detran. Mas o piloto garante que seus mesmos eram
apenas 28.
ECONOMIA
Anatel terá de dar aval à importação de telefone celular
Objetivo é impedir entrada de produtos de má qualidade no
País; hoje, agência só é acionada quando aparelho já está no mercado
KARLA MENDES / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Toda importação de celulares terá de passar pelo
crivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) antes de o produto ser
comercializado no País. Essa é uma das frentes de combate que o governo deve
adotar para impedir que aparelhos de má qualidade, que colocam em risco o
consumidor, cheguem às prateleiras. Em testes realizados pela agência foram detectados
problemas graves em alguns modelos chineses, que apresentaram até mesmo risco
de explosão.
"A Anatel fez alguns testes e constatou
problema de bateria, de choque elétrico e até mesmo risco de explosão. De cada
dez celulares, dois ou três não funcionaram, não conseguiam nem fazer
ligação", disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. O problema
foi levado ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Fernando Pimentel.
Uma das soluções propostas é que a Anatel participe
do processo de importação, emitindo uma espécie de selo de qualidade antes de o
produto ser comercializado, assim como foi feito com o Inmetro para a
importação de brinquedos.
"Quando for feita uma guia da importação, a
Anatel vai ser chamada para dar a anuência e fazer os testes com os celulares.
É importante protegermos o consumidor", ressaltou Bernardo.
Maximiliano Salvadori Martinhão, secretário de
Telecomunicações do Ministério das Comunicações, explica que hoje o órgão
regulador só é acionado depois que o aparelho já está no mercado.
"Qual é a regra? Antes de comercializar, tem
de homologar na Anatel. Como a importação já foi feita, a empresa distribui no
mercado o produto e o que a Anatel faz é secar gelo", critica.
Mercado
negro. Outra frente que será adotada para combater o "mercado negro de
celulares", segundo o secretário, é que as operadoras de telefonia só
poderão habilitar aparelhos certificados pelo órgão regulador.
"Todo aparelho celular tem um número, chamado
"Imei". Quando a Anatel certificar, a operadora terá de informar esse
número. Os Imeis que não tiverem sido aprovados, não serão habilitados pelas
prestadoras", destaca Martinhão.
A estimativa é que o mercado de celulares
importados ilegalmente movimente cerca de R$ 4 bilhões por ano. São cerca de 14
milhões de aparelhos, que correspondem a aproximadamente 20% da base de
aparelhos comercializados oficialmente no País, segundo o secretário.
Segundo Nelson Fujimoto, secretário de Inovação do
Ministério do Desenvolvimento, boa parte desses aparelhos acabaram caindo no
gosto dos brasileiros por comportarem até quatro chips. Como 80% da base de
celulares habilitados no País são pré-pagos, muitos consumidores compram esses
terminais para aproveitarem promoções de várias operadoras simultaneamente.
O secretário observou que o Brasil, no entanto,
ainda não conta com a tecnologia para a produção de aparelhos de mais de um
chip.
"Essa é uma tecnologia que não existe
aqui", alertou. Por essa razão, o governo quer dar benefícios fiscais para
estimular a produção desse tipo de aparelho no País.
INTERNACIONAL
Irã condena cidadão americano à morte sob acusação de
espionagem
Ex-fuzileiro naval dos EUA com dupla cidadania
"confessou" ser agente da CIA, afirma Teerã
Associated Press e Reuters
TEERÃ - Num novo capítulo na escalada de tensão
entre Irã e EUA, a Justiça iraniana sentenciou à morte nesta segunda-feira, 9,
um cidadão americano sob acusação de espionagem. Fuzileiro naval da reserva com
passagem pelo Iraque e Afeganistão, Amir Mirza Hekmati tem cidadania iraniana e
americana e foi acusado de "trabalhar para a CIA". Ele tinha sido
preso em dezembro e, segundo Teerã, "confessou" ser espião.
A notícia vem à tona em meio à crescente tensão
entre os dois países. O Irã tem ameaçado fechar o Estreito de Ormuz, por onde
passa 40% do suprimento de petróleo do mundo. A medida seria uma resposta às
sanções adotadas pelos EUA contra o programa nuclear iraniano. Na segunda, a
ONU confirmou que o Irã começou a enriquecer urânio em mais uma usina.
Segundo o porta-voz do Judiciário de Teerã,
Gholamhossein Mohseni-Ejei, o iraniano-americano "cooperou com um país
hostil" e "trabalhou para a CIA". A sentença precisa ainda ser
chancelada pela Suprema Corte, que sempre tem a palavra final sobre execuções no
Irã.
Os EUA confirmaram que Hekmati, de 28 anos, servira
no Corpo de Fuzileiros Navais como tradutor, mas negaram que ele seja espião ou
tenha sido enviado ao Irã pela CIA.
"Visita às avós"
Os pais de Hekmati, que vivem na cidade de Flint,
no Estado de Michigan, disseram-se "chocados e apavorados" com a
notícia de que o filho foi sentenciado à pena capital. Eles afirmaram que era
sua primeira visita ao Irã e ele se encontraria com suas avós. A família apelou
a Teerã que revogue a sentença.
Segundo o governo americano, a Justiça iraniana não
permitiu que diplomatas suíços tivessem acesso a Hekmati antes de seu
julgamento. Berna representa os interesses dos EUA desde 1980, pois Washington
e Teerã romperam relações diplomáticas após a Revolução Iraniana (1979).
A Constituição do Irã não reconhece dupla
nacionalidade. Nos EUA, há cerca de meio milhão de iranianos e descendentes de
iranianos - a maior parte deles tem passaporte dos dois países. Nos termos da
lei iraniana, ele foi condenado por "corrupção" e "guerrear
contra Deus". O porta-voz do Judiciário de Teerã afirmou que, embora tenha
confessado ser agente da CIA, Hekmati disse não querer "fazer mal" ao
Irã.
"Amir não se envolveu em nenhum ato de
espionagem ou "guerra contra Deus", como o juiz que o condenou
argumentou. Amir não é um criminoso. Sua vida está sendo ameaçada por motivos
políticos", afirmou a mãe do iraniano-americano, Behnaz Hekmati, em um
e-mail a agências de notícias.
Também na segunda, autoridades iranianas afirmaram
ter desbaratado uma "célula de espiões americanos" que planejava
fomentar distúrbios antes das eleições legislativas, marcadas para o fim de
março. Analistas afirmam que o regime dos aiatolás está fechando o cerco aos
opositores para preparar-se para a votação.
EUA rejeitam denúncia iraniana e exigem libertação
Os EUA negaram taxativamente que o militar
americano da reserva Amir Mirza Hekmati seja um espião da CIA e condenaram a
decisão da Justiça iraniana de puni-lo com a pena de morte. Washington exigiu a
"libertação imediata" de Hekmati.
"Condenamos o veredicto. O regime iraniano tem
um histórico de acusar falsamente pessoas de serem espiãs, forçar confissões e
prender inocentes americanos por razões políticas", disse Tommy Vietor,
porta-voz da Casa Branca. O Departamento de Estado acrescentou que as
autoridades iranianas não permitiram a visita ao acusado de diplomatas da
Suíça, que representam os interesses dos EUA no Irã. / GUSTAVO CHACRA
Teerã admite enriquecimento de urânio em usina subterrânea
Material produzido em bunker pode se tornar material físsil
para ogivas de forma mais rápida e com menos trabalho
O Irã confirmou ontem que começou a enriquecer
urânio em uma usina subterrânea, no bunker de Fordo, perto da cidade de Qom. A
informação foi passada à agência Reuters por um alto funcionário do governo,
que pediu anonimato. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou
estar ciente da existência da nova central.
"A AIEA confirma que o Irã começou a produzir
urânio enriquecido a 20% em Fordo", disse a agência em comunicado. Ali
Ashgar Soltanieh, enviado iraniano à AIEA, afirmou que as operações serão
fiscalizadas pela ONU. "Todas as atividades nucleares, incluindo o
enriquecimento de urânio em Natanz e em Fordo, serão supervisionadas pela
AIEA", disse. É a primeira vez que um alto funcionário de Teerã fala
abertamente sobre as operações de Fordo.
O enriquecimento a 20% torna o Irã capaz de
produzir urânio para pesquisas científicas - principalmente na área médica. O
grau de 3,5% seria suficiente para produção de energia elétrica. A fabricação
de armas atômicas exige pureza de acima dos 95%.
Atividades subterrâneas dificultam qualquer
possibilidade de ataque contra as instalações atômicas do país. O bunker de
Fordo está a 80 metros da superfície, protegido por uma camada rochosa e por
baterias de mísseis de defesa aérea.
A usina fica a 32 quilômetros de Qom, centro
religioso do xiismo. Construída perto de um complexo militar, a usina foi
mantida em segredo e só foi reconhecida após ter sido identificada pela
inteligência ocidental em setembro de 2009.
Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de
Estado dos EUA, afirmou que a notícia é a constatação de mais uma violação
cometida pelo Irã. "Se eles estiverem enriquecendo urânio a 20% em Fordo,
trata-se de um agravamento das violações de suas obrigações nucleares",
disse. / AP e REUTERS
Chávez recebe Ahmadinejad em Caracas
Líderes dizem que travam guerra "contra a
pobreza" e brincam que têm bombas que usam "amor como
combustível"
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, reuniu-se
ontem, em Caracas, com seu colega venezuelano, Hugo Chávez. Foi o primeiro dia
da viagem na qual Teerã pretende fortalecer os laços do Irã com os países
latino-americanos hostis aos EUA. Hoje, o iraniano viajará para a Nicarágua
para acompanhar a posse de Daniel Ortega, que se reelegeu para um terceiro
mandato, e, nos próximos dias, para Equador e Cuba, onde deverá se encontrar
com Fidel Castro.
Ao receber o iraniano, à tarde, Chávez reafirmou
que venceu o câncer e disse pretender continuar trabalhando com Teerã
"para frear a loucura imperialista". Ele defendeu o programa nuclear
iraniano e comentou em tom de brincadeira que a mídia do
"imperialismo" disse que ele e Ahmadinejad se reuniram em Caracas
para atacar Washington "com uma bomba". "Nós certamente vamos
trabalhar muito para (fabricar) umas bombas, uns mísseis, para continuar uma
guerra. A nossa guerra é contra a miséria e a pobreza", disse Chávez.
"O combustível dessas bombas é o amor, pelos povos e pela liberdade. Nós
amamos todos os povos, incluindo o povo americano que sofre sob o domínio dos
arrogantes. Sempre estaremos juntos", brincou Ahmadinejad.
A oposição a Chávez criticou duramente a visita.
"Discutiremos questões regionais e
internacionais", disse o iraniano à France Presse antes de embarcar para
Caracas, afirmando que os povos da América Latina "despertaram" e os
EUA já não fazem o que querem na região. Ainda ontem, Chávez qualificou de
"injustificada" e "arbitrária"a decisão dos EUA de expulsar
no domingo a consulesa venezuelana em Miami, Livia Acosta, e disse que é uma
demonstração da "prepotência do império ridículo". / AFP e AP
Republicano promete atacar usina iraniana
Na véspera da prévia de hoje, Santorum, estrela ascendente
do partido, defende apoio a Israel
DENISE CHRISPIM MARIN, ENVIADA ESPECIAL / SALEM, EUA
- O Estado de S.Paulo
Em seu último comício antes das primárias
republicanas que ocorrem hoje em New Hampshire, nordeste dos EUA, o
ultraconservador Rick Santorum prometeu aos eleitores bombardear a usina
nuclear de Fordo, no Irã, se for escolhido como candidato do partido e vencer a
eleição presidencial de novembro.
Santorum disse que ofereceria um prazo para o Irã
desmantelar a usina de enriquecimento de urânio, mas não mencionou se buscaria
apoio do Conselho de Segurança da ONU. "Não declararei guerra, mas fazer
ataques cirúrgicos à usina de Qom (em referência à central de Fordo), como
Israel fez com a Síria", disse - em 2007, um ataque israelense destruiu a
usina síria de Deir ez-Zor.
Em seu discurso, o pré-candidato republicano disse
não haver argumento sólido para o Irã apostar na energia nuclear, por ser um
dos países mais ricos em petróleo. Radical na defesa do apoio irrestrito dos
EUA a Israel, Santorum, segundo pesquisas, não deve ter um bom desempenho em
New Hampshire, Estado onde os republicanos são tradicionalmente mais flexíveis
e tolerantes.
New Hampshire será palco da segunda etapa do
processo de escolha do candidato à presidência, na qual todo e qualquer eleitor
pode votar, mesmo não sendo registrado como republicano. Cerca de 40% de seu
eleitorado é independente, ou seja, não está filiado a nenhum partido.
No entanto, uma vitória republicana nas eleições
gerais em New Hampshire é tida como improvável - cerca de 80% dos eleitores
prometem votar em Barack Obama se a taxa nacional de desemprego, hoje de 8,5%,
cair ainda mais.
Romney.
O grande favorito para vencer as primárias republicanas no Estado é Mitt
Romney, ex-governador de Massachusetts e vencedor da primeira prévia em Iowa.
Em duas pesquisas divulgadas ontem, ele se manteve na frente com folga.
Segundo sondagem da Suffolk University, ele tem 13
pontos porcentuais à frente do segundo colocado, Ron Paul. De acordo com
pesquisa da Universidade de New Hampshire, a diferença é de 24 pontos
porcentuais. Em caso de vitória, ele será o primeiro republicano a vencer as
duas primeiras prévias na história do partido.
A primeira primária após New Hampshire ocorrerá na
Carolina do Sul, no dia 21, onde a disputa está mais acirrada. Romney também
lidera as pesquisas, mas a diferença é menor. De acordo com o instituto
Rasmussen, ele tem apenas 3 pontos porcentuais à frente de Santorum (27% a
24%).
Ligado à organização católica Opus Dei, Santorum
tornou-se a principal aposta dos radicais conservadores, sobretudo os fundamentalistas
cristãos, para impedir a escolha de Romney, candidato do establishment
republicano. Mas, segundo analistas, se o ex-governador de Massachusetts vencer
mais uma vez na Carolina do Sul será muito difícil impedir que a vaga do
Partido Republicano fique com ele.
EUA/BRASIL
Gingrich critica contratos do Brasil nos EUA
DERRY, NEW HAMPSHIRE - O Estado de S.Paulo
O Brasil virou munição na disputa entre os
pré-candidatos republicanos à Casa Branca. Na noite de domingo, o ex-presidente
da Câmara dos Deputados Newt Gingrich criticou duramente a escolha dos A-29
Super-Tucanos, da Embraer, em uma licitação da Forca Aérea americana para a
compra inicial de 20 de jatos leves, cujo valor alcançara US$ 355 milhões.
Gingrich ainda atacou o presidente Barack Obama por
ter dado aval a um contrato de US$ 2 bilhões em petróleo a ser extraído da
camada pré-sal, durante sua visita em março ao Brasil.
Em um auditório da Academia Pinkerton, em Derry,
Gingrich defendeu as alternativas nacionais em detrimento do Brasil. No caso
dos jatos leves, a empresa Hawker Beechcraft, do Estado do Kansas - que foi à
Justiça e suspendeu a venda da Embraer. No caso do petróleo, a exploração dos
poços no Alasca, no Golfo do México e no Texas.
"Não entendo como o governo permitiu que o
Brasil vencesse essa concorrência", afirmou Gingrich a uma plateia de
cerca de 400 pessoas. "O presidente Obama quer ser o chefe dos vendedores
do petróleo brasileiro enquanto eu serei o chefe dos vendedores dos produtos e
serviços americanos", completou.
O candidato compete nas primarias de New Hampshire,
hoje, em clara desvantagem. Com grande parcela de votos independentes e
democratas, ele deve ter ao redor de 10% das preferências. / D.C.M.
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