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Lula lá
no Planalto...e de olho em São Paulo
Ao lado de Dilma e de Sarney, o ex-presidente Lula
fez questão de participar da cerimônia de despedida de Fernando Haddad do
Ministério da Educação, no qual será substituído por Aloizio Mercadante. Haddad
é a aposta do PT para tentar recuperar a prefeitura da maior cidade do Brasil,
à qual se tornou candidato graças ao apoio de Lula, de quem foi ministro por
cinco anos. E o clima de campanha imperou numa das mais concorridas solenidades
no Palácio do Planalto.
OPINIÃO
Wagner Pinheiro de Oliveira
Presidente dos Correios
No momento em que os Correios passam pela maior
transformação de sua história, modernizando-se para enfrentar os desafios dos
novos tempos, os 60 mil carteiros e carteiras do Brasil, que representam quase
metade do efetivo da empresa, têm papel relevante na construção desta nova
fase. Esses trabalhadores compõem um elo de uma corrente que tem a missão de, a
cada dia, atender com mais eficiência e maior qualidade a população.
Em 25 de janeiro comemoramos o Dia do Carteiro,
data que remonta ao período do Brasil colônia, em 1663, quando foi instituído o
Correio-Mor. Ao longo dessa rica história, um carteiro notabilizou-se: Paulo
Bregaro, que levou para dom Pedro I as notícias de Portugal, que ensejaram a
Independência do Brasil, episódio marcante da história dos brasileiros
comemorado em 7 de setembro.
De lá para cá, milhares de carteiros, de uma forma
ou de outra, já passaram por nossas vidas. Um bilhete de amor enviado, uma carta
recebida de um parente distante, um brinquedo para nossos filhos, uma encomenda
da empresa, um remédio necessário, a carta anunciando o benefício da
aposentadoria ou simplesmente um cartão de Natal. Não importa o tamanho nem o
conteúdo, por trás de 35 milhões de objetos entregues todos os dias,estão
homens e mulheres que fazem dos Correios uma das instituições mais admiradas e
respeitadas pela sociedade.
O governo da presidente Dilma Rousseff está
empenhado em transformar os Correios em uma empresa de classe mundial, mais
forte e moderna, ajustada ao nível de desenvolvimento do Brasil.
Para isso, contratamos 5 mil carteiros de último
concurso realizado em 2011, adquirimos 6 mil veículos, entre motocicletas,
furgões e caminhões, e quase 2 mil empilhadeiras e paleteiras, incrementando as
áreas de pessoal e de operações, sempre com foco no cliente.
Hoje, mais do que cumprimentar os carteiros pelo
seu dia, queremos compartilhar com todos os brasileiros o novo momento pelo
qual os Correios estão passando, em prol de um país com mais inclusão, menos
desigualdades e acima de tudo comprometido com um serviço público de excelência
à população brasileira.
Estrela
de Lula já brilha para seus candidatos
Ao lado de Dilma e em clima de campanha, ex-presidente vai
ao Planalto para a posse de Mercadante e despedida de Haddad, que deixa a
Educação para disputar prefeitura
Brasília – Festa e discursos lapidados à feição da
campanha eleitoral pela Prefeitura de São Paulo deram a tônica da despedida de
Fernando Haddad do cargo de ministro da Educação. O esforço para capitalizar a
cerimônia em favor do projeto político incluiu a exigência, pela presidente
Dilma Rousseff, da presença de todos os ministros da Esplanada – os que não puderam
comparecer mandaram representantes. Governadores e prefeitos também foram
convocados. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interrompeu o
tratamento contra o câncer na laringe para participar da festa armada para
Haddad, que se tornou candidato com o apoio dele.
Em clima de campanha, Lula foi recebido pelos
convidados de Haddad e de Aloizio Mercadante, que assumiu o MEC, com o coro
"olê, olê, olê, olá, Lula", num dos eventos mais concorridos do
Planalto. Sentou-se, tirou o chapéu e foi aplaudido de pé. Mercadante, que
estava no Ministério da Ciência e Tecnologia, dá lugar a Marco Antônio Raupp.
O ex-ministro, que afirmou não estar lendo um texto
e sim falando de coração, treinou o discurso político e tentou, a cada frase,
mostrar sua relação próxima e emotiva com Lula, lembrando os seis anos na
Esplanada, cinco subordinados a ele e um a Dilma. "Foi uma honra iniciar
os trabalhos na Educação pelas mãos de um metalúrgico", disse. "Tenho
lembranças muito boas de um período muito importante de resgate de propostas de
educação", destacou o ex-ministro.
A presença de Lula na cerimônia palaciana foi muito
celebrada por Haddad. Segundo o ex-ministro, ele não achava que o líder petista
conseguiria ir à festa, por causa do tratamento contra o tumor. "Eu posso
imaginar o incômodo dele em vir até aqui. Por isso, até eu chegar à garagem do
Palácio do Planalto e ver todo mundo reunido, inclusive a presidenta Dilma, eu
não acreditava que ele viesse", contou. A presidente, que chegou a cobrar
Haddad pelas reiteradas falhas no Enem, tratou de elogiar o ex-ministro
relativizando os problemas no exame. "Nenhum de nós é soberbo de achar que
um projeto nasce perfeito", sustentou. "Há de se reconhecer que, em
um processo que abrange milhões de pessoas, é inevitável que nos primeiros anos
você tenha alguns desvios. E esses desvios nós temos a humildade de reconhecer
e de corrigir", disse a presidente.
Apesar de não ter discursado, Lula cumpriu à risca
o papel de "mentor" de Haddad e deu uma pausa no tratamento contra o câncer
para participar do evento em Brasília. Pela manhã, o ex-presidente foi ao
Hospital Sírio-Libanês, onde passa por radioterapia, e retornou ontem mesmo, às
17h30, para a sessão do tratamento marcada para hoje. Confirmando o ditado de
que quem já foi rei nunca perde a majestade, o retorno festivo de Lula ao
Planalto teve ares de feriado. Afinal, ele não pisava no Palácio desde 30 de
março do ano passado, quando participou do velório do ex-vice-presidente José
Alencar.
Por volta das 15h, já estava tudo preparado para
recebê-lo. A guarda presidencial colocada na garagem do Planalto e as
passa-fitas da segurança separando o caminho por onde ele deveria entrar. Todo
o planejamento foi por água abaixo quando a presidente Dilma Rousseff apareceu
para pegar Lula na entrada do Planalto. "Vamos todos recebê-lo",
disse ela, chamando os servidores para a frente do carro.
O Planalto parou para recepcioná-lo. O saguão da
garagem, onde cabem cerca de 50 pessoas, ficou lotado. Ele desceu do carro e
todos foram em sua direção, liderados pela presidente Dilma. Uma comitiva de
sete ministros, além de servidores do Planalto, aguardava para bater fotos e
cumprimentá-lo. "A casa é sua", disse Dilma. Em meio a tanta gente e
dezenas de abraços, não houve tempo para conversas mais alentadas. Os dois
trocaram poucas palavras. Depois da solenidade, ele seguiu para o gabinete da
sucessora, onde conversaram por mais tempo.
Análise da
notícia
PT em três
tempos
Baptista
Chagas de Almeida
Nada mais simbólico do que o evento de ontem no
Palácio do Planalto. Passado, presente e futuro do PT sentados lado a lado. Não
que Lula seja só passado ou Dilma só presente, mas com certeza Haddad é o
futuro mais almejado pelo partido. O ex-presidente estava em Brasília, mas com
o coração e alma em São Paulo. No ex-ministro da Educação estão depositadas
todas as apostas dos petistas para tentar reconquistar a capital paulista,
terceiro maior orçamento do país, e depois o ninho eterno dos tucanos: o
Palácio dos Bandeirantes. E Lula vai apostar todas as suas fichas nessa missão,
calçado em pesquisas que indicam ser ele o principal cabo eleitoral na maior
cidade do país. A saída antecipada de Haddad – o prazo de desincompatibilização
é em abril – é uma forma de Lula tentar repetir o que fez com Dilma desde 2009:
superexposição. Dilma ele pôde levar a tiracolo a compromissos oficiais, já que
ainda estava na Presidência. Com Haddad, terá de voltar às portas de fábrica e
às ruas. É da natureza do ex-presidente: Lula faz política por instinto.
Câmara
apronta mais uma
Depois de vetar o reajuste dos vereadores, prefeito decide
até amanhã se barra proposta do Legislativo que cria 12 vagas sem concurso, com
salários de até R$ 9 mil, para organizar eventos
Amanda Almeida e Juliana Cipriani
Os vereadores de Belo Horizonte não conseguiram
emplacar o aumento de 61,8% para a próxima legislatura, mas devem pelo menos
garantir a validação de uma lei que cria uma diretoria de eventos com cargos de
indicação, valendo salários de até R$ 9 mil na Câmara Municipal. O texto que
está nas mãos do prefeito Marcio Lacerda (PSB) prevê um gasto anual de R$
1.162.578,33, para pagar por 12 vagas sem concurso público. O valor é um terço
dos R$ 3.532.382,40 que custariam, também anualmente, os novos salários dos 41
parlamentares. Se a pressão popular fez Lacerda vetar o reajuste na Casa, no
caso da proposta que cria cargos ele já teria optado pelo caminho contrário: a
sanção da lei.
O projeto de criação de cargos também foi
apresentado pela Mesa Diretora no apagar das luzes de 2011, como o polêmico
salário de R$ 15 mil que acabou derrubado pela repercussão negativa. A matéria
foi para o Executivo no mesmo dia e o prefeito tem até amanhã para decidir se
sanciona ou veta. A prefeitura não adiantou qual será o posicionamento de
Lacerda, mas aliados do prefeito dizem que ele já teria se decidido e a sanção
do projeto deve ser publicada hoje ou amanhã no Diário Oficial do Município
(DOM). O discurso é de que ele não pode interferir na organização de estrutura
do outro poder, a não ser que houvesse alguma inconstitucionalidade na
proposta, o que não teria sido apontado pela equipe jurídica da prefeitura.
A votação da proposta em tempo recorde gerou até
uma crise entre os integrantes do comando da Câmara. O secretário da Mesa
Diretora, vereador Cabo Júlio (PMDB), chegou a acusar Léo Burguês (PSDB) de
criar os cargos para aparelhar o Legislativo com seus aliados. O foco da
discussão foi sobre vagas para organização de eventos. Cabo Júlio alegou que é
uma área de interesse de Burguês, já que ele atua como promoter. O projeto, no
entanto, acabou contando com o voto de Cabo Júlio para sua aprovação. Agora ele
diz que não havia entendido a finalidade e a forma de indicação dos nomes e
obteve a garantia de que seriam cargos técnicos. Foram 21 votos favoráveis
contra cinco.
Um dos que desaprovaram as vagas foi o vereador
Fábio Caldeira (PSB), que considerou absurda a proposição. "Estamos em ano
eleitoral e, por isso, as restrições em relação a eventos e seminários fazem
com que esse projeto se torne desnecessário ou injustificável",
argumentou. Já Cabo Júlio acredita que o prefeito não vá interferir na proposta
dos cargos. "Ele não tem como vetar um projeto que cria cargos na Câmara.
Seria uma ingerência. O prefeito não seria louco de vetar algo que faz parte do
planejamento do Legislativo", disse.
VETO AO REAJUSTE PUBLICADO
Foi publicado ontem no Diário Oficial do Município
o veto ao projeto de reajuste para os vereadores de BH. Como o Estado de Minas
antecipou, o prefeito usou de um parecer da Procuradoria Geral do Município
para explicar a negativa do novo salário. Os termos da proposta foram
considerados inconstitucionais. Para a prefeitura, não se pode estabelecer o
salário dos vereadores em termos percentuais, mas fixar um valor financeiro na
lei. Em pareceres publicados na decisão, conselheiros do Tribunal de Contas do
Estado (TCE) entendem que o salário não pode ser diretamente vinculado ao dos
deputados estaduais. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) diz o mesmo.
Na proposta da Câmara, o novo vencimento seria a
"expressão financeira decorrente da multiplicação do valor do subsídio dos
deputados estaduais de Minas Gerais pelo percentual de 75%". Nessas
palavras, eles poderiam aplicar reajuste caso os colegas da Assembleia fizessem
o mesmo. O segundo artigo, que previa recomposição salarial automática de
acordo com o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) também foi considerado
ilegal. Segundo a procuradoria, não se pode garantir que os servidores terão
revisão anual de salário pois isso necessitaria de lei específica, e que fossem
cumpridos os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal.
ECONOMIA
Ano novo
traz as velhas pressões I
PCA-15 sobe 0,65% no Brasil e 0,73% em Belo Horizonte
Marinella Castro
Marinella Castro
O dragão acordou com apetite este ano, abrindo 2012
em alta de 0,65%, conforme a prévia da inflação medida pelo IPCA-15 (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O indicador, que é coletado do dia 15 do mês anterior à
primeira quinzena do mês de referência, superou dezembro, quando o índice
quinzenal registrou variação de 0,56%. Apesar do aperto observado na primeira
prévia de janeiro, ao longo do ano ele deve ficar mais manso, mas não o
suficiente para deixar o país confiante. As chamadas commodities agrícolas –
produtos com preços cotados no mercado internacional –, pesam num esfriamento
da inflação e começam a desacelerar. De acordo com analistas financeiros e de
bancos, no entanto, pode não ser por muito tempo. Os alimentos devem voltar a
pressionar o IPCA com mais vigor em 2013.
Em Belo Horizonte, o custo de vida aumentou
no início de janeiro mais que a média nacional, com elevação de 0,73%, ante
0,43% em dezembro. Embora bem acordado, o dragão perdeu fôlego em relação a
janeiro de 2011, quando o IPCA-15 subiu 0,76% no país. O mercado aposta em uma
inflação inferior a 5,3% este ano, mas, ainda assim, distante do centro da meta
projetada pelo governo de 4,5%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, apontou o
período do ano como fator de pressão. "A inflação está caindo de um modo
geral. Ela tem uma elevação sazonal nesta época", disse o ministro.
Apostar na queda das cotações internacionais dos
alimentos para segurar a fera pode ser perigoso. "O cenário é de
manutenção de preços das commodities com altas moderadas", comentou o
ex-secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais Gilman
Viana. Ele lembrou que o crescimento da massa salarial no Brasil sinaliza para
um mercado de consumo aquecido e que, ao redor do mundo, os países também
deverão manter as importações para garantir abastecimento e evitar inflação
interna. "O alimento sempre vai ser produto preferencial e não supérfluo.
Em caso de crise e cortes, não será o primeiro atingido", disse.
Viana acredita que a inflação oficial do país vai
superar a estimativa do mercado, ficando em 5,5%. "A fotografia é antiga.
No primeiro semestre o governo diz que a inflação vai cair, no segundo semestre
explica por que ela não caiu", alertou. Os alimentos compõem de forma
direita ou indireta a cadeia produtiva e por isso a inflação é bastante
sensível às variações das commodities agrícolas.
Tiago Curado, analista da Tendências Consultoria,
diz que o alívio das cotações internacionais aliado a uma desaceleração dos
preços administrados pelo governo (aqueles referentes aos serviços públicos)
deve ser suficiente para que o IPCA em 2012 feche na casa dos 5,45%. "Para
2013, no entanto, nossa projeção é de 6,1%. Com a recuperação da economia internacional,
as commodities devem novamente seguir trajetória de alta."
Produtos como o minério de ferro e o petróleo
também devem colaborar para manter a inflação em percentual menor que os 6,5% cravados
em 2011. Daniella Maia, analista da Ativa Corretora, aponta que o minério de
ferro deve manter este ano preço médio de US$ 140 por tonelada, portanto abaixo
dos US$ 167 atingidos o ano passado. Erick Scott, analista da SLW Corretora,
comenta que a situação menos instável da crise europeia mantém o barril do
petróleo oscilando entre US$ 90 e US$ 100, o que evita o repasse de preços para
o consumidor.
Os resultados do IPCA-15 acumulados em 12 meses
foram de 6,74% na RMBH e de 6,44% no Brasil. Na capital mineira, o principal
impacto em janeiro surgiu dos transportes, em função do aumento das passagens:
de 4,08% do ônibus urbano (1,13% no Brasil); 7,58% no táxi (0,99% no Brasil) e
12,42% no avião (10,54% no Brasil).
Força-tarefa
para a Copa
Paulo Henrique Lobato
O governo de Minas e associações ligadas ao
comércio e à prestação de serviços montaram uma força-tarefa para qualificar
mão de obra para a Copa das Confederações, que será realizada em 2013, e para a
Copa do Mundo, no ano seguinte. Em 2012, a expectativa é oferecer 42 mil vagas
em cursos voltados para profissionais e pessoas que desejam trabalhar como
guias turísticos, auxiliares de cozinha, taxistas, entre outros. O projeto, que
demandará investimento em torno de R$ 45 milhões, é fruto de uma parceria entre
a Federação do Comércio de Bens, Turismo e Serviços do Estado de Minas Gerais
(Fecomércio), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço
Social do Comércio (Sesc) e secretarias estaduais de Trabalho e Emprego (SET),
Turismo (Setur) e Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa).
A força-tarefa foi montada ontem, quando os
titulares das secretarias e diretores das entidades assinaram um termo de
cooperação técnica para ações conjuntas voltadas à qualificação profissional. O
chamado apagão de mão de obra especializada em alguns setores é uma das
barreiras a serem superadas em todo o país. Tanto em Minas quanto em outros
estados, diversos setores têm dificuldades de encontrar profissionais
capacitados. "Esta é uma triste realidade no Brasil. É uma preocupação
nossa. O governo está tomando providências. Não basta apenas o poder público
estar interessado e ter dinheiro. É preciso respaldo da sociedade", avalia
Carlos Pimenta, titular da SET.
O chamado apagão de mão de obra preocupa os
empresários do turismo, pois, de acordo com as previsões da União, 600 mil
estrangeiros devem visitar o Brasil durante a Copa. Destes, ainda segundo o
governo, 170 mil devem passar por Minas. "É importante a qualificação
tanto em Belo Horizonte quanto nas cidades do interior que vão receber os turistas.
Na capital, a demanda maior é no setor hoteleiro", explica Agostinho
Patrus Filho, secretário de Turismo. A grade de cursos que serão oferecidos
pela força-tarefa está sendo estruturada pelo Senac. A lista poderá ser
acessada no site www.mg.senac.br. "(A ideia) é atingir todas as cidades
com potencial para atender o turismo da Copa", destaca José Carlos Cirilo,
diretor do Senac em Minas.
NACIONAL
Minha
casa, minha vida pode atender famílias despejadas
União estuda situação da área desocupada, em São José dos
Campos (SP), para avaliar hipótese de trocar dívida de proprietários por parte
do terreno e nela instalar ex-moradores
Brasília – O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse
ontem que o governo avalia incluir as famílias da invasão do Pinheirinho, em
São José dos Campos (a 97 quilômetros de São Paulo), no programa habitacional
Minha casa, minha vida. O petista se reuniu ontem com assessores da Secretaria
Geral da Presidência e com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.
Segundo o senador, a AGU está terminando um levantamento sobre as dívidas da
massa falida da Selecta, empresa proprietária do terreno, com o governo federal
e espera ainda dados sobre os débitos com o governo estadual.
Suplicy disse que a Selecta tem pelo menos R$ 11
milhões em dívidas com a União e R$ 15 milhões com a Prefeitura de São José dos
Campos. A ideia é que a dívida seja trocada pela compra de parte do terreno. A
área foi alvo de uma enorme operação da Polícia Militar, que cumpriu um mandado
de reintegração de posse no domingo e retirou os moradores que viviam no
terreno. O terreno seria avaliado em mais de R$ 80 milhões e pertenceria à
família do investidor Naji Nahas.
"É uma hipótese – a entrada do Minha casa,
minha vida. Com essa questão da quitação da dívida, parte do terreno passará a
ser do poder público, que poderá usar a área para projeto habitacional". O
petista disse que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sinalizou que estaria
disposto a fazer obras de infraestrutura necessárias para o local. Na
sexta-feira, uma nova reunião com representantes dos governos federal, estadual
e municipal deve estudar medidas para as famílias atingidas pela desocupação,
determinada pela Justiça.
O coronel da Polícia Militar Manoel Messias Mello,
responsável pela operação de desocupação do Pinheirinho, afirmou em entrevista
coletiva que 40% dos barracos seriam demolidos ontem. Segundo ele, são cerca de
1,7 mil barracos no total. Isso porque há muitos terrenos em que há casas
conjugadas umas nas outras. Mello espera terminar a operação até o meio-dia de
hoje. A derrubada ocorre depois que um oficial de Justiça, acompanhado pela PM,
notifica o dono do barraco e confere o mobiliário de cada local. Depois disso,
o trator derruba as construções. Ontem, quatro tratores trabalhavam no local.
TRANSPARÊNCIA Mello comentou a declaração do
governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que seriam apurados eventuais abusos na
operação. "A Polícia Militar prima pela transparência. Todo e qualquer
abuso será estudado e analisado", disse. Muitos moradores reclamam de não
terem tempo de retirar seus móveis e objetos pessoais. De acordo com o coronel,
essas reclamações não se justificam, porque todos os moradores teriam recebido
uma senha que facilitaria o atendimento no momento da desocupação. Os móveis
cujo dono não é conhecido estão sendo levados para um depósito.
PROTESTO
Um grupo de entidades marcou para a manhã de hoje,
aniversário de São Paulo, um protesto contra as ações militares ocorridas na
reintegração de posse de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), e na região
da cracolândia, no Centro de São Paulo. Os manifestantes vão se encontrar na
Praça da Sé, por volta das 8h, e se dirigir ao Pátio do Colégio. O protesto,
intitulado "Especulação extermina: basta de trevas na Luz e em São
Paulo!", também faz menção à situação das famílias que viviam na Favela do
Moinho, no Centro de São Paulo, atingida recentemente por um incêndio.
Multa
para quem não trocar silicone
Convênios que se negarem a fazer a cirurgia de reposição
das próteses mamárias sem custo extra serão penalizados
Grasielle Castro
Brasília – A Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) divulgou ontem a súmula que assegura aos beneficiários das operadoras de
planos de saúde a realização, sem nenhum custo extra, da cirurgia reparadora de
troca das próteses mamárias preenchidas com material irregular das marcas Poly
Implants Prothese (PIP) e Rofil. Os convênios que se recusarem a custear os
novos implantes serão multados em até R$ 80 mil. De acordo com a norma, os
planos de saúde seguirão as mesmas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em nota, a ANS ressalta que a Súmula 22,
responsável pela inclusão dos implantes mamários PIP e Rofil no rol de cirurgia
reparadora com o fornecimento de uma nova prótese, é voltada para todos os
usuários de planos de saúde, com exceção dos convênios firmados antes da Lei nº
9.656, de 3 de junho de 1998, ou daqueles que possuam cláusula expressa da
cobertura de próteses. A justificativa do Ministério da Saúde para inserir o
procedimento nesse setor é de que esse é um caso de saúde pública, uma vez que
uma prótese rompida ou o vazamento do silicone podem causar inflamação, dor,
inchaço e deformidade do local.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar
(FenaSaúde), que representa 15 grupos de operadoras privadas de assistência à
saúde, incluindo o Grupo Amil, a Golden Cross e a Unimed, afirmou, por meio de
nota, que suas afiliadas vão cumprir o entendimento descrito em caráter
excepcional na súmula da ANS. No entanto, a federação argumentou que examinará
com mais profundidade o alcance e os impactos da norma.
No dia 13, quando a mudança de caráter da cirurgia
foi anunciada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a União Nacional das
Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) também informou que orientaria as
afiliadas a seguirem a regra. Porém, a presidente da entidade, Denise Eloi,
afirmou que estudaria melhor a proposta, já que ela implica um gasto que não
estava previsto.
SEM HONORÁRIOS O presidente da Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica, José Horácio Aboudid, reforça a indicação para que as
pacientes procurem os médicos que realizaram o implante. "Os cirurgiões
estão solidários com a situação das pacientes em relação às próteses e estão
reoperando sem cobrar honorários", destacou. Aboudid lembra que não existe
correria para retirar a prótese. "Não há nenhum indicativo de que esse
procedimento deve ser feito obrigatoriamente. Toda cirurgia tem um risco.
Continuamos indicando para que sejam trocadas apenas as próteses com rupturas",
frisou.
Na segunda-feira, o Ministério da Saúde publicou em
seu site a lista com os 371 serviços de saúde habilitados em cirurgia
reparadora pelo SUS que as pessoas com os implantes PIP e Rofil devem procurar
para a avaliação médica. O site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(www.anvisa.gov.br) traz mais informações.
GERAIS
Seis
meses de silêncio e indignação
Passados seis meses do suposto assassinato de dois
brasileiros na Amazônia peruana, o mistério sobre as circunstâncias das mortes
continua. As famílias do engenheiro mineiro Mário Augusto Soares Bittencourt,
de 61 anos, e do geólogo paulista Mário Gramani Guedes, de 57 anos, pediram
nova prorrogação da investigação sobre o caso, que não evoluiu para a prisão de
suspeitos e nem sequer resultou até agora em laudo sobre a causa da morte.
Angustiados com a falta de respostas, parentes dos profissionais mortos a
trabalho passaram a conduzir apuração paralela do crime, que envolveu a contratação
de perito independente e até a ida ao Peru, apoiada pela empresa Leme
Engenharia, onde ambos trabalhavam na área de projetos de usinas hidrelétricas.
Segundo Liliana Guedes, viúva de Mário Guedes, em
conversa com os familiares das vítimas, o legista peruano indicou que iria
concluir o laudo apontando "morte natural" de duas pessoas,
simultaneamente, provavelmente em 25 de julho, durante trabalho de prospecção
para a construção de usina hidrelétrica em acordo bilateral Brasil-Peru. "É
uma vergonha. Está faltando empenho do governo brasileiro em mandar apurar em
que circunstâncias morreram dois de seus cidadãos que estavam trabalhando lá
fora", protesta.
Entre as discrepâncias encontradas pela família
está a falta de uma das fotos da máquina de Mário Bittencourt – que pode ter
sido apagada –, a falta do cruzamento das ligações dos telefones celulares e
incongruências nos depoimentos dos investigados. Principal suspeito, o líder
comunitário Juan Zorrilla, que participou de manifestações contra a instalação
de usinas hidrelétricas, teria estado na sede da empresa peruana SZ Engenharia,
em 22 de julho, na sexta-feira anterior à segunda em que os dois desapareceram.
A SZ era a empresa contratada pela brasileira Leme Engenharia para conduzir os
trabalhos no país vizinho.
O embarque dos familiares ao Peru contou com a
participação da Fiscalía de Cumba, misto de promotoria e delegacia de polícia
peruana, encarregada das investigações, departamento que agora ganha novo
prazo, até 12 de fevereiro, para encerrar o inquérito. Durante o encontro, o
legista afirmou que os dois teriam morrido em função de um golpe de calor.
"É impossível, pois naquele dia a temperatura estava em 24 graus
centígrados e era inverno no Peru. E essa declaração contraria também a primeira
hipótese deles, que era de hipotermia (consequência da exposição a baixas
temperaturas). Depois, chegaram a falar que eles morreram em função de
remédios, o que só foi descartado depois de mandarmos as receitas médicas dos
medicamentos para pressão alta que os dois tomavam, o que é normal na faixa dos
60 anos", completa a viúva. Segundo ela, há registros de fotos tiradas nas
máquinas fotográficas dos dois até duas horas antes da morte. "Ninguém
morre de golpe de calor e fica tirando fotos duas horas antes", afirma.
"É um esculacho. Parece que há interesse em
encobrir as coisas e não em descobrir. O legista peruano é médico, mas também é
inca e a cultura deles lá é diferente. A proteção à natureza é um dogma para
eles", comenta o engenheiro Cláudio Bittencourt, irmão de Mário
Bittencourt. Ele critica o fato de as roupas que os brasileiros usavam no dia
não terem sido incluídas no inquérito. "Havia indícios de suco gástrico e
de fezes. Vômito e diarreia são indícios claros de envenenamento", compara.
Segundo ele, a comunidade peruana é claramente
contrária ao acordo bilateral com o Brasil para a construção de diversas
barragens no país vizinho. "O acordo é bom para o governo peruano, que vai
receber royalties, e é bom para o Brasil, que terá energia limpa sem alagar as
próprias terras. A população peruana é que fica com o passivo de inundar as
terras agrícolas e as comunidades indígenas para a construção das represas.
Eles não querem essas represas", lembra.
Apuração
e mistério em terras peruanas
Em busca de informações que ajudassem a esclarecer
o mistério que cerca a morte dos brasileiros, o Estado de Minas desembarcou no
Peru pouco mais de 10 dias após a descoberta dos corpos. Em reportagem
publicada em 7 de agosto, depois de levantamentos em cidades e na zona rural da
região onde trabalhavam o engenheiro e o geólogo, o EM já mostrava a descrença
de parentes em relação às hipóteses oficiais e ao andamento dos trabalhos. A
apuração revelou também que o próprio Ministério Público local levantou
elementos que levaram a promotoria a trabalhar com a hipótese de homicídio e a
investigar dois camponeses pelas mortes. A falta de conclusões, tanto nos
levantamentos realizados no país vizinho como em exames feitos no Brasil,
passados seis meses do episódio, mostra que os temores dos parentes das vítimas
eram mais do que justificados.
INTERNACIONAL
Sites de
troca de arquivos impõem autorrestrição
Depois do fechamento da página de compartilhamento
Megaupload pelo FBI e da prisão de seus proprietários, dezenas de empresas
similares deletam arquivos ou saem do ar
Baixar um filme para ver no fim de semana ou aquele
disco que tinha em vinil e nunca mais ouviu? Há anos a internet tem disponibilizado
milhões de arquivos digitais para download livre. Milhões de pessoas certamente
construíram sua própria filmoteca ou discoteca dentro de seus computadores ou
HDs (hard disk, unidades de armazenamento) portáteis. No entanto, a festa de
compartilhamento gratuito de arquivos na internet pode estar com dias contados.
Desde que o FBI (polícia federal dos Estados
Unidos) fechou o site de compartilhamento Megaupload.com, há 10 dias, e prendeu
seu dono, na Nova Zelândia, dezenas de outros sites passaram a fazer alterações
e restringir acesso gratuito a arquivos. Mesmo com operações legais, sites como
o File Sonic, Uploaded, Fileserve, VideoBB, Filepost, 4Shared, Uploaded.to e
dezenas de outros fecharam suas operações, estão deletando arquivos ou restringiram
acesso aos próprios usuários, permitindo apenas que quem carregou o arquivo
tenha acesso a ele.
O proprietário do Megaupload, Kim DotCom, foi preso
em sua mansão na Nova Zelãndia, assim como outros executivos da empresa. DotCom
aguarda audiência em tribunal neozelandês e pelo menos um de seus sócios deve
ser extraditado para julgamento nos Estados Unidos. A ação contra o Megaupload
se baseou nas acusações de infração de direitos autorais. A medida foi tomada
em meio a debates em torno das leis antipirataria Stop Online Piracy Act (Sopa)
e Protect Intelectual Property Act (Pipa). No momento, o projeto de lei Pipa
teve votação adiado e a Sopa foi retirada da pauta do Congresso.
Na quinta-feira, o grupo de hackers Anonymous
desencadeou uma operação de ataque a diversos sites do governo americano e de
empresas de mídia que apoiam as controversas leis em defesa dos direitos
autorais e contra a suposta pirataria na internet. A chamada Operação
Megaupload se espalhou e teve consequências até no Brasil, com sites das
grandes indústrias de entretenimento, como a Universal e o MGM, sendo atacados
por sobrecarga. Ao todo, mais de 100 sites foram atacados e retirados do ar por
determinados períodos. Desde então, operações isoladas têm sido feitas, mas até
ontem não havia uma reação coordenada sobre as mudanças na internet. Na
segunda-feira, o site da Sony foi hackeado por pessoas ligadas ao grupo
Anonymous, que disponibilizou (por meio de arquivos torrent) todo o conteúdo –
músicas e filmes – da companhia on-line.
Críticos das propostas e das ações do governo
norte-americano argumentam que as leis ferem a liberdade de expressão e que a
internet desempenha um importante papel educativo. Também classificam as ações
do governo americano para fechar sites de compartilhamento como ilegais, na
medida em que vários deles são hospedados em outros países e as prisões, no
caso do Megaupload, foram feitas na Nova Zelândia e na Europa. De qualquer
maneira, a legislação sobre direitos autorais e compartilhamento de arquivos na
internet é falha e passa por debates em vários países. A Europa estuda
regulamentação de sites de relacionamento para que os usuários sejam
responsáveis pelo conteúdo que tornam público.
Em entrevista à rádio on-line Evolver.fm, um
porta-voz do site de compartilhamento Rapidshare declarou: "Nós somos
diferentes de serviços como o Megaupload em vários pontos cruciais. Um das
principais diferenças é o fato de que nunca tivemos a intenção de nos abster de
qualquer acesso legal de nenhuma autoridade", acrescentando que tem
endereço registrado na Suíça, nomes verdadeiros de seus proprietários
plenamente declarados.
A primeira reação às alterações e fechamentos de
sites de compartilhamento foi a ira de seus usuários. Boa parte desses sites
cobram por seus serviços e os clientes se sentem lesados por perderem dados ou
simplesmente terem suas contas abolidas, sem aviso prévio.
ANONYMOUS BRASIL
Os ataques de vingança por causa do fechamento do
site Megaupload tiveram bastante repercussão no Brasil, com grande discussão no
Twitter e várias pessoas aderindo aos ataques aos sites do governo americano na
quinta-feira. No dia seguinte, sites brasileiros de empresas de entretenimento
dos EUA também foram atacados e as páginas saíram do ar. Esta semana, porém, os
ataques foram dirigidos a sites do Judiciário do estado de São Paulo e algumas
páginas do governo estadual e federal. Boa parte dos comentários brasileiros no
Twitter, sob a hashtag Anonymous se voltavam contra a ação da polícia de São
Paulo na desocupação da área de Pineirinhos, em São José dos Campos, acusada de
ser violenta.
CIÊNCIA
Por uma
agricultura sustentável
Especialistas de vários países, inclusive do Brasil,
sugerem medidas para que a produção de alimentos cresça sem causar danos à
natureza e ao clima
Max Milliano Melo
Brasília – O mundo se encontra diante de um
gigantesco desafio: aumentar a produção de alimentos sem destruir a natureza
nem piorar o aquecimento global. O problema, dizem os cientistas, é que a
humanidade já chegou muito perto de seu limite seguro. O planeta abriga 7 bilhões de pessoas, e a produção atual
seria capaz de nutrir entre 8 bilhões, segundo estimativas mais conservadoras,
e 10 bilhões, para os mais otimistas. Como a população não para de crescer,
torna-se urgente a ampliação da capacidade agropecuária, caso contrário, em
algumas décadas a fome não será um problema apenas político e econômico, mas
também numérico.
Como crescer a produção sem que isso signifique
aumentar a emissão de gases do efeito estufa e sem destruir ainda mais
florestas para transformá-las em campo? É essa pergunta que especialistas
governamentais de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, buscam responder
em um artigo publicado na edição de sexta-feira da revista científica Science.
O texto aponta que o caminho para a conciliação entre agricultura e proteção
ambiental é pavimentado em grande parte pela ciência. O desenvolvimento de
ferramentas que intensifiquem de maneira sustentável a agricultura, segundo os
gestores, seria a ferramenta mais eficiente para aproveitar melhor o solo e a
água, sem que isso implique em danificar os ecossistemas.
Além disso, as mudanças climáticas, em ritmo
acelerado, também provocarão a necessidade de adaptação da forma como a
agropecuária trabalha hoje. "Precisamos definir nosso foco em agricultura,
estabelecendo como prioritárias as práticas que continuam a aumentar o
rendimento e melhorar a sua eficiência", explica ao Estado de Minas a
norte-americana Molly Jahn, da Universidade do Wisconsin–Madison, nos Estados
Unidos, uma das autoras do artigo.
Para o grupo de especialistas ouvidos, o primeiro
passo para solucionar a questão é a tomada de consciência, por parte dos
países, de que o combate às mudanças climáticas não passa apenas pela mudança
do padrão energético, com a redução do uso de combustíveis fósseis. Uma
produção agrícola menos agressiva também tem papel importante nesse processo.
"O investimento em pesquisa aumenta a
produtividade e a estabilidade da produção, e também reduz o impacto ambiental
da agricultura", afirma Molly Jahn (veja quadro com as recomendações).
"Os governos devem reconhecer claramente o desafio da segurança alimentar,
que é um problema crônico em alguns lugares no mundo em desenvolvimento, mas
também é um problema nos países desenvolvidos, como o meu", completa a norte-americana.
Bons exemplos Na tentativa de fazer com que a
ciência seja mais ouvida na tomada de decisões, os especialistas citam casos de
sucesso em nações ricas e pobres. De acordo com o artigo, em Níger, a
implantação de 5 milhões de hectares de agroflorestas, um sistema que integra
agricultura e florestas para alcançar produtividade e ao mesmo tempo preservar
o solo, beneficiou 1,25 milhão de domicílios e aumentou em 500 mil toneladas a
produção de grãos, além de manter e ampliar o sequestro de carbono. A
implantação de iniciativas mais verdes na Dinamarca vem reduzindo em 28% as
emissões de gases de efeito estufa, com aumento de produtividade.
Para eles, a abordagem integrada de agricultura e
mudanças climáticas deve se tornar um dos eixos centrais tanto na discussão de
como alimentar a população de regiões de extrema pobreza quanto na solução dos
problemas do clima. Contudo, ainda falta vontade política para que saiam do
papel. "Muitas práticas agrícolas se mostram promissoras no que se refere
a reduzir os riscos inerentes à produção de alimentos, cortar as emissões de
gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, proteger as florestas e outros
recursos naturais", afirma, por meio de sua assessoria, Tekalign Mamo, do
Ministério da Agricultura da Etiópia. "No entanto, as políticas atuais não
dão um estímulo suficiente para a adoção de abordagens sustentáveis nem estão
preocupadas em preparar o setor agrícola mundial para as mudanças
climáticas", completou.
O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos
Nobre, concorda. Para ele, as negociações sobre o tema em nível internacional
precisam ser agilizadas. "Na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas
(COP-17), não podemos dizer que não houve avanços, mas eles foram poucos e
muito lentos", lembra o secretário, referindo-se à conferência das Nações
Unidas realizada na África do Sul em dezembro. "A agricultura precisa se
tornar um eixo central da questão das mudanças climáticas. Se somarmos o
carbono liberado pela produção agrícola – de maneira direta e indireta, que
inclui o que é desmatado para plantar –, veremos que o efeito é maior do que o
do uso de combustíveis fósseis", aponta.
Para ele, o desafio central na questão é que tanto
países ricos quanto pobres não veem na questão uma oportunidade de crescimento,
e sim uma forma de limitação da produção. "Os países pobres alegam que
produzem pouco e não têm histórico de emissão. Dizem que a questão não é
interessante para eles", explica o secretário do MCTI. "Já os países
ricos, que têm uma agricultura de ponta e altamente emissora, enxergam na
mudança uma ameaça à produtividade", completa.
Brasil No caso do Brasil, Carlos Nobre acredita que
já existe uma larga gama de alternativas para produzir mais de maneira mais
sustentável, já que o país seria um dos líderes em tecnologia agrícola e
ambiental no mundo. "Já está implantado o programa de financiamento da
agricultura de baixo carbono, existem várias práticas de integração de agricultura
e pecuária que não diminuem a produtividade, melhoram a produção e liberam
menos carbono. Sem falar em formas de fixação de nitrogênio no solo sem a
necessidade de uso de fertilizantes, o que diminui a liberação de óxido
nitroso, um dos gases do efeito estufa", exemplifica. "O problema é
que a procura pelos empréstimos, por exemplo, ainda é muito baixa. O setor
agropecuário precisa responder se está disposto (a aderir a essas
iniciativas)", questiona.
Para ele, a participação dos produtores precisa ser
mais bem, pois existe uma cultura que dificulta a inovação na área. "No
Brasil, esse é um setor culturalmente muito conservador, tradicionalmente lento
para incorporar novas tecnologias", acrescenta Carlos Nobre. "A
mudança de paradigmas na produção agrícola é inevitável. Não vejo, daqui a 20
anos, uma agricultura igual à de hoje", acrescenta.
Rodrigo Justus de Brito, assessor da Comissão
Nacional de Meio Ambiente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA),
concorda com a posição dos especialistas, de que a agricultura tem sido deixada
de lado na discussão ambiental. "A produção agrícola vem sendo vista como
um detalhe na questão do desmatamento, vem sendo empurrada com a barriga",
acredita. "A questão vem de encontro ao que pensamos em relação à política
internacional. A ciência deve colaborar. Principalmente produzindo estudos que
mensurem quanto emitimos em cada atividade para que as áreas mais problemáticas
sejam melhoradas", completa o representante.
Para ele, contudo, ao contrário do que afirma o
secretário Carlos Nobre, o setor agrícola brasileiro está aberto à inovação.
"A agricultura brasileira é de baixa emissão. A maior parte das emissões
de carbono brasileiras estão ligadas ao desmatamento", afirma o assessor
da CNA. "A baixa adesão a alguns programas se deve muito mais à falta de
regulamentação estatal e à dificuldade que o agricultor tem de acessar esses
programas", opina.
De acordo com Brito, nos próximos anos o panorama
deve melhorar. "As regulamentações dos programas de concessão de crédito
para produção de baixo carbono saíram e provavelmente teremos um aumento da
procura em 2012", aposta. "Na verdade, teremos um problema maior.
Foram R$ 2 bilhões para esse tipo de financiamento. À medida que todos
procurarem, deve faltar dinheiro."
Soluções
Veja as recomendações do grupo de especialistas para a
mitigação das mudanças climáticas:
» Integrar a segurança alimentar e a agricultura
sustentável nas políticas globais e nacionais, incluindo as de adaptação e
mitigação de mudanças no clima
» Aumentar o investimento global em
sustentabilidade na agricultura e em sistemas de produção de alimentos
» Intensificar a produção agrícola de forma
sustentável e, ao mesmo tempo, reduzir as suas emissões e outros impactos
ambientais
» Criar programas-alvo e políticas de apoio às
populações mais vulneráveis
» Remodelar o acesso e consumo de alimentos e
assegurar que as necessidades nutricionais básicas sejam atendidas
» Reduzir a perda de resíduos alimentares e de toda
a cadeia de abastecimento
» Criar sistemas de informação abrangente sobre as
dimensões humanas e ecológicas das mudanças climáticas e da fome
Fonte: Science
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