PRIMEIRA PÁGINA
Piratini reaviva projeto de inspeção veicular
Engavetada pelo Executivo em junho do ano passado,
a proposta que cobra uma taxa de R$ 54,83 por vistoria de veículo será retomada
a partir de fevereiro, quando se encerra recesso da Assembleia.
Tesoura: Dilma anuncia corte de R$ 70 bi
Focada na economia, presidente pede à equipe
austeridade e estímulo ao crédito.
EDITORIAL
A chaga da desigualdade
Há uma atenuante, favorável ao Brasil, na pesquisa
que coloca o país em segundo lugar em desigualdade social entre todas as nações
do chamado G20, atrás apenas da África do Sul. O consolo é que o estudo aponta
o Brasil como um dos poucos que caminham na tendência de redução das
disparidades de renda, enquanto os demais estão estagnados ou podem até
retroceder. O estudo foi realizado pela Oxfam, instituição de combate à pobreza
e à injustiça social e teve abrangência no grupo integrado pelos 19 países mais
desenvolvidos do mundo, mais a União Europeia. É doloroso saber, pelo que
informa a pesquisa, que ainda estamos atrás de México, Rússia, Argentina, China
e Turquia, apesar de termos conquistado a condição de sexta economia mundial e
desfrutarmos do status de potência emergente.
Falta muito para que o Brasil possa exibir, além da
exuberância econômica, níveis de igualdade dos líderes do estudo, França,
Alemanha, Canadá, Itália e Austrália. A Oxfam arrisca algumas previsões que nos
favorecem, baseadas em diagnósticos do FMI, como a de que o país pode reduzir
desigualdades se crescer ao redor de 3,5% este ano e acima de 4% a partir de
2013. Se isso ocorrer, o número de pessoas pobres cairá em quase dois terços
até 2020, com 5 milhões de pessoas a menos na linha da pobreza. Há, no entanto,
um complicador revelado pelo estudo. Além de ainda apresentar um alto índice de
pobreza e até de miséria, o Brasil é um dos países com os mais altos níveis de
contrastes sociais, considerando-se as diferenças entre os mais ricos e mais
pobres e as condições gerais de vida da população, como destacou o chefe do
escritório da Oxfam em Brasília, Simon Ticehurst.
Há, por parte da instituição e do FMI, o
reconhecimento de que o governo tem atuado, em várias frentes, no sentido de
amenizar esse quadro, a partir da observação de que não basta criar empregos,
como vem ocorrendo, mas equilibrar rendas e melhorar o suporte público, em
saneamento e saúde, às populações em situação desfavorável. O Bolsa-Família é
citado nominalmente pelo estudo como exemplo de ação governamental com
resultados efetivos.
Além de propiciar transferência de renda e, indiretamente,
impulsionar setores da economia de regiões mais carentes, o programa estaria,
de acordo com avaliação do próprio governo, obtendo outro resultado perseguido
desde seu lançamento, que é a maior presença de crianças nas escolas. Na semana
passada mesmo, em entrevista à Rádio Gaúcha, a ministra do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, Tereza Campello, assegurou que o governo tem
monitorado com êxito a obrigatoriedade da frequência escolar, como condição
para recebimento do auxílio, que atende 13 milhões de famílias.
Para deixar a posição desconfortável no G20, há
outros desafios, como tornar consequente os planos de qualificação profissional
de trabalhadores hoje dependentes do socorro governamental, e investir em
educação básica. Como enfatiza o estudo em suas conclusões, não existe escassez
de potenciais alavancas públicas para a redução das desigualdades. O que não
pode ocorrer é a escassez de determinação política.
O apelo dos prefeitos
É compreensível o apelo feito pelo presidente da
Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul, Mariovane Weis,
para que o Estado cumpra sua parte na destinação de recursos para a saúde. O
pedido foi feito na assembleia da Famurs, recentemente realizada em Tramandaí,
com a participação de cerca de 300 prefeitos. Os municípios têm do que reclamar,
pois é desigual a relação dos três entes federados quando a questão é saúde
pública. A União não destina o que deveria e tampouco os Estados cumprem com a
determinação constitucional de aplicar 12% do orçamento no setor. A Emenda 29,
agora regulamentada, torna mais rigorosa a fiscalização dos recursos
efetivamente destinados à saúde, mas os municípios foram, mais uma vez, os
sobrecarregados com as novas normas.
Para a Famurs, se os prefeitos conseguem cumprir
com a determinação de aplicar 15% em saúde, também o Estado deve finalmente se
submeter à exigência legal. O governador Tarso Genro, que esteve na assembleia,
ouviu este apelo e outras cobranças, entre as quais a que reivindica mais
recursos para amenizar os efeitos da seca. O governador insistiu que a dívida
do Estado, entre outros fatores, inviabiliza o atendimento das demandas. É um
argumento razoável, mas que não expressa novidade. Governantes anteriores
disseram o mesmo. O que importa é que o Piratini demonstre, com planejamento de
médio prazo, determinação política para equalizar com os municípios as atenções
à saúde.
A queixa da Famurs expõe a ainda precária relação
Estado-municípios na sustentação da estrutura da saúde pública no Estado.
Historicamente, os prefeitos lamentam que o Estado não cumpre com suas
atribuições. Falta cumplicidade entre governo e municípios para que, por
exemplo, a gestão da saúde seja assumida, como prevê o SUS na sua origem, pelas
prefeituras. No jogo de empurra, inseguros com a falta de participação do
Estado, muitos municípios preferem transferir seus doentes para outras cidades
ou para a Capital, numa cômoda opção pela ambulancioterapia. Por tudo isso, o
cumprimento da Emenda 29 pode representar o primeiro passo no encaminhamento de
soluções que o Rio Grande do sul adia há décadas.
ARTIGOS
Técnicos e políticos
Cláudio Brito
A chegada de Marco Antonio Raupp ao ministério de Dilma
Rousseff abriu o debate sobre o perfil da nova equipe de trabalho que resultará
de uma pretensa reforma. Afinal, em razão das trocas anteriores, provocadas por
motivos marcados por suspeitas quanto ao comportamento de alguns colaboradores,
a reforma vem acontecendo há meses. Os ajustes finais viriam agora, no embalo
das saídas dos que concorrerão às eleições municipais. Houve casos de
substituição de um ministro por um servidor de carreira, outras mudanças
sinalizaram reposições provisórias e agora, sim, na abertura do segundo ano de
seu governo, Dilma partiria para estruturar sua verdadeira equipe,
distanciando-se da herança deixada por Lula, seu primeiro eleitor. Mercadante,
um professor, sai da Ciência e Tecnologia, onde tateia, passando a um terreno
que lhe é menos acidentado, o da Educação. Dá espaço ao gaúcho Raupp, cuja
atuação política desconheço, mas sei que é o "pai da matéria" nos
arraiais dos cientistas. Algum sinal? Alguma tendência? Necessário dizer que,
dias antes da troca, Dilma e Lula conversaram por mais de quatro horas.
Prestação de contas, conversa entre criador e criatura ou mera coincidência?
Irrelevante o que possa significar o currículo
deste ou daquele novo ministro. Sempre será um pedaço do reino político
qualquer ministério ou secretaria. Raupp pode ser um técnico, mas não será por
ausência total de instintos políticos que Dilma o incluirá em seu time. Vale
para qualquer ministro. Raupp estará cercado de políticos. Outros, ao revés,
serão puramente políticos e vão cercar-se de especialistas nas áreas em que
deverão trabalhar. Não é isso o que mais importa. A reforma que deveríamos
cogitar é outra, estrutural. Nem se cometa o exagero de 40 ministérios, como
temos agora, nem sejam nove ou 10, como na Era Collor. No meio, está a virtude,
sabe-se disso há séculos.
Vinte ministérios? Quem sabe? Fala-se agora em
criação de um ministério das pequenas e médias empresas. Não cabe abrigar a
demanda em ministério já existente? O da indústria e comércio é insuficiente?
Precisamos de políticas públicas específicas, voltadas à formação de uma classe
média fortalecida pelo empreendedorismo? Há ministério para o desenvolvimento.
Escolha-se onde abrigar pequenos e médios empresários, mas não se precisa
cogitar de outro ministério. O exemplo serve para todas as áreas onde se pensa
em ampliar e inchar as estruturas, quando o recomendável é o oposto.
Privilegiar o concurso público, reduzir os cargos
em comissão, diminuir o número de órgãos superpostos e focar na modernidade do
Estado, que não precisa ser mínimo, mas não pode ser máximo. O Estado deve ser
o suficiente para entregar à população a contrapartida adequada aos impostos
que todos pagamos. Eficiência, transparência e comedimento. Bons parâmetros
para uma reforma bem mais importante que a simples troca de ministros.
Precisamos é trocar de modelo de Estado.
POLÍTICA
Projeto de inspeção veicular é retomado
Proposta que prevê vistoria anual será desengavetada a
partir de fevereiro
Engavetada na Assembleia desde junho de 2011, a
polêmica proposta de implementação da inspeção veicular ambiental será retomada
com força em fevereiro pelo governo Tarso Genro. Como o prazo estabelecido pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para que os Estados aprovem o
projeto expira em junho, o Piratini alega que, apesar da resistência da base
aliada e da sociedade diante da proposta, não resta outra alternativa senão
efetivar a criação da inspeção veicular.
– Vamos retomar a discussão, ver o que evoluiu e
tomar uma decisão. É uma norma do Conama, em algum momento isso vai ter de ser
feito – disse o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
O projeto que prevê a inspeção – travado na
Comissão de Constituição e Justiça desde que o Piratini revogou a tramitação em
regime de urgência a pedido de deputados governistas – determina que os
veículos emplacados no Rio Grande do Sul devem passar por uma vistoria anual
para a verificação da emissão de gases poluentes.
A taxa, que será remetida junto com o IPVA, está
fixada em R$ 54,83. Para aplacar os ânimos dos aliados, o Piratini abrirá negociações
para avaliar possíveis flexibilizações na proposta. Contudo, ao mesmo tempo em
que demonstra disposição para o diálogo, o governo sinaliza que não há espaço
para mudanças radicais.
– O projeto que está na Assembleia é uma base. Não
necessariamente aquele vai ser o texto final, mas não tem muita margem para
modificação. Vamos ver o que é possível fazer – afirma Pestana.
Em novembro, após seis meses sem qualquer debate
sobre inspeção veicular, o Piratini voltou a coletar subsídios que serão
utilizados agora para convencer deputados sobre a necessidade de aprovação da
medida.
Foi neste mês que o presidente do Detran,
Alessandro Barcellos, conheceu os modelos de inspeção aplicados na França,
Espanha e Alemanha. Internamente, ele relatou que os países praticam preços
mais altos do que os R$ 54,83 que deverão ser cobrados dos proprietários de
veículos do Estado.
Barcellos também constatou que os europeus adotam
modelos públicos de realização das inspeções – exemplo copiado pelo Piratini.
carlos.rollsing@zerohora.com.br
CARLOS ROLLSING
Reforma da previdência perde força no Piratini
A reforma da previdência estadual poderá se limitar
à criação do Fundoprev, aprovado em junho de 2011 pela Assembleia para receber
as contribuições somente dos novos servidores. O governador Tarso Genro deverá
bater o martelo até o final desta semana, mas as possibilidades de instituição
do sistema de previdência complementar ou o aumento da alíquota de forma
linear, atingindo todas as classes de servidores, perderam força.
– Uma alternativa que temos é nos limitarmos ao
Fundoprev. Isso vamos resolver nos próximos dias – diz o chefe da Casa Civil,
Carlos Pestana.
As alternativas consideradas até então pelo
Piratini são estudadas como substitutas da elevação da contribuição
previdenciária de 11% para 14%, com redutores que isentavam os detentores dos
menores salários, medida declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça.
Nas suas últimas avaliações, o governo passou a
entender que o Fundoprev, saudável e superavitário, poderá solucionar o
problema da previdência a longo prazo. Calcula-se que, por cerca de 25 anos, a
conta somente acumulará depósitos, sem pagar aposentadorias, considerando que o
vínculo é estabelecido exclusivamente com os novos servidores.
A avaliação é de que a previdência complementar,
que pressupõe contribuições extras daqueles que desejarem se aposentar com
salários superiores ao teto de R$ 3.691,74, seria pouco atraente aos antigos
servidores, detentores de aposentadorias integrais garantidas por lei e que não
poderiam ser obrigados a aderir ao sistema.
Executivo teme desgaste político
Já o aumento de alíquota linear para todos os
servidores, desta vez sem os descontos para os menores salários, também se
enfraqueceu. Como a cobrança de 14% é apontada como confiscatória, o Piratini
teria o seu limite em uma eventual elevação para 13%. O problema é que, neste
cenário, o desgaste político, sobretudo com o funcionalismo, seria demasiado
diante de uma alternativa que em muito pouco ajudará a enfrentar o déficit
anual de cerca de R$ 5 bilhões da previdência.
– Não adianta pensar uma solução que não enfrenta o
problema. A medida pode até ser legal, mas podemos avaliar que uma alíquota de
12%, por exemplo, não é significativa. E o impacto político disso é muito forte
– avalia Pestana.
Outras alternativas chegaram a ser estudadas pelo
Piratini, mas todas elas foram consideradas inviáveis juridicamente.
Dilma tem aprovação recorde pelo Datafolha
O governo foi avaliado como ótimo ou bom por 59% dos
entrevistados
A mais recente pesquisa Datafolha mostra que a
presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um
índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os
presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Conforme o
levantamento publicado ontem no jornal Folha de S.Paulo, 59% dos brasileiros
consideram sua gestão ótima ou boa – um salto de 10 pontos percentuais em seis
meses.
Outros 33% classificam a gestão como regular, e 6%
como ruim ou péssima – cinco pontos a menos que na pesquisa de agosto. Os
números atestam que a presidente não teve a imagem afetada pelos escândalos que
marcaram o início de sua gestão. Ela demitiu sete ministros em 2011, seis deles
sob suspeita de corrupção.
A avaliação de Dilma melhorou entre homens e
mulheres e em todas as faixas de idade, renda familiar e escolaridade. A
aprovação é de 62% no eleitorado feminino e de 56% no masculino.
A presidente alcançou um equilíbrio entre os
eleitores da base e do topo da pirâmide social. Tem 61% de ótimo e bom entre os
que estudaram até o Ensino Fundamental e 59% entre os que chegaram ao Ensino
Superior.
Na divisão por renda familiar, o maior avanço foi
na faixa de cinco a 10 salários mínimos: 16 pontos de melhora, atingindo 61% de
aprovação.
Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a
chave para entender a evolução dos números nos últimos meses está na economia.
– É o fator que mais explica as mudanças em relação
à pesquisa anterior. A população estava preocupada com a crise internacional,
mas percebeu que ela não mexeu no seu bolso – afirma.
A fatia de entrevistados que acredita que sua
situação econômica vai melhorar subiu de 54% em junho passado para 60% neste
mês. O otimismo sobre a economia do país foi de 42% para 46% no período.
Entre os eleitores que apontam o PSDB como seu
partido preferido, Dilma alcança 40% de aprovação. Neste grupo, 69% a
consideram "muito inteligente", e 57%, "decidida" e
"sincera".
– Dilma demonstrou firmeza nas crises e passou a
imagem de que é rápida para decidir e não titubeia para demitir quem se envolve
em irregularidades – diz Paulino.
O Datafolha ouviu 2.575 pessoas nos dias 18 e 19. A
margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou para menos.
A pesquisa (em %) 7,2 é a nota média do governo Dilma, segundo
o Datafolha.
APROVAÇÃO DA GESTÃO DE DILMA
Ótima/boa 59
Regular 33
Ruim/péssima 6
Não responderam 2
O 1º ANO DOS EX-PRESIDENTES
A aprovação após completar um ano no Planalto:
Fernando Collor 23
Itamar Franco 12
Fernando Henrique 41
(1º mandato)
Fernando Henrique 16
(2º mandato)
Lula (1º mandato) 42
Lula (2º mandato) 50
72% consideram Dilma decidida.
80% consideram a presidente muito inteligente.
70% acham Dilma sincera.
Gasto com pessoal desacelera
Pelo segundo ano consecutivo, os gastos com o
funcionalismo público federal registraram desaceleração. As informações são da
Agência Brasil. Em 2011, as despesas com pessoal cresceram 6,6%, contra
expansão de 9,8% observada em 2010.
Em valores, o desembolso passou de R$ 166,4 bilhões
em 2010 para cerca de R$ 177 bilhões em 2011. Os números finais só serão
divulgados pelo Tesouro Nacional no fim do mês.
Os gastos com o funcionalismo desaceleram depois de
subirem em 2008 e 2009 em razão de uma série de reajustes e recomposições
salariais concedida pelo governo. Nesses anos, as despesas com pessoal e
encargos sociais subiram 12,4% e 15,9%, respectivamente em relação ao ano
anterior.
Em 2009, esse tipo de gasto atingiu 4,76% do
Produto Interno Bruto), soma de tudo o que o país produz, o maior nível desde
2005. Nos anos seguintes, no entanto, a tendência se inverteu.
Dilma pede medidas que reanimem a economia
Em reunião ministerial hoje, presidente cobrará mais
empenho e definirá corte de até R$ 70 bi
Depois de uma série de discussões setoriais, a
presidente Dilma Rousseff realiza hoje a primeira reunião ministerial deste ano
decidida a cobrar mais empenho de sua equipe nas ações do governo federal e
medidas para estimular a economia do país. No encontro, deve ser anunciado um
sistema de acompanhamento dos programas prioritários para o Planalto, que será
coordenado pela Casa Civil.
Omonitoramento envolve a entrega de relatórios
semanais com a avaliação da execução e do andamento dos projetos. Dilma
considera importante dar resposta às críticas de que descuidou da administração
do governo em 2011 por conta da "faxina" que derrubou seis ministros
envolvidos em suspeitas de corrupção.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve
sinalizar como será a execução do orçamento. Na última semana, os ministros
apresentaram ao governo uma lista de prioridades para tentar evitar que sejam
atingidos pelo corte que pode chegar a R$ 70 bilhões. Foram avaliados os pontos
positivos e os problemas dos ministérios.
Em sua fala, a presidente também fará uma avaliação
geral das políticas do governo, além de recomendações aos ministros,
especialmente sobre a economia. O aviso será de que é preciso crescer com
segurança.
Expansão deve ser movida a crédito e consumo
interno
A presidente quer medidas para retomar o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No último sábado, Dilma encomendou
ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal estudos com medidas que possam
estimular o crescimento do crédito em 2012. A ideia é favorecer o investimento
produtivo, para incentivar o consumo, e também para aumentar a exportação por
empresas brasileiras.
A avaliação da equipe econômica do governo é a de
que o PIB deverá crescer de 4% a 5% neste ano, sendo que a base para isso
deverá ser o consumo interno, financiado pelo crédito (confira quadro ao lado).
Segundo projeções do Banco Central (BC), o estoque de empréstimos e
financiamentos deve aumentar neste ano apenas 15%. A alta deverá ser puxada
basicamente pela concessão de recursos para habitação por parte dos bancos
públicos.
Decidido o valor do corte no orçamento, o BC terá
como fazer os cálculos para a política da taxa de juro – que vem se mantendo em
queda – sem comprometer a meta de segurar a inflação.
Brasília
Gabrielli deixará a Petrobras, diz o PT
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli,
irá deixar o cargo, informou ontem o líder do governo na Câmara, o deputado
Paulo Teixeira (SP). Em seu perfil no Twitter, Teixeira disse que Gabrielli
será substituído por Maria da Graça Foster, que atualmente exerce o cargo de
diretora de Gás e Energia da estatal.
A estimativa é que Gabrielli, há seis anos e meio à
frente da empresa, deixe a direção da Petrobras em fevereiro, quando ocorre a
primeira reunião do ano do conselho administrativo da estatal. O encontro está
marcado para o próximo dia 13.
Gabrielli poderá assumir um cargo no governo de
Jaques Wagner, na Bahia. Depois disso, disputaria eleições em 2014 para o
governo baiano ou para senador.
Graça, como é conhecida, tem perfil técnico,
apreciado pela presidente Dilma Rousseff, de quem é amiga. Funcionária de
carreira, a diretora é engenheira química, comandou o programa de biodiesel na
Petrobras e esteve à frente da BR Distribuidora e da Petroquisa. Também foi
titular da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do
Ministério de Minas e Energia quando Dilma era titular da pasta.
GERAL
Regiões com seca vivem dias de chuva
Precipitações registradas desde a quinta-feira trouxeram
alívio a produtores rurais gaúchos
A chuva finalmente caiu em algumas das áreas onde
ela era mais necessária. Regiões atingidas pela seca como o Noroeste, as
Missões e o centro do Estado comemoraram neste fim de semana precipitações que,
em alguns casos, foram de volume considerável. A trégua na estiagem renovou
esperança, principalmente dos produtores de soja, em período de floração.
Na Região Central, choveu na maioria dos
municípios. Em áreas de nova Nova Palma registraram-se 120mm no sábado.
– Em algumas regiões não choveu nada, mas, em
média, o volume foi de 30mm a 40mm. Não dá para amenizar completamente a seca,
mas deve melhorar as pastagens e a condição da soja, que está em
desenvolvimento – comemorou o chefe do escritório da Emater em Nova Palma,
Francisco Pozzer.
Em Santa Maria, choveu forte no fim da tarde de
sábado e no início da tarde de ontem, para alegria do agricultor Clóvis Medina
Coden, 57 anos. Até o fim da semana passada, ele previa perder seus 200
hectares de soja. Ontem, depois de 100mm de precipitação, a perspectiva era
outra.
– Achei que não conseguiria pagar as contas. Agora,
vai dar para quitar as dívidas e pensar no futuro. Agora dá para sorrir –
contou.
Segundo o agrônomo da Emater Amauri Coracini, a
chuva que atingiu o Noroeste desde quinta-feira representa uma esperança para a
soja e as pastagens que começam a se restabelecer e representar ganho na
alimentação dos animais.
– As perdas consolidadas não se alteram, mas a
chuva traz a expectativa de melhorias para culturas como o milho, que ainda
pode ser plantado, e os pomares, cujas frutas e hortaliças ganham novo vigor –
explica Coracini.
Períodos sem chuva serão menores a partir de agora
Perto de áreas beneficiadas, contudo, houve
municípios que não receberam chuva alguma, como Santa Margarida do Sul, perto
de Santa Maria. A precipitação também foi quase nula em São Gabriel, onde os
produtores projetam perda de 90% na safra do milho.
O alento é que, a partir de agora, o intervalo
entre as chuvas deve diminuir. Entre hoje e quarta-feira, praticamente todo o
Estado deve receber precipitações.
Colaboraram
Marcelo Martins, Rafael Diverio e Tatiana Py Dutra
juliana.gomes@zerohora.com.br
JULIANA GOMES
POLICIA
1.500 anos de cadeia
Ultrapassa os 1,5 mil anos de condenações o saldo
da trajetória criminosa de ex-internos da então Fundação Estadual do Bem-estar
do Menor (Febem), hoje Fase, cujas histórias Zero Hora está contando.
Dez anos depois de se reunirem na Comunidade
Socioeducativa (CSE), uma das unidades mais violentas da fundação, dos 162
jovens, 114 tiveram condenações judiciais.
- As sentenças são resultado de pelo menos 280
processos criminais.
- Dos 162 ex-internos, 135 passaram pelo sistema
prisional.
- Eles tiveram pelo menos 340 entradas em prisões
por suspeita de cometer crimes.
Há casos de jovens que ingressaram em cadeias para
adultos antes mesmo de quitarem contas na fundação. Dos 162 ex-internos da CSE,
111 tiveram registros de fugas, sendo que 40 deles deixaram a instituição
foragidos, portanto, sem terminar de cumprir a medida judicial de internação.
Luciano Emerson Pinto de Freitas é um exemplo.
Fugiu da fundação, onde ingressara aos 17 anos, em 28 de abril de 2002. Às 10h
do mesmo dia, foi preso ao assaltar um minimercado e atirar contra policiais
militares.
Naquela manhã, Luciano dava sequência a uma
carreira criminosa marcada por entradas e saídas de prisões e que lhe rendeu,
até o momento, sentenças que ultrapassam 90 anos de condenação.
Jorge Luiz Pires saiu da então Febem em 8 de
janeiro de 2002. Um dia depois, segundo a Justiça registrou em sentença,
executou um homem com três tiros, em Porto Alegre. Voltou a ser preso 67 dias
depois de ter saído da fundação. Hoje, tem penas que somam mais de 60 anos.
Dados sobre novas capturas mostram que parte dos
ex-internos teve pouco tempo de liberdade. Pelo menos 60, dos 135 que foram
presos , ingressaram em prisões menos de um ano depois de saírem da fundação.
Para alguns, como Rafael Candido Santos Machado, isso representa uma vida
inteira privada de liberdade.
Rafael entrou na ex-Febem com 14 anos, em 1999, por
assalto. Entre ingressos, fugas, retornos, internações e o desligamento
definitivo, passou cinco anos vinculado à fundação. E nesse período já
registrava entradas também no sistema prisional. Hoje, tem pena de 49 anos. Mas
da lista de 114 condenados também emergem histórias de jovens que cumpriram
suas penas como adultos, ganharam liberdade e não voltaram a delinquir, como a
de Magno da Silva Luciano, que formou família e trabalha em um posto de
combustíveis.
adriana.irion@zerohora.com.br
joseluis.costa@zerohora.com.br
ADRIANA IRION
E JOSÉ LUÍS COSTA
70% dos 162 ex-internos foram condenados
O retrato feito por ZH revela que a reincidência
fora dos portões do que é hoje a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase)
foi de 70,3%, levando em conta a quantidade de 114 ex-internos que foram
condenados.
O percentual é bem superior ao verificado em 2011
na instituição. No ano passado, o índice de infratores que já haviam tido
internações anteriores foi de 38,5%.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, a gaúcha Maria do Rosário, confirma que há
dificuldades na ressocialização de infratores.
– Houve esforços nestes 10 anos, mas o sistema de
caráter socioeducativo não tem funcionado no Brasil. Ele ainda é uma declaração
de intenções mais do que uma realidade capaz de recuperar adolescentes – disse.
A situação desafia o poder público:
– É uma responsabilidade que não tem sido cumprida
a contento no cenário nacional.
Os jovens cujas histórias embasam esta série de
reportagens já tinham um perfil de repetição de delitos quando ainda eram
adolescentes. Dos 162 infratores, 127 deles tiveram mais de uma internação na
fundação.
MUNDO
Capitão diz que empresa sabia das manobras
Acusado de abandonar o navio que naufragou na costa
italiana há 10 dias, o capitão Francesco Schettino afirma ter feito a manobra
de "saudação" à ilha de Giglio com conhecimento da Costa Cruzeiros,
proprietária do navio. Nos novos trechos do depoimento de Schettino à Justiça
revelados pela imprensa italiana neste fim de semana, o comandante afirma que a
prática é frequente na navegação de cruzeiros.
A afirmação do capitão contradiz a do presidente da
empresa, Pier Luigi Foschi, que declarou não ter conhecimento prévio da manobra
nem ter autorizado a aproximação extrema com a costa. Após o acidente, Foschi
atribuiu a culpa a Schettino e classificou sua conduta como
"incompreensível", uma vez que "nunca havia dado sinais de
abandono no plano técnico ou no humano".
Em depoimento à juíza Valeria Montesarchi, porém,
Schettino confirmou já ter feito aproximações semelhantes no passado com o
navio Costa Europa e outras embarcações. "A Costa estava ciente da prática
recorrente em todo o mundo e a reverência diante da ilha de Giglio foi
planejada e requerida pela Costa antes da partida de Civitavecchia (na região
do Lazio) por razões publicitárias", declarou Schettino, conforme
transcrição do interrogatório.
Equipes de resgate encontraram 13º corpo
Schettino, que está em prisão domiciliar, afirmou
que a aproximação da costa serve para chamar atenção e saudar os moradores dos
lugares por onde os navios passam. "As saudações são feitas em todo o
mundo. Também saudamos na península Sorrentina e em Capri", afirmou.
Ele ainda mencionou a existência de uma espécie de
competição com outro comandante, Massimo Garbarino, que "fazia suas
saudações" no mesmo local. "Eu o prometi, por e-mail, que faria o
mesmo no verão seguinte", disse.
O navio encalhou em um banco de areia próximo à
ilha de Giglio, na região italiana da Toscana, e naufragou. Ontem, equipes de
resgate encontraram mais um corpo, o 13º. Cerca de 20 pessoas, das mais de
quatro mil pessoas que estavam a bordo, seguem desaparecidas.
Giglio,
Itália
Ditador do Iêmen deixa o país
Saleh pediu perdão aos cidadãos e afirmou que fará
tratamento médico nos Estados Unidos
Logo depois de fazer um discurso pedindo
"perdão" pelos erros que cometeu em 33 anos de governo, o ditador do
Iêmen, Ali Abdullah Saleh, 69 anos, deixou o país, ontem, em direção aos
Estados Unidos. Saleh sai em meio a uma nova onda de protestos de opositores ao
regime.
O pronunciamento do ditador foi feito após a
aprovação da reforma no Parlamento do Iêmen e a nomeação do vice-presidente Abd
Rabo Mansur Hadi como único candidato às eleições presidenciais de fevereiro. O
governante conclamou a população a ficar do lado de Hadi e defendeu a
reconciliação das forças.
Após uma passagem por Omã, ele pretende tratar nos
EUA ferimentos sofridos em um atentado em junho.
Saleh aceitou ceder o poder em um acordo sobre a
transição política feito em novembro, quando pediu em troca a imunidade para
ele e para membros do governo. No entanto, será presidente honorário do país
até 21 de fevereiro – data da próxima eleição presidencial.
Os anúncios não diminuíram os protestos nas ruas da
capital Sanaa, em que opositores pediram a execução de Saleh e protestaram
contra a lei que lhe dá imunidade.
As manifestações no país começaram em fevereiro, em
meio a revoltas em outros países do norte da África e do Oriente Médio.
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