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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

10 de janeiro de 2012 - ESTADO DE SÃO APULO



PRIMEIRA PÁGINA
Plano federal previa polícia na cracolândia só em abril

O cronograma federal para ações na cracolândia, obtido pelo Estado, previa que a polícia só começaria a atuar em abril. A proposta, para ser discutida com os governos estadual e municipal de São Paulo, era fortalecer os serviços de retaguarda em saúde e proteção social a partir de fevereiro. Depois, em abril, seriam criadas bases móveis da PM. Além de São Paulo, estão previstas ações no Rio, no Recife, em Salvador, no Distrito Federal e em Porto Alegre. Como São Paulo interveio na cracolândia já em janeiro, com a PM, acabou não avançando nas discussões com o Planalto. A Secretaria de Justiça paulista informou que não teve acesso a nenhum documento federal com um cronograma para agir na cracolândia

Uma nova tragédia

Bombeiros resgatam corpo em Sapucaia, no Rio: deslizamentos de terra mataram oito pessoas, entre elas duas crianças, e 15 continuavam desaparecidas; em Minas, o número de mortes provocadas pela chuva desde o fim do ano passado chega a 15

Bezerra criou comitê em ministério e nomeou o tio

O ex-deputado Osvaldo Coelho, tio do ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), foi nomeado há 4 meses pelo sobrinho para integrar comitê para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes. Trata-se do segundo integrante da família em cargo subordinado ao ministro. A lei proíbe nomeação de parentes

Trânsito: Ministro na escolinha
Há dois anos sem carteira de habilitação por excesso de multas, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) aproveitou as férias para fazer o curso de reciclagem para motoristas em Brasília. Ele reconhece que a maioria das infrações foi por excesso de velocidade e por uso de celular ao volante: "É melhor fazer logo do que tentar dar jeitinho. Isso nunca funciona", disse

Brasil estuda impor barreiras a celular chinês

Levantamento mostra que participação da China nesses importados saltou de 54% para 85%, com aparelhos comprados até por US$ 12

ECONOMIA
CHUVAS
11 morrem por causa das chuvas no Rio e em Minas
Deslizamento de terra em Sapucaia (RJ) deixou 8 mortos e 15 desaparecidos; em Além Paraíba (MG), foram 3 vítimas

PEDRO DANTAS / RIO, MARCELO PORTELA, BELO HORIZONTE - O Estado de S.Paulo

Pelo menos oito pessoas (seis adultos e duas crianças) morreram por causa da chuva em Sapucaia, no Médio Paraíba, Estado do Rio, na madrugada de ontem, e outras três vítimas foram encontradas em Além Paraíba, em Minas. Com isso, o número de mortes causadas pelos temporais nos dois Estados chega a 24 desde o fim do ano passado - nove no Rio e 15 em Minas.
No principal incidente em Sapucaia, um deslizamento de terra às 3h30 soterrou oito casas no distrito de Jamapará e deixou sete mortos. Segundo os bombeiros, cerca de 15 pessoas continuavam desaparecidas ontem. As buscas continuavam durante a noite. Em outro bairro da cidade, uma casa desabou e matou um morador, de 45 anos.
A rapidez do deslocamento da terra surpreendeu os moradores de Jamapará, cujas casas ficam em uma encosta, separada do Rio Paraíba do Sul apenas pela BR-393. Outros moradores já haviam deixado suas casas durante a noite de anteontem, logo após o início da enxurrada, prevendo um acidente como o ocorrido em janeiro do ano passado, quando não houve vítimas. Uma família, que tentava deixar o bairro em um Fusca, foi soterrada dentro do carro.
Os mortos resgatados até a noite de ontem eram Luiz Carlos Nassifi, de 40 anos, e sua neta, Ana Maria Costa Bela Nassifi, de 3; um casal identificado como Sérgio e Solange, cujo filho de 8 anos está desaparecido; Rosiani Gomes Bastos, de 23, o filho Josiel, de 3, e Tiago Carvalho, de 18.
A avalanche de lama e lixo desceu por toda a encosta e parou apenas na altura do km 108 da pista da BR-393, que permanece interditada. O governo federal enviou o Exército para auxiliar o trabalho de resgate dos corpos e a desobstrução da rodovia. A Polícia Civil do Rio participa do resgate com o transporte de bombeiros por helicóptero.
Em Outeiro, distrito de Cardoso Moreira, onde um dique se rompeu anteontem e a água ameaçava invadir as casas, cerca de 300 dos 900 moradores ainda resistiam a deixar seus imóveis.

Minas. Em Além Paraíba, segundo os bombeiros, um homem foi vítima de soterramento e uma criança de 5 anos morreu afogada após ser arrastada pela água que invadiu a cidade com a elevação do nível do Rio Paraíba do Sul. Durante a tarde, a corporação conseguiu encontrar, após uma denúncia, o corpo de uma mulher que também havia sido arrastada pela correnteza.
Outra mulher que teria sido levada pela enchente está desaparecida. Além dela, o Estado tem outras duas desaparecidas - uma em Santo Antônio do Rio Abaixo, na região metropolitana de Belo Horizonte, e outra em União de Minas, no Triângulo Mineiro.
A enchente ainda deixou Além Paraíba isolada e sem energia elétrica. Os principais acessos ao município, a BR-393 e a BR-116, foram totalmente interditados em alguns trechos. Problemas semelhantes ocorreram em Juiz de Fora e Muriaé, na Zona da Mata, que fica na divisa de Minas com o Rio, e em Carandaí, Barroso e Barbacena, na região vizinha do Campo das Vertentes.
Em Juiz de Fora, a tempestade que atingiu a região também fez com que um prédio de dois andares e quatro apartamentos desabasse. Segundo vizinhos, um dos moradores teria ficado soterrado, mas os bombeiros não confirmaram a informação.

NACIONAL
Depois de pôr irmão em estatal, ministro deu cargo ao tio em comitê
Osvaldo Coelho, ex-deputado e tio de Bezerra, não tem remuneração, mas possui atuação política

Marta Salomon

BRASÍLIA - O ex-deputado federal Osvaldo Coelho (DEM), tio do ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho, foi nomeado há quatro meses, pelo sobrinho, membro do comitê técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes por portaria do ministério. Trata-se do segundo integrante da família Coelho a ter cargo indicado pelo ministro e subordinado a ele, contabilizada a permanência do irmão Clementino na presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Osvaldo Coelho se diz perito em irrigação, tema que atrai muito a atenção do sobrinho-ministro. Procurado pelo Estado, o tio queixou-se de trabalhar pouco. Desde a criação, o comitê só se reuniu uma vez, para a sua instalação, em 20 de setembro. "Estou fazendo de conta de que sou conselheiro, mas não estou dando conselho nenhum. Não sei se o conselho é que está estático ou se é o ministro", queixa-se.
A legislação - expressa em decreto presidencial e em códigos de conduta - impede a nomeação de familiares por autoridades. O Ministério da Integração nega que seja caso de nepotismo. Em nota, alegou que o comitê não tem "personalidade jurídica". "Trata-se de um órgão colegiado, paritário, consultivo e opinativo. A função de conselheiro não é cargo em comissão ou função de confiança", diz a nota.
O Ministério da Integração Nacional alega ainda que os integrantes do comitê da agricultura irrigada apenas opinam sobre a política nacional de irrigação, sem direito a remuneração. "Quando necessário, podem ser solicitadas apenas passagens e diárias", afirma a Integração. A Controladoria-Geral da União (CGU) endossa o entendimento do ministério, baseada no decreto editado em junho de 2010.

"Princípio da moralidade". O código de conduta da Comissão de Ética Pública, subordinado à Presidência da República afirma, porém, que "nomear, indicar ou influenciar, direta ou indiretamente, a contratação, por autoridade competente, de parente consanguíneo ou por afinidade para o exercício de cargo, emprego ou função pública" ofende o princípio da moralidade administrativa e compromete a gestão ética.
A nomeação do tio do ministro da Integração Nacional deve ser analisado pela Comissão de Ética Pública, que volta a se reunir em fevereiro.

Água e vinho. Osvaldo Coelho nega que seja nepotismo. "Eu e o ministro somos água e vinho, não temos nada para estarmos juntos. Apenas como eu tinha essa bandeira da irrigação, decidi aceitar o convite", explica o ex-deputado.
Divergências políticas à parte, o sobrinho-ministro Fernando Bezerra Coelho está seguindo à risca as recomendações feitas pelo tio. As prioridades apontadas por Osvaldo Coelho são respaldadas pelo Programa Mais Irrigação, em estudo pelo ministério e que deverá ser lançado em breve pela presidente Dilma Rousseff.
A Codevasf, hoje presidida pelo irmão do ministro, Clementino Coelho, vai ser a principal gestora do programa.
O perímetro batizado de Nilo Coelho, nome do ex-senador e outro tio do ministro, em Pernambuco, será um dos primeiros a ter edital publicado para parceria público-privada, ainda no primeiro semestre do ano. Mais de 30% dos projetos de irrigação são considerados ociosos.
O Programa Mais Irrigação prevê a operação de 775 quilômetros quadrados de perímetros de irrigação até 2014, ano da próxima eleição presidencial. "É uma coisa muito bacana", disse recentemente o ministro.


Bezerra não registra 1ª compra e paga terreno duas vezes

Em nota, o ministro afirmou ontem que foi "induzido a erro" ao usar recursos públicos na compra do mesmo terreno duas vezes quando era prefeito da Petrolina (PE). A primeira compra ocorreu em 1996, na primeira gestão de Bezerra, e a segunda, em 2001. Nas duas vezes o dinheiro teria beneficiado o empresário José Brandão Ramos.
O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo. "Por equívocos na gestão subsequente, a primeira aquisição do imóvel deixou de ser registrada no Cadastro Imobiliário e no Registro Geral de Imóveis, não sendo, tampouco, lavrada a escritura de compra e venda. Esse foi o motivo pelo qual, em 2001, confiando nas informações oficiais, o município foi induzido a erro e adquiriu novamente o terreno Raso da Catarina", diz a nota. / RAFAEL MORAES MOURA e ANDREA JUBÉ VIANNA


Por apoio do PSB, Dilma decide blindar ministro

VERA ROSA , RAFAEL MORAES MOURA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff decidiu blindar o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e escalou o auxiliar como porta-voz da reunião realizada ontem, no Palácio do Planalto, para criar uma força-tarefa que atuará em áreas de risco de Estados afetados pelas chuvas. Dilma avaliou como "inconsistentes" as denúncias que apareceram até agora contra Bezerra e também não quer comprar briga com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), padrinho do ministro.
Ao voltar a despachar ontem no Planalto, após as férias de fim de ano, a presidente fez questão de demonstrar que mantém a confiança em Bezerra. "Se eu não contasse com a confiança e apoio dela, não estaria aqui", disse o ministro aos jornalistas, depois de apresentar as diretrizes traçadas pelo governo para definir providências diante das fortes chuvas que castigam o Sudeste. "Estou tranquilo porque nenhuma das denúncias irá prosperar. O Tribunal de Contas aprovou todas as minhas contas."
Sob intenso fogo cruzado, Bezerra enfrenta uma série de acusações que vão de nepotismo a uso indevido de dinheiro público quando era prefeito de Petrolina, em Pernambuco. No dia 3, o Estado revelou que 90% das verbas da Integração para obras contra desastres naturais foram destinadas a Pernambuco, Estado natal de Bezerra.

Explicações. Dilma orientou o ministro a dar explicações públicas sobre as denúncias e acionou aliados para que saiam em sua defesa. Na quinta-feira, Bezerra prestará esclarecimentos a uma "comissão representativa" do Congresso, chamada assim por causa do recesso parlamentar.
Questionado se ainda pretende concorrer à Prefeitura do Recife pelo PSB, ele desconversou. "Eu te respondo isso na quarta-feira", disse, embora a sua ida ao Congresso deva ocorrer na quinta. Na prática, a pré-candidatura de Bezerra não passa de uma estratégia de Eduardo Campos para forçar o dividido PT a se entender na capital pernambucana, compondo com os socialistas.
Na semana passada, o ministro foi alvo de cotoveladas petistas. "Acho que a Defesa Civil tem de ser tratada como política nacional. Não pode ficar subordinada a interesses político-partidários aqui e acolá", afirmou o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação do PT.
Aliado de Dilma, o governador de Pernambuco reagiu com irritação às estocadas de Vargas e insinuou que o PSB poderia dar o troco no PT nas eleições municipais. Diante do impasse, o presidente do PT, Rui Falcão, divulgou nota dizendo que as relações entre os dois partidos são "as melhores possíveis".
Sem querer se indispor com Campos, o deputado João Paulo Lima e Silva - um dos pré-candidatos do PT à prefeitura do Recife - também manifestou solidariedade a Bezerra. "Não vamos permitir que a adoção de providências necessárias e urgentes seja tratada como um mero privilégio de um Estado em relação aos demais", escreveu ele.



Bezerra falará para comissão 'governista'

ROSA COSTA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, deve ser ouvido pelos integrantes da comissão representativa do Congresso na próxima quinta-feira e não na quarta-feira, como ele informou no Palácio do Planalto. Bezerra ligou ontem para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quando sugeriu uma data para ser ouvido pelos parlamentares. O Congresso está de recesso e é representado por uma comissão presidida por Sarney.
Os partidos querem explicações do ministro Fernando Bezerra sobre três denúncias que surgiram na semana passada: a de que transferiu para seu Estado, Pernambuco, 90% dos recursos destinados à prevenção de calamidades; a de que burlou a Lei do Nepotismo, ao manter seu irmão Clementino Coelho na presidência interina da Codefasv por quase um ano; e a de que teria favorecido o seu filho, deputado Fernando Coelho (PSB-PE), na distribuição de recursos do ministério para atender às emendas parlamentares.
A composição da comissão representativa, com 7 senadores e 16 deputados, repete a proporção dos partidos. A oposição tem apenas uma vaga de titular, ocupada por Alvaro Dias (PSDB-PR), e outra de suplente no Senado. Na Câmara, a oposição tem três vagas de titulares e três de suplentes, o que deixa o governo em situação confortável.


Sob protesto, Lupi volta à presidência do PDT
Posse foi marcada por manifestação de correligionários que pedem a substituição imediata do ex-ministro

LUCIANA NUNES LEAL / RIO - O Estado de S.Paulo

Cerca de um mês depois de deixar o governo, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi reassumiu ontem a presidência nacional do PDT, da qual estava licenciado, sob protestos do Movimento de Resistência Leonel Brizola. Lupi deixou o ministério depois de uma série de denúncias de fraudes em convênios com ONGs e da revelação de que foi funcionário fantasma da Câmara e da Câmara de Vereadores do Rio.
"Dilma, eu te amo: Cadê minha boquinha?", dizia um dos cartazes de protesto, em referência a uma declaração feita por Lupi quando ainda tentava se manter na pasta. Houve princípio de tumulto entre os manifestantes e aliados do ex-ministro.
O ex-deputado Vivaldo Barbosa informou que o grupo levará à próxima reunião do diretório nacional, em 30 de janeiro, a proposta de substituição imediata de Lupi e convocação de nova eleição. "Lupi não pode voltar à presidência do partido porque é uma figura política enxovalhada nacionalmente", protestou.
O mandato de Lupi no comando do PDT vai até março de 2013. "Nem Cristo conseguiu unanimidade. Quem está insatisfeito deve organizar uma chapa, disputar as próximas eleições do partido e ganhar", reagiu Lupi. O ex-ministro disse ter sido injustiçado, mas que não guarda mágoas. "Não há um inquérito sequer aberto contra mim. Fiz minha retirada estratégica e agora o tempo vai dizer quem tinha razão."
O ex-ministro vai percorrer o País organizando a sigla para as eleições. Segundo Lupi, o PDT vai concorrer à prefeitura em pelo menos 15 capitais. Ele negou a intenção de disputar uma vaga de vereador no Rio.



NOTAS&INFORMAÇÕES
Descuidos bilionários

O Brasil tem bilhões de reais investidos em obras sem possibilidade de uso por falta de um complemento. Outros bilhões serão desperdiçados neste e nos próximos anos, se o planejamento e a execução dos projetos continuarem tão ruins quanto têm sido há muitos anos. Um porto sem via de acesso é tão inútil quanto uma hidrelétrica sem linha de transmissão, uma termoelétrica sem combustível, uma eclusa sem rio navegável ou uma reserva de petróleo sem equipamento de perfuração. Exemplos como esses poderiam parecer casos de ficção em outros países, mas não no Brasil, onde o governo federal se mostra incapaz, há muito tempo, de entregar obras em condições de funcionamento. Em alguns Estados e municípios ainda resta competência administrativa, mas a maior parte do setor público vai muito mal nesse quesito. Isso foi comprovado, mais uma vez, em reportagem publicada no Estado desta segunda-feira.
As eclusas de Tucuruí, segundo a reportagem, custaram R$ 1,6 bilhão e foram inauguradas em 2010, mas só funcionam plenamente em épocas de cheias, porque faltam as obras complementares para tornar o rio navegável. A primeira turbina da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, deverá estar em condições de gerar energia cerca de um ano antes da linha de transmissão estar pronta. O Porto de Itapoá, em Santa Catarina, é um dos mais modernos da América Latina, mas seu uso é limitado porque o governo estadual foi incapaz de concluir 23 quilômetros da Rodovia SC-415.
Todos esses casos - e muitos outros - indicam uma falha fundamental no planejamento e na execução de projetos. Os administradores descuidaram de condições críticas para a conclusão dos trabalhos e para o pleno aproveitamento das obras. Por despreparo, desleixo ou mera incompetência na execução das tarefas de supervisão e de coordenação, deixaram de respeitar a sequência das operações e perderam de vista o objetivo global do investimento.
O descuido ocorreu, em alguns casos, em relação a uma obra complementar - como a via de acesso a um porto ou a linha de transmissão entre a usina geradora e os consumidores da energia. Em outros, em relação ao fornecimento de um insumo, como o combustível necessário a uma termoelétrica. Mas o cardápio de falhas é mais amplo.
O governo federal poderia ter financiado um número muito maior de obras de saneamento básico, nos últimos anos, se mais municípios tivessem capacidade para elaborar projetos. Muito dinheiro ficou parado, por falta de uso, antes de se perceber a importância daquele detalhe: a maior parte das prefeituras simplesmente carece de condições para planejar o investimento. Esse item é um impedimento tão sério quanto o atraso na construção de uma rodovia de acesso ou de uma linha de transmissão.
No caso da exploração do pré-sal, um dos grandes problemas tem sido a incapacidade do governo de fixar prioridades. A Petrobrás tem sido forçada a combinar dois objetivos - a dificílima e custosa exploração do petróleo e do gás localizados em grandes profundidades e a compra de equipamentos com elevado grau de nacionalização. A exigência de 70% de conteúdo nacional tem criado problemas técnicos e de custos e isso tem prejudicado a licitação para compra de sondas de perfuração.
A exploração do pré-sal pode gerar recursos muito importantes para o desenvolvimento do País, mas esse é um empreendimento muito caro e tecnicamente complicado. O governo comete um erro gravíssimo de estratégia, ao torná-lo mais caro e mais complicado para atender a objetivos de política industrial. O correto seria realizar essa política por outros meios, desonerando a produção e procurando tornar as indústrias mais eficientes e mais competitivas. A mistura de objetivos, especialmente quando envolve um empreendimento do porte do pré-sal, é uma inequívoca demonstração de incompetência na fixação de prioridades e na gestão de programas públicos. Essa mesma incompetência se revela também nos investimentos custeados pelo Tesouro, com realização sempre muito inferior à programada e sempre com a transferência de grande volume de restos a pagar de um ano para outro.



ESPAÇO ABERTO
A (des)ordem internacional em 2012

Rubens Barbosa
ex-embaixador em Washington (1999-2004)

O novo ano nasce sob a marca da instabilidade política no cenário internacional e da volatilidade e da incerteza na área econômica. A democracia e o mercado estarão em xeque em 2012.
O mundo vive em sobressalto diante da crise econômica e financeira que se abate sobre os EUA e a União Europeia (UE). Não bastasse, são igualmente inquietantes alguns sinais que, isolados, podem não parecer preocupantes, mas, quando vistos em conjunto, adquirem o caráter de uma possível grave crise nos próximos meses.
O quadro mais complexo está no Oriente Médio. Permanece a possibilidade de um ataque, aberto ou por meio de ações clandestinas, às instalações nucleares no Irã. Notícias de que o Reino Unido e Israel se preparam militarmente para atacar o Irã diminuíram, mas não desapareceram, como evidenciado pela questão da passagem do petróleo pelo Estreito de Ormuz. A concentração de tropas norte-americanas no Kuwait e o lançamento bem-sucedido de mísseis de longo alcance israelense e iraniano indicam que preparativos de lado a lado se intensificam. Isso não quer dizer que o ataque seja iminente nem que será levado a efeito, mas esses fatos ajudam a aumentar a tensão na área, agravada pelos ataques recíprocos Israel-Hamas, apesar da retomada das conversações. O estado de guerra civil na Síria contra o governo de Bashar Assad pode propiciar a repetição da fórmula utilizada pela Otan na Líbia. Para complicar ainda mais a situação, depois da queda dos regimes autoritários da Tunísia, do Egito e da Líbia, no Norte da África a primavera árabe começa a se defrontar com as inevitáveis rivalidades internas, questões tribais e religiosas afloram e ameaçam a transição para a democracia, podendo reacender focos de guerra civil. A retirada do Afeganistão e do Iraque das forcas militares dos EUA não contribuirá para reduzir as tensões e vai concentrar as atenções nas ações do Irã nesses dois países. O Paquistão nuclear continuará a preocupar pela instabilidade política.
As Nações Unidas, locus para a discussão de questões de paz e de segurança, saíram desgastadas depois dos episódios na Líbia. A resolução aprovada permitindo medidas necessárias para proteger vidas humanas foi ampliada, sem autorização da comunidade internacional, pelos membros da Otan, liderados pelo Reino Unido e pela França, com a tácita cumplicidade dos EUA. Não só para interferir numa guerra civil, mas para caçar e matar Muamar Kadafi. A experiência líbia é o primeiro caso de aplicação do novo conceito estratégico de atuação de uma forca da segurança global capaz de intervir em outros países com ou sem autorização do Conselho de Segurança. Estabeleceu-se perigoso precedente que poderá ser invocado a qualquer momento contra a Síria, o Irã ou outros países vistos como ameaça à comunidade internacional. O Brasil, que corretamente se absteve quando da aprovação da resolução sobre a Líbia, está apresentando proposta para limitar esse tipo de excesso, sugerindo que a preocupação da ONU seja não só no sentido de exercer a responsabilidade de proteger, mas também ao proteger.
Por outro lado, o pedido da Autoridade Palestina de ingresso como membro permanente da ONU, feito ao Conselho de Segurança, foi esquecido. Os EUA e Israel retaliaram, com corte de dotações orçamentárias, a decisão de entrada da Palestina na Unesco.
Ao preocupante cenário político internacional devem-se acrescentar a instabilidade e o baixo crescimento, que deverão perdurar entre cinco e dez anos em razão das crises econômicas na Europa e nos EUA.
A crise europeia continuará a manter alta a temperatura política no continente, por causa da negociação de um novo tratado de responsabilidade fiscal e da possibilidade concreta de que outros países tenham de ser socorridos a fim de evitar a ameaça de rompimento do sistema monetário ou mesmo da união política do continente.
O G-20 continuará procurando se consolidar como um fórum para o exame da evolução da crise econômica e o dólar continuará a perder valor. A produção de petróleo não está aumentando, o que manterá os preços altos por muito tempo, acrescentando mais um elemento de pressão contra a volta do crescimento.
As demonstrações anticapitalismo, fruto da frustração da classe média, que surge como grande perdedora, espalhar-se-ão por diversas capitais e continuarão a exercer pressão sobre os principais centros financeiros, embora sem consequências práticas.
Os países emergentes, China à frente, continuarão a liderar o crescimento da economia global e deverão superar em 2012, em termos de produto interno bruto, os países desenvolvidos. O Brasil deverá ter seu crescimento reduzido pela crise. O comércio internacional deverá estagnar ou registrar uma expansão menor, em função da desaceleração econômica nos EUA e na UE e da restrição dos financiamentos a exportação.
Eleições em 24 países, inclusive nos EUA, na França, na China e na Rússia, definirão os novos líderes que terão de enfrentar os desafios impostos pelas incertezas e instabilidades.
Os EUA, no meio de uma continuada crise de confiança, de baixo crescimento e de aumento do desemprego, começam a se preparar para as eleições presidenciais. A campanha para as prévias, do lado republicano, mostra como o sistema político naquele país está disfuncional, com efeito negativo direto sobre o funcionamento do governo. O fator preocupante é que os neoconservadores - fundamentalistas falando inglês - estão de volta, com toda a força, e a reeleição de Barack Obama - que até aqui parece a melhor perspectiva - não está assegurada. A vitória de um candidato republicano certamente teria um impacto expressivo sobre o cenário político e econômico global.



VIDA/AMBIENTE
Europa exige que companhias aéreas compensem emissão de gases-estufa
Norma da União Europeia, que entrou em vigor no dia 1º, obriga empresas voem para o bloco a comprar permissões de emissão

Karina Ninni

Desde o dia 1.º, a União Europeia está exigindo a compensação das emissões de gases-estufa das empresas aéreas que fazem voos para o bloco. Elas devem entrar no mercado de carbono europeu, comprando permissões de emissão de projetos ou empresas.
As emissões da aviação representam 2% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa (GEEs), mas estão em ascensão. As emissões da aviação internacional dos países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto subiram 61,8% de 1990 a 2009.
"A eficiência do transporte aéreo é bem maior que a do terrestre. Além do mais, a frota de veículos é muito superior à de aviões", explica a consultora Rafaela Tocalino, da WayCarbon.
As novas medidas causaram a ira de países como os EUA e a China. Empresas norte-americanas haviam contestado a lei na Corte Europeia de Justiça que, no final de 2011, julgou improcedente o argumento das companhias e referendou a norma.
Agora, os EUA estudam formas de retaliação, além de apelar para a Organização Internacional da aviação Civil (Icao, na sigla em inglês). A China já afirmou que não vai cumprir a norma e a Índia faz coro. Especialistas falam em "guerra comercial". No Brasil, a TAM, única companhia nacional a voar para a Europa, afirmou em nota que está alinhada com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que representa 240 companhias aéreas e é contra a medida.
"A oposição à obrigatoriedade de entrar no esquema europeu de permissões de emissão é generalizada fora da Europa, não só por parte das companhias aéreas, mas dos países em que são sediadas. Em setembro de 2011, 21 nações assinaram a Declaração de Délhi, formalizando a oposição", afirma Perry Flint, chefe de comunicação corporativa da Iata para as Américas. "Na opinião da Iata, medidas de mercado devem ser introduzidas pela Icao. Normas regionais vão criar distorções mercadológicas, retardar esforços para uma solução global e fomentar a adoção de medidas unilaterais em outras partes do globo, que vão se sobrepor umas às outras, levando a novas distorções."

Adesão. Até agora, quatro empresas norte-americanas já aderiram às normas e anunciaram repasse dos custos para o consumidor final: American Airlines, US Airways Group, Delta Air Lines e United Airlines. Elas acrescentaram US$ 3 por trecho às passagens para destinos europeus. A alemã Lufthansa também já avisou que vai elevar as tarifas, mas a cúpula da empresa crê que as regras serão postergadas.
"O esquema vai ter de ser adiado, pois há queixas de todos os lados. A União Europeia não pode pagar o preço de um conflito de longo alcance com seus parceiros mais importantes", afirma Peter Schneckenleitner, do setor de comunicações da empresa, que calculou o custo com a lei em 130 milhões.
As empresas aéreas norte-americanas esperam um posicionamento formal do governo Obama a esse respeito.
"Temos a palavra da Casa Branca de que vai tomar uma atitude, que pode incluir ações legais, retaliações e qualquer medida que faça com que a UE retire suas medidas unilaterais", afirmou Steve Lott, porta-voz do grupo Airlines for America.
Cai Haibo, secretário-geral da China Air Transport Association (Cata), afirmou que a China não vai cooperar e que pode haver "enorme pressão" contra as normas europeias.
"Se os governos de países como os EUA, a China e a Rússia lançarem mão de medidas retaliatórias, farão enorme pressão e espero que mudem a conduta da UE", afirmou ele. A associação estima que o esquema de compra de permissões de emissão vá custar às companhias chinesas US$ 123 milhões em 2012.
As novas regras exigem, no primeiro ano de vigência, que as empresas compensem apenas 15% de suas emissões. Essa porcentagem aumenta depois de 2013.
As companhias aéreas que não voarem com o número adequado de licenças de emissão poderão pagar multa de até US$ 130 por tonelada de emissão de dióxido de carbono e, segundo autoridades da UE, em último caso, podem ser até banidas do espaço aéreo europeu. Já o valor médio da tonelada de carbono equivalente (igual a 1 crédito) no mercado europeu em 2011 foi de US$ 17,75. "Estimamos que, no primeiro ano, a norma vá custar às companhias aéreas US$ 1,144 bilhão e, até 2020, US$ 3,559 bilhões", afirma Flint, da Iata. / COM REUTERS e AP


AVIAÇÃO
Concessões vão exigir aporte extra da Infraero
Estatal vai precisar de mais R$ 403 milhões para Guarulhos, Viracopos e Brasília

EDNA SIMÃO, RENATO ANDRADE / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O governo federal terá de fazer uma injeção adicional de R$ 403 milhões nas empresas que serão constituídas após a concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília para garantir a participação acionária de 49% no negócio. O leilão está marcado para 6 de fevereiro.
A previsão inicial da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) era de entrar com R$ 195,8 milhões. Porém, as alterações no edital de leilão dos aeroportos após avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU) fizeram com que o desembolso previsto saltasse para R$ 598,8 milhões.
O aumento do aporte da Infraero será necessário porque o TCU elevou em mais de três vezes o capital social mínimo, ou seja, o montante necessário para se constituir e iniciar as atividades da nova empresa enquanto ela não tiver recursos suficientes para se sustentar.
Na minuta do edital de concessão, o capital mínimo exigido para os três aeroportos era de R$ 399,6 milhões. Esse valor, no entanto, teve uma alta de mais de 200%, atingindo R$ 1,2 bilhão. No caso do Aeroporto de Guarulhos, passou de R$ 191,5 milhões para R$ 543,3 milhões.
A situação se repete em Viracopos, cujo montante subiu de R$ 125,97 milhões para R$ 435,5 milhões, e em Brasília, de R$ 82,1 milhões para R$ 243,25 milhões. Uma fonte do governo avalia que o TCU quer impedir a entrada de empresas "aventureiras" no negócio.
Por exigência dos editais de concessão, os três aeroportos terão de ser operados por sócios estrangeiros. Os grupos privados que forem disputar o leilão terão de contar com um operador com pelo menos cinco anos de experiência em aeroportos com trânsito de mais de 5 milhões de passageiros por ano.

Preço mínimo. Além da mudança no capital social do futuro concessionário, o TCU também determinou outras alterações. O preço mínimo do leilão praticamente dobrou. O valor total dos três aeroportos passou de R$ 2,9 bilhões para R$ 5,5 bilhões.
O lance mínimo para o leilão do Aeroporto de Guarulhos, por exemplo, passou de R$ 2,3 bilhões para R$ 3,4 bilhões. O governo aposta que haverá competição pelos aeroportos, o que deve garantir um preço final das outorgas acima dos valores fixados nos editais.
A elevação do preço mínimo foi baseada na revisão dos valores de investimentos a serem feitos pelos futuros concessionários, que foram reduzidos, em média, em 25%.
Agora estão previstas aplicações de R$ 16,2 bilhões para o período de concessão que varia de 20 a 30 anos, sendo R$ 4,7 bilhões em Guarulhos, R$ 8,7 bilhões em Viracopos e R$ 2,8 bilhões em Brasília.
Até a Copa do Mundo de 2014, os vencedores do leilão terão de aplicar R$ 2,9 bilhões. Originalmente, a previsão era de investimentos de R$ 21,3 bilhões, sendo R$ 4,2 bilhões até a Copa do Mundo de 2014.

Atrasos. A ideia inicial do governo federal era licitar os três aeroportos em 22 de dezembro do ano passado. Como houve atraso no cronograma - provocado, por exemplo, pelas alterações no edital para atender às recomendações do TCU -, o leilão foi adiado para fevereiro.
A mudança na data já faz com que algumas obras sejam adiadas. Esse é o caso do segundo terminal de passageiros do Aeroporto de Guarulhos, que será construído no galpão da Transbrasil.
Essa obra terá de aguardar até fevereiro para ser iniciada. Isso porque, se o governo realizasse uma licitação agora, demoraria, pelo menos, três meses para que o empreendimento começasse a sair do papel. Com isso, o governo não quis arcar com esse investimento, que será feito pelo vencedor do leilão.


METRÓPOLE
Plano do governo federal previa ação policial na cracolândia só em abril
Cronograma obtido pelo "Estado" mostra também que ainda neste semestre Rio, Recife, Salvador, DF e Porto Alegre terão intervenções

BRUNO PAES MANSO - O Estado de S.Paulo

O cronograma traçado pelo governo federal para ser discutido com o Estado e a cidade de São Paulo previa o começo das ações policiais na cracolândia apenas em abril. A proposta era começar o ano fortalecendo serviços de retaguarda nas áreas de saúde e proteção social e inaugurar os consultórios de rua em fevereiro. Só depois seriam instaladas bases móveis da Polícia Militar em locais com alta concentração de consumidores de drogas e iniciado o policiamento ostensivo na região, com monitoramento das ruas por câmeras. Em maio, o policiamento dessas áreas ganharia apoio de equipes de ronda ostensiva - no caso de São Paulo, a Rota.
O cronograma ao qual o Estado teve acesso - e que está sendo coordenado pela Casa Civil do governo federal - prevê uma série de intervenções em cracolândias ainda neste semestre em seis capitais brasileiras: além de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Distrito Federal e Porto Alegre. Mas a antecipação da intervenção no centro paulistano para janeiro acabou prejudicando o diálogo com a União, que deveria ser intensificado neste mês.
"Cenas". Uma das ações dificultadas pela ocupação da PM na cracolândia foi, por exemplo, o mapeamento pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) dos mais de cem pontos de consumo de crack em São Paulo - chamados no estudo de "cenas do crack". Os 12 pesquisadores da entidade - que estão conversando com usuários para identificar necessidades de tratamento e equipamentos públicos - enfrentam problemas por causa da migração de dependentes pela região central. O plano do governo federal previa ainda estratégias para o caso de dispersão de consumidores, com deslocamento de bases policiais e escritórios de rua.
O detalhamento e a sequência das ações eram uma tentativa de facilitar que o pacote de R$ 4 bilhões em ações para combater o crack, divulgadas em dezembro pela presidente Dilma Rousseff, começassem rapidamente a sair do papel. Na estratégia discutida pela União, os policiais ainda têm tarefas bem detalhadas. No caso de encontrarem uma pessoa inconsciente ou correndo risco de morte, por exemplo, devem chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Caso um adulto seja flagrado com droga, deve ser encaminhado ao Distrito Policial, onde será indicada uma Unidade Básica de Saúde, Centro de Apoio Psicossocial ou Centros de Referência Especializado de Assistência Social.
A secretária de Estado da Justiça, Eloisa de Sousa Arruda, diz, no entanto, que não teve acesso a nenhum documento do governo federal com definição de datas para ações na cracolândia. Mas isso, segundo ela, não significa que Estado e União não pretendam conversar daqui para a frente. Eloisa diz que a parceria com a União já permitiu a São Paulo montar um Centro de Atendimento de Saúde Mental em Perdizes, na zona oeste. "Queremos ampliar as conversas para termos mais recursos."
A Assessoria de Comunicação do Ministério da Justiça ressaltou que constitucionalmente o governo federal não pode tomar medidas unilaterais sem que Estado e município sejam ouvidos, pois são eles que tomam as decisões locais.

Paulo Bernardo volta às aulas
Com 30 pontos na carteira e há 2 anos sem habilitação, ministro fez ontem curso no Detran

LISANDRA PARAGUASSU , BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Em uma sala do primeiro andar da Escola de Educação de Trânsito de Brasília um aluno ilustre assistia ontem, discretamente, à sexta aula do programa de reciclagem para motoristas que perderam a carteira. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, há dois anos sem habilitação, decidiu aproveitar as férias para retomar o direito de dirigir.
Na sua sala, a maior parte dos cerca de 50 alunos não sabia que o colega era ministro até a reportagem do Estado chegar. O assunto, no entanto, virou piada quando os colegas entenderam quem era o senhor grisalho sentado na primeira fila.
"Se até ministro tem aqui, a lei está funcionando. Quem sou eu para reclamar", disse um dos presentes, arrancando risadas dos colegas.
Paulo Bernardo contou que perdeu a carteira há mais de dois anos, quando passou dos 30 pontos em infrações - o limite máximo é de 20 pontos. Ao ser notificado pelo Departamento de Trânsito (Detran), entregou a carteira e, afirmou, não dirigiu mais. Em Brasília, usava o motorista do ministério. Em Curitiba, entregava a direção para sua mulher, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
"Tinha de fazer o curso, mas cadê tempo?", disse. "Agora aproveitei as férias." Ao sair do curso, pegou uma carona e fez piada sobre o colega que saiu do prédio do Detran dirigindo apesar de, obviamente, estar sem carteira.
Apertado em uma carteira pequena demais, o ministro parecia concentrado no que dizia a instrutora, mas reagiu com bom humor ao ser fotografado. Alguns colegas, no entanto, preferiram sair da sala para não correr o risco de aparecer em uma foto como infratores. A maioria também perdeu a carteira por excesso de pontos.
Paulo Bernardo reconhece que suas infrações são principalmente excesso de velocidade e falar ao celular enquanto dirige. Justifica que em Curitiba, sua cidade natal, a fiscalização é muito rígida. Tem certeza que alguns pontos não são seus, mas conta que não contestou e agora é tarde. "A responsabilidade é minha. E é melhor fazer logo do que tentar dar jeitinho. Isso nunca funciona", disse.

Reciclagem. O curso do Detran é feito em oito dias úteis de aulas, das 8h às 11h30. O motorista revisa as leis de trânsito, aprende sobre direção defensiva e tem noções de primeiros socorros. Ao final dos oito dias - Paulo Bernardo termina na próxima quarta-feira -, é preciso acertar 70% das 40 questões da prova. Se isso não acontece, há uma nova chance. Mais um fracasso e o motorista precisa fazer todo o curso de novo.
Paulo Bernardo não é a primeira presença ilustre na Escola de Trânsito de Brasília. Há quatro anos e meio, o campeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, também foi pego fazendo o curso. Piquet tinha 128 pontos na carteira, de acordo com o Detran. Mas o piloto garante que seus mesmos eram apenas 28.


ECONOMIA
Anatel terá de dar aval à importação de telefone celular
Objetivo é impedir entrada de produtos de má qualidade no País; hoje, agência só é acionada quando aparelho já está no mercado

KARLA MENDES / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Toda importação de celulares terá de passar pelo crivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) antes de o produto ser comercializado no País. Essa é uma das frentes de combate que o governo deve adotar para impedir que aparelhos de má qualidade, que colocam em risco o consumidor, cheguem às prateleiras. Em testes realizados pela agência foram detectados problemas graves em alguns modelos chineses, que apresentaram até mesmo risco de explosão.
"A Anatel fez alguns testes e constatou problema de bateria, de choque elétrico e até mesmo risco de explosão. De cada dez celulares, dois ou três não funcionaram, não conseguiam nem fazer ligação", disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. O problema foi levado ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
Uma das soluções propostas é que a Anatel participe do processo de importação, emitindo uma espécie de selo de qualidade antes de o produto ser comercializado, assim como foi feito com o Inmetro para a importação de brinquedos.
"Quando for feita uma guia da importação, a Anatel vai ser chamada para dar a anuência e fazer os testes com os celulares. É importante protegermos o consumidor", ressaltou Bernardo.
Maximiliano Salvadori Martinhão, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, explica que hoje o órgão regulador só é acionado depois que o aparelho já está no mercado.
"Qual é a regra? Antes de comercializar, tem de homologar na Anatel. Como a importação já foi feita, a empresa distribui no mercado o produto e o que a Anatel faz é secar gelo", critica.

Mercado negro. Outra frente que será adotada para combater o "mercado negro de celulares", segundo o secretário, é que as operadoras de telefonia só poderão habilitar aparelhos certificados pelo órgão regulador.
"Todo aparelho celular tem um número, chamado "Imei". Quando a Anatel certificar, a operadora terá de informar esse número. Os Imeis que não tiverem sido aprovados, não serão habilitados pelas prestadoras", destaca Martinhão.
A estimativa é que o mercado de celulares importados ilegalmente movimente cerca de R$ 4 bilhões por ano. São cerca de 14 milhões de aparelhos, que correspondem a aproximadamente 20% da base de aparelhos comercializados oficialmente no País, segundo o secretário.
Segundo Nelson Fujimoto, secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, boa parte desses aparelhos acabaram caindo no gosto dos brasileiros por comportarem até quatro chips. Como 80% da base de celulares habilitados no País são pré-pagos, muitos consumidores compram esses terminais para aproveitarem promoções de várias operadoras simultaneamente.
O secretário observou que o Brasil, no entanto, ainda não conta com a tecnologia para a produção de aparelhos de mais de um chip.
"Essa é uma tecnologia que não existe aqui", alertou. Por essa razão, o governo quer dar benefícios fiscais para estimular a produção desse tipo de aparelho no País.



INTERNACIONAL
Irã condena cidadão americano à morte sob acusação de espionagem
Ex-fuzileiro naval dos EUA com dupla cidadania "confessou" ser agente da CIA, afirma Teerã

Associated Press e Reuters

TEERÃ - Num novo capítulo na escalada de tensão entre Irã e EUA, a Justiça iraniana sentenciou à morte nesta segunda-feira, 9, um cidadão americano sob acusação de espionagem. Fuzileiro naval da reserva com passagem pelo Iraque e Afeganistão, Amir Mirza Hekmati tem cidadania iraniana e americana e foi acusado de "trabalhar para a CIA". Ele tinha sido preso em dezembro e, segundo Teerã, "confessou" ser espião.
A notícia vem à tona em meio à crescente tensão entre os dois países. O Irã tem ameaçado fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa 40% do suprimento de petróleo do mundo. A medida seria uma resposta às sanções adotadas pelos EUA contra o programa nuclear iraniano. Na segunda, a ONU confirmou que o Irã começou a enriquecer urânio em mais uma usina.
Segundo o porta-voz do Judiciário de Teerã, Gholamhossein Mohseni-Ejei, o iraniano-americano "cooperou com um país hostil" e "trabalhou para a CIA". A sentença precisa ainda ser chancelada pela Suprema Corte, que sempre tem a palavra final sobre execuções no Irã.
Os EUA confirmaram que Hekmati, de 28 anos, servira no Corpo de Fuzileiros Navais como tradutor, mas negaram que ele seja espião ou tenha sido enviado ao Irã pela CIA.

"Visita às avós"
Os pais de Hekmati, que vivem na cidade de Flint, no Estado de Michigan, disseram-se "chocados e apavorados" com a notícia de que o filho foi sentenciado à pena capital. Eles afirmaram que era sua primeira visita ao Irã e ele se encontraria com suas avós. A família apelou a Teerã que revogue a sentença.
Segundo o governo americano, a Justiça iraniana não permitiu que diplomatas suíços tivessem acesso a Hekmati antes de seu julgamento. Berna representa os interesses dos EUA desde 1980, pois Washington e Teerã romperam relações diplomáticas após a Revolução Iraniana (1979).
A Constituição do Irã não reconhece dupla nacionalidade. Nos EUA, há cerca de meio milhão de iranianos e descendentes de iranianos - a maior parte deles tem passaporte dos dois países. Nos termos da lei iraniana, ele foi condenado por "corrupção" e "guerrear contra Deus". O porta-voz do Judiciário de Teerã afirmou que, embora tenha confessado ser agente da CIA, Hekmati disse não querer "fazer mal" ao Irã.
"Amir não se envolveu em nenhum ato de espionagem ou "guerra contra Deus", como o juiz que o condenou argumentou. Amir não é um criminoso. Sua vida está sendo ameaçada por motivos políticos", afirmou a mãe do iraniano-americano, Behnaz Hekmati, em um e-mail a agências de notícias.
Também na segunda, autoridades iranianas afirmaram ter desbaratado uma "célula de espiões americanos" que planejava fomentar distúrbios antes das eleições legislativas, marcadas para o fim de março. Analistas afirmam que o regime dos aiatolás está fechando o cerco aos opositores para preparar-se para a votação.

EUA rejeitam denúncia iraniana e exigem libertação

Os EUA negaram taxativamente que o militar americano da reserva Amir Mirza Hekmati seja um espião da CIA e condenaram a decisão da Justiça iraniana de puni-lo com a pena de morte. Washington exigiu a "libertação imediata" de Hekmati.
"Condenamos o veredicto. O regime iraniano tem um histórico de acusar falsamente pessoas de serem espiãs, forçar confissões e prender inocentes americanos por razões políticas", disse Tommy Vietor, porta-voz da Casa Branca. O Departamento de Estado acrescentou que as autoridades iranianas não permitiram a visita ao acusado de diplomatas da Suíça, que representam os interesses dos EUA no Irã. / GUSTAVO CHACRA


Teerã admite enriquecimento de urânio em usina subterrânea
Material produzido em bunker pode se tornar material físsil para ogivas de forma mais rápida e com menos trabalho

O Irã confirmou ontem que começou a enriquecer urânio em uma usina subterrânea, no bunker de Fordo, perto da cidade de Qom. A informação foi passada à agência Reuters por um alto funcionário do governo, que pediu anonimato. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou estar ciente da existência da nova central.
"A AIEA confirma que o Irã começou a produzir urânio enriquecido a 20% em Fordo", disse a agência em comunicado. Ali Ashgar Soltanieh, enviado iraniano à AIEA, afirmou que as operações serão fiscalizadas pela ONU. "Todas as atividades nucleares, incluindo o enriquecimento de urânio em Natanz e em Fordo, serão supervisionadas pela AIEA", disse. É a primeira vez que um alto funcionário de Teerã fala abertamente sobre as operações de Fordo.
O enriquecimento a 20% torna o Irã capaz de produzir urânio para pesquisas científicas - principalmente na área médica. O grau de 3,5% seria suficiente para produção de energia elétrica. A fabricação de armas atômicas exige pureza de acima dos 95%.
Atividades subterrâneas dificultam qualquer possibilidade de ataque contra as instalações atômicas do país. O bunker de Fordo está a 80 metros da superfície, protegido por uma camada rochosa e por baterias de mísseis de defesa aérea.
A usina fica a 32 quilômetros de Qom, centro religioso do xiismo. Construída perto de um complexo militar, a usina foi mantida em segredo e só foi reconhecida após ter sido identificada pela inteligência ocidental em setembro de 2009.
Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, afirmou que a notícia é a constatação de mais uma violação cometida pelo Irã. "Se eles estiverem enriquecendo urânio a 20% em Fordo, trata-se de um agravamento das violações de suas obrigações nucleares", disse. / AP e REUTERS


Chávez recebe Ahmadinejad em Caracas
Líderes dizem que travam guerra "contra a pobreza" e brincam que têm bombas que usam "amor como combustível"

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, reuniu-se ontem, em Caracas, com seu colega venezuelano, Hugo Chávez. Foi o primeiro dia da viagem na qual Teerã pretende fortalecer os laços do Irã com os países latino-americanos hostis aos EUA. Hoje, o iraniano viajará para a Nicarágua para acompanhar a posse de Daniel Ortega, que se reelegeu para um terceiro mandato, e, nos próximos dias, para Equador e Cuba, onde deverá se encontrar com Fidel Castro.
Ao receber o iraniano, à tarde, Chávez reafirmou que venceu o câncer e disse pretender continuar trabalhando com Teerã "para frear a loucura imperialista". Ele defendeu o programa nuclear iraniano e comentou em tom de brincadeira que a mídia do "imperialismo" disse que ele e Ahmadinejad se reuniram em Caracas para atacar Washington "com uma bomba". "Nós certamente vamos trabalhar muito para (fabricar) umas bombas, uns mísseis, para continuar uma guerra. A nossa guerra é contra a miséria e a pobreza", disse Chávez. "O combustível dessas bombas é o amor, pelos povos e pela liberdade. Nós amamos todos os povos, incluindo o povo americano que sofre sob o domínio dos arrogantes. Sempre estaremos juntos", brincou Ahmadinejad.

A oposição a Chávez criticou duramente a visita.
"Discutiremos questões regionais e internacionais", disse o iraniano à France Presse antes de embarcar para Caracas, afirmando que os povos da América Latina "despertaram" e os EUA já não fazem o que querem na região. Ainda ontem, Chávez qualificou de "injustificada" e "arbitrária"a decisão dos EUA de expulsar no domingo a consulesa venezuelana em Miami, Livia Acosta, e disse que é uma demonstração da "prepotência do império ridículo". / AFP e AP



Republicano promete atacar usina iraniana
Na véspera da prévia de hoje, Santorum, estrela ascendente do partido, defende apoio a Israel

DENISE CHRISPIM MARIN, ENVIADA ESPECIAL / SALEM, EUA - O Estado de S.Paulo

Em seu último comício antes das primárias republicanas que ocorrem hoje em New Hampshire, nordeste dos EUA, o ultraconservador Rick Santorum prometeu aos eleitores bombardear a usina nuclear de Fordo, no Irã, se for escolhido como candidato do partido e vencer a eleição presidencial de novembro.
Santorum disse que ofereceria um prazo para o Irã desmantelar a usina de enriquecimento de urânio, mas não mencionou se buscaria apoio do Conselho de Segurança da ONU. "Não declararei guerra, mas fazer ataques cirúrgicos à usina de Qom (em referência à central de Fordo), como Israel fez com a Síria", disse - em 2007, um ataque israelense destruiu a usina síria de Deir ez-Zor.
Em seu discurso, o pré-candidato republicano disse não haver argumento sólido para o Irã apostar na energia nuclear, por ser um dos países mais ricos em petróleo. Radical na defesa do apoio irrestrito dos EUA a Israel, Santorum, segundo pesquisas, não deve ter um bom desempenho em New Hampshire, Estado onde os republicanos são tradicionalmente mais flexíveis e tolerantes.
New Hampshire será palco da segunda etapa do processo de escolha do candidato à presidência, na qual todo e qualquer eleitor pode votar, mesmo não sendo registrado como republicano. Cerca de 40% de seu eleitorado é independente, ou seja, não está filiado a nenhum partido.
No entanto, uma vitória republicana nas eleições gerais em New Hampshire é tida como improvável - cerca de 80% dos eleitores prometem votar em Barack Obama se a taxa nacional de desemprego, hoje de 8,5%, cair ainda mais.

Romney. O grande favorito para vencer as primárias republicanas no Estado é Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts e vencedor da primeira prévia em Iowa. Em duas pesquisas divulgadas ontem, ele se manteve na frente com folga.
Segundo sondagem da Suffolk University, ele tem 13 pontos porcentuais à frente do segundo colocado, Ron Paul. De acordo com pesquisa da Universidade de New Hampshire, a diferença é de 24 pontos porcentuais. Em caso de vitória, ele será o primeiro republicano a vencer as duas primeiras prévias na história do partido.
A primeira primária após New Hampshire ocorrerá na Carolina do Sul, no dia 21, onde a disputa está mais acirrada. Romney também lidera as pesquisas, mas a diferença é menor. De acordo com o instituto Rasmussen, ele tem apenas 3 pontos porcentuais à frente de Santorum (27% a 24%).
Ligado à organização católica Opus Dei, Santorum tornou-se a principal aposta dos radicais conservadores, sobretudo os fundamentalistas cristãos, para impedir a escolha de Romney, candidato do establishment republicano. Mas, segundo analistas, se o ex-governador de Massachusetts vencer mais uma vez na Carolina do Sul será muito difícil impedir que a vaga do Partido Republicano fique com ele.


EUA/BRASIL
Gingrich critica contratos do Brasil nos EUA

DERRY, NEW HAMPSHIRE - O Estado de S.Paulo

O Brasil virou munição na disputa entre os pré-candidatos republicanos à Casa Branca. Na noite de domingo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich criticou duramente a escolha dos A-29 Super-Tucanos, da Embraer, em uma licitação da Forca Aérea americana para a compra inicial de 20 de jatos leves, cujo valor alcançara US$ 355 milhões.
Gingrich ainda atacou o presidente Barack Obama por ter dado aval a um contrato de US$ 2 bilhões em petróleo a ser extraído da camada pré-sal, durante sua visita em março ao Brasil.
Em um auditório da Academia Pinkerton, em Derry, Gingrich defendeu as alternativas nacionais em detrimento do Brasil. No caso dos jatos leves, a empresa Hawker Beechcraft, do Estado do Kansas - que foi à Justiça e suspendeu a venda da Embraer. No caso do petróleo, a exploração dos poços no Alasca, no Golfo do México e no Texas.
"Não entendo como o governo permitiu que o Brasil vencesse essa concorrência", afirmou Gingrich a uma plateia de cerca de 400 pessoas. "O presidente Obama quer ser o chefe dos vendedores do petróleo brasileiro enquanto eu serei o chefe dos vendedores dos produtos e serviços americanos", completou.
O candidato compete nas primarias de New Hampshire, hoje, em clara desvantagem. Com grande parcela de votos independentes e democratas, ele deve ter ao redor de 10% das preferências. / D.C.M.






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