ACESSE TODOS OS JORNAIS NO CANTO DIREITO DA PÁGINA "ARQUIVO DE CLIPPING"
PRIMEIRA PÁGINA
Chuvas matam 11 e deixam 15 soterrados na divisa MG-RJ
Na maior tragédia das chuvas deste ano na Região
Sudeste, pelo menos oito pessoas - seis adultos e duas crianças - morreram ontem
em consequência dos deslizamentos em Jamapará, distrito de Sapucaia, a 165
quilômetros do Rio, e três em Além Paraíba - na divisa MG-RJ. Nove casas foram
atingidas e 59 famílias ficaram desalojadas. Segundo o Corpo de Bombeiros,
ainda há 15 pessoas desaparecidas. Além dessas, já haviam sido registradas
outras duas mortes, elevando para dez o total de óbitos no estado em
consequência das enchentes. O prefeito de Sapucaia, Anderson Zanon, disse que
todo o distrito de Jamapará está assentado em área de risco. Segundo a Defesa
Civil, o Rio já tem mais de 10 mil desalojados (pessoas fora de casa) e cerca
de 2 mil desabrigados
Governo cria força-tarefa contra cheias
O governo anunciou ontem medidas para combater os
efeitos das chuvas na Região Sudeste: uma força-tarefa de emergência, com 50
geólogos e hidrólogos, irá às áreas afetadas, e R$ 444 milhões para obras serão
liberados.
Burocracia paralisa pesquisas
Mais de 400 cientistas do Instituto de Ciências
Biológicas da UFRJ estão de braços cruzados há quase seis meses por causa da
burocracia. A Receita Federal não libera peças de reposição de um microscópio.
Classe média terá FGTS para construir
O Conselho Curador do Fundo deverá aprovar hoje o
uso de recursos do FGTS para financiar a compra de material de construção para
quem ganha mais de R$ 5.400. O valor máximo de financiamento é de R$ 20 mil e o
pagamento em 120 meses. A promessa é juros abaixo do mercado
OPINIÃO
Salário sustentável
Rodrigo Constantino
João é jovem, inexperiente e sem muita
qualificação. Ele está começando sua vida profissional. Em consequência, sua
produtividade é baixa. Reconhecendo isso, ele está disposto a receber um
salário de R$500. Paulo é um microempresário que pretende contratar mais um
funcionário. Ele pode pagar até R$500 de salário, o que, acrescido dos encargos
trabalhistas, custaria o dobro à empresa. Pelo visto, uma troca voluntária e
mutuamente benéfica. Mas há um obstáculo no caminho: o governo.
O que acontece quando o governo determina um
salário mínimo acima de R$600? Há duas alternativas: ou Paulo desiste de
contratar João; ou eles fecham um acordo à margem da lei. Desemprego ou
informalidade. Com tantas "conquistas" trabalhistas impostas pelo
governo e distantes da realidade do nosso mercado de trabalho, alguém ainda
fica surpreso com a imensa informalidade no Brasil?
O economista francês Bastiat dizia que o bom
economista se diferencia por analisar uma medida ao longo do tempo, enquanto o
economista ruim foca apenas em seu resultado imediato. A visão míope aplaude
qualquer aumento de salário mínimo, pois ignora "aquilo que não se
vê": os que continuam desempregados ou vão para a informalidade. Isso sem
falar dos impactos no rombo previdenciário, com aposentadorias indexadas, e na
inflação.
No debate sobre o tema, vemos o uso abusivo do
"monopólio da virtude" pela esquerda. Somente quem demanda maior
salário mínimo quer o fim nobre, qual seja, a melhoria da qualidade de vida dos
mais pobres. Nada mais falso, como demonstra a lógica econômica, corroborada
pelos dados empíricos.
A crença de que o governo pode decretar benesses
que geram prosperidade não passa de uma falácia. Alguns jornais estampam que o
aumento do mínimo vai injetar na economia bilhões por meio de maior consumo.
Poucos perguntam de onde sai este dinheiro. Como o governo não cria riqueza do
nada, parece evidente que a quantia maior destinada ao pagamento extra dos
salários terá de vir de algum outro lugar. Pode ser do lucro das empresas, que
ficam com menos recursos para investir, reduzindo assim a taxa potencial de
crescimento econômico.
O que nos remete a outra falácia: a visão marxista
de "mais-valia". Segundo esta crença jurássica, porém resistente
abaixo da linha do Equador, a economia é um jogo de soma zero, onde o capital
só pode ser remunerado se subtrair do trabalho. O lucro seria fruto da
exploração do trabalhador pelo empresário. Steve Jobs teria ficado bilionário
não porque agregou valor aos consumidores da Apple mundo afora com suas
inovações, e sim porque explorou alguns funcionários na Califórnia.
Quando a economia é vista como um bolo fixo e o
empresário como um explorador, então parece razoável demandar do governo uma
proteção do lado mais fraco nesta batalha.
Mas não é nada disso que acontece na realidade. Em
uma economia livre, as empresas se esforçam para atender da melhor forma
possível seus clientes, e com isso aumentar tanto lucros como salários. Mas
para isso é necessário um aumento de produtividade das empresas. Por decreto
estatal a coisa não funciona.
O salário de livre mercado é basicamente resultado
da produtividade do trabalhador. É por isso que os trabalhadores alemães ganham
tão mais que os brasileiros, e não porque seu governo é mais bondoso. O Brasil
possui sindicatos extremamente fortes e um governo demasiadamente
intervencionista. Mesmo com tantas conquistas legais, temos um salário médio
baixo em relação aos países mais livres, além da enorme informalidade. Países
como Finlândia, Noruega, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Cingapura e Suíça nem
salário mínimo têm!
Aqueles que aprovam qualquer aumento do salário
mínimo estão ignorando seus efeitos no médio prazo. Trata-se de medida
populista, que ataca o sintoma em vez da causa, sacrificando o trabalhador mais
humilde. Se para conquistar maiores salários não fosse preciso investir em
capital humano, bastando um decreto estatal, então os defensores da medida
precisam explicar por que parar perto de R$600. Por que não colocar o mínimo
logo em dez mil reais?
Quando até os mais demagogos não ousam ir tão
longe, é porque sabem que existem impactos perversos na medida. Eles
reconhecem, no fundo, que não se vira uma Alemanha da noite para o dia, com
base em um decreto de governo.
Ninguém vibra com um salário baixo, mas é preciso
saber como aumentá-lo de forma sustentável. E isso se faz com investimento em
capital humano e um ambiente de ampla liberdade econômica, além de menores
encargos trabalhistas.
RODRIGO
CONSTANTINO é economista.
COLUNAS
Merval Pereira
AL sem Brasil
Apesar de ter uma viagem marcada para o Brasil
durante a campanha presidencial, quem tiver curiosidade de saber a opinião de
Mitt Romney sobre o país não terá nenhuma pista no principal documento
divulgado até agora sobre a estratégia de política externa do mais provável
candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.
Intitulado "Um Século americano - Uma
estratégia para garantir os interesses e ideais permanentes americanos",
quando aborda a América Latina, não tem uma referência sequer ao Brasil. Mas
tem muitos pontos que certamente entrarão em choque com a posição do governo
brasileiro.
O documento anuncia que o governo de Mitt Romney
terá "um papel ativo na América Latina, apoiando aliados democráticos e
relacionamentos baseados em economia de mercado, contendo forças internas
desestabilizadoras como gangues criminais e terroristas, e se opondo a
influências externas desestabilizadoras como o Irã".
O ponto mais importante do documento é o anúncio de
que nos primeiros cem dias o novo governo republicano lançará "uma
vigorosa promoção pública de diplomacia e comércio", denominada Campanha
para Oportunidade Econômica na América Latina, Ceola em inglês, sigla que
aparentemente pretende substituir a Alca.
O propósito seria ressaltar "as virtudes da
democracia e do livre comércio", seguindo a linha dos acordos em vigor ou
prestes a serem aprovados pelo Congresso com países da região como Panamá,
Colômbia, Chile, México, Peru, e os membros do acordo de livre comércio da
América Central.
O eventual governo Romney tentará usar o programa
para contrastar os benefícios da livre iniciativa e o modelo de autoritarismo
socialista oferecido por Cuba e Venezuela, que são, na verdade, as grandes
preocupações na região.
Na visão de Romney, "décadas de notável progresso
na América Latina baseado na segurança, democracia e crescente laços econômicos
com a América estão atualmente sob ameaça".
Venezuela e Cuba estariam liderando "uma
virulenta campanha antiamericana" num movimento "bolivariano"
por meio da América Latina com a intenção de sabotar instituições de governança
democrática e oportunidades econômicas.
Esse "movimento bolivariano", segundo o
documento, ameaça aliados dos Estados Unidos como a Colômbia, interfere na
cooperação regional para o combate às drogas e em ações de contraterrorismo,
tem fornecido proteção para traficantes de drogas e encorajado organizações
terroristas regionais, além de ter convidado o Irã e organizações terroristas
estrangeiras como o Hezbollah.
O documento destaca também o que chama de
"epidemia de violência de gangues criminais e cartéis da droga" que
leva a morte ao México e diversos países da América Central e Caribe.
A proposta de Mitt Romney é juntar as iniciativas
de combate às drogas e ao terrorismo para criar a Força Tarefa Hemisférica para
Crime e Terrorismo, com o objetivo de coordenar as ações de inteligência e
repressão entre os aliados regionais.
No plano mais geral, o documento adverte que quem
assumir a presidência em 2013 terá pela frente uma série de "ameaças e
oportunidades".
O papel de "países poderosos" como China
e Rússia pode levar à valorização do sucesso econômico, reforçando a
importância de um sistema construído à base da liberdade econômica e política.
Mas pode também, adverte o documento de Romney,
ameaçar tal sistema pelo autoritarismo característico desses países, que já
estaria colocando em perigo a segurança internacional.
O documento chama a atenção para o surgimento de
atores relativamente novos na cena global, como os grupos terroristas
transnacionais.
Os grupos islâmicos radicais são apontados pelo
documento como "um perigo onipresente" para os Estados Unidos, apesar
das vitórias obtidas nos últimos anos no combate ao terrorismo.
Mitt Romney utiliza-se do documento das "armas
de destruição em massa" para chamar a atenção para os perigos de elas
caírem "em mãos erradas".
A região que vai do Paquistão à Líbia, envolta em
"profunda turbulência", tem uma importância geoestratégica que não
pode ser menosprezada: "É o primeiro ponto para a proliferação nuclear",
ressalta o documento, um constante risco de uma "guerra catastrófica"
que poderia colocar a economia mundial no caos.
A política externa de Mitt Romney se preocupa com
"países fracos demais para se defender sozinhos" e também com
"países falidos ou em falência", como Somália, Yemen, Afeganistão e
Paquistão, "e num grau alarmante, nosso vizinho México".
Esses são países com "governança fraca,
tomados pela pobreza, doenças, refugiados, drogas e crime organizado", que
são ou podem vir a ser lugares seguros para terroristas, piratas e outros tipos
de redes criminosas.
Romney retoma também a expressão "Estados
bandidos" muito utilizada no governo de George W. Bush, para definir Irã,
Coreia do Norte, Venezuela e Cuba, que têm "interesses e valores
diametralmente opostos aos nossos" e colocam a segurança internacional em
perigo, especialmente nos casos da Coreia do Norte e do Irã, que buscam obter
armas nucleares.
O professor de estudos estratégicos da Universidade
Johns Hopkins Eliot Cohen, conselheiro especial do governador Romney, descreve
no prefácio do livro quais são os objetivos que movem a sua candidatura: a tese
do mundo multipolar, onde o poder de influência dos Estados Unidos seria
decrescente, seria "falaciosa e perigosa".
"Os Estados Unidos não podem retirar-se dos
problemas mundiais sem provocar perigo para si mesmo e para os outros. (?)
Queiramos ou não, nossos valores, nossas políticas e nosso exemplo importam a
todos os que valorizam a liberdade".
Ancelmo Gois
Combate ao crack
O Rio será o primeiro estado do país a implementar
o plano federal de combate ao crack.
Quem ficará à frente das ações é a delegada Valéria
Sádio, que está trocando a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente
pela de Combate às Drogas.
Por falar...
A Secretaria municipal de Assistência Social do Rio
registrou, em 2011, aumento de 63% nas ações de atendimento à população de rua
em relação a 2010. Ano passado, foram feitas 21.402 abordagens, contra 13.190
em 2010 e 12.650 em 2009.
O secretário Rodrigo Bethlem atribui o aumento às
operações de combate ao crack.
Zona Franca
A mensagem de Dilma ao acadêmico Ivan Junqueira
foi: "Meu caro Ivan, a vida, como você escreveu, é maior que a morte;
acreditar nisso nos dá força para compartilhar cultura e construir um país
melhor e mais justo."
Míriam Leitão
Em círculos
O ano é novo e a confusão na Europa é a mesma de
sempre. Esta semana tudo voltou a se agitar depois de breve pausa. No encontro
de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy apareceram temas requentados e uma tentativa
de agenda positiva para ajudar o francês na sua luta pela reeleição. Da Grécia
vieram novas ameaças de calote, o que torna a situação deles mesmos mais grave.
Sarkozy reapresentou a proposta de um imposto sobre
transações financeiras, e Angela Merkel disse novamente que aceita, claro,
desde que seja para toda a União Europeia, porque sabe que o Reino Unido não
aprovará. A posição inglesa é que o imposto só dará certo se for global. Essa é
a mesma conversa que circula há anos na região.
Os dois governantes disseram que houve progresso em
torno do pacto fiscal da União Europeia. Nesse caso, houve avanço no fim do ano
passado, quando Sarkozy e Merkel concordaram sobre os parâmetros do acordo
fiscal, mas eles sabem que ainda há muito caminho pela frente. Os outros 15
países da Zona do Euro precisam aprovar as bases desse acordo e depois ele terá
que ser estendido para os demais países da Europa, menos o Reino Unido, que já
disse que não aceitará. Esse é o ponto sobre o qual há mais esperança. A
proposta lembra em parte o que foi feito no Brasil no saneamento dos estados, a
partir de 1995. O problema é que lá são países, cujos eleitores podem não
querer abrir mão da soberania em favor de uma lei de responsabilidade fiscal.
Eles dizem que assinarão esse novo pacto fiscal em março. Se o fizerem, pode
ser um passo importante para o começo do fim da crise.
Os dois governantes tentaram mudar o tom das
declarações. Em vez de falarem na necessidade de ajuste, incluíram o tema
"criação de empregos", principalmente para jovens, nas propostas que
dizem que estão estudando. Isso é claramente um problema na Europa. Na Espanha,
é dramática a falta de emprego para jovens. Para Sarkozy, a entrada desse
assunto em pauta é mais do que conveniente, é fundamental. Nas pesquisas de
opinião, ele está atrás do candidato socialista para as eleições de maio, nas
quais tenta um segundo mandato.
Merkel marcou para esta segunda semana do ano
outras reuniões para tratar da crise, como a com a diretora-gerente do FMI,
Christine Lagarde, em Berlim, nesta terça-feira, e com o presidente do Banco
Central Europeu, Mario Monti. O que tanto ela quanto o presidente francês
querem é garantir algum resultado positivo na reunião de cúpula em 30 de
janeiro.
Para Merkel, não apenas as afinidades ideológicas a
fazem torcer por Sarkozy. É que a eleição de um socialista e o começo de um
novo governo poderiam fazer as negociações retrocederem várias casas. Sarkozy
tenta fazer uso político eleitoral disso também. Disse que sem acordo entre
Alemanha e França a Europa unida não tem futuro.
Na Grécia, também a Europa continua andando em círculos.
Os países mais fortes dizem que querem que a Grécia permaneça no grupo, mas
insistem no acordo entre o governo e seus credores privados. Os bancos, por sua
vez, sabem que terão que conceder um desconto maior do que concederam até agora
- em outras palavras, a perda que terão com a Grécia vai ser mais pesada. O
novo governo de Lucas Papademos está repetindo nos últimos dias a ameaça de
calote. Primeiro, o porta-voz do governo disse que o país poderia sair da Zona
do Euro se os bancos não reduzirem mais o valor da dívida; depois, o próprio
primeiro-ministro afirmou que se o desconto não for maior o país pode
simplesmente não pagar. A Grécia deve 150% do PIB e seu acordo com a União
Europeia tem exigências difíceis, como a de que haja corte de salários dos
trabalhadores. Um quinto da população economicamente ativa trabalha para o
governo. Se nada der certo, o calote virá mesmo e já tem data: é março. Isso
aumenta o risco de agravamento da crise financeira porque os bancos podem não
conseguir assimilar as perdas.
A agência de classificação de risco Moody"s
disse que o ajuste da Espanha tem que ser 40% maior em 2012 do que foi o
esforço fiscal somado de 2010 e 2011. Ou seja, impossível. Todos andam em
círculos. As agências ameaçam e rebaixam países, empresas e bancos. Os bancos
precisarão ser recapitalizados. Os países terão que ajustar suas contas. O
Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilidade
precisam ser capitalizados, nos novos valores que França e Alemanha já
concordaram em fazê-lo, mas ainda não receberam os recursos.
A Europa entrou em 2012, ano em que os governantes
da Alemanha e França disseram que será pior do que o anterior, sem ter um
enredo novo. As declarações, ameaças, propostas parecem coisa já vista. O
cansaço da crise e o ceticismo são outros dos temores que pesam sobre o
continente. Todos sabem que a saída da crise não será fácil. A única esperança
que se tem no governo brasileiro é que o segundo semestre na Europa seja melhor
do que o primeiro. Até março, haverá o medo do calote da Grécia, a pressão para
que os bancos cumpram novos patamares de capital, as dúvidas sobre se haverá o
acordo fiscal fechado entre os países; até maio, permanecerá a incerteza
política na França. O primeiro semestre será todo de dúvidas sobre a crise
europeia.
O PAÌS
Depois da tragédia, as medidas
Governo anuncia pacote de ações para enfrentar efeitos das
chuvas no Sudeste
Evandro Éboli, Chico de Gois
O governo anunciou ontem medidas para enfrentar os
efeitos das fortes chuvas na Região Sudeste, onde pelo menos 26 pessoas já
morreram. Entre as medidas está a criação da Força Nacional de Apoio Técnico e
Emergência, formada por 50 geólogos e hidrólogos que irão para as regiões
afetadas. O Executivo federal confirmou a liberação de R$444 milhões para ações
de prevenção, obras e reconstrução das cidades e residências atingidas. A
presidente Dilma Rousseff também determinou que o Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista
(SP), estenda o regime de funcionamento 24 horas por dia, introduzido em
dezembro, até o fim de março, ainda período das chuvas de verão.
Uma força-tarefa de 35 geólogos e 15 hidrólogos vai
atuar nas áreas de mais alto risco de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
As equipes serão formadas especialmente por geólogos vinculados aos ministérios
de Minas e Energia e do Meio Ambiente.
Além da antecipação do pagamento do Bolsa Família e
do Benefício de Prestação Continuada (BPC), Dilma autorizou a liberação do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para que as vítimas das chuvas
possam reconstruir suas casas. Não foi divulgado o volume de recursos que
poderá ser movimentado. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra,
disse que essas liberações serão avaliadas caso a caso.
Na entrevista coletiva convocada pelo Planalto,
cada ministro esforçou-se para demonstrar que sua área está agindo da melhor
forma possível para evitar tragédias ou consertar os estragos já feitos.
Aloizio Mercadante, de Ciência e Tecnologia, disse que em Belo Horizonte
choveu, no mês passado, 800 milímetros, um recorde para o mês.
Em Ouro Preto, já houve 174 deslizamentos de terra.
De acordo com o ministro, 23 radares meteorológicos estão em ação, mas ainda
faltam quatro - um para a Grande Vitória, outro para Salvador, um terceiro para
substituir um antigo equipamento em Alagoas e mais um para complementar o Vale
do Paraíba, em São Paulo.
A expectativa é que em dois meses os radares
estejam no Brasil. Os do Nordeste reforçarão o sistema de alarme daquela
região, onde ocorrem fortes chuvas no inverno. Mercadante disse ainda que é
necessário aumentar o número de pluviômetros e atingir três mil novas unidades.
Desse total, 1.500 seriam instalados em torres de telefonia celular, em
convênio com as operadoras.
Monitoramento estendido até março
Mercadante minimizou os efeitos da chuva no Brasil
ao comparar esse evento com a ação de furacões nos Estados Unidos e com a
tsunami no Japão. Os dois países, segundo Mercadante, apresentam os melhores
sistemas de prevenção de desastres naturais do mundo. O ministro disse que os
números de vítimas e desalojados este ano são menores que nos anos anteriores.
- Quero parabenizar os heróis anônimos da Defesa
Civil que estão nas ruas - disse Mercadante.
Será estendida até março a atuação dos Centros de
Monitoramento e Operações mantidos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito
Santo, que funcionam como centros de operação conjunta entre as instituições
federais, estaduais e municipais de saúde, defesa civil e engenharia.
O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos,
divulgou um relatório sobre as estradas federais atingidas: são 37 trechos,
envolvendo 16 rodovias em cinco estados. Seis trechos estão totalmente
intransitáveis, 20 têm tráfego parcial, e 11 já foram liberados. O Ministério
da Saúde irá entregar 15 mil unidades de hipoclorito de sódio para municípios
que tiveram o fornecimento de água afetado. Esse produto é utilizado para
tratamento da água.
Padilha anunciou ainda o envio de cem profissionais
da Força Nacional do SUS para reforçar o atendimento nas áreas mais
necessitadas de Minas Gerais. Seriam enviados ainda ontem cerca de 800 quilos
de medicamentos e insumos para o Espírito Santo.
Em relação ao Bolsa Família, o governo ainda não
tem um levantamento sobre o número de beneficiados que poderão recorrer à
antecipação de seu pagamento. Fernando Bezerra disse que o governo espera
concluir esse levantamento até o fim de semana.
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que
coordena o grupo que trata das ações contra as enchentes, negou que o governo
esteja atuando tardiamente. Segundo a ministra, desde o ano passado os
ministérios têm trabalhado de forma integrada.
- Eu não vim aqui para dar entrevista, mas posso
dizer que começamos essas ações (preventivas) no ano passado. Há quatro ou
cinco meses os ministérios da Integração Nacional e da Ciência e Tecnologia vêm
trabalhando na prevenção. A presidente determinou que todos os ministérios que
têm relação com áreas de risco trabalhem de forma integrada. Evitar mortes é
nossa prioridade número um - disse Gleisi.
O ministro da Defesa em exercício, general Enzo
Peri, disse que os militares estão atuando em várias frentes, como a remoção de
desalojados e desabrigados e a instalação de uma ponte móvel em Guidoval (MG).
Peri colocou à disposição do governo, se necessária, a estrutura de um hospital
de campanha da Aeronáutica.
Desabrigados de 2008 em Santa Catarina ainda aguardam
moradia
Ritmo da reconstrução é lento também em Alagoas e em
Pernambuco
Letícia Lins, Odilon Rios* e Juraci Perboni*
PALMARES e ÁGUA PRETA (PE), UNIÃO DOS PALMARES (AL)
e FLORIANÓPOLIS (SC). É lento o ritmo da reconstrução em áreas afetadas pelas
chuvas nos últimos anos no país. Nas regiões Sul e Nordeste, por exemplo, é
possível encontrar antigos desabrigados que ainda aguardam moradias do governo,
embora os estragos tenham sido causados em temporais ocorridos entre 2008 e o
ano passado.
Em Santa Catarina, a diarista Raquel Cunha, de 38
anos, vive, desde o fim de 2008, em Itajaí, com os três filhos, em uma casa
paga pela prefeitura com o aluguel social. Assim como eles, que perderam tudo
nas enchentes e deslizamentos provocados pelas chuvas daquele ano, outras 54
famílias ainda não têm uma nova residência.
O diretor de Obras da Secretaria de Habitação de
Itajaí, Leonardo Caetano, informou que a prefeitura paga o auxílio moradia às
55 famílias, das quais 45 são da enchente de 2008.
- Temos um gasto mensal de R$30 mil - detalhou ele,
que ainda não tem previsão de quando essas famílias poderão receber um imóvel.
Os projetos existem, mas a lista de espera é
extensa: mais de seis mil famílias que ganham até três salários mínimos
aguardam sorteio para ganhar uma casa.
A Defesa Civil de Blumenau, um dos municípios de
Santa Catarina mais afetados pela catástrofe de novembro de 2008, interditou,
na época, 2,6 mil moradias, das quais 1,6 mil já foram demolidas. Nos últimos
anos, 320 famílias viveram em abrigos ou com aluguel social. As últimas 15
famílias deixaram os abrigos em novembro passado.
O vice-prefeito e secretário de Habitação de
Blumenau, Rufinus Seibt, afirmou que, após 2008, foi elaborado um Plano
Municipal de Habitação de Interesse Social, que identificou 55 áreas de risco e
a necessidade de se construir de cinco a seis mil moradias.
Um grupo de 35 famílias de Ilhota, que teve 35
vítimas fatais e um desaparecido, em 2008, ainda esperam por uma casa. A
construtora responsável deveria entregar 207 unidades, mas só deixou prontas
172, pois faliu.
Em Alagoas, um ano e meio após uma enxurrada que
atingiu 11 cidades, finalmente, 1.479 moradores de áreas de risco ganharam
casas novas em conjuntos habitacionais erguidos com verba da União e
contrapartida do governo do estado. Mas os imóveis deixam a desejar: foram
entregues sem torneiras, pias e chuveiros. Algumas, sequer tinham encanamento
de água, portas ou janelas.
- Água, aqui, é uma dificuldade danada - disse o
mestre de obras Cláudio dos Santos, que ajudou a construir as casas do conjunto
Wilton Gonçalves, em União dos Palmares, na Zona da Mata alagoana.
Há duas semanas, diante dos problemas encontrados
logo após a entrega dos imóveis, às vésperas do Natal, moradores fecharam as
estradas de acesso à União dos Palmares e outras cidades atingidas pelas chuvas
de 2010 para cobrar melhorias.
- Depois disso, o governo veio aqui e colocou o kit
completo. Mas a casa é frágil. Não vai aguentar muito tempo isso aqui - avaliou
Santos.
Quem recebeu a chave do imóvel assinou um contrato
com a Caixa Econômica Federal, por meio do qual se responsabiliza pelo
pagamento de uma mensalidade pelos próximos 25 anos. Mas o governo afirmou que
vai assumir as prestações. Aguarda, apenas, uma Medida Provisória da presidente
Dilma Rousseff para oficializar a transação. O governo do estado ainda precisa
entregar mais 17 mil casas.
Em Água Preta, 150 famílias moram em abrigos
Em Pernambuco, os rastros da destruição ainda
persistem em três dos mais prejudicados municípios pela enchente de 2010, que
atingiu 68 cidades, danificou ou destruiu 16.862 casas e causou estragos em 4.
476 quilômetros de estradas. Além de 20 mortos, a enchente deixou um saldo de
quase 90 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas. Hoje, restam poucas pessoas
em abrigos, e o cenário daquilo que parecia o efeito de um bombardeio começou a
mudar na região, onde R$2,2 bilhões vêm sendo aplicados, entre recursos da
União e do estado.
Em Água Preta, a 130 quilômetros da capital, cerca
de 600 operários trabalhavam na última quinta-feira na construção de 2.459
casas. Na cidade, 150 pessoas ainda moram em um abrigo, improvisado no hospital
municipal parcialmente destruído pelas chuvas. Maria de Oliveira, de 59, é uma
delas. A enchente de 2010 destruiu por completo sua casa na beira do Rio Una.
Segundo a prefeitura, não há casas disponíveis para alugar.
Em Palmares, a 125 quilômetros da capital, onde
mais de 3 mil imóveis foram destruídos ou danificados, há ruas onde restam
apenas paredes e casas destelhadas. Muitos desses imóveis não serão
reconstruídas, pois estão em áreas de risco. Já em Barreiros, onde quase toda a
população foi afetada pela enchente, três mil famílias ainda recebem
auxílio-moradia.
Especial para
OGLOBO
Lula volta ao trabalho
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao
trabalho ontem. Ele retomou suas atividades no Instituto Lula, no Ipiranga, em
São Paulo. Pela manhã, o ex-presidente fez sessão de radioterapia no Hospital
Sírio-Libanês. Nova sessão de quimioterapia está marcada para amanhã. De forma
mais amena que o tratamento anterior, as doses serão administradas
semanalmente. Ontem, Lula recebeu as visitas do presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, e do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Depois do PSDB, Kassab agora flerta com PT
Prefeito teria oferecido a Lula a possibilidade de indicar
filiado do PSD como vice na chapa petista à prefeitura de São Paulo
Sergio Roxo
SÃO PAULO. Depois de flertar com o PSDB, o prefeito
de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente do novo PSD, está tentando se
aproximar do PT. A possibilidade de aliança entre os dois partidos na eleição
paulistana teria sido tratada, na semana passada, quando Kassab visitou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Hospital Sírio-Libanês, onde o
petista passa por sessões de radioterapia para combater um câncer na laringe.
O prefeito paulistano teria oferecido ao PT a
possibilidade de indicar um filiado ao PSD para ser o vice na chapa do ministro
da Educação, Fernando Haddad.
- Houve conversa, mas não sei o que foi tratado -
afirmou o deputado federal Guilherme Campos (SP), líder do PSD e um dos
principais aliados de Kassab.
Perguntado se a aliança fez parte da conversa,
Campos deixou a possibilidade no ar:
- Não dá para acreditar que eles falaram apenas
sobre o Adriano (atacante do Corinthians, time de Lula) e o Luís Fabiano
(atacante do São Paulo, time de Kassab).
O deputado ainda lembrou que o PSD está aberto a
conversas sobre alianças com todas as legendas.
- O PSD não tem restrição a fazer alianças com
partido, A, B ou C. Em São Paulo, esse assunto está sendo tratado pelo prefeito
Gilberto Kassab.
Entre os filiados ao partido de Kassab em São Paulo,
pelo menos um nome tem grande proximidade com os petistas: Henrique Meireles,
que presidiu o Banco Central nos oito anos em que Lula ocupou a Presidência da
República.
O principal entrave à eventual aliança seria a
resistência da base petista. No começo do ano passado, quando o PSD foi criado,
o Diretório Municipal do PT em São Paulo lançou um documento em que afirmava
que faria oposição à gestão do prefeito Kassab na capital paulista. Os
vereadores petistas são os principais opositores da administração do PSD na
capital paulista.
O próprio Haddad já afirmou que pretende apresentar
a sua candidatura como uma alternativa ao governo de Kassab. Ele tem,
inclusive, criticado programas da gestão atual.
Sem um nome competitivo para tentar manter o
comando da cidade nas mãos do PSD, Kassab havia afirmado anteriormente que a
prioridade da legenda seria se aliar ao PSDB. O nome seria escolhido em comum
acordo pelos dois partidos. Mas os tucanos decidiram levar a definição de seu
candidato para as prévias, que devem acontecer em março.
Piso de professor é último impasse do ministro
Há resistências contra reajuste de 22%
Demétrio Weber
Sob pressão de governadores e prefeitos, o
Ministério da Educação (MEC) ainda não anunciou o novo valor do piso salarial
nacional dos professores da rede pública, que entra em vigor neste mês. O
reajuste enfrenta forte resistência de estados e municípios, que são contrários
ao aumento de 22% previsto em lei e que elevará o piso nacional para R$1.450
mensais. Às vésperas de deixar o MEC para disputar a prefeitura de São Paulo, o
ministro Fernando Haddad reuniu-se ontem com a presidente Dilma Rousseff em
busca de uma saída.
O encontro no Planalto durou cerca de três horas e
terminou sem anúncio oficial. Mas quem acompanhou a reunião diz que tudo
caminha para que a atual fórmula de reajuste seja seguida, o que significará um
aumento de 22%. Neste caso, o índice deverá ser anunciado nos próximos dias por
Haddad. Ele deverá deixar o governo na segunda quinzena de janeiro.
O governo federal faz a interpretação da lei, e
aponta o valor a ser adotado como piso nacional, mas cabe aos estados e municípios
decidirem o índice do reajuste. A demora do MEC em anunciar um aumento previsto
em lei é reveladora da resistência de estados e municípios.
A lei que instituiu o piso nacional dos professores
do ensino básico prevê reajustes anuais, sempre em janeiro, com base na
variação do valor mínimo por aluno do Fundo de Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb). Ocorre que, em 2008, o próprio governo enviou projeto de lei
ao Congresso propondo mudar a fórmula. O projeto atendia ao pleito dos estados
e substituía o valor por aluno do Fundeb pela inflação medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que registrou elevação de 6,08% em
2011.
Essa proposta esteve a ponto de ser aprovada em
dezembro. Se isso tivesse acontecido, o aumento do piso seria de 6,08%.
Rondônia já recebeu 700 haitianos
Em busca de emprego, eles seguiram de Brasileia para Porto
Velho
Marcelle Ribeiro
SÃO PAULO. Cerca de 700 haitianos que chegaram ao
Brasil pela fronteira de Brasileia, no Acre, já foram para Rondônia de ônibus
desde janeiro de 2010 em busca de emprego, segundo estimativa do representante
da Secretaria da Justiça e Direitos Humanos do Acre, Damião Borges Melo. De
acordo com ele, Rondônia é um dos estados mencionados pelos haitianos, quando
chegam em Brasileia, como uma das regiões onde eles esperam achar emprego. As
outras são Manaus e São Paulo.
Dos 700 haitianos que seguiram para Rondônia, cerca
de 500 foram enviados pelo governo do Acre, que gasta R$89 de passagem de
ônibus por pessoa. De Brasileia, os haitianos vão para Rio Branco, numa viagem
de cerca de três horas. Lá, são recebidos por equipes da Secretaria estadual de
Direitos Humanos, que providencia as carteiras de trabalho. Após almoçar e
jantar em Rio Branco, eles vão para Porto Velho - mais cinco horas de viagem.
- Em Porto Velho, muitos já têm parentes que vão
buscá-los. Outros vão se aventurar sozinhos. A gente explica que não tem como
garantir a eles que vão conseguir emprego. Os haitianos que chegam em Brasileia
já vêm com três palavras decoradas: São Paulo, Manaus e Porto Velho - diz Melo.
Segundo ele, muitos haitianos esperam conseguir
emprego na construção das usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, em
Rondônia. Mas, segundo a Odebrecht, nenhuma empresa do consórcio que constrói
Santo Antônio contratou haitianos.
A quantidade de haitianos em Rondônia deve crescer,
pois o número de estrangeiros enviados de Brasileia a Porto Velho pelo governo
do Acre deve chegar a 40 por dia. Só ontem, 35 foram de Brasileia para Porto
Velho.
Padre ganha visto de permanência
Italiano Vito Miracapillo havia sido expulso pela ditadura
O padre italiano Vito Miracapillo, de 64 anos,
expulso do Brasil pela ditadura militar, ganhou ontem visto de permanência, que
dá o direito de viver em território nacional. Miracapillo havia sido expulso há
31 anos e tentava retornar ao país há uma década, só tendo conseguido, durante
esses anos, visto de turista.
O padre esteve ontem no escritório da Polícia
Federal, no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, para pedir a
revalidação do antigo visto de permanência no país. Agora Miracapillo depende
da autorização do bispo de sua diocese, na Itália, para retomar o trabalho
pastoral que realizava em Pernambuco.
Em setembro de 1980, Miracapillo foi enquadrado na
Lei de Segurança Nacional como subversivo, depois de ter se recusado a celebrar
missa pelo Dia da Independência. Em represália, senhores de engenho e usineiros
de Pernambuco invadiram a igreja onde o padre era alvo de uma missa de
desagravo. O pedido de expulsão foi feito pelo então deputado estadual Severino
Cavalcanti, hoje prefeito de João Alfredo, no Agreste de Pernambuco, e
ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Em 1993, o então presidente Itamar Franco revogou a
expulsão. Desde então, o padre lutava pelo visto de permanência. Em novembro de
2011, Miracapillo teve autorização da presidente Dilma Rousseff para voltar a
morar no Brasil.
ECONOMIA
Classe média terá FGTS para material de construção
Financiamento será de até R$20 mil e poderá ser pago em até
120 meses. Medida entrará em vigor em 30 dias
Geralda Doca
BRASÍLIA. O Conselho Curador do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS) vai aprovar hoje, em reunião extraordinária, uma
nova linha de crédito de material de construção para a classe média. O
financiamento será de até R$20 mil por tomador, que pagará o total em até 120
meses a juros mais baixos que os do mercado. Não haverá limite de renda.
Inicialmente, serão ofertados R$300 milhões, mas o valor pode chegar a R$1
bilhão, dependendo da demanda. A expectativa é que a medida entre em vigor em
30 dias.
A nova modalidade prevê a compra de material para
reforma ou ampliação de imóveis residenciais a uma taxa de juros máxima (custo
efetivo máximo para o mutuário) de 12% ao ano. Esse percentual abrange juros,
comissões e outros encargos.
Para famílias com renda bruta mensal de até
R$5.400, o FGTS já dispõe de linhas de material de construção com juros máximos
de 8,5% ao ano. Também têm acesso a financiamentos habitacionais mais em conta,
no programa Minha Casa, Minha Vida.
A nova linha de crédito não implica a retirada,
pelo tomador, de dinheiro de sua conta no FGTS. O financiamento tem como fonte
recursos do Fundo.
A principal exigência é que o tomador tenha conta
no FGTS. Também é necessário comprovar propriedade do imóvel e regularização da
área construída.
Segundo cálculos que embasaram a decisão dos
conselheiros em duas reuniões anteriores sobre o tema, a menor taxa de juros
cobrada da classe média pelo mercado nas linhas de aquisição de material de
construção é de 23,14% ao ano, para prazo de pagamento de até 60 meses. Os
percentuais chegam até 56,27%.
De acordo com os estudos, a demanda do segmento
para material de construção vem sendo suprida por intermédio de Crédito Direto
ao Consumidor (CDC), com taxas mais altas.
"Há, portanto, um segmento não explorado pelo
FGTS que pode atender a essa população com taxas menores que as do mercado, mas
maiores do que as praticadas na área de habitação popular", diz uma nota
técnica à qual O GLOBO teve acesso.
Crédito também serve para implantar aquecimento
solar
A princípio, os recursos estarão disponíveis na
Caixa Econômica Federal, agente operador do FGTS. Mas o Banco do Brasil já
avisou que tem interesse na linha, que estará aberta também a outras
instituições. Nesse caso, os bancos privados precisam encaminhar o pedido à
Caixa.
Além de fazer um afago nos trabalhadores, donos das
contas que fazem o bolo de recursos do Fundo de Garantia crescer e investir em
habitação, a nova modalidade de crédito visa a estimular um setor importante da
economia: a construção civil.
Será possível obter o empréstimo também para
instalação de Hidrômetros de Medição Individual, implantação de Sistema de
Aquecimento Solar e itens que visem à acessibilidade.
- A nossa expectativa sobre essa nova linha de
financiamento é muito grande - disse o presidente da Associação Nacional dos
Comerciantes de Material de Construção e membro do Conselho Curador, Claudio
Conz.
O FGTS faz parte do Sistema Financeiro da
Habitação, que abrange imóveis de até R$500 mil. Este deve ser o limite de
valor dos imóveis a serem reformados na nova linha.
Otimismo de Dilma no 1º café do ano
BRASÍLIA. O otimismo com a economia marcou a
primeira edição do programa semanal de rádio "Café com a presidenta"
do ano. A presidente Dilma Rousseff disse que começa o ano "muito
animada" e que a população pode esperar "mais renda, emprego e
crescimento".
- Nós vamos ter que trabalhar muito, mas já
começamos o ano com boa notícia: o aumento do salário mínimo, que passou de
R$545 para R$622.
A presidente disse que o salário mínimo injeta mais
dinheiro no mercado e faz a economia girar. Serão R$47 bilhões na economia por
causa do salário mínimo, de acordo com cálculo do Dieese.
- O aumento do mínimo é importante, porque as
famílias vão poder consumir mais e viver melhor. Com isso, vão criar mais
demanda para a nossa indústria, o nosso comércio e o setor de serviços,
mantendo a roda da nossa economia girando.
Dilma citou ainda o reajuste da tabela do Imposto
de Renda em 4,5%, o aumento do faixa do faturamento do Supersimples e as
desonerações na linha branca. (Luiza Damé)
Preços de legumes sobem até 150% com as chuvas
Repasses das altas começam a chegar a consumidor
Henrique Gomes Batista, Wagner Gomes e Danielle Nogueira
RIO e SÃO PAULO. As chuvas intensas de janeiro já
pressionam os preços dos alimentos. Legumes começam a ser vendidos na Ceasa do
Rio com altas de até 150%, caso de produtos como tomate, vagem, abobrinha e
jiló. E o reflexo dessa alta começa, aos poucos, a aparecer na inflação. O
Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas
(FGV), na primeira semana do ano acelerou para 0,93% ante 0,79% na última
semana de dezembro, puxado pelos alimentos. Pela FGV, os preços das hortaliças
e legumes dispararam, passando de uma alta modesta de 0,58% no fim de dezembro
para 4,48% na semana passada. O mamão papaya ficou 11,98% mais caro, enquanto o
tomate disparou 8,89%, segundo a FGV.
Waldir Lemos, presidente da Associação Comercial
dos Produtores e Usuários da Ceasa Grande Rio (Acegri), confirma a alta dos
preços de alguns produtos no atacado. O brócolis, por exemplo, subiu 125%. Na
semana passada, o amarrado da verdura, com aproximadamente 1 quilo, saía a R$4,
e agora está a R$9. Mas ele conta que o abastecimento está pior entre os
legumes. A caixa da abobrinha, com 14 quilos, passou de R$30 para R$60. A de
vagem macarrão, com aproximadamente 15 quilos, está custando cem reais, contra
R$40 na semana passada. A caixa (20kg) de tomate agora está a R$70.
- Essa alta é dos produtos da Região Serrana e de
Sumidouro. Em breve, provavelmente na próxima semana, chegarão mais produtos de
outros estados. Assim, o tomate tende a cair de preço, por exemplo. Mas, até
lá, teremos de repassar essas altas ao consumidor, não tem jeito - disse Lemos.
Mineradoras também são afetadas pelas enchentes
De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns
Gerais de São Paulo (Ceagesp) a alta deve continuar esta semana, pois o chamado
"cinturão verde" do estado, as cidades de Ibiúna e Mogi das Cruzes,
foram as mais afetadas pelas chuvas até o momento. E a Fipe mostra que os
preços dos produtos in natura tiveram queda de preço no início de dezembro, mas
já estavam subindo no fim do mês. Para o pesquisador da Fipe, Heron do Carmo,
pode haver novas altas a partir desta semana.
José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria
Informa Economics FNP, disse que não são apenas as chuvas que afetam os preços.
A seca também vem diminuindo a oferta.
- Chove bastante no Rio e em Minas, mas a seca em
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e parte de Santa Catarina também está
causando impacto.
O economista André Braz, da FGV-Rio, lembrou que
essas altas, além de sazonais, podem ser reduzidas nos orçamentos familiares e
na inflação do ano:
- Quando a chuva é localizada, há alternativas de
produtos. E essa alta sentida em janeiro será revertida em fevereiro ou março,
quando a produção volta ao normal.
Até a extração de minério de ferro está sendo
afetada com as chuvas em Minas. Estão havendo paradas ocasionais na produção da
Vale e da MMX, empresa do grupo EBX. Segundo as empresas, as interrupções estão
sendo feitas na região por questão de segurança. Mas isso não deve afetar as
exportações por causa do elevado estoque de minérios.
O MUNDO
Pré-sal e caças da Embraer viram alvo de ataque de
pré-candidato
Gingrich critica Obama por intenções anunciadas ao Brasil
de comprar petróleo e aviões
DERRY, New Hampshire. Aos pares ou em grupos
maiores, as pessoas vão chegando à entrada do ginásio onde, na noite fria de
domingo, o pré-candidato republicano Newt Gingrich é esperado para um town hall
meeting, a mais antiga instituição democrática da Nova Inglaterra, berço da
colonização e da independência dos Estados Unidos. Derry é uma cidade de cerca
de 30 mil habitantes, que encaram uma temperatura de 2 graus negativos com
galhardia e casacos leves: um inverno sem neve balança até a convicção do mais
empedernido dos republicanos sobre a "fraude" do aquecimento global.
No espaçoso ginásio com teto de madeira, cerca de
350 pessoas se juntam para ouvir Gingrich e desfrutar da oportunidade que a
campanha em New Hampshire oferece: encontrar-se cara a cara com os candidatos.
Gingrich, que aos 68 anos é um dos políticos mais conhecidos do país, entra
acompanhado da terceira mulher, Callista, de 45 anos, uma loura platinada.
Rapidamente o alvo dos ataques vira o presidente
Barack Obama. Coadjuvante, o Brasil. Gingrich mostra irritação com o fato de
Obama ter afirmado à presidente Dilma Rousseff, em visita ao Brasil em março do
ano passado, que os EUA tinham interesse em garantir a compra de US$2 bilhões
das reservas de petróleo do pré-sal (por meio de acordo para financiamento da
exploração das reservas).
- Queremos que o presidente dos Estados Unidos
viaje o mundo para vender produtos e serviços americanos, não para comprar.
Pegar dinheiro emprestado dos chineses para pagar aos brasileiros é um modelo
que não funciona.
E o Brasil continua na berlinda, com mais uma
reclamação: o político republicano tampouco aprova a compra, por US$355
milhões, de 20 aviões A-29 Super Tucano, caças da Embraer, em detrimento da
concorrente americana, Hawker Beechcraft.
- Por que não uma empresa americana?
Durante 45 minutos de discurso, ele descreve Obama
como um presidente fraco e despreparado, insistindo nas comparações com Jimmy
Carter (1977-1981).
- Uma coisa é a Casa Branca não saber jogar xadrez.
Agora, não saber jogar damas... - cutuca, provocando risos e aplausos.
As piadas cedem lugar a um discurso apocalíptico,
no qual as eleições do dia 6 de novembro são as mais importantes dos nossos
tempos, e a última chance para salvar o país do declínio.
Terminado o discurso, o candidato abre a guarda
para as perguntas dos eleitores, numa variação dos debates no modelo town hall
que já foram considerados a versão do Novo Mundo para a democracia direta de
Atenas.
- Esse tipo de evento é uma parte muito importante
da tradição política de New Hampshire. É a chance de se julgar o caráter, a
personalidade da pessoa, algo que não se consegue ver na TV - diz Linda Dupere,
moradora de Derry e veterana voluntária de campanhas republicanas. (F.G.)
EUA exigem que Irã liberte acusado de espionar
Ex-fuzileiro americano com ascendência persa foi condenado
à morte em Teerã por colaborar com a CIA, o que Washington nega
TEERÃ e WASHINGTON. Em um episódio capaz de agravar
ainda mais as tensões entre Washington e Teerã, a Corte Revolucionária do Irã
condenou à morte o ex-fuzileiro Amir Mirzaei Hekmati, de 28 anos, acusado de
atuar como espião da CIA, a agência de inteligência americana. Nascido no
Arizona, Hekmati tem ascendência iraniana e, segundo parentes, estava no país
para visitar a avó. Hekmati foi julgado a portas fechadas de 27 de dezembro a 2
de janeiro. O ex-fuzileiro foi preso entre o fim de agosto e o começo de
setembro e acusado de ter recebido treinamento em bases americanas no
Afeganistão e no Iraque antes de se infiltrar no país. O porta-voz do Conselho
Nacional de Segurança dos EUA, Tommy Vietor, lembrou que o Irã tem um histórico
de deter inocentes americanos por motivações políticas e pediu que o condenado
seja libertado sem demora.
A Casa Branca negou ontem qualquer vínculo do
ex-fuzileiro com a CIA. O governo americano instou ainda o Irã a permitir o
contato entre o prisioneiro e diplomatas suíços. Como EUA e Irã não mantêm
relações diplomáticas, a Suíça representa os interesses americanos em Teerã.
O caso se tornou público em 18 de dezembro, quando
a TV estatal exibiu uma confissão de Hekmati. No vídeo, ele diz ter trabalhado
para uma empresa de videogame baseada em Nova York, elaborando jogos para
manipular a opinião pública no Oriente Médio em nome da inteligência americana.
Ele afirma ainda ser um agente da CIA com a missão de se infiltrar no
Ministério da Inteligência.
Na decisão, a Corte se refere a Hekmati como um
mohareb, o termo islâmico que significa em luta contra Deus, e um mofsed,
aquele que espalha a corrupção. As duas expressões aparecem frequentemente em
julgamentos no Irã.
De acordo com a legislação iraniana, Hekmati tem 20
dias para apelar, e neste caso, o processo será analisado pela Suprema Corte do
Irã. Ele foi representado por um advogado designado pela corte, com o qual teve
contato pouco antes do julgamento. Como a lei iraniana não reconhece a dupla
nacionalidade, ele está sendo julgado como cidadão iraniano.
O pai do ex-fuzileiro, o professor de biologia Ali
Hekmati disse estar convencido que o governo iraniano forçou o filho a mentir e
disse que ele trabalhava como tradutor de árabe para os fuzileiros.
- Estou apavorado. Não sei o que vão fazer com ele.
Não é a primeira vez que o Irã responde a pressões
internacionais com a prisão de estrangeiros. A jornalista Roxana Sabery foi
detida em 2009, acusada de espionagem. E o caso mais famoso envolveu três
turistas americanos que faziam montanhismo perto da fronteira, em 2009. A
libertação ocorreu após longa negociação e pagamento de fiança de US$500 mil.
Desta vez, o Irã vive uma escalada de sanções impostas
por potências ocidentais para demover o país de seu polêmico programa nuclear.
Com restrições focadas no petróleo, principal produto da economia do país, o
Irã respondeu com ameaças de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde um sexto
da produção mundial é transportada e com ameaças de retaliação aos EUA. A AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica) confirmou ontem que o Irã começou a
enriquecer urânio a 20% dentro de uma montanha na usina subterrânea de Fordow,
perto da cidade sagrada para os muçulmanos xiitas de Qom. A agência ligada à
ONU diz que todo o material nuclear permanece sob vigilância.
Chávez e Ahmadinejad: piada sobre bomba nuclear
Com o país cada vez mais isolado
internacionalmente, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, que visita a América
Latina, encontrou-se ontem, em Caracas, com o equivalente da Venezuela, Hugo
Chávez. Chávez disse estar "em júbilo" com a visita, classificando
Ahmadinejad como um "irmão da pátria". Num discurso pontuado por
ataques aos EUA, Chávez fez piada ao dizer que uma bomba estava pronta embaixo
de uma ladeira na frente do Palácio Miraflores.
- Esta montanha vai se abrir e uma grande bomba
atômica vai sair. Os porta-vozes do imperialismo dizem que Ahmadinejad e eu
estamos indo para o porão para afinar a pontaria contra Washington e lançar
canhões e mísseis. É risível - disse.
Ahmadinejad deve se reunir com Fidel Castro durante
sua passagem por Cuba, amanhã. A viagem em que busca estreitar vínculos com os
parceiros latino-americanos inclui ainda Nicarágua e Equador.
RIO
Em Além Paraíba, rio sobe e 3 morrem
Com enxurrada, carros ficam empilhados, árvores são
derrubadas e 8 pontes caem
Thiago Herdy
BELO HORIZONTE. As chuvas da madrugada de ontem
causaram mais mortes e prejuízos na Zona da Mata mineira. Três pessoas morreram
e uma está desaparecida em Além Paraíba, próximo à divisa com o Rio de Janeiro,
elevando para 15 o número de mortes no estado desde o início do período chuvoso.
De acordo com a Defesa Civil em Minas, já são 167 cidades afetadas, das quais
116 decretaram situação de emergência. Pelo menos 14.100 pessoas estão fora de
casa e 5.800 residências foram danificadas em todo o estado.
Em Além Paraíba, o nível do Rio Paraíba do Sul, que
corta a cidade, subiu até nove metros acima do normal em alguns pontos,
alagando casas e formando uma grande enxurrada nas ruas mais próximas. A dona
de casa Aparecida Alves, de 32 anos, e o filho Igor Alves Moraes, de 3,
morreram depois de terem a casa em que estavam arrastada pelas águas. O corpo
de um homem de aproximadamente 50 anos, ainda não identificado, também foi
localizado. Roseli do Nascimento, de 45 anos, foi levada pelas águas e está
desaparecida, de acordo com a Defesa Civil.
Até o início da noite de ontem, vários bairros da
cidade ainda estavam sem energia elétrica e telefone. O acesso ao município é
precário. Quando a água começou a baixar, no meio da tarde, era possível
observar o rastro de destruição deixado pela enxurrada: muito lixo ficou
espalhado pelas ruas, carros ficaram empilhados e dezenas de árvores se
partiram. Pelo menos oito pontes caíram. Cerca de 400 famílias estão
desabrigadas.
À tarde, o governador Antonio Anastasia determinou
o deslocamento de uma equipe da Defesa Civil para a cidade. De acordo com sua
assessoria, uma aeronave da Polícia Militar decolou de Juiz de Fora e conseguiu
resgatar pessoas ainda ilhadas e com risco de serem levadas pela correnteza.
Asfalto cede e estrada é fechada em Minas
Boa parte do asfalto cedeu no quilômetro 800 da
BR-116, entre a cidade e Leopoldina, formando uma cratera que interditou por
completo o trânsito na via. Técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes (Dnit) estiveram no local, mas não há qualquer previsão de
liberação do tráfego. Um desvio para carros de passeio é feito por uma cidade
próxima, mas a orientação aos motoristas é seguir para o Rio de Janeiro pela
BR-040 até Teresópolis e, de lá, fazer o retorno pela BR-116. Também próximo a
Além Paraíba, houve ruptura de parte da ponte sobre o Rio Aventureiro, na
BR-393, que foi interditada.
Em Juiz de Fora, um barranco deslizou no bairro
Santa Luzia, destruindo um prédio com quatro apartamentos e duas casas durante
a madrugada. Dois carros ficaram soterrados. Moradores perceberam a
movimentação da terra e deixaram os imóveis antes do deslizamento, por isso
ninguém ficou ferido.
- Eu peguei só a roupa da minha filha e o salário
que tinha recebido e saí correndo. Na hora em que nós saímos, a casa de cima
entortou e caiu tudo - contou a vendedora Juliana Faria, que saiu ao ouvir
estalos e os gritos de uma vizinha.
O risco de rompimento de represas perto das cidades
de Além Paraíba e Astolfo Dutra, na Zona da Mata, voltou a preocupar moradores,
mas a Defesa Civil informou que o problema está sendo monitorado e que, por
enquanto, a situação está sob controle nos dois locais. As chuvas da madrugada
também causaram estragos em Muriaé, Carandaí, Barroso e Barbacena. Em todas
essas cidades, ruas e residências foram inundadas.
As tempestades da madrugada causaram novos
deslizamentos em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Casas foram atingidas,
segundo a prefeitura, mas não houve feridos. Na última semana, dois taxistas
morreram na cidade depois que uma encosta próximo à rodoviária desabou sobre o
asfalto e parte do terminal.
Técnicos da Defesa Civil Nacional e de Minas se
reuniram durante a tarde com prefeitos da Zona da Mata mineira na Câmara
Municipal de Ubá, onde deram orientações sobre como pleitear recursos do Cartão
de Pagamentos de Defesa Civil, do governo federal, e também sobre como
apresentar projetos para a reconstrução de cidades afetadas pelas chuvas.
Projetos de R$850 milhões contra enchentes
Entre as obras previstas está a construção de barragem e de
canais para evitar que cheias de rios inundem cidades
Fábio Vasconcellos
O governo do estado detalhou ontem três projetos,
no total de R$850 milhões, que poderão reduzir os danos causados pelas
enchentes em cidades das regiões Norte e Noroeste, além do município de São
Gonçalo. Entre as obras, está prevista a construção de extravasadores (canais
para desviar o excesso da água das chuvas) no Rio Muriaé e de uma barragem em
Cardoso Moreira. As propostas, segundo o secretário estadual do Ambiente,
Carlos Minc, já foram a aprovadas pelo ministro da Integração Nacional,
Fernando Bezerra, e pelo governador Sérgio Cabral, em reunião na semana
passada.
O primeiro extravasador, com cerca de cinco
quilômetros de extensão e 40 metros de largura, será construído na cidade de
Laje do Muriaé, onde moradores sofrem com as cheias do Rio Muriaé. Outros dois
extravasadores, com dimensões semelhantes, serão construídos em Itaperuna e
Italva. Nos três casos, os canais vão captar o excesso de água das chuvas antes
de o rio passar pelas cidades e despejá-lo após o perímetro urbano. Os
extravasadores custarão, cada um, entre R$40 milhões e R$45 milhões. Já a
barragem em Cardoso Moreira está orçada em R$200 milhões.
Secretário quer construção de barragem em Minas
Em Campos, a Secretaria do Ambiente quer recuperar
mais de 200 canais e diques construídos há mais de 20 anos pelo governo
federal. Segundo o órgão, esses canais, que deveriam auxiliar a agricultura,
estão abandonados, ajudando a piorar a situação das cidades quando o nível do
Rio Paraíba do Sul sobe.
Minc negou que as propostas tenham sido
apresentadas somente agora por causa dos danos causados pelas chuvas. O
secretário explicou que há quase três anos foram elaborados os projetos para a
recuperação dos canais de Campos, mas apenas parte foi aprovada. Minc citou
ainda as obras que deverão começar em breve no Rio Imbuaçu, em São Gonçalo:
- Esses projetos não foram apresentados só agora.
Eles foram apresentados ao longo do tempo. Por exemplo, o projeto de São
Gonçalo. Nós apresentamos dois. Um já tinha sido aprovado e vai para a
licitação e o outro foi aprovado agora. No caso de Laje do Muriaé, esse projeto
foi apresentado no ano passado. Com relação à Bacia de Campos, nós apresentamos
o projeto completo há três anos, mas só foi aprovada a recuperação dos canais
de São Bento.
Minc acrescentou que solicitou ao governo federal
que seja feita uma barragem em Minas Gerais para impedir que o excesso de água
do Rio Muriaé inunde as cidades do Rio. Ele disse que o estado tem outros
projetos de prazo mais curto para reduzir ou impedir os danos causados pelas
chuvas.
- Essas obras (apresentadas ontem) são
estruturantes, levam tempo e demandam anos para se fazer. No curto prazo, nós
temos o Limpa Rio. Só na Região Serrana, tiramos 630 mil metros cúbicos (de
sedimentos) de rios e canais. Temos ainda o sistema de alerta de cheias, que
passou de 12 para 62 estações e salvou vidas em Friburgo e Muriaé.
Planos incluem dragagem de rios em São Gonçalo
Para São Gonçalo, o governo apresentou ao
Ministério da Integração uma proposta de dragagem do Rio Alcântara e
recuperação de suas margens. Serão recuperados cerca de oito quilômetros do
rio, com a remoção de até mil famílias ribeirinhas. Em fevereiro, o Inea
lançará o edital para dragar o Rio Imbuaçu (também em São Gonçalo) e recuperar
suas margens.
Dois postos fraudadores são interditados no Rio
Uma das empresas tinha bandeira Petrobras; o outro
estabelecimento, além de lesar motoristas, roubava água da Cedae
Gustavo Goulart
"Abasteça 20 litros de combustível e ganhe uma
casquinha (de sorvete)". Até ontem, a ironia da oferta estava espalhada
pelo Posto Alegria, na Estrada do Gabinal 972, na Freguesia, em Jacarepaguá. O
cliente pagava pelos 20 litros, mas recebia no máximo 18. Não bastasse a
fraude, o estelionato e o crime contra a economia popular, o proprietário ainda
tinha um gato na rede da Cedae. O preço da lavagem do carro chegava a R$18, sem
que o dono do estabelecimento gastasse um centavo pelo serviço da companhia.
Presos devem ser autuados por estelionato
Além do Posto Alegria, outro estabelecimento de
Jacarepaguá, o Posto Gardênia Azul, foi interditado por agentes do Instituto de
Pesos e Medidas do Rio (Ipem/RJ), do Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro), da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da
Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), da Polícia Civil. O Gardênia
Azul, na Rua Tenente-coronel Muniz Aragão 1.314, tem bandeira da Petrobras.
O gerente do Posto Alegria e uma funcionária do
Gardênia Azul foram presos e seriam autuados, a princípio, por estelionato,
informou o delegado substituto Mário Andrade, da DDSD. O crime prevê pena de um
a cinco anos de prisão. Nenhum proprietário apareceu durante as inspeções.
No Alegria, o hidrômetro não funcionava e, por
isso, o volume de água que chegava à caixa d"água não era aferido. A
força-tarefa de combate aos crimes foi pautada por uma reportagem do
"Fantástico", da TV Globo.
O programa revelou um esquema sofisticado de fraude
nas bombas de combustível e nos bicos em alguns postos de Curitiba, de São
Paulo e do Rio. O esquema para lesar motoristas era acionado por controle
remoto. O equipamento era vendido por R$5 mil por bomba por um técnico do Instituto
de Pesos e Medidas de Curitiba.
Procurada, a Petrobras Distribuidora disse estar
acompanhando as investigações e que prestará todo o apoio às autoridades. Em
nota, a empresa repudiou a atitude e informou que "além das punições
previstas na lei e aplicadas pelos órgãos competentes, postos BR que
apresentarem irregularidades sofrem sanções previstas nos contratos, incluindo
rescisão e pagamento de multa, com a consequente desvinculação da rede
BR".
CIÊNCIA
Pesquisa parada na alfândega
Peças retidas são exemplo de como burocracia atrasa
produção científica brasileira
Renato Grandelle
Nem a falta de cérebros, nem a carência de boas
universidades. O maior vilão dos cientistas brasileiros é a burocracia. Que o
diga o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, há quase sete meses sem um
microscópio confocal, usado por cerca de 400 pesquisadores. O aparelho, de tecnologia
japonesa e adquirido em junho de 2009, apresentou defeitos em algumas de suas
peças dois anos depois, quando ainda estava dentro da garantia. Os acessórios
poderiam ser trocados gratuitamente até novembro do ano passado, mas, desde
então, os acadêmicos disputam uma batalha inglória contra a Receita Federal,
cujas exigências dificultam a reposição do material.
A universidade, que encaminhou o processo para a
Receita em julho, pretendia receber as novas peças antes de enviar as
defeituosas. Mas, segundo pesquisadores da UFRJ, demorou três meses para o
órgão federal afirmar que deveria ser feito o contrário - primeiro as unidades
estragadas sairiam do país; depois chegariam suas substitutas.
Indispensável para revistas científicas
As peças velhas foram encaminhadas à Receita em
outubro. Mesmo assim, elas ainda não teriam sido remetidas ao exterior até
agora. A Leica, fabricante do microscópio, aceitou prorrogar a garantia do
equipamento, expirada em 21 de novembro. No entanto, a alfândega só consideraria,
para este processo, o contrato original, e não o acordo firmado recentemente
entre a universidade e a empresa japonesa. A troca gratuita das peças,
portanto, estaria ameaçada.
A UFRJ não divulgou o valor das cinco peças a serem
repostas. Para o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, Roberto
Lent, o maior prejuízo não é monetário, mas o andamento das pesquisas.
- Não temos noção de quando isso será resolvido, ou
se teremos de pagar as peças - lamenta. - A empresa estendeu a garantia, mas,
se quiser, terá o direito de cobrar pelas peças. Este é um exemplo claro de
como o excesso de burocracia nos impede de ser competitivos internacionalmente.
Em outros países, os cientistas têm o material que demandam em 24, 48 horas.
Aqui já se passaram seis meses.
Cerca de 150 orientadores de pós-graduação de
unidades como clínica médica, anatomia patológica e farmacologia dependem do
aparelho para realizar as pesquisas - além de seus alunos. Embora o equipamento
não seja o mais moderno em termos de microscopia, seu uso é "absolutamente
indispensável", segundo Lent, inclusive para a publicação de estudos em
revistas internacionais.
O microscópio confocal, diferentemente de modelos
mais antigos, capta imagens em 3D de estruturas e eventos biológicos. Com ele,
é possível visualizar fragmentos de tecido e até de embriões inteiros sem
cortes mecânicos na amostra.
- É um instrumento integrado a nosso cotidiano -
ressalta o diretor. - Se um artigo científico não tiver ilustrações vindas
desse microscópio, nenhuma publicação irá aceitá-lo. Vão mandar fotografar as
células estudadas no confocal.
Outros equipamentos semelhantes - e mesmo mais
sofisticados - estão disponíveis na universidade, mas a disputa por horário
neles, assegura Lent, é enorme.
Chefe da Divisão de Administração Aduaneira da 7ª
Região Fiscal da Receita Federal, que abrange Rio e Espírito Santo, Paulo
Ximenes estranhou a demora no andamento deste processo. Ele, no entanto,
acredita que o órgão que representa não é o culpado.
- A Receita não pode autorizar a importação de uma
peça sem cobrança de tributos se o material defeituoso não for exportado antes
- lembra. - A empresa contratada pela universidade para cuidar da troca do
equipamento deveria saber disso. Ela também pode ter demorado a se inteirar sobre
o andamento do processo. Afinal, são vários atores envolvidos em toda esta
operação.
A Aotec Instrumentos Científicos, empresa
responsável pela importação das novas peças, não respondeu aos questionamentos
do GLOBO.
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