PRIMEIRA PÁGINA
MP vai regular direito a uso de redes das teles
O governo prepara uma medida provisória para
regular o acesso de operadoras de telecomunicações e investidores à
infraestrutura como rodovias, dutos, canaletas e postes que são utilizados para
suportar a instalação de redes de comunicação pelo país. O texto pretende pôr
fim às dificuldades que muitas empresas têm enfrentado para iniciar ou mesmo
ampliar suas operações no setor.
Megaleilão de linhas de transmissão
O governo prepara para este ano o maior conjunto de
licitações de redes de transmissão de energia elétrica previstas para serem
instaladas no país até 2020. A extensão total que será oferecida chega a 8.154
quilômetros, 8% da malha nacional em operação. A previsão, conforme cronograma
da Agência Nacional de Energia Elétrica, é de que mais de 4 mil km de linhas
sejam licitados já no primeiro trimestre. Na relação de obras ligadas a essas
redes está a construção de mais 20 subestações, usadas para conversão e
distribuição de energia. Segundo estimativas da Empresa de Pesquisa Energética,
o volume de recursos investidos em transmissão deverá quase quadruplicar neste
ano, chegando a R$ 7,9 bilhões.
O ano da Copa já começou para máquinas
A indústria de máquinas pesadas aposta que 2012
será o ano da Copa para o setor. Para que o país esteja preparado a receber em
18 meses a Copa das Confederações - que antecede em um ano o Mundial -, muitas
obras terão de ser aceleradas ou mesmo iniciadas. De olho na demanda, a
Solaris, que aluga máquinas e equipamentos para construtoras, mapeou mais de 80
oportunidades ligadas aos grandes eventos esportivos e prevê investir cerca de
US$ 50 milhões para adicionar 500 máquinas à frota - 65% delas importadas. Davi
Morais, diretor da Sotreq, revendedora Caterpillar, afirma que a Copa já
respondeu por cinco a dez pontos percentuais do avanço de 30% nas vendas de
máquinas em 2011. A Sotreq e a Caterpillar planejaram os estoques para evitar
restrições às entregas.
Seca provoca perdas superiores a R$ 1 bilhão em Estados do
Sul
A seca já provocou perdas agrícolas de R$ 500
milhões no Rio Grande do Sul e R$ 400 milhões em Santa Catarina. Estimativas
dos governos estaduais indicam que as lavouras mais prejudicadas são as de
milho e feijão. O Paraná também vê as condições de suas plantações se
deteriorar com a falta de chuvas, mas não estimou perdas.
EDITORIAL
CNJ enfrenta o maior desafio de seus 7 anos de existência
A concessão de duas liminares pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) no fim do ano passado colocou no limbo o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), o órgão encarregado de exercer vigilância sobre o Judiciário. Em
seu sétimo ano de vida, o CNJ enfrenta agora seu maior desafio. Em uma das
liminares concedidas, o Conselho teve suspensa suas investigações nos tribunais
de 22 Estados, inclusive São Paulo, de pagamentos irregulares de auxílio
moradia a desembargadores. A segunda liminar, concedida em 19 de dezembro, fere
mais a fundo as atribuições do órgão. Seu pressuposto é o de que o CNJ não pode
tomar para si a iniciativa de investigar juízes antes de que as corregedorias
dos tribunais em que atuam tenham feito isso.
A ira de uma parcela da magistratura foi catalisada
pela declaração sanguínea da corregedora nacional do CNJ, Eliana Calmon, sobre
a existência de "bandidos de toga". A indignação moral das vozes que
se levantaram contra a corregedora misturava o protesto aceitável contra
exageros retóricos ao predominante tom corporativista. Embora esse não seja nem
de longe o cerne da questão, as reações indicam que boa parte da elite que
recebe os maiores salários da República e tem o poder de ministrar a Justiça no
país quer para si também a prerrogativa de estar acima de qualquer suspeita. A
atuação do Conselho quebrou saudavelmente essa autoilusão antidemocrática. Boa
parte da gritaria, na verdade, tem menos a ver com princípios em si e mais com
pecúnia e poder.
Um dos estopins da crise foram as investigações que
atingiram o poderoso TJ paulista, onde trabalharam dois ministros do STF - seu
atual presidente, Cezar Peluso, e Ricardo Lewandowski. O TJ paulista resistiu a
apurar dois singelos fatos que, depois das liminares que paralisaram a ação do
CNJ, estão sendo reconhecidos. Cerca de R$ 1 milhão foram pagos indevidamente a
118 juízes por dias extraordinários de trabalho que deveriam ter sido
convertidos obrigatoriamente em folga. Transformaram-se, porém, em
licença-prêmio remunerada ("Folha de S. Paulo", 31 de dezembro). Em
outro lance fora da lei, 22 magistrados incluíram para efeito de licença-prêmio
remunerada (três meses a cada cinco anos de trabalho) o período em que
labutavam como advogados. Após o recesso de janeiro, o TJ paulista julgará o
caso ("Folha de S. Paulo", 29 de dezembro).
Um terceiro caso diz bastante sobre os privilégios
do Judiciário. Em 2000, o STF estendeu a todos os magistrados o auxílio-moradia
a que deputados e senadores têm direito e concedeu a eles a mesma regalia, com
o pagamento retroativo de valores referentes ao período de 1994 a 2000. Ainda
que o benefício seja injusto, deputados e senadores trabalham em Brasília,
distante de suas moradias, enquanto a medida genérica da Justiça beneficia
pessoas que moram na mesma cidade onde trabalham. Para alguns magistrados a
vantagem chega a R$ 1 milhão, que deveriam ser pagos em parcelas. O CNJ hoje
investiga pagamento integral a juízes favorecidos que teriam recebido o
dinheiro antes de seus colegas por algum atalho.
Assim, questões materiais prosaicas são a motivação
básica da atual revolta contra o CNJ. As críticas ao órgão, algumas delas
pertinentes, se concentraram em seus métodos e atribuições. Ele teria passado
por cima das corregedorias estaduais. É um fato, entretanto, que elas
frequentemente nada investigam, ou fazem investigações que se estendem
indefinidamente. Um dos méritos do CNJ, e uma das razões de sua existência, foi
o de quebrar um círculo de interesses comuns gerados pelo compadrio
corporativo, que é uma fonte segura de impunidade e iniquidades.
A julgar pelo tom da revolta, poderia-se imaginar
que o CNJ está levando milhares de juízes para perto do cadafalso. Na verdade,
o CNJ puniu em sete anos 49 magistrados, 38 em investigações por iniciativa
própria ("O Globo", 29 de dezembro). Destes, 24 foram obrigados a se
aposentar e se dedicarão ao ócio com salários integrais e uma das mais altas
remunerações da República.
Uma das questões de princípio em jogo foi
vocalizada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF, para quem a atuação do
CNJ é subsidiária à das corregedorias, e não concorrente. Isso significa que,
se o STF decidir de acordo com o ministro, o CNJ ficará eternamente a depender
de um sistema inoperante, quando sua razão de ser é justamente para corrigi-lo.
POLITICA
Bom momento do Rio alavanca campanha pela reeleição de
Paes
Por Paola de Moura | Do Rio
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB),
aposta na exploração do petróleo da camada do pré-sal e nas obras da Copa do
Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 para alavancar sua campanha pela reeleição
neste ano. Juntos, petróleo e esportes atrairão cerca de R$ 20 bilhões nos
próximos cinco anos. O prefeito iniciou sua gestão reforçando o caixa e conta
agora com uma arrecadação recorde para apoiar seus investimentos: a receita da
prefeitura saltou de R$ 9 bilhões em 2009 para R$ 20,5 bilhões neste ano.
Apesar das condições financeiras favoráveis, Paes não conseguiu reverter
problemas históricos na área da saúde, em especial nos hospitais públicos, e é
criticado por terceirizar o serviço público e investir na construção de novas
escolas e creches e equipamentos públicos em vez de reformar os já existentes.
O prefeito deve transformar obras da Copa e da
Olimpíada em bandeiras de sua campanha, ainda que a prefeitura não tenha
comprometido parte significativa de seu orçamento nas construções. As obras do
Maracanã, com custo de R$ 775 milhões, por exemplo, estão sendo bancadas pelo
governo do Estado.
A reforma do Sambódromo, que sediará as competições
de arco e flecha e a final da maratona, está sendo paga pela Brahma, a um custo
de R$ 60 milhões. "Usamos o artifício da Olimpíada para reformar um
equipamento da cidade", conta Paes.
As obras do Porto Maravilha, que vão custar R$ 3,5
bilhões, são feitas em uma parceria público-privada, financiadas com a venda
dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). "Só faz
parte da responsabilidade da prefeitura o que ficará de legado para a
cidade", explica o prefeito. "Mesmo assim, estamos montando
parcerias, financiando as obras com recursos federais, tudo para não tirar
recursos importantes do orçamento", acrescenta o prefeito.
Somado a esse cenário está o caixa reforçado da
prefeitura, com aumento na arrecadação, refinanciamento da dívida com
empréstimo de R$ 1 bilhão do Banco Mundial e corte de despesas que levaram ao
superávit de R$ 1,4 bilhão no primeiro ano da gestão.
A situação é oposta à vivida pelo ex-prefeito Cesar
Maia (DEM), quando o Rio transformou-se na sede dos Jogos Pan-Americanos de
2007. O orçamento inicial dos Jogos era de R$ 409 milhões, mas as obras
custaram perto de R$ 4 bilhões. Sem apoio dos governos federal e estadual, Maia
teve de usar recursos do orçamento para custear as obras, que, no fim, não
deixaram o prometido legado para a cidade. Estádios como o Parque Aquático
Maria Lenk, ou a Arena Olímpica (hoje HSBC Arena) ficaram subutilizados.
Atualmente, precisam ser reformados e ampliados para 2016.
Paes beneficia-se do alinhamento entre os governos
federal, estadual e municipal. Obras como a reurbanização de favelas, novas
moradias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o sucesso da política
de segurança do Estado, com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) deverão
aparecer na campanha de reeleição do prefeito. "Quando a coisa vai bem,
todos os poderes são favorecidos. E quando um deles desliza, também afeta a popularidade
do outro governante", analisa o diretor do Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Geraldo Tadeu Monteiro, que também é
presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais (IBPS). "A maioria
[da população] não sabe muito bem o papel de cada governante".
Segundo pesquisa Ibope de dezembro, encomendada
pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, Paes aparece como um dos prefeitos mais
bem avaliados do país, com 46% de ótimo e bom.
Apesar da boa avaliação, Paes não conseguiu
reverter problemas na área da saúde. Os hospitais públicos enfrentam os mesmos
problemas de décadas.
O vereador Paulo Pinheiro (PSOL) critica Paes por
terceirizar a saúde por meio das organizações sociais (OSs). "O prefeito
vai gastar R$ 4 bilhões em saúde este ano, dos quais R$ 1,6 bilhão só para as
OSs", diz Pinheiro. "Ele está terceirizando a saúde. Na verdade, está
terceirizando tudo, as obras, o esgotamento da zona oeste [referindo-se à
licitação feita recentemente para exploração do esgoto na região] e até o
transporte, porque estes BRTs terão pedágio, " critica. "O DNA da
prefeitura é privatizar".
A vereadora Andrea Gouveia Vieira (PSDB),
pré-candidata à Prefeitura do Rio, reclama que o prefeito, em vez de investir e
melhorar obras já existentes, gasta em novas construções. "Ele faz muitas
creches e clínicas de saúde, mas não há dinheiro para os hospitais. Nas
clínicas não há médicos, e os museus estão caindo aos pedaços, enquanto ele
constrói dois novos no porto", critica Andrea. A vereadora também aponta a
falta de transparência nas obras da Olimpíada e diz que falta ainda a matriz de
responsabilidades, além do detalhamento do andamento das obras, prometido pela
prefeitura para ser feito no portal Transparência Olímpica. "A sorte dele
[de Paes] é que a comparação é com o último governo Cesar Maia", comenta a
vereadora.
Paes ironiza. "Se eles criticam eu estar
construindo creches, clínicas e UPAs, eu agradeço. Mas não é verdade que os
hospitais não passam por obras - o Miguel Couto ganhará uma nova emergência, o
Souza Aguiar, uma maternidade, e o Lourenço Jorge, uma UPA, para passar a
atender demandas mais graves. Isso só para citar os três maiores", afirma.
"Tínhamos uma cidade que não recebia equipamentos hospitalares novos há
mais de 50 anos. Em quatro anos vamos construir 70 clínicas da família e 20
unidades de pronto atendimento. Estamos fazendo novas creches e reformando as
escolas", diz Paes.
O prefeito, no entanto, preocupa-se com a
popularidade e investe em uma ampla agenda nas ruas. Dedica-se a inaugurar
obras de creches, escolas e clínicas da família quase que diariamente. Também
marca presença em fatos de grande repercussão popular, como a explosão de um
restaurante, no centro da cidade, ocorrida em outubro, que deixou três mortos e
17 feridos.
Na disputa pela reeleição, Paes beneficia-se da
costura que o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, fez com 18 partidos. A
aliança deve valer tanto para a eleição deste ano quando para a sucessão do
governador Sérgio Cabral (PMDB) em 2014. Entre os partidos dessa base está o
PSB do deputado federal e pré-candidato Romário, a última sigla a aderir. Essa
parceria pode dar ao prefeito dois terços do tempo de televisão na campanha
eleitoral. "Se ele quiser, nem precisará ir a debates", comenta o
cientista político da PUC Ricardo Ismael.
No fim de novembro, o PT do Rio confirmou a aliança
com o PMDB para a próxima eleição de prefeito. O vereador Adilson Pires será o
candidato a vice na chapa de Paes. A aliança teve aprovação da ampla maioria
dos 200 delegados eleitos. Apenas o deputado federal Alessandro Molon foi
contra porque vem defendendo nas últimas três eleições a candidatura
independente.
O acordo do PT no Rio teve aval da direção nacional
do partido e da presidente Dilma Rousseff. Ele já estava praticamente negociado
porque Paes e Cabral fizeram ampla campanha para Dilma em 2010, participando de
praticamente todos os atos no Estado.
Hoje o PT tem apenas três vereadores, mas espera
dobrar a bancada com o apoio e o espaço que terá na campanha municipal com o
PMDB.
A disputa pela prefeitura tem alguns nomes
cogitados: os deputados estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o federal Romário
(PSB). A deputada estadual Clarissa Garotinho (PR) tende a ser a vice na chapa
de Rodrigo Maia (DEM), em ação costurada por seu pai, o deputado federal
Anthony Garotinho e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), pai de Rodrigo.
Políticos que já disputaram outras eleições no Rio
optaram por não se lançar em 2012. O senador Marcelo Crivella (PRB), que
participou das últimas quatro eleições, fechou acordo de apoio com o PMDB. O
senador Lindbergh Farias (PT) decidiu manter o acordo do PT e aspira lançar-se
em 2014, ao governo do Estado. O ex-deputado Fernando Gabeira (PV) que foi ao
segundo turno na eleição de 2008 com Eduardo Paes e perdeu por 49,17% a 50,83%,
não disputará.
Funcionalismo é a principal resistência a Cid no Ceará
Por Murillo Camarotto | Do Recife
Com a popularidade elevada e praticamente sem
oposição, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), vê brotar no funcionalismo
público o principal contraponto à sua administração. Nos últimos meses, duas
negociações salariais mal sucedidas (com professores e policiais) resultaram em
conflitos exageradamente tensos entre servidores e governo, a ponto de afetarem
o cotidiano dos cearenses e mancharem, segundo analistas, a imagem de bom
gestor conquistada por Cid em cinco anos de mandato.
No dia seguinte à paralisação de policiais
militares e bombeiros, que levou pânico a alguns pontos de Fortaleza, as
críticas à postura do governo eram maioria entre os comentários postados nos
portais dos principais jornais cearenses. A palavra prepotência apareceu
algumas vezes para classificar o comportamento de Cid perante o imbróglio, só
resolvido após o governador atender boa parte das reivindicações.
"Falta sensibilidade política nas negociações.
Ele [Cid] prefere radicalizar e criar o impasse para depois voltar atrás e
conceder todos os pedidos", avalia o professor Eduardo Girao Santiago,
doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Na mesma linha,
o professor de Políticas Públicas Francisco Horácio da Silva, também da UFC, conta
que é recorrente o governo esticar ao máximo a corda das negociações com os
servidores. "Não fosse assim, Cid poderia ter evitado uma série de
situações", disse.
Uma dessas situações ocorreu em setembro, quando
professores da rede estadual tentaram entrar no plenário da Assembleia
Legislativa para uma manifestação contra o piso salarial e foram recebidos a
socos pela Polícia Militar. A crise entre os professores e o governo começou em
agosto, quando a categoria iniciou uma greve que durou 63 dias. No início de
outubro os professores voltaram ao trabalho, mas as negociações ainda não foram
encerradas.
A falta de sensibilidade do governador nas
negociações é, segundo o professor Horácio, resultado da mistura entre o estilo
autoritário e a popularidade elevada. De acordo com pesquisa do Ibope de
dezembro de 2011, Cid é aprovado por 55% dos cearenses, quarto melhor
desempenho no país. Não bastasse, o governador praticamente não tem oposição.
"Sem opositores ele faz o que quer. Pode dizer
"não negocio, não faço". Mas aí acabam aparecendo surpresas
desagradáveis, como essa dos policiais", afirmou o sociólogo da UFC. Esse
comportamento, continua Horácio, leva à criação de áreas de contraponto dentro
do governo, no funcionalismo. "O pessoal da área da saúde também está
bastante insatisfeito", completa o professor.
Já Santiago atribui a avareza de Cid para com os
servidores ao perfil empresarial imposto à gestão. A fama de tocador de obras,
segundo ele, explica boa parte da popularidade elevada. "O problema é que
essa postura de gestor acaba significando certa inflexibilidade quando se fala
em aumento de salário. As viaturas da Polícia Militar são de primeiro mundo,
mas o material humano não é tão valorizado", compara.
Com modernas camionetes japonesas, a Ronda do Quarteirão
foi um dos destaques do primeiro mandato de Cid. Enquanto parte da população
apoiou o projeto, outra reclamou a ausência dos carros nos bairros periféricos.
"No início da campanha da reeleição, ele tinha cerca de 50% da intenção de
voto. Aí a aproximação com Lula garantiu a vitória mais folgada nas
urnas", afirmou Horácio, instado a avaliar possíveis estragos da crise com
os servidores no horizonte político de Cid. A assessoria do governador foi
procurada pelo Valor, mas não retornou aos telefonemas.
Segundo o professor, existe a chance de a oposição
ganhar algum fôlego, mesmo que insuficiente para alterar a hegemonia reinante
hoje no Ceará. Um bom termômetro será a eleição municipal, quando Cid poderá
romper com a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), e lançar seu próprio
candidato. O peso do funcionalismo no eleitorado da capital poderá medir nas
urnas o prestígio do governador.
Para Santiago, não há dúvida de que algum abalo
será percebido. "Ele gerou um desgaste grande. A população sentiu. A
cidade ontem [terça-feira] estava um cemitério".
BRAISL
Governo quer licitar 8 mil km de linhas de transmissão em
2012
Por André Borges | De Brasília
Se o ano passado foi marcado pelo início de grandes
obras de geração de energia, como as usinas de Belo Monte e Teles Pires, este
ano será dedicado, em boa parte, aos projetos de linhas de transmissão. Está
concentrado em 2012 o maior conjunto de licitações de redes de transmissão
previstas para serem instaladas no país até 2020. O volume total da malha que
será oferecida neste ano chega a 8.154 quilômetros de extensão.
Se comparado com tudo o que foi licitado anualmente
na última década, trata-se do segundo maior conjunto de obras de transmissão,
só atrás do total licitado em 2008. Naquele ano foram contratados 8.968
quilômetros de rede, boa parte para erguer o linhão do Madeira, que distribuirá
a energia gerada pelas usinas de Jirau e Santo Antônio, em Porto Velho (RO).
O volume de linhas a serem licitadas equivale a 8%
da malha nacional atualmente em uso. A previsão, conforme cronograma da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é de que mais de 4 mil quilômetros de
linhas de transmissão sejam licitados já neste primeiro trimestre. A segunda
metade dos projetos será oferecida no terceiro trimestre. Na lista das obras
ligadas a essas redes está a construção de mais 20 subestações, usadas para
conversão e distribuição de energia no país.
Os investimentos em transmissão vão superar, de
longe, o montante de R$ 2 bilhões aplicados durante o ano passado. De acordo
com estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o volume de recursos
deverá quase quadruplicar, chegando a R$ 7,9 bilhões. Em relação às
subestações, o salto será de R$ 1,6 bilhão no ano passado para R$ 4,5 bilhões
em 2012. "Este ano será realmente marcado por uma forte execução de obras
de transmissão, por conta dos grandes projetos de hidrelétricas que estão em
andamento", disse o presidente da Aneel, Nelson Hubner.
Quase metade das licitações previstas para este
início de ano tem a função de apoiar as usinas projetadas ou já em construção
no complexo do rio Teles Pires, entre os Estados do Mato Grosso e do Pará. Um
segundo bloco de obras, segundo Hubner, se destina à primeira etapa de
estruturas que apoiarão a distribuição da energia que será gerada pela
hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Pará, a partir de fevereiro de
2015.
"Temos um grande conjunto de linhas de
transmissão associadas à Belo Monte, principalmente voltadas à interligação da
usina com as regiões Norte e Nordeste do país", comenta Hubner. "Além
disso, há muitos reforços a serem feitos no atual sistema de transmissão."
Uma segunda rodada de licitações para linhas de transmissão voltadas a Belo
Monte está prevista para ocorrer em 2015, já que a usina só estará a plena
carga em 2019.
O governo acredita que a oferta das novas linhas de
transmissão vai atrair um maior número de interessados no leilão dessas obras.
No fim do ano passado, o Ministério do Meio Ambiente publicou uma série de
portarias que aceleram o licenciamento ambiental desses empreendimentos. Ficou
decidido, por exemplo, que aquelas linhas que não atravessam áreas de proteção
ambiental ou regiões já ocupadas tenham o licenciamento baseado apenas em um
Relatório Ambiental Simplificado (RAS), e não mais em um Relatório de Impacto
Ambiental (Rima), estudo bem mais complexo e, portanto, demorado.
O impacto em áreas indígenas também ganhou
definições mais claras. Até o ano passado era preciso apresentar relatórios
antropológicos toda vez que uma linha de transmissão passasse pela região de
uma aldeia, não importava a distância que essa estrutura ficasse do povoado.
"Situações como essa afastavam o interesse de investidores. Chegamos a ter
linhas, como aconteceu em Manaus, onde não apareceu ninguém para disputar o
lote, por causa dessa complexidade ambiental", comenta Hubner. "Essa
condição foi revista. Com esses novos parâmetros, esperamos ter mais agilidade."
Foram os entraves ambientais, segundo explicou
Hubner, que comprometeram o cronograma dos dois linhões do rio Madeira, cada um
com quase 2.400 quilômetros, ligando Porto Velho a Araraquara, em São Paulo. A
demora na concessão do licenciamento deve atrasar em dez meses a entrada em
operação do empreendimento tocado pelo consórcio IEMadeira, controlado pela
Companhia de Transmissão Paulista (CTEEP).
Entre 2011 e 2020, está previsto um investimento
total de R$ 46,4 bilhões na rede de distribuição de energia, sendo R$ 30
bilhões para novas linhas de transmissão e R$ 16,4 bilhões para subestações. A
malha atual, que atinge cerca de 105 mil quilômetros de extensão, deverá
atingir 142 mil quilômetros até o fim da década.
Aneel prevê alta recorde na geração de energia neste ano
Por Rafael Bitencourt | De Brasília
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
prevê a entrada em operação de 10.745 megawatts (MW) de capacidade em 2012.
Este montante compreende somente os empreendimentos já com contratados
assinados, que vão se somar à atual disponibilidade do parque de geração
existente no país, que totaliza 116 mil MW.
O início da operação de novas usinas, programado
para este ano, supera o volume de energia adicional registrados em anos
anteriores. O relatório de dezembro da Superintendência de Fiscalização dos
Serviços de Geração da agência reguladora estima um incremento de geração de
4.243 MW em 2011.
O ano em que foi registrado o m maior acréscimo de
geração, considerando a série histórica iniciada em 1998, foi o de 2010, quando
foi incorporada a potência de 6.150 MW. Para os próximos anos, o destaque
deverá ser 2013, quando se prevê a incorporação de cerca de 10.900 MW, apenas
com empreendimentos já com contratos assinados.
Os novos projetos, que ainda serão licitados este
ano, não entram na conta da superintendência da Aneel. De toda a capacidade das
usinas que vão entrar em operação este ano, 3.385 MW vêm de usinas
termelétricas abastecidas por combustível fóssil, 2.946 MW de hidrelétricas,
2.452 MW de usinas eólicas, 1.366 MW de termelétricas a biomassa e 596 MW de
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).
O início de operação das usinas hidrelétricas de
Jirau e Santo Antônio, instaladas no rio Madeira, em Rondônia, vai contribuir
neste ano com a adição de 600 MW e 1.058 MW, respectivamente. Outra
hidrelétrica importante listada é a de Estreito, localizada na divisa dos
Estados de Tocantins e Maranhão, que incluirá mais 543 MW.
Entre as principais usinas termelétricas estão as
Pecém 1 e 2, ambas no Estado do Ceará, que somam 1.080 MW. Outras seis usinas
em implementação no Estado da Bahia, conhecidas pela sigla MC2, acrescem um
total de 1.060 MW.
Cerca de 2.500 MW programados para entrar em
operação em 2012 possuem algum tipo de restrição. No entanto, segundo técnicos da
Aneel, nenhum dos empreendimentos nessas condições possui algum impedimento
grave relacionado a problemas de licenciamento ambiental, ações judiciais ou
declaração de inviabilidade.
Edital acirra discussões sobre túnel entre Santos e
Guarujá
Por Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
O edital de licitação para contratar o projeto
executivo para a construção de um túnel entre Santos e Guarujá, no litoral
paulista, foi lançado há uma semana, mas as discussões sobre a melhor maneira
de fazer a ligação seca entre os dois municípios, que já duram 40 anos, não
cessaram.
Especialistas, empresários e políticos divergem
sobre a melhor alternativa para a ligação: construir um túnel ou uma ponte. E
mesmo quem concorda com a opção pelo túnel, feita agora pelo governo estadual,
defende um outro local para a obra, que cruzará o canal de navegação do porto
de Santos.
O vencedor da concorrência (do projeto executivo,
que tem valor de referência de R$ 33,7 milhões), deverá trabalhar no
licenciamento ambiental do empreendimento, preparar a licitação da obra e o
detalhamento executivo dos serviços de engenharia. O prazo para a realização
dos trabalhos é de 18 meses. Os interessados poderão participar em consórcios
de até três empresas, com participação mínima de 30% para cada sócio.
O edital, lançado dia 29 pela empresa
Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), prevê a construção de um túnel imerso com
900 metros de extensão, que atravessará o canal de navegação do porto de
Santos, ligando o bairro de Outeirinhos, em Santos, a Vicente de Carvalho, no
Guarujá. A estrutura será em concreto armado com profundidade mínima de 21
metros. Terá três faixas de rolagem por sentido e espaço exclusivo para
pedestres e ciclistas.
O projeto admite tráfego de veículos de passeio e
caminhões e prevê uma linha do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) - outro projeto
do governo do Estado para interligar cidades da Baixada Santista. O início da
obra está previsto para o primeiro semestre de 2013, e a conclusão, para a
primeira metade de 2016.
A construção de um túnel imerso é inédita no
Brasil. Por causa disso, as empresas poderão ser assistidas por consultores
externos com experiência no método. O túnel será composto por perfis de
concreto que serão estruturados em uma doca seca e depois transportados até o
local onde serão afundados.
"A Dersa encontrou uma solução inédita de
reduzir o custo. Um túnel escavado custaria em torno de R$ 2 bilhões, o imerso
sairá por R$ 1,3 bilhão", afirma o diretor-presidente da Dersa, Laurence
Casagrande Lourenço.
A opção pelo túnel, porém, é controversa. Em 2010,
durante a campanha presidencial, o ex-governador José Serra (PSDB) inaugurou a
maquete de uma ponte estaiada conectando os municípios. O valor da obra estava
estimado em R$ 910 milhões - 43% menor que o do túnel.
Um ano depois, o governador eleito Geraldo Alckmin
(PSDB) anunciou que a ligação seria por meio de um túnel imerso. A mudança de
planos foi resultado de estudos iniciados em março de 2011 pela Dersa, que
concluiu pela viabilidade da obra. O túnel será pedagiado.
"Quando o projeto da ponte foi calculado, ele
foi estimado em R$ 910 milhões, mas não levava em consideração as desapropriações
necessárias na duas margens do canal", afirma o presidente da Dersa.
"Se considerados os custos da desapropriação, o valor do projeto sobe para
cerca de R$ 300 milhões e vai para R$ 1,2 bilhão."
Segundo Tarcísio Barreto Celestino, professor de
engenharia da USP e membro do conselho executivo da Associação Internacional de
Túneis e Espaço Subterrâneo, o custo da ponte poderia ser ainda maior. "O
projeto básico que foi feito é de uma ponte com duas faixas de tráfego em cada
direção. O do túnel considerou três faixas de tráfego em cada direção. Não se
está comparando coisas iguais."
Outra questão é a interferência urbana. Para não
atrapalhar o tráfego de embarcações no porto de Santos, o gabarito da ponte
teria de ser de 85 metros. Para tanto, as rampas de acesso nos municípios de
Santos e Guarujá teriam de ser extensas. "Seria algo em torno de três
quilômetros de cada lado para dar os 85 metros de gabarito da ponte. Seria um
belo de um minhocão dentro de Santos e outro no Guarujá ", afirma
Lourenço.
Não é o que pensa o engenheiro Catão Ribeiro, que
projetou mais de 2.500 pontes, sendo 20 delas estaiadas. Ele foi o consultor da
empresa Vetec, que realizou o projeto básico da ponte entre Santos e Guarujá no
governo Serra. "Não é necessário desapropriação de áreas. Os pilares
seriam construídos na avenida portuária de Santos, e no Guarujá ficariam em
área de mangue já poluído", diz Ribeiro. "Não há razão para abandonar
um projeto que estava licitado. Não tem sentido fazer algo pior com custo
maior", diz Ribeiro. Já Lourenço diz que "a Dersa não tem preferência
por túnel ou ponte, mas sim por boas soluções".
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),
que administra o porto, concorda que o túnel é a melhor alternativa de
travessia entre as duas margens do porto, mas não com o local da obra. Avalia
que a melhor localização seria um túnel entre Alemoa, bairro de Santos, e a
Ilha Barnabé, atraindo o fluxo de carretas que hoje precisam usar a rodovia Piaçaguera-Guarujá
para chegar ao Guarujá e que não estão contempladas no projeto da Dersa. As
prefeituras de Santos e Guarujá e o Conselho de Autoridade Portuária (CAP) têm
a mesma posição.
Tanto a Codesp quanto o CAP e as prefeituras
defendem a necessidade de uma segunda ligação, para facilitar o tráfego
rodoviário de carretas entre as duas margens do porto. Hoje, existe um volume
médio diário de 5.000 a 7.000 viagens de caminhões que usam a rodovia entre
Santos e Guarujá.
INTERNACIONAL
Prejuízo com vulcão faz Argentina acelerar projetos de
mineração
Por César Felício | De Buenos Aires
O impacto econômico que as cinzas do vulcão chileno
Puyehue estão causando na Argentina impulsiona a mineração no país. Após o
início da erupção, em 4 de junho, que ainda lança resíduos na atmosfera, o
turismo em regiões como Bariloche, Villa La Angostura e Esquel foi severamente
afetado e houve perdas em atividades agropecuárias. Na última semana de
dezembro, a Assembleia Legislativa da Província de Rio Negro liberou a
exploração mineral de metais a céu aberto, que é viável com uso de produtos
como mercúrio e cianureto, proibidos desde 2005.
A liberação da mineração foi uma das promessas do
peronista Carlos Soria em sua campanha vitoriosa para o governo da província,
em outubro do ano passado. Soria alegou que as cinzas obrigavam a província a
mudar a sua vocação econômica. A sanção da lei deveria ocorrer nesta semana,
mas um imprevisto a suspendeu momentaneamente: o governador foi assassinado por
sua mulher na noite de Ano-Novo, após uma discussão por ciúmes. O novo governador,
Alberto Weretilnek, garantiu que promulgará a nova lei.
A sanção deverá reativar projetos que estavam
paralisados, como o de Calcatreu, onde a canadense Pan American Silver planeja
movimentar 8 milhões de toneladas anuais de terreno para a extração de prata e
ouro. Organizações não governamentais, como o Centro de Estudos Legais e
Sociais (CELS), alegam que a liberação da mineração a céu aberto poderá
comprometer os recursos hídricos da região, formados sobretudo por águas das
geleiras, além do risco de contaminação de lençóis freáticos. A própria
entidade admite, entretanto, que a necessidade de se criar uma alternativa
econômica após a erupção é a principal motivação da lei.
O setor minerador festeja a mudança não pelo
potencial minerador de Rio Negro, que é pequeno, mas pelo efeito de contágio
que a inovação poderá ter. " Essa lei é interessante pelo que pode
proporcionar nas outras províncias. O vulcão abriu os olhos dos governantes
para que não ficassem à míngua", disse Hugo Nielsen, secretário-geral do
Organismo Latino-Americano de Mineração (Olam), um centro de informações
mantido por mineradoras.
Na Argentina, as províncias contam com ampla
liberdade para impor restrições ambientais à atividade mineradora e a
exploração mineral a céu aberto está bloqueada em oito unidades federativas:
além de Rio Negro, existe veto também na Terra do Fogo, Chubut e La Pampa, na
região da Patagônia; e em Tucumán, Córdoba, Mendoza e San Luis, fora dessa
região.
O potencial minerador da Argentina não é pequeno: o
país conta com 7,3% das reservas conhecidas de cobre do mundo; 7,2% das
reservas de prata, 6,5% das de lítio e 3,8% das de ouro, segundo dados da
Câmara Argentina de Empresas Mineradoras (Caem). O modelo de mineração a céu
aberto é amplamente predominante no setor. Nos Estados Unidos, 32 das 35
maiores minas seguem esse padrão.
Ainda não existe uma quantificação dos prejuízos
provocados pelo Puyehue. Na área de turismo, as perdas foram estimadas em US$
150 milhões no segundo semestre de 2011, entre cancelamentos de voos e de
pacotes turísticos. Na ovinocultura, cerca de 500 mil ovelhas morreram de
inanição pela inutilização dos pastos apenas nos primeiros 15 dias de depósito
de cinzas. Estima-se que o rebanho possa ter tido uma redução de 2 milhões de
cabeças, o que equivaleria a uma perda aproximada de US$ 80 milhões. Não há
dados conhecidos sobre os prejuízos na fruticultura, outra forte atividade da
região.
Companhias preparam aumento de preços
Por Daniele Madureira | De São Paulo
Mais de 40% das fabricantes e varejistas de
alimentos e bebidas pretendem aumentar os preços dos seus produtos este ano.
Nos demais setores, essa expectativa atinge um número menor de empresas, 29%.
Os dados pertencem à pesquisa International Business Report (IBR), da
consultoria Grant Thornton, realizada com 513 companhias do setor de alimentos
e bebidas, em 39 países no ano passado. Considerando os cinco setores
analisados no levantamento global (alimentos e bebidas, manufatura, varejo,
imobiliário e serviços), 11 mil empresas integraram o estudo, que entrevistou
os principais executivos das companhias que têm entre 50 e 500 funcionários.
O Valor teve acesso à pesquisa sobre o setor de
alimentos e bebidas, da qual participaram 40 brasileiras. Nesse mercado, apenas
12% das empresas esperavam aumentar os preços em 2011, número que saltou para
41% este ano. "As companhias sentem a pressão inflacionária, que parte
principalmente das commodities agrícolas, e sabem que não vão mais absorver o
aumento de custos", diz Javier Martinez, diretor do IBR na América Latina.
O reajuste de preços faz com que 62% das empresas
de alimentos e bebidas esperem faturar mais este ano que no ano passado. No
entanto, apenas 40% delas acreditam que vão registrar também um lucro maior nos
próximos meses. "Isso significa que os empresários estão preparados para
ver sua margem diminuir no curto prazo", afirma Martinez. "Por conta
da concorrência, as fabricantes e varejistas não vão repassar todo o aumento de
preços que deveriam, para compensar a pressão inflacionária que vem das
commodities e dos reajustes salariais", diz o consultor.
A busca por ganhos de produtividade e corte de
custos se torna fundamental em um momento de margens apertadas. Mas essa não é
a única saída estudada pelas empresas de alimentos e bebidas. Em um cenário de
desaceleração das vendas, é crescente a tendência de fusões e aquisições no
setor, aponta o levantamento. Entre as 513 companhias entrevistadas, 17%
indicaram as operações de fusões e aquisições como prioridade para os próximos
meses. Segundo Martinez, esse movimento tende a ser expressivo no Brasil.
"Entre os países emergentes, o Brasil é o que
chama mais a atenção das multinacionais no setor de alimentos e bebidas.
Existem diversas operações de "due diligence" em andamento".
Segundo o consultor, uma delas, encabeçada pela Grant Thornton, envolve uma fabricante
de bebida alcóolica.
Entre as tendências que serão perseguidas pelos
empresários do setor nos próximos meses, estão desde produtos prontos, mais
baratos e de marca própria, até alimentos mais saudáveis, cuja produção envolva
práticas responsáveis social e ecologicamente. "Os produtos de apelo
saudável, que costumam ser mais caros, são naturalmente voltados para as
classes A e B", comenta Martinez, a respeito da tendência mais citada
pelos entrevistados.
Só nos Estados Unidos, as vendas de comida e bebida
orgânicas saltaram de US$ 1 bilhão em 1990 para US$ 26,7 bilhões em 2010,
segundo o estudo da Grant Thornton, citando dados da Organic Trade Association.
Mesmo em 2010, quando a economia americana já estava em recessão, a venda de
produtos orgânicos subiu 7,7% sobre 2009. O próprio relatório lembra, no
entanto, que poucos mercados no mundo são tão desenvolvidos na venda de
orgânicos quanto os EUA.
O maior número de pessoas optando por comer em casa
- seja pelo prazer de cozinhar, ou simplesmente, para cortar gastos com
restaurantes - também é um dos comportamentos observados pelo setor com
atenção.
Outra tendência na mira dos empresários está nos
consumidores em viagem dentro do país. "Há muitos postos de combustível
abrindo às margens das rodovias, o que pode gerar uma oportunidade de negócio
interessante para os fabricantes de alimentos e bebidas", diz Martinez.
O retorno das comidas congeladas, que foram um
sucesso nos anos 80 e 90, é mais um movimento que chama a atenção, por conta da
praticidade e ganho de tempo para o consumidor. A diferença agora é que elas
precisam ser mais elaboradas e custar menos.
Fundo de pensão da CSN constrói shopping
Por Paola de Moura | Do Rio
Com o objetivo de obter rendimentos maiores que as
atuais taxas de juros pagas no país, o CBS Previdência, fundo de pensão dos
funcionários da CSN, investirá cerca R$ 150 milhões na construção de um
shopping de 36 mil metros de área bruta locável (ABL) em Volta Redonda. O
fundo, que possui patrimônio de R$ 4,35 bilhões, quer aumentar o capital
investido em imóveis. Hoje, apenas 3% de seus recursos estão aplicados no setor
imobiliário, mas a instituição planeja chegar a 8% (limite previsto por lei)
até 2013 com vários investimentos.
"Com a queda da taxa de juros, estamos
diversificando o investimento para o setor imobiliário. E como temos
"expertise" na área, resolvemos desenvolver outro empreendimento",
conta Ricardo Esch, diretor do CBS. O fundo já é dono de um shopping na cidade
de 12 mil metros de ABL: o Sider Shopping, no bairro de Santa Cecília. "É
um empreendimento na área mais nobre de Volta Redonda. Temos vacância zero e
inadimplência zero", explica o diretor, acrescentando que as vendas no
shopping cresceram 16% em 2011.
O novo shopping será financiado, desenvolvido e
administrado pela caixa de previdência. Esch afirma que a experiência no
primeiro empreendimento o permitirá tocar um negócio maior. "Já temos mais
de 100 lojas cadastradas querendo estar no novo shopping", revela.
O empreendimento ficará numa nova região que está
se desenvolvendo na cidade, próximo ao Aeroclube. O terreno, de 49,5 mil metros
quadrados, pertence à CSN e está sendo negociado com o fundo. "Ele faz
parte de uma gleba que a siderúrgica possui na região, de 700 mil metros
quadrados". Lá a instituição também planeja construir prédios comerciais e
residenciais.
O projeto inicial previa um gasto de R$ 200
milhões, mas, segundo Esch, com uma planta de apenas um piso, será possível
economizar em torno de R$ 50 milhões. O shopping começa a ser construído no
final do primeiro trimestre de 2012 e tem previsão de inauguração no final de
2013.
O novo empreendimento, que deve ser batizado de
Volta Redonda Shopping, terá 129 lojas, seis salas de cinema e vagas para 2.200
veículos. "Teremos um hipermercado e uma loja de bricolagem, que falta
aqui na região". Além disso, será possível expandi-lo para uma área de até
46 mil metros quadrados de ABL. O público alvo será o B, C e D. O shopping
antigo será reformado para priorizar as classes AB. "Nós teremos um plano
de negócios único dos dois shoppings para evitar que eles concorram entre
si", explica Esch.
O diretor não se diz preocupado com as previsões de
que a economia e o consumo no Brasil arrefecerão nos próximos anos.
"Fizemos uma pesquisa. Teremos o maior shopping da região que atingirá não
só Volta Redonda, mas todo o Sul Fluminense. São seis ou sete cidades
desenvolvidas com polos industriais fortes como Resende e Barra Mansa",
explica. Esch já negocia também com âncoras como Riachuelo, Renner, C&A e
Leader.
Atualmente, o fundo paga benefícios a 15 mil
aposentados e tem 30 mil contribuintes. Na carteira de investimentos 88% das
aplicações estão em renda fixa e 6% em renda variável, além de R$ 120 milhões
em empréstimos concedidos aos participantes dos fundos. Segundo Esch, as
aplicações de renda fixa de 2011 renderam 118% do CDI. "Ainda não fechamos
o rendimento da renda variável. Mas, no ano passado, não fizemos muitas
manobras nestas aplicações porque não quisemos arriscar com a volatilidade da
bolsa".
O CBS também planeja construir um hotel em
Congonhas do Campo, Minas Gerais, região onde a CSN possui a mina Casa de
Pedra. "Há uma demanda grande da própria companhia e de seus terceirizados
e não há hospedagem boa na região". O projeto já foi aprovado e deve ser
iniciado este ano.
Multinacional Clariant fecha contrato com OGX
Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo
A multinacional suíça Clariant fechou contrato com
a brasileira OGX para fornecer todo pacote de tratamento químico e de serviço
para uma das plataformas de exploração de petróleo da empresa. O valor do
negócio não foi divulgado, mas o Valor apurou que um contrato dessa magnitude é
avaliado em cerca de US$ 2 milhões.
A Clariant vai fornecer um pacote completo de
produtos químicos para o FPSO OSX-1 (Floating Production Storage and
Offloading). Essa unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência
da OSX, que será afretada à OGX (ambas companhias do grupo EBX), vai produzir o
primeiro óleo da petroleira. A múlti suíça já presta o mesmo tipo de serviço
para Petrobras.
Segundo Carlos Tooge, vice-presidente de óleo e
mineração da Clariant para América Latina, o Brasil representa atualmente cerca
de 10% do faturamento global da companhia, em torno de 7,1 bilhões de francos
suíços (US$ 7,6 bilhões). A América Latina fica com uma fatia de 18% do total.
"Também estamos ampliando nossa capacidade de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) no Brasil."
A companhia possui no Brasil um centro de pesquisas
voltado para as necessidades do pré-sal. Neste laboratório são desenvolvidos
produtos para aperfeiçoar a logística de suprimento às áreas mais distantes de
exploração e produção de petróleo; químicos que combinam desemulsificantes
(usados para separar o óleo da água) e sequestrantes de H2S, um contaminante
encontrado em teores mais altos no pré-sal brasileiro; desemulsificantes,
inibidores de parafinas e inibidores de incrustação por sais. A Clariant já
possui unidades de pesquisa instaladas em Macaé (RJ) e Suzano (SP).
Em Belo Horizonte (MG), a empresa deverá implantar
um centro de pesquisa voltado para mineração. A Clariant pretende aprimorar o
atendimento às demandas do polo de mineração, especialmente de minério de
ferro. A companhia produz 100% das soluções químicas para a mineração no
Brasil, a partir de seu centro de Suzano (SP). A empresa acompanhou a primeira
unidade de flotação de minério de ferro no país. Por esse motivo, vem
investindo na fabricação de reagentes e soluções químicas para o
desenvolvimento de tecnologias para mineração. "Esse centro vai exportar
tecnologia para o resto do mundo", afirmou.
Fundada em 1997, como resultado da fusão entre os
ativos químicos da Sandoz e Hoechst no mundo, a fabricante de especialidades
químicas Clariant atua em diversas áreas, como produção de aditivos para
plastificantes, detergentes, de emulsões (resinas para adesivos e tinturas), de
matérias-primas química para personal care, além de atuar nos setores de
mineração e óleo. "O nosso conteúdo é 95% local para as áreas de petróleo
e gás e mineração", disse Tooge.
No Brasil, possui três unidades - uma em Suzano
(SP) e outras no Rio, em Duque de Caxias e Rezende. "A fábrica de Suzano é
a segunda maior do grupo no mundo, atrás da de Frankfurt", disse.
Caminhão deve frear avanço de vendas
Por De São Paulo
Prejudicada por uma aguardada contração nas vendas
de caminhões, o mercado de máquinas e equipamentos usados no setor de
construção e obras de infraestrutura deverá crescer apenas 5% neste ano,
marcando uma forte desaceleração em relação à expansão de 18% registrada em
2011.
A estimativa foi feita pela Sobratema, associação
que faz o levantamento dos dados sobre esse mercado e que prevê vendas de 88,56
mil equipamentos de construção neste ano.
O desempenho deverá ser comprometido pela retração
de 38% nas vendas de caminhões fora-de-estrada, refletindo um arrefecimento do
mercado após a forte antecipação de compras feita pelos consumidores em 2011,
diante da perspectiva de aumento nos preços de veículos pesados com as mudanças
de motor necessárias para a adoção, a partir deste ano, da nova legislação de
emissões de poluentes.
Nos demais equipamentos, contudo, a expectativa é
de crescimento para a maioria deles. Para as máquinas da chamada linha amarela
da indústria de bens de capital - como retroescavadeiras, pás carregadeiras,
tratores de esteira e motoniveladoras -, espera-se um crescimento de 10% em
2012. Principal item nesse segmento, o volume de retroescavadeiras deve subir
10%, chegando a 8,95 mil unidades. As importações respondem por 29% das vendas
na linha amarela.
O Brasil tem hoje uma frota de aproximadamente 285
mil máquinas utilizadas em obras de infraestrutura, sendo a maior parte delas -
56% - em operação na região Sudeste. (EL)
Chineses crescem em todas as áreas do setor no Brasil
Por Josette Goulart | De São Paulo
As sucessivas crises econômicas, que desde 2008
levaram os chineses a aproveitar as liquidações de empresas mundo afora,
começam a ter reflexo mais robusto na composição acionária das elétricas
brasileiras. Os chineses hoje já são sócios indiretos de três grandes
distribuidoras de energia no Brasil (Eletropaulo, Bandeirante e Escelsa), que
juntas detém 16% do mercado brasileiro de distribuição, e das geradoras da AES
Tietê e da EDP, com capacidade de gerar, juntas, mais de quatro mil megawatts
(MW) de energia. Além disso, são donos da concessão de mais de seis mil
quilômetros de linhas de transmissão e dez subestações.
A investida dos chineses no mercado brasileiro tem
sido acompanhada com atenção pelo governo brasileiro. Fontes do alto escalão
dizem que um dos mecanismos usados é tentar manter sócios estratégicos em
negócios nos quais os chineses tenham participação, usando o BNDESPar, o fundo
de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) ou mesmo a Eletrobras.
Mas essa é uma estratégia limitada. Em transmissão, por exemplo, o governo
chinês, por meio da State Grid, é dono de uma empresa no Brasil e tem
pretensões de disputar leilões importantes de linhas de transmissão, como a que
vai ligar a usina de Belo Monte ao Sudeste do país.
O setor de transmissão é, por enquanto, o que mais
tem recebido a atenção do governo, já que é a única área do setor elétrico em
que os chineses entraram diretamente no país. Eles desembolsaram R$ 3,5 bilhões
para comprar as linhas de transmissão que pertenciam a um grupo de empresas
espanholas. O governo chegou a acelerar o pagamento das dívidas que a Plena
Transmissoras tinha com o BNDES, elevando o custo da compra em R$ 1 bilhão, mas
mesmo assim os chineses bancaram a entrada no país. A alta capitalização dos
chineses é o que mais assusta. "Eles colocaram oito bilhões de euros no
negócio da EDP", disse importante fonte do governo. "Nós não temos
esse dinheiro para competir".
A referência é feita em função da disputa recente
em que a Eletrobras tentou comprar 21,35% do capital da EDP que estava nas mãos
do governo português e perdeu para os chineses. A estatal brasileira fez uma
oferta de € 2,5 bilhões, muito próxima dos € 2,7 bilhões oferecidos pelos
chineses. O problema é que a China ainda se comprometeu a dar liquidez à
companhia e a instalar uma série de fábricas em Portugal, que foi uma proposta
imbatível em relação à feita pela estatal brasileira.
A companhia portuguesa tem nos ativos brasileiros
um dos principais geradores de caixa. As distribuidoras Bandeirante Energia
(SP) e Escelsa (ES), junto com as geradoras do grupo no Brasil, respondem por
20% da capacidade de geração de caixa medida pelo Ebtida (sigla em inglês do
lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa no
mundo. O capital é bastante pulverizado e, no curto prazo, os chineses não
podem se associar a outros acionistas para deter o controle de fato. Poderão
fazê-lo em quatro anos. "Os chineses não têm pressa", diz uma fonte
ligada à Eletrobras. "Mas daqui a pouco eles podem ser acionistas
controladores de importantes distribuidoras no Brasil".
Em distribuição, único negócio em que o governo
brasileiro ainda se sente blindado, é o caso da AES. Os fundos soberanos
chineses são donos de 15% da companhia nos Estados Unidos, participação
adquirida em 2009. Mas no Brasil, onde a AES é dona da Eletropaulo e da Tietê,
a empresa é sócia do BNDESPar. De qualquer forma, a entrada dos chineses já
atrapalhou os negócios pretendidos pelo governo brasileiro. A ideia era o BNDES
se desfazer de sua participação na Eletropaulo em favor da CPFL Energia, que
tem a Camargo Corrêa e a Previ como sócias. Mas desde que os chineses
capitalizaram a companhia americana, o negócio travou. Além disso, a AES tem
reafirmado seu interesse em exercer o direito de preferência caso o BNDES saia
da companhia.
Chineses e russos são candidatos aos ativos de óleo e gás
da Vale
Por Cláudia Schüffner e Vera Saavedra Durão | Do Rio
A Vale ainda não definiu sua estratégia de venda
dos ativos de óleo e gás, e o mercado já dá como certa a participação de
empresas chinesas e russas na disputa. As chinesas Sinopec e Sinochem e a
anglo-russa TNK-BP já deram mostras de seu interesse ao se tornarem sócias da
Repsol, Galp, Statoil e de HRT no Brasil. No momento, informa uma fonte, a Vale
está aprofundando seu conhecimento sobre o resultado exploratório dos blocos
que compõe seu portfólio antes de formalizar sua decisão de vender esses
ativos.
Fontes do mercado a par dos planos da mineradora
dizem que ainda não há clareza sobre como será conduzida a venda dessas
participações. A empresa ainda estaria com dúvida sobre a melhor maneira de
turbinar os ganhos e por isso não sabe se venderá todos os ativos reunidos na
Vale Exploração e Produção de Gás Natural (ligada à diretoria de Energia), ou
se serão oferecidos separadamente. Qualquer que seja o modelo, a decisão não
surpreendeu o mercado, para quem a companhia estava diversificando demais seu
foco de atuação.
"Certamente é um ajuste importante em relação
ao que o Roger imaginava para ultrapassar a BHP-Billiton, que é maior do que a
Vale por conta do óleo e gás", diz um observador, em referência ao ex-presidente
da Vale, Roger Agnelli.
A mineradora não informa quanto custou até agora
sua investida na área de exploração de gás, seu principal foco. Esse valor será
levado em conta quando ela precificar as áreas durante o processo de oferta.
Por ora, só é possível saber alguns valores passados, mencionados por Agnelli,
durante entrevista na Petrobras em 2009. Ao anunciar a aquisição, pela Vale, de
participação acionária em três blocos da estatal, Agnelli mencionou que o
orçamento da Vale para explorar gás tinha sido de US$ 60 milhões em 2008, cifra
que poderia chegar a US$ 260 milhões naquele ano (2009). A estratégia da
empresa era a de produzir gás para consumo próprio e geração de energia
termelétrica, reduzindo custo do insumo e, consequentemente, seus custos. Pelos
balanços da companhia não é possível saber se Agnelli teve sucesso em reduzir
custos, já que eles não discriminam investimentos em óleo e gás, publicados na
rubrica energia, que inclui investimentos em geração.
A Vale entrou no segmento de óleo e gás em 2007, na
9ª rodada, visando exploração de gás para consumo próprio em suas instalações
industriais e para geração de energia elétrica. Chegou a ter participação
acionária em 29 blocos exploratórios e hoje é concessionária de 18 áreas.
Em 2008, a companhia pagou R$ 15 milhões pela
Petroleum Geoscience Technology (PGT), empresa brasileira que nasceu na
incubadora da Coppe/UFRJ para análise e interpretação de dados de bacias
petrolíferas e se tornou a semente da Vale Exploração. Posteriormente, adquiriu
participações em áreas já em estágio avançado de exploração por outras
petroleiras, como o BM-S-4, da italiana Eni Oil do Brasil na bacia de Santos,
no fez um "farm-in" comprando 50%. Esse bloco foi adquirido na 1ª
Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 1999, parecia
uma grande promessa para produção de gás mas ele foi devolvido à agência em
maio de 2010.
O baixo resultado da estratégia da Vale no setor
tem sido notado. Alguns avaliadores acreditam que a empresa se cercou de pessoas
sem grande histórico no setor. A companhia informa cinco descobertas de gás nas
bacias de Santos e Espírito Santo nas áreas onde é sócia, resultado da
perfuração de 14 poços. Mas não é possível determinar reservas.
Nesse negócio, é sócia da Shell, Petrobras, BP,
Ecopetrol e Woodside. Não é operadora de nenhum bloco. As últimas aquisições
foram as participações acionárias de 12,5% no BM-S-48 e BM-S-55, operados pela
RepsolSinopec. Enquanto o mercado menciona chances de o BM-S-55 estar prestes a
ser devolvido, no BM-S-48 foram descobertos os reservatórios de Vampira e
Panoramix na bacia de Santos. Por isso, o valor dos ativos de óleo e gás que
serão oferecidos ao mercado ainda depende de avaliação.
A guinada da Vale para fora do setor de óleo e gás
pode ser explicada pela necessidade de fortalecer seu caixa para tocar
investimentos pesados em projetos de mineração, prioridade da sua atuação.
Somente o projeto Serra Sul, no sul do Pará, na província mineral de Carajás,
que deverá ter licença prévia neste trimestre, é um investimento de US$ 8
bilhões para produzir 90 milhões de toneladas de minério de ferro a partir de
2016. Uma ampliação adicional de Carajás vai custar US$ 2,9 bilhões. A
ampliação do projeto de carvão de Moatize, em Moçambique, vai exigir mais US$ 2
bilhões, conforme dados da companhia.
Para a Vale, o momento é bom para vender blocos de
petróleo, considerando a escassez de novas áreas em oferta no país, após quatro
anos sem oferta de áreas marítimas pela ANP. A mineradora deve competir por
compradores com a Anadarko. A companhia independente americana já pôs à venda
áreas com descobertas no pré e no pós-sal, como Wahoo, Itaúna e Itaipu, na
bacia de Campos.
FINANÇAS
Real ganha 45% em 7 anos, ante moedas de parceiros
comerciais, diz BIS
Por Assis Moreira | De Genebra
O real brasileiro se valorizou cerca de 45% entre
2005 e 2011 em relação às moedas dos principais parceiros comerciais e teve a
segunda maior alta globalmente no período, segundo as conclusões do Banco
Internações de Compensações (BIS), banco dos bancos centrais.
Para o BIS, isso ocorreu mesmo sem a moeda
brasileira ter se valorizado em termos reais em 2011, pela nova base de cálculo
que o banco passou a adotar no seu índice de taxa de câmbio efetiva real (EER,
na sigla em inglês).
O EER representa a média cambial da moeda de um país
relativa a uma cesta de outras moedas ajustadas pelo preço ao consumidor. Se o
ranking da moeda está abaixo de cem significa que está desvalorizada e tem
espaço para se apreciar.
Agora, o BIS mudou o ano base, de 2005 para 2010,
para "refletir mudanças no comércio mundial". Significa, por exemplo,
que a fatia da China no comércio global aumentou enormemente nos últimos anos.
E como resultado, para um bom número de países, incluindo o Brasil, a China
tornou-se o principal parceiro comercial e o impacto de sua moeda também
aumentou.
Para calcular o peso da taxa de câmbio real da
moeda brasileira, o banco leva em conta a participação da China, EUA,
Argentina, zona do euro e outros parceiros no comércio brasileiro
(matérias-primas não são incluídos no cálculo), além de um fator que reflete a
concorrência em outros mercados nos quais os dois países são exportadores (por
exemplo, Brasil e China competindo no mercado americano).
Assim, o peso da China no cálculo da taxa real de
câmbio da moeda brasileira passou de 2,8 sobre 100 no período entre 1999 e
2001; para 9,7 em 2005-2007; e 14,3 em 2008-2010. No caso dos EUA, o peso
declinou de 31,2 para 23,4 e, agora, para 18,9. E da zona do euro, de 24,5 para
próximo de 21 desde 2005. E ficou estável no caso da Argentina, em torno de 10.
Agora, como o enfoque do BIS é só a partir do novo
ano-base 2010, ele conclui que a moeda brasileira não valorizou desde então,
tendo a mesma taxa em termos reais como em 2010. Já o bolívar fuerte da
Venezuela continua em primeiro lugar entre 61 economias, com valorização de
26,33% desde 2010.
Por sua vez, o yuan chinês se valorizou 6,5% em
termos reais no período. O dólar perdeu 3,2% e o euro, 1%.
Em comparação, na base anterior, em que 2005 era
igual a 100, o BIS mostrava portanto num mais longo periodo que, por exemplo,
em outubro de 2011 o real brasileiro tinha perdido o posto da divisa que mais
tinha se valorizado, superado pelo bolivar fuerte da Venezuela, entre as 58
maiores economias do mundo.
Em julho, a taxa de câmbio efetiva real era de
160,1 por unidade do real, ou seja, valorização de 60,1%, e caiu para 145,59 em
outubro. Já o bolívar fuerte tinha taxa de 139,6 em julho e passou para 151,66
em outubro. O yuan chinês estava valorizado na série histórica, de 120,56 em
julho para 126,42 em outubro, o dólar americano e o euro se desvalorizaram.
O indice do BIS é acompanhado atentamente no
mercado, inclusive nas negociações internacionais, onde o Brasil foi o primeiro
a levantar o problema de guerra de divisas. Dependendo da base que se usa, cada
um tem argumentos para defender seus interesses.
Pernambuco quer reduzir custo de crédito a servidor
Por Murillo Camarotto | Do Recife
Por meio de uma licitação que contou com cinco
concorrentes, o governo de Pernambuco contratou no mês passado a Fácil Soluções
Tecnológicas, com sede em João Pessoa (PB), para gerenciar a margem consignável
da folha de pagamento dos servidores estaduais. A empresa vai cuidar para que
os empréstimos tomados por funcionários públicos, aposentados e pensionistas
não ultrapassem os limites prudenciais estabelecidos. Entretanto, mais do que o
simples monitoramento das operações, o governo espera que um novo modelo de
regulação do consignado possibilite a redução dos juros cobrados.
Até novembro, o controle da margem consignável dos
servidores pernambucanos era feito como na maioria dos Estados brasileiros,
mediante aquisição dos direitos de uso de um software específico para este fim.
As empresas detentoras dos programas cobram dos bancos credenciados pelos
governos uma taxa fixa para cada contrato de consignado incluído no banco de
dados. Na licitação promovida em Pernambuco, um dos parâmetros estabelecidos foi
o da menor tarifa. Venceu a proposta da empresa paraibana, de R$ 0,41 por
contrato.
"Tínhamos informação de que o valor médio
praticado girava em torno de R$ 1, até mais do que isso. Se você pensar em um
universo de 220 mil servidores e 145 mil contratos, essa queda no preço pode
representar uma redução no juro cobrado", prevê Ricardo Dantas, secretário
estadual de Administração. O governo pernambucano estabeleceu com os bancos um
teto de 2,5% ao mês para os juros do empréstimo consignado, mas o secretário
acredita que a taxa média em 2012 vá ficar abaixo dos 2%.
Além da tarifa menor por contrato incluído no
sistema, a licitação exigiu o uso de um ranking para definir quem poderá vender
os empréstimos em determinado período. Pelo modelo acordado, a empresa
administradora do consignado fará um monitoramento diário dos juros praticados
pelos 16 bancos credenciados atualmente pelo governo. "Somente os dez mais
baratos poderão vender consignado naquele dia", explicou Dantas.
"Esperamos que isso estimule a concorrência entre as instituições e também
ajude a derrubar o juro", completou.
Vencedora da licitação, a Fácil Soluções terá que
montar estruturas de atendimento aos servidores no Recife e em nove municípios
do interior. Também será obrigada a oferecer canais de relacionamento por
telefone e pela internet. Curiosamente, também está entre as atribuições da
empresa orientar os servidores para o uso consciente do crédito, situação
inusitada diante do fato de ser ela a grande interessada na expansão das vendas
de consignado.
Terceirizando o atendimento, o governo passa
adiante uma atividade que vinha lhe causando dores de cabeça: administrar as
muitas divergências entre servidores e bancos, especialmente em casos de
cancelamentos e refinanciamentos dos empréstimos. "Esse tipo de problema
acabava ficando a cargo das áreas de Recursos Humanos do governo, que não
dispõem de pessoal qualificado para essa função, gerando ônus para o
Estado", admitiu o secretário de Administração.
Ele acredita, no entanto, que a regulação, pelo
Estado, de uma relação privada entre tomador e banco é positiva em se tratando
de funcionalismo público, ainda mais em tempos de aperto fiscal e reajustes
salariais enxutos. "O juro menor acaba sendo um benefício a mais",
acredita Dantas, que também vê na escala outro atrativo do setor. "Que
empresa privada tem a oferecer uma base de 220 mil funcionários para os
bancos?", indagou o secretário.
Atualmente, os servidores pernambucanos podem
comprometer até 30% do salário com o pagamento de empréstimos consignados e
outros 10% com gastos no cartão de crédito. Os juros máximos são de 2,5% e 4,5%
ao mês, respectivamente. O prazo para pagamento foi elevado recentemente de 36
para 60 meses.
INVESTIMENTO
Com juro menor, investidor será empurrado para risco
Daniele Camba e Luciana Monteiro | De São Paulo
Os fundos de ações não passaram ilesos pela queda
de 18,11% do Índice Bovespa em 2011. Segundo dados da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), essas carteiras
registraram resgates de R$ 1,399 bilhão no ano passado. Com a queda da bolsa, o
aumento da taxa de juros em uma parte de 2011 e a crise europeia, o investidor
fugiu de aplicações de maior risco, buscando portos mais seguros como as
carteiras de renda fixa.
A expectativa dos gestores para este ano é que o
investidor busque alternativas mais arriscadas, empurrado, inclusive, pela
queda de retorno nas aplicações de renda fixa, com o corte da taxa Selic. Mas
essa migração para os fundos de ações e os multimercados não se dará do dia
para a noite.
"É preciso que haja uma definição na crise
europeia, para o bem ou para o mal, porque o pior cenário é o de
indefinição", diz o sócio da GAP Asset Management José Eduardo Louzada de
Araujo. Os fundos multimercados, por exemplo, conseguem ganhar mesmo com a
queda do mercado, contanto que haja uma direção clara, lembra Louzada.
Os gestores acreditam que a busca por fundos de
maior risco deve começar a ganhar força a partir do segundo semestre.
"Neste começo de ano ainda não vejo dinheiro novo para essas aplicações; o
investidor está no momento "vamos esperar para ver"", define
Louzada.
O primeiro trimestre deve ser o mais crítico em
termos de aversão ao risco. A partir do segundo trimestre, com a percepção de
que a inflação no Brasil e na Ásia está sob controle e de que essas economias
estão crescendo, deve começar um movimento gradativo em direção ao risco, diz
um gestor de recursos. Ele acredita que o melhor momento para entrar nesses
fundos, portanto, seja o fim do primeiro trimestre.
Para o principal executivo da HSBC Global Asset
Management, Pedro Bastos, o primeiro semestre deve ser um espelho de 2011, com
muita volatilidade e cautela. Já na segunda metade do ano, a preocupação com o
menor crescimento da China deve se reduzir, assim como o cenário nos EUA e
Europa ficar um pouco mais claro. "Aí, diante de juros mais baixos, o
investidor pode começar a olhar para ações", afirma.
Apesar de o investidor ter buscado em 2011 refúgio
na bolsa em ações de empresas boas pagadoras de dividendos - o que trouxe forte
valorização para os papéis do setor de energia, por exemplo -, os fundos de
dividendos encerraram o ano passado com retorno modesto. Segundo dados da
Anbima, o ganho médio foi de 3,79%.
De acordo com Carlos Massaru Takahashi, presidente
da BB DTVM, papéis de outros segmentos bons pagadores de dividendos - que
normalmente compõem uma parcela importante do portfólio - caíram no ano
passado. As ações de bancos, por exemplo, sofreram bastante em 2011 com a fuga
dos investidores estrangeiros, que temiam um contágio da crise europeia em todo
o setor financeiro local. Muitos gestores colocam também uma parcela pequena em
ações de Petrobras e Vale, que se desvalorizaram, lembra Takahashi.
AGRONEGÓCIOS
Perda agrícola com seca soma quase R$ 1 bi no RS e em SC
Sérgio Ruck Bueno e Júlia Pitthan | De Porto Alegre e
Florianópolis
A estiagem provocada pelo fenômeno climático La
Niña já provocou perdas agrícolas de cerca de R$ 500 milhões no Rio Grande do
Sul e de R$ 400 milhões em Santa Catarina, conforme estimativas divulgadas
ontem pelos governos estaduais. Nos dois Estados, as lavouras mais prejudicadas
são milho e feijão. Ainda sem cálculos oficiais sobre perdas, o Paraná também
vê as condições de suas plantações de grãos se deteriorarem com a falta de
chuvas.
No Brasil, os problemas causados pelo La Niña estão
concentrados no Sul e também pairam sobre os campos de soja. As previsões
meteorológicas atuais indicam que as demais regiões do país não deverão ser
afetadas de forma significativa. Na América do Sul, até agora a Argentina é o
país mais prejudicado, mas há perdas no Uruguai. Paraguai e Bolívia também
estão atentos ao fenômeno. A respeitada revista alemã "Oil World",
especializada em oleaginosas, já calculou que a produção de soja da América do
Sul será 3% menor que a prevista inicialmente em decorrência do clima adverso.
No Rio Grande do Sul, o governador em exercício,
Beto Grill, afirmou ontem que vai estudar a possibilidade de baixar um decreto
de situação de emergência em âmbito estadual, indicando os municípios atingidos
pela seca. A Emater-RS promete divulgar hoje um levantamento com números mais
detalhados sobre a quebra da safra de verão. No fim de dezembro, a entidade
admitiu que pelo menos metade da área plantada de milho no Estado, que totaliza
1,2 milhão de hectares, já apresentava algum grau de "perdas
irreversíveis" - em alguns casos, de até 40%.
Até agora, a previsão da Emater-RS é de
produtividade de 4,6 toneladas de milho por hectare e de uma safra total de 5,3
milhões de toneladas no Estado. Para o feijão, a estimativa é de colheita de
81,6 mil toneladas na 1ª safra, em 68,7 mil hectares.
A soja está com o plantio das lavouras praticamente
concluído e, por enquanto, não há previsão de quebra. Mas, na semana passada, a
Emater-RS informou que a falta de umidade já está prejudicando o
desenvolvimento das plantas. A produção estimada do grão nesta safra chega a
10,3 milhões de toneladas, em 4,1 milhões de hectares.
Conforme Grill, 42 municípios gaúchos já decretaram
situação de emergência e outros 24 enviaram notificações prévias à Defesa Civil
do Estado. O governador em exercício estima que pelo menos mais 110 prefeituras
seguirão esse rumo nos próximos dias e o recurso ao decreto estadual, sugerido
a ele pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pode acelerar
trâmites como a liberação de ajuda federal para as regiões atingidas e também o
acesso dos produtores ao seguro agrícola.
Em Santa Catarina, onde a falta de chuvas já levou
44 municípios a decretar situação de emergência, o extremo-oeste, na fronteira
com a Argentina, é o mais castigado. A região reúne municípios que tiveram quebra
de até 50% na safra de milho. Segundo Airton Spies, secretário em exercício da
Agricultura do Estado, as perdas podem se agravar se a previsão da meteorologia
se confirmar e Santa Catarina voltar a receber apenas em março chuvas em
volumes adequados para a recuperação dos mananciais hídricos e reservatórios de
água. Se o quadro for confirmado, a Defesa Civil estima que 132 municípios
decretarão situação de emergência até o fim do verão.
As lavouras catarinense de milho são as mais
castigadas, já que é época de floração da planta. Segundo relatório da Empresa
de Pesquisa e Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a perda
na produção do grão é estimada em 8,5% até o momento. A projeção inicial era de
colheita de 3,84 milhões de toneladas, 6,4% mais que na safra 2010/11.
Considerando o preço médio de dezembro do ano passado, o prejuízo ficará em R$
129 milhões.
Segundo Spies, a soja não foi tão castigada no
Estado porque a cultura ainda não entrou em fase de floração. A estimativa da
Epagri é de que as perdas mais significativas ocorram no extremo oeste, onde a
quebra média da região ficará entre 10% e 15%. Santa Catarina estimava produzir
1,4 milhão de toneladas.
A produção de feijão e leite também sofreu
prejuízos com a seca. O relatório da Epagri avalia que a perda do grão até o
momento é de 4% na média do Estado em relação ao volume inicialmente esperado,
de 127,1 mil toneladas. No leite, o prejuízo é da ordem de 16%. A previsão de
volume de produção para novembro e dezembro era de 165 milhões de litros.
Segundo Spies, uma comitiva liderada pelo
governador em exercício, Eduardo Pinho Moreira (PMDB), deve visitar a região
oeste na sexta-feira. Entre as medidas previstas está a aceleração na liberação
de recursos do Proagro e convênio com as prefeituras para contratação de
caminhões para o abastecimento humano nas cidades. O governo prevê também a
liberação de financiamento, sementes e adubos para o plantio na safrinha, caso
a chuva retorne antes de 15 de fevereiro.
No Paraná, o La Niña, que se caracteriza pelo
resfriamento da água na região equatorial do Oceano Pacífico, também já
maltrata as lavouras. Depois do déficit hídrico de dezembro, as lavouras de
soja e milho estão, em geral, em piores condições do que em meados de dezembro.
La Niña na América do Sul valoriza grãos em Chicago
Fernando Lopes | De São Paulo
As adversidades provocadas pelo fenômeno La Niña às
lavouras de grãos da América do Sul, sobretudo na Argentina e no Brasil, vêm
oferecendo sustentação às cotações internacionais de commodities como milho,
soja e trigo desde meados de dezembro. Até então a trajetória era de baixa,
aprofundada a partir de setembro com a crise em países desenvolvidos e seus
reflexos sobre o comportamento da demanda, inclusive em emergentes, essas
commodities passaram a acumular ganhos desde então.
Na bolsa de Chicago, principal referência para o
comércio dos três produtos, que são as commodities agrícolas de maior liquidez,
do dia 12 de dezembro até ontem as valorizações dos contratos futuros de
segunda posição de entrega, normalmente os mais negociados, superam 10%, de
acordo com o Valor Data.
Ampliar imagem
Mesmo após a forte alta de terça-feira, a estiagem
em regiões produtoras sul-americanas voltou a motivar a alta da soja ontem em
Chicago. A segunda posição (março) subiu 2,50 centavos de dólar e fechou a US$
12,30. Com isso, o ganho acumulado desde 12 de dezembro chegou a 10,17%.
Traders consultados pela agência Dow Jones Newswires destacaram que o
fortalecimento do dólar em relação a outras moedas até limitaram a alta, mas
que o temor em relação a oferta prevaleceu.
Sobretudo nas bolsas americanas, o valor do dólar e
o preço das commodities costumam caminhar em direção opostas, até porque o
dólar fraco torna as exportações americanas mais competitivas.
No mercado de milho em Chicago, a tentação dos
investidores em realizar lucros foi mais forte ontem. Somado ao dólar mais
firme, os contratos de segunda posição (maio) caíram. Mas muito pouco, por
causa do La Niña. Os papéis fecharam a US$ 6,6675 por bushel, queda de 0,25
centavo de dólar, mas ainda assim acumulam ganho de 12,2% desde o dia 12 de
dezembro, conforme os cálculos do Valor Data.
Ainda que pouco afetado pelas adversidades
climáticas sul-americanas até agora, o trigo "pegou carona" com o
milho, já que ambos podem ser usados para alguns fins semelhantes, e também
subiu 12,1% de 12 de dezembro até ontem. A segunda posição (maio) fechou ontem
a US$ 6,68 por bushel, baixa de centavos de dólar.
LEGISLAÇÃO & TRIBUTOS
Companhias contestam autuações trabalhistas
Adriana Aguiar | De São Paulo
Algumas empresas com pendências trabalhistas têm
sido duplamente punidas pela mesma razão pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Por isso, companhias que
estavam cumprindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo MPT e
foram multadas por alguma Delegacia Regional do Trabalho (DRT) buscam uma
resposta do Judiciário para a questão.
A Justiça Trabalhista, porém, ainda não possui um
entendimento consolidado sobre a possibilidade de uma companhia que cumpre um
TAC ser autuada pelo auditor fiscal do trabalho pelo mesmo motivo.
No Tribunal Superior do Trabalho (TST) há apenas
uma decisão, do fim de 2010, que trata do tema. No caso analisado, o TST
manteve uma autuação da DRT, aplicada à fabricante de embalagens de vidro Owens
Illinois do Brasil. A companhia tinha fechado um TAC com o Ministério Público,
que estava em vigor. Ela havia obtido um prazo maior para cumprir a lei que
estabelece cotas para deficientes físicos. Ao analisar o caso, os ministros da
3ª Turma rejeitaram o recurso da companhia para anular a multa. De acordo com
eles, o TAC não interfere na atuação dos auditores fiscais do trabalho.
Os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs), no
entanto, têm decisões divergentes sobre a questão. Mas, em geral, o
entendimento tem sido pela anulação dessas multas.
Para o advogado da Owens, Antonio Carlos Aguiar, do
Peixoto e Cury Advogados, essa decisão do TST trouxe insegurança para as
companhias. "Se ela firmou um acordo com o Ministério Público, não poderia
ser autuada pela Delegacia Regional do Trabalho", argumenta. Aguiar afirma
que não recorreu da decisão porque a empresa preencheu as cotas nesse meio
tempo e desistiu da discussão.
Na avaliação do advogado Túlio de Oliveira Massoni,
do Amauri Mascaro Nascimento Advocacia Consultiva, decisões como a do TST
desestimulam as empresas a firmarem TACs. Isso porque não teriam a garantia de
que não sofreriam outras sanções. "A empresa já se dispôs a regularizar
sua situação e não deveria ser punida por isso novamente, ainda que em outra
esfera". Para ele, a grande vantagem de um Termo de Ajustamento de Conduta
é se evitar uma ação judicial sobre o tema. "Se a companhia não tem
segurança de que não será autuada, essa via acaba sendo desprestigiada".
Em um caso analisado em agosto deste ano pela 18ª
Turma do TRT de São Paulo, uma companhia conseguiu cancelou uma multa de mais
de R$ 115 mil por não cumprir a cota legal de deficientes físicos. A empresa
argumentou que não poderia ser punida duas vezes pela mesma razão. Ela havia
firmado um TAC em setembro de 2003, com validade de três anos. Em 2006, o
acordo foi renovado por mais três anos. Porém, em dezembro daquele ano, foi
autuada pelo Ministério do Trabalho. Segundo o processo, a empresa tinha 48.260
empregados e deveria ter contratado 2.413 deficientes físicos, mas só comprovou
a admissão de 373 trabalhadores nessas condições.
Para os desembargadores, apesar de o ajustamento de
conduta não suspender a atuação do Ministério do Trabalho no cumprimento de seu
papel de fiscalização e de serem órgãos distintos e independentes, eles
deveriam ter uma ação conjunta e integrada. "Para que esse valioso
instrumento de atuação que possui o Ministério Público do Trabalho, não seja
esvaziado pela atuação do Ministério do Trabalho e Emprego, na autuação direta
e imposição de multas", diz a decisão.
Já o TRT de Brasília manteve multa aplicada a um
supermercado que não alcançou o número mínimo de deficientes. Na decisão, o
tribunal entendeu que o auditor fiscal do trabalho, tem o dever de aplicar
multa administrativa às empresas não cumpridoras da legislação trabalhista e
que o TAC "não confere perdão ao infrator pelas irregularidades antes
praticadas".
Para a advogada Juliana Bracks Duarte, do Latgé,
Mathias, Bracks & Advogados Associados, há auditores fiscais que, ao serem
informados do TAC, desistem da autuação, mas isso não seria uma regra.
Procurada pelo Valor, o Ministério do Trabalho e
Emprego não retornou até o fechamento da reportagem.
Acordo entre órgãos evita punição por mesmo motivo
De São Paulo
Para evitar que as empresas sejam duplamente
punidas enquanto tentam se ajustar às leis trabalhistas, procuradores e
auditores do trabalho têm fechado uma espécie de "acordo de
cavalheiros". Se a companhia, por exemplo, tem um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público do Trabalho, em vigor, o auditor
fiscal, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) pode desistir de
autuar, pelo mesmo motivo, enquanto o TAC estiver valendo.
Segundo o procurador-geral do trabalho do
Ministério Público, Luís Antonio Camargo de Melo, tanto os procuradores quanto
os auditores fiscais têm absoluta independência para realizarem seus trabalhos,
pois são órgãos com atribuições diferentes. Ele afirma, porém, que como o
objetivo dos órgãos é próximo, no sentido de zelar pelo cumprimento das leis
trabalhistas, eles mantêm uma linha de aproximação, cooperação e parceira. Por
isso, de acordo com Camargo, a depender do procurador e do auditor fiscal do
trabalho, tem ocorrido essa espécie de "acordo de cavalheiros" para
que a empresa não seja duplamente punida pelo mesmo motivo.
No entanto, o procurador-geral ressalta que isso
está a critério de cada profissional, pois possuem independência de trabalho.
"O melhor caminho seria a atuação articulada e em parceria pelos dois
órgãos, mas nem sempre isso é possível", afirma. Até porque, segundo ele,
as instituições enfrentam problemas graves de estrutura que dificultam um
trabalho conjunto.
Na prática, a atuação conjunta já tem sido adotada.
Segundo a procuradora do trabalho do Ministério Público do Trabalho em São
Paulo, Adélia Augusto Domingos, o órgão paulista e os auditores do trabalho no
Estado chegaram à conclusão de que precisam ser mais racionais. "São Paulo
é tão grande que não vale a pena que todos foquem a mesma empresa".
De acordo com a procuradora, quando uma companhia
firma um TAC, os auditores fiscais do trabalho em São Paulo, em geral, não
punem pela mesma razão. Da mesma forma, ela diz que quando abre uma
investigação contra uma determinada empresa pelo não cumprimento de cotas de
deficientes, por exemplo, e a companhia já participa do Programa de Inclusão de
Deficientes do Ministério do Trabalho, ela deixa seu inquérito em suspenso, até
que haja uma definição sobre a situação da empresa.
Para a procuradora do Ministério Público do
Trabalho de Minas Gerais, Advane de Souza Moreira, apesar de os dois órgãos
terem atuação independente, não haveria motivo para eles atuarem contra a mesma
companhia se há um TAC em vigor, por uma questão de razoabilidade. Ela
ressalta, porém, que se o auditor fiscal ou o procurador não concordarem com os
termos do TAC firmado, nada impede que se prossiga com a investigação ou com a
autuação.
No Rio Grande do Sul, a procuradora chefe
substituta do Estado, Adriane Arnt Herbst, afirma que a relação entre os dois
órgãos tem sido a melhor possível. "Em geral, quando há TAC firmado, os
auditores fiscais do trabalho não têm autuado". Apenas em casos pontuais
os fiscais punem. Principalmente quando se trata de ajustes firmados com
relação ao não cumprimento de cotas de menores aprendizes e da jornada de
trabalho de 12 por 36, tema sobre o qual os órgãos possuem posições
divergentes.
Procurado pelo Valor, o Ministério do Trabalho e
Emprego não retornou até o fechamento da reportagem. (AA)
Estudo sugere piso de R$ 20 mil para execução
Maíra Magro | De Brasília
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) sugere à União que deixe de entrar na Justiça com ações de
execução para cobrar dívidas tributárias menores que R$ 20 mil. Segundo o
estudo, os custos da execução fiscal (processo para obrigar o contribuinte a
pagar uma dívida tributária já reconhecida) só se justificam acima desse valor.
Atualmente, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) só deixa de
executar judicialmente dívidas abaixo de R$ 10 mil. O piso, portanto, dobraria.
As sugestões são da pesquisa "Custo e tempo do
processo de execução fiscal promovido pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional", divulgada na tarde de ontem pelo Ipea. Segundo o levantamento,
a União gasta em média R$ 5,6 mil para cada processo de execução fiscal da PGFN
na Justiça Federal, incluindo apenas os custos de tramitação. Essas ações levam
em média dez anos para terminar, e a probabilidade de recuperar o crédito
integralmente é de 25,8%. Levando em conta esses dados, não valeria a pena
economicamente executar na Justiça dívidas menores que R$ 21,7 mil.
Assim, para dívidas inferiores ao piso sugerido, os
procuradores deixariam de entrar com ações judiciais, mas a União promoveria
outros métodos de cobrança, fora do Judiciário. Essa medida reduziria em 52% o
volume de trabalho da PGFN, permitindo maior eficiência, afirmaram os
pesquisadores.
Outra conclusão é de que a parte mais problemática
da execução fiscal é a citação, quando o devedor é comunicado da ação. Essa
fase leva em média cinco anos - metade do tempo total de tramitação do processo
- e, em 47% dos casos, a Justiça não consegue localizar o devedor. "A
etapa de citação é o principal gargalo, maior causa da morosidade, o mais
importante custo e um elemento fundamental para o sucesso da ação", diz o
pesquisador Alexandre Cunha, coordenador da pesquisa. O estudo recomenda que a
PGFN aprimore os procedimentos de citação, melhorando os cadastros de domicílio
e integrando os registros com os de outros órgãos públicos.
Os números demonstram que a PGFN é menos eficiente
nessa cobrança que outras instituições, como a Procuradoria-Geral Federal,
departamentos jurídicos dos bancos públicos federais e conselhos de
fiscalização profissional. Enquanto 40% das ações de execução fiscal na Justiça
Federal terminam em pagamento integral, o percentual cai para 26% quando a
autora é a PGFN. O valor médio por ação arrecadado pela procuradoria, no
entanto, é mais alto - R$ 54,8 mil. A média geral é de R$ 9,9 mil.
A PGFN afirmou em nota que está analisando a
pesquisa, "a fim de propor medidas administrativas que aumentem a
eficiência da cobrança do crédito público inscrito em Dívida Ativa da
União." O estudo do Ipea foi solicitado pela própria PGFN e usou dados de
2009.
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