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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

10 de janeiro de 2012 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PÁGINA
Emergência - 116 cidades mineiras pedem socorro

O número de moradores dos municípios castigados pelas chuvas (6,8 milhões) soma mais de um terço da população de Minas Gerais. Ontem, houve três mortes em Além Paraíba, na Zona da Mata, elevando para 15 o total no estado desde o início do período chuvoso. Perto dali, em Sapucaia, depois da divisa com o Rio, um deslizamento soterrou pelo menos sete casas, matando oito pessoas e deixando outras desaparecidas.

Dengue depois da chuvarada
 Pesquisa em Bom despacho alerta para a infestação de Aedes aegypti

O drama das chuvas que estão causando mortes e destruição em Minas, com mais de 100 cidades em estado de emergência, acabou tirando a atenção da população e das autoridades para a perspectiva de uma outra tragédia que parece rondar várias regiões do estado. A chuva insistente vai acabar passando e, quando der uma trégua mais prolongada, vai deixar água empossada por todo lado. A volta do sol e do calor pode ajudar a montar um quadro favorável à proliferação de um inimgo que, apesar de todos os esforços, ainda estamos longe de derrotar: o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Um alerta preocupante foi dado ontem em Bom Despacho, no Centro-Oeste do estado. Reportagem do Estado de Minas de hoje revela que o Levantamento do Índice Rápido Aedes aegypti (Liraa) feito pelo município em parceria com agentes da Superintendência Regional de Saúde de Divinópolis (GRS) concluiu que o índice de infestação da dengue na cidade está em 11,4%. Para ter idea do tamanho do problema, o índice considerado aceitável pelo Ministério da Saúde é de 1%. O estudo analisou 20% dos 21.260 imóveis da cidade. Desse número, mais de 11% apresentavam focos da dengue.
Por enquanto, não ocorreu uma epidemia de dengue na cidade, já que apenas um caso foi registrado este mês. Mas não é preciso esperar que ele ocorra para agir. Afinal, o índice de infestação do mosquito não deixa dúvida quanto ao perigo de um surto da doença e à urgência em combater os focos já encontrados do Aedes aegypti em Bom Despacho e região. Além disso, ninguem pode garantir que aquela cidade ou qualquer outra de Minas está imune ao aparecimento do tipo 4 da doença, o mais perigoso e ainda praticamente livre de defesas naturais. O alerta precisa ser observado em todo o estado, pois será imperdoável perder os bons resultados obtidos pelas campanhas desenvolvidas pelo governo do estado e várias prefeituras no ano passado. Minas foi, em 2011, um dos estados que conseguiram baixar a ocorrência da dengue, ao fechar o ano com o registro de 64.480 casos, com 23 mortes. Esses números, embora ainda lamentáveis, representaram um avanço importante no combate à doença, já que deixaram longe a dramática situação de 2010, quando oorreram mais de 183 mil casos, com 179 óbitos.
Como nada garante que este ano o Aedes aegypti vai se reproduzir menos, o mais prudente é iniciar logo o ataque e a retomada das campanhas de conscientização da população. Como sempre, sem a participação decisiva da população, todo o trabalho das autoridades será perdido. Lotes sujos, pneus, latas e brinquedos de plástico jogados no quintal, caixas-d"água sem tampa, piscinas esquecidas e lajes descobertas são criadouros conhecidos de todos e a cada um resta a missão de evitá-los e impedir que os vizinhos se descuidem. Uma boa ideia implantada pela Prefeitura do Rio de Janeiro deveria ser examinada pelas autoridades de Belo Horizonte: lá, um decreto municipal fixou em até R$ 3 mil as multas que poderão ser aplicadas no caso de serem encontrados focos em imóveis que os donos resistirem às inspeções das equipes de combate ao mosquito da dengue. Se o bolso é parte mais sensível do corpo de algumas pessoas, não deve haver medida mais convincente a torná-las mais cooperativas.

Guarda-chuva de emergência
 Planalto anuncia a criação de força-tarefa de técnicos para atuar na reconstrução das áreas de alto risco atingidas pelos temporais em Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro

Juliana Braga

Para tentar descolar a imagem de inércia e favorecimento político diante das chuvas, que abriu uma crise no Ministério da Integração Nacional, o governo anunciou ontem um pacote de medidas de enfrentamento dos danos causados por desastres naturais (veja quadro). O principal é a criação, determinada pela presidente Dilma Rousseff, de uma Força Nacional de Apoio Técnico de Emergência, grupo composto de integrantes de diversos ministérios, para atuar na reconstrução das áreas atingidas. O grupo de 150 especialistas, entre eles 35 geólogos e 15 hidrólogos, será deslocado para as regiões de alto risco em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
O pacote tem o cunho mais político do que estrutural. Parte das ações anunciadas já não são eficientes para o período de chuvas atual. Os quatro radares que o Ministério da Ciência e Tecnologia vai adquirir, por exemplo, só devem ser entregues em dois meses, a tempo somente para mapear as chuvas no Nordeste. Outras medidas anunciadas não são novidades. A abertura de crédito dos R$ 444 milhões para cidades atingidas havia sido publicada no Diário Oficial na semana passada e a liberação do FGTS para vítimas de desastres naturais já é autorizada.
Para mostrar eficiência, os ministros têm se mobilizado para acompanhar as ações nos locais atingidos. Ontem mesmo, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e o dos Transportes, Paulo Passos, foram a Vitória e hoje seguem para o município de Sapucaia, no Rio de Janeiro, onde um deslizamento de terra deixou oito mortos. Já Alexandre Padilha voa para a Zona da Mata mineira.
Os ministros não detalharam quanto do FGTS poderá ser utilizado pelas vítimas da chuva. De acordo com Bezerra, as liberações serão avaliadas caso a caso. Os ministros não informaram, também, o total da verba que o governo federal vai disponibilizar para a reconstrução das cidades atingidas. Bezerra disse, genericamente, que os pedidos dos municípios começam a ser formalizados.
Na entrevista coletiva convocada pelo Palácio do Planalto, cada ministro esforçou-se para demonstrar que sua área está agindo da melhor forma possível para evitar tragédias ou consertar os estragos já feitos. Aloizio Mercadante, de Ciência e Tecnologia, disse que em Belo Horizonte choveu, no mês passado, 800 milímetros, um recorde para o mês.
Em Ouro Preto, já houve 174 deslizamentos de terra. De acordo com o ministro, 23 radares meteorológicos estão em ação, mas ainda faltam quatro – um para a Grande Vitória, outro para Salvador, um terceiro para substituir um antigo equipamento em Alagoas e mais um para complementar o Vale do Paraíba, em São Paulo. Mercadante disse ainda que é necessário aumentar o número de pluviômetros. Para tanto, o ministério pretende colocar 1.500 equipamentos em torres de telefonia celular, em convênio com as operadoras.
Na área de transportes, o ministro Paulo Sérgio Passos divulgou um relatório sobre as estradas federais atingidas: são 37 trechos, envolvendo 16 rodovias em cinco estados. Dos 37 trechos, seis estão intransitáveis, 20 têm tráfego parcial e 11 já foram liberados. O Ministério da Saúde vai entregar 15 mil unidades de hipoclorito para municípios que tiveram o fornecimento de água afetados – no caso, só no Estado do Rio.

Pacote das Águas
A presidente Dilma Rousseff reuniu os ministros e anunciou ações de resposta às chuvas. Confira as medidas
Envio de 150 especialistas, entre eles, 35 geólogos e 15 hidrólogos, para áreas de mais alto risco
Funcionamento dos postos avançados da Defesa Civil até março. Eles vão ajudar na reconstrução das áreas afetadas e identificar pontos que precisarão de reforços até 2013
Resgate do FGTS por vítimas que tiverem suas casas destruídas
Retirada da população quando o Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) emitir alertas de risco alto ou muito alto
Aquisição de quatro radares meteorológicos para reforçar o monitoramento das chuvas. Eles serão alocados em Vitória, Salvador, Alagoas e no Vale do Paraíba
Instalação de 3 mil pluviômetros manuais e outros 1,5 mil automáticos
Envio de 100 profissionais do Ministério da Saúde para auxiliar no tratamento e prevenção de doenças em áreas da Zona da Mata e da Bacia do Rio Doce, em
Minas Gerais
» Destinação de kits de medicamentos e suprimentos de saúde para o Espírito Santo. Já foram enviadas oito toneladas para Minas Gerais e quatro para o Rio de Janeiro

Hélio Costa deixa hospital

O ex-senador Hélio Costa (PMDB) deixou ontem o Instituto Biocor, onde estava internado desde a madrugada do dia 5. A informação foi dada pelo próprio político, que no meio da tarde de ontem postou em sua página no microblog twitter um agradecimento às "mãos habilidosas" dos médicos que o atenderam no hospital. "Cheguei em casa... graças a Deus", escreveu.
Depois de sentir fortes dores no peito na noite de quarta-feira, Hélio Costa foi levado pela família ao hospital, onde foi diagnosticado com um quadro de angina. Depois do procedimento o peemedebista foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital sediado em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os médicos diagnosticaram o entupimento de uma artéria secundária e foi feito o cateterismo com implante de um stent, um pequeno tubo feito de uma malha de metal posicionado na artéria para mantê-la aberta, garantindo o fluxo.
Desde então Hélio Costa vem usando as redes sociais para falar sobre a doença. No mesmo dia da internação tuitou que passava bem. No último sábado, o peemedebista brincou: disse ter sido "promovido" da UTI para um quarto comum. E mais uma vez agradeceu a torcida pela sua melhora. "Acho que nunca tive tanto carinho de tantos amigos."

Rejeição a proposta em São Paulo

São Paulo – Petistas reagiram ontem com surpresa e descrença ao tomarem conhecimento sobre a suposta proposta feita na semana passada pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo reportagem, Kassab teria oferecido um quadro do PSD para ser o vice na chapa encabeçada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, à sua sucessão. "Ninguém da Executiva do partido estava sabendo disso", disse o vereador Chico Macena, secretário de Comunicação do PT paulistano.
Na ausência do presidente do diretório municipal, vereador Antonio Donato, Macena falou em nome da sigla e disse não acreditar que essa conversa tenha acontecido. "Não acredito nisso. Em São Paulo, temos um projeto diferente do Kassab", ressaltou. "Eu nem acredito nessa intenção do prefeito de indicar alguém. A intenção do Kassab é indicar um candidato dele", emendou. A assessoria de imprensa do ex-presidente Lula disse que ele não vai comentar o assunto.
Em abril de 2011, um documento lançado pelo diretório municipal deixou claro que, mesmo com a aproximação de Kassab à base da presidente Dilma Rousseff, o PT seria oposição ao PSD na cidade de São Paulo por representar um projeto antagônico. Os petistas rechaçam a possibilidade de Lula levar a proposta de Kassab em consideração e impor um vice do PSD. "O Lula não tem essa intenção. Ele não faria isso", acrescentou Macena.
A aproximação com o partido de Kassab está fora de negociação, garantiu o vereador paulistano José Américo, que integra o conselho político da pré-candidatura de Haddad. "Isso não está em cogitação", reforçou. Uma liderança do PT vê na movimentação de Kassab o interesse em pressionar o PSDB por uma aliança, seja em torno do nome do vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) ou do lançamento da candidatura do ex-governador José Serra (PSDB). "Ele pode ter jogado essa para se valorizar com o PSDB. Acho que não é para valer", avaliou.


ECONOMIA
Reajustes de janeiro dão fôlego à inflação em BH
 Mensalidade e material escolar, transporte, salário de empregados domésticos e impostos com aumento apimentam os primeiros indicadores do ano e pesam no orçamento das famílias

Geórgea Choucair

As contas da família do médico Leonardo Lamarca Almeida e da fisioterapeuta Flávia Corrêa Assumpção vão dar força ao dragão da inflação em janeiro. O casal paga escola particular para três filhos, empregada doméstica (com transporte nos fins de semana) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Todas as contas tiveram reajuste em janeiro e têm grande peso na inflação do início do ano. Só de escola, o casal desembolsa mais de R$ 2 mil mensalmente para os filhos de 14, 11 e 6 anos. A empregada, que ganhava R$ 1.090 até dezembro, passa a receber R$ 1.280 este mês. Há ainda os gastos com material escolar e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Como se não bastasse, a família ainda precisa de quantia extra para as férias, já que vai passar uma semana em Araxá. "Usamos parte do 13º salário para pagar as despesas de início de ano", conta Flávia.
O salário mínimo, o ônibus urbano e o IPTU são os itens que mais pesam na inflação da capital em janeiro, revela Wanderley Ramalho, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Fundação Ipead/UFMG. Só esses três itens, diz, devem impactar em mais de 1% a inflação deste mês, índice superior à alta de custo de todo o mês de dezembro de 2011, que foi de 0,59% na capital. "Mas vale lembrar que isso não significa nenhum descontrole inflacionário. No ano passado, a inflação de janeiro foi de 2,7%", observa o estatístico.
IPC-S As primeiras medições do aumento do custo de vida em janeiro mostram pressão forte sobre os preços. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) subiu 0,93% na primeira quadrissemana deste mês, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), depois de ter tido alta de 0,79% na última quadrissemana do mês passado. Foi o maior avanço desde a terceira quadrissemana de maio de 2011, quando o índice subiu 0,96%. A alta de preços foi alavancada principalmente por quatro setores: na educação, leitura e recreação a alta saiu de 0,42% para 1,38% e os custos de alimentação subiram 1,92%, ante 1,65% na quadrissemana anterior, com hortaliças e legumes mais caros. O ônibus urbano levou o custo do grupo de transportes a aumentar de 0,59% para 0,61%. Nas despesas diversas, a inflação foi de 0,14%, contra 0,11% na última leitura de dezembro.
O levantamento da FGV mostra, no entanto, que nem todas as classes de despesas mostraram aceleração de preços. As taxas de inflação foram mais fracas sobre o vestuário (de 1,03% para 0,55%), saúde e cuidados pessoais (de 0,68% para 0,65%) e habitação (de 0,27% para 0,25%).
SERVIÇOS DOMÉSTICOS Nas contas da classe média de janeiro, o impacto da alta do salário mínimo deve acontecer principalmente sobre os trabalhadores que prestam serviço doméstico, avalia Valdir Quadros, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É o caso das babás, arrumadeiras, caseiros, cuidadores de idosos, enfermeiros e motoristas. E alguns desses profissionais, como as babás, além de estarem raros no mercado, chegam a ter rendimentos comparados aos trabalhadores de nível superior, o que inflaciona ainda mais os custos deste mês.
A agência Pré-Seleção trabalha com serviços domésticos em Belo Horizonte e consegue atender atualmente apenas um terço da demanda dos clientes. Motivo: escassez de mão de obra qualificada. Os rendimentos das babás são atrativos e chegam a somar quatro salários mínimos (R$ 2,48 mil), contando ainda com plano de saúde. "Quem está fazendo as exigências na hora da contratação, hoje, são os empregados", diz Nice Ribeiro, dona da Pré-Seleção. Nessa escolha, segundo Nice, os profissionais costumam levar em conta, principalmente, a idade – e quantidade – das crianças da casa, horário de trabalho e temperamento do patrão.

Enquanto isso...
...despesas na garagem
A inflação do carro, medida pela agência Autoinforme, fechou o ano de 2011 com um avanço de 7,86%, acima da inflação oficial, de 6,5%. Os motoristas brasileiros gastaram em média, no ano passado, R$ 991,61 por mês com seus veículos. A alta de preços foi puxada principalmente pelo álcool e pelo estacionamento. O combustível ficou 15,4% mais caro e estacionar o carro custou 14,5% a mais no ano passado. O estacionamento foi o item que mais teve alta de preço nos últimos cinco anos: 116% de 2006 a 2011 (até novembro). O combustível é o produto que mais pesa para o consumidor em suas despesas com o carro. Por isso, a alta de mais de mais de 10% do álcool teve forte influência para deixar a inflação do carro acima do IPCA em 2011.

Aluguel em BH tem alta de mais de 10%
Mesmo com avanço na oferta de imóveis residenciais, preço da locação superou em muito a inflação geral na capital

Geórgea Choucair

Nem mesmo a farta oferta de imóveis residenciais conseguiu frear a inflação do aluguel em 2011 na capital mineira. O preço da locação residencial em Belo Horizonte registrou alta de 10,47% no ano passado, enquanto a inflação em BH foi de 7,22%. A oferta de imóveis para a locação cresceu 32,15% em 2011 ante queda de 7,64% em 2010. Os dados são da pesquisa da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG), Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG) e Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead-Ufmg).
Apesar do número maior de imóveis no mercado, os preços seguem em elevação. Entretanto, a previsão é de que haja uma adequação aos custos. "O preço de locação tende a uma acomodação, pois estão mais próximos da inflação", afirma Ariano Cavalcanti de Paula, presidente da CMI-MG.
Em 2010, o preço do imóvel residencial teve alta de 13,02%, mais do que o dobro da inflação registrada no período na capital, de 5,81%. "Apesar da maior oferta de imóveis, a demanda ainda segue maior", avalia Ariano de Paula. Ele ressalta que o aumento no valor da locação levou os imóveis a voltarem a ficar interessantes aos investidores. "Antes o preço do aluguel estava muito barato, ninguém interessava em colocar os imóveis no mercado", diz. No segmento comercial, os preços subiram 13,47% e a oferta foi 25,36% maior no ano passado.
Em dezembro, a alta no preço dos aluguéis residenciais foi de 1,01% frente inflação de 0,59% na capital. A oferta teve queda de 2,46%. A variação geral residencial por tipos imobiliários foi de 0,64% para casas, seguida por apartamentos (1,01%) e barracões (2,04%). Já os aluguéis de apartamentos apresentaram as seguintes variações: 1,84% (popular), 1,48% (médio), 1,06% (alto) e 0,62% (luxo). A rentabilidade do aluguel sobre o valor do imóvel está hoje entre 0,7% e 0,8%, informa Ariano de Paula. Os bairros com maior demanda são os de baixa e média renda.
DEMANDA ESTUDANTIL Os estudantes de faculdades tendem a pressionar a procura por imóveis em janeiro e fevereiro, avalia Paulo Tavares, presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG). "Os apartamentos de dois quartos devem ser os mais procurados, principalmente nas regiões da vizinhança das faculdades", observa. O mais difícil, na sua avaliação, é encontrar unidades novas. "Temos muitos imóveis em construção, mas houve atraso na entrega em função da escassez de mão de obra e de materiais", diz. A oferta de unidades novas, diz, deve começar a ocorrer apenas no segundo semestre deste ano.
O valor do aluguel comercial teve alta de 1,45% em dezembro em Belo Horizonte. Segmentada por tipos imobiliários, a pesquisa mostra as seguintes variações nos preços médios: 3,21% (andares corridos); 1,89% (casas comerciais), 2,16% (galpões), 0,43% (lojas) e 01,72% (salas). No mês, a oferta de imóveis comerciais registrou queda de 2,65%. O levantamento apontou em dezembro alta somente para andares corridos (7,67%) e lojas (6,92%). Os demais tipos imobiliários – casas comerciais (-1,84%), galpões (-6,3%) e salas (-2,26%) – apresentaram queda.

NACIONAL
Moradores são obrigados a abandonar localidade
Cerca de 900 pessoas eram retiradas ontem do distrito de Outeiro, em Cardoso Moreira, no Norte fluminense. Depois do rompimento de um dique no domingo, lugar seria inundado

Rio de Janeiro – Uma semana depois do início da tragédia que se abateu sobre o Norte e Noroeste fluminense devido a fortes chuvas, que já haviam deixado, até ontem, cerca de 15 mil desalojados ou desabrigados no estado, equipes da Defesa Civil estadual e da Defesa Civil de Campos continuavam ontem, desde cedo, o trabalho de remoção das famílias que vivem na localidade de Outeiro, em Cardoso Moreira, onde um dique se rompeu no domingo. Foi o segundo dique que se rompeu na região em menos de uma semana. Cerca de 900 pessoas devem ficar desalojadas.
Alguns moradores saíam voluntariamente para casas de parentes e outros recebiam barracas de acampamento para fazerem abrigos de emergência em um morro próximo. A previsão era de que até o inicio da tarde toda a área de Outeiro, um distrito que nasceu no entorno de uma usina desativada, fosse inundada. O chamado Dique das Onças se rompeu por causa da força das águas do Rio Muriaé. Outeiro é uma área rural que tem cerca de 40 famílias. O caso é semelhante ao que ocorreu na semana passada, com a localidade de Três Vendas, em Campos, quando uma cratera foi aberta pelas águas do Muriaé na BR-356. Outeiro fica bem próximo a Três Vendas.
Segundo a Defesa Civil, a situação é delicada, mas não potencializa a cheia na área urbana de Cardoso Moreira, talvez o município mais castigado pela enchente da semana passada, e encontra-se praticamente isolada de Campos, por causa da queda de barreira em uma estrada vicinal entre as localidades de Palmares e Pureza, no município de São Fidélis. Em Outeiro moram cerca de 600 pessoas, que terão que deixar suas casas.
 O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) tentaria desobstruir ontem a estrada onde caiu uma barreira, que faz ligação com São Fidélis. O caminho alternativo mais razoável para quem saía de Cardoso Moreira rumo a Campos era essa via. Agora, resta apenas um, que passa por Bom Jesus do Itabapoana, aumentando o tempo de viagem em duas horas. Em Itaperuna, vários deslizamentos de terra levaram a prefeitura a decretar alerta máximo.
Dados do Sistema de Alerta de Cheias do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostram que está em alerta máximo o nível dos rios que cortam o Noroeste Fluminense. A situação é crítica no Rio Muriaé – que passa pelos municípios de Laje do Muriaé, Italva, Itaperuna, Cardoso Moreira e Campos -, Rio Carangola – que atravessa Porciúncula, Natividade –, Rio Pomba – que passa por Santo Antônio de Pádua –, Rio Itabapoana – que atravessa Bom Jesus de Itabapoana – e o Rio Paraíba do Sul – que corta Campos e é o principal da bacia.
O município de Petrópolis (RJ), muito atingido pelas enchentes que castigaram a Região Serrana do Rio há exatamente um ano, registrou 467 ocorrências causadas pela chuva desde o dia 1º. Não houve vítimas. Boletim divulgado ontem aponta que 343 casos foram emergências e 124 foram ações preventivas da Defesa Civil. Até a tarde de ontem, 33 residências foram interditadas. Na Baixada Fluminense, também há locais em estágio de alerta máximo: Saracuruna, em Duque de Caxias. O Rio Capivari, em Belford Roxo, que estava em estágio de alerta máximo até o início da manhã desta segunda-feira, voltou ao estágio de atenção.
O secretário do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, anunciou investimentos da ordem de R$ 850 milhões para evitar inundações na região, sendo a maior parte do governo federal e 20% de contrapartida do estado. Segundo Minc, oito projetos de combate a enchentes para as regiões afetadas e para o município de São Gonçalo foram apresentados quinta-feira ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e três foram selecionados para serem executados imediatamente com os recursos. O primeiro projeto receberá R$ 350 milhões e pretende proteger quatro cidades cortadas pelo Rio Muriaé (Laje do Muriaé, Itaperunam Italva e Cardoso Moreira), fortemente afetadas pela cheia do rio que nasce em Minas Gerais. Os recursos serão usados para construção de três extravasores (estrutura para controle da passagem da água) e uma barragem de controle de cheias.
Foi registrada chuva forte também ontem no litoral de Santa Catarina.


GERAIS
Betim entra na relação

Carolina Mansur

Betim é a 104ª cidade a integrar a lista dos municípios mineiros em situação de emergência, divulgada ontem pela Defesa Civil de Minas Gerais. Desde o início do período chuvoso, a cidade tem sofrido com deslizamentos de encostas, inundações e danos a residências, serviços públicos e à infraestrutura. "Esse decreto vai facilitar a apresentação de projetos para conseguirmos recursos e dará mais agilidade nos processos. Alguns projetos já estão sendo encaminhados e, assim que aprovados, vão permitir o início de uma série de obras para a reconstrução das áreas atingidas. Algumas são de drenagem e de contenção de encostas, outras para canalização de rios, reconstrução de pontes e de passarelas", explicou o superintendente da Defesa Civil de Betim, Carlos Roberto Pereira.
Entre os bairros mais afetados estão a Colônia Santa Isabel, Vila Cruzeiro e Vila Machadinha, na região do Citrolândia, o Bairro Nossa Senhora de Fátima e Itacolomi, na região do Alterosas, Bairro Vianópolis e a região do Teresópolis. Em todos eles há casas condenadas e dezenas de famílias dividindo espaço em abrigos públicos. Segundo informações da Prefeitura de Betim, até o momento 334 pessoas estão desabrigadas e não podem mais voltar para suas casas, 891 estão desalojadas e devem retornar depois das chuvas, dentre elas, 244 crianças e adolescentes até 14 anos. Além disso, há na cidade 141 casas que já foram condenadas e três pontes caídas. Segundo dados da Defesa Civil de Betim, o prejuízo estimado é de aproximadamente R$ 17 milhões.
Em toda a cidade, cerca de 76 mil pessoas estão sendo atingidas de alguma forma pelas chuvas. Entre os problemas enfrentados pelos moradores está a falta de atendimento por algumas linhas de ônibus. Com a chuva incessante, a expectativa é que o nível do Rio Paraopeba e do Córrego Bandeirinhas volte a subir e a causar novos alagamentos e problemas.

Em BH, férias e planos adiados

 A funcionária pública Priscila de Figueiredo Leroy, de 26 anos, suspendeu as férias. A filha Isabella, de 9, passa o dia na casa da bisavó. E o filho João Pedro, de 5, em uma colônia de férias. Esses não eram os planos da família, mas é o que as fortes chuvas a deixaram fazer. A viagem para a terra natal, Três Corações, no Sul de Minas, foi cancelada. "A chuva dificultou o acesso, as estradas estão péssimas. O jeito foi ficar em Belo Horizonte", disse Priscila. Esse é um dos muitos casos de quem teve os programas alterados, desde o passeio de férias até o adiamento de sonhos, como a ver a construção da casa concluída.
Todos os anos a família da coordenadora pedagógica Ariadna Fiorilo, de 37, vai para a casa de praia que tem no litoral do Espírito Santo. "Geralmente, nesta época do ano estamos lá, mas desta vez foi diferente. Praia nas férias faz parte da rotina, mas sou neurótica com estrada. Então, só vamos tirar o carro da garagem para uma urgência", afirmou. Ela ficou em casa com o bebê de oito meses, o marido voltou ao trabalho e filho Mateus, de 4, também foi para colônia de férias.
Não é à toa que as famílias temem as más condições das estradas. De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) e o Departamento de Estradas e Rodagem de Minas Gerais (DER/MG), dezenas de estradas foram totalmente interditadas ou fechadas parcialmente. O Ministério dos Transportes anunciou uma ajuda de R$ 100 milhões para reparos imediatos nas BRs 356 e 354, mas obras pesadas só devem começar depois do período chuvoso.
A praia de Ariadna ficou para a segunda quinzena do mês e, ainda assim, nada de carro. Diante das más condições das estradas mineiras que cortam mais de 100 municípios afetados pela chuva e em estado de emergência, o jeito foi comprar um pacote de viagem rumo a Porto Seguro, na Bahia. "Janeiro é a única oportunidade de viajar com toda a família. É horrível ficar em casa o dia inteiro. Estou sem lugar", conta.
OBRAS A vendedora Ariane Gabrielly da Conceição, de 22 anos, acompanha de perto a frustração do companheiro Adilson Rodrigues, que não conseguirá entregar a casa no Vista Alegre, Região Oeste, para a filha que acabou de casar. "Ela está na casa dos sogros", disse. Segundo ela, a obra começou em novembro e era para terminar até fevereiro, mas, depois de mais de um mês parada por conta da chuva, os planos de todos tiveram de ser prorrogados. "Parou na laje e não dá para rebocar e nem fazer nada. É um sonho adiado", afirmou.
Dono de uma empresa que presta serviços em construção, Roosevelt Eustáquio Gomes contabiliza prejuízos. "Tenho clientes que programaram serviços para as férias e agora estão de braços cruzados. Temos muitos trabalhos parados", disse. Por outro lado, os estragos gerados pelas águas poderá resultar em um acréscimo de demanda, como na área de impermeabilização e coberturas, para depois que as chuvas passarem. "Por enquanto está tudo comprometido".
Se os proprietários adiam obras, os lojistas, com as finanças impactadas, adiam projetos, lamenta Rui Fidelis de Campos Júnior, presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção (Acomac-MG). Os negócios foram reduzidos, segundo ele, em 30% em relação ao mesmo período do ano passado. "A chuva forte e ininterrupta parou tudo. As vendas voltarão, mas de forma muito mais tímida, depois que tivermos alguma trégua", avaliou.


Medo em bairros da Zona Sul

Flávia Ayer

A apreensão de desastres vindos com as chuvas, comuns em áreas de vilas e favelas, se espalha por endereços nobres de Belo Horizonte. Apenas nos primeiros nove dias do ano, 132 chamados partiram de bairros da Região Centro-Sul para a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil. As campeãs são ocorrências ligadas a trincas e infiltrações, com 23 solicitações de visita, e de deslizamentos, com 22 atendimentos. O medo é sentimento comum entre moradores do Mangabeiras, São Bento e Santa Lúcia, cravados em ladeiras íngremes e repletos de encostas desmoronando em várias ruas.
Na Avenida Bento Simão, uma das principais do São Bento, o que se vê, ao lado de uma das mansões, do ex-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Sérgio Antônio Resende, é um mar de lama sobre a escadaria que dá acesso à Rua Helena Antipoff. "Por causa da quantidade de água, o muro da casa não suportou e caiu. Desde quarta-feira, tiramos 15 caminhões de terra do local", conta a mulher do magistrado, Tânia Resende, aliviada por não ter havido vítimas. "Fico com pesar daqueles que não têm condição financeira para resolver esses problemas das chuvas", afirma.
Moradora da Rua Universo, no Bairro Santa Lúcia, a gestora administrativa Magali Gonini tem vivido um pesadelo com obras de um prédio na Rua Gurury, nos fundos de seu terreno, que, segundo ela, geraram problemas agravados no período chuvoso. "Depois de 30 anos aqui, estou com medo de a minha casa cair. O muro está trincando, a rede de esgoto estourou e a casa ao lado da minha já está com um buraco enorme", conta, desejosa de que as obras do prédio, da Fefac Construções e Fachadas, sejam interrompidas até as chuvas pararem e que os danos sejam reparados.
Responsável pela obra, o engenheiro Alexandre Sampaio afirma que se trata de um problema de drenagem da água das chuvas. "Não consideramos ali uma área de risco. A erosão vai ser tampada e estamos terminando a contenção do terreno, que está sendo feita em etapas", garante. Segundo a Defesa Civil, há risco de desabamento de parte do lote da casa vizinha à de Magali e os envolvidos já foram notificados para resolver o problema.
Além disso, por toda a região, cujo solo é composto por filito, tipo de rocha fino e de fácil erosão, há encostas indo abaixo e ocupando parte das vias. A situação é potencializada pela explosão da especulação imobiliária no bairro, lotado de canteiros de obras. As ruas Saturno e Eclipse, acesso de quem sai da Avenida Raja Gabaglia em direção ao bairro, têm terra até a metade. "Temos receio de que a encosta deslize e atinja nossas casas", confessa a advogada Mariley Simone Azevedo, moradora da Rua Eclipse. De acordo com a Regional Centro-Sul, os donos de terrenos nos locais já foram notificados, mas hoje haverá nova fiscalização.

Dengue ameaça cidade

Simone Lima

O ano começou com uma notícia alarmante para população e para Secretaria Municipal de Saúde de Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas. O Levantamento do Índice Rápido Aedes aegypti (Liraa) feito pelo município em parceria com agentes da Superintendência Regional de Saúde de Divinópolis (GRS) revelou um dado preocupante: o índice de infestação da dengue na cidade está em 11,4%, enquanto o permitido pelo Ministério da Saúde é de 1%. O tempo chuvoso só piora a situação, tornando mais fácil o acúmulo de água em materiais como caçambas, baldes ou garrafas, intensificando a proliferação do mosquito.
Ontem, 36 funcionários da GRS percorreram a cidade com o fumacê, priorizando as áreas mais vulneráveis, como lotes vagos, construções e casas abandonadas. O objetivo é evitar um novo surto em Bom Despacho, como o que aconteceu entre 2009 e 2010, quando o número de pessoas infectadas chegou a 3.649 e três óbitos foram registrados. Em 2011,  foram feitas 204 notificações e este ano apenas uma pessoa foi infectada.
 "Em 2009, o Liraa na cidade ficou em torno de 7,4%. Esse resultado, de mais de 11%, nos deixou muito assustados. Queremos evitar a epidemia e por isso iniciamos esse trabalho", explica. O estudo analisou 20% dos 21.260 imóveis da cidade. Desse número, mais de 11% apresentavam focos da dengue. Lopes informa que a maior preocupação é que o tipo 4 da doença chegue ao município. "Já tivemos até dengue do tipo 3 na cidade. Não queremos que a doença se espalhe e que esse novo tipo da doença atinja a população", acrescenta.
CONSCIENTIZAÇÃO A força-tarefa da GRS continuará na cidade até o dia 13. O objetivo é visitar 100% dos imóveis e, principalmente, conscientizar a população. De acordo com o coordenador do trabalho da GRS em Bom Despacho, Geraldo Silvano, o índice levantado é considerado de alto risco. "Até 3,9%, o município está em risco. Acima de 4%, esse risco já é considerado alto. O importante é a população ajudar, pois sem esse apoio nós não conseguiremos evitar o surto", diz.
Se depender da professora Teresinha Couto Rodrigues, de 53 anos, o possível surto de dengue vai ficar bem longe de Bom Despacho. Ela ainda lembra bem de quando teve a doença, em 2010, e não quer passar pela mesma situação. "Tenho muitas plantas em casa, mas coloco areia nos pratinhos e não deixo água parada. A minha parte eu faço", garante.
Na casa do motorista Geraldo do Couto Oliveira, de 46 anos, apenas a filha caçula ainda não teve a doença. Ele, a esposa e a filha mais velha ficaram mais de uma semana em casa, de repouso, depois de terem sido picados pelo mosquito, no início de 2010. "Todo mundo tem que ajudar. Quem já teve a doença sabe como é: dor de cabeça, dor no corpo... Você mal consegue levantar da cama. Por isso evito mesmo deixar água parada", ressalta.

Minas tem Queda no índice
Em 2011, foram registrados 64.480 casos de dengue em Minas Gerais. Assim como aconteceu em Bom Despacho, o número de pacientes com doença caiu consideravelmente: em 2010 foram 183.607 pessoas infectadas. No ano passado foram registradas 23 mortes por complicações da dengue, enquanto no ano anterior, foram registrados 106 óbitos. Os casos de morte por dengue hemorrágica, também tiveram uma queda de 179 em 2010 para 47 em 2011.

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