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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

19 de janeiro de 2012 - ESTADO DE MINAS



PRIMEIRA PÁGINA

Quanto ganha um vereador
Valores em dinheiro, R$ 26,6 mil, equivalem a 19 vezes o salário médio em BH. Com a verba de gabinete, o custo mensal de cada parlamentar soma R$ 69,2 mil.

Mercadante é novo ministro da Educação
De olho na Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad marca para terça-feira sua saída do Ministério da Educação. Palácio do Planalto anuncia Aloizio Mercadante para substituí-lo e Marco Antônio Raupp, presidente da Agência Espacial Brasileira, para a pasta de Ciência e Tecnologia.

Tucanos vão nacionalizar a campanha
O PSDB usará as disputas municipais para atacar as deficiências do governo Dilma, conforme antecipa o senador Aécio Neves. O prejuízo de estados e municípios na área da saúde com os vetos à regulamentação da Emenda 29 e a ineficiência nas obras da Copa são alguns pontos a ser explorados.

Duas novas vacinas no calendário infantil
Também será aplicada às crianças, a partir do segundo semestre, a pentavalente, para combater cinco doenças

Brasileiros gastam mais com saúde do que o governo

Conta da saúde dói no bolso
População brasileira arca com a maior parte das despesas com médicos, exames e remédios. Orçamento do poder público por pessoa fica em R$ 645 por ano. Famílias gastam R$ 835


EDITORIAL
Vereadores muito caros
Antes do aumento, cada um já embolsa R$ 26 mil mensais

É cada dia mais intensa a manifestação, por meio de cartas, e-mails e declarações às vezes iradas nas rede sociais (internet), de cidadãos belo-horizontinos, desde que os vereadores da capital aprovaram, em 16 de dezembro, um aumento de 61,8% em seus próprios vencimentos, a vigorar em janeiro de 2013 (próxima legislatura). Como o Estado de Minas tem informado em várias reportagens, a legislação impede que os vereadores se deem aumentos durante o mandato de quatro anos e a aprovação antecipada do reajuste, em percentual que nada tem a ver com a inflação acumulada no período, foi uma estratégia para tentar fugir do desgaste ao longo de 2012, quando praticamente todos estarão disputando a reeleição. Em resposta às críticas da população refletidas na imprensa, não faltou vereador que tentasse justificar o repudiado aumento não apenas como um "direito" de manter proporcionalidade (75%) com o que ganham deputados, mas também sob alegação de que os representantes do povo de Belo Horizonte na Câmara Municipal ganham menos do que deveriam, pela importância do cargo para o qual foram eleitos.
Se é essa a questão, deveria caber ao patrão e não ao empregado a análise da reivindicação e a decisão de atendê-la ou não. Antes disso, parece indispensável que os contribuintes saibam quanto do dinheiro que desembolsam para quitar os impostos e taxas municipais é destinado a pagar cada vereador. Depois, manda a racionalidade que se aplique sobre o montante atual o percentual solicitado, para conhecer quanto vai somar a despesa depois do aumento. Foi nessa linha que o EM mergulhou nas contas da Câmara, indo além do chorado salário básico de R$ 9.288,05 que hoje recebem os vereadores, para revelar quanto, considerando outras verbas e vantagens, custa à municipalidade e quanto, afinal, recebe um vereador de BH. O resultado parece dar mais razão à indignação popular do que à defesa dos vereadores. Como mostra reportagem de hoje, os R$ 9.288,05 são apenas uma parte (pequena) dos R$ 69.297,05 que, de fato, custa aos cofres do município cada um dos 41 vereadores. É que, além do básico, o vereador tem ainda R$ 15 mil de verba indenizatória, R$ 42 mil de verba de gabinete, R$ 1.548 da chamada verba de paletó e R$ 800 como franquia de telefone.
Nesse patamar, o gasto da cidade com cada vereador soma R$ 831.564,60 por ano. Considerando apenas o que recebe em dinheiro, o vereador de BH tem R$ 26.636,05 todo mês para gastar como bem quiser. Mesmo antes do aumento, trata-se de remuneração muito distante da média dos mortais contribuintes (menos de R$ 2 mil) e bate até mesmo o salário de executivos financeiros de empresas de porte médio. Com o aumento, o custo individual do vereador vai pular para R$ 75.998,05 mensais e a quantia para gasto livre de cada vereador vai para R$ R$ 33.337,05 por mês, quantia que a maioria do eleitorado de Belo Horizonte não ganha por ano. Apesar de haver quem sugira a volta aos tempos em que a vereança não era função remunerada, parece razoável que quem se dedica aos problemas da cidade tenha remuneração digna de seu esforço. Mas a voz das ruas não pode ser desprezada. E, se ela sugere moderação de gastos e respeito com o dinheiro público, melhor será dar-lhe ouvidos. Afinal, a próxima manifestação do povo será nas urnas.

POLÍTICA
PSDB pretende ir às armas
Tucanos vão usar os palanques das disputas municipais para aumentar o tom dos ataques contra o governo Dilma. Horário eleitoral no rádio e na TV também será usado para as críticas

Baptista Chagas de Almeida

Os tucanos vão aproveitar as eleições municipais deste ano para começar a bater asas com ataques mais fortes ao governo da presidente Dilma Rousseff. O confronto será feito com base em pontos fracos que o PSDB identificou na atual gestão (veja quadro). Nas cidades em que houver horário gratuito de rádio e televisão, o comando da legenda vai aproveitar para apresentar propaganda de caráter nacional e mostrar as diferenças sobre o que pensam o PSDB e o  PT. "O rolo compressor do governo deu um tiro no pé nos estados e municípios com os vetos da presidente Dilma à regulamentação da Emenda 29. Isso precisa ser mostrado ao eleitorado", reclama o senador Aécio Neves (PSDB-MG), dando um exemplo da estratégia a ser usada.
Aécio destaca que, há dez anos, a União era responsável por 58% dos investimentos em saúde. Hoje, aplica 45%. Os estados e municípios, que investiam 42%, atualmente são responsáveis por 55%. "No mesmo período, a receita da União foi a única que teve crescimento real, mas o dinheiro a mais não vai para a saúde, é usado para fazer obras sem licitação", ataca o senador.
Diante de pesquisas indicando que a população já colou no PT a imagem da corrupção, os tucanos vão procurar também mostrar a ineficiência da gestão na infraestrutura do país. A Copa do Mundo de 2014 será um dos principais alvos. "As obras estão atrasadas por causa do modelo de gestão. Durante oito anos do governo Lula, o PT não fez as concessões dos aeroportos por uma questão ideológica. Agora é obrigado a correr contra o tempo, por causa do caos, dos atrasos e das filas em todas as capitais importantes", destaca Aécio.
O presidenciável tucano não cita a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, ao governo de São Paulo, mas é severo sobre o setor: "Não dá para aceitar que o currículo de uma escola de Rio Branco, no Acre, seja o mesmo de uma escola em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. São realidades completamente diferentes. Sem respeitar as características de cada região, o resultado só pode ser os altos índices de repetência e de evasão escolar".
Pelo país afora O PSDB pretende dar um caráter nacional às eleições de outubro, sem deixar de lado as peculiaridades de cada região ou município. A definição da estratégia estabelece três diretrizes. A prioridade é a candidatura própria. Se não for possível, aliança com os partidos de oposição e com eventuais aliados que não têm tanto compromisso assim com o governo federal. Em último caso, aliança com os candidatos que tenham o PT como principal adversário.
"A eleição presidencial não é este ano, mas o PSDB pode discutir agora alguns problemas nacionais", pondera Aécio Neves. E avisa: "A partir de 2013 os tucanos vão às armas".

>> Os alvos tucanos

Área    Principais críticas

Saúde    Omissão do governo e os vetos à Emenda 29
Inchaço    Aparelhamento do serviço público
Má gestão    Gastos muito elevados com a máquina pública e custeio e poucos investimentos
Corrupção    Pesquisas mostram que o problema colou no PT
Copa 2014    Caos na infraestrutura, dos aeroportos às estradas e no transporte público
Educação    Desde a universalização no governo Fernando Henrique Cardoso, nada mais foi feito

Você se lembra?
Nessa tentativa de desvio, preferem criar um clima no país como se a corrupção fosse do governo e não no governo - Do ex-deputado José Dirceu (PT-SP), em dezembro, em resposta a críticas de tucanos ao governo Dilma
Diante desta pérola, só nos resta a todos constatar que o governo não é do governo. E estamos conversados - Do senador Aécio Neves (PSDB-MG) (foto), sobre a frase postada no blog de José Dirceu em dezembro*

O peso do vereador no seu bolso
 Somados seus ganhos mais os salários dos funcionários do seu gabinete, cada parlamentar de BH consome R$ 69,3 mil dos cofres públicos por mês, o que representa um gasto anual R$ 831,5 mil

Isabella Souto e Juliana Cipriani

O empenho com que os vereadores de Belo Horizonte aprovaram um reajuste de 61,8% no salário a partir do ano que vem parece não levar em conta o alto custo que eles já representam para o contribuinte da capital. Todos os meses, somadas apenas as parcelas que recebem em dinheiro – salário, verba do paletó, telefone e verba indenizatória –, cada um dos vereadores tem para gastar a seu bel-prazer R$ 26.636,05  (veja quadro). O valor equivale a 19 vezes o rendimento mensal médio dos trabalhadores da Grande Belo Horizonte (R$ 1.391) em setembro de 2011, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)/Fundação João Pinheiro, descontada a inflação.
Os vereadores também têm um vencimento invejável em um disputado mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, os R$ 26,6 mil correspondem ao que ganha um diretor financeiro com seis a nove anos de experiência em uma empresa de pequeno e médio porte. Ou o que é pago a um diretor comercial de uma grande empresa com 10 anos de profissão. Os dados são do guia salarial elaborado pela líder mundial em recrutamento especializado, Robert Half, a partir das médias de salário fixo de profissionais brasileiros em seis áreas de atuação: tecnologia da informação, engenharia, jurídica, marketing e vendas, finanças e contabilidade e mercado financeiro.
Se o prefeito Marcio Lacerda sancionar a lei que prevê um novo contracheque no ano que vem, os parlamentares passam a ter a seu dispor R$ 33.337,05 mensais. Para quem acha que o valor é alto, não é "apenas" isso. Os vereadores da capital contam ainda com uma verba de R$ 42.661 para contratar até 15 funcionários nos gabinetes. Uma média salarial de R$ 2,84 mil para cada um de seus assessores. Com tudo isso, o custo de cada um dos 41 parlamentares chega a R$ 69.297,05. Por ano, a cifra de cada um salta para R$ 831.564,60. Somados, eles consomem dos cofres públicos R$ 2,84 milhões por mês e R$ 34 milhões por ano. Com o reajuste de 61,8%, que eleva o salário de R$ 9.288 para R$ 15 mil, o custo individual subirá para R$ 75.998,05, elevando para R$ 911.976,60 a somatória do ano.
Para justificar o índice adotado, os parlamentares têm argumentado que estão apenas seguindo o que diz a Constituição Federal, que em seu artigo 37 vincula o que é pago nas câmaras ao valor recebido pelos deputados estaduais. Pelo critério populacional, os vereadores podem receber até 75% da remuneração da Assembleia Legislativa. Ou seja, nada impede que adotassem percentual inferior. Ainda que o aumento seja para a próxima legislatura, até porque a Constituição veda alterações salariais no curso do mandato, a maioria da Casa tentará a reeleição em outubro.
INFLAÇÃO Bastante criticado pela população, o percentual escolhido (61,8%) está bem acima da inflação medida nos últimos quatro anos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que totalizou 24,03%. O projeto de lei foi aprovado em 16 de dezembro, último dia de sessão ordinária de 2011. Dos 25 presentes no plenário, apenas três votaram contra: Neusinha Santos (PT), Iran Barbosa (PMDB) e Arnaldo Godoy (PT). No entanto, eles não apresentaram emendas modificando a proposta.
Diante da repercussão negativa do aumento, um grupo de vereadores agora defende que Marcio Lacerda vete a legislação – a decisão deve ser tomada até o dia 26. Caso contrário, para amenizar os efeitos do aumento, já se articulam para reduzir a verba indenizatória em até 50% – passando dos atuais R$ 15 mil para R$ 7,5 mil. Para isso, é necessária a assinatura de pelo menos 13 parlamentares para formar uma comissão especial destinada a discutir o assunto e reavaliar a autorização para gastos com vários itens. Uma das ideias defendidas é de que a cota de cada vereador seja administrada pela própria Câmara, que faria licitações e poderia obter valores mais baixos.

>> Direto do contribuinte

Quanto ganham por mês os vereadores de BH

Salário    R$ 9.288,05
Verba indenizatória    R$ 15 mil
Verba do paletó*    R$ 1.548
Franquia de telefone    R$ 800

SUBTOTAL POR MÊS    R$ 26.636,05

Verba de gabinete    R$ 42.661**

TOTAL POR MÊS    R$ 69.297,05

Eles têm direito ainda a:
» 1 mil envelopes timbrados tamanho ofício
» 2,5 mil folhas de papel A-4 timbradas

* Equivalente a 1/12 da soma das duas parcelas de salário adicionais, pagas no início e fim do ano. São mais R$ 18.576,10
** Custo máximo para a contratação de até 15 funcionários

saiba mais

Verba indenizatória
Os vereadores são ressarcidos com a verba indenizatória para arcar com materiais ou serviços não disponibilizados e gastos para o exercício do mandato. Na lista do que podem comprar com os
R$ 15 mil mensais a que têm direito estão incluídos itens como divulgação do mandato parlamentar, serviços de consultoria, combustível, serviços postais e gráficos, periódicos, materiais e serviços de escritório e informática, estacionamento, lanche, refeição, telecomunicação, manutenção e locação de veículo, participação em curso ou seminário, viagens, apoio a eventos oficiais e escritório de representação parlamentar. As regras incluem restrições na divisão dos gastos. O limite para serviço postais e divulgação do mandato, por exemplo, é de 40% e para consultoria técnica podem ser destinados 30% da verba.

Pressionadas, câmaras desistem de aumento
Integrantes do Veta Lacerda prometem fechar a Afonso Pena hoje

Isabella Souto e Juliana Cipriani

O apelo popular prevaleceu em três municípios do Espírito Santo. Diante da repercussão negativa e manifestações da população contra aumentos votados no fim do ano passado, os vereadores de Vitória, Vila Velha e Cachoeiro do Itapemirim desistiram de engordar o contracheque, que, nos moldes do proposto em BH, são para vigorar a partir de 2013. Na capital mineira, o grupo responsável pelo movimento "Veta Lacerda" nas redes sociais convoca nova manifestação para hoje na porta da Prefeitura de Belo Horizonte. Eles pretendem fechar meia pista da Avenida Afonso Pena entre as 17h e as 20h e, pela terceira vez, fazer barulho diante do gabinete do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que tem nas mãos, para sancionar ou vetar, o reajuste de 61,8% dos vereadores da capital.
Os parlamentares de Vila Velha haviam aprovado um reajuste de 61,8% – mesmo índice adotado em Belo Horizonte –, passando dos atuais R$ 7,43 mil para R$ 12 mil. Em reunião com o prefeito Neucimar Fraga (PR), 10 vereadores resolveram congelar o aumento e ainda manter o número atual de 17 parlamentares. Por lei, o número de cadeiras poderia saltar para 21 a partir de 2013.
Na capital capixaba, os parlamentares também resolveram dar ouvidos às críticas da população. Um projeto de lei que previa aumento nos contracheques foi substituído por proposta que congelou os vencimentos nos atuais R$ 7,43 mil mensais a partir da próxima legislatura, que se inicia em janeiro do ano que vem. Chegou a ser discutido um reajuste de 22% – equivalente ao acumulado da inflação dos últimos quatro anos –, mas para evitar o desgaste com a opinião pública, os vereadores optaram por manter o atual valor.
Em Cachoeiro do Itapemirim, a Câmara Municipal aprovou em 13 de dezembro um reajuste ainda mais ousado: 67%. O salário de R$ 6 mil passaria para R$ 10 mil a partir de janeiro. Passaria. Diante da reação contrária dos moradores da cidade de pouco mais de 180 mil habitantes, um dia depois do Natal o presidente da Casa, Júlio Ferrari (PV), anunciou o recuo. "Não podemos deixar uma mancha no Legislativo, apesar de o aumento estar na legalidade", afirmou na ocasião.
PROTESTO Pelo Facebook, 230 pessoas confirmaram presença no protesto em Belo Horizonte. No último, compareceram cerca de 100 manifestantes com nariz de palhaço, cartazes e máscaras com as fotos de alguns dos 41 vereadores da capital. Além desse ato, o grupo divulga na internet uma "contrapropaganda", rebatendo as explicações da Câmara Municipal que justifica o aumento e pedem um novo "telefonaço", fornecendo um número da prefeitura para que os insatisfeitos liguem pedindo o veto.
Para o dia 26, data máxima para que Lacerda decida sobre a proposta de reajuste dos vereadores, eles prometem uma grande manifestação na prefeitura. O estudante Evandro Gatron, um dos integrantes do movimento Veta Lacerda, adiantou que a manifestação vai ser nos moldes da feita no dia 5. Além de faixas e apitos, o grupo fará intervenções como a de uma jovem com uma faixa pintada de vermelho nos olhos, representando um salário de "furar olho".
Há expectativa de que os manifestantes contrários ao aumento nas tarifas de ônibus se unam ao grupo. "Esperamos aumentar o número de presentes, até porque o clima, que agora não está mais chuvoso, ajuda", disse. Graton não soube dizer quantos telefonemas foram feitos à PBH. Para ele, a propaganda divulgada pela própria Câmara Municipal em horário nobre da TV brasileira está ajudando a divulgar o movimento contra o salário. Mesmo assim, o grupo ingressou com denúncia no Ministério Público, alegando que a publicidade omite informações, como o número do projeto de lei e os valores do atual e futuro salário de cada vereador. 

Pedido de socorro bilionário
Prefeito da capital e secretário do governo do estado vão a Brasília negociar verbas de R$ 1,2 bilhão para recuperar danos provocados pelas chuvas e prevenir tragédias

Paola Carvalho e Daniel Camargos

O governo de Minas Gerais e a Prefeitura de Belo Horizonte desembarcam hoje em Brasília para cobrar mais recursos para recuperar os danos provocados pelas fortes chuvas que deixaram 179 cidades mineiras em estado de emergência e também querem dinheiro do Ministério do Planejamento para prevenir tragédias. Somadas, as demandas mineiras chegam a R$ 1,2 bilhão.
Ontem, durante visita do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), para repasse de verbas emergenciais, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), informou que vai hoje à capital federal requisitar R$ 800 milhões para obras de prevenção. A capital mineira recebeu ontem R$ 25 milhões do Ministério da Integração Nacional para 18 obras de reconstrução e recuperação de áreas devastadas pelas enchentes e deslizamentos.
Já o secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Carlos Melles (DEM), acrescentou que também vai a Brasília, só que ao Ministério da Agricultura, pleitear outros R$ 210 milhões para as estradas vicinais. São R$ 30 mil para cada um dos 7 mil quilômetros a serem refeitos ou construídos na área rural. "Restabelecer o tráfego é prioridade para escoamento da produção agropecuária e porque (a situação das estradas) pode até atrasar as voltas às aulas", destacou. Segundo o diretor-geral do DER, José Élcio Montese, a chuva causou problemas em 174 trechos de estradas que cortam Minas, provocando interrupções em 35 delas.
Uma das cidades atingidas foi Cipotânea, na Zonda da Mata. De acordo com prefeito, Luiz Moreira Pedrosa (PTB), as estradas rurais foram muito afetadas, com diversas quedas de barreiras. A principal atividade da cidade é a agropecuária, e muitos produtores de leite ficaram sem poder escoar a produção. Além disso, cerca de 100 famílias estão desabrigadas. "Hoje (ontem) um engenheiro está na cidade avaliando quantas casas foram totalmente perdidas e quem poderá voltar", informa o prefeito.
Belo Horizonte, que foi o primeiro município do estado a ter situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) em função das chuvas, não solicitou ajuda federal para resposta ao desastre, ponderou o ministério, mas, na semana passada, protocolou um plano de trabalho pedindo R$ 42 milhões e recebeu parte do recurso. "Os R$ 17 milhões faltantes, para atender um total de 25 projetos, terão de ser ajustados ao orçamento", afirmou o prefeito Marcio Lacerda (PSB).
EM ETAPAS  O governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) disse que o primeiro passo foi a liberação de recursos de R$ 30 milhões para atendimento imediato, mas que a segunda etapa, a de recuperação, exigirá verba complementar mais vigorosa. Só para recompor as rodovias estaduais seriam necessários pelo menos R$ 150 milhões.
"A fase mais crítica da chuva já passou, mas o período chuvoso se estende até março. Vamos ajudar as prefeituras municipais a desenvolverem os projetos de pleitos para receber mais recursos", disse o governador, para quem o terceiro passo, de obras de prevenção, também é muito importante.

Prioridades de BH
» Contenção de talude e jateamento de concreto nas ruas Aristides Ferreira e Corumbataí
» Contenção de talude e jateamento de concreto na Rua Patagônia
» Contenção de talude e jateamento de concreto na Rua Borba Gato e Pitangui
» Contenção de talude e jateamento de concreto na Rua Chicago
» Contenção de talude com execução de cortina atirantada na Rua Flávia Bretas
» Recuperação da galeria da Avenida Cristiano Machado
» Reconstrução da Rua Passaquatro, no Caiçara, e contenção de talude com execução de jateamento de concreto
» Contenção de talude com execução de gabião (contenção de pedras revestidas com arame) na Rua Carmela Aluoto, esquina com Rua Moreira Pinto
» Contenção de talude com execução de muro de arrimo na Avenida Crisitiano Resende e Rua Maria de Lourdes
» Contenção de talude e reconstrução da Rua Guararapes, no Glória
» Contenção de talude com execução de muro de arrimo na margem do córrego Bonsucesso, na Rua Itamar Teixeira
» Contenção de talude com execução de muro de arrimo na Rua Alcântara com Rua Xapuri
» Contenção de talude com execução de muro de arrimo na Rua Ilmenita (Córrega Itambé)
» Obras na Rua Inspetor Pimentel, Jardim Alvorada
» Obras na Rua Nossa Senhaora Aparecida, Vila Aparecida

Enquanto isso...

... buracos geram protestos
Um protesto contra os buracos da rodovia poderá fechar  hoje o trânsito da BR 251, em Salinas, no Norte de Minas, em trecho de 300 quilômetros que liga Montes Claros à BR 116 (Rio-Bahia).  O ato é liderado pelo prefeito de Salinas, José Prates (PTB). "Estamos organizando o movimento em atendimento a um clamor da população, que reivindica a recuperação imediata da rodovia", diz . Segundo ele, deverão participar comitivas de municípios vizinhos como Fruta de Leite,  Padre Carvalho, Josenopolis, Currral de Dentro e de Santa Cruz de Salinas. Na segunda-feira, foi realizada manifestação semelhante em outro ponto da rodovia, a 10 quilômetros de Montes Claros.

Ministro repassa cartão para obras de emergência

Paola Carvalho e Daniel Camargos

O dinheiro do governo federal para consertar os estragos provocados pela chuva começa a chegar aos munícipios mineiros. Após anunciar o repasse de R$ 30 milhões, sendo R$ 10 milhões para o governo estadual e outros R$ 20 milhões para as cidades que decretaram estado de emergência o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), esteve ontem em Belo Horizonte para repassar o Cartão de Pagamento da Defesa Civil (CPDC) às primeiras cidades: Cipotânea, Ouro Preto, Vespasiano e Muriaé.
Alvejado por uma série de denúncias de favorecimento a seu estado natal – Pernambuco –, Bezerra se esquivou de responder sobre sua situação na pasta. Ao ser questionado se sente-se seguro no cargo, ele escutou um conselho de seu assessor, balançou a cabeça negativamente e prosseguiu falando sobre o dinheiro para Minas de que foi portador.
Os recursos devem ser usados para ações emergenciais. A prefeitura de Muriaé pode sacar R$ 450 mil, Cipotânea, R$ 150 mil; Ouro Preto, R$ 300 mil e Vespasiano, R$ 150 mil. Em breve, outras cidades serão atendidas. Já foram autorizados repasses de R$ 100 mil para Governador Valadares (Região do Rio Doce) e R$ 150 mil para Contagem, na Região Metropolitana.
Segundo Bezerra, diante à urgência não foi exigido que as prefeituras constituíssem um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para receber o dinheiro, bastando apenas uma conta específica no Banco do Brasil. A aplicação do dinheiro poderá ser acompanhada pelo Portal da Transparência (www.portadatransparencia.gov.br).
O ministro fez uma espécie de mea culpa sobre os repasses para Minas Gerais em 2011. "Os prejuízos deste ano são maiores do que os do ano anterior e devem chegar a R$ 400 milhões em danos ao patrimônio. No ano passado, o ministério atendeu o estado com R$ 70 milhões", comparou Bezerra, que calcula um repasse maior para os mineiros em 2012.
HABITAÇÃO O ministro informou que a presidente Dilma Rousseff determinou que as casas destruídas pela chuva sejam prontamente reconstruídas por meio do programa Minha casa, minha vida. A estimativa é de que entre 650 e 1 mil casas tenham sido destruídas em Minas Gerais.
O governador Antonio Anastasia (PSDB) destacou a necessidade de harmonia com o governo federal para recuperar os estragos das chuvas. O primeiro passo, em andamento, é prestar socorro imediato às vítimas. "Devolver o mínimo da situação do cotidiano", explica o governador. 

Prevenção como arma de combate

Guilherme Paranaiba

Belo Horizonte fechou a primeira quinzena de janeiro sem casos confirmados de dengue. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, já são 172 notificações de casos suspeitos. O certo é que a população deve ficar alerta, pois, com a parada das chuvas, entramos no período crítico para a maior parte das infecções pelo mosquito. "Normalmente, 70% das pessoas infectadas pegam a doença entre janeiro e maio. E este ano temos as condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti. Tivemos a maior quantidade de chuva para dezembro nos últimos 100 anos, e agora a temperatura subiu", disse o secretário-adjunto de Saúde da capital, Fabiano Pimenta Júnior.
Ele acredita que só uma combinação de fatores pode contribuir para manter BH sem casos confirmados da doença, conforme aconteceu no ano passado. "A população precisa fazer as vistorias para eliminar os focos e a prefeitura vai continuar os monitoramentos com agentes e mutirões de limpeza", afirmou. Em 2011, foram 1.762 casos confirmados, 97% a menos do que em 2010, quando foram 51.753 casos e 15 mortes. Para o combate da dengue, o importante é pôr areia nos vasos de plantas, remover a água de pneus e garrafas e colocar de boca para baixo os recipientes que podem acumular o líquido. As caixas-d"água devem estar sempre fechadas e as calhas conferidas periodicamente para evitar os entupimentos.

ECONOMIA
BC reduz juros a 10,5% e reforça alívio para o consumidor

Copom decide cortar Selic pela quarta vez seguida e queda de dois pontos percentuais desde junho diminui custo dos financiamentos de bens e dos empréstimos pessoais
Paula Takahashi e Pedro Rocha Franco
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros da economia (Selic) de 11% para 10,5% ao ano, confirmando as expectativas do mercado financeiro. E não é apenas a Selic que sucumbe diante do esfriamento da economia brasileira – ao passar para a menor taxa desde junho de 2010 –, mas as taxas de juros para financiamentos e crédito pessoal também. Os sinais de redução do consumo têm pressionado as instituições financeiras a acelerar o corte dos juros básicos como forma de estimular as compras. Se há dois anos demorava meses, agora basta que o Copom bata o martelo para que os bancos anunciem as novas tarifas.
"O custo do dinheiro depende da demanda por crédito. Se ela se mantêm elevada, não há motivação para reduzir os juros", pondera o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato. Diante de um cenário inverso, os bancos correm para tornar o dinheiro mais barato. As estatísticas estão a favor do consumidor e novos cortes são esperados até dezembro. Segundo levantamento do Estado de Minas, desde 2002 todas as vezes que o ano começou com queda da Selic, a tendência de redução se manteve até o fm do período.
A forte concorrência entre os gigantes do setor financeiro também é apontada pelo vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, como motivação para encurtar a distância entre o corte da Selic e o repasse das novas taxas de juros para as linhas de crédito pessoal.
A espera reduzida pelo benefício, porém, não significa repasse integral. Segundo levantamento preliminar divulgado pela Anefac, o novo corte de 0,5 ponto percentual da Selic anunciado ontem poderá levar o empréstimo pessoal oferecido pelos bancos de uma taxa mensal de 4,21% para 4,17% ao mês, queda de 0,95%, contra recuo de 4,55% da Selic. "Há outros fatores que justificam os juros praticados em financiamentos. Entre eles, a inadimplência e custos de operação, sendo a Selic apenas uma taxa de referência", pondera Salvato.
Ritmo Desde julho, quando os juros nominais somavam 12,5% ao ano, a taxa para o crédito pessoal registrou corte de 0,5 ponto percentual, um quarto do registrado pela Selic. "Para algumas linhas, o repasse é mais rápido, o que não acontece com o cheque especial", pondera Miguel Ribeiro. Segundo o vice-presidente da Anefac, somente o rotativo do cartão de crédito não sentiu os efeitos da curva descendente de juros iniciada em agosto de 2011. "É a única que se mantêm estável há mais de 12 meses. Isso acontece por conta da falta de competição no setor", observa.
Apesar de reconhecer os efeitos reduzidos para o consumidor, Miguel alerta para a importância de se manter uma retração constante da Selic. "A nossa expectativa é de que as taxas de juros voltem a ser reduzidas para evitar uma desaceleração forte em nossa economia."
Em consonância com as decisões do Copom, o Banco do Brasil reduziu os juros pela quarta vez consecutiva desde julho de 2011. A partir de hoje, a taxa para crediário passará de 3,39% para 3,35% ao mês, enquanto a de financiamento para veículo será reduzida de 1,36% para 1,32% ao mês. A Caixa Econômica Federal (CEF) também anunciou ontem, depois de o BC decidir pela nova Selic, que vai reduzir as taxas de juros em suas linhas de crédito para consumidor e empresas. Segundo o banco, os juros serão diminuídos em até 28,3 pontos percentuais ao ano para pessoa física e em até 1 ponto percentual ao ano para pessoa jurídica.

Mudanças à vista no regime de pensões

Vânia Cristino

Brasília – A mamata das pensões que são concedidas pela vida toda mediante o pagamento de uma única contribuição vai acabar, avisou ontem o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves. Tão logo for aprovado o projeto que cria o fundo de pensão para os servidores públicos – o que deve ocorrer até março – o governo vai encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei ordinária para acabar com as brechas que faz com que a concessão das pensões no Brasil seja uma das mais generosas do mundo. "Nós vamos propor mudanças no regime de pensões, que é de uma generosidade ímpar", garantiu o ministro.
Entre os abusos legais Garibaldi citou o fato da pensão não ser extinta mesmo diante de um novo casamento da pensionista ou do pensionista. Se depender do governo, isto também vai acabar. Segundo o ministro, não existe país no mundo em que essa situação ocorra. O "casamento previdenciário", segundo o ministro, que é aquele que osegurado casa com uma vela na mão, ocorre porque, no Brasil, não existe um período de carência para a concessão das pensões. Isso significa, na prática, que com o pagamento de uma única contribuição pelo valor máximo permitido – 20% sobre o teto do salário de contribuição, que é de R$ 3.916,20 para o segurado autônomo, por exemplo – a viúva terá uma pensão neste valor por toda a vida e, mesmo se casar de novo, e com um homem jovem e rico, a pensão não é extinta.
O ministro disse que a Previdência Social, que vem registrando sucessivos superávits na área urbana e tem, inclusive, conseguido reduzir o déficit, não aguenta essa situação por muito tempo. "Como está é uma sangria que já está custando R$ 60 bilhões ao ano", disse Garibaldi, referindo-se à despesa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com o pagamento de pensão por morte anualmente.

Déficit menor
A geração de emprego e o crescimento real da massa salarial levaram a Previdência Social a fechar o ano passado com o menor déficit da década. Em 2011, as contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ficaram no vermelho em R$ 36,5 bilhões, numa queda de 22,3% em relação aos R$ 47 bilhões em 2010. Foi o melhor resultado desde 2002, quando o INSS registrou um rombo de R$ 30,5 bilhões nas contas. O desempenho das receitas deve se repetir este ano. "Esperamos um crescimento da arrecadação na mesma magnitude", disse o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves. Em 2011, o recolhimento da contribuição previdenciária ficou 8,9% acima da inflação, atingindo R$ 251,2 bi. No mesmo período, as despesas com o pagamento de benefícios cresceram 3,6% chegando a R$ 287,7 bi.

Minério engorda cofres em Minas
Royalties pagos aos municípios somam R$ 788,87 mi e são inéditos, mas para cidades o valor deveria ser de R$ 2,3 bi

Marta Vieira

A boa rentabilidade da indústria da mineração durante o ano passado, combinada à forte expansão da atividade em Minas Gerais, levou a arrecadação dos royalties devidos pelo setor a um novo recorde histórico, com o recolhimento de R$ 788,869 milhões nas reservas de todo o estado. O valor da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) proveniente da extração do minério de ferro, carro-chefe da produção estadual, correspondeu a 89,6% do total, conforme os dados do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM). Embora a Cfem apurada em Minas tenha superado o recorde de 2010, se a reivindicação dos municípios por uma cobrança equivalente ao dobro da atual alíquota incidente sobre a exploração de ferro já estivesse valendo, a receita seria 300% superior, alcançando R$ 2,3 bilhões só com a principal riqueza do subsolo mineiro.
A diferença é motivo de insatisfação e cobrança dos prefeitos das cidades que têm a mineração como maior fonte de sustentação da economia local. Na discussão do novo marco regulatório da indústria mineral que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, prometeu encaminhar em 2011 ao Congresso Nacional, prazo não cumprido, os prefeitos pediram a elevação da alíquota da Cfem sobre o ferro dos atuais 2% para 4%. No Brasil, a Cfem somou R$ 1,540 bilhão, montante que o DNPM divulgou no fim do ano.
Ângelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, 12º município que mais gerou arrecadação de royalties no país, reclama do atraso no envio dos projetos do marco regulatório ao Congresso. "É fundamental que o ministro tome rapidamente a iniciativa de explicitar a posição do governo federal sobre o assunto e acelere as providências para a proposta chegar ao Legislativo", afirmou o prefeito, que é também vice-presidente da Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib). O novo marco negociado com os municípios mineradores foi atropelado por um projeto apresentado no Senado e pela criação de uma taxa mineral no estado.
Avanço A comparação da Cfem mineira recolhida em 2011 com os dados de 2004, primeiro ano da série de acompanhamento do tributo pelo DNPM, mostra o cenário amplamente favorável às mineradoras no estado. O recolhimento no ano passado ficou quase 5 vezes e meia acima do apurado no estado em 2004, de R$ 143,892 milhões. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), nesse período a produção de minério de ferro aumentou 56,5% em Minas, alavancada por investimentos novos e expansões, e os preços da matéria-prima saíram de US$ 37 por tonelada exportada para US$ 117 por tonelada no fim do ano passado, quer dizer, um acréscimo de mais de três vezes.
Para este ano, a arrecadação só deverá sofrer alguma queda mediante uma eventual redução significativa do preço do minério de ferro, o que não faz parte do cenário traçado pelo governo de Minas, segundo o subsecretário de Desenvolvimento Mínero-Metalúrgico e Política Energética, Paulo Sérgio Machado Ribeiro. "O crescimento da China, que é nosso maior consumidor, continua forte", disse. Um outro ponto a favor da indústria brasileira está no alto custo de manutenção das minas de ferro chinesas, estimado em US$ 120 por tonelada. A cotação da matéria-prima no mercado internacional não deverá baixar desse nível, ao contrário, tornaria inviável a extração em diversas jazidas no gigante asiático. Na mesma linha de expectativas, o Ibram estima elevação em torno de 10% da receita do tributo neste ano em R$ 1,7 bilhão, sendo mais de 50%, novamente, apurados em Minas.

Savassi revigorada com a volta do sol
Estiagem e promoções estimulam retomada das vendas

Pedro Rocha Franco

Os cartazes mostram descontos de até 50%. A tão sonhada reforma da região mais charmosa da cidade anda a passos largos para sua conclusão e já é possível perceber algumas melhorias. Mas é um outro fator, pra lá de bem-vindo, que tem trazido de volta os visitantes para a Savassi: o sol. A mudança de clima tem permitido aos consumidores retornar às ruas, alavancando as vendas depois de um Natal com faturamento abaixo da expectativa.
Novata na região, a Fiki Pize, de sapatos femininos, rapidamente atingiu as vendas de outras lojas da marca, o que levou a ter boas expectativas quanto aos negócios de início de ano. No entanto, a chuva afetou as metas: "Tinha dia que ficávamos sentadas esperando a chuva passar para a clientela voltar", recorda a gerente da unidade, Regina Célia Costa. Com os estoques cheios, ela pretendia ultrapassar a marca de R$ 100 mil em vendas, mas ficou 40% abaixo do esperado. Neste mês, com descontos de até 50%, ela acredita recuperar o ritmo dos negócios. "A Savassi precisa de sol para vender. Temos que torcer para permanecer assim."
Apesar de a obra não estar pronta, a proprietária da joalheira Vila Artesanal, Sarah Vilaça, comemora os primeiros resultados de vendas. Para ela, a Savassi mais arborizada, com mais espaço para andar, oferece aos consumidores um passeio mais agradável. A única crítica é a falta de vagas para estacionar. Mas o principal, segundo ela, é a trégua da chuva.
Um período tradicional de compras na região é a hora do almoço, quando trabalhadores circulam entre os comércios nas duas horas de intervalo. Mas, nos últimos meses, muitos fugiram da Savassi para evitar chuva, poeira, barulho e outros transtornos. As esteticistas Kelly Silvana da Silva e Fernanda Aparecida Ferreira estão acostumadas a almoçar em 30 minutos e "bater perna" no tempo restante que têm nesse horário. Mas, em dezembro, a solução foi ir aos shoppings para comprar os presentes de Natal. A Savassi tornou-se inviável com a chuva. "Era almoçar e voltar para a clínica. Não tinha como passear", conta Kelly.
Segundo pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) divulgada na semana passada, 87,5% dos lojistas disseram que as chuvas prejudicaram as vendas e outros 12,5% relataram que o clima foi um dos responsáveis pela queda do faturamento no período natalino. O economista da CDL/BH, Fernando Sasso, acredita que a estiagem traz a possibilidade de fôlego extra para a Savassi, atraindo consumidores com preços agressivos por causa de um estoque remanescente do Natal.

Enquanto isso...
...obras mais amenas
Depois de uns dia de intervalo para favorecer as vendas natalinas, operários retornaram às obras para conclusão da revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi. Mas, dessa vez, a poeira que tomava conta da região, como ocorria no ano passado, não atrapalha tanto o comércio e a parte da obra que já foi concluída favorece o retorno dos compradores. Passados mais de seis meses de obras, a parte mais pesada foi concluída, restando a instalação de fontes e da parte hidráulica e também a implantação do mobiliário urbano, como bancos e luzes, além do plantio das árvores. A expectativa da prefeitura é de que as intervenções sejam encerradas no fim de abril, com atraso de um mês por causa da interrupção em dezembro.

GERAIS
Crime sobre duas rodas dispara e Polícia Militar monta bloqueio
Graças à agilidade na fuga, motos já são usadas em 36% dos ataques ao comércio em BH. Operação Impacto chega à capital hoje, prevendo cerco nos semáforos e ações táticas nas ruas

Junia Oliveira e Sandra Kiefer

Agilidade no trânsito, baixo consumo de combustível, crédito fácil. Os mesmos atrativos que fazem cada vez mais gente optar pelo transporte em motocicleta se tornaram chamariz para ladrões e transformaram as duas rodas em tormento para as vítimas e em desafio para a polícia. Só no ano passado, mais de um terço dos assaltos a estabelecimentos comerciais de Belo Horizonte foram cometidos com a ajuda de motos. O índice alarmante, de 36%, obriga a Polícia Militar a montar estratégia especial para tentar deter o avanço do que se transformou em meio de fuga preferido no mundo do crime. Essa forma de ação é difícil de combater, por ter como principais traços a rapidez na fuga e o anonimato do assaltante, com identidade escondida pelo capacete. E, embora já assustador, o percentual de uso do veículo em assaltos é ainda maior, pois ficam foram da conta de ataques a comerciantes outros delitos, como as chamadas saidinhas de banco.
A partir de hoje, a PM põe na rua várias operações para abordar motociclistas suspeitos e promete tornar investidas em semáforos e nas ruas uma rotina na capital. A operação batizada de Impacto contará com pelo menos três tipos de abordagens, que poderão ocorrer simultaneamente. Será promovida em todas as áreas comerciais da cidade, incluindo as principais vias de acesso a essas regiões. Para isso, foram feitas análises de locais, horários e modo da ação criminosa em cada local.
Nos estudos do comandante do Policiamento da Capital, coronel Rogério Andrade, além do aumento do número de casos de roubo usando moto, foi traçado um perfil dos criminosos: "São homens, atuam em dupla, usam capacete, pilotam motos que têm certa potência e agem armados. Um deles permanece na motocicleta e outro desembarca e rouba o estabelecimento ou a pessoa", detalha. A grande capacidade de mobilidade e possibilidades de fuga são apontadas também como fator-chave. Os levantamentos constataram que os roubos ocorrem principalmente em grandes corredores de trânsito ou próximo a eles.
Uma das ofensivas da Operação Impacto consiste em ações rápidas nos sinais de trânsito. Enquanto o semáforo estiver vermelho, policiais vão fazer um pente-fino e destacar alguns motociclistas, que serão levados para a lateral da rua ou avenida para averiguação. Militares à paisana do Tático Móvel, Patrulha de Operações e do Grupo de Prevenção Motorizado (GPmor) também ficarão espalhados, observando suspeitos em motos ou aqueles que andam a pé, com capacete na mão.
Viaturas serão adaptadas para receber um sistema de som que servirá de alerta à população. Em determinadas áreas, a polícia passará informando no megafone que uma operação poderá ser desencadeada a qualquer momento – nos semáforos ou com o fechamento de quarteirões inteiros. A ideia é não assustar cidadãos que estiverem no local. "Essa é uma estratégia de segurança para atacar o problema. É necessária uma intervenção diferenciada para obter uma diminuição significativa desse tipo de crime, que passou a envolver moto por causa da versatilidade do veículo", afirma o coronel.
A implantação do sistema de som tem o apoio da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio). "É preciso tomar medidas para atenuar a situação, uma vez que acabar com o problema é difícil. A moto é hoje um grande perigo, devido à facilidade de locomoção no trânsito", afirma o presidente da entidade, Lázaro Luiz Gonzaga. O sindicato e a federação dos motociclistas também se reunirão com a PM, a partir de hoje, para firmar parcerias.
Nos bairros, a expectativa é grande. O presidente da Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio, Gegê Angelino, destaca a Avenida Prudente de Morais, um importante corredor da capital, como estratégico para a ação da PM. "Temos muita reclamação sobre a criminalidade na região envolvendo motoqueiros e garupeiros e estamos preocupados, pois a avenida, que tem um trânsito fortíssimo, passou a ser ligação para vários bairros e isso facilita a fuga dos bandidos", relata.
INTERIOR Os trabalhos que serão implementados em BH tiveram origem no Centro-Oeste mineiro, onde o coronel que agora está à frente do CPC atuou. O programa contou com a participação de 51 municípios, onde foram feitas várias blitzes. Nelas, o motoqueiro era orientado a parar, desligar o veículo, tirar o capacete e levantar o braço direito. A ideia é orientar os condutores para que o procedimento se repita na capital. As autoescolas também serão alvo da PM.

Memória

São Paulo tentou proibir a garupa

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vetou no fim do ano passado projeto de lei que proibia as motocicletas de levarem passageiros na garupa. A proposta, aprovada pela Assembleia Legislativa no fim de novembro, proibia que os garupeiros fossem carregados nos dias úteis nas cidades paulistas com mais de 1 milhão de habitantes. Na ocasião, o governador chegou a afirmar que não seriam medidas como essa que diminuiriam a criminalidade, mas sim a atuação da Polícia Militar.

O resgate de 400 bichos
 Expedição de voluntários percorre cidades assoladas pelas águas em Minas e socorre cães, gatos, cavalos e outros animais que sobreviveram às enchentes ou se perderam dos donos

Pedro Ferreira

Como na narrativa bíblica da arca de Noé, em que Deus manda construir uma embarcação para salvar do dilúvio um casal de cada espécie animal, a organização não governamental Núcleo Fauna de Defesa Animal (NFDA), com sede em Belo Horizonte, socorreu mais de 400 cães, gatos, cavalos e outros bichos, que se perderam depois de sobreviver às enchentes de Minas. Muitos foram resgatados doentes e desnutridos.
A expedição, formada por nove pessoas, entre elas dois veterinários da Costa Rica, já visitou por três vezes 19 cidades castigadas pelas chuvas nas regiões Central, Zona da Mata, Campo das Vertentes e Metropolitana de BH. Depois de recolhidos, os animais são alimentados, examinados, cadastrados, vacinados e medicados e, quando necessário, passam por pequenas cirurgias. Os bichos adultos são abrigados pelas prefeituras e os filhotes levados para clínicas parceiras da capital, para adoção. Esse é, por exemplo, o caso de Gasparzinho, um cão com pouco mais de dois meses, resgatado acorrentado debaixo de chuva em BH. Um vira-lata foi batizado de Guidoval, por ter sido salvo da enchente na cidade mais castigada da Zona da Mata.
ILHADOS O coordenador da NFDA, o funcionário público Franklin Oliveira, de 43 anos, conta que na sexta-feira a expedição retornou a Guidoval e passou por Ponte Nova, Viçosa, Barbacena e Visconde do Rio Branco. "Cães e gatos ficaram ilhados em Guidoval e foi preciso um barco para salvá-los", disse. Na semana passada, os expedicionários montaram uma tenda em frente à casa de uma voluntária em Guidoval, como base de atendimento. O trabalho deles foi anunciado durante missa na igreja católica da cidade e um carro de som também convocou a população para exames e vacinação dos animais de estimação.
Bichos também foram resgatados em Brumadinho e Mário Campos, na Grande BH. Amanhã, os voluntários vão se dividir em dois grupos e um deles, coordenado pelo Núcleo Fauna de Defesa dos Animais, vai percorrer Guidoval, Dona Euzébia, Além Paraíba, Rio Pomba, Tocantins, Paiva, Visconde do Rio Branco, Ubá e municípios vizinhos.
O segundo grupo, coordenado pela Associação Bicho Gerais, vai para Itabirito, Cachoeira do Campo, Ponte Nova, Teixeiras, Viçosa, Coimbra, São Geraldo, Carandaí e Santa Bárbara. "Estamos fazendo uma campanha para incentivar o apadrinhamento desses animais pelas clínicas veterinárias e também a adoção. Qualquer pessoa pode adotar", disse Franklin, que diariamente tem inserido fotos dos animais no blog franklineumassis.blogspot.com..
FERIDOS Muitos animais perdidos foram recuperados em áreas rurais e os integrantes da expedição ainda tentam localizar os donos. "Alguns são de comunidades carentes e a gente percebe o apego das pessoas aos bichos que voltaram depois das enchentes. A gente fica com pena dos animais. Eles ficam vagando debaixo de chuva, molhados. No primeiro dia, recolhemos um cão com a pata ferida e conseguimos interná-lo numa clínica de Ubá", disse Franklin.
Como muitas prefeituras não têm condições de abrigar cães e gatos, os animais adultos são tratados, alimentados e devolvido às ruas. "Temos um cronograma de ação. Em três semanas, a gente pretender retornar às cidades e castrar os animais como forma de impedir a procriação desordenada", disse Franklin. Ele conta com o apoio da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), com sede em Londres e escritórios na Costa Rica e no Rio de Janeiro, que custeou as primeiras ações emergenciais aos animais, além de organizar um plano logístico.
Mas o trabalho ainda não acabou e Franklin convoca voluntários, inclusive nas cidades visitadas, para reforçar os atendimentos. "O importante é valorizar a vida em todos os sentidos. Quando tratamos de um animal de uma pessoa carente, percebemos o quanto o cão ou o gato de estimação é importante, mesmo diante de tanta desolação. Os animais são tão importantes para as pessoas que um morador morreu afogado tentando salvar o seu cão", disse Franklin.
BARRAGINHA O servidor público Franklin Oliveira conta que a sua luta pela defesa dos animais não é de hoje. "Foi há 30 anos", disse, lembrando que resgatou animais vítimas da tragédia da Vila Barraginha, na Cidade Industrial, em Contagem, na Grande BH. "Na época, pertencia a outra ONG e montamos um posto de recolhimento de animais", explicou. Em 1992, houve um deslizamento de terra na Barraginha, que soterrou mais de 150 barracos, matando 37 pessoas, ferindo centenas e deixando 1,7 mil desabrigados.
A vila foi formada em um terreno doado à Prefeitura de Contagem pela Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais. O local apresentava risco geológico, por ser o terreno à base de argila e um antigo depósito de lixo.

E MAIS...

JÁ SÃO 17 MORTOS EM MINAS

Subiu para 17 o número de mortos pelas chuvas em Minas, com a localização ontem do corpo de Diego Tuler Vieira, de 28 anos, levado no dia 3 pela correnteza do Rio Piranga, em Ponte Nova. Ele perdeu o equilíbrio quando atravessava uma ponte a pé, tocou num poste e sofreu descarga elétrica, sendo levado pela enxurrada. Também aumentou para 179 o número de municípios em estado de emergência dos 252 atingidos pelas chuvas. Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, o número de casas destruídas no estado se elevou de 643 para 812, com 17.193 danificadas. O balanço revela que há 461 pontes danificadas e 368 destruídas. No estado, há 54.826 pessoas desalojadas e 4.733 desabrigadas, duas desaparecidas e 3,2 milhões afetadas diretamente pelas enchentes.

VARGINHA
Moradores de Varginha, no Sul de Minas, foram surpreendidos no fim da tarde de ontem por um temporal. A chuva de 20 minutos encheu o córrego que corta os bairros São Geraldo, Barcelona e Jardim Áurea e nove casas ficaram alagadas. Rapidamente o nível do córrego voltou ao normal e ninguém ficou ferido ou desabrigado. O Corpo de Bombeiros recebeu várias solicitações de queda de árvores e vistorias em casas. A Avenida do Contorno, que liga Varginha a Três Pontas, ficou parcialmente interditada por conta da queda de um eucalipto, mas o problema foi resolvido.

MINERAÇÃO
As operações de mineração do Quadrilátero Ferrífero em Minas voltaram à normalidade depois das chuvas, segundo sindicatos de trabalhadores. Nas últimas semanas, as mineradoras haviam reduzido o ritmo de produção na principal área de extração de minério de ferro do país. Vale e CSN, as principais mineradoras, porém, não confirmam que a situação está solucionada. Minas responde por dois terços da produção de minério do Brasil e, com a melhora do clima, o acesso às minas foi liberado e os funcionários das mineradoras puderam sair de casa para trabalhar, informaram sindicalistas.

OURO PRETO
Os foliões vão poder festejar o carnaval nas ladeiras de Ouro Preto, mesmo com os estragos da chuva. Segundo o prefeito Ângelo Oswaldo, já está sendo equacionado o que seria um dos problemas para os turistas: a rodoviária, interditada após ser atingida por um deslizamento de morro, que matou dois taxistas, vai ficar fechada, mas um terminal provisório vai ser construído. A única mudança no carnaval vai afetar apenas o desfile das escolas de samba, que terá um formato reduzido. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, algumas escolas de samba são de bairros atingidos e, por isso, as agremiações resolveram dividir o dinheiro repassado pela prefeitura para o carnaval entre os prejudicados pela chuva.

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