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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

26 de janeiro de 2012 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PÁGINA

Eleitor de BH paga a conta
Depois da criação de cargos na Câmara, a vez é da prefeitura

O contribuinte de Belo Horizonte não pode descansar. Só porque que venceu a batalha democrática pela não aprovação do aumento de 61,8% do salário dos vereadores, que resultaria numa despesa adicional de R$ 3,5 milhões por ano a partir de 2013, o eleitorado continua surpreendido por tentativas não menos transparentes de ataque aos cofres do município. A aposta, que – sabe-se agora – não era só dos vereadores, mas também do Executivo municipal, era de que as festas de fim de ano e o esvaziamento da cidade por causa das férias permitissem a passagem sem barulho de medidas no mínimo questionáveis. Tanto é assim que foram engendradas no apagar das luzes do ano legislativo de 2011. É o caso da criação de 12 cargos a serem preenchidos sem concurso público na Câmara Municipal, com remuneração que vai até R$ 9 mil mensais, conforme revelou ontem o Estado de Minas. O projeto foi aprovado sem alarde pelos vereadores no fim do ano passado, já foi sancionado pelo prefeito Marcio Lacerda e publicado na edição de ontem do Diário Oficial do Município (DOM).
Concebida com o propósito de reforçar a estrutura do Legislativo da capital, a criação dos cargos de livre recrutamento está vinculada à instalação de uma nova diretoria na Câmara, a de organização de eventos. A cidadania não discutiu a necessidade dessa nova fonte de gastos, que vai representar uma despesa adicional de R$ 1,1 bilhão por ano, quase um terço do que seria gasto com o aumento dos salário dos vereadores, vetado depois de intensa pressão popular. Mas essa é apenas a menor parte das surpresas. O EM revela hoje que o contribuinte de Belo Horizonte corre o risco de bancar quantia praticamente igual à do aumento dos vereadores a ser gasta pela própria prefeitura em projeto que, se submetido à opinião dos eleitores, certamente seria vetado. Trata-se da criação de nada menos do que 52 cargos a serem distribuídos sem concurso público nos quadros do Executivo. Os salários variam de R$ 1.168,50 a R$ 4.428. Segundo a reportagem, eles se dividem em sete funções, que vão de assistente a gerente. Sua implantação vai representar custo de R$ 3. 158.954 por ano, quase 90% do que foi provisoriamente economizado com os vereadores.
Esse projeto aguarda a volta dos vereadores para ser votado e a abertura dos cargos consta de uma emenda que pegou carona no projeto de lei do plano de carreira da Guarda Municipal, texto que patina com dificuldade pelos escaninhos do Legislativo, apesar de toda a pressão dos representantes dos guardas. Nos corredores da Cãmara, a emenda vem sendo chamada de cabidão, apelido típico do jargão do serviço público quando se refere a empregos desnecessários, criados para atender cabos eleitorais. Essa versão não ocorre sem motivo: é a consequência natural da falta de transparência de uma proposta de gasto tão elevado e de contratações de livre escolha da administração, o que sugere favorecimentos políticos. Pelo visto, terá a população que se mobilizar novamente, se quiser ter pelo menos o direito de questionar a validade da criação de tantos cargos na prefeitura e quais os critérios para o seu preenchimento. Afinal, é ela quem vai pagar a conta.

COLUNAS
Em dia com a política

Baptista Chagas de Almeida

O Brasil, quem diria, um país civilizado
Poucos petistas compareceram. Dois vereadores e o arroz de festa senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Não precisava de mais
Conversas ao pé de ouvido com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Troca de afagos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com direito a uma saudação especial assim que chegou ao microfone. Elogios ao prefeito paulistano, Gilberto Kassab (PSD), no discurso que fez depois de homenageada, junto com FHC e Alckmin, com a Medalha 25 de Janeiro, em alusão ao aniversário de São Paulo. A presidente Dilma Rousseff mostra que a política brasileira mudou, está em outro patamar. A ex-guerrilheira sabe que não é mais hora de pegar em armas, que o momento é outro. Tudo bem que o ex-ministro da Educação Fernando Haddad desistiu na penúltima hora de comparecer. Mas aí também já era pedir demais. Afinal, ele deixou o governo exatamente para enfrentar Kassab e os tucanos na eleição pela Prefeitura de São Paulo. Ele vai às armas. Armas políticas, bem entendido.
Poucos petistas compareceram. Dois vereadores e o arroz de festa senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Não precisava de mais. A festa petista já tinha sido de véspera, quando Dilma recebeu – com muito mais carinho, é claro – o ex-presidenteb Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Foi na despedida de Haddad e posse de Aloizio Mercadante no Ministério da Educação. (Detalhe que pouca gente percebeu: foi a segunda vez que Lula voltou ao palácio desde que deixou o governo. A primeira tinha sido no velório de José Alencar. Daí a importância do gesto dele).
O fato é que a política brasileira, desde a democratização, dá sinais seguidos de maturidade, e é isso o que importa. Um país com um histórico de regimes de exceção e ditaduras duradouras quepassou por crises depois que voltou ao Estado de direito e as enfrentou com galhardia. Da morte de Tancredo Neves no dia da posse ao impeachment de Collor. A civilidade política é coisa boa de ver.

Vamos às armas
Depois de uma volta discreta ao comando nacional do PDT, o presidente do partido, Carlos Lupi, volta a emergir. Desde que deixou o Ministério do Trabalho, ele tem evitado criar polêmica com os companheiros. Até porque a legenda se dividiu. Na reunião do diretório nacional, já estão a postos os dissidentes dispostos a enfrentar Lupi e seus companheiros de armas em punho para protegê-lo. Na verdade, para falar em português mais claro, mais dispostos mesmo a garantir que o Ministério do Trabalho continue com a legenda.

Embarque eleitoral
O PMDB mineiro identificou na declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que praticamente lançou a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República, uma possibilidade de os tucanos reverem a posição na eleição de Belo Horizonte e não ficar a reboque do PT. Se isso acontecesse, estaria aberta a porta para os peemedebistas caminharem com o candidato de Aécio na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte. E embarcar no governo Antonio Anastasia, é claro.

Desembarque eleitoral
O problema é que o PSDB brigou muito para compor com a campanha do prefeito Márcio Lacerda (PSB) à reeleição e torce muito para que o PT, rachado em Belo Horizonte, deixe a aliança. O apoio do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ao socialista em BH também passa pela sucessão presidencial de 2014. É que o tucano não descarta a possibilidade de ter o apoio do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do partido.

Ainda sem acordo
Esquentou o tempo de novo, como sempre acontece, na reunião da bancada do PT que tenta um acordo para definir o novo líder do partido na Câmara dos Deputados. A disputa está entre Gilmar Tatto (PT-SP) e José Guimarães (PT-CE). A tentativa de boa parte dos parlamentares petistas é de evitar que a decisão seja tomada no voto, mas está difícil. Com isso, a eleição – ou definição em um eventual acordo – do novo líder ficou para 7 de fevereiro, quando a Câmara volta a funcionar de verdade.

Disputa em Uberaba
Diante da antecipação da campanha eleitoral feita pelo PT – a exemplo do que houve com o ex-ministro Fernando Haddad em São Paulo, o partido já definiu também quem vai disputar as prefeituras de Uberaba e Uberlândia – , há pressão no Triângulo mineiro para que o PMDB siga a mesma estratégia. Só que, em Uberaba, o prefeito Anderson Adauto (PMDB) resiste à ideia e quer manter a definição para março. Seu pré-candidato é o secretário Rodrigo Mateus. O deputado Antônio Andrade (PMDB-MG), outro pré-candidato, quer entrar logo no jogo. A disputa pode parar nos diretórios estadual e nacional do PMDB.

Pinga Fogo
Tem gente se queixando muito das seguidas demissões de ministros e ocupantes de cargos de alto escalão do governo federal. É a turma que não aguenta mais o tamanho da fila do seguro-desemprego.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) não apareceu no Palácio do Planalto terça-feira, nem mesmo com a presença de Lula. Deve ser por isso que seu ex-marido, Eduardo Suplicy, apareceu até em festa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
O Diário do Legislativo passa a ter, no mês que vem, edição exclusivamente eletrônica. Tradução simultânea: quem quiser conferir se algum deputado contratou parentes para o gabinete terá de entrar na internet.
Procon da Assembleia Legislativa detecta aumento no preço do pão francês. Só falta o ingresso do circo subir. Porque o povo quer mesmo é pão e circo.
José Serra e Fernando Henrique Cardoso trocaram protocolar aperto de mãos na festa do aniversário de São Paulo. O ex-governador não deve ter engolido até agora a defesa que FHC fez da candidatura de Aécio Neves à Presidência da república.
O Brasil concedeu visto à blogueira cubana Yoani Sánchez, que faz oposição ao regime ditatorial dos irmão Castro. E olha que a presidente Dilma está para visitar Cuba. Criou uma boa saia justa para Fidel e Raul.

POLITICA
Cabidão com jeito de toma lá dá cá
Executivo sanciona criação de 12 cargos na Câmara e agora depende da aprovação dos vereadores para ampliar seus quadros, com a abertura de 52 vagas comissionadas

Juliana Cipriani e Amanda Almeida

Depois de garantir o aumento da estrutura da Câmara Municipal de Belo Horizonte, com a sanção da lei que cria 12 cargos no Legislativo, agora é o prefeito Marcio Lacerda (PSB)  quem precisa dos vereadores para ampliar seus quadros, com a criação de 52 cargos sem concurso público. As vagas constam de emenda – apelidada de "cabidão" – em projeto de lei que traz o plano de carreira da Guarda Municipal da capital mineira, que volta a tramitar na semana que vem. Se aprovado, o texto prevê um custo adicional aos cofres públicos de R$ 3.158.954,81 por ano, pouco menos do que o impacto financeiro do fracassado reajuste de 61,8% no salários dos parlamentares.
Segundo pessoas ligadas ao prefeito, os vereadores teriam um incentivo a mais para votar pela aprovação do projeto: seria deles a prerrogativa de indicar nomes para compor os novos cargos comissionados. Os salários variam de R$ 1.168,50 a R$ 4.428. Eles se dividem em sete funções, que vão de assistente a gerente. O cabidão foi acrescentado de última hora, depois que o projeto já havia sido aprovado pelos parlamentares em primeiro turno, e gerou revolta entre os guardas municipais.
A intenção da prefeitura era aprovar a proposta ainda no ano passado. Mas teve de adiar seus planos, depois de pressão de representantes dos guardas. Apesar de reivindicar o plano de carreira desde a criação da corporação, em 2003, a categoria preferiu trabalhar pelo adiamento da votação com a expectativa de mudanças no texto, como a introdução de critérios objetivos para a progressão e promoção na carreira. Mas os guardas acabaram frustrados, já que, em vez das alterações pedidas, a prefeitura apresentou apenas a emenda cabidão.
De acordo com o Projeto de Lei 1.836/2011, a progressão na Guarda Municipal incluiria nove níveis hierárquicos, em salários que vão de R$ 735 a R$ 3.060,49. Para subir na carreira, o guarda municipal deverá cumprir um tempo mínimo em cada nível, além de passar por avaliações de desempenho. O texto da prefeitura prevê ainda gratificações salariais, por disponibilidade integral (entre R$ 263 e R$ 1.095,11) e desempenho de atividade especial de segurança (entre R$ 640 e R$ 2.664,91).
"O impacto dessa emenda é igual ao que seria gasto com o reajuste dos vereadores, que foi fortemente rejeitado pela população. É uma emenda Frankenstein que, muito provavelmente, será usada para fins políticos", diz o vereador Iran Barbosa (PMDB). O líder do governo, Tarcísio Caixeta (PT), nega que os cargos terão uso político. "Essa não é a principal discussão da proposta. Temos uma reforma na Guarda Municipal. Ela mudou seu contingente e, então, é preciso uma adequação à nova realidade", afirma Caixeta.
NOVA DIRETORIA A lei que cria 12 cargos na Câmara Municipal de BH, ao custo de R$ 1.162.578,33 em um ano, foi publicada ontem no Diário Oficial do Município. Uma das principais alterações na estrutura da Casa é a criação de uma diretoria de eventos, cujo coordenador ganhará cerca de R$ 9 mil. A nova área foi motivo de discórdia entre os parlamentares. O secretário-geral do Legislativo municipal, Cabo Júlio (PMDB), chegou a acusar o presidente Léo Burguês (PSDB) de tentar "aparelhar" a Câmara em seu favor.
A sanção veio um dia depois do veto do prefeito ao reajuste de 61,8% no contracheque dos vereadores a partir de 2013. A polêmica decisão só foi anunciada depois de muita pressão popular contra o novo salário dos parlamentares, que chegaria a R$ 15 mil (75% do que ganham os deputados estaduais). Apesar da vitória, a mobilização continua. O grupo Veta Lacerda, que surgiu nas redes sociais, promete fazer hoje uma passeata entre a prefeitura e a Câmara Municipal. Eles pressionam os vereadores para manter o veto do prefeito e não apresentarem novo projeto com aumento salarial.


CGU cobra devolução de verba
Estação de piscicultura a cargo do Dnocs não saiu da terraplenagem e gerou um passivo de R$ 1 mi para prefeitura do Norte de Minas. Barragem está emperrada há 10 anos na região

Luiz Ribeiro

Minas Gerais está na rota do desperdício de dinheiro público em projetos executados pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Apesar da liberação de R$ 1 milhão para a implantação de uma estação de piscicultura no município de São Francisco (Norte de Minas), a obra, orçada em R$ 5 milhões e iniciada em 2007, não saiu da terraplenagem e hoje está praticamente abandonada. A Controladoria Geral da União (CGU) cobra a devolução dos recursos à União, alegando falta de prestação de contas. Esse não é o único caso: a barragem de Berizal, no município homônimo, também no Norte do estado, está parada há anos, e o deputado estadual Paulo Guedes (PT) atribui a lentidão à destinação de recursos para estados de origem de dirigentes da autarquia, em detrimento de Minas.
O Dnocs enfrenta crise desde a divulgação de relatório da CGU apontando irregularidades no órgão, que teriam provocado um rombo de R$ 312 milhões nos cofres públicos. A crise ameaça a permanência no cargo do diretor do órgão, Elias Fernandes, afilhado político do deputado Henrique Alves (PMDB-RN).
Incluída no projeto de revitalização do Rio São Francisco, a construção da estação de piscicultura estava a cargo do Dnocs, com recursos do Orçamento da União. Segundo o prefeito de São Francisco, Luiz Rocha Neto (PMDB), a terraplanagem começou em 2007, e em 2008 a empreiteira contratada abandonou a obra. Agora, além de cobrar a restituição do dinheiro já liberado, a CGU incluiu a prefeitura de São Francisco na lista de devedores do Sistema de Administração Financeira (Siaf) da União, o que impede o município de receber recursos federais. O prefeito, entretanto, garante que a prestação de contas cobrada pela CGU foi entregue ao Dnocs. "Agora, mandamos nova documentação para a sede do órgão em Fortaleza", disse Rocha Neto, que esteve ontem em Brasília para tentar tirar o nome do município do cadastro de devedores do Siaf. "Houve negligência por parte do Dnocs", afirma ele.
O coordenador regional do Dnocs em Minas, Marcos Câmara, informou que a estação de piscicultura, que deveria gerar 50 empregos diretos, foi iniciada antes da sua entrada no cargo, mas garante que uma comissão de fiscalização apontou falhas na prestação de contas da obra. "Foram pequenas coisas, mas a prestação de contas não foi aprovada", explicou.
Favorecimento O caso de Berizal se arrasta ainda há mais tempo. Projetada pelo Dnocs, a barragem começou a ser construída em 1998, mas foi interrompida no início da década passada, devido a problemas no licenciamento ambiental, apontados pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Enquanto as falhas eram resolvidas, afirma o deputado estadual Paulo Guedes (PT), os recursos federais destinado à obra "eram remanejados" para outros estados nordestinos. "Há cerca de dois anos a construção da barragem de Berizal foi liberada por parte do órgão ambiental de Minas, mas assim que foi resolvido o problema a obra foi retirada do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", reclama o petista. Segundo ele, os recursos gastos em Berizal passam de R$ 50 milhões, se forem atualizados. Para terminar a barragem, faltam cerca de R$ 70 milhões, calcula o deputado, para quem o caso ilustra o "favorecimento" dos dirigentes do Dnocs aos seus estados de origem. "Os recursos são destinados para outros estados, enquanto o Norte de Minas e os vales do Jequitinhonha e Mucuri saem perdendo", lamenta o deputado do PT.
A sede regional do órgão no estado, localizada em Montes Claros, conta com apenas 28 funcionários para o atendimento de todo o semiárido mineiro, que compreende 178 municípios do Norte de Minas e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. No Ceará, onde fica sua sede nacional, a autarquia tem cerca de 1,7 mil funcionários. "Infelizmente, parece que o Dnocs só funciona de Salvador para cima. Minas Gerais não é prioridade", reconhece o próprio coordenador regional do departamento em Montes Claros, Marcos Câmara.

Enquanto isso...
... órgão aponta mais irregularidades

A Controladoria Geral da União divulgou ontem o relatório da auditoria especial realizada pelo órgão no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), em 2011. Entre as obras em que foram constatadas irregularidades está a Barragem de Congonhas, entre os municípios de Grão Mogol e Itacambira, no Norte de Minas. Ela faz parte de projetos listados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por conter "irregularidades graves na licitação e ausência do licenciamento ambiental", conforme apontou o relatório da controladoria. Além disso, a CGU destacou que houve sobrepreço no contrato de R$25.267.575,31 para execução do projeto. Em nota, o diretor geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto, informou que a obra, orçada em R$ 160 milhões, foi licitada em 2002 e não foi iniciada até a presente data, por problemas ligados a licenças ambientais. "O contrato com o consórcio que iria construir a obra foi rescindido por este diretor geral, com publicação pelo Diário Oficial da União em 29 de dezembro de 2011", acrescentou.
Deputado desafia o Planalto

Brasília – O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), desafiou ontem o Palácio do Planalto e condicionou, pelo Twitter, a saída de seu afilhado Elias Fernandes Neto à comprovação de irregularidades no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Ele argumentou que é preciso a palavra final do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que revela prejuízos na ordem de R$ 312 milhões no órgão. Elias Fernandes é o diretor-geral do Dnocs. "Com respeito aos que me pediam explicações, dou essa palavra inicial: Aguardo sereno o julgamento do TCU sobre atuação do Dnocs. Apenas isso", postou o líder no microblog.
Na noite de terça-feira, em conversa com o vice-presidente, Michel Temer, o líder foi enfático ao afirmar que Elias só deixará o cargo se fosse comprovada a irregularidade em sua gestão no Dnocs. Temer foi escalado pelo Planalto para conter a crise e conduzir o processo de substituição do comando do órgão. No Twitter, o líder peemedebista negou que haja fogo amigo no caso. "Não há fogo amigo nenhum. A CGU é um órgão de assessoramento do governo, que respeito . Mas pode se equivocar também. Vamos às provas", disse Henrique Alves, que questiona o prejulgamento do diretor-geral.
Concluído em dezembro de 2011, o relatório da Controladoria Geral da União (CGU) aponta prejuízos de R$ 312 milhões na gestão de pessoal e em contratações irregulares do Dnocs. O relatório de 252 páginas revela uma sucessão de pagamentos superfaturados, contratos com preços superestimados e "inércia" da direção do órgão para sanar irregularidades que prosperaram ao longo da última década.
A CGU também aponta "concentração significativa" de convênios para ações preventivas de Defesa Civil no Rio Grande do Norte, estado do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, e de seu padrinho político, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os dois negam favorecimento do órgão.
A auditoria foi realizada no ano passado, depois que as contas do Dnocs foram consideradas irregulares pela CGU por três anos consecutivos (2008, 2009 e 2010). O trabalho apontou prejuízo estimado em obras de R$ 192,2 milhões. São recursos destinados à construção de barragens, adutoras, açudes, pontilhões e passagens molhadas. A CGU ainda contabilizou prejuízo de R$ 119,7 milhões em pagamentos indevidos de Vantagem de Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI), complemento salarial dado aos servidores.
Além dos prejuízos multimilionários, os auditores se surpreenderam com o rateio de R$ 34,2 milhões para a execução de convênios entre prefeituras e o Dnocs voltados a ações de Defesa Civil. De 47 convênios, 37 contemplaram municípios do Rio Grande do Norte, que contrataram R$ 14,7 milhões. Muitos convênios, de acordo com a CGU, recheados de irregularidades, como pagamento a empresas com "ligações políticas, com sócios de baixa escolaridade e, inclusive, empresas não encontradas, indicando serem de fachada". O Dnocs é subordinado ao Ministério da Integração, cujo ministro, Fernando Bezerra (PSB), também destinou grande parte das verbas de sua pasta para seu estado, Pernambuco.

Mudança na cúpula da PF

Edson Luiz

Brasília – A Polícia Federal voltou a fazer mudanças em sua cúpula e, ontem, trocou o terceiro homem na hierarquia da corporação. O diretor de Inteligência Policial, Marcos David Salém, deixa o cargo para ser adido na Embaixada do Brasil em Paris, no posto hoje ocupado por Jorge Pontes, ex-chefe da Interpol no Brasil, que volta ao país. A vaga de Salém será assumida pelo atual chefe da área de Gestão de Pessoal, Maurício Valeixo.
Esta é a segunda mudança em dois dias, já que, na terça-feira, o secretário extraordinário para Grandes Eventos, José Ricardo Botelho, pediu exoneração por problemas pessoais. O órgão será o responsável pela segurança da Copa de 2014, da Rio+20 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Na PF, a troca de Salém foi considerada como natural, já que, em algumas áreas estratégicas da corporação, como a Diretoria de Inteligência Policial (DIP), as mudanças são feitas a cada dois anos. Porém, Salém, ex-superintendente da PF em Minas Gerais, estava no cargo havia cinco anos. A área em que o diretor atuava é considerada uma das mais poderosas na instituição, por lidar com questões delicadas. No passado, era responsável por todas as grandes operações realizadas pela Polícia Federal – hoje, as ações estão descentralizadas.
Ainda não há substituto indicado para a vaga de Valeixo na área Gestão de Pessoal, mas a tendência é que o posto seja ocupado por algum coordenador-geral, o segundo cargo mais importante nas diretorias. Valeixo, que já foi superintendente da PF no Paraná, é considerado um delegado da nova geração, muitos dos quais assumiram chefias durante a gestão de Luiz Fernando Corrêa no comando da instituição, entre 2007 e 2011.
Na terça-feira, houve outra mudança na corporação. José Ricardo Botelho deixou a Secretaria de Grandes Eventos. O atual corregedor-geral da Polícia Federal, Valdinho Jacinto Caetano, assumirá o posto. "O delegado Botelho fez um excelente trabalho na secretaria, mas teve problemas pessoais. Agora, estamos colocando alguém à altura dele", enfatizou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao anunciar o nome do substituto.

Presidente elogia Fernando Henrique

São Paulo – Um dia depois de receber o ex-presidente Lula no Planalto, na despedida do ministro da Educação, Fernando Haddad, a presidente Dilma Rousseff participou da comemoração dos 458 anos da cidade de São Paulo ontem e, durante a cerimônia, evitou assuntos políticos e econômicos. Falou apenas da importância, da generosidade e do simbolismo da cidade. Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que também receberam a Medalha 25 de Janeiro, a presidente foi apenas elogios e poesia.
Para FHC, disse aguardar que o reconhecimento aos ex-presidentes da República se torne hábito no país. "Espero que esse reconhecimento, que eu acho importante que nós tenhamos o hábito de fazer para os ex-presidentes da República, seja uma prática do Brasil democrático", afirmou.
Dilma lembrou ainda a cerimônia de 2011, quando o ex-vice-presidente José Alencar recebeu a homenagem da Prefeitura de São Paulo. "Tive a honra de participar há um ano de uma cerimônia como esta, que homenageou um grande brasileiro, uma pessoa que deu grandes serviços ao nosso país, o nosso querido e inesquecível José Alencar", afirmou.
A partir daí, a presidente foi só declarações de amor a São Paulo, com direito a citar o trecho mais famoso da música Sampa, de Caetano Veloso: "Acho que tem outro sentimento, outra sensação, que passa no coração dos brasileiros quando cruzam a Ipiranga com a Avenida São João, e eu acho que sempre foi uma sensação de esperança", afirmou. "Esperança de todos aqueles que, muitas vezes, saíram do Norte e Nordeste do país em busca de ganhar a vida, mas também uma imensa esperança de que nosso país pode ser do tamanho de São Paulo. Eu acho que, sobretudo, essa esperança é que está sempre no coração e na cabeça da gente."

ECONOMIA
A pior doença no Velho Continente
Desemprego é eleito como maior desafio para o capitalismo diante da recessão que afeta a Europa e os Estados Unidos

A geração de empregos surge como o principal desafio do mundo capitalista, em meio à recessão iminente em que a Europa e os Estados Unidos se lançaram, afetando principalmente os jovens, agora descontentes nos países desenvolvidos. Foi esse o tema central de discussões entre líderes políticos e empresariais antes mesmo da abertura oficial do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O evento começou com um acalorado debate sobre o modelo econômico. O capitalismo do século 20 estaria falhando em atender a sociedade do século 21? "Sim, perdemos a bússola moral", afirmou a secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC, na sigla em inglês), Sharan Burrow.
Esse mesmo capitalismo, que levou desenvolvimento ao mundo, em particular à Europa – derrubada agora pela crise da dívida dos governos do velho continente –, tem gerado um mar de oportunidades para o mundo emergente, liderado por Brasil, China e Índia. "Se formos ao Brasil, teremos uma visão muito diferente de onde está o mundo, assim como se formos à Índia", disse o diretor-executivo da Alcatel-Lucent, Ben Verwaayen. A situação econômica da Europa e do planeta será esmiuçada na 42º edição do fórum, que reúne a nata da política e das lideranças econômicas do mundo em Davos. São cerca de 2.600 participantes no encontro. O descontentamento entre os jovens é evidente, especialmente em países como a Espanha e a Grécia, onde a taxa de desemprego entre os mais novos é extremamente elevada.
O contingente de desempregados na França atingiu a cifra de 4,53 milhões de pessoas, o mais alto desde 1999, de acordo com estatísticas divulgadas ontem pelo governo em Paris. Nas dezenas de debates diários que a agenda do Fórum de Davos oferece, a maioria deles fechados à imprensa, serão abordados também temas como gestão energética, segurança, novas lideranças, a criatividade no trabalho e a mente e a máquina. Vários chefes de Estado e de governo estarão presentes, entre eles, o mexicano Felipe Calderón, o peruano Ollanta Humala, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o secretário americado Tesouro, Timothy Geithner.
Ao discursar na abertura do Fórum, a chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, disse que os países desenvolvidos ainda não aprenderam "lições suficientes" da crise financeira de 2008, quando as nações desenvolvidas começaram a sofrer com o desemprego, mas que a turbulência na Zona do Euro não afetará as ambições do "projeto europeu" descartando as ameaças de ruptura da moeda única e da própria União Europeia.
"Frequentemente nos perguntam que lições aprendemos a partir da crise de 2008 e se foram suficientes. Sendo realista, ou até pessimista, creio que a única resposta é que ainda não aprendemos lições suficientes", disse. Ainda é necessário avançar para tornar o sistema financeiro mais seguro, avaliou a alemã, que ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, é tida como a grande articuladora, em meio à crise que abala a zona do euro.
Para David Rubenstein, co-fundador e diretor do fundo de investimentos americano Carlyle , o que o Ocidente tem que fazer é reconhecer problemas graves. "Creio que teremos de três a quatro anos para melhorar o modelo econômico vigente e se não o fizermos rapidamente perderemos a oportunidade de competir com o capitalismo do mercado emergente ou capitalismo de Estado", afirmou.

Memória
Um palco para o Brasil no mundo
Maior encontro mundial de líderes governamentais e empresariais, o Fórum Econômico Mundial teve seus encontros em Davos, na Suíça, nos últimos anos marcados pela contestação de que a economia mundial enfrenta graves problemas e pela presença mais incisiva do Brasil nas discussões. Em 2003, o fórum serviu de palco para o primeiro evento público do então eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou e chamou a atenção do mundo ao defender mecanismos de controle sobre o fluxo de capitais internacionais para evitar a ação de especuladores sobre as economias de países. De lá para cá, Lula discursou novamente em 2007, veio a crise de 2008 e o alerta de que os pacotes bilionários dos países para salvar bancos e empresas seriam um tiro no pé. E foi, a crise de agora, cantada no fórum em 2009, refere-se ao gigantesco endividamento dos EUA e de países europeus. Como é apenas um fórum, não gerou nenhuma medida concreta para abrandar as turbulências econômicas. Em 2010, Lula foi homenageado.

1 bilhão de excluídos

A fome e a exclusão de grande parcela da população mundial do mercado consumidor foram outros pontos que dominaram o primeiro dia do Fórum Econômico de Davos.O executivo-chefe da multinacional britânica Unilever, Paul Polman, lembrou a triste estatística de que diariamente "1 bilhão de pessoas vai dormir com fome". De acordo com Polman, essa situação exige aumento da oferta de alimentos em 70% até 2020, quantia necessária para alimentar a população mundial. O assunto foi também abordado pelo diretor da empresa cinematográfica mexicana Cinépolis, Alejandro Ramírez.
Ramírez disse que a segurança alimentar será um de assuntos abordados pelos chefes de Estado e de Governo na reunião do G-20 (grupo que reúne os países ricos e os principais emergentes) deste ano, que ocorrerá em junho em Los Cabos, na Baixa Califórnia. Na visão do executivo, a estagnação das economias industrializadas põe em risco algumas nações emergentes da Ásia, América Latina e da África subsaariana que hoje têm taxas de crescimento positivas.
Para os analistas do sistema financeiro reunidos em Davos, 2012 se apresenta como um período de transformações depois que o sistema capitalista ter sofrido a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, que abalou a confiança do setor financeiro. Nesse sentido, o executivo-chefe do banco americano Citigroup, Vikram Pandit, ressaltou que é importante criar um sistema financeiro cada vez mais inclusivo, pois atualmente 2,5 bilhões de pessoas não têm conta bancária. "Os bancos devem servir aos clientes e não a eles mesmos", afirmou. Pandit estima que serão criados 40 milhões de empregos na América Latina e 20 milhões nos Estados Unidos na próxima década.


NACIONAL
Giro pelo Brasil

ENCONTRO
Lula e Gianecchini juntos

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com o ator Reynaldo Gianecchini, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde os dois fazem tratamento contra o câncer. Eles conversaram por cerca de 30 minutos. Ontem, Lula fez a 25ª das 33 sessões de radioterapia que devem ser a fase final do tratamento contra o câncer na laringe, diagnosticado em outubro. Gianecchini luta contra um câncer no sistema linfático desde agosto. Recentemente, foi submetido a um transplante autólogo de medula.

ÁREAS DE RISCO
800 municípios farão parte do mapeamento geológico do governo federal até o fim de 2014 por terem áreas com risco de desastres naturais. A previsão era mapear 250 cidades. A informação é do secretário de Políticas e Programas de Desenvolvimento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre.

GERAIS
Despreparo represa a verba da chuva
76.827 pessoas arrancadas de casa pelas cheias; 18 mortas; 186 feridas; 1 desaparecida - 203 cidades mineiras arrasadas; 665 pontes danificadas; 468 destruídas; 21.079 casas afetadas - R$ 215 mi parados nos cofres do governo federal por falta de projetos de reconstrução

Paola Carvalho, Marcelo da Fonseca e Gustavo Werneck

Depois de uma das mais intensas temporadas de chuva da história de Minas, milhares de pessoas e centenas de cidades continuam à espera de uma reconstrução que exige investimento de peso. Mas, apesar de haver dinheiro para a empreitada, o despreparo de municípios e as exigências da União fazem com que o maior desafio no momento seja construir uma ponte que ligue o dinheiro federal aos 3,45 milhões de mineiros que ainda sofrem com a devastação. De um lado estão 203 cidades com situação de emergência decretada, o que corresponde a quase uma em cada quatro prefeituras do estado; de outro mais de R$ 200 milhões parados nos cofres do governo federal à espera de projetos, conforme os ministérios da Integração Nacional e das Cidades. Aguardando as verbas para erguer novas casas, reformar estradas, reabrir escolas e outros serviços de urgência estão 7.588 desabrigados, 69.239 desalojados e 186 feridos.
Uma semana depois de o ministro Fernando Bezerra (PMDB) anunciar em Minas a liberação de
R$ 30 milhões para ações emergenciais (R$ 10 milhões para o estado e R$ 20 milhões para os municípios), o certo é que somente R$ 1,95 milhão, pouco mais de 6%, foram de fato liberados. Somente seis das 203 cidades que declararam situação de emergência receberam o cartão de pagamento da Defesa Civil – Cipotânea (Zona da Mata), Ouro Preto (Região Central) e Governador Valadares (Vale do Rio Doce), além de Vespasiano e Contagem (Grande BH).
Há outros R$ 220 milhões, autorizados por medida provisória, destinados à reconstrução e à prevenção. Entre tantas cidades castigadas, apenas Belo Horizonte apresentou o projeto de reconstrução e, assim, conseguiu a promessa de R$ 25 milhões. Para receber recursos de prevenção, apenas Muriaé (Zona da Mata), Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Itajubá (Sul de Minas) e Betim (Grande BH) levaram propostas a Brasília e ainda aguardam retorno.
O Estado de Minas entrou em contato com 184 cidades nos últimos dois dias. Enquanto os ministros dizem que os recursos estão à disposição e se preocupam com a baixa mobilização dos municípios, a maioria das 57 autoridades que deram informações ao EM sustenta que solicitou, sim, as verbas federais e teme não recebê-las. Mas informações prestadas pelas próprias prefeituras revelam desconhecimento das exigências para obter recursos. A situação mais comum é de cidades que enviam dados sobre danos à Defesa Civil estadual entendendo que a providência é suficiente para receber recursos emergenciais da União.
O maior problema está em atar os pontos. Apesar de os prefeitos reclamarem das "exigências burocráticas", há equipes técnicas da Associação Mineira dos Municípios (AMM) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de prontidão para atender as cidades e foram feitos encontros para esclarecer os procedimentos.
Porém, nem mesmo quem diz ter cumprido as normas federais viu ainda a cor do dinheiro. Prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos (PV) diz que a experiência da última tragédia – quando o Rio Paraopeba inundou a cidade, em 2008 – o deixou mais do que preparado para atender as exigências. Mesmo assim, não conseguiu um centavo sequer para socorrer as cerca de 1,3 mil famílias ainda desalojadas. "Cumprimos todo o processo emergencial do Ministério da Integração e já entregamos o projeto de reconstrução ao estado, além do encaminhamento a Brasília. Até agora, nada", reclama. Ontem, ele encaminhou à Câmara projeto de lei para ser votado em 48 horas, que autorizaria o uso do orçamento municipal para reformar casas e infraestrutura básica local.
Distante dos desentendimentos, Lucinéia Maria de Jesus, de 36 anos, moradora de Brumadinho, só sabe que ainda não tem casa para abrigar os três filhos, uma nora e um neto. Hoje mora de aluguel em outra imóvel, também comprometido pela chuva e cercado de barro. "Recebo R$ 400 da prefeitura para parte do aluguel, mas não é o suficiente. Precisamos de dinheiro para erguer uma casa."
Além Paraíba, na Zona da Mata, também não recebeu verba do governo federal, informa o secretário municipal de Assistência Social e Defesa Civil, Cabo Coelho. "Por enquanto, só doações", informou, destacando que o plano de trabalho, com os projetos para reconstrução das áreas destruídas, ficará pronto na semana que vem. "Temos prazo até o dia 8 para entregá-lo ao Ministério da Integração Nacional", diz.
Conforme a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), o número de 203 municípios em emergência é o terceiro maior da história, perdendo para o período 2006-2007, quando 238 cidades foram atingidas, e 2008-2009, com 218. Mas o coordenador da Cedec, Major Edylan Arruda, informa que a lista aumenta a cada dia, já que muitos prefeitos estão enviando agora o decreto de emergência.
COBRANÇA Na tarde de ontem, parlamentares mineiros que integram a base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) se encontraram com os ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e das Cidades, Mário Negromonte, responsáveis pelos pastas que coordenam os repasses de verbas para as cidades afetadas pelas chuvas. O grupo levou um relatório detalhado sobre a situação dos municípios atingidos e suas demandas. Segundo o estudo, serão necessários investimentos de R$1,073 bilhão para recuperar as áreas destruída.
No entanto, a bancada ouviu dos ministros que é preciso um esforço maior das prefeituras tanto para a liberação dos recursos emergenciais quanto na elaboração de projetos e ações para reconstrução. "São muitas as dificuldades técnicas para elaborar esses projetos, e para que as verbas cheguem é necessário trabalhar nos planos de forma detalhada, evitando problemas que atrasam os pedidos", afirma o deputado federal Reginaldo Lopes (PT).

Recursos emergenciais
1 - A prefeitura deve abrir uma conta no Banco do Brasil para movimentação dos recursos federais. Por determinação da União, não é mais preciso criar um CNPJ exclusivo para as ações de emergência. Pode ser usado o mesmo CNPJ do município
2 -O representante legal (prefeito ou secretário responsável) deve cadastrar uma senha individual para retirada do cartão de pagamento da Defesa Civil
3 - Os recursos emergenciais são destinados aos gastos urgentes com medicamentos, combustíveis, limpeza da cidade e compra de mantimentos para atender a população desabrigada ou desalojada

Recursos de reconstrução e prevenção
1 - Elaboração de projetos estruturantes, com detalhes sobre o plano de trabalho, apresentando também fotos da área afetada pelos desastres naturais, etapas e orçamento das obras propostas
2 - Os projetos devem ser enviados para os ministério responsáveis – no caso de obras de reconstrução, a pasta da Integração, e para ações de prevenção, a das Cidades
3 - Os projetos são analisados pela equipe técnica de cada pasta e, quando autorizados, os recursos são liberados

Quem chegou lá

Os poucos que receberam

Obras emergEnciais (Cartão de Pagamento Emergencial)

»  Muriaé
» Cipotânea
» Ouro Preto
» Vespasiano
» Governador Valadares
» Contagem
Obras de Reconstrução
» Belo Horizonte

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