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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

03 de janeiro de 2012 - VALOR ECONÔMICO


PRIMEIRA PÁGINA

Concessões de 2012 exigirão investimentos de R$ 90 bi
A União e governos estaduais têm planos de leiloar em 2012 concessões na área de infraestrutura que exigirão investimentos de R$ 90,2 bilhões ao longo dos contratos. Projetos e valores foram mapeados pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, que vê essa quantia como "pequena diante dos gargalos existentes, da quantidade de oportunidades disponíveis e do potencial de investimento privado". Para a entidade, o valor das concessões e de parcerias público-privadas (PPPs) poderia facilmente duplicar ou até triplicar.

Exportações sentem o peso da crise
A crise econômica mundial já reduziu a média diária de vendas brasileiras ao exterior, derrubou o preço de commodities importantes (como minério de ferro, soja e celulose), e diminuiu a oferta de crédito externo para a indústria exportadora. Para tentar minimizar perdas em 2012, o governo planeja novas medidas de estímulo às exportações de manufaturados, que devem ser anunciadas no primeiro trimestre e que se concentrarão na redução do custo de crédito

Cresce número de juízes sob investigação
O número de juízes investigados pelos tribunais do país aumentou em mais de mil em cerca de um mês. Eram 693 investigações em 14 de novembro, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a fazer um levantamento de todos os processos disciplinares e sindicâncias contra magistrados. Hoje, há 1.710 juízes sob suspeita, segundo dados transmitidos pelos próprios tribunais ao CNJ


EDITORIAL
A real questão de Belo Monte: ter ou não ter
Nivalde J. de Castro e Guilherme de A. Dantas e André da Silva Leite

As questões ambientais vêm preocupando a sociedade brasileira. Quando o Ministério das Minas e Energia (MME) toma a decisão de construir a 3ª maior usina hidrelétrica do mundo, Belo Monte, é natural o surgimento de críticas sobre sua viabilidade ambiental e econômica. Por se tratar de uma obra estratégica, que afetará o bem estar futuro de milhões de brasileiros, a discussão deve se pautar em análises técnicas, econômicas e jurídicas, evitando uma avaliação sem a necessária racionalidade. A análise deve partir de três premissas básicas: 1) o Brasil precisa de energia elétrica em volumes crescentes para sustentar seu crescimento; 2) qualquer nova usina elétrica impacta o meio ambiente; e 3) os recursos energéticos são escassos e nem todos são renováveis.
O Brasil é a 6ª maior economia do mundo e apresenta perspectivas macroeconômicas muito positivas. Nessa trajetória de crescimento, a sociedade quer melhorar os padrões sociais e econômicos e superar as graves desigualdades existentes. Para tanto, será preciso aumentar a produção industrial e a oferta de serviços, exigindo, obrigatoriamente, maior consumo e geração de energia elétrica.
O Brasil tem uma matriz elétrica com 87% de energias renováveis, enquanto que a média mundial é de 19%. Essa posição do Brasil está assentada em 956 usinas hidrelétricas construídas ao longo do século XX que geram energia limpa e sustentável. Manter a matriz elétrica renovável será, cada vez mais, um diferencial internacional competitivo, econômico e ambiental. É com esse objetivo que a política energética do MME vem priorizando o aproveitamento do 3º maior potencial hídrico do mundo, de 160 mil MW, abaixo somente da Rússia e da China. A construção de Belo Monte faz parte dessa estratégia de manter a matriz elétrica brasileira entre as mais sustentáveis e competitivas do planeta.
A crítica central à Belo Monte é quanto aos impactos ambientais e sociais, e que seria possível atender a demanda elétrica de 6 mil MW/ano somente com energia eólica, biomassa e solar, deixando de usar o imenso potencial hídrico.
Todas as grandes hidrelétricas em construção, como Santo Antônio, Jirau, Teles Pires e mesmo Belo Monte, estão respeitando a Constituição de 1988 e a legislação ambiental. Nem poderia ser diferente, porque o Brasil é hoje uma democracia consolidada: quem se sente prejudicado ou entende que algo fora da Lei está sendo construído, recorre à Justiça, que, nesses casos, tem julgado e dado o nihil obstat para essas obras. A legislação obriga que esses empreendimentos apliquem mais de 10% do custo total das obras em ações que mitiguem os impactos na flora, fauna e invistam nos sistemas de saúde, educação, saneamento etc., buscando melhorar a qualidade de vida das populações de índios, ribeirinhos e citadinos afetados pelas usinas. Com essas ações, a legislação busca manter o equilíbrio ecológico, melhorar a qualidade de vida das populações afetadas usando recursos das receitas da venda de energia elétrica e, ao mesmo tempo, garante o aumento da oferta de eletricidade que o Brasil precisa para o seu desenvolvimento. Trata-se de uma legislação inteligente e eficiente que não foi usada no passado por falta de consciência social ambiental.
Particularmente em um aspecto a legislação ambiental brasileira é muito rigorosa. Trata-se da área inundada pela represa da usina, por representar uma perda irreversível no uso do solo. A solução tem sido a construção das usinas de fio d"água, com reservatórios mínimos, onde a eletricidade é gerada pela força do fluxo e volume das águas. Como resultante, estão sendo construídas usinas no Brasil com a menor relação entre capacidade instalada e área alagada.
Sobre o uso de outras fontes de energia renovável, uma primeira questão é que a hidreletricidade é a fonte mais barata do mundo. As novas usinas em construção irão vender energia a R$ 80 por MW em contratos de 30 anos, garantindo às gerações futuras eletricidade barata, limpa e sustentável. Os países desenvolvidos usaram ao máximo seu potencial hídrico, como é o caso da França, tendo que recorrer à energia nuclear, fonte que responde por 80% da eletricidade total produzida naquele país, mas com custo bem superior à hidreletricidade e risco ambiental não desprezível como o acidente de Fukushima mostrou.
O MME adota política de exploração de fontes renováveis, buscando criar sinergia operacional, mas priorizando a fonte em que temos mais experiência, maior abundância e menor custo: a hidreletricidade. São realizados leilões de energia eólica, estimulando a competição, fazendo os preços caírem de R$ 270 para R$ 100 por MW. A biomassa do bagaço da cana de açúcar tem um potencial estimado de 17 mil MW para 2020, equivalente à Binacional Itaipu. Leilões têm sido realizados sendo contratadas a R$ 150 por MW. A energia solar é ainda muito cara por não ter uma rota tecnológica consolidada e escala produtiva para ser competitiva. Em breve, o custo da energia solar deve cair, como ocorreu com a energia eólica, quando então serão realizados leilões de energia solar no Brasil.
Para garantir a segurança do suprimento de eletricidade frente a períodos de hidrologia crítica, como já ocorrido no passado, é necessário investir, marginalmente, em usinas termelétricas. O Brasil conta com grandes reservas de gás natural do pré-sal. Além disso, o gás natural é o menos poluidor entre todas as fontes derivadas do petróleo. Dessa forma, não se trata de excluir fontes de energia da matriz elétrica, mas somar as fontes e buscar uma complementaridade mais eficiente do ponto de vista elétrico, ambiental e econômico.
Diferentemente do resto do mundo, o Brasil é totalmente autossuficiente em recursos energéticos. Toda a energia elétrica que consumimos hoje e precisaremos para as próximas décadas está dentro de nossas fronteiras. Temos completa e absoluta segurança energética. Nesse sentido, o setor elétrico brasileiro apresenta um cenário de desenvolvimento muito promissor, onde cada fonte, em especial a hidreletricidade, contribuirá de forma direta para o almejado desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Nivalde J. de Castro é professor da UFRJ e coordenador do Gesel - Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ.
Guilherme de A. Dantas é doutorando do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e pesquisador-sênior do Gesel-UFRJ.
André Luis da Silva Leite é professor da UFFS (Campus Chapecó) e pesquisador-sênior do Gesel-UFRJ.


COLUNAS
Denise Neumann
O problema que a indústria leva para 2012

2011 terminou deixando movimentos que ainda serão muito estudados pelos economistas, como o real efeito das medidas macroprudenciais na expressiva desaceleração da economia brasileira ao longo do ano, a resistência do emprego à mesma desaceleração e a profunda retração na produção industrial. Entre outros, esses tópicos comporiam uma lista das 10 maiores surpresas econômicas do ano, com certeza.
Dos três, o total descolamento entre a produção nacional e o Produto Interno Bruto (PIB) é o que deixa uma interrogação com cara de problema para 2012, 2013, 2014.... A indústria terminou 2010 com uma produção 10% superior à de 2009, enquanto o PIB cresceu 7,5% na mesma comparação. Em 2011, o setor vai, na melhor das hipóteses, crescer 0,5%, para um PIB próximo a 3%.
Além do crescimento pífio, o resultado dos últimos três meses mostra que a indústria brasileira nunca se recuperou efetivamente da crise externa - a produção está hoje 3% inferior à do auge pré-quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008. O número parece pequeno, mas 3% significam cerca de 75 mil automóveis a menos por ano, ou 65 barris de petróleo por dia ou 57 mil demissões no ano.
O que mais intriga é que, na mesma comparação, o consumo doméstico está hoje 24% maior. Em três anos, a produção industrial encolheu 3% e as vendas do varejo (um bom indicador do comportamento do consumo das famílias) cresceram quase um quarto!
A conclusão quase óbvia na análise desses dados é que a importação tem ocupado um espaço cada vez maior no abastecimento da demanda interna - no lugar de um calçado nacional, um sapato coreano; no lugar de uma máquina "made in Brazil", uma alemã; no lugar de feijão brasileiro, feijão chinês!
E o buraco parece bem profundo, como é possível ver no detalhamento da pauta brasileira de importações, que traz informações surpreendentes, como o fato de que o maior aumento na compra externa de bens industrializados não ocorreu em produtos manufaturados, mas em semimanufaturados, onde importamos 35% mais que em 2010. Por exemplo: o 16º item semimanufaturado mais importado foi óleo de dendê, produto no qual o país gastou US$ 46 milhões entre janeiro e novembro (413% mais que em 2010). No mesmo período, importamos US$ 415 milhões em alumínio bruto e US$ 328 milhões em celulose - todas commodities com larga tradição de produção no país. Ou seja, a concorrência "made in mundo" chegou aos bens tipicamente "made in Brazil".
O cruzamento das informações de volume importado com produção nacional permite sustentar, com argumentos fortes, essa hipótese. A importação de bens produzidos pela indústria de transformação passou de uma presença de 17,3% para 20,4% entre 2008 e 2011. No mesmo período, a exportação perdeu importância para o mesmo setor e sua participação encolheu três pontos percentuais. Há alguns casos emblemáticos, como o da celulose importada, que já representa 30% do consumo nacional, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Mas se a indústria está tão acossada pela concorrência importada e produz um volume 3% menor, porque não vemos demissões no setor? Por que as campanhas salariais continuaram negociando aumentos reais para os trabalhadores da indústria ao longo de 2011 se o custo salarial em dólar está 10% maior que em 2008, como informou a repórter Arícia Martins, em recente reportagem no Valor? Por que a arrecadação incidente sobre o lucro das pessoas jurídicas não financeiras ainda cresce acima da inflação?
As respostas não estão nos indicadores, mas existem pistas. A própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicou, em estudo feito neste ano, que o próprio setor que está aumentando suas importações, seja de matéria prima e peças, seja de produto acabado. Com isso, seu faturamento evolui, enquanto a produção encolhe.
Enquanto mecanismo de sobrevivência, a estratégia da indústria está correta e evita "mortes" ao longo do caminho. Mas e o futuro?
Enfrentar de forma mais decisiva os elementos que corróem a competitividade nacional é tarefa para qual o governo deveria realmente dedicar energia. Por enquanto, o que se viu foi mais do mesmo em uma trajetória que repete equívocos protecionistas, como os recentes anúncios que envolvem IPI maior para carros importados ou a mudança no cálculo da tarifa de importação sobe têxteis. É a indústria toda - e não um pedaço dela - que se ressente de impostos elevados, câmbio fora do lugar, infraestrutura precária e crédito ainda caro.
Por sua vez, a indústria precisa investir mais em inovação, copiar menos produtos, agregar mais valor, investir mais na formação da sua mão de obra, pensar no longo prazo e não em lucros imediatos.
Não há nenhuma novidade no diagnóstico desse arcabouço das tarefas que cabem ao Estado e às empresas, mas o tempo está passando. É cedo para que a economia brasileira seja liderada pelo setor de serviços porque a renda e a composição da população brasileira ainda não são de primeiro mundo. Embora, às vezes, esqueçamos disso diante dos relatos da fúria consumista brasileira em Miami.
Denise Neumann é editora de Brasil. Excepcionalmente deixamos de publicar a coluna de Antonio Delfim Netto, que retorna na próxima semana


POLITICA
Investigações de juízes pelo CNJ saltam de 693 para 1.710 em um mês

Por Juliano Basile | De Brasília

O número de juízes investigados pelos tribunais do país aumentou em mais de 1 mil em pouco mais de um mês. Eram 693 investigações, em 14 de novembro de 2011, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a fazer um levantamento de todos os processos disciplinares e sindicâncias contra magistrados. Hoje, há 1.710 juízes sob suspeita, segundo informações que são transmitidas pelos próprios tribunais ao CNJ.
Apesar do crescimento nas investigações, elas podem não sair do papel, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida que o CNJ não pode avocar para análise própria os processos que estão em ritmo lento de apuração em vários tribunais do país. Se essa decisão se confirmar, os tribunais vão poder gastar o tempo que quiserem na apuração e o CNJ não terá como fazer nada a respeito, a não ser esperar que um dia os casos sejam enviados para que o conselho tome providências.
O número de investigações é passado pelos próprios tribunais dos Estados, seguindo uma estratégia definida pelo presidente do CNJ e do STF, ministro Cezar Peluso. Após reunião com representantes dos tribunais de justiça, em outubro, Peluso decidiu que as corregedorias passariam a enviar dados mensais sobre as investigações ao CNJ. Com isso, foi criado o Sistema de Acompanhamento de Processos Disciplinares contra Magistrados.
O objetivo, segundo o presidente do CNJ e do STF, foi o de dar "mais transparência aos processos disciplinares contra juízes e desembargadores em todos os tribunais". Mas, a maior parte das informações é sigilosa. Há apenas duas ou três linhas sobre cada processo, como "desaparecimento de três processos da vara", "supostas irregularidades (do juiz) no processo" ou "desbloqueio (irregular) de valores".
Nem as iniciais dos juízes sob investigação aparecem. Já o nome de quem fez a denúncia contra os juízes aparece por inteiro em vários Estados, como em Pernambuco, no Ceará e no Distrito Federal. Na Bahia, há até o nome de bancos que denunciaram juízes.
Em São Paulo, os 191 processos contra juízes são resumidos em dois tipos de investigações: "apuração preliminar da conduta do magistrado" e "prática, em tese, de infração administrativa". Ao prestar esse tipo de informações ao CNJ, o TJ paulista evita descrever, em detalhes, o que está sendo apurado contra os seus magistrados.
No Ceará, há casos de atropelamento cometidos por juízes e denúncias de baixa produtividade. No DF e no Piauí, há processos contra juízes em que nem o que motivou a investigação é divulgado. No lugar onde o motivo deveria aparecer, há um espaço em branco. Mas, o nome do denunciante aparece por extenso. Há desde empresas e pessoas físicas até bancos e associações.
Quando o Sistema de Acompanhamento de Processos Disciplinares contra Magistrados foi criado, em novembro, o TJ do Piauí aparecia com o maior número de investigações contra juízes: 211 processos. Em seguida, vinha São Paulo, com 134, e o Amazonas, com 59 processos.
Agora, o campeão de processos contra juízes é o TJ de Pernambuco, com 395 processos. Há desde acusações graves, como o sumiço de processos criminais, até casos menores, como denúncias de maus tratos por um magistrado.
O TJ de São Paulo, que foi pivô da atual crise sobre o poder do CNJ - deflagrada após a abertura de investigações pelo conselho sobre os ganhos dos desembargadores paulistas -, manteve a segunda posição, mas registrou um número maior de investigações contra os seus juízes: 191 processos. O Piauí caiu para a terceira posição, com 163 investigações, e o Maranhão é o quarto da lista, com 129.
O TJ do Rio de Janeiro - um dos maiores do país - informou ao CNJ que abriu processos contra apenas cinco juízes e todos foram arquivados.
Além de contar com informações sigilosas e inacessíveis ao cidadão comum, o sistema ainda padece da ausência completa de dados sobre investigações contra magistrados em quatro dos cinco Tribunais Regionais Federais (TRFs) do país. Apenas o TRF da 2ª Região, com sede no Rio de Janeiro, prestou informações ao CNJ. Isso significa que, no plano dos juízes federais, o CNJ só recebeu dados sobre magistrados que atuam no Rio e no Espírito Santo - Estado que também pertence à 2ª Região. Nos demais 24 Estados e no DF, não há notícias sobre processos contra juízes federais.
No caso dos juízes trabalhistas, a situação também é de ausência quase completa de informações. Dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs), 11 encaminharam dados a respeito de investigações contra seus magistrados ao CNJ. Desses, São Paulo registrou 30 processos contra juízes trabalhistas, Amazonas informou ter 15 processos e seis Estados disseram que não têm nenhuma apuração em curso.


Kassab tenta mudar avaliação ruim com orçamento recorde

Por Raphael Di Cunto | De São Paulo

Mal avaliado pela população e sem cumprir a maior parte das metas com que se comprometeu ao iniciar o segundo mandato, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), entrará no último de seus sete anos no cargo apostando no pacote eleitoral, na propaganda e na comparação com a gestão petista, da ex-prefeita Marta Suplicy (2001 a 2004), para tentar eleger seu sucessor.
Para isso, contará com um orçamento de R$ 38,7 bilhões, cerca de 8% superior ao do ano passado. Isso permitirá investir R$ 5,2 bilhões apenas com recursos orçamentários, fora outros R$ 7,5 bilhões que Kassab guardou para gastar no ano eleitoral. Para comparar, quando Marta Suplicy (PT) deixou o cargo, em 2004, o orçamento foi de R$ 19,7 bilhões, com R$ 2,4 bilhões indo para investimentos, em valores reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O aumento de 96,4% em oito anos deve-se ao crescimento na arrecadação de impostos, causado tanto pelo impopular acréscimo de 60% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em 2010 quanto à maior atividade econômica na cidade e no país; da cobrança mais firme dos credores, que passaram a ser protestados em cartório; e da nota fiscal eletrônica, que combateu a sonegação.
O volume recorde de recursos será usado para reverter a queda na popularidade do prefeito, que já foi o mais bem avaliado na história de São Paulo, com aprovação de 61% dos moradores, em 2008. Porém, desde então ele vem perdendo apoio dos munícipes e entrará no último ano de mandato com 40% da população avaliando seu governo como ruim ou péssimo, enquanto apenas 20% acham que fez uma administração boa ou ótima, segundo pesquisa Datafolha. Rejeição que só não é maior do que a obtida pelos ex-prefeitos Jânio Quadros (1985 a 1988) e Celso Pitta (1997 a 2000).
A percepção do eleitor sobre a cidade também piorou desde 2008. De 27 itens avaliados pelo Datafolha, como barulho da rua, coleta de lixo e iluminação pública, 22 receberam uma nota menor do que há quatro anos. Os outros cinco não sofreram alteração significativa. A média de satisfação do paulistano com a cidade foi de 5,2 pontos. Em 2008, era de 5,9. Segundo o Ibope, Kassab é o segundo prefeito mais mal avaliado das nove maiores capitais do país.
Para tentar reverter esse quadro, o prefeito planeja fortes investimentos em 2012, embora alguns dos principais compromissos de campanha provavelmente fiquem sem conclusão até o fim do ano (leia abaixo).
Kassab começará as obras de extensão da avenida Doutor Chucri Zaidan, na zona sul da cidade, construirá um túnel de R$ 3 bilhões que ligará a avenida Jornalista Roberto Marinho à rodovia dos Imigrantes, entregará a revitalização do Largo da Batata, na zona oeste, e parte da reurbanização das favelas de Heliópolis e Paraisópolis. O dinheiro para recapeamento de ruas cresceu 34% em relação a 2011 e será de R$ 200 milhões.
A assessoria da prefeitura diz que serão entregues até o fim do ano 50 Assistências Médicas Ambulatoriais (AMA) Sorriso, espécie de pronto-socorro odontológico que foi um dos compromissos do prefeito na campanha. Porém, o site Agenda 2012, que reúne as metas do governo, mostra que elas ainda estão na fase de "definição do imóvel" onde serão construídas e não dá uma data para conclusão de nenhuma delas.
Na área educacional, Kassab pretende concluir a construção de 192 escolas de ensino infantil e fundamental até dezembro. Outras 87 unidades foram feitas desde 2009, segundo a Secretaria Municipal de Educação, o que representa aumento de 61% no número de escolas erguidas no primeiro mandato, que foi de 173.
Neste começo de ano, o prefeito terá provavelmente sua mais dura prova antes da eleição: as chuvas de verão. Nos anos anteriores, as enchentes e alagamentos fizeram a popularidade de Kassab despencar, apesar das alegações do prefeito de que o volume de chuvas estava muito acima do esperado.
Entretanto, a execução orçamentária da prefeitura, disponível na Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, mostra que o problema não foi só o excesso de chuvas. A administração pretendia gastar R$ 683 milhões em 2011, mas até novembro apenas 42% deste valor havia sido usado.
A assessoria do prefeito argumenta, em nota, que o valor para as ações de drenagem triplicou desde 2005 - era de R$ 78 milhões. Diz, também, que apertou a fiscalização contra o descarte irregular de entulho e que construiu 15 parques lineares, na margem de rios e córregos, com outros 15 em fase de obras, projeto ou desapropriação.
Coordenador da Rede Nossa São Paulo, que reúne mais de 600 organizações da sociedade civil, Oded Grajew acredita que a queda de popularidade de Kassab reflete a incapacidade de resolver os problemas do município. A entidade conseguiu apoio da Câmara Municipal para instituir um plano de metas, que todo prefeito deve apresentar no início da gestão reunindo as promessas de campanha.
Kassab foi o pioneiro nesta iniciativa, mas, das 223 propostas que fez, só cumpriu 60 até agora. "Como os acionistas de uma empresa reagiriam se, depois de três anos, o presidente cumprisse apenas 27% do que prometeu? Era demissão na certa", opina Grajew.
Para o professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marco Antônio Carvalho Teixeira, Kassab fez um segundo mandato muito ruim. "Aconteceram problemas que a infraestrutura da cidade não deu conta, como as enchentes, e a precarização dos serviços afetou a imagem que ele tinha de bom gestor", afirma. "Sem grandes marcas ou projetos, como foi o Cidade Limpa, a impressão é de que a principal obra dele depois de reeleito foi o PSD e criar um partido não é atribuição de um prefeito", avalia.
Na análise de Teixeira, o pacote eleitoral planejado pelo prefeito não mudará essa imagem porque os eleitores já perceberam a estratégia de políticos que guardam investimentos e inaugurações para o último ano: "A Marta Suplicy teve um pacote eleitoral muito forte, com a maioria dos CEUs [Centros Educacionais Unificados] entregues no último ano, mas, se isso alterou a imagem dela, não foi suficiente para reelegê-la."
O vereador Chico Macena (PT), da oposição ao prefeito, concorda. "A população não é boba, já aprendeu que essas ações não acontecem nos três anos anteriores à eleição. Todo dia que o morador entra no ônibus ele lembra do prefeito. Toda vez que tem enchente ele lembra do prefeito, que prometeu e não cumpriu", diz.
Já o pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), Fernando Guarnieri, diz que ainda não é possível precisar o impacto do pacote eleitoral e que a propaganda da prefeitura pode alterar a percepção do paulistano. "Não vai mudar totalmente [a opinião do eleitor] e não sei se emplaca candidato, mas o Kassab está segurando o jogo e é muito bom de marketing. Em 2008 ele tinha pouquíssimo para apresentar e a aprovação dele foi lá para cima", analisa.
Quando disputou a reeleição em 2008, Kassab promoveu a imagem de que seria um "zelador da cidade". Na época, tinha como vitrines a Cidade Limpa, que acabou com a publicidade que tornava as ruas mais feias, e projetos de grande apelo popular, como as Viradas Esportiva e Cultural, que proporcionam atividades gratuitas para a população por 24 horas ininterruptas.
O pessedista também aproveitou na campanha programas deixados por seu antecessor, José Serra (PSDB), que renunciou à prefeitura para concorrer ao governo estadual em 2006. Do tucano, herdou o Remédio em Casa e a Assistência Médica Ambulatorial (AMA). Também investiu na construção de 25 CEUs - número que, ele faz questão de dizer, foi maior do que o feito pela criadora do projeto, a ex-prefeita Marta.
Agora, quando tenta eleger um sucessor, Kassab usa o bordão "antes não tinha, agora tem" para focar na comparação com a gestão petista e melhorar sua imagem. "No governo Marta, a prefeitura tinha 8,6 mil médicos. Agora tem 14,6 mil. O número de equipes do Programa Saúde da Família dobrou em dois mandatos e chegou a 1,2 mil. Eram 36 parques quando o Serra assumiu e hoje são 84", cita o vereador Natalini (PV), que foi secretário de Participação e Parceria do governo Serra.


BRASIL
RESUMO:
Barbosa chefia Fazenda com Mantega em férias

Por Luciana Otoni | De Brasília

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, assume hoje o comando da área econômica até o dia 16, em substituição a Guido Mantega, que inicia período de férias por 15 dias. Mantega descansa no país em companhia da família. Nesse período, caberá a Barbosa monitorar a economia em uma conjuntura externa caracterizada pela crise global e em meio às primeiras divulgações de indicadores macroeconômicos consolidados de 2011.


Nova Friburgo sai do estado de alerta máximo

Por Marta Nogueira | Do Rio

O secretário estadual de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros do Estado, coronel Sérgio Simões, afirmou ontem que o município de Nova Friburgo, na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, não está mais em estado de alerta máximo. De acordo com Simões, quando as chuvas acumulam mais de 100 milímetros (mm) em 24 horas, as sirenes de perigo de desabamento são acionadas. Ele informou que 15 comunidades receberam o sinal para deixar as residências até o início da tarde de ontem. No entanto, o volume de chuvas diminuiu e o risco de desabamento foi momentaneamente descartado.


Indefinições marcam governo Dilma na área de energia

Por Daniel Rittner | De Brasília

A falta de novos leilões para a exploração de petróleo, atrasos no envio do novo Código de Mineração ao Congresso, incertezas na política de combustíveis e a avalanche de dúvidas sobre o fim das concessões no setor elétrico deixaram a impressão de imobilismo e excesso de centralização na área que a presidente Dilma Rousseff mais gosta de acompanhar: o setor de minas e energia, cujo ministério ela chefiou entre 2003 e 2005, no início de sua meteórica carreira na Esplanada.


INTERNACIONAL
Japão registra seu 1º déficit comercial desde os anos 50

Por Assis Moreira | De Genebra

É o fim de uma era: o Japão poderá terminar 2011 com déficit na balança comercial pela primeira vez desde 1953, após ter se habituado a acumular enormes superávits com suas exportações, a exemplo do que faz a China.
A situação do Japão, terceira maior economia mundial, deve se refletir nas estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC), com alterações na performance de países e queda em geral no volume de exportações e importações diante da desaceleração econômica global.
Em novembro, as exportações japonesas continuaram caindo, dessa vez 4,5% frente ao mesmo período de 2010. Já as importações cresceram 11,4%, alta pelo 23º mês consecutivo em razão de maior compra de petróleo.
A fragilidade das exportações japonesas começou no primeiro semestre por causa de problemas de suprimentos após o tsunami de março. Isso por sua vez causou dificuldades para a produção de muitas companhias estrangeiras dependentes de peças japonesas.
A deterioração econômica na Europa ampliou as dificuldades para as vendas japonesas no segundo semestre. A crise europeia atingiu os emergentes asiáticos, de forma que o Japão passou a vender também menos produtos como aço, semicondutores e outras partes eletrônicas para economias asiáticas, como China, Coreia do Sul e Taiwan.
A queda na produção industrial por emergentes asiáticos tende a pesar ainda mais na balança comercial japonesa em 2012, conforme já advertiram autoridades japonesas.
Além disso, as exportações nipônicas têm sido afetadas pelo iene forte contra o dólar americano e outras moedas. Tóquio fez duas intervenções no mercado, em agosto e outubro, para conter a valorização do iene, em plena guerra de divisas.
Na semana passada, os EUA acusaram não a China, e sim o Japão, por intervenções para enfraquecer a moeda. Em seu relatório semianual sobre câmbio, o Departamento do Tesouro americano repetiu que o yuan chinês está desvalorizado, mas evitou declarar que a China manipula a taxa cambial.
No entanto, Washington foi duro com o Japão, estimando que os japoneses devem fazer profundas reformas e desregular a economia, ao invés de se apoiar na baixa da moeda para manter a competitividade de seus produtos. Os japoneses reagiram insistindo que estão fazendo o que sempre fizeram: evitar uma alta excessiva do iene.
Tóquio coloca ênfase no impacto de um iene forte sobre seu setor industrial exportador, ainda mais quando a valorização da moeda força mais companhias a transferir a produção para o exterior em busca de mão de obra e outros custos mais baixos.
Em relação às importações, houve um crescimento no segundo semestre em parte por causa da alta do consumo de combustível fóssil. Após o tsunami de março, a oferta de energia elétrica das centrais nucleares diminuiu fortemente, levando o país a aumentar muito a demanda por combustível estrangeiro. Somente o volume de LNG (gás liquefeito) cresceu 35% em novembro comparado ao mesmo mês de 2010.


Crise põe as japonesas como provedoras do lar

Por Aki Ito e Toru Fujioka | Bloomberg

Três vezes por semana, Seiya Ogawa, de 49 anos, vai de bicicleta até o centro de apoio a desempregados de Kadoma, cidade que abriga a Panasonic, para procurar emprego a fim de pagar o último ano de faculdade de seu filho. "A esta altura, estou disposto a assumir qualquer cargo", disse ele, que montava placas de circuitos eletrônicos no que era antigamente um vibrante subúrbio manufatureiro de Osaka, a terceira maior cidade do Japão. No mês passado, fez um ano que ele se inscreveu no centro, e "é como se minha humanidade tivesse sido arrancada de mim".
Ogawa e seu filho dependem da renda de sua mulher e de sua filha, no que se constitui uma reversão do papel social que está se disseminando no Japão, num momento em que as fábricas e as construtoras demitem trabalhadores, ao mesmo tempo em que serviços que contratam predominantemente mulheres aumentam seus quadros de funcionários. Os novos postos de trabalho pagam salários médios mais baixos, o que dificulta a tarefa do premiê Yoshihiko Noda de estimular o consumo e tirar a economia japonesa, a terceira maior do mundo, de uma década de deflação. O ônus crescente de serem provedoras, além disso, representa para as mulheres um incentivo menor para se casarem e terem filhos cedo, num país que já ostenta a taxa mais acelerada de envelhecimento da população do mundo desenvolvido.
"Com as empresas japonesas mudando cada vez mais para o exterior e a contração da população, que torna pouco provável o crescimento das obras de construção, esses setores simplesmente não conseguem absorver trabalhadores masculinos da maneira que absorviam", disse Toshihiro Nagahama, economista-chefe do Dai-Ichi Life Research Institute de Tóquio. "Os salários nominais estão caindo mais por causa disso. Essa androrrecessão está longe de acabar".
A economia do Japão está mudando da "monozukuri" - ou fazer coisas - para os serviços, principalmente os que atendem os 29 milhões de habitantes idosos, de mais de 64 anos. A indústria de transformação e a construção civil, onde sete de cada dez funcionários são homens, vai fechar 4 milhões de postos de trabalho nesta década, segundo o Works Institute. O setor de assistência médica, com 74% da mão de obra feminina, foi o setor que incorporou funcionários ao ritmo mais acelerado nos últimos três anos, quando cresceu 16%, segundo revelam dados do Ministério do Trabalho.
Essa guinada se acelera, devido ao recorde de alta alcançado pela cotação da moeda, que está ceifando os lucros das empresas exportadoras, como a Panasonic e a Sony, num movimento que priva o governo do tempo necessário para abrandar a transição. A Panasonic prevê registrar seu maior prejuízo anual de uma década neste ano fiscal, enquanto a Sony estimou que contabilizará 90 bilhões de ienes (US$ 1,2 bilhão) em prejuízo.
As ações da Panasonic e da Sony despencaram 45% e 53%, respectivamente, este ano, contribuindo para puxar a queda de 20% registrada pelo índice referencial Topix. Ao mesmo tempo, os papéis da Message, a segunda maior operadora do país de casas de repouso por número de apartamentos, tiveram alta de 1,6%, enquanto os da Nichii Gakkan, a maior operadora dessas instituições, subiram 25%.
Serviços como cuidado integral para idosos e assistência médica são "o futuro do Japão", disse Curtis Freeze, fundador da Prospect Asset Management, sediada no Havaí, que estuda a possibilidade de incorporar a Message aos US$ 300 milhões que administra porque suas políticas de contratação poderão reduzir custos de rotatividade da mão de obra. As indústrias de transformação "estão em meio ao processo de reestruturação e vão enfrentar dificuldades. São as empresas de serviços menores que promoverão contratações".
O setor de assistência médica, que absorve 19% da população feminina economicamente ativa, não é o único campo que criou novas vagas nos últimos três anos: a educação - outra profissão em que o número de mulheres ultrapassa o de homens -, além de pesquisa, restaurantes e imóveis, também cresceu, apesar de o Japão ter fechado um número líquido de 12,1 milhão de postos de trabalho.
Quarenta e dois por cento das pessoas que estavam empregadas em 2010 eram mulheres, a maior parcela desde que o Ministério do Trabalho disponibilizou dados comparativos, em 1973, quando esse percentual foi de 38,5%.
"A coisa vai mal", disse Reiko Sato, 31, da agência de emprego que fica perto da casa dela, em Tóquio. "É fim de ano, por isso há muitos empregos de curto prazo em lojas de departamento ou restaurantes. É mais fácil para as garotas. Eu fico com pena dos homens que têm de vir aqui. Eles não devem conseguir nada até o Ano-Novo".
A indústria de transformação, em que o contingente masculino supera o feminino em proporção superior à de 2 para 1, ainda é o maior setor empregador do país, respondendo por cerca de 16% de seus 62,5 milhões de trabalhadores. Na construção civil, a proporção de homens em relação a mulheres é de 6 para 1. Desde outubro de 2008, a indústria de transformação encolheu a folha de pagamento em 9% e a construção civil, em 11%. Por outro lado, a força de trabalho do setor de assistência médica vai crescer 32% de 2010 a 2020, segundo o Works Institute.


ESPECIAL
Conteúdo local será contrapartida para crédito

Por De Brasília

Para aumentar a "qualidade" do superávit brasileiro no comércio exterior e o valor agregado nas exportações do país o governo vai cobrar das empresas maior produção local e uso de peças e partes fabricadas no Brasil em troca de financiamentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informou o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Aloizio Mercadante. "Vai ter mais exigência de conteúdo local e investimento em pesquisa e desenvolvimento, tanto nos financiamentos quanto na desoneração tributária", disse ao Valor, citando os setores de petróleo e etanol como alvos das novas políticas do governo Dilma Rousseff.
"O resultado superou as expectativas derrotistas de analistas financeiros que falavam em superávit baixo no começo do ano, que não chegaria a US$ 10 bilhões", comentou o ministro. Ele reconhece que o alto preço das commodities foi a principal razão do bom resultado comercial, e acredita que a demanda asiática deve continuar exercendo influência favorável sobre as cotações. "O segundo fator que ajudou o saldo foi a desvalorização do câmbio no segundo semestre", disse ele. "O câmbio deu maior competitividade às exportações e conteve as importações."
Mercadante atribui o aumento nas exportações de manufaturados à "inflexão da política econômica" feita pelo governo em 2011, com a tributação dos fluxos de capital especulativo, a redução de juros e seus reflexos sobre a taxa de câmbio, com a desvalorização do real a partir do segundo semestre.
Para o ministro, as medidas de desoneração de impostos adotadas no ano passado, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos, ainda terão efeitos relevantes neste ano. "Fizemos uma forte desoneração, e a presidente está atenta", afirmou. "O processo [de aumento do conteúdo local] na indústria automotiva só começou, as exigências vão aumentar e o setor sabe disso", lembrou.
Fontes do Ministério da Fazenda confirmam que as medidas para estimular exportações devem se concentrar em crédito. A secretaria da Receita Federal resiste, porém, a novas iniciativas de redução de imposto para a indústria, pelo menos enquanto aguarda uma avaliação do impacto do Reintegra, que garantiu crédito tributário de 3% sobre o faturamento aos exportadores de manufaturados. (SL e JV)


EMPRESAS & TECNOLOGIA
Metais devem começar ano com preços mais estáveis

Por Vanessa Dezem | De São Paulo

O ano de 2011 representou para as matérias-primas industriais períodos de grande incerteza, gerando confusão no mercado - que muitas vezes não conseguia traçar perspectivas de curto prazo. Em uma visão panorâmica, os preços dos metais encolheram, a ponto de as cotações voltarem aos patamares verificados em 2009 no mercado internacional, quando a crise dos títulos de hipotecas "subprime" ainda era um dos personagens principais do cenário econômico mundial. O desempenho do petróleo, no caminho inverso, foi positivo ao longo do ano, com as cotações alcançado um patamar mais elevado. O futuro para os dois grupos de commodities industriais continua incerto, mas os fundamentos apontam para uma alta nos preços, de um modo geral. O clima mais ameno que foi se desenhando nos últimos meses deve ser estendido ao menos para o início deste ano.
"Para os metais, mais suscetíveis às expectativas de demanda, o ano se dividiu em duas partes. Depois de agosto, o mercado ficou bem mais nervoso", afirmou o gerente-sênior da Ernst & Young Terco, Stephen Collins.O cobre foi um exemplo dessa reviravolta em 2011. Depois de superar o patamar dos US$ 10 mil a tonelada métrica no começo do ano, na última sessão de julho a cotação do metal marcava US$ 9,750 mil a tonelada métrica. No último dia do ano, bem mais baixo, o cobre fechou a US$ 7,570 mil a tonelada. De janeiro a dezembro, os preços do metal recuaram 21,68%. O retorno aos níveis registrados em 2009 é claro: o metal encerrou aquele ano aos US$ 7,377 mil a tonelada métrica.
O desempenho dos preços do alumínio também mostra de forma acentuada as contradições entre o primeiro e o segundo semestre. O metal iniciou 2011 aos US$ 2,476 mil a tonelada métrica. No fim de julho, estava US$ 2,608 mil a tonelada métrica. No último dia do ano, no entanto, a cotação recuou para US$ 1,992 mil a tonelada métrica. O declínio no ano ficou em 19,29%
"As commodities metálicas levaram um solavanco. A recuperação das economias não aconteceu, como o mercado esperava", explicou o analista do Standard Bank, Leon Westgate.
Já no início de 2011, os investidores se assustaram com os efeitos que o terremoto do Japão poderia causar no consumo global de matérias-primas. Depois, a China foi se movimentando na direção de apertos monetários, temendo o avanço da inflação e de uma bolha no mercado imobiliário. Enquanto isso, as economias europeias e a americana não demonstravam vigor para uma recuperação firme. No terceiro trimestre a aversão ao risco dos mercados estourou com os sinais de piora da crise da dívida na Europa. Os metais sofreram um ajuste estrutural, para baixo.
Segundo Westgate, os fundamentos econômicos dessas commodities, que apontam para um aperto na oferta, foram colocados em segundo plano em 2011. O foco do mercado se voltou para o lado da demanda: passou a nortear os negócios o risco de os países emergentes não conseguirem sustentar as vendas dos metais, diante da forte desaceleração nas economias em crise.
"A Europa é uma grande região consumidora e empresta muito dinheiro aos países em crescimento. Sem liquidez nos bancos da região, um cenário muito ruim pode vir à tona", enfatizou o analista.
Para o petróleo, o momento mais marcante foi a chamada "Primavera Árabe", quando a população de diversos países produtores de petróleo no norte da África e Oriente Médio se revoltaram contra o sistema político. Os temores com relação à capacidade de abastecimento do petróleo deram impulso às cotações. "Vimos a instabilidade político-econômica abalar os preços, que subiram aos US$ 120, e nunca mais voltaram ao patamar dos US$ 80, onde estavam", explicou o analista da Ativa Corretora, Ricardo Correa.
Ao longo do ano, o Brent, em Londres ganhou 12,89%, encerrando o ano em US$ 106,87. O WTI, em Nova York, por sua vez, avançou 7,35%, fechando aos US$ 99 na última sessão. de 2011.
Para este ano, os analistas não esperam que os momentos difíceis no cenário macroeconômico global sejam encarados como algo que já ficou para trás. Há, no entanto, expectativas de uma maior estabilidade.
Os primeiros momentos de 2012 devem carregar o clima mais ameno que se desenhou no último mês do ano anterior, com acordos entre os países europeus para amenizar os efeitos da crise da dívida. Os sinais de melhora no cenário macroeconômico americano também trouxeram mais ânimo aos mercados, ao mesmo tempo que o governo da China sinalizou novos incentivos ao crescimento econômico do país. Mesmo com a situação complicada de alguns bancos europeus, ações do Banco Central Europeu (BCE) para garantir a liquidez do sistema trouxeram mais calma aos mercados.
"Esperamos que a trovoada esteja acabando. Os preços dos metais devem ficar estáveis durante este ano", afirmou Collins.
Os baixos estoques de cobre no mercado têm estimulado a perspectiva de que a demanda global pode estar entrando em uma nova fase de recuperação, provavelmente guiada pelos avanços verificados na economia americana. Grande parte dos analistas consultados pelo Valor esperam alta nos preços dos metais nas próximas semanas. Segundo relatório recente do Goldman Sachs Group, as cotações do cobre devem apresentar elevação de 26% nos 12 meses do ano.
Mas Westgate ressalta: "É difícil saber de onde virá o crescimento da demanda neste ano. Qual país realmente sustentará os preços das commodities". Para ele, hoje há dúvidas no mercado sobre a capacidade de as economias emergentes manterem o passo de consumo e investimentos. Na visão do analista, o cobre deve flutuar de US$ 7,5 mil a US$ 8,9 mil neste ano. Mas suas projeções apontam para um caminho mais pessimista, em níveis mais baixos.
Já para o petróleo, 2012 começa sob a luz dos movimentos do Irã e a ameaça de seu programa nuclear. Além disso, os fundamentos apontam para oferta apertada. Para Correa, as cotações da commodity devem ficar na média dos US$ 100.


Helibras inicia nacionalização do EC 725

Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos Campos

A Toyo Matic, empresa brasileira especializada em usinagem de peças complexas, produziu a primeira peça crítica do helicóptero EC 725, versão mais recente da família Super Puma/Cougar, que será fabricado no Brasil para as Forças Armadas Brasileiras. Trata-se do punho que segura as pás na cabeça do rotor do helicóptero, feito em material de titânio.
O desenvolvimento da peça no Brasil, segundo o presidente da Helibras, Eduardo Marson, marca o início do processo de nacionalização gradual do helicóptero, que prevê 50% de conteúdo nacional até 2020. "A Eurocopter [empresa do grupo controlador da Helibras] está transferindo tecnologia e capacitação ainda não disponíveis no mercado brasileiro, em áreas como materiais estruturais compostos, sistemas aviônicos e integração dos sistemas de armamento do helicóptero", informou. O desenvolvimento da primeira peça levou dois anos, e contou com o suporte técnico da Eurocopter.
Outra empresa que integra o processo de absorção de tecnologia do EC 725, a Inbra Aerospace, de Mauá (SP), está desenvolvendo a parte de capôs e carenagens do cone de cauda e estrutura intermediária em material composto. Em São José dos Campos, a Akaer foi selecionada para fazer projetos de engenharia na integração e instalação de sistemas mecânicos e elétricos do helicóptero.
O presidente da Helibras diz que a seleção das empresas parceiras locais ainda não está concluída e destaca que o processo não se aplica apenas ao EC 725. "Nosso objetivo é integrar os fornecedores locais à cadeia global de fornecimento da Eurocopter". Até o momento, 14 empresas brasileiras já se integraram ao projeto do EC 725 e participarão do fornecimento de mais de 150 partes e peças da aeronave.
Dos 50 helicópteros contratados, três foram entregues em dezembro de 2010. O quarto helicóptero, que chegou na semana passada ao Brasil, será utilizado como plataforma de integração de sistemas e desenvolvimento das versões operacionais, a cargo da Helibras. A empresa também recebeu o conjunto de partes e peças do helicóptero de número 17, que irá inaugurar a linha de produção do modelo EC 725, em Itajubá (MG).
Nos últimos 12 meses, a Helibras contratou mais de 50 engenheiros para trabalhar no desenvolvimento da engenharia de integração de sistemas dos novos helicópteros. Segundo Marson, cerca de 100 engenheiros e técnicos deverão ser treinados nas instalações da Eurocopter na França em 2012.
A Helibras também vem tentando acelerar o crescimento dos cursos universitários e técnicos de aeronáutica e tecnologia aeroespacial no Brasil, fundamental para viabilizar o processo de transferência tecnológica em helicópteros. Em outubro, entidades federais e mineiras de fomento e pesquisa assinaram convênio para o financiamento do projeto de um Centro de Tecnologia de Helicópteros (CTH) em Itajubá.
A Helibras também está duplicando sua fábrica de Itajubá e contratando novos funcionários. Nos últimos dois anos, o quadro de empregados aumentou de 290 para 600 e a previsão é que atinja 1000 até 2015. Segundo Marson isso é fundamental para cumprir os programas como o da modernização dos modelos Pantera e Esquilo do Exército, e para o crescimento da oferta de serviços em todas as regiões do Brasil. Na semana passada a FAB assinou contrato de suporte logístico da frota de EC 725 para as Forças Armadas, a avaliado em R$ 149 milhões.
Previstas para serem entregue no próximo mês, as novas instalações de fabricação dos EC 725 tiveram investimento de R$ 420 milhões. O contrato dos 50 helicópteros das Forças Armadas está avaliado em € 1,8 bilhão.
O prédio do banco de testes, um dos principais para o início das operações do novo complexo, está pronto e vai permitir criar um polo de manutenção, reparo e revisão completa de helicópteros no Brasil. "Também estamos ampliando a área de serviços e suporte ao cliente, que já responde por 27% da receita. Nosso objetivo é que esse segmento represente 50% dentro de três anos".
A Helibrás quer aproveitar sua nova capacidade de produção para fornecer o EC 225, uma versão civil do EC 725, para os mercados offshore regional e de segurança pública. "A Helibras vai se tornar uma exportadora estratégica na América Latina e outros países onde o Brasil possui vantagens geopolíticas e econômicas, vendendo produtos e serviços a preços melhores do que os que a Eurocopter poderia conseguir", afirmou.
A Helibras fechou o ano com entrega de 33 aeronaves e 35 vendidas. Em 2010, as entregas somaram 42. A diferença para este ano, segundo Marson, se deve ao efeito pós-crise, que provocou um acúmulo de demanda reprimida. A Helibras lidera o mercado brasileiro de helicópteros a turbina, com participação de 53% e mais de 550 aeronaves em operação no país.


Megainvestidor Sam Zell compra controle do grupo paranaense Thá

Por Carolina Mandl e Marli Lima | De São Paulo e de Curitiba

O megainvestidor americano Sam Zell está de volta ao setor imobiliário residencial brasileiro. Depois de se desfazer da Gafisa, de boa parte do portfólio da Bracor e em processo de desinvestimento da Brazilian Finance & Real Estate, o bilionário está comprando o controle da Thá, um grupo paranaense com atuação nas áreas de incorporação, engenharia e vendas de imóveis.
A operação está sendo feita por meio da Equity International, braço de "private equity" de Zell que em outubro levantou US$ 650 milhões para seu quinto fundo de investimento. Procurada pela reportagem, a Equity International afirmou que tem como política não comentar operações até que "estejam totalmente fechadas".
O Valor teve acesso a um e-mail enviado por Sandro Westphal, presidente da Thá, aos funcionários na sexta-feira, falando da transação com o fundo. "É nesse espírito renovado que anuncio que a partir de 2012 temos um novo acionista-controlador no grupo Thá, o Equity International", afirmou o executivo na mensagem de fim de ano. Por meio da assessoria de imprensa, a Thá afirmou que não se pronunciaria neste momento.
A Equity International assume agora um grupo de 116 anos, com ação bastante diversificada. Além da incorporação de imóveis residenciais - negócio conhecido por Zell no Brasil desde 2005, quando ingressou no capital da Gafisa -, a Thá tem uma empresa de engenharia e de vendas imobiliárias, que são ramos novos para a Equity International no país.
Por aqui, ainda estão no portfólio de Zell uma pequena fatia da empresa de shopping center BR Malls, alguns imóveis da Bracor (de imóveis empresariais para aluguel), a AGV (logística) e a GuardeAqui (armazenagem de móveis), último investimento feito pelo bilionário no Brasil, em fevereiro de 2011.
Ao longo do ano passado, a Equity fez uma série de desinvestimentos no país, vendendo a Gafisa e quase todo o portfólio da Bracor. Na semana passada, o fundo também anunciou que deve sair da Brazilian Finance, voltada para o financiamento imobiliário, em uma operação de venda para o banco PanAmericano. Zell tinha interesse em permanecer na companhia, mas encontrava dificuldade, já que o mandato do fundo é para investimentos imobiliários.
Em entrevista ao Valor em fevereiro do ano passado, Thomas McDonald disse acreditar que os preços no país estavam altos, atingindo um patamar parecido com o que o México vivenciou cinco anos atrás. Apesar disso, o executivo falava que ainda tinha apetite para o Brasil.
Na Thá, o Equity International vai passar a explorar também a prestação de serviços, que se dá por meio dos segmentos de engenharia e imobiliária. Essas áreas prestam serviços tanto para o grupo quanto para terceiros, o que fez com que a Thá acabasse ultrapassando as fronteiras do Paraná. Entre os clientes estão, por exemplo, as varejistas Walmart e Carrefour.
No segmento de incorporação residencial, a atuação da Thá ainda está restrita à região Sul. Além do Paraná, o grupo tem erguido prédios em Santa Catarina.
Há cinco anos, a Thá chegou a ensaiar abertura de capital e lançamento de ações no mercado, mas desistiu do projeto no meio do caminho. O presidente da empresa, Westphal, achava que precisava crescer mais para não prejudicar a operação.
Por isso, uma associação com fundo de participações também já era estudada há bastante tempo, pelo menos desde 2005. Em 2007, quando fez captação via eurobônus, a Thá teve contato com investidores na Europa e nos Estados Unidos, tornando seu nome conhecido no cenário internacional. Em setembro de 2010, Westphal foi a Nova York para conversar com investidores americanos e chineses sobre apoio em futuros lançamentos imobiliários.
Em fevereiro do ano passado, o grupo vendeu 60% da imobiliária Thá para a Lopes, após dez meses de negociação. Em comunicado, informou que o negócio poderia chegar a R$ 45 milhões.
O grupo já está na quinta geração da família Thá, de origem italiana, mas a administração da empresa acabou sendo profissionalizada há sete anos. Westphal, que é funcionário da Thá há quase 15 anos, está no comando do grupo faz três anos.
Em seu site, a Thá informa que em 2009 faturou R$ 708 milhões.

Vale busca mais agilidade nas minas e portos

Por Francisco Góes | Do Rio

Na Fórmula 1, principal categoria do automobilismo mundial, os pilotos costumam utilizar simuladores para conhecer os circuitos antes de cada grande prêmio. O simulador faz o piloto sentir-se dentro do carro e na pista, a mais de 300 km por hora. No mercado de logística de cargas, os simuladores também ganham espaço como forma de melhorar a performance dos operadores. Na mineração, a Vale tem simuladores para trens, caminhões fora de estrada e agora implanta uma ferramenta que reproduz, em ambiente 3D, a operação de um equipamento portuário, a recuperadora de roda de caçambas. São rodas dentadas de 39 metros de altura que recolhem o minério de ferro depositado nos pátios das minas e nos terminais portuários de onde o produto segue para o embarque nos navios.
O novo simulador foi desenvolvido pela Vale em parceria com a americana GlobalSim, empresa com experiência na área de realidade virtual. Surgiu uma solução customizada, no Porto de Tubarão, no Espírito Santo, para treinar os operadores das recuperadoras de roda de caçambas. É o primeiro simulador de um equipamento portuário dentro da companhia. O simulador recebeu investimentos de R$ 3 milhões e permite reproduzir, em ambiente virtual, o processo de recuperação de granéis sólidos (vários tipos de minério de ferro, pelotas e carvão). O treinamento a ser feito neste simulador busca qualificar os operadores, o que tende a levar a uma melhoria de produtividade. A ideia é que quanto mais regular seja a operação da recuperadora mais próximo do limite de capacidade poderá operar todo o sistema de carregamento do minério nos portos da empresa.
Esse sistema é formado pelas recuperadoras, por esteiras e carregadores que depositam o minério nos porões dos navios. Com um sistema azeitado, é possível carregar as embarcações mais rápido, evitando pagamentos extras aos armadores (demurrages) e liberando mais cedo os berços de atracação para outros navios. A Vale estima que ao treinar novos operadores no simulador vai evitar acidentes e perdas nas taxas de embarque (tonelada de minério embarcado por hora). Os operadores experientes poderão passar por reciclagem para melhorar performance e segurança, avalia a empresa.
Este mês a Vale começa a treinar os operadores das recuperadoras no simulador instalado no centro de engenharia da Vale no Porto de Tubarão, pertencente à empresa. Neste prédio, já existe outro simulador em operação voltado para treinamento de maquinistas de trem. A Vale também desenvolveu simulador para caminhão fora de estrada, que transitam nas minas.
No caso do simulador da recuperadora de roda de caçamba, o desenvolvimento do simulador exigiu filmar todo o pátio do Porto de Tubarão e digitalizar as imagens. O trabalho com o simulador começa pelo Espírito Santo, mas o plano é instalar em 2012 equipamentos de realidade virtual semelhantes nos demais terminais portuários da empresa no Rio e em São Luís, no Maranhão. No total, a Vale tem 217 operadores de recuperadoras nos terminais de Tubarão, da Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS) e do Terminal da Ilha Guaíba (TIG), ambos no Rio, além do Terminal Portuário da Ponta da Madeira, em São Luís. A meta é treinar 100% dos operadores.
Gustavo Mucci, gerente geral de inovação e desenvolvimento portuário da Vale, disse que o simulador vai permitir aos operadores simular a operação nas mais variadas situações. "A ideia é que o operador se sinta imerso no ambiente virtual. Poderá fazer a simulação como se estivesse operando à noite, durante o dia, com diferentes tipos de minério, com vento ou chuva", afirmou Mucci. Cada operador vai receber 16 horas de aulas teóricas e 8 horas de aulas práticas e haverá módulos básicos e avançados.
Mucci disse que o simulador permitirá obter ganhos porque, treinado na prática, o operador muitas vezes leva anos para adquirir maior habilidade e exigir menos da máquina. O simulador pode contribuir também para manter a vida útil do equipamento, afirmou o executivo. Segundo ele, o trabalho com simulador nas operações portuárias começa com a recuperadora de roda, mas será estendida a outros equipamentos portuários. "Temos novos projetos para 2012 sendo um deles o desenvolvimento de simulador para descarregador de navio", disse Mucci.


FINANÇAS
Queda da Selic e alta do mínimo devem dar alívio à inadimplência

Aline Lima | De São Paulo

O reajuste de 14,1% do salário mínimo já neste mês, equivalente a uma injeção extra de recursos na economia calculada em R$ 59,59 bilhões no ano - segundo estimativa do Bradesco - deverá proporcionar um alívio para a inadimplência do sistema financeiro nacional de crédito em 2012.
No ano passado, os calotes não deram trégua, especialmente entre as pessoas físicas. O índice de atrasos superiores a 90 dias nesse segmento saiu de 5,7%, em janeiro, para 7,3%, em novembro, segundo dados do Banco Central (BC). A inadimplência total, no mesmo período, subiu de 4,6% para 5,6%.
"Sem dúvida, o aumento do piso nacional será um estímulo e tanto para o consumidor evitar o endividamento excessivo num período que tende a ser o mais crítico do ano, marcado pelo vencimento de vários impostos e das despesas escolares", observa Wermeson França, economista da consultoria LCA, que destaca também a maior cautela dos bancos para a concessão de financiamentos.
França projeta, para o fim de 2012, uma taxa de inadimplência de 6,7% na pessoa física - recuo de 0,6 ponto percentual em relação ao nível atual.
O indicador Serasa Experian de perspectiva da inadimplência do consumidor, que tenta projetar os movimentos cíclicos com seis meses de antecedência, recuou 1,3% em outubro, a sétima queda mensal consecutiva. O movimento indicaria o início de uma melhora gradual dos níveis de inadimplência. Em novembro, porém, isso não ocorreu, conforme mostram os dados do BC.
"A inadimplência deve permanecer no patamar de 7% este ano, mas no começo de 2012 isso deve desacelerar", afirma Fernanda Consorte Ribeiro, economista do Santander. Além do aumento do salário mínimo em janeiro, ela lembra que o ciclo de afrouxamento monetário deverá facilitar as condições daqueles que tomarem crédito novo, uma vez que as taxas de juro cobradas nos empréstimos tendem a cair junto com a Selic.
A decisão do BC de reduzir de R$ 5 mil para R$ 1 mil o valor das operações de crédito que serão abertas no Sistema de Informações de Crédito (SCR), fazendo com que os bancos ganhem melhores condições de analisar a exposição de seus clientes no mercado, também pode ajudar no maior controle da inadimplência, principalmente no segmento de varejo.
Para se ter ideia da abrangência que o monitoramento dos devedores deve ganhar, de acordo com o último relatório de inclusão financeira do BC (de junho de 2011), a média mensal da quantidade de operações de valor superior a R$ 5 mil em um grupo de 1 mil adultos é de 276; quando esse valor desce para R$ 1 mil, a quantidade de operações registradas no SCR para esse mesmo grupo de 1 mil adultos sobe para 3.847.
"Os bancos terão informações hoje desconhecidas, vão poder ampliar e muito as possibilidades de análise", diz Jayme Alves, economista da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Mas, como a medida passa a valer a partir de abril, os efeitos na inadimplência só devem aparecer mais para o fim de 2012 e início de 2013. "Os bancos precisam adequar seus sistemas porque o volume de informação é muito grande", explica.


Cypress vê aumento de aquisições no exterior

Ana Paula Ragazzi | De São Paulo

O próximo ano é candidato a uma enxurrada de negócios entre empresas nacionais e private equities, mas também de um forte movimento de companhias brasileiras olhando o exterior.
"Acho que veremos empresas com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões fazendo compras em outros países. Há muitas oportunidades fora do Brasil a bons preços", diz Luiz Felipe Alves, sócio da butique financeira Cypress.
A empresa encerrou 2011 assessorando financeiramente oito negócios fechados que, juntos, somaram cerca de R$ 1 bilhão. As operações foram nos segmentos de TI, imobiliário, turismo e saúde. Atualmente está com cinco processos em "due diligence" em empresas de tecnologia e varejo. Para 2012, a meta é concluir entre oito e dez operações, mas alcançar crescimento de 80% nas receitas.
Também a Cypress está de olho em fechar negócios no exterior. Procura um parceiro global para ter como um sócio que auxilie a conclusão de transações entre empresas domésticas e internacionais. "Queremos nos manter independentes, sem estarmos ligados a um banco. Mas uma parceria internacional, com um sócio alinhado será interessante", diz Alves.
A butique está prestes a fechar uma outra parceria com uma instituição global para realizar no Brasil operações de fusão reversa, em que uma empresa brasileira se une a uma "holding casca" não operacional já listada no mercado de balcão americano e passa a negociar ações - e atrair investidores - por lá.
Essa operação é uma alternativa para pequenas e médias companhias, uma vez que o Bovespa Mais, mercado de acesso brasileiro, ainda não decolou. Alves acredita ser possível ainda a listagem na bolsa londrina, que tem já tradição em operações em seu mercado de acesso, o AIM.
A Cypress assessora empresas para fusões e aquisições e preparação para abertura de capital. "A transação é feita à medida que seja a melhor opção para cada cliente", diz Alves. A empresa também prepara companhias para a abertura de capital.
A assessoria financeira tem entre seus clientes empresas com receitas ente R$ 50 milhões e R$ 1 bilhão. Alves diz que tem percebido maior maturidade nas companhias que os procuram. "Estão mais abertas a mudanças de administração, governança corporativa e auditoria, por exemplo", diz.
Em 2011, a Cypress assessorou a compra da incorporadora Pinheiro Pereira pela João Fortes Engenharia; a aquisição de 60% da Polifibra pelo Grupo BMG; a compra da Net Tour Viagens pelo Carlson Wagonlit Travel e também a compra da BicLabel Technologies pela CTI Invest, entre outros.


INVESTIMENTOS
Fundos de ações de Brasil perdem US$ 2,3 bi em 2011

Antonio Perez | De São Paulo

Em meio a uma queda de 18,11% do Índice Bovespa em 2011, os investidores estrangeiros abandonaram os fundos internacionais que compram apenas ações brasileiras. Segundo dados da consultoria americana EPFR Global, as carteiras dedicadas a papéis do Brasil amargaram saque líquido anual recorde de US$ 2,34 bilhões em 2011, ante captação líquida de US$ 1,561 bilhão em 2010.
"Foi a maior saída anual [de fundos de ações de Brasil], com os investidores hesitando em comprometer dinheiro em um mercado que se voltou para o controle de capitais e taxação das importações para preservar sua capacidade", afirma, em relatório, a EPFR Global.
A saída dos fundos de ações brasileiras veio na esteira de uma debandada maciça de papéis latino-americanos e de mercados emergentes em geral. Todas as carteiras dedicadas a ações da América Latina sofreram resgates líquidos de US$ 10,796 bilhões em 2011, superando por mais de US$ 4 bilhões o recorde anual anterior de saques, registrado em 2008, ano da eclosão da crise financeira internacional e de queda de 41,22% do Ibovespa
Em conjunto, os fundos internacionais dedicados a ações de mercados emergentes amargaram resgates de US$ 47,712 bilhões no ano passado, dos quais US$ 6,961 bilhões no quarto trimestre. Em 2010, essas carteiras haviam recebido US$ 95,633 bilhões. Entre os principais grupos de emergentes, os fundos de papéis da Ásia (sem Japão) perderam US$ 23,873 bilhões em 2011, valor superior a toda a captação líquida do grupo em 2010 (US$ 22,03 bilhões).
No ano passado, houve saídas de US$ 6,882 bilhões dos fundos de emergentes da Europa, Oriente Médio e África (Emea, na sigla em inglês) e de US$ 6,161 bilhões dos diversificados fundos de Mercados Emergentes Globais (GEM, na sigla em inglês). Já as carteiras dedicadas a ações do grupo Bric (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China) perderam US$ 5,304 bilhões no ano passado, sofrendo resgates em 48 das 52 semanas de 2011.


AGRONEGÓCIOS
Indústrias elevam estimativas para embarques de soja

Por Fernando Lopes | De São Paulo

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revisou para cima suas estimativas para as exportações de soja em grão do país produzida nas safras 2010/11, que está em fase final de comercialização, e 2011/12, cuja colheita começará a ganhar fôlego neste mês no Centro-Oeste.
As estatísticas da entidade levam em consideração o ano comercial das empresas de processamento - que começa em meses de fevereiro e termina em janeiro -, não o ano agrícola. Daí porque as estimativas para a última safra já colhida no Brasil, a 2010/11, aparecem em seus cálculos como 2011/12. Já a colheita desta safra agrícola (2011/12) alimentará o ano comercial 2012/13.
Para o ano comercial 2011/12, que termina no fim deste mês, a entidade passou a projetar os embarques em 33,2 milhões de toneladas, ante as 32,6 milhões previstas em 12 de dezembro e as 29,2 milhões da temporada anterior. Por causa desse ajuste, a associação passou a calcular os estoques finais do grão em 3,5 milhões de toneladas - abaixo das 4,1 milhões estimadas anteriormente, mas acima de 2010/11 (1,7 milhão).
Em dezembro, informou a agência Reuters com base em dados da Secex, os embarques nacionais de soja em grão atingiram 1,5 milhão de toneladas, menos que em novembro (1,8 milhão) mas volume bem superior ao observado em dezembro de 2010, menor que 300 mil toneladas.
Para o ano comercial 2012/13, a Abiove elevou sua projeção para as exportações nacionais de soja em grão para 34 milhões de toneladas, em linha com os mais otimistas "players" do país, que consideram que os problemas provocados pelo fenômeno La Niña serão pequenos para a oleaginosa. No levantamento fechado em 12 de dezembro, a entidade sinalizava embarques de 33,5 milhões de toneladas. O volume previsto para 2011/12 (33,2 milhões) já é o maior da história, o que significa que em 2012/13 um novo recorde deverá ser batido.
Também nesse caso a correção da Abiove para o volume de exportações levou à redução da projeção para os estoques finais do grão. Como os estoques iniciais foram redimensionados para 3,5 milhões de toneladas e a estimativa da associação para a colheita da safra em curso seguiu em 74,6 milhões, ante as 74,3 milhões do ciclo passado, a previsão para os estoques finais no ano comercial 2012/13 encolheu de 4,7 milhões para 3,6 milhões.
As exportações brasileiras de soja em grão deverão render menos no ano civil 2012 do que no ano passado, conforme a Abiove. A entidade passou a calcular a receita dos embarques deste ano em US$ 14,6 bilhões - aproximadamente US$ 200 milhões a mais que o estimado no início de dezembro, mas 10% abaixo do resultado esperado no ano passado (US$ 16,3 bilhões).
Sustentadas sobretudo pela demanda da China, as exportações brasileiras de soja em grão, conforme os números apresentados, deverão registrar queda da ordem de 8% nos preços médios de venda. Em geral, analistas preveem alguma retração por causa dos reflexos da crise no mundo desenvolvido sobre o consumo mundial de alimentos, inclusive em países emergentes, e sobre as cotações das commodities.


LEGISLAÇÃO & TRIBUTOS
Rio concede parcelamento e anistia

Por Adriana Aguiar | De São Paulo

O Estado do Rio de Janeiro concedeu uma nova anistia aos contribuintes que possuem débitos inscritos em dívida ativa, vencidos antes de 30 de novembro de 2011. Os débitos poderão ser pagos à vista, parcelados em até 18 vezes ou quitados a partir da compensação com precatórios já expedidos. Independentemente da forma de pagamento, terão direito à redução de 50% dos juros de mora, além da exclusão integral das multas.
O programa, que ainda depende de regulamentação, entra em vigor em fevereiro. Os interessadas terão até 31 de maio para fazer a adesão. A remissão está prevista na Lei Estadual nº 6.136, publicada em 29 de dezembro de 2011.
O contribuinte também poderá incluir débitos ainda não inscritos, desde que faça um requerimento, até o dia 30 de abril, para que o débito seja encaminhado para a dívida ativa. Nesses casos, segundo a advogada Sarah Ferrari Pires, do Gaia, Silva, Gaede & Associados, seria vantajoso desistir de processos administrativos nos quais há poucas chances de o contribuinte ganhar. "Os valores a serem pagos diminuem muito e isso deve ser avaliado", afirma.
Poderão aderir também os contribuintes participantes ou excluídos de parcelamentos anteriores, na mesma linha do que previa o Refis federal. O advogado Alessandro Mendes Cardoso, do Rolim, Viotti & Leite Campos, ressalta que as empresas que já estão em outros parcelamentos devem avaliar quais são as vantagens de cada um para decidir se compensa ou não a migração para novo programa.
A norma também prevê que, quem optar pelo parcelamento, não poderá ter prestações inferiores a R$ 100 nos débitos de pessoa física e R$ 200 para dívidas de pessoa jurídica. Os benefícios previstos serão cancelados imediatamente, se ocorrer atraso superior a 30 dias no pagamento.
Em relação à compensação com precatórios do Estado, o contribuinte só poderá compensar 95% da dívida. Os 5% restantes devem ser pagos em até cinco dias úteis após o deferimento da compensação.
Para Alessandro Cardoso, a lei está bem detalhada. Porém, há pontos que ainda devem ser esclarecidos em regulamentação posterior. Entre eles, se os honorários da Procuradoria do Estado, em caso de desistência de ação, poderão ser parcelados também. "Em grandes discussões judiciais esses valores são relevantes". Na avaliação da advogada Vivian Casanova, do BM&A Consultoria Tributária, a adesão pode ser benéfica para o contribuinte em qualquer das modalidades escolhidas de pagamento.
A lei estabelece ainda a remissão total dos débitos inscritos em dívida ativa até 1997, com valor inferior a 4.683,40 Ufir-RJ, cerca de R$ 9 mil. Além dos débitos inscritos até 30 de novembro do ano passado, com valor inferior a 468,34 Ufir-RJ, aproximadamente R$ 900.
Outra lei do Estado, publicada dia 29 de dezembro, alterou o índice de atualização das dívidas tributárias, que passará a ser pela Selic a partir de julho. Até então, elas eram corrigidas pela Ufir Estadual, que será extinta em 30 de junho. A determinação está na Lei nº 6.127. Os valores devidos pelo Estado também passarão a ser atualizados pela Selic. Com isso, o Rio passa a adotar o índice utilizado pelo governo federal.

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