PRIMEIRA PÁGINA
Na rota do crescimento
Nenhum outro estado concentra tantos municípios na
lista das balanças comerciais mais positivas, como mostra levantamento do
Estado de Minas com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Em 2010, eram cinco: Itabira, Ouro Preto, Nova Lima,
Varginha e Araxá. A eles se juntaram Brumadinho, Itabirito e São Gonçalo do Rio
Abaixo. Destaque para esse último, que pulou do 105º para o 14º lugar no
ranking, graças à Vale, que aumentou a produção local de minério de ferro, de
2,6 milhões para 16 milhões de toneladas
POLITICA
Parceria rompida no meio do caminho
Prefeitos e vices de cidades mineiras quebram a
aliança política e vão tentar a sorte no pleito de outubro em lados opostos. Em
alguns casos, união não sobreviveu ao primeiro ano de mandato
Na campanha que os elegeu, caminharam lado a lado,
sorridentes, sintonizados, até demais, com troca de elogios. Mas, no exercício
do poder, se desentenderam e deverão atuar em campos opostos na eleição de
2012. Esse é o roteiro das desavenças entre o prefeito e o vice-prefeito
eleitos em 2008 e que hoje, ao fim de três anos de mandato, estão rompidos. A
situação de Belo Horizonte, envolvendo o titular Marcio Lacerda (PSB) e o seu
vice, Roberto Carvalho (PT), se repete em outras cidades mineiras.
Adversários no plano federal, tucanos e petistas se
juntaram em Manhumirim, na Zona da Mata, em 2004, quando foram eleitos como
prefeito e vice o padre Ronaldo Lopes (PT) e o empresário Sebastião Ribeiro
(PSDB). A chapa foi reeleita em 2008. No entanto, a lua de mel se desfez no fim
de 2010, quando o vice anunciou a ruptura. "Foram várias coisas que me
levaram ao rompimento. A primeira delas foi o desprezo. O PSDB ocupava duas
secretarias na administração. O prefeito tirou o nosso pessoal e colocou no
lugar pessoas do PT. Isso para nós foi um chute no traseiro", alega
Sebastião Ribeiro.
Ele lembrou que na campanha de 2010 também houve
divisão na prefeitura, com um grupo (do prefeito) apoiando o então candidato a
governador Hélio Costa (PMDB) e outro grupo (do vice) fazendo campanha para a
reeleição de Antonio Anastasia (PSDB). O vice-prefeito disse que não vai se
candidatar no próximo ano e que vai apoiar o nome do vereador Jesus Aguiar
(PSDB) para disputar a sucessão municipal contra o candidato da atual
administração.
O prefeito Ronaldo Lopes argumenta que foi o
próprio PSDB, partido do vice-prefeito, que decidiu romper com sua
administração. "Os dois vereadores do partido foram para a oposição",
afirmou. O chefe do Executivo desmente que teria "desprezado" o vice.
"Ele aparecia comigo em todas as solenidades e em fotos. Mas o problema é
que ele tinha uma atitude de querer ser o prefeito. O vice tem sua função e seu
valor, mas tem seus limites", afirmou.
O casamento na Prefeitura de Ipatinga, no Vale do
Aço, também não deu certo. No fim de outubro, a vice-prefeita da cidade, a
pastora Márcia Perozini (PSC), divulgou uma carta anunciando o seu rompimento
com a administração do prefeito Robson Gomes (PPS), com o qual venceu a eleição
extemporânea, em 30 de maio de 2010. A carta foi divulgada pela assessoria de
comunicação da Igreja do Evangelho Quadrangular, da qual Márcia é coordenadora.
No comunicado, a vice-prefeita alegou que decidiu romper com a administração
municipal "por não compactuar com a displicência política existente".
"Acabei por observar que as divergências de ponto de vista exigiam o meu
afastamento da administração."
Declarou ainda que o fato de assumir tal posição
ocasionou a demissão de todos os funcionários de seu gabinete,
impossibilitando-a de atender a população. "Confesso minha tristeza por
ver tudo passar diante de mim sem poder contribuir para a execução de projetos
que sempre defendi." Ainda no texto, ela diz que "aquele objetivo,
que foi também objeto de campanha nas últimas eleições municipais, se perdeu ao
longo do caminho." A reportagem não conseguiu contato com Márcia Perozini.
Procurada, a assessoria da Prefeitura de Ipatinga informou por meio de nota que
a administração municipal "não reconhece como oficial a carta distribuída
pela Assessoria Metropolitana de Comunicação, justamente porque o prefeito
Robson Gomes da Silva (PPS) considera a pastora Márcia Perozini como
vice-prefeita eleita ao seu lado pelo voto do povo".
Ex-amigos Os desentendimentos políticos em
Varginha, no Sul de Minas, acabaram com uma amizade de infância. Colegas desde
o ensino fundamental, Eduardo Antônio Carvalho (PT) e Marcos Paiva Foresti
(PPS), apesar de serem de partidos opostos no cenário nacional, se uniram na
disputa do pleito de 2008 e saíram vencedores. Mas a relação dos dois mudou
quando assumiram o comando da cidade. Segundo Marcos, o grupo de secretários
petistas passou a dominar as ações na prefeitura e deixou de fora o
"adversário político".
O clima ficou ainda mais tenso quando o
vice-prefeito entrou na competição de votos com uma candidata a deputada
estadual petista, nas eleições de 2010. "Há três anos Eduardo não tira
férias para eu não assumir. Ele tirou 10 dias de folga este ano. De acordo com
a legislação, eu só assumiria depois de 15 dias", reclamou Foresti. Nas
eleições deste ano eles devem ficar de lados opostos no palanque, pelo menos
essa é a pretensão do vice-prefeito. O prefeito não foi localizado pela
reportagem no celular. A assessoria de imprensa informou que ele está em
viagem.
Armadilha do destino
"Eu nunca participei da administração dela.
Desde quando assumiu a prefeitura, ela foi eliminando um a um", reclama
Reinaldo César Guimarães (PMDB), ex-vice-prefeito e atual prefeito de Conceição
do Mato Dentro, Região Central de Minas. Reinaldo se uniu a Nelma Carvalho
(PR), no ano passado, para derrotar a família Costa, nas eleições
extemporâneas. Eles venceram a primeira batalha, mas outra só estava começando
na administração de Conceição. O fato é que o vice-prefeito, que se sentia
rejeitado na administração, acabou saindo no lucro, já que Nelma foi cassada
pela Câmara Municipal no início do mês por ato de improbidade administrativa e
ele assumiu a cadeira do Executivo.
Ele diz que Nelma não cumpriu as promessas que fez
para a sociedade, não o escutava e "acabou fazendo o mesmo que os
adversários políticos". Já a ex-prefeita argumenta que foi Guimarães quem
não quis assumir o seu lugar de vice. "Quando eu o procurei para que
assumisse o gabinete do vice-prefeito ele disse: "Por favor não me faça de
novo esse convite. Já tenho problema de sobra no meu escritório de
advocacia"", conta Nelma.
As rixas políticas muitas vezes extrapolam os
debates de interesse público e partem para a queda de braço que deságua em
atitudes extremadas , como a proibição de acesso a gabinete e corte de salário.
Em Montes Claros, de 362 mil habitantes, no Norte de Minas, o prefeito Luiz
Tadeu Leite (PMDB) foi eleito ao lado da companheira de chapa, a dentista
Cristina Pereira (PP), mulher do antigo adversário, o deputado estadual Gil
Pereira, atual secretário estadual para o Desenvolvimento dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas. Mas a união durou somente até as
eleições de 2010, quando o prefeito lançou como candidato a deputado estadual
seu filho, Tadeu Martins Leite (PMDB), que foi eleito. Logo depois, a vice
rompeu com o prefeito e se licenciou para fazer campanha para o marido.
Cristina Pereira alega que rompeu com o chefe do
Executivo porque foi "obrigada" a isso. "Não fui eu que me
afastei da prefeitura, mas o prefeito que me afastou. Teve um dia que fui
trabalhar e encontrei a porta do meu gabinete trancada", afirmou. A
vice-prefeita disse que, mesmo tendo direito aos subsídios, não recebe salário
da prefeitura desde setembro de 2010. Por sua vez, Tadeu Leite alega que a
vice, "por livre e espontânea vontade, parou de ir à prefeitura". Ele
afirmou que está disposto a liberar os pagamentos dos salários atrasados da
vice. "Mas ela tem que comparecer à prefeitura para assinar o empenho",
assinalou. Tadeu Leite assegura que nunca trancou a porta do gabinete da vice.
"A chave do gabinete estava com a própria vice-prefeita. Só que ela deixou
a chave em casa", disse, acrescentando que a "a prefeitura está de
portas abertas para Cristina Pereira para que ela possa ajudar a administrar a
cidade".
Ameaça de chibata leva a fim da união
Em Buritizeiro, 26,2 mil habitantes, separada de
Pirapora pelo Rio São Francisco, a vice-prefeita Edna Salgado (PCdoB) se
distanciou do prefeito Salvador Raimundo Fernandes (PT) ainda no primeiro ano
de mandato. "O prefeito me acusou de ter participado de uma negociação
para receber propina, coisa que nunca fiz. Ele chegou a declarar que ia me
esperar no gabinete com uma chibata. Não dava para continuar com uma pessoa
dessas", relata Edna. Durante cinco meses (de setembro de 2010 a fevereiro
de 2011), ela esteve no comando da prefeitura, por causa do afastamento do
prefeito, motivado por denúncia de irregularidade em licitações. O titular
retornou ao cargo graças a uma liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de
Minas Gerais (TJMG).
Edna Salgado afirma que queria "contribuir com
a administração municipal", sobretudo na área de educação, já que é
professora universitária. "Mas sou proibida de entrar na prefeitura. Me
ofereci para trabalhar, mas o prefeito mandou dizer que era para eu ficar em
casa", disse a vice, acrescentando que está "decepcionada" com a
política. A reportagem, por várias vezes, tentou contato com o prefeito de
Buritizeiro para ouvir sua versão, mas não conseguiu localizá-lo.
Janaúba, 65,3 mil habitantes, é outro município
onde prefeito e vice não sentam à mesma mesa desde o primeiro ano de mandato.
"Fiquei somente dois meses e 20 dias na prefeitura. Vi que o plano de
governo era uma coisa e, na prática, tinha outro rumo", conta o
vice-prefeito Valério Dias (PPS), que chegou a exercer o cargo de secretário
municipal de Obras no curto período. O vice afirma que se distanciou do
prefeito José Benedito Nunes (PT) "por ele não cumprir os compromissos
firmados com a população durante a campanha". Dias reclama que não tem
acesso a informações da administração e entrou com uma ação na Justiça para
conseguir dados de licitações realizadas nos últimos dois anos. Por outro lado,
o vice anuncia que vai disputar a prefeitura no ano que vem, devendo enfrentar
o próprio Benedito, provável candidato à reeleição. O prefeito não foi
localizado pela reportagem.
Também no Norte de Minas, titular e vice andam às
turras em Mato Verde, de 12,7 mil habitantes. O vice-prefeito Antonio Pinheiro
Teixeira (PP), o "Tone de Leobino", se distanciou da prefeita Beatriz
Fagundes Alves (PT) oito meses depois da posse. "Rompi por discordar da
maneira com que ela vinha conduzindo a administração e, principalmente, por
causa das denúncias de corrupção", sustenta Teixeira. Ele ficou à frente
da prefeitura entre o fim de junho e o fim de outubro enquanto a titular esteve
afastada por causa de denúncia de desvio de verbas por intermédio de empresa
fantasma, apresentada pelo Ministério Público estadual. Beatriz Fagundes, que
retornou ao cargo por força de liminar concedida pelo TJMG, não foi localizada
pela reportagem.
Reajuste em discussão
Amanda Almeida
O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB),
pode anunciar hoje aos vereadores qual será sua posição sobre o reajuste de
61,8% no salário dos eleitos para a próxima legislatura da Câmara Municipal,
aprovado no apagar das luzes do ano passado. Depois de dizer que a promulgação
da lei – quando o Executivo não sanciona nem rejeita a proposição – era uma das
opções, ele recuou e disse que não ficará em cima do muro. O aumento no
contracheque dos parlamentares foi mais uma vez alvo de protesto ontem. O
músico Gabriel Guedes escolheu a Praça do Papa, um dos cartões-postais da
capital: "Os vereadores deveriam prestar mais atenção na população do que
no bolso deles".
Foram convocados para a reunião o líder de governo,
Tarcísio Caixeta, o presidente em exercício, Alexandre Gomes (PSB), e o
secretário-geral da Mesa, Cabo Júlio. Conforme o Estado de Minas antecipou,
Lacerda caminha para um veto técnico, alegando inconstitucionalidade dos termos
em que o reajuste foi votado. Segundo equipe técnica da PBH, o Tribunal de
Justiça de Minas Gerais (TJMG) estabeleceu que a lei sobre o reajuste deve
fixar o valor do salário, e não apenas a vinculação de 75% ao subsídio dos
deputados estaduais, como registra o projeto.
Ao som de Beethoven, Gabriel atraiu curiosos na
Praça do Papa, que acabaram se tornando também manifestantes. "Estou
acompanhando esse aumento dos vereadores com uma imensa sensação de impotência.
Prefiro acreditar que é melhor tentar fazer barulho do que ficar calado. Vamos
ver se eles mudam de ideia ou o Lacerda rejeita a proposta", afirmou o
estudante de administração Felipe César Viana, de 22 anos.
ECONOMIA
São as exportações, uai
Produção e valorização de bens minerais e do café colocam
oito cidades mineiras no ranking das 20 mais do país em saldo comercial. Três
entraram na lista no ano passado
Paula Takahashi e Frederico Bottrel
Nem a valorização do dólar muito menos o cenário
recessivo da economia na Zona do Euro foram suficientes para impedir que Minas
Gerais registrasse, em 2011, o maior número de cidades na lista das 20
brasileiras com melhor saldo na balança comercial. Foram oito, contra cinco em
2010. Além da conquista inédita, nenhum outro estado concentra tantos
municípios na lista como mostra levantamento do Estado de Minas a partir de
dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Se juntaram a Itabira, Ouro Preto, Nova Lima,
Varginha e Araxá – que já estavam entre as que exportam mais do que importam –
as cidades de Brumadinho, Itabirito e São Gonçalo do Rio Abaixo. Um dos grandes
destaques fica por conta dessa última, que em 2010 ocupava a 105ª posição no
ranking e hoje aparece em 14º, entrando para o top 10 mineiro. Boa parte do
resultado é conferido ao desempenho da mineradora Vale, que elevou a produção
de 2,6 milhões de toneladas para 16 milhões no município.
Mas este não é o único caso de destaque. Nova Lima,
que saltou do 12º lugar para a terceira posição no país em saldo comercial –
atrás apenas de Parauapebas (PA) e Angra dos Reis (RJ) –, praticamente
triplicou o valor das exportações no período. Drummond já sabia: se mineiro tem
"oitenta por cento de ferro nas almas", a valorização do minério foi
a locomotiva para expansão dos valores exportados pelos municípios. No ano
passado, o preço médio da tonelada ficou em US$ 167,59, 14% superior à média de
US$ 146,71 em 2010.
A tendência iniciada em 2010, porém, não deve ser
mantida em 2012. "No fim do ano passado já verificamos certa retração nos
preços, o que deve se confirmar este ano, com a questão da crise econômica nos
EUA e na Europa. Do jeito que está, caminhamos para preço mais
estabilizado", projeta Alexandre Brito, consultor de negócios
internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Mas não é só o preço que explica o desempenho
extraordinário de São Gonçalo do Rio Abaixo. Segundo o prefeito Raimundo Nonato
Barcelos (PDT), a mina da Vale na região é relativamente nova, com operações
iniciadas em 2007. "Ela pode ter atingido no ano passado o pico da
produção já que é considerada a maior mina a céu aberto do mundo",
pondera. O reflexo está na arrecadação de royalties que pulou de R$ 56 milhões
para R$ 90,8 milhões entre 2010 e 2011, alta de 62%.
Em nota, a Vale informou que "não houve
variações significativas nos volumes produzidos e exportados entre os
municípios mineiros onde possui operação de 2010 para 2011" como mostra o
relatório do MDIC. A explicação para o sobe e desce das cidades que sediam
unidades da mineradora pode estar no fato de que, no ano passado, houve
"uma equalização do cadastro de todos os municípios na Secretaria de
Comércio Exterior, de forma a retratar a realidade da participação de cada um
no total de minério exportado", afirma a empresa.
Diversificação Na avaliação de Brito, a mineração é
o carro-chefe das exportações não apenas da nova integrante do ranking, como
também das demais – à exceção de Varginha, impulsionada pelo café. O que pode
ser bom em anos como 2011, mas buscar a diversificação é essencial para manter
a posição favorável no saldo. Ele chama a atenção para o caso de Nova Lima, que
tem a pauta mais diversificada.
O prefeito Carlos Roberto Rodrigues (PT), confere
atenção especial para as empresas de tecnologia da informação (TI) instaladas
no Bairro Vila da Serra. Em São Gonçalo, medidas já estão sendo tomadas neste
sentido. "Tentamos diversificar e hoje já estamos discutindo a instalação
de outras empresas de serviços e também uma fábrica de tecidos", pondera Raimundo.
O desafio, na avaliação do secretário de Fazenda de
Brumadinho, Hernane Abdon, escapa da esfera municipal: "Enquanto não
houver reforma tributária para incentivar a instalação de empresas que
beneficiem aqui o produto retirado do subsolo, não vamos enriquecer de fato. O
minério passa aqui na minha porta todos os dias e vai virar produto na
China", lamenta. O país asiático reafirmou sua posição como principal
parceiro econômico do estado, para onde as exportações subiram 43%.
34,8% de voos atrasados
O radar secundário da torre de comando do Aeroporto
Internacional Tancredo Neves, de Confins, na Grande Belo Horizonte, passou,
ontem, por manutenção entre as 8h15 e as 11h55. Os pousos seguiram a
programação das companhias, mas as decolagens foram afetadas. De acordo com
informações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero),
as autorizações para as aeronaves levantarem voo tiveram de ser dadas em
velocidade mais lenta, o que explica os atrasos registrados no período. Não
houve, porém, paralisação completa das operações. Até as 18h de ontem, 32 dos
92 voos programados para partir de Confins saíram além do horário previsto, o
equivalente a 34,8% do total. Outros dois voos foram cancelados. Logo que a
manutenção terminou, às 11h55, os aviões iniciaram sequenciamento de embarque
em intervalos de cinco minutos. Segundo a Infraero, em uma hora as decolagens
já haviam sido normalizadas.
Um basta aos maus-tratos
Um basta aos maus-tratos Em 184 cidades do país, pessoas
foram às ruas com seus bichos pedir mais rigor na punição contra esses crimes.
Entidades começaram a colher assinaturas para propor lei nesse sentido
Em Belo Horizonte, uma das atrações foi a cadela
cadeirante Vitória, abandonada pelos antigos donos depois de atropelada
Milhares de donos e defensores dos direitos dos
animais foram ontem às ruas em 184 cidades brasileiras e quatro do exterior –
Londres (Inglaterra), Nova York, San Diego e Miami (EUA) – protestar contra os
recentes casos de abusos e maus-tratos aos bichos e pedir uma punição rigorosa
a quem pratica esse tipo de crime. Entidades protetoras iniciaram o cadastro de
eleitores favoráveis à futura Lei Lobo – proposta de legislação de iniciativa
popular que está sendo elaborada e dependerá de 1,3 milhão de assinaturas para
tramitar – cuja campanha de adesões será lançada em abril. Na Praça da
Liberdade, em Belo Horizonte, cerca de 300 pessoas compareceram com seus
animais e pediram o fim dos maus-tratos.
O movimento "Crueldade nunca mais" ocupou
pontos simbólicos de capitais e outras cidades na manhã de ontem, de forma
simultânea. Em caminhadas com cartazes e animais de estimação, os protetores
pediram o fim de casos como o de Lobo, cão rottweiler que, em novembro, foi
amarrado pelo dono no para-choque do carro e arrastado por 11 quilômetros. O
animal acabou morto em Piracicaba, no interior de São Paulo. O episódio da
enfermeira Camila Corrêa, de 22 anos, que espancou seu yorkshire até a morte na
frente da filha de 1 ano – ela foi indiciada por maus-tratos e constrangimento
de criança –, também foi lembrado.
Conforme a legislação de crimes ambientais (Lei
9.605/98), quem pratica abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais está sujeito
a pena de três meses a um ano e multa. A pena é aumentada de um sexto a um
terço se o agredido morrer. Punição que os defensores de animais consideram
branda e pouco aplicada. "Temos que mobilizar a população pela criação de
uma lei federal para punir com o rigor necessário os maus-tratos",
defendeu a integrante do Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais Adriana
Cristina Araújo. Os termos da proposta de lei mais rigorosa ainda não foram
divulgados.
No ato em Belo Horizonte, as entidades recolheram
assinaturas pela criação de uma delegacia estadual de proteção animal. Também
cadastraram os interessados para aderir à petição de lei popular quando ela for
lançada em abril. "O primeiro passo é ter delegados e policiais preparados
para essa função", disse a coordenadora do "Crueldade nunca
mais" na capital mineira, Stênia Couto. O segundo é melhorar a lei.
"Hoje a pessoa praticamente não fica presa. Se houver uma lei mais severa,
a pessoa pensa duas vezes antes de praticar maus-tratos", disse.
adoção Em meio a tantos cães, uma
"cadeirante" chamou a atenção. A vira-lata Vitória, de 10 anos, foi
"protestar" com o dono, o advogado Rafael Henrique Lima, de 31. Ela
foi adotada há cerca de oito anos, depois de ser abandonada para o sacrifício
pelos antigos donos. O motivo é que a cadela tinha sido atropelada. Em seguida,
foi picada por um escorpião e sobreviveu, mas anda com um aparelho adaptado,
por não ter os movimentos das patas traseiras. Tanto empenho para salvar o
bichinho encontrado na sociedade protetora agora se transforma em revolta para
o criminalista, que pediu mais rigor na punição aos agressores de animais.
"A punição pequena contribui para os maus-tratos. Conseguir uma lei de
iniciativa popular talvez seja mais difícil, mas creio que com a sociedade
mobilizada a classe política compre nossa briga, ainda que seja em busca de votos",
prevê.
Para a administradora bancária Kátia Gontijo, de
42, dona da schnauzer Nina e do poodle Frederico, a mobilização para a proteção
dos animais devia ter começado há mais tempo. "Essa covardia e crueldade
já existiam, só que isso não era divulgado e parece que só agora as pessoas
resolveram lutar para defendê-los", afirmou.
Na Avenida Paulista, em São Paulo, cerca de 7 mil
pessoas, conforme a Polícia Militar, participaram do ato em defesa dos animais.
Elas fizeram uma caminhada que saiu do Masp e seguiu sentido Rua da Consolação.
No Rio de Janeiro, a Praia de Copacabana, na Zona Sul, foi o cenário da
manifestação. Em ambas as cidades, o discurso de que a legislação atual é
branda foi repetido pelos participantes.
Uma nova Barraginha à beira do precipício
Duas décadas após a tragédia, sobreviventes estão
condenados a conviver com o fantasma de novo desastre na Vila Itália, onde
foram erguidas pelo município, com verba internacional, centenas de casas em
área hoje considerada de alto risco pela própria Defesa Civil de Contagem
Flávia Ayer
Difícil encontrar quem não fique com a voz
embargada e chore ao se lembrar do 18 de março de 1992, quando uma avalanche de
lama engoliu mais de 300 barracos, matou 36 pessoas e deixou 1,4 mil
desabrigados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Lá se foram 20 anos da
tragédia da Vila Barraginha, em Contagem. Mas o tempo ainda não foi capaz de
cicatrizar as feridas daqueles que sentem a dor de tantas perdas, guardam na
memória o cenário de devastação e, duas décadas depois, ainda temem que a
história se repita. Por mais que os fatos pareçam desafiar os limites da
realidade, vítimas de um dos maiores desastres da história de Minas Gerais se
veem mais uma vez no centro de um campo minado prestes a explodir.
Por decisão da prefeitura, na época parte das
famílias remanescentes do desastre foi levada para a Vila Itália, região hoje
considerada de alto risco de deslizamento de encosta e inundação pela própria
Defesa Civil de Contagem. Sobram na vila, no Bairro Fonte Grande, barrancos
desmoronando, casas trincadas e áreas interditadas, que se multiplicam no
período chuvoso. Quem ficou na Barraginha também continua refém do perigo.
Quase nada mudou desde o acidente, apesar de estudos – o último em 2007 –
confirmarem que a comunidade está exposta a novos riscos, por causa do solo
formado de camada de argila mole.
Terra mole e preta que a diarista Ricardina
Rodrigues Fagundes, a Dina, de 49 anos, nunca mais viu desde 1992, mas que
jamais vai esquecer. Ex-moradora da Vila Barraginha, ela suplicou para que
debaixo do lamaçal, onde imaginava estar a casa em que morava, achassem a sua
Fernanda, a Nanda, de 9 anos. Encontraram. Mas era tarde demais. Dez dias
depois, foi um dos últimos corpos resgatados. Os filhos Marcelo, de 5, e
Ricardo, de 8, se salvaram, mas a sogra, Anália, que tinha 73, também morreu.
"Você não sente seus pés no chão", resume Dina, que trabalhava na hora
do acidente e correu até se deparar com tudo revirado onde devia estar sua
casa.
A mãe não contém lágrimas ao falar daquele dia,
quando parte de sua alegria ruiu, e confessa que o choro guarda novas
angústias. "Tiraram a gente de uma tragédia e nos levaram para
outra", resume. Depois de três meses em abrigos, a família de Dina, hoje
avó de três netos, foi uma das primeiras a receber uma das 154 casas
construídas pela prefeitura na Vila Itália para vítimas da Barraginha, com
verba de US$ 300 mil doada pelo governo italiano. O que surgiu como esperança
aos poucos se mostrou outra armadilha: cinco dias antes do último Natal, um
barranco atrás da casa de Dina veio abaixo. Quase atingiu o quarto de um dos
filhos.
O laudo da Defesa Civil aponta, em letras garrafais,
"risco muito alto de acidente" e orienta moradores a "isolar a
área dos fundos e contratar profissional qualificado para avaliar e realizar as
devidas intervenções de forma a restabelecer a segurança do local". Um dos
quartos já está interditado. "Se continuar chovendo, a casa da vizinha de
trás vai cair em cima da minha. Fico olhando a noite toda para a janela",
afirma Dina, questionando por que o poder público levou as famílias para nova
área de risco. "Pensei que nunca mais teria que passar por isso",
desabafa a moradora.
SEM SOSSEGO Na semana passada, o comunicado de que
terá que ir para uma casa de aluguel chegou às mãos da dona de casa Izabel
Cristina Soares, de 46, até hoje dependente de remédios por causa da tragédia
da Barraginha. Perto do despenhadeiro atrás de sua casa, uma das 154 doadas no
fatídico ano de 1992, ela conta que o lugar já foi um espaçoso quintal.
"Achava que estava num lugar seguro. O medo é demais, pois a gente já sabe
o que é passar por isso", diz. Não faltam trincas no chão e nas paredes da
casa de Izabel, que já chama a Vila Itália de "nova Barraginha".
"Há previsão no Orçamento Participativo para a
construção de muros de contenção aqui, mas até hoje nada foi feito. Será que
estão esperando outra tragédia?", questiona. Na casa da vizinha, Maura do
Socorro Francisco da Costa, de 43, que perdeu a mãe no desastre, o barracão nos
fundos do lote também já foi condenado pela Defesa Civil. Antes construído no
meio do quintal, ele, agora, está à beira do precipício. "Meu marido trabalhou
tanto para arrumar aqui", lamenta Maura, que não consegue afastar o medo
de que a história se repita.
MEMÓRIA
300 casas engolidas
Eram 14h de 18 de março de 1992 quando dois
estrondos na Vila Barraginha, no Bairro Cidade Industrial, em Contagem, anunciaram
uma das maiores tragédias de Minas Gerais, que ganharia repercussão
internacional. O rompimento de um aterro de 15 metros de altura por 100 de
extensão destruiu quatro dos sete hectares ocupados pelo aglomerado, formado a
partir da década de 1950, nos arredores de indústrias e grandes empresas, como
noticiou o Estado de Minas à época. O desespero foi tamanho que os bombeiros
começaram o resgate cavando a terra com as mãos. Era muito pouco para enfrentar
a lama, que engoliu mais de 300 barracos. Trinta e seis pessoas morreram, a
maioria crianças; 74 ficaram feridas e mais de 1,4 mil perderam a moradia,
quase a metade da população da Barraginha. Além da ocupação imprópria da área e
do excesso de chuva, a causa apontada para o acidente foi um aterro feito pela
empresa M. Martins Engenharia e Comércio Ltda., vendida em 2008, para aumentar
o pátio que mantinha ao lado da comunidade. A movimentação interferiu na
estabilidade da bacia de argila mole sobre a qual as casas estavam assentadas.
A Justiça condenou dois diretores e funcionários da construtora a pagar o
equivalente a R$ 4 mil a cada família desabrigada e R$ 15 mil àquelas que
perderam parentes, após acordo judicial. O primeiro registro de escorregamento
de argila na Barraginha ocorreu em 1968. Em 2000, houve outra tragédia, quando
quatro pessoas morreram em desabamento. O muro da Tecelagem Santa Elizabeth não
suportou a força da chuva e ruiu sobre duas casas.
Fome ameaça 1 milhão de crianças
Dacar – Pela terceira vez na última década, a seca
retornou ao árido Oeste da África, levando a fome para milhões de pessoas.
Agências de ajuda internacional alertam que, se nenhuma ação for tomada agora,
a região conhecida como Sahel deve entrar em crise. Mais de 1 milhão de
crianças em oito países afetados devem enfrentar neste ano níveis de
desnutrição que ameaçam suas vidas, de acordo com o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef). A região afetada engloba Senegal, Mauritânia, Mali,
Níger, Burkina Faso, o Norte da Nigéria, Camarões e o Sul do Chade.
A região ainda não se recuperou da seca dos últimos
dois anos e muitas famílias perderam seus rebanhos, o que significa que não
terão recursos para comprar comida. Trabalhadores das agências de ajuda também
se preocupam com a possibilidade de os doadores pensarem que se trata de uma
situação rotineira, já que a crise do Oeste da África ocorre apenas seis meses
depois que a capital da Somália recebeu o título de zona de fome. "Acho
que existe um risco real de as pessoas pensarem que esse tipo de coisa
simplesmente acontece todos os anos", disse o gerente regional de campanha
da Oxfam para o Oeste da África, Stephen Cockburn.
Cockburn afirma que pode haver mais esperança para
a região do Sahel, já que os alertas sobre a crise foram detectadas mais cedo.
"Os alarmes soaram em novembro e dezembro. Todos os países da região e
todos os seus presidentes reconheceram o fato e pediram ajuda externa", declarou.
Os primeiros sinais da fome em Sahel foram detectados no fim do ano passado, de
acordo com relatório da Oxfam e da Save the Children.
Para o porta-voz do Unicef, Martin Dawes, as
consequências da seca são especialmente trágicas para as crianças. "Nesse
tipo de crise, os adultos sofrem, mas as crianças morrem", disse. Ele
explica que a deterioração das condições de nutrição tem impacto nas crianças
porque certos tipos de alimentos necessários para o desenvolvimento
simplesmente não estão disponíveis na região, tornando necessária a ajuda
externa.
No início da semana, agências de ajuda revelaram
que milhares de pessoas morreram sem necessidade no Chifre da África, porque os
doadores demoraram demais para reagir. Os sinais de alerta existiam desde
agosto de 2010, mas a ajuda não aumentou antes de julho de 2011. "Dezenas
de milhares de pessoas morreram por causa desse atraso", disse Cockburn.
De acordo com relatórios de agências humanitárias, a crise alimentar matou
entre 50 mil e 100 mil pessoas no Chifre da África este ano, mais da metade
crianças com menos de 5 anos. As organizações temem que isso possa se repetir
na região do Sahel.
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