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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

17 de janeiro de 2012 - CORREIO BRAZILIENSE



PRIMEIRA PÁGINA

O mundo em crise e o Brasil de férias

O governo comemorou o índice do Banco Central, uma espécie de prévia do PIB, que apontou expansão de 1,15% na economia em novembro - acima dos 0,9% previstos por analistas. Apesar da euforia, o Planalto ainda teme o contágio das finanças nacionais pela crise externa. Por isso, vai apertar o cinto, com redução de gastos no Orçamento, para permitir que o BC faça novo corte na taxa básica de juros (Selic), hoje em 11%. A única dúvida da equipe econômica é quanto ao tamanho do arrocho nas contas públicas, que deve variar entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. Na Europa, o cenário é de tirar o sono. Depois de rebaixar a França e mais oito dos 17 países da Zona do Euro, na sexta-feira, a Standard & Poor%u2019s voltou a carga ontem e reduziu, de AAA para AA+, a nota de classificação de risco do fundo de resgate da Europa

AEROPORTOS
Empresas brasileira e suíça formam consórcio para leilão

Juntas, a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) e a Flughafen Zurich AG vão disputar a administração dos terminais de Brasília, Campinas e Guarulhos

Muita propaganda e pouca ação no combate ao crack

Lançado há dois meses, o plano federal teve apenas R$ 15 milhões aplicados no tratamento dos viciados. Já as propostas de repressão à droga nem sequer saíram do papel. A criticada intervenção em cracolândia de São Paulo acendeu o alerta no Ministério da Justiça

POLÍTICA
Zoonoses inspeciona dependências do Senado

Equipe da Gerência de Controle de Zoonoses do Distrito Federal vistoriu as dependêndias do Senado ontem, depois que uma servidora da Secretaria-Geral da Mesa Diretora foi mordida por um roedor, possivelmente um rato, na semana passada. O pedido de vistoria partiu do própria Senado. Por causa do problema, os servidores do parlamento foram dispensados do serviço na sexta-feira, dia 13, para a desratização e dedetização das dependências da Casa. O principal alvo da operação foi a biblioteca da Secretaria-Geral, devido à quantidade de documentos no local.
A servidora foi mordida no pé, na semana passada, e disse acreditar que o animal fosse um rato. Oficialmente, o Senado informou que a espécie do bicho ainda estava em análise. A ocorrência de problemas com animais nas dependências da Casa não são novidade. Em 2009, o gabinete de Alvaro Dias (PSDB-PR) precisou de ajuda por causa de uma colmeia de abelhas. Em outros locais, também já foram vistos saruês e escorpiões.
Em nota, o Senado informou que segue um calendário rigoroso de limpeza e de prevensão, que incluem a dedetização e desratização periódica. O trabalho é realizado especialmente nos locais com grande concentração de documentos, preferidos por insetos e roedores. Segundo a assessoria de imprensa da Casa, somente no ano passado, o procedimento aconteceu duas vezes. A zoonoses entregará um relatório completo sobre a inspeção ao Senado.

ECONOMIA
Financiamento limitado

Se tinha uma coisa que Ricardo Santos, 25 anos, sempre soube, desde criança, é que não repetiria a vida sacrificada de motorista do pai. Na cabeça dele, isso só seria possível se conseguisse chegar à universidade. A convicção, no entanto, não foi suficiente para facilitar seu caminho. Pelo contrário. Desde muito jovem, teve de se virar para ganhar o próprio dinheiro. A única oportunidade que lhe apareceu pela frente foi uma vaga em uma empresa de limpeza. Mas não se intimidou. Entre uma faxina e outra, concentrava todas as atenções nos livros que caíam em suas mãos.
Hoje, de gravata e terno alinhado, Ricardo mostra, com satisfação, o diploma de administrador. Mas não é só: está prestes a terminar uma pós-graduação em finanças, o que tende a escancarar as portas na firma em que trabalha como analista de negócios e investimentos. "Eu já tinha uma história traçada. Tinha tudo para continuar à margem da sociedade. E se me perguntarem, digo que, com certeza, o melhor investimento que já fiz na vida foi a minha educação", diz.
Aos 19 anos e com um salário de pouco mais de R$ 400, Ricardo se viu às voltas com uma mensalidade de R$ 625. Para bancar a faculdade, vendia os tíquetes-alimentação e os vales-transporte. Mas preferiu o sacrifício a se endividar para custear o curso. Tal preocupação faz sentido, no entender do professor e presidente do Grupo Educacional Maxx, Marcelo Portella. Para ele, no entanto, pior do que as taxas de juros são a burocracia imposta pelos bancos na hora de conceder o crédito e o número ainda restrito de instituições educacionais que aceitam o financiamento.

Expectativa
Diretor do Banco do Brasil, Gueitiro Matsuo reconhece as limitações, mas assegura que o crédito educativo tem tudo para crescer a taxas expressivas nos próximos anos. Ele conta que a expectativa do banco é chegar ao fim de 2012 com 120 mil empréstimos concedidos, totalizando R$ 4 bilhões. "É válido discutir a necessidade de ampliar o Fies (Programa de Financiamento Estudantil, com o qual trabalha em conjunto com a Caixa Econômica Federal ) para mais universidades", afirma. No BB, garante ele, a visão é a de que quanto mais financiamentos, melhor. "De qualquer forma, tenho certeza de que, atualmente, o Fies cumpre o seu papel de atender à nova classe média", reitera. (GC e RH)

BRASIL
Combate ao crack a passos lentos
Quase dois meses depois do lançamento do programa federal contra o entorpecente, houve apenas ações pontuais na área da saúde. No campo da segurança, especialistas debatem o papel da polícia após as operações na cracolândia de São Paulo

Renata Mariz

Quarenta dias depois que a presidente Dilma Rousseff lançou o plano Crack, é Possível Vencer, a batalha contra a droga parece ainda não ter começado no plano federal. Apenas ações relacionadas ao tratamento já foram efetivamente executadas, por meio do repasse de cerca de R$ 15 milhões feito pelo Ministério da Saúde a oito municípios considerados prioritários. Na área de repressão, entretanto, nada saiu do papel. Aumento de efetivo policial nas fronteiras, contratação de agentes federais e até câmeras para monitorar a rotina nas cracolândias são algumas das medidas ainda sem data para ocorrer. O monitoramento dos espaços de uso, que poderia minimizar a presença da polícia, tão criticada na operação deflagrada pelo governo de São Paulo desde o início do ano, só poderá ser feito quando os estados aderirem ao programa federal. Só que nenhum, até agora, assinou o pacto.
A assessoria de imprensa da pasta esclareceu que só depois da assinatura do pacto é que a União repassará os recursos aos estados, que farão a compra das câmeras que permitirão o monitoramento das áreas de uso coletivo, cujo principal objetivo será identificar pequenos traficantes. Enquanto nenhum estado adere formalmente, o plano contra o crack, pelo menos na área da segurança, está na fase das "conversas técnicas". A mais recente foi realizada ontem, no Recife, entre integrantes do governo local e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), ligada ao Ministério da Justiça. Com a experiência de São Paulo, criticada pelo efeito da polícia nas cracolândias, que dispersou os usuários pela cidade, o governo federal recomendará às unidades da Federação que a abordagem aos viciados nas ruas se dê com polícia, assistente social e profissional de saúde, ao mesmo tempo.
Para tal recomendação, o governo federal se inspira na controvérsia gerada em São Paulo, onde a polícia tem dispersado os usuários e, com isso, estaria supostamente dificultando a abordagem por parte das equipes de saúde, além do uso de balas de borracha e bombas de efeito moral. Mas, como a União não tem poder de determinar como as polícias estaduais devem agir, caberá a cada governador ou prefeito determinar os limites da atuação dos homens fardados nas operações locais contra o crack.

Ocupação
O tema é polêmico não apenas entre os gestores que se deparam agora com todos os riscos políticos relacionados à forma de combater a droga, mas também entre especialistas. Para o psiquiatra Emmanuel Fortes, que integra o Conselho Federal de Medicina, a presença policial deve ser mantida em outros estados, assim como São Paulo vem fazendo. "O Estado brasileiro não liberou a droga. Então, a polícia tem que ocupar esses espaços. A detenção da pessoa que porta droga para consumo ou para traficar está prevista em lei, não é uma violação das liberdades individuais, como muitos estão apregoando por aí", defende.
Para Ignácio Cano, especialista em segurança pública da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o temor é que a operação na cracolândia, com o uso da polícia, evidencie outros objetivos menos nobres do que convencer o usuário a se tratar. "Em geral, as ações têm se pautado pelo intuito de limpar um território de alto interesse. Essa estratégia tem certo sucesso temporal, mas passado um período os grupos voltam a se organizar. As medidas autoritárias colocam-se no lugar de conquistar a vontade do usuário de se tratar, sem a qual qualquer esforço é em vão", afirma. Para Fortes, entretanto, a desconcentração causada pela polícia é positiva, porque dificulta o acesso à droga. "Reunidos, fica fácil para o pequeno traficante distribuir. A dificuldade de equipes de saúde alcançarem esses usuários é o efeito colateral, que pode ser vencido", afirma.

Ações na área da saúde
Cerca de R$ 15 milhões foram repassados desde o lançamento do plano a sete municípios prioritários e ao Distrito Federal na questão do crack. Saiba mais:

SÃO PAULO
Investimento: R$ 3,2 milhões
Ação: custeio de 150 leitos para tratamento.

SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP)
Investimento: R$ 1 milhão
Ações: custeio de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) 24 horas, duas unidades de acolhimento adulto e 50 leitos.

RECIFE
Investimento: R$ 2,8 milhões
Ação: transformação de quatro Caps em unidades 24 horas. Aumento de repasse para um Caps Álcool e Drogas 24 horas. Apoio a quatro unidades de acolhimento de adultos, quatro unidades de acolhimento infantil e 190 leitos.

RIO DE JANEIRO
Investimento: R$ 2,8 milhões
Ações: aumento de custeio para dois Caps Álcool e Drogas e três unidade de acolhimento. Aumento de custeio para 75.

SALVADOR
Investimento: R$ 258 mil
Ações: custeio de uma unidade de acolhimento para adultos, um consultório na rua e 15 leitos.

FORTALEZA
Investimento: R$ 1,7 milhão
Ações: aumento de custeio para 14 Caps, dos quais dois são para crianças e seis especializados em álcool e drogas, totalizando 112 leitos.

PORTO ALEGRE
Investimento: R$ 1,3 milhão
Ações: aumento de custeio para 55 leitos, quatro Caps 24 horas, uma unidade de acolhimento adulto e um consultório na rua. Até 2014, Porto Alegre vai ter 225 novos leitos.

DISTRITO FEDERAL
Investimento: R$ 1,7 milhão
Ações: aumento de custeio para três Caps para distúrbios psiquiátricos, um Caps 24 horas, um Caps Álcool e Drogas, além de 65 leitos.

Polícia investiga abuso sexual no Big Brother
Modelo acusado de supostamente ter estuprado estudante alcoolizada enquanto ela dormia é expulso do programa

» EDSON LUIZ

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) pediu ontem ao Ministério Público do Rio de Janeiro providências sobre as cenas do programa Big Brother Brasil 12 (BBB) nas quais há uma suposta relação sexual entre um casal de participantes. As imagens exibidas na noite de sábado viraram polêmica e ganharam espaço nas redes sociais por sugerir que a estudante Monique Amim, 23 anos, sofreu abusos sexuais pelo modelo Daniel Rodrigues, 31.
Ela estava dormindo, sob o efeito de bebidas alcoólicas após uma festa, quando Daniel deitou na cama. Nas cenas, é possível ver a movimentação do rapaz sobre o edredom enquanto a estudante aparece inerte. O caso ganhou tamanha repercussão que a Polícia Civil do estado decidiu investigar o assunto e, hoje, deverá ouvir a mulher no Projac, a central de produções da TV Globo, que exibe a atração. Na noite de ontem, Daniel foi expulso do programa. Em nota, a Globo alegou que a punição foi decorrência de um "grave comportamento inadequado".
Em nota, a Secretaria de Políticas para as Mulheres afirma que pediu "providências cabíveis ao Ministério Público". "O ofício foi elaborado com base em demandas encaminhadas por cidadãs de várias cidades brasileiras à ouvidoria da SPM pedindo providências", diz o comunicado da secretaria, que foi encaminhado ontem para o Ministério Público fluminense. "Paralelamente, a SPM tomou conhecimento que a Polícia Civil do Rio de Janeiro já se mobilizou em torno do caso", acrescenta a nota.
O incidente é investigado pela 32ª Delegacia de Polícia, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde fica o Projac. Policiais teriam feito acordo com a Rede Globo para que Monique preste depoimento hoje nas instalações da emissora. Dependendo do que ela falar, a polícia pode abrir inquérito para apurar a prática do estupro.
No momento em que o ato entre os dois participantes do BBB 12 ocorreu, a mulher estava sob efeito de álcool e, ontem, teria declarado que não se lembrava de ter mantido relações com Daniel. Na gravação de um áudio atribuído a Monique, ela teria dito que não havia consentido a relação. "Eu dormi, eu dormi. Eu não me lembro de mais nada, juro por tudo que é mais sagrado", afirmou. "Só se ele for muito mau caráter de fazer sexo comigo dormindo", acrescentou.
O delegado que vai apurar o caso não estava ontem no Rio e deve falar sobre o assunto hoje. O diretor do programa, Boninho, disse ao jornal Folha de S.Paulo que não houve estupro e que as denúncias se tratavam de racismo pelo fato de o participante acusado ser negro.

MUNDO
Segurança com regras
Navios ganham cada vez mais adeptos, mas normas e direitos dos passageiros ainda provocam várias dúvidas

Larissa Leite

Turistas em todo o mundo escolhem, cada vez mais, o navio como transporte para rotas turísticas. Já são cerca de 18 milhões de pessoas que embarcam nessa opção e, até 2015, o número pode chegar a 25 milhões. Apesar da expectativa de crescimento deste nicho, as normas e os direitos vinculados ao transporte aquaviário ainda costumam causar dúvidas. Não é por menos, já que a legislação vinculada ao setor ainda não se encontra totalmente centralizada. A International Maritime Organization (IMO), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), é a responsável pela proteção e pela segurança da navegação. Já no Brasil, as regras se dividem entre órgãos como o Ministério da Defesa, por meio da Marinha, e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também pode ser acionada em casos de insegurança alimentar.
O chefe da unidade administrativa regional de Manaus da Antaq, Aglair Carvalho, informou que a necessidade sobre as orientações de segurança é reforçada em todos os estados, o que tem provocado a redução de acidentes nos rios do país. "Estamos recrudescendo a fiscalização sobre orientações de segurança, especialmente em momentos de emergência. O passageiro deve sempre receber orientação clara para não entrar em pânico. Ele deve saber exatamente onde está, para onde deve ir e como agir", reforçou Carvalho. Em relação à segurança do passageiro, a Antaq é responsável por regras aplicadas em navegação interior, entre dois estados brasileiros. Entre os itens fiscalizados pela agência — que pode ser acionada no caso de descumprimento —, estão a quantidade adequada de coletes, a rota da embarcação, a higiene, o extravio de bagagem, entre outros. "O nosso foco é a fiscalização da adequada prestação de serviços pelas empresas que receberam autorização da agência para navegar com passageiros", completa Carvalho.

Recomendações
A Marinha do Brasil, por sua vez, apresenta recomendações para a operação segura das embarcações. Segundo o órgão, "o Comandante é responsável por tudo e por todos a bordo. É, em princípio, o responsável legal pelas vidas humanas e cargas que transporta". Entre as recomendações para uma viagem segura em uma embarcação, estão a verificação rigorosa do material de salvatagem — que inclui coletes salva-vidas em número suficiente para todos que irão embarcar —; seguir à risca o planejamento da viagem, para possibilitar o resgate em caso de emergência; e conduzir a embarcação com prudência e em velocidade compatível para reagir, com segurança, às necessidades da navegação. A Marinha foi questionada sobre sua responsabilidade em relação a passageiros diante de acidentes ou de descumprimento de serviços, mas não respondeu à reportagem. Os procedimentos pontuais nas embarcações podem variar de acordo com as ocorrências.

PARA UMA VIAGEM TRANQUILA
Veja as orientações da Agência Nacional de Transportes Aquaviários e da Marinha do Brasil:

Direitos dos passageiros
» É direito do passageiro viajar no horário certo e ter embarque garantido.
» É direito desistir de viajar 12 horas antes do embarque e a empresa devolver o dinheiro da passagem.
» É direito viajar em embarcações limpas, confortáveis e seguras.
» É direito ser tratado com respeito por funcionários da empresa, devidamente uniformizados.
» É direito exigir o comprovante de entrega de bagagem no compartimento de carga.
» A embarcação deve reservar dois assentos gratuitos para idosos e deficientes físicos.

Deveres do comandante
» Respeitar a lotação da embarcação e ter a bordo coletes salva-vidas para todos os tripulantes e passageiros.
» Manter os extintores de incêndio em bom estado e dentro da validade.
» Manter distância das praias e dos banhistas.
» Não fazer manobras arrojadas. Elas, quase sempre, acabam em tragédia.
» Manter o equipamento de rádio no canal adequado.
» Reduzir a velocidade da embarcação ao cruzar com outras embarcações menores e ao passar próximo às margens.

Contatos para informações e reclamações:
» Anvisa Atende (0800-642-9782)
» Antaq (08006445001 e ouvidoria@antaq.gov.br)
» Marinha (faleconosco@ccsm.mar.mil.br)

CIDADES
O mapa dos apagões
Levantamento da Aneel mostra que cinco regiões são mais afetadas pelas constantes quedas de luz. Em algumas delas, a média de interrupção do fornecimento este ano ultrapassou três horas. Em 2011, cresceram em 31% as queixas contra a CEB

Flávia Maia

Os constantes apagões registrados no ano passado levaram os consumidores a reclamarem mais dos serviços da Companhia Energética de Brasília (CEB). Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o total de queixas cresceu 31,12% em 2011 em comparação com 2010. No período analisado, 1.091 pessoas procuraram o órgão regulador porque o atendimento da distribuidora local não foi satisfatório. Em 2010, 832 usuários pediram providências à Aneel por conta da interrupção do serviço prestado pela CEB.
Das 31 regiões administrativas do Distrito Federal, cinco são mais afetadas pelos apagões: Taguatinga, Lago Norte, Asa Norte, Águas Claras e Ceilândia. Segundo levantamento da Aneel, somente nos primeiros dias deste ano, os moradores de Taguatinga ficaram, pelo menos, 3,35 horas, em média, sem o fornecimento de energia. Em Águas Claras, esse índice foi de 3,11. Ceilândia Norte e Sul vêm na sequência, com 3,03 (veja quadro).
Um dos motivos pelos quais os moradores dessas localidades ficam tanto tempo sem energia é o crescimento da demanda, desproporcional aos investimentos em distribuição de eletricidade ao longo dos anos. Para se ter ideia, em Ceilândia, um dos transformadores que deveria trabalhar com 50% da capacidade, para ter uma folga em caso de problema técnico, está operando com 107%, ou seja, ultrapassando o limite do equipamento e a cota de segurança. Em Águas Claras, esse índice já excedeu 41% em um dos equipamentos. Em Taguatinga, 33% da capacidade-padrão foram extrapolados.
Morador da QNM 38, de Taguatinga Norte, o vendedor Luciano Germano Raimundo, 44 anos, garante que os apagões na sua quadra são frequentes. Ele se mudou em dezembro do ano passado para o local e, desde então, contabilizou mais de cinco apagões, que começam geralmente às 18h e terminam depois das 23h. "Aprendemos a jantar à luz de velas", comentou. Indignado, o filho de Luciano, o estudante universitário Lucas Alves, 20 anos, procurou saber dos vizinhos se as reclamações eram recorrentes e a resposta foi positiva, o que o desanimou. "Ligo na CEB e eles (os técnicos) sempre demoram de duas a cinco horas para resolver. Cada hora, alegam problemas diferentes", desabafa.

Aparelhos queimados
Por sorte, Luciano nunca teve nenhum equipamento queimado. Mas não é sempre o que acontece. O técnico em eletrônica Samuel dos Reis, que trabalha na QI 29 do Lago Sul, diz que é comum clientes chegarem com aparelhos eletrônicos danificados por conta dos picos de energia no bairro nobre da capital do país. "O problema é que, ao mesmo tempo que chegam pessoas com aparelhos queimados por conta do apagão, não consigo consertá-los porque aqui também vive sem energia", conta.
A veterinária Rafaela Magrini, 26 anos, que trabalha na mesma quadra, diz que na semana passada foram dois apagões — um que durou seis horas e outro, duas. Com medo de perder as vacinas dos animais, que custam em média R$ 55, ela colocou gelo dentro do refrigerador que conserva os medicamentos. "Graças a Deus, não perdi nada. Mas é difícil trabalhar desse jeito", ressaltou.

Como reclamar
O cliente deve ser restituído por eventuais prejuízos causados por falhas no fornecimento de energia elétrica. A legislação regulamenta apenas a indenização por danos em aparelhos elétricos. Perdas de mantimentos ou de renda devem ser questionadas na Justiça. O prazo para registrar pedido de reparação na empresa é de 90 dias corridos a contar da data da ocorrência. A distribuidora tem 15 dias para se posicionar a partir do pleito ou da realização da vistoria (que deve ser feita em até 10 dias, mas é opcional).

NO LIMITE

Águas Claras
Duração média individual de interrupções: 3,11 horas
A cidade tem dois transformadores que deveriam estar operando com 50% da capacidade.
Um está funcionando com 91% e outro com 72%.

Brasília Norte
Duração média individual de interrupções: 2,60 horas
A cidade tem quatro transformadores que deveriam operar com 65% da capacidade.
Os transformadores estão funcionando com 83%, 73%, 74% e 78%.

Ceilândia Norte
Duração média individual de interrupções: 3,03 horas
A cidade conta com dois transformadores que deveriam estar operando com 50% da capacidade.
Os transformadores operam com 107% e 76% de capacidade.

Taguatinga
Duração média individual de interrupções: 3,37 horas
A cidade possui dois transformadores que deveriam operar com 50% da capacidade.
Os dois transformadores estão funcionando com 83% e 82% de capacidade.
Fonte: Aneel e CEB, com dados referentes a 2012

Suspeita de tortura

Conselho Distrital dos Direitos Humanos apresenta relatório feito após visita à Papuda e aponta agente penitenciário acusado de agredir presos. Suposta violência já motivou o afastamento de quatro servidores

RICARDO TAFFNER

Ficou pronto o laudo sobre as marcas encontradas na parede do Centro de Detenção Provisória (CDP), do Complexo Penitenciário da Papuda. Segundo o exame realizado no local, uma das manchas era de sangue, mas as demais foram produzidas com outro tipo de material. Ontem, o Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos apontou mais um agente penitenciário como suspeito de ter participado de uma sessão de tortura no local. Até então, quatro servidores haviam sido afastados do contato com os presos por conta das denúncias.
Com base em depoimentos dos próprios detentos, uma comitiva formada por representantes do Conselho, da Defensoria Pública do Distrito Federal e do Ministério Público do DF e Territórios fez uma vistoria surpresa no local, no último sábado. Segundo os relatos, em 7 de janeiro, os agentes penitenciários teriam desconfiado de que os presos estariam organizando uma rebelião nos Blocos I e II do CDP e no bloco disciplinar, conhecido como "Seguro". Os servidores teriam encontrado barras de ferro entre os internos e iniciado um procedimento para debelar a organização.

Espancamento
Detentos ouvidos pelo Conselho disseram ter sido obrigados a tirar a roupa e passar por um "corredor polonês" — no qual os agentes teriam feito duas filas para espancar os presos. Os funcionários teriam usado bastões de madeira e chinelos para agredir os internos, além de supostamente terem feito com que os cães de guarda os atacassem. Os presidiários teriam sofrido murros, inclusive, nos órgãos genitais. Um dos presos estava hospitalizado, até ontem, supostamente por conta das agressões.
Os internos também acusam os agentes de terem jogado "gás" nas celas, terem tomado os colchões e atirado sabão em pó nos olhos deles. O Conselho de Direitos Humanos apresentou ontem à imprensa o relatório produzido após a visita do último sábado. Além das denúncias de tortura, a comitiva ouviu queixas sobre superlotação; falta de colchões, de cobertores, de baldes e de insumos para higiene pessoal; refeições de péssima qualidade, com pedaços de insetos na comida; e dificuldade para conseguir atendimento médico.
A Defensoria Pública do DF solicitou a perícia do local e o encaminhamento de nove detentos para fazer o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), além de pedir auxílio médico para os que ainda reclamavam de dores. "Há indícios fortíssimos de que houve o corredor polonês. Vamos ouvir todos os agentes que estavam no plantão. Quem estava no local, mesmo não tendo participado, pode ser responsabilizado", afirmou o presidente do Conselho, Michel Platini.
O subsecretário do Sistema Penitenciário (Sesipe), Cláudio de Moura Magalhães, afirmou que os fatos estão sendo apurados. "Os servidores envolvidos foram afastados, não como punição, mas como forma de precaução e para evitar represálias", explicou. O diretor-geral do órgão, João Feitosa, acompanha as investigações. Segundo ele, é preciso ter cautela para evitar falsas acusações. "Os presos afirmam ter sido espancados pelos agentes. A perícia adiantou que só uma mancha é sangue e o restante foi montado. Não é incomum detento se automutilar para incriminar um agente penitenciário", afirma Feitosa. Caso as agressões sejam comprovadas, os servidores responderão penalmente e administrativamente.

CIÊNCIA
Restos de sonda podem ter caído no Brasil

Goiás pode ser o misterioso destino dos fragmentos da sonda russa Phobos-Grunt, construída para pousar em Marte, mas que caiu depois de dois meses orbitando a Terra. No domingo, a Agência Espacial Russa (Roskosmos) afirmou que os cerca de 200kg de destroços teriam afundado no Oceano Pacífico, 1.250km a oeste da Ilha de Wellington, no Chile. Ontem, porém, especialistas citados por agências de notícias russas afirmaram que partes da sonda podem ter caído no estado brasileiro.
De acordo com o site do jornal inglês Daily Mail, o vice-diretor da Agência Espacial Russa, Anatoly Shilov, afirmou ao canal de televisão estatal Vesti que a queda dos destroços no Brasil é uma hipótese provável. Especialistas em balísticas ouvidos pelo serviço noticioso RIA Novosti disseram que, em vez de despencar no Pacífico, os fragmentos teriam caído em terra firme e no Atlântico. Goiás estaria bem no centro da zona de impacto. O material consiste de 20 a 30 pedaços da Phobos-Grunt que resistiriam à reentrada na atmosfera terrestre, segundo fontes oficiais russas. Ninguém jamais foi atingido por um destroço caído do espaço.
O vice-primeiro-ministro russo, Dimitri Rogozin, anunciou que vai dirigir as investigações sobre o fracasso da missão espacial. "Vou controlar pessoalmente a investigação sobre as causas do acidente de Phobos-Grunt", escreveu em sua conta do Twitter. "Espero da Roskosmos o relatório prometido sobre as causas do acidente, os nomes dos anti-heróis, assim como as perspectivas de desenvolvimento do setor espacial até 2030", acrescentou, indicando que uma reunião a respeito vai ocorrer em 31 de janeiro.
A tarefa, porém, pode não ser fácil. Uma autoridade do setor espacial russo, que pediu o anonimato, afirmou no domingo à agência Interfax que a Rússia terá dificuldades para determinar as causas do fracasso devido à ausência de dados telemétricos. "Estou certo de que as conclusões da comissão de investigação estarão baseadas em suposições, e não em fatos reais", declarou.

Contradições
A queda da sonda foi precedida por uma série de informações contraditórias por parte da Roskosmos, que primeiro previu o impacto no Oceano Índico, depois em Madagascar, em seguida no Atlântico, na Argentina e finalmente na costa chilena, no Pacífico, para depois assumir que os fragmentos poderiam estar no Brasil. A sonda espacial, de US$ 165 milhões, deveria explorar Phobos, uma das luas de Marte, mas fracassou em sua tentativa de superar a gravidade terrestre, e desde o início de dezembro sua órbita caía lentamente.
A falha na missão é apenas mais um dos eventos fracassados que deveriam comemorar os 50 anos da viagem do soviético Yuri Gagárin ao espaço. Em dezembro, um satélite de comunicações caiu na Sibéria, depois de problemas no lançamento, atingindo uma casa. Três meses antes, uma nave que levaria suprimentos para a Estação Espacial Internacional também não conseguiu deixar a Terra, e acabou destroçada em um bosque siberiano.

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