PRIMEIRA PÁGINA
Quanto ganha um vereador
Valores em dinheiro, R$ 26,6 mil, equivalem a 19
vezes o salário médio em BH. Com a verba de gabinete, o custo mensal de cada
parlamentar soma R$ 69,2 mil.
Mercadante é novo ministro da Educação
De olho na Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad
marca para terça-feira sua saída do Ministério da Educação. Palácio do Planalto
anuncia Aloizio Mercadante para substituí-lo e Marco Antônio Raupp, presidente
da Agência Espacial Brasileira, para a pasta de Ciência e Tecnologia.
Tucanos vão nacionalizar a campanha
O PSDB usará as disputas municipais para atacar as
deficiências do governo Dilma, conforme antecipa o senador Aécio Neves. O
prejuízo de estados e municípios na área da saúde com os vetos à regulamentação
da Emenda 29 e a ineficiência nas obras da Copa são alguns pontos a ser
explorados.
Duas novas vacinas no calendário infantil
Também será aplicada às crianças, a partir do
segundo semestre, a pentavalente, para combater cinco doenças
Brasileiros gastam mais com saúde do que o governo
Conta da saúde dói no bolso
População brasileira arca com a maior parte das
despesas com médicos, exames e remédios. Orçamento do poder público por pessoa
fica em R$ 645 por ano. Famílias gastam R$ 835
EDITORIAL
Vereadores muito caros
Antes do aumento, cada um já embolsa R$ 26 mil mensais
É cada dia mais intensa a manifestação, por meio de
cartas, e-mails e declarações às vezes iradas nas rede sociais (internet), de
cidadãos belo-horizontinos, desde que os vereadores da capital aprovaram, em 16
de dezembro, um aumento de 61,8% em seus próprios vencimentos, a vigorar em
janeiro de 2013 (próxima legislatura). Como o Estado de Minas tem informado em
várias reportagens, a legislação impede que os vereadores se deem aumentos
durante o mandato de quatro anos e a aprovação antecipada do reajuste, em
percentual que nada tem a ver com a inflação acumulada no período, foi uma
estratégia para tentar fugir do desgaste ao longo de 2012, quando praticamente
todos estarão disputando a reeleição. Em resposta às críticas da população
refletidas na imprensa, não faltou vereador que tentasse justificar o repudiado
aumento não apenas como um "direito" de manter proporcionalidade
(75%) com o que ganham deputados, mas também sob alegação de que os
representantes do povo de Belo Horizonte na Câmara Municipal ganham menos do
que deveriam, pela importância do cargo para o qual foram eleitos.
Se é essa a questão, deveria caber ao patrão e não
ao empregado a análise da reivindicação e a decisão de atendê-la ou não. Antes
disso, parece indispensável que os contribuintes saibam quanto do dinheiro que
desembolsam para quitar os impostos e taxas municipais é destinado a pagar cada
vereador. Depois, manda a racionalidade que se aplique sobre o montante atual o
percentual solicitado, para conhecer quanto vai somar a despesa depois do
aumento. Foi nessa linha que o EM mergulhou nas contas da Câmara, indo além do
chorado salário básico de R$ 9.288,05 que hoje recebem os vereadores, para
revelar quanto, considerando outras verbas e vantagens, custa à municipalidade
e quanto, afinal, recebe um vereador de BH. O resultado parece dar mais razão à
indignação popular do que à defesa dos vereadores. Como mostra reportagem de
hoje, os R$ 9.288,05 são apenas uma parte (pequena) dos R$ 69.297,05 que, de
fato, custa aos cofres do município cada um dos 41 vereadores. É que, além do
básico, o vereador tem ainda R$ 15 mil de verba indenizatória, R$ 42 mil de
verba de gabinete, R$ 1.548 da chamada verba de paletó e R$ 800 como franquia
de telefone.
Nesse patamar, o gasto da cidade com cada vereador
soma R$ 831.564,60 por ano. Considerando apenas o que recebe em dinheiro, o
vereador de BH tem R$ 26.636,05 todo mês para gastar como bem quiser. Mesmo
antes do aumento, trata-se de remuneração muito distante da média dos mortais
contribuintes (menos de R$ 2 mil) e bate até mesmo o salário de executivos
financeiros de empresas de porte médio. Com o aumento, o custo individual do
vereador vai pular para R$ 75.998,05 mensais e a quantia para gasto livre de
cada vereador vai para R$ R$ 33.337,05 por mês, quantia que a maioria do
eleitorado de Belo Horizonte não ganha por ano. Apesar de haver quem sugira a
volta aos tempos em que a vereança não era função remunerada, parece razoável
que quem se dedica aos problemas da cidade tenha remuneração digna de seu esforço.
Mas a voz das ruas não pode ser desprezada. E, se ela sugere moderação de
gastos e respeito com o dinheiro público, melhor será dar-lhe ouvidos. Afinal,
a próxima manifestação do povo será nas urnas.
POLÍTICA
PSDB pretende ir às armas
Tucanos vão usar os palanques das disputas municipais para
aumentar o tom dos ataques contra o governo Dilma. Horário eleitoral no rádio e
na TV também será usado para as críticas
Baptista Chagas de Almeida
Os tucanos vão aproveitar as eleições municipais
deste ano para começar a bater asas com ataques mais fortes ao governo da
presidente Dilma Rousseff. O confronto será feito com base em pontos fracos que
o PSDB identificou na atual gestão (veja quadro). Nas cidades em que houver
horário gratuito de rádio e televisão, o comando da legenda vai aproveitar para
apresentar propaganda de caráter nacional e mostrar as diferenças sobre o que
pensam o PSDB e o PT. "O rolo
compressor do governo deu um tiro no pé nos estados e municípios com os vetos
da presidente Dilma à regulamentação da Emenda 29. Isso precisa ser mostrado ao
eleitorado", reclama o senador Aécio Neves (PSDB-MG), dando um exemplo da
estratégia a ser usada.
Aécio destaca que, há dez anos, a União era
responsável por 58% dos investimentos em saúde. Hoje, aplica 45%. Os estados e
municípios, que investiam 42%, atualmente são responsáveis por 55%. "No
mesmo período, a receita da União foi a única que teve crescimento real, mas o
dinheiro a mais não vai para a saúde, é usado para fazer obras sem
licitação", ataca o senador.
Diante de pesquisas indicando que a população já
colou no PT a imagem da corrupção, os tucanos vão procurar também mostrar a
ineficiência da gestão na infraestrutura do país. A Copa do Mundo de 2014 será
um dos principais alvos. "As obras estão atrasadas por causa do modelo de
gestão. Durante oito anos do governo Lula, o PT não fez as concessões dos
aeroportos por uma questão ideológica. Agora é obrigado a correr contra o
tempo, por causa do caos, dos atrasos e das filas em todas as capitais
importantes", destaca Aécio.
O presidenciável tucano não cita a candidatura do
ministro da Educação, Fernando Haddad, ao governo de São Paulo, mas é severo
sobre o setor: "Não dá para aceitar que o currículo de uma escola de Rio
Branco, no Acre, seja o mesmo de uma escola em Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul. São realidades completamente diferentes. Sem respeitar as características
de cada região, o resultado só pode ser os altos índices de repetência e de
evasão escolar".
Pelo país afora O PSDB pretende dar um caráter
nacional às eleições de outubro, sem deixar de lado as peculiaridades de cada
região ou município. A definição da estratégia estabelece três diretrizes. A
prioridade é a candidatura própria. Se não for possível, aliança com os
partidos de oposição e com eventuais aliados que não têm tanto compromisso
assim com o governo federal. Em último caso, aliança com os candidatos que
tenham o PT como principal adversário.
"A eleição presidencial não é este ano, mas o
PSDB pode discutir agora alguns problemas nacionais", pondera Aécio Neves.
E avisa: "A partir de 2013 os tucanos vão às armas".
>> Os alvos tucanos
Área
Principais críticas
Saúde
Omissão do governo e os vetos à Emenda 29
Inchaço
Aparelhamento do serviço público
Má gestão
Gastos muito elevados com a máquina pública e custeio e poucos
investimentos
Corrupção
Pesquisas mostram que o problema colou no PT
Copa 2014
Caos na infraestrutura, dos aeroportos às estradas e no transporte
público
Educação
Desde a universalização no governo Fernando Henrique Cardoso, nada mais
foi feito
Você se lembra?
Nessa tentativa de desvio, preferem criar um clima
no país como se a corrupção fosse do governo e não no governo - Do ex-deputado
José Dirceu (PT-SP), em dezembro, em resposta a críticas de tucanos ao governo
Dilma
Diante desta pérola, só nos resta a todos constatar
que o governo não é do governo. E estamos conversados - Do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) (foto), sobre a frase postada no blog de José Dirceu em dezembro*
O peso do vereador no seu bolso
Somados seus ganhos
mais os salários dos funcionários do seu gabinete, cada parlamentar de BH
consome R$ 69,3 mil dos cofres públicos por mês, o que representa um gasto
anual R$ 831,5 mil
Isabella Souto e Juliana Cipriani
O empenho com que os vereadores de Belo Horizonte
aprovaram um reajuste de 61,8% no salário a partir do ano que vem parece não
levar em conta o alto custo que eles já representam para o contribuinte da
capital. Todos os meses, somadas apenas as parcelas que recebem em dinheiro –
salário, verba do paletó, telefone e verba indenizatória –, cada um dos
vereadores tem para gastar a seu bel-prazer R$ 26.636,05 (veja quadro). O valor equivale a 19 vezes o
rendimento mensal médio dos trabalhadores da Grande Belo Horizonte (R$ 1.391)
em setembro de 2011, conforme dados do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)/Fundação João Pinheiro,
descontada a inflação.
Os vereadores também têm um vencimento invejável em
um disputado mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, os R$ 26,6 mil
correspondem ao que ganha um diretor financeiro com seis a nove anos de
experiência em uma empresa de pequeno e médio porte. Ou o que é pago a um
diretor comercial de uma grande empresa com 10 anos de profissão. Os dados são
do guia salarial elaborado pela líder mundial em recrutamento especializado,
Robert Half, a partir das médias de salário fixo de profissionais brasileiros
em seis áreas de atuação: tecnologia da informação, engenharia, jurídica,
marketing e vendas, finanças e contabilidade e mercado financeiro.
Se o prefeito Marcio Lacerda sancionar a lei que
prevê um novo contracheque no ano que vem, os parlamentares passam a ter a seu
dispor R$ 33.337,05 mensais. Para quem acha que o valor é alto, não é "apenas"
isso. Os vereadores da capital contam ainda com uma verba de R$ 42.661 para
contratar até 15 funcionários nos gabinetes. Uma média salarial de R$ 2,84 mil
para cada um de seus assessores. Com tudo isso, o custo de cada um dos 41
parlamentares chega a R$ 69.297,05. Por ano, a cifra de cada um salta para R$
831.564,60. Somados, eles consomem dos cofres públicos R$ 2,84 milhões por mês
e R$ 34 milhões por ano. Com o reajuste de 61,8%, que eleva o salário de R$
9.288 para R$ 15 mil, o custo individual subirá para R$ 75.998,05, elevando
para R$ 911.976,60 a somatória do ano.
Para justificar o índice adotado, os parlamentares
têm argumentado que estão apenas seguindo o que diz a Constituição Federal, que
em seu artigo 37 vincula o que é pago nas câmaras ao valor recebido pelos
deputados estaduais. Pelo critério populacional, os vereadores podem receber
até 75% da remuneração da Assembleia Legislativa. Ou seja, nada impede que
adotassem percentual inferior. Ainda que o aumento seja para a próxima legislatura,
até porque a Constituição veda alterações salariais no curso do mandato, a
maioria da Casa tentará a reeleição em outubro.
INFLAÇÃO Bastante criticado pela população, o
percentual escolhido (61,8%) está bem acima da inflação medida nos últimos
quatro anos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que totalizou
24,03%. O projeto de lei foi aprovado em 16 de dezembro, último dia de sessão
ordinária de 2011. Dos 25 presentes no plenário, apenas três votaram contra:
Neusinha Santos (PT), Iran Barbosa (PMDB) e Arnaldo Godoy (PT). No entanto,
eles não apresentaram emendas modificando a proposta.
Diante da repercussão negativa do aumento, um grupo
de vereadores agora defende que Marcio Lacerda vete a legislação – a decisão
deve ser tomada até o dia 26. Caso contrário, para amenizar os efeitos do
aumento, já se articulam para reduzir a verba indenizatória em até 50% –
passando dos atuais R$ 15 mil para R$ 7,5 mil. Para isso, é necessária a
assinatura de pelo menos 13 parlamentares para formar uma comissão especial
destinada a discutir o assunto e reavaliar a autorização para gastos com vários
itens. Uma das ideias defendidas é de que a cota de cada vereador seja
administrada pela própria Câmara, que faria licitações e poderia obter valores
mais baixos.
>> Direto do contribuinte
Quanto
ganham por mês os vereadores de BH
Salário R$
9.288,05
Verba indenizatória R$ 15 mil
Verba do paletó*
R$ 1.548
Franquia de telefone R$ 800
SUBTOTAL POR
MÊS R$ 26.636,05
Verba de gabinete
R$ 42.661**
TOTAL POR
MÊS R$ 69.297,05
Eles têm direito ainda a:
» 1 mil envelopes timbrados tamanho ofício
» 2,5 mil folhas de papel A-4 timbradas
* Equivalente a 1/12 da soma das duas parcelas de
salário adicionais, pagas no início e fim do ano. São mais R$ 18.576,10
** Custo máximo para a contratação de até 15
funcionários
saiba mais
Verba
indenizatória
Os vereadores são ressarcidos com a verba
indenizatória para arcar com materiais ou serviços não disponibilizados e
gastos para o exercício do mandato. Na lista do que podem comprar com os
R$ 15 mil mensais a que têm direito estão incluídos
itens como divulgação do mandato parlamentar, serviços de consultoria,
combustível, serviços postais e gráficos, periódicos, materiais e serviços de
escritório e informática, estacionamento, lanche, refeição, telecomunicação,
manutenção e locação de veículo, participação em curso ou seminário, viagens,
apoio a eventos oficiais e escritório de representação parlamentar. As regras
incluem restrições na divisão dos gastos. O limite para serviço postais e
divulgação do mandato, por exemplo, é de 40% e para consultoria técnica podem
ser destinados 30% da verba.
Pressionadas, câmaras desistem de aumento
Integrantes do Veta Lacerda prometem fechar a Afonso Pena
hoje
Isabella Souto e Juliana Cipriani
O apelo popular prevaleceu em três municípios do
Espírito Santo. Diante da repercussão negativa e manifestações da população
contra aumentos votados no fim do ano passado, os vereadores de Vitória, Vila
Velha e Cachoeiro do Itapemirim desistiram de engordar o contracheque, que, nos
moldes do proposto em BH, são para vigorar a partir de 2013. Na capital
mineira, o grupo responsável pelo movimento "Veta Lacerda" nas redes
sociais convoca nova manifestação para hoje na porta da Prefeitura de Belo
Horizonte. Eles pretendem fechar meia pista da Avenida Afonso Pena entre as 17h
e as 20h e, pela terceira vez, fazer barulho diante do gabinete do prefeito
Marcio Lacerda (PSB), que tem nas mãos, para sancionar ou vetar, o reajuste de
61,8% dos vereadores da capital.
Os parlamentares de Vila Velha haviam aprovado um
reajuste de 61,8% – mesmo índice adotado em Belo Horizonte –, passando dos
atuais R$ 7,43 mil para R$ 12 mil. Em reunião com o prefeito Neucimar Fraga
(PR), 10 vereadores resolveram congelar o aumento e ainda manter o número atual
de 17 parlamentares. Por lei, o número de cadeiras poderia saltar para 21 a
partir de 2013.
Na capital capixaba, os parlamentares também
resolveram dar ouvidos às críticas da população. Um projeto de lei que previa
aumento nos contracheques foi substituído por proposta que congelou os
vencimentos nos atuais R$ 7,43 mil mensais a partir da próxima legislatura, que
se inicia em janeiro do ano que vem. Chegou a ser discutido um reajuste de 22%
– equivalente ao acumulado da inflação dos últimos quatro anos –, mas para
evitar o desgaste com a opinião pública, os vereadores optaram por manter o
atual valor.
Em Cachoeiro do Itapemirim, a Câmara Municipal
aprovou em 13 de dezembro um reajuste ainda mais ousado: 67%. O salário de R$ 6
mil passaria para R$ 10 mil a partir de janeiro. Passaria. Diante da reação
contrária dos moradores da cidade de pouco mais de 180 mil habitantes, um dia
depois do Natal o presidente da Casa, Júlio Ferrari (PV), anunciou o recuo.
"Não podemos deixar uma mancha no Legislativo, apesar de o aumento estar
na legalidade", afirmou na ocasião.
PROTESTO Pelo Facebook, 230 pessoas confirmaram
presença no protesto em Belo Horizonte. No último, compareceram cerca de 100
manifestantes com nariz de palhaço, cartazes e máscaras com as fotos de alguns
dos 41 vereadores da capital. Além desse ato, o grupo divulga na internet uma
"contrapropaganda", rebatendo as explicações da Câmara Municipal que
justifica o aumento e pedem um novo "telefonaço", fornecendo um
número da prefeitura para que os insatisfeitos liguem pedindo o veto.
Para o dia 26, data máxima para que Lacerda decida
sobre a proposta de reajuste dos vereadores, eles prometem uma grande
manifestação na prefeitura. O estudante Evandro Gatron, um dos integrantes do
movimento Veta Lacerda, adiantou que a manifestação vai ser nos moldes da feita
no dia 5. Além de faixas e apitos, o grupo fará intervenções como a de uma
jovem com uma faixa pintada de vermelho nos olhos, representando um salário de
"furar olho".
Há expectativa de que os manifestantes contrários
ao aumento nas tarifas de ônibus se unam ao grupo. "Esperamos aumentar o
número de presentes, até porque o clima, que agora não está mais chuvoso,
ajuda", disse. Graton não soube dizer quantos telefonemas foram feitos à
PBH. Para ele, a propaganda divulgada pela própria Câmara Municipal em horário
nobre da TV brasileira está ajudando a divulgar o movimento contra o salário.
Mesmo assim, o grupo ingressou com denúncia no Ministério Público, alegando que
a publicidade omite informações, como o número do projeto de lei e os valores
do atual e futuro salário de cada vereador.
Pedido de socorro bilionário
Prefeito da capital e secretário do governo do estado vão a
Brasília negociar verbas de R$ 1,2 bilhão para recuperar danos provocados pelas
chuvas e prevenir tragédias
Paola Carvalho e Daniel Camargos
O governo de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo
Horizonte desembarcam hoje em Brasília para cobrar mais recursos para recuperar
os danos provocados pelas fortes chuvas que deixaram 179 cidades mineiras em
estado de emergência e também querem dinheiro do Ministério do Planejamento
para prevenir tragédias. Somadas, as demandas mineiras chegam a R$ 1,2 bilhão.
Ontem, durante visita do ministro da Integração
Nacional, Fernando Bezerra (PSB), para repasse de verbas emergenciais, o
prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), informou que vai hoje à
capital federal requisitar R$ 800 milhões para obras de prevenção. A capital
mineira recebeu ontem R$ 25 milhões do Ministério da Integração Nacional para
18 obras de reconstrução e recuperação de áreas devastadas pelas enchentes e
deslizamentos.
Já o secretário de Estado de Transportes e Obras
Públicas, Carlos Melles (DEM), acrescentou que também vai a Brasília, só que ao
Ministério da Agricultura, pleitear outros R$ 210 milhões para as estradas
vicinais. São R$ 30 mil para cada um dos 7 mil quilômetros a serem refeitos ou
construídos na área rural. "Restabelecer o tráfego é prioridade para
escoamento da produção agropecuária e porque (a situação das estradas) pode até
atrasar as voltas às aulas", destacou. Segundo o diretor-geral do DER,
José Élcio Montese, a chuva causou problemas em 174 trechos de estradas que
cortam Minas, provocando interrupções em 35 delas.
Uma das cidades atingidas foi Cipotânea, na Zonda
da Mata. De acordo com prefeito, Luiz Moreira Pedrosa (PTB), as estradas rurais
foram muito afetadas, com diversas quedas de barreiras. A principal atividade
da cidade é a agropecuária, e muitos produtores de leite ficaram sem poder
escoar a produção. Além disso, cerca de 100 famílias estão desabrigadas.
"Hoje (ontem) um engenheiro está na cidade avaliando quantas casas foram
totalmente perdidas e quem poderá voltar", informa o prefeito.
Belo Horizonte, que foi o primeiro município do
estado a ter situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de
Defesa Civil (Sedec) em função das chuvas, não solicitou ajuda federal para
resposta ao desastre, ponderou o ministério, mas, na semana passada, protocolou
um plano de trabalho pedindo R$ 42 milhões e recebeu parte do recurso. "Os
R$ 17 milhões faltantes, para atender um total de 25 projetos, terão de ser
ajustados ao orçamento", afirmou o prefeito Marcio Lacerda (PSB).
EM ETAPAS O
governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) disse que o primeiro passo foi a
liberação de recursos de R$ 30 milhões para atendimento imediato, mas que a
segunda etapa, a de recuperação, exigirá verba complementar mais vigorosa. Só
para recompor as rodovias estaduais seriam necessários pelo menos R$ 150
milhões.
"A fase mais crítica da chuva já passou, mas o
período chuvoso se estende até março. Vamos ajudar as prefeituras municipais a
desenvolverem os projetos de pleitos para receber mais recursos", disse o
governador, para quem o terceiro passo, de obras de prevenção, também é muito
importante.
Prioridades de BH
» Contenção de talude e jateamento de concreto nas
ruas Aristides Ferreira e Corumbataí
» Contenção de talude e jateamento de concreto na
Rua Patagônia
» Contenção de talude e jateamento de concreto na
Rua Borba Gato e Pitangui
» Contenção de talude e jateamento de concreto na
Rua Chicago
» Contenção de talude com execução de cortina
atirantada na Rua Flávia Bretas
» Recuperação da galeria da Avenida Cristiano
Machado
» Reconstrução da Rua Passaquatro, no Caiçara, e
contenção de talude com execução de jateamento de concreto
» Contenção de talude com execução de gabião
(contenção de pedras revestidas com arame) na Rua Carmela Aluoto, esquina com
Rua Moreira Pinto
» Contenção de talude com execução de muro de
arrimo na Avenida Crisitiano Resende e Rua Maria de Lourdes
» Contenção de talude e reconstrução da Rua
Guararapes, no Glória
» Contenção de talude com execução de muro de
arrimo na margem do córrego Bonsucesso, na Rua Itamar Teixeira
» Contenção de talude com execução de muro de
arrimo na Rua Alcântara com Rua Xapuri
» Contenção de talude com execução de muro de
arrimo na Rua Ilmenita (Córrega Itambé)
» Obras na Rua Inspetor Pimentel, Jardim Alvorada
» Obras na Rua Nossa Senhaora Aparecida, Vila
Aparecida
Enquanto isso...
... buracos geram protestos
Um protesto contra os buracos da rodovia poderá
fechar hoje o trânsito da BR 251, em
Salinas, no Norte de Minas, em trecho de 300 quilômetros que liga Montes Claros
à BR 116 (Rio-Bahia). O ato é liderado
pelo prefeito de Salinas, José Prates (PTB). "Estamos organizando o
movimento em atendimento a um clamor da população, que reivindica a recuperação
imediata da rodovia", diz . Segundo ele, deverão participar comitivas de
municípios vizinhos como Fruta de Leite,
Padre Carvalho, Josenopolis, Currral de Dentro e de Santa Cruz de
Salinas. Na segunda-feira, foi realizada manifestação semelhante em outro ponto
da rodovia, a 10 quilômetros de Montes Claros.
Ministro repassa cartão para obras de emergência
Paola Carvalho e Daniel Camargos
O dinheiro do governo federal para consertar os estragos
provocados pela chuva começa a chegar aos munícipios mineiros. Após anunciar o
repasse de R$ 30 milhões, sendo R$ 10 milhões para o governo estadual e outros
R$ 20 milhões para as cidades que decretaram estado de emergência o ministro da
Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), esteve ontem em Belo Horizonte
para repassar o Cartão de Pagamento da Defesa Civil (CPDC) às primeiras
cidades: Cipotânea, Ouro Preto, Vespasiano e Muriaé.
Alvejado por uma série de denúncias de
favorecimento a seu estado natal – Pernambuco –, Bezerra se esquivou de
responder sobre sua situação na pasta. Ao ser questionado se sente-se seguro no
cargo, ele escutou um conselho de seu assessor, balançou a cabeça negativamente
e prosseguiu falando sobre o dinheiro para Minas de que foi portador.
Os recursos devem ser usados para ações
emergenciais. A prefeitura de Muriaé pode sacar R$ 450 mil, Cipotânea, R$ 150
mil; Ouro Preto, R$ 300 mil e Vespasiano, R$ 150 mil. Em breve, outras cidades
serão atendidas. Já foram autorizados repasses de R$ 100 mil para Governador
Valadares (Região do Rio Doce) e R$ 150 mil para Contagem, na Região
Metropolitana.
Segundo Bezerra, diante à urgência não foi exigido
que as prefeituras constituíssem um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)
para receber o dinheiro, bastando apenas uma conta específica no Banco do
Brasil. A aplicação do dinheiro poderá ser acompanhada pelo Portal da
Transparência (www.portadatransparencia.gov.br).
O ministro fez uma espécie de mea culpa sobre os
repasses para Minas Gerais em 2011. "Os prejuízos deste ano são maiores do
que os do ano anterior e devem chegar a R$ 400 milhões em danos ao patrimônio.
No ano passado, o ministério atendeu o estado com R$ 70 milhões", comparou
Bezerra, que calcula um repasse maior para os mineiros em 2012.
HABITAÇÃO O ministro informou que a presidente
Dilma Rousseff determinou que as casas destruídas pela chuva sejam prontamente
reconstruídas por meio do programa Minha casa, minha vida. A estimativa é de
que entre 650 e 1 mil casas tenham sido destruídas em Minas Gerais.
O governador Antonio Anastasia (PSDB) destacou a
necessidade de harmonia com o governo federal para recuperar os estragos das
chuvas. O primeiro passo, em andamento, é prestar socorro imediato às vítimas.
"Devolver o mínimo da situação do cotidiano", explica o
governador.
Prevenção como arma de combate
Guilherme Paranaiba
Belo Horizonte fechou a primeira quinzena de
janeiro sem casos confirmados de dengue. Segundo a Secretaria Municipal de
Saúde, já são 172 notificações de casos suspeitos. O certo é que a população
deve ficar alerta, pois, com a parada das chuvas, entramos no período crítico
para a maior parte das infecções pelo mosquito. "Normalmente, 70% das
pessoas infectadas pegam a doença entre janeiro e maio. E este ano temos as
condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti. Tivemos a maior
quantidade de chuva para dezembro nos últimos 100 anos, e agora a temperatura
subiu", disse o secretário-adjunto de Saúde da capital, Fabiano Pimenta
Júnior.
Ele acredita que só uma combinação de fatores pode
contribuir para manter BH sem casos confirmados da doença, conforme aconteceu
no ano passado. "A população precisa fazer as vistorias para eliminar os
focos e a prefeitura vai continuar os monitoramentos com agentes e mutirões de
limpeza", afirmou. Em 2011, foram 1.762 casos confirmados, 97% a menos do
que em 2010, quando foram 51.753 casos e 15 mortes. Para o combate da dengue, o
importante é pôr areia nos vasos de plantas, remover a água de pneus e garrafas
e colocar de boca para baixo os recipientes que podem acumular o líquido. As
caixas-d"água devem estar sempre fechadas e as calhas conferidas
periodicamente para evitar os entupimentos.
ECONOMIA
BC reduz juros a 10,5% e reforça alívio para o consumidor
Copom decide cortar Selic pela quarta vez seguida e
queda de dois pontos percentuais desde junho diminui custo dos financiamentos
de bens e dos empréstimos pessoais
Paula Takahashi e Pedro Rocha Franco
Paula Takahashi e Pedro Rocha Franco
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central reduziu a taxa básica de juros da economia (Selic) de 11% para 10,5% ao
ano, confirmando as expectativas do mercado financeiro. E não é apenas a Selic
que sucumbe diante do esfriamento da economia brasileira – ao passar para a
menor taxa desde junho de 2010 –, mas as taxas de juros para financiamentos e
crédito pessoal também. Os sinais de redução do consumo têm pressionado as
instituições financeiras a acelerar o corte dos juros básicos como forma de
estimular as compras. Se há dois anos demorava meses, agora basta que o Copom
bata o martelo para que os bancos anunciem as novas tarifas.
"O custo do dinheiro depende da demanda por
crédito. Se ela se mantêm elevada, não há motivação para reduzir os
juros", pondera o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio
Salvato. Diante de um cenário inverso, os bancos correm para tornar o dinheiro
mais barato. As estatísticas estão a favor do consumidor e novos cortes são esperados
até dezembro. Segundo levantamento do Estado de Minas, desde 2002 todas as
vezes que o ano começou com queda da Selic, a tendência de redução se manteve
até o fm do período.
A forte concorrência entre os gigantes do setor
financeiro também é apontada pelo vice-presidente da Associação Nacional de
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro
de Oliveira, como motivação para encurtar a distância entre o corte da Selic e
o repasse das novas taxas de juros para as linhas de crédito pessoal.
A espera reduzida pelo benefício, porém, não
significa repasse integral. Segundo levantamento preliminar divulgado pela
Anefac, o novo corte de 0,5 ponto percentual da Selic anunciado ontem poderá
levar o empréstimo pessoal oferecido pelos bancos de uma taxa mensal de 4,21%
para 4,17% ao mês, queda de 0,95%, contra recuo de 4,55% da Selic. "Há
outros fatores que justificam os juros praticados em financiamentos. Entre
eles, a inadimplência e custos de operação, sendo a Selic apenas uma taxa de
referência", pondera Salvato.
Ritmo Desde julho, quando os juros nominais somavam
12,5% ao ano, a taxa para o crédito pessoal registrou corte de 0,5 ponto
percentual, um quarto do registrado pela Selic. "Para algumas linhas, o
repasse é mais rápido, o que não acontece com o cheque especial", pondera
Miguel Ribeiro. Segundo o vice-presidente da Anefac, somente o rotativo do
cartão de crédito não sentiu os efeitos da curva descendente de juros iniciada
em agosto de 2011. "É a única que se mantêm estável há mais de 12 meses.
Isso acontece por conta da falta de competição no setor", observa.
Apesar de reconhecer os efeitos reduzidos para o
consumidor, Miguel alerta para a importância de se manter uma retração
constante da Selic. "A nossa expectativa é de que as taxas de juros voltem
a ser reduzidas para evitar uma desaceleração forte em nossa economia."
Em consonância com as decisões do Copom, o Banco do
Brasil reduziu os juros pela quarta vez consecutiva desde julho de 2011. A
partir de hoje, a taxa para crediário passará de 3,39% para 3,35% ao mês,
enquanto a de financiamento para veículo será reduzida de 1,36% para 1,32% ao
mês. A Caixa Econômica Federal (CEF) também anunciou ontem, depois de o BC
decidir pela nova Selic, que vai reduzir as taxas de juros em suas linhas de
crédito para consumidor e empresas. Segundo o banco, os juros serão diminuídos
em até 28,3 pontos percentuais ao ano para pessoa física e em até 1 ponto
percentual ao ano para pessoa jurídica.
Mudanças à vista no regime de pensões
Vânia Cristino
Brasília – A mamata das pensões que são concedidas
pela vida toda mediante o pagamento de uma única contribuição vai acabar,
avisou ontem o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves. Tão logo for
aprovado o projeto que cria o fundo de pensão para os servidores públicos – o
que deve ocorrer até março – o governo vai encaminhar ao Congresso Nacional um
projeto de lei ordinária para acabar com as brechas que faz com que a concessão
das pensões no Brasil seja uma das mais generosas do mundo. "Nós vamos
propor mudanças no regime de pensões, que é de uma generosidade ímpar",
garantiu o ministro.
Entre os abusos legais Garibaldi citou o fato da
pensão não ser extinta mesmo diante de um novo casamento da pensionista ou do
pensionista. Se depender do governo, isto também vai acabar. Segundo o
ministro, não existe país no mundo em que essa situação ocorra. O "casamento
previdenciário", segundo o ministro, que é aquele que osegurado casa com
uma vela na mão, ocorre porque, no Brasil, não existe um período de carência
para a concessão das pensões. Isso significa, na prática, que com o pagamento
de uma única contribuição pelo valor máximo permitido – 20% sobre o teto do
salário de contribuição, que é de R$ 3.916,20 para o segurado autônomo, por
exemplo – a viúva terá uma pensão neste valor por toda a vida e, mesmo se casar
de novo, e com um homem jovem e rico, a pensão não é extinta.
O ministro disse que a Previdência Social, que vem
registrando sucessivos superávits na área urbana e tem, inclusive, conseguido
reduzir o déficit, não aguenta essa situação por muito tempo. "Como está é
uma sangria que já está custando R$ 60 bilhões ao ano", disse Garibaldi,
referindo-se à despesa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com o
pagamento de pensão por morte anualmente.
Déficit menor
A geração de emprego e o crescimento real da massa
salarial levaram a Previdência Social a fechar o ano passado com o menor
déficit da década. Em 2011, as contas do Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS) ficaram no vermelho em R$ 36,5 bilhões, numa queda de 22,3% em relação
aos R$ 47 bilhões em 2010. Foi o melhor resultado desde 2002, quando o INSS
registrou um rombo de R$ 30,5 bilhões nas contas. O desempenho das receitas
deve se repetir este ano. "Esperamos um crescimento da arrecadação na
mesma magnitude", disse o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves.
Em 2011, o recolhimento da contribuição previdenciária ficou 8,9% acima da
inflação, atingindo R$ 251,2 bi. No mesmo período, as despesas com o pagamento
de benefícios cresceram 3,6% chegando a R$ 287,7 bi.
Minério engorda cofres em Minas
Royalties pagos aos municípios somam R$ 788,87 mi e são
inéditos, mas para cidades o valor deveria ser de R$ 2,3 bi
Marta Vieira
A boa rentabilidade da indústria da mineração
durante o ano passado, combinada à forte expansão da atividade em Minas Gerais,
levou a arrecadação dos royalties devidos pelo setor a um novo recorde
histórico, com o recolhimento de R$ 788,869 milhões nas reservas de todo o
estado. O valor da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) proveniente
da extração do minério de ferro, carro-chefe da produção estadual, correspondeu
a 89,6% do total, conforme os dados do Departamento Nacional da Produção
Mineral (DNPM). Embora a Cfem apurada em Minas tenha superado o recorde de
2010, se a reivindicação dos municípios por uma cobrança equivalente ao dobro
da atual alíquota incidente sobre a exploração de ferro já estivesse valendo, a
receita seria 300% superior, alcançando R$ 2,3 bilhões só com a principal
riqueza do subsolo mineiro.
A diferença é motivo de insatisfação e cobrança dos
prefeitos das cidades que têm a mineração como maior fonte de sustentação da
economia local. Na discussão do novo marco regulatório da indústria mineral que
o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, prometeu encaminhar em 2011 ao
Congresso Nacional, prazo não cumprido, os prefeitos pediram a elevação da
alíquota da Cfem sobre o ferro dos atuais 2% para 4%. No Brasil, a Cfem somou
R$ 1,540 bilhão, montante que o DNPM divulgou no fim do ano.
Ângelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, 12º
município que mais gerou arrecadação de royalties no país, reclama do atraso no
envio dos projetos do marco regulatório ao Congresso. "É fundamental que o
ministro tome rapidamente a iniciativa de explicitar a posição do governo federal
sobre o assunto e acelere as providências para a proposta chegar ao
Legislativo", afirmou o prefeito, que é também vice-presidente da
Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib). O novo marco negociado
com os municípios mineradores foi atropelado por um projeto apresentado no
Senado e pela criação de uma taxa mineral no estado.
Avanço A comparação da Cfem mineira recolhida em
2011 com os dados de 2004, primeiro ano da série de acompanhamento do tributo
pelo DNPM, mostra o cenário amplamente favorável às mineradoras no estado. O
recolhimento no ano passado ficou quase 5 vezes e meia acima do apurado no
estado em 2004, de R$ 143,892 milhões. Conforme levantamento do Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram), nesse período a produção de minério de ferro
aumentou 56,5% em Minas, alavancada por investimentos novos e expansões, e os
preços da matéria-prima saíram de US$ 37 por tonelada exportada para US$ 117
por tonelada no fim do ano passado, quer dizer, um acréscimo de mais de três
vezes.
Para este ano, a arrecadação só deverá sofrer
alguma queda mediante uma eventual redução significativa do preço do minério de
ferro, o que não faz parte do cenário traçado pelo governo de Minas, segundo o
subsecretário de Desenvolvimento Mínero-Metalúrgico e Política Energética,
Paulo Sérgio Machado Ribeiro. "O crescimento da China, que é nosso maior
consumidor, continua forte", disse. Um outro ponto a favor da indústria
brasileira está no alto custo de manutenção das minas de ferro chinesas,
estimado em US$ 120 por tonelada. A cotação da matéria-prima no mercado
internacional não deverá baixar desse nível, ao contrário, tornaria inviável a
extração em diversas jazidas no gigante asiático. Na mesma linha de
expectativas, o Ibram estima elevação em torno de 10% da receita do tributo
neste ano em R$ 1,7 bilhão, sendo mais de 50%, novamente, apurados em Minas.
Savassi revigorada com a volta do sol
Estiagem e promoções estimulam retomada das vendas
Pedro Rocha Franco
Os cartazes mostram descontos de até 50%. A tão
sonhada reforma da região mais charmosa da cidade anda a passos largos para sua
conclusão e já é possível perceber algumas melhorias. Mas é um outro fator, pra
lá de bem-vindo, que tem trazido de volta os visitantes para a Savassi: o sol.
A mudança de clima tem permitido aos consumidores retornar às ruas, alavancando
as vendas depois de um Natal com faturamento abaixo da expectativa.
Novata na região, a Fiki Pize, de sapatos
femininos, rapidamente atingiu as vendas de outras lojas da marca, o que levou
a ter boas expectativas quanto aos negócios de início de ano. No entanto, a
chuva afetou as metas: "Tinha dia que ficávamos sentadas esperando a chuva
passar para a clientela voltar", recorda a gerente da unidade, Regina
Célia Costa. Com os estoques cheios, ela pretendia ultrapassar a marca de R$
100 mil em vendas, mas ficou 40% abaixo do esperado. Neste mês, com descontos
de até 50%, ela acredita recuperar o ritmo dos negócios. "A Savassi
precisa de sol para vender. Temos que torcer para permanecer assim."
Apesar de a obra não estar pronta, a proprietária
da joalheira Vila Artesanal, Sarah Vilaça, comemora os primeiros resultados de
vendas. Para ela, a Savassi mais arborizada, com mais espaço para andar,
oferece aos consumidores um passeio mais agradável. A única crítica é a falta
de vagas para estacionar. Mas o principal, segundo ela, é a trégua da chuva.
Um período tradicional de compras na região é a
hora do almoço, quando trabalhadores circulam entre os comércios nas duas horas
de intervalo. Mas, nos últimos meses, muitos fugiram da Savassi para evitar
chuva, poeira, barulho e outros transtornos. As esteticistas Kelly Silvana da
Silva e Fernanda Aparecida Ferreira estão acostumadas a almoçar em 30 minutos e
"bater perna" no tempo restante que têm nesse horário. Mas, em
dezembro, a solução foi ir aos shoppings para comprar os presentes de Natal. A
Savassi tornou-se inviável com a chuva. "Era almoçar e voltar para a
clínica. Não tinha como passear", conta Kelly.
Segundo pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas
de Belo Horizonte (CDL/BH) divulgada na semana passada, 87,5% dos lojistas
disseram que as chuvas prejudicaram as vendas e outros 12,5% relataram que o
clima foi um dos responsáveis pela queda do faturamento no período natalino. O
economista da CDL/BH, Fernando Sasso, acredita que a estiagem traz a
possibilidade de fôlego extra para a Savassi, atraindo consumidores com preços
agressivos por causa de um estoque remanescente do Natal.
Enquanto isso...
...obras mais amenas
Depois de uns dia de intervalo para favorecer as
vendas natalinas, operários retornaram às obras para conclusão da revitalização
da Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi. Mas, dessa vez, a poeira que tomava
conta da região, como ocorria no ano passado, não atrapalha tanto o comércio e
a parte da obra que já foi concluída favorece o retorno dos compradores.
Passados mais de seis meses de obras, a parte mais pesada foi concluída,
restando a instalação de fontes e da parte hidráulica e também a implantação do
mobiliário urbano, como bancos e luzes, além do plantio das árvores. A
expectativa da prefeitura é de que as intervenções sejam encerradas no fim de
abril, com atraso de um mês por causa da interrupção em dezembro.
GERAIS
Crime sobre duas rodas dispara e Polícia Militar monta
bloqueio
Graças à agilidade na fuga, motos já são usadas em 36% dos
ataques ao comércio em BH. Operação Impacto chega à capital hoje, prevendo
cerco nos semáforos e ações táticas nas ruas
Junia Oliveira e Sandra Kiefer
Agilidade no trânsito, baixo consumo de
combustível, crédito fácil. Os mesmos atrativos que fazem cada vez mais gente
optar pelo transporte em motocicleta se tornaram chamariz para ladrões e
transformaram as duas rodas em tormento para as vítimas e em desafio para a
polícia. Só no ano passado, mais de um terço dos assaltos a estabelecimentos
comerciais de Belo Horizonte foram cometidos com a ajuda de motos. O índice
alarmante, de 36%, obriga a Polícia Militar a montar estratégia especial para
tentar deter o avanço do que se transformou em meio de fuga preferido no mundo
do crime. Essa forma de ação é difícil de combater, por ter como principais
traços a rapidez na fuga e o anonimato do assaltante, com identidade escondida
pelo capacete. E, embora já assustador, o percentual de uso do veículo em
assaltos é ainda maior, pois ficam foram da conta de ataques a comerciantes
outros delitos, como as chamadas saidinhas de banco.
A partir de hoje, a PM põe na rua várias operações
para abordar motociclistas suspeitos e promete tornar investidas em semáforos e
nas ruas uma rotina na capital. A operação batizada de Impacto contará com pelo
menos três tipos de abordagens, que poderão ocorrer simultaneamente. Será
promovida em todas as áreas comerciais da cidade, incluindo as principais vias
de acesso a essas regiões. Para isso, foram feitas análises de locais, horários
e modo da ação criminosa em cada local.
Nos estudos do comandante do Policiamento da
Capital, coronel Rogério Andrade, além do aumento do número de casos de roubo
usando moto, foi traçado um perfil dos criminosos: "São homens, atuam em
dupla, usam capacete, pilotam motos que têm certa potência e agem armados. Um
deles permanece na motocicleta e outro desembarca e rouba o estabelecimento ou
a pessoa", detalha. A grande capacidade de mobilidade e possibilidades de
fuga são apontadas também como fator-chave. Os levantamentos constataram que os
roubos ocorrem principalmente em grandes corredores de trânsito ou próximo a
eles.
Uma das ofensivas da Operação Impacto consiste em
ações rápidas nos sinais de trânsito. Enquanto o semáforo estiver vermelho,
policiais vão fazer um pente-fino e destacar alguns motociclistas, que serão
levados para a lateral da rua ou avenida para averiguação. Militares à paisana
do Tático Móvel, Patrulha de Operações e do Grupo de Prevenção Motorizado
(GPmor) também ficarão espalhados, observando suspeitos em motos ou aqueles que
andam a pé, com capacete na mão.
Viaturas serão adaptadas para receber um sistema de
som que servirá de alerta à população. Em determinadas áreas, a polícia passará
informando no megafone que uma operação poderá ser desencadeada a qualquer
momento – nos semáforos ou com o fechamento de quarteirões inteiros. A ideia é
não assustar cidadãos que estiverem no local. "Essa é uma estratégia de
segurança para atacar o problema. É necessária uma intervenção diferenciada
para obter uma diminuição significativa desse tipo de crime, que passou a envolver
moto por causa da versatilidade do veículo", afirma o coronel.
A implantação do sistema de som tem o apoio da
Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio). "É preciso tomar
medidas para atenuar a situação, uma vez que acabar com o problema é difícil. A
moto é hoje um grande perigo, devido à facilidade de locomoção no
trânsito", afirma o presidente da entidade, Lázaro Luiz Gonzaga. O
sindicato e a federação dos motociclistas também se reunirão com a PM, a partir
de hoje, para firmar parcerias.
Nos bairros, a expectativa é grande. O presidente
da Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio, Gegê Angelino, destaca a
Avenida Prudente de Morais, um importante corredor da capital, como estratégico
para a ação da PM. "Temos muita reclamação sobre a criminalidade na região
envolvendo motoqueiros e garupeiros e estamos preocupados, pois a avenida, que
tem um trânsito fortíssimo, passou a ser ligação para vários bairros e isso
facilita a fuga dos bandidos", relata.
INTERIOR Os trabalhos que serão implementados em BH
tiveram origem no Centro-Oeste mineiro, onde o coronel que agora está à frente
do CPC atuou. O programa contou com a participação de 51 municípios, onde foram
feitas várias blitzes. Nelas, o motoqueiro era orientado a parar, desligar o veículo,
tirar o capacete e levantar o braço direito. A ideia é orientar os condutores
para que o procedimento se repita na capital. As autoescolas também serão alvo
da PM.
Memória
São Paulo tentou proibir a garupa
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
vetou no fim do ano passado projeto de lei que proibia as motocicletas de
levarem passageiros na garupa. A proposta, aprovada pela Assembleia Legislativa
no fim de novembro, proibia que os garupeiros fossem carregados nos dias úteis
nas cidades paulistas com mais de 1 milhão de habitantes. Na ocasião, o
governador chegou a afirmar que não seriam medidas como essa que diminuiriam a
criminalidade, mas sim a atuação da Polícia Militar.
O resgate de 400 bichos
Expedição de
voluntários percorre cidades assoladas pelas águas em Minas e socorre cães,
gatos, cavalos e outros animais que sobreviveram às enchentes ou se perderam
dos donos
Pedro Ferreira
Como na narrativa bíblica da arca de Noé, em que
Deus manda construir uma embarcação para salvar do dilúvio um casal de cada
espécie animal, a organização não governamental Núcleo Fauna de Defesa Animal
(NFDA), com sede em Belo Horizonte, socorreu mais de 400 cães, gatos, cavalos e
outros bichos, que se perderam depois de sobreviver às enchentes de Minas.
Muitos foram resgatados doentes e desnutridos.
A expedição, formada por nove pessoas, entre elas
dois veterinários da Costa Rica, já visitou por três vezes 19 cidades
castigadas pelas chuvas nas regiões Central, Zona da Mata, Campo das Vertentes
e Metropolitana de BH. Depois de recolhidos, os animais são alimentados,
examinados, cadastrados, vacinados e medicados e, quando necessário, passam por
pequenas cirurgias. Os bichos adultos são abrigados pelas prefeituras e os
filhotes levados para clínicas parceiras da capital, para adoção. Esse é, por
exemplo, o caso de Gasparzinho, um cão com pouco mais de dois meses, resgatado
acorrentado debaixo de chuva em BH. Um vira-lata foi batizado de Guidoval, por
ter sido salvo da enchente na cidade mais castigada da Zona da Mata.
ILHADOS O coordenador da NFDA, o funcionário
público Franklin Oliveira, de 43 anos, conta que na sexta-feira a expedição
retornou a Guidoval e passou por Ponte Nova, Viçosa, Barbacena e Visconde do
Rio Branco. "Cães e gatos ficaram ilhados em Guidoval e foi preciso um
barco para salvá-los", disse. Na semana passada, os expedicionários
montaram uma tenda em frente à casa de uma voluntária em Guidoval, como base de
atendimento. O trabalho deles foi anunciado durante missa na igreja católica da
cidade e um carro de som também convocou a população para exames e vacinação
dos animais de estimação.
Bichos também foram resgatados em Brumadinho e
Mário Campos, na Grande BH. Amanhã, os voluntários vão se dividir em dois
grupos e um deles, coordenado pelo Núcleo Fauna de Defesa dos Animais, vai
percorrer Guidoval, Dona Euzébia, Além Paraíba, Rio Pomba, Tocantins, Paiva,
Visconde do Rio Branco, Ubá e municípios vizinhos.
O segundo grupo, coordenado pela Associação Bicho
Gerais, vai para Itabirito, Cachoeira do Campo, Ponte Nova, Teixeiras, Viçosa,
Coimbra, São Geraldo, Carandaí e Santa Bárbara. "Estamos fazendo uma
campanha para incentivar o apadrinhamento desses animais pelas clínicas
veterinárias e também a adoção. Qualquer pessoa pode adotar", disse
Franklin, que diariamente tem inserido fotos dos animais no blog
franklineumassis.blogspot.com..
FERIDOS Muitos animais perdidos foram recuperados
em áreas rurais e os integrantes da expedição ainda tentam localizar os donos.
"Alguns são de comunidades carentes e a gente percebe o apego das pessoas
aos bichos que voltaram depois das enchentes. A gente fica com pena dos
animais. Eles ficam vagando debaixo de chuva, molhados. No primeiro dia,
recolhemos um cão com a pata ferida e conseguimos interná-lo numa clínica de
Ubá", disse Franklin.
Como muitas prefeituras não têm condições de
abrigar cães e gatos, os animais adultos são tratados, alimentados e devolvido
às ruas. "Temos um cronograma de ação. Em três semanas, a gente pretender
retornar às cidades e castrar os animais como forma de impedir a procriação
desordenada", disse Franklin. Ele conta com o apoio da Sociedade Mundial
de Proteção Animal (WSPA), com sede em Londres e escritórios na Costa Rica e no
Rio de Janeiro, que custeou as primeiras ações emergenciais aos animais, além
de organizar um plano logístico.
Mas o trabalho ainda não acabou e Franklin convoca
voluntários, inclusive nas cidades visitadas, para reforçar os atendimentos.
"O importante é valorizar a vida em todos os sentidos. Quando tratamos de
um animal de uma pessoa carente, percebemos o quanto o cão ou o gato de
estimação é importante, mesmo diante de tanta desolação. Os animais são tão
importantes para as pessoas que um morador morreu afogado tentando salvar o seu
cão", disse Franklin.
BARRAGINHA O servidor público Franklin Oliveira
conta que a sua luta pela defesa dos animais não é de hoje. "Foi há 30
anos", disse, lembrando que resgatou animais vítimas da tragédia da Vila
Barraginha, na Cidade Industrial, em Contagem, na Grande BH. "Na época,
pertencia a outra ONG e montamos um posto de recolhimento de animais",
explicou. Em 1992, houve um deslizamento de terra na Barraginha, que soterrou
mais de 150 barracos, matando 37 pessoas, ferindo centenas e deixando 1,7 mil
desabrigados.
A vila foi formada em um terreno doado à Prefeitura
de Contagem pela Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais. O local
apresentava risco geológico, por ser o terreno à base de argila e um antigo
depósito de lixo.
E MAIS...
JÁ SÃO 17 MORTOS EM MINAS
Subiu para 17 o número de mortos pelas chuvas em
Minas, com a localização ontem do corpo de Diego Tuler Vieira, de 28 anos,
levado no dia 3 pela correnteza do Rio Piranga, em Ponte Nova. Ele perdeu o
equilíbrio quando atravessava uma ponte a pé, tocou num poste e sofreu descarga
elétrica, sendo levado pela enxurrada. Também aumentou para 179 o número de
municípios em estado de emergência dos 252 atingidos pelas chuvas. Segundo a
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, o número de casas destruídas no estado
se elevou de 643 para 812, com 17.193 danificadas. O balanço revela que há 461
pontes danificadas e 368 destruídas. No estado, há 54.826 pessoas desalojadas e
4.733 desabrigadas, duas desaparecidas e 3,2 milhões afetadas diretamente pelas
enchentes.
VARGINHA
Moradores de Varginha, no Sul de Minas, foram
surpreendidos no fim da tarde de ontem por um temporal. A chuva de 20 minutos
encheu o córrego que corta os bairros São Geraldo, Barcelona e Jardim Áurea e
nove casas ficaram alagadas. Rapidamente o nível do córrego voltou ao normal e
ninguém ficou ferido ou desabrigado. O Corpo de Bombeiros recebeu várias
solicitações de queda de árvores e vistorias em casas. A Avenida do Contorno,
que liga Varginha a Três Pontas, ficou parcialmente interditada por conta da queda
de um eucalipto, mas o problema foi resolvido.
MINERAÇÃO
As operações de mineração do Quadrilátero Ferrífero
em Minas voltaram à normalidade depois das chuvas, segundo sindicatos de
trabalhadores. Nas últimas semanas, as mineradoras haviam reduzido o ritmo de
produção na principal área de extração de minério de ferro do país. Vale e CSN,
as principais mineradoras, porém, não confirmam que a situação está
solucionada. Minas responde por dois terços da produção de minério do Brasil e,
com a melhora do clima, o acesso às minas foi liberado e os funcionários das
mineradoras puderam sair de casa para trabalhar, informaram sindicalistas.
OURO PRETO
Os foliões vão poder festejar o carnaval nas
ladeiras de Ouro Preto, mesmo com os estragos da chuva. Segundo o prefeito
Ângelo Oswaldo, já está sendo equacionado o que seria um dos problemas para os
turistas: a rodoviária, interditada após ser atingida por um deslizamento de
morro, que matou dois taxistas, vai ficar fechada, mas um terminal provisório
vai ser construído. A única mudança no carnaval vai afetar apenas o desfile das
escolas de samba, que terá um formato reduzido. Segundo a Secretaria Municipal
de Cultura e Turismo, algumas escolas de samba são de bairros atingidos e, por
isso, as agremiações resolveram dividir o dinheiro repassado pela prefeitura
para o carnaval entre os prejudicados pela chuva.
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