PRIMEIRA PÁGINA
Sobrou tempo. Faltou dinheiro
Ministérios com verbas para prevenção e recuperação
de desastres ambientais têm baixa execução orçamentária e os recursos chegam a
conta-gotas aos estados, inclusive a Minas O Ministério das Cidades gastou
apenas R$ 2,3 bilhões dos R$ 22,5 bilhões orçados para 2011. Já o da Integração
Nacional aplicou R$ 7,9 bilhões dos R$ 19 bilhões previstos. Foram reservados
R$ 366 milhões para ações de prevenção. A pasta aprovou 34 propostas dos
estados, num total de R$ 218 milhões prometidos para os próximos anos.
Pernambuco, estado do ministro Fernando Bezerra, teve oito propostas aprovadas,
somando R$ 98 milhões, o maior montante. Em sexto lugar, Minas emplacou só uma,
no valor de R$ 10 milhões. Mesmo assim, Bezerra negou favorecimento a seu
estado. Exemplo da dificuldade em obter verba, Divinópolis, em estado de
emergência, espera há um ano e meio R$ 35 milhões do Ministério das Cidades
para projeto de drenagem, ignorado no da Integração Nacional.
E como a verba não chegou...
Os corpos de mais três vítimas das chuvas em Minas
foram resgatados ontem. Um deles é o do segundo taxista soterrado pelo
deslizamento de terra sobre a rodoviária de Ouro Preto. Os outros dois são de
Guidoval, na Zona da Mata, cidade em que havia 8 mil pessoas isoladas. Dois
municípios da região, uma das mais atingidas, foram os primeiros a decretar
estado de calamidade pública: Cataguases e Dona Euzébia. Os alagamentos
atingiram também vários bairros de BH e da região metropolitana, como
Citrolândia, em Betim. O número oficial de desabrigados e desalojados no estado
chegou a 10,3 mil. Mas podem ser muito mais, já que só em Cataguases seriam
quase 9 mil, segundo a Defesa Civil municipal.
Lei encarece carro usado
Revendedores vão embutir no preço custo de quitação
do imposto.
Área urbana livre para cobrar
Lei permite que prefeituras criem pontos de
tributação nas cidades.
POLÍTICA
Pouca verba = catástrofe anunciada
Dinheiro liberado pelos dois ministérios responsáveis pela
prevenção e recuperação dos estragos causados pelas chuvas foi insuficiente
Principal pasta responsável pelos investimentos em
prevenção contra desastres ambientais, o Ministério das Cidades fechou 2011 na
lista dos menos eficientes em execução orçamentária. Nos últimos 12 meses, a
pasta gastou pouco mais de 10% do total previsto inicialmente. De R$ 22,5
bilhões, foram efetivamente pagos apenas R$ 2,3 bilhões. Entre as obras geridas
pelo órgão estão grandes projetos destinados às melhorias na infraestrutura de
municípios, como as intervenções na modalidade de Drenagem Urbana e Manejo de
Águas Pluviais. O projeto, coordenado pela Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental, destinou R$ 623,3 milhões para esse tipo de obra, porém quase um
terço dos recursos – R$183 milhões – foram gastos com restos a pagar, ou seja,
não representaram investimentos na prática.
O Ministério da Integração Nacional, outra pasta
que coordena projetos para evitar prejuízos causados pelas chuvas, também teve
execução abaixo do esperado no início do ano. A consequência foram poucos
gastos realizados nos programas de prevenção. A pasta gastou R$ 7,9 bilhões dos
R$ 19 bilhões previstos. No total gasto com ações de prevenção foram reservados
R$ 366 milhões durante o ano passado, sendo R$ 40 milhões nos planos de
trabalho da pasta, R$ 106 milhões destinados às emendas parlamentares e R$ 220
milhões foram liberados pelas medidas provisórias enviadas pelo governo
federal.
Na lista de ações preventivas propostas pelos
estados e municípios foram incluídas 34 propostas, o que representa um total de
R$ 218 milhões em empenhos prometidos para os próximos anos. Pernambuco, estado
do ministro Fernando Bezerra (PSB) é o estado com maior número de propostas –
oito já apresentadas – e deve representar investimentos de R$ 98 milhões. São
Paulo vem em seguida também com oito propostas e R$ 40 milhões empenhados.
Minas Gerais teve apenas uma proposta aprovada e deve receber cerca de R$ 10
milhões na ação de prevenção.
Reclamação À frente de cidades castigadas pelas
chuvas no estado, prefeitos dizem que a maior dificuldade para tocar obras que
poderiam evitar ou minimizar os impactos das águas é justamente conseguir a
liberação de verbas pela União. A mesma demora é também reclamada em relação
aos recursos para recuperação das áreas atingidas. "Como é que deixa uma
ponte caída enquanto se espera pelo dinheiro?", questiona o prefeito de
Ubá, Edvaldo Baião Albino (PT). Os gestores, no entanto, admitem que, em alguns
casos, falta planejamento das prefeituras para elaborar projetos.
"Os recursos necessários para grandes obras
são muito maiores do que os prefeitos dispõem em seus cofres. Necessitamos de
ajuda da União e o processo é moroso", afirma o presidente da Associação
Mineira dos Municípios (AMM), Ângelo Roncalli. A lentidão deixou Ubá, na Zona
da Mata, em situação complicada. Somente um ano depois de as chuvas destruírem
a cidade, o governo federal liberou R$ 1,1 milhão para a recuperação. Os
recursos chegaram, mas a chuva também: a cidade está novamente em estado de
emergência.
Culpados Obras com recursos da prefeitura
minimizaram, porém, os impactos da chuva este ano. "Fizemos uma dragagem
no rio e evitamos que ele transbordasse. Se a verba da União chegasse mais
rápido, poderia evitar outras tragédias", comenta Albino. O governo de
Minas também demorou a fazer as obras prometidas ao município. Começou a
reformar estradas rurais há pouco tempo. Diante da atual situação do estado,
com 66 municípios em emergência, o prefeito de Ubá avalia que a
responsabilidade deve ser dividida entre prefeituras e governos estadual e
federal.
"Não dá para falar que as prefeituras estão
isentas de culpa. Há também aquelas que pagam R$ 300 mil na festa de
aniversário da cidade, mas não gastam R$ 30 mil na limpeza de um rio", diz
Albino. O presidente da AMM também admite a falha de algumas prefeituras.
"Há casos de dificuldade na elaboração de projetos, mas o maior problema é
a demora dos recursos da União. Estamos trabalhando para diminuir as
divergências, investindo em cursos de capacitação dos gestores", diz
Roncalli.
O prefeito de Divinópolis, na Região Centro-Oeste,
Vladimir de Faria Azevedo (PSDB), fez projeto de drenagem e aguarda a liberação
de R$ 35 milhões pelo Ministério das Cidades. "Mandei há um ano e
meio", afirma. Ele pleiteou verba para a mesma obra no Ministério da Integração
Nacional em 2009, mas não conseguiu o recurso. Aguardando a obra e com a cidade
abalada novamente pelas chuvas, ele decretou ontem estado de emergência.
O prefeito de Alagoa, no Sul do estado, Sebastião
Mendes (PSDB), diz que para recuperar as pontes e rodovias destruídas no ano
passado seriam necessários mais recursos do que os repassados pelos governos
federal e estadual. A cidade foi uma das mais atingidas em 2011 com 200
desabrigados em menos de duas semanas de chuvas. Foi decretado estado de
calamidade pública. No total foram destinados R$ 2,1 milhões para a
recuperação. "Recebemos cerca de R$1,6 milhão do governo federal e mais R$
500 mil do estadual, o que ajudou muito para a limpeza dos rios e talvez tenha
evitado que novas enchentes acontecessem este ano. Agora vamos ver o que a
chuva vai nos trazer em janeiro. Na semana passada já tivemos um novo problema,
dessa vez com a queda de uma ponte e por isso vamos pedir novamente
ajuda", explica.
Via crúcis
do dinheiro
Passo a passo para remediar os prejuízos com desastres em
Minas Gerais
1. Para receber recursos de recuperação o município
atingido preenche a Avaliação de Danos (Avadan), documento que aponta os
principais prejuízos causados na cidade e a descrição das áreas afetadas.
Também são relatadas as perdas econômicas registradas pelo município.
2. O relatório é encaminhado à Defesa Civil
estadual, que faz a primeira avaliação dos danos. Depois ele é encaminhado à
Secretaria Nacional de Defesa Civil com a situação detalhada dos municípios
afetados. Em casos emergenciais, as prefeituras recebem imediatamente o apoio
da Defesa Civil Estadual, com ações para garantir a segurança de moradores em
áreas de risco e auxílio aos desalojados ou feridos.
3. Depois de avaliados os danos pelos órgãos
estaduais e federais, o município pode ser considerado apto para receber verbas
para reconstrução e reparação dos prejuízos.
4. Cabe então às prefeituras a elaboração de
projetos e planos de trabalhos para a reconstrução dos locais atingidos. Os
projetos são enviados aos ministérios e, em conjunto com os governos estaduais,
são definidos os valores repassados recursos para as obras de recuperação.
Pedágio também na cidade
Nova lei permite aos municípios cobrar tributos e
restringir circulação de carros em determinadas áreas com o objetivo de
estimular o uso do transporte urbano coletivo
Daniel Camargos
A Política Nacional de Mobilidade Urbana foi
sancionada pela presidente Dilma Rousseff ontem e começa a vigorar em 100 dias.
Alguns pontos da lei devem afetar diretamente o bolso do cidadão. Um deles
prevê a aplicação de tributos para utilização da infraestrutura urbana, com o
objetivo de desestimular o uso de "determinados modos e serviços de
mobilidade". A lei, entretanto, garante que os recursos desse
"pedágio" serão aplicados exclusivamente em infraestrutura urbana, no
transporte público coletivo, em transporte não motorizado e no financiamento do
subsídio público das tarifas de transporte.
Além disso, a lei prevê que os municípios poderão
usar "instrumentos de gestão", restrição e controle de acesso e
circulação, permanente ou temporário, de veículos motorizados em locais e
horários predeterminados. Em São Paulo, por exemplo, já é usado o sistema de
rodízios de automóveis para tentar diminuir os congestionamentos.
A lei, entretanto, é dedicada principalmente ao
transporte coletivo, determinando a melhoria no acesso, no deslocamento de
pessoas e também no transporte de cargas dentro das cidades. O documento
esclarece também direitos dos usuários, como o de ser informado, nos pontos de
embarque e desembarque, sobre itinerários, horários, tarifas dos serviços e
modos de interação com outros modais. As regras que definem as tarifas a serem
cobradas também estão estipuladas.
A especialista em mobilidade urbana Renata Cardoso
Magagnin destaca que a política é uma boa iniciativa, pois estabelece critérios
a serem adotados por todas as cidades. "Falam em mobilidade nas grandes
cidades por causa da Copa do Mundo, mas cidades médias e pequenas também
enfrentam problemas e precisam de políticas", destaca Renata, que é
professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
Comum em cidades do interior do país, o serviço de
mototáxi também é previsto na lei, que aponta os critérios para a regulação do
meio de transporte. As vias com grande índice de poluição poderão ter o acesso
restrito em determinados horários. Outro ponto estabelecido é a possibilidade
de espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte coletivo e
para os meios de transporte não motorizados, além de estabelecer políticas para
estacionamentos públicos e privados.
ALTERNATIVAS "Mobilidade não envolve apenas
transporte público", pontua Renata Magagnin. A especialista explica que é
preciso pensar em soluções para o acesso de idosos, portadores de necessidades
especiais e mães que transportam carrinhos de bebê, por exemplo. A mobilidade
também diz respeito a modos mais sustentáveis, como calçadas bem cuidadas e
ciclovias. "No Brasil, as pessoas vivem a cultura do carro. Isso é bem
arraigado e sempre contou com incentivos governamentais", critica a
especialista.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) aponta que 65% da população das capitais usam transporte público. A
pesquisa perguntou que motivo faria os não usuários de transporte público começarem a usá-lo. A maior rapidez do
transporte público foi a resposta mais apresentada pelos usuários de bicicleta,
carro e moto. Para quem se locomove a pé, a resposta está ligada à questão da
disponibilidade desse tipo de meio de transporte. "Um automóvel é usado no
máximo por duas pessoas e em muitos casos por apenas uma. A maioria das
políticas públicas visa manter esse sistema", afirma Renata.
O que diz a lei
Principais pontos da Política Nacional de Mobilidade Urbana
-Possibilidade de criar pedágio urbano para
determinas áreas
-Restrição de acesso e circulação, como acontece
com o rodízio em São Paulo
-Informações de horários e trajetos nos pontos de
embarque
-Regulamentação do serviço de mototáxi
-Espaços exclusivos nas vias públicas para
transporte público
Um problema que se repete
Karla Correia
Brasília – A concentração dos repasses de recursos
federais aos estados de origem dos titulares do Ministério da Integração
Nacional é um problema antigo da pasta. Baiano e peemedebista, o ex-ministro
Geddel Vieira Lima destinou quase a metade da verba disponível para
investimento na pasta para seu estado em 2009, quando esteve no comando do
ministério. Dos R$ 255 milhões que foram distribuídos entre municípios baianos
naquele ano, 87,8% caíram nos cofres de prefeituras do PMDB, de acordo com
levantamento divulgado pela ONG Contas Abertas.
"A existência de um histórico de problemas
dessa ordem só reforça a impressão de que os mecanismos de fiscalização do
governo não funcionam ou não são levados em consideração pelo Planalto",
critica o professor de Administração Pública da Universidade Federal Fluminense
(UFF) Cláudio Gurgel.
Na avaliação de Gurgel, a Casa Civil, pasta que tem
entre suas atribuições a avaliação e o monitoramento das ações distribuídas
entre os ministérios, tem falhado em cumprir suas funções. "Era possível
antes atribuir as falhas aos órgãos que cometiam irregularidades. Depois de
tantos casos semelhantes, fica evidente que há um problema sério localizado na
Casa Civil. Se as informações sobre a aplicação de recursos estão ao alcance da
imprensa, certamente também estão disponíveis para o governo", argumenta
Gurgel.
O critério político utilizado na distribuição de
cargos do primeiro escalão do governo é outro fator tido por especialistas em
administração pública como a origem de distorções como a observada na
Integração Nacional, que teve 90% do orçamento para prevenção e preparação de
desastres naturais destinados a Pernambuco, estado do ministro Fernando
Bezerra. "Criou-se essa convenção de distribuir cargos no governo federal
segundo a influência regional ou a força política dos aliados", diz o
professor de Finanças Públicas da UnB Roberto Piscitelli. "Só que quem
pleiteia um ministério, muitas vezes o faz por motivos políticos e financeiros.
O problema da Integração Nacional é uma consequência natural disso".
Mudança no IPVA eleva preço dos carros usados
Com exigência de quitação do imposto na transferência do
veículo, revendas vão repassar valor para compradores, mas temem perder vendas.
Despachantes defendem revisão da lei
Pedro Rocha Franco
A entrada em vigor de novo texto da lei que
normatiza o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), tornando
desde segunda-feira obrigatório o pagamento à vista do imposto em caso de
transferência, deve resultar em aumento imediato dos carros usados. Os proprietários
de revendas devem embutir no preço do automóvel o custo do tributo, que antes
poderia ser dividido em até três parcelas. A medida deve levar a um reajusete
de quase 3% nos valores.
Se o pagamento integral do IPVA pesou no bolso dos
consumidores mineiros, a partir da revisão da Lei Estadual 14.937, o peso para
as concessionárias revendedoras de veículos foi ainda maior. Depois de um fim
de ano pouco lucrativo para o setor, o empresário Ricardo Lodi tem 50 carros no
pátio da revenda e ontem segurou as transferências para analisar os efeitos da
nova lei. A resposta do setor jurídico levou-o a antecipar que todos carros
devem sofrer aumento de preços referente aos custos do IPVA. Ele explica que o
setor de usados não consegue absorver o valor, pois nos últimos anos sofre com
a depreciação dos automóveis e a consequente redução da margem de lucros e, por
isso, deverá repassar os custos.
Um exemplo é o montante pago por um Palio Economy
2008 completo. O veículo custa R$ 25 mil e seu imposto é de R$ 713 (já com
desconto em caso de parcela única). Somando esse valor ao do veículo, o
reajuste é de 2,85%. "Hoje o comprador está atrás de qualquer desconto, e,
em vez disso, o que terá é um acréscimo de custos", afirma Lodi. Na
prática, segundo ele, o que tem ocorrido é que os compradores têm preferido
juntar o máximo de recursos possível para dar de entrada ou quitar o carro,
deixando para parcelar o IPVA em três vezes, até por ser pouco vantajoso
quitá-lo integralmente com desconto. "Do mesmo jeito que o consumidor, as
concessionárias também terão prejuízo na hora de comprar", reclama o
empresário, ressaltando a possibilidade de a Secretaria Estadual de Fazenda e o
Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG) revisarem a forma de cobrança.
Interpretação O delegado regional da Federação
Nacional dos Despachantes Públicos, Antônio Lúcio da Silva, diz que o
Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG) tem feito uma interpretação
equivocada da legislação. Segundo ele, o parágrafo único que estabelece a obrigatoriedade
de pagamento dos impostos para efetivação da transferência de um veículo não
explicita que o valor deva ser quitado integralmente e antecipadamente e,
assim, o proprietário deveria pagar somente o débito atrasado. E reafirma que
basta o Detran-MG revisar a aplicação da lei para que o problema seja
solucionado. Caso contrário, somente uma ação direta de inconstitucionalidade
(Adin) poderia invalidar a nova lei.
O gerente da concessionária Grande Minas, Mário
Sampaio, explica que caso as revendas assumissem a antecipação do IPVA, teriam
que arcar de uma só vez com até R$ 80 mil. Ele diz que negocia 80 veículos por
mês e se for considerada a média de R$ 1 mil de imposto para cada carro, o
cálculo seria muito caro. "Seria um impacto muito forte". Assim, o
jeito é repassar o IPVA, ou parte dele, o que pode prejudicar a venda de carros
usados.
Sobre a possibilidade de o Detran-MG revisar a
interpretação da cobrança, o órgão disse que apenas segue orientação da
Secretaria Estadual de Fazenda, que reafirma ser a cobrança uma adequação ao
que prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), tendo sido adotado modelo
semelhante em outros estados.
Palavra de
especialista
Eduardo
Augusto da Silveira
Advogado
tributarista
Legalidade questionada
"Entendo que essa forma de cobrança é ilegal.
Antes da adoção dessa lei, o consumidor recebia a documentação e depois era
gerada a guia para pagamento do IPVA. Agora, no entanto, é descumprido o que
está previsto em três súmulas do Supremo Tribunal Federal (STF), tornando-se
inconstitucional. O estado goza, como ente tributante, de meios de cobrar suas
dívidas, inclusive podendo inseri-lo na dívida ativa. Mas a adoção de qualquer
forma coercitiva fere a constituição. O mesmo é válido, por exemplo, para casos
em que uma empresa é devedora de ISS e uma prefeitura nega a emissão de nota
fiscal. É um tratamento ilegal. A cobrança deve ser feita na Justiça, o que, às
vezes, pode sair mais caro, considerando-se que são dívidas que podem não
ultrapassar R$ 5 mil."
Emplacados
Ano Carros
comercializados
-2011
2.651.583
-2010
2.651.752
-2009
2.479.220
-2008
2.195.499
-2007
1.977.135
-2006
1.556.231
-2005
1.369.375
-2004
1.258.360
-2003
1.173.123
-2002
1.150.568
Fonte:
Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave)
Exportações de MG sobem 32,6%
Alta no preço de commodities como café e minério de ferro
no mercado internacional em 2011 incrementou balança comercial do estado e sua
participação nos números nacionais
Paula Takahashi
Mais de US$ 10 bilhões acima do resultado
registrado em 2010, as exportações mineiras no último ano bateram recorde
histórico, segundo dados preliminares da Central Exporta Minas, ligada à
Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A receita total em 2011 fechou em US$
41,39 bilhões, contra US$ 31,2 bilhões alcançados no ano anterior, uma alta de
32,6%. O desempenho de Minas Gerais superou em quase seis pontos percentuais o
crescimento médio nacional, de 26,8%. Com o resultado, o estado respondeu por
16,2% dos US$ 256 bilhões que o país exportou no período, contra uma
participação de 15,4% em 2010.
Em sentido contrário, as importações também
cresceram na casa dos 30%, fechando 2011 em US$ 13,02 bilhões – volume que
também supera a média nacional de expansão, de 24,6%. Isso significa que o
saldo comercial de Minas ficou em US$ 28,36 bilhões no acumulado de 2011,
crescimento de 51,8% em relação a 2010. No Brasil, o saldo ficou em US$ 29,78 bilhões,
aceleração de 47,8% frente ao ano anterior.
Boa parte do resultado se deve à valorização de
produtos que dominam a pauta de exportações do estado, entre eles o minério de
ferro, que, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), teve o preço majorado em 35,9% no mercado
internacional em 2011. "O principal fator de crescimento da balança
comercial em Minas está relacionado ao preço", avalia o economista da
Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Paulo Casaca. "Até
novembro, o custo dos produtos que constituem a pauta exportadora do estado
subiu pouco mais de 36%, enquanto a quantidade exportada cresceu apenas
4%", acrescenta o especialista.
CAFÉ O desempenho positivo foi generalizado e
sentido também no setor agropecuário, que nos 11 primeiros meses de 2011 já
respondia por 23,4% das exportações regionais e somava US$ 8,9 bilhões em
exportações, o melhor resultado dos últimos 10 anos. "No ano passado, o
setor somou US$ 7,6 bilhões e as perspectivas são positivas quanto ao
estabelecimento de novos recordes para as exportações do agronegócio",
prevê Márcia Aparecida de Paiva Silva, assessora técnica da Superintendência de
Política e Economia Agrícola da Subsecretaria do Agronegócio. O carro chefe é o
café, que, sozinho, respondia, entre janeiro e novembro, por 58,9% das
exportações do agronegócio mineiro. "O valor médio do grão subiu 64,2% nos
11 primeiros meses de ano", calcula Márcia.
GERAIS
6 mil construções em perigo
Defesa Civil notificou responsáveis por 60% das 10 mil
edificações vistoriadas em 2011 a fazer manutenção imediata, para evitar
acidentes. Chuva agravou problemas
Paola Carvalho
Uma cidade em alerta. Das cerca de 10 mil vistorias
realizadas pela Defesa Civil no ano passado em BH, 60% resultam em notificação
por apresentar algum tipo de risco, do mais simples ao grave, grande parte
piorada pela chuva dos últimos dias. Mas todos têm necessidade de intervenção
imediata. Esse número se refere à "cidade formal", ou seja, são
imóveis em loteamento legal, da periferia à Zona Sul da capital. É o mesmo
aviso recebido pelos moradores do condomínio do número 525 da Rua Passa Quatro,
no Bairro Caiçara, Região Noroeste de BH, que desabou na segunda-feira e causou
a morte de um homem de 40 anos. Ele está entre os oito mortos em decorrência da
chuva em Minas desde outubro, segundo a Defesa Civil. No interior do estado,
que continua com muitas enchentes, são 66 municípios em situação de emergência
e dois em situação de calamidade.
"As notificações em BH são relacionadas à
prevenção de desastres, desde problemas muito simples, até aqueles que levaram
à tragédia do Caiçara", informou Alexandre Lucas Alves, coordenador da Defesa
Civil de Belo Horizonte. Na segunda-feira, o prédio de dois andares e oito
apartamentos sustentado por um "paliteiro" em área de forte
declividade, desabou e soterrou duas pessoas. O corretor de imóveis Janilson
Aparecido Moraes, de 40 anos, morreu. Outras 11 pessoas conseguiram deixar os
dois prédios momentos antes de a estrutura ruir.
"É muito importante que as pessoas que recebem
notificações atendam as orientações da Defesa Civil. É fundamental providenciar
as intervenções o quanto antes", disse Alves. Ele destacou que, mesmo que
o órgão não seja "provocado", moradores devem contratar engenheiro
capacitado para avaliar a situação do empreendimento. "Há problemas que
podem não ser identificados aparentemente pelo morador. Daí a importância de
contratar um profissional e fazer manutenções frequentes", afirmou Alves.
A tragédia do Caiçara ocorreu depois de os
moradores receberem três notificações, sendo a última "urgentíssima".
Um engenheiro chegou a ser contratado pelo condomínio, que teria feito
orçamento de pelo meno R$ 300 mil para reformar o empreendimento. Nada foi
feito. A falta de recursos para as intervenções necessárias é um dilema
conhecido. "Muitos não fazem a manutenção e, quando chega ao ponto de ter
um problema, o custo para solucioná-lo é alto. Por isso, inspeções prediais
devem ocorrer a cada dois anos", disse o engenheiro civil Frederico
Correia Lima Coelho, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e
Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG).
O coordenador da Defesa Civil aponta que os
principais motivos que resultam nas notificações são problemas estruturais,
infiltrações de encanamento e esgoto, deficiência do sistema de drenagem
interna e de água pluvial, falhas construtivas e falta de manutenção. Se não há
risco de desastre, o órgão municipal entrega a orientação sobre o que é
aconselhável fazer. As denúncias que levam a Defesa Civil a um imóvel vêm dos
próprios moradores, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e vizinhos. É o caso de
um grupo de moradores de um edifício da Rua Planetóides, no Santa Lúcia, Região
Centro-Sul.
A subsíndica Vilma Carmargos fez abaixo-assinado
entre os moradores do prédio e o encaminhou ao Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia (Crea-MG) e à Prefeitura de Belo Horizonte, que repassou a demanda
para a Defesa Civil. O que os preocupa é a construção, justamente no período das
chuvas, de um prédio com previsão de 12 andares em terreno de formação
geológica de risco (filito). Parte da encosta do terreno já cedeu e ameaça as
construções vizinhas.
"Nosso prédio, além das fundações para receber
as cargas verticais, teve de ser contido com dispositivos denominados cortinas
atirantadas que funcionam bem há mais de 20 anos e cujo custo superou o
orçamento da construção do edifício", conta a moradora. Ela reclama que o
proprietário do terreno e a construtora nunca concordaram em encontrá-los.
"Nem colocaram placa informativa de construção do empreendimento no local,
o que é uma obrigação legal", reclama Vânia Camargos.
ALERTA O presidente do Ibape-MG apontou ao Estado
de Minas problemas visíveis em edifícios, que podem servir de alerta aos
moradores, uma vez que não são tão complexos de serem identificados: degradação
do concreto, com exposição do aço; trincas na estrutura; infiltrações; falta de
bueiros (boca de lobo) na rua; canalização para escoamento da água de chuva.
"Quando me mudei, há três anos, não observei
as condições do prédio. Hoje, depois de todos os desastres, me preocupo mais.
Minha próxima compra será mais consciente", afirma a educadora Roberta
Aranha, moradora do Bairro Buritis (Região Oeste), que apresenta problemas a
serem corrigidos, como colapso de concreto e ferragens expostas, de acordo com
o engenheiro civil. "Chamamos a Defesa Civil e vamos fazer adaptações no
jardim, responsável pela infiltração da água nas paredes da garagem",
completa a vizinha Francely Lara.
A Secretaria Municipal de Regulação Urbana informou
que até novembro de 2011, em construções aprovadas pela prefeitura, foram
feitas 3.082 vistorias, emitidas 556 notificações, 60 autos de infração e 34
autos de embargo. No que se refere a construções irregulares foram 8.074
vistorias, 2.817 notificações, 696 autos de infração e 719 autos de embargo.
Casas ameaçadas onde prédio desabou
O asfalto da Rua Passa Quatro, no Caiçara, também
corre risco de ceder, levando as quatro casas já interditadas pela Coordenadoria
Municipal de Defesa Civil. O trecho foi isolado ontem com tapumes e está sob
vigilância da Guarda Municipal e da Polícia Militar, na tentativa de inibir o
acesso de populares e curiosos aos escombros. Nos últimos dias, os moradores do
Caiçara estão visitando o local seja por curiosidade, seja para identificar a
origem do estrondo ouvido a quatro quarteirões da Passa Quatro, seja para
prestar solidariedade aos moradores do prédio em ruínas que perderam tudo.
"Onde posso entregar doações de roupas?", perguntava a dona de casa
Alessandra Campos, de 40 anos, sendo informada de que o material estava sendo
recebido na Igreja Nossa Senhora da Boa Esperança.
Ainda não existe previsão da Defesa Civil para
liberar a passagem dos moradores do prédio desabado até o local da tragédia,
para que possam tentar salvar documentos, pertences ou fotografias enterrados
sob toneladas de escombros. (Colaborou Sandra Kiefer)
Palavra de especialista
Márcio Baptista
Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e
Recursos Hídricos da UFMG
Papel do governo e do cidadão
"Evitar desastres é papel do poder público
combinado com a iniciativa do cidadão. A manutenção preventiva é de
responsabilidade do edifício. E, diante de qualquer suspeita de risco à
segurança, qualquer pessoa pode chamar a Defesa Civil para uma vistoria. Caso
receba uma notificação, deve tomar as providências indicadas de imediato. A
Defesa Civil já tem um volume enorme de trabalho e, por isso, a ação a partir
da demanda da população é mais eficaz do que esperar pela fiscalização. O
morador tem de ficar atento, principalmente se morar em áreas de risco, o que
não é difícil em razão da geologia e da topografia de Belo Horizonte. Ele pode
ter acesso ao mapa de risco da cidade e à planta do edifício para saber
exatamente qual é a condição de onde mora. A avaliação de um técnico também é
importante."
Estado de calamidade
Mais de 8 mil pessoas são retiradas de casa em Cataguases,
na Zona da Mata. Moradores de vários municípios da região sofrem com as cheias
dos rios Pomba, Muriaé e Piranga
Paula Sarapu
Dois municípios da Zona da Mata, Dona Euzébia e
Cataguases, decretaram estado de calamidade pública. Algumas cidades ainda
registram alagamentos, têm o abastecimento de água comprometido e sofrem com a
falta de energia elétrica. Em Guidoval, a ponte de acesso à cidade foi
destruída pelas águas do Rio Pomba e só uma estrada de terra, para Visconde do
Rio Branco, serve de acesso ao município, com um desvio de 50 quilômetros.
As enchentes atingiram 70% de Dona Euzébia, não há
mais inundações, mas algumas ruas estão intransitáveis. "Há móveis
destruídos e utensílios largados nas ruas por moradores", contou o
prefeito Itamar Ribeiro Toledo. Segundo ele, a ponte de acesso ao município tem
rachaduras, mas não foi condenada.
Segundo o coordenador municipal da Defesa Civil de
Cataguases, Carlos Pires, mais de 8 mil pessoas estão desalojadas e 850
desabrigadas. No pico da enchente, o rio chegou a 8,3 metros acima do leito e
ontem estava a quatro metros acima. "Tivemos 40% da cidade alagada. Os
bairros Vila Minalba, Beira Rio e Pouso Alegre foram os mais afetados.
Resgatamos doentes de barco e usamos helicóptero para retirar moradores de
áreas de risco. Temos muitas famílias em abrigos. Cerca de 30 mil pessoas foram
afetadas", disse. A Defesa Civil estadual não recebeu nenhum decreto de
estado de calamidade pública.
DESAPARECIDOS Em Ponte Nova, o Rio Piranga também
encheu e arrastou um morador, que teria tentado atravessar uma ponte. Diego
Tuler Vieira, de 27 anos, saiu de um bar e tentava chegar em casa, no Bairro
Copacabana. Moradores tentaram impedir, mas o rapaz caminhou pelo cais que
divide a rua e o leito e tentou se segurar em um poste. O corpo dele ainda não
foi encontrado.]
Segundo moradores, outro rapaz foi levado pela
correnteza terça-feira. Ele teria escorregado na beira do rio e o corpo teria
sido visto deixando o perímetro da cidade, que continua com ruas alagadas em 14
bairros. O rio atingiu mais de seis metros e só baixou 20cm na tarde de ontem.
Cerca de 800 imóveis foram desocupados. O transporte público e o abastecimento
de água continuam interrompidos. Segundo a prefeitura, a enchente ficou 50cm
abaixo do fluxo de 2008, quando os prejuízos chegaram a R$ 25 milhões.
O Rio Muriaé também baixou em Muriaé, que ontem
tentava dar conta da limpeza, distribuindo kits à população. Cerca de 300
moradores estão em abrigos e 1,2 mil pessoas estão desalojadas. Já em
Conselheiro Lafaiete, que registrou a pior enchente da história, o Rio
Bananeiras continuava cheio. No momento de pico, na terça-feira, o nível passou
de quatro metros acima do nível.
FALTA D"ÁGUA Em nota, a Copasa informou que 14
municípios ainda estão com abastecimento de água precário: Barão de Cocais,
Moeda, Conceição do Pará, Marilândia, Divinópolis, Cataguases, Dores do Turvo,
São João do Manhuaçu, Porto Firme, Guaraciaba, Guidoval, Guiricema, Visconde do
Rio Branco, Ubá. Equipes estão em todas as regiões para tentar resolver o problema.
Em Divinópolis, o nível de água nos sistemas da empresa baixou e o
abastecimento deve ser normalizado hoje. O sistema deve ser restabelecido em
Cataguases.
O rompimento de uma adutora de 350mm provocou
interrupção no abastecimento em Contagem, Esmeraldas e Ribeirão das Neves, na
Grande BH.
Betim decreta emergência
Betim e BH
Gabriella Pacheco e Flávia Ayer
A elevação contínua do nível do Rio Paraopeba, que
causou novos alagamentos, levou a Prefeitura de Betim, na Grande BH, a decretar
situação de emergência no município, que será publicado hoje no Diário Oficial.
A decisão é baseada no crescente número de deslizamentos de encostas, aumento
de pontos de inundação e alagamentos, danos a residências, à infraestrutura e
aos serviços públicos da cidade.
De acordo com a Defesa Civil municipal, cerca de
700 pessoas estão desalojadas no município, e mais 15 desabrigados, além de 16
imóveis condenados. Os desalojados e desabrigados foram encaminhados para casas
de parentes e amigos ou abrigos.
Segundo a Defesa Civil, há vários pontos de
alagamento nos bairros Colônia Santa Isabel, Vila Cruzeiro, Vila Machadinha,
Aroeiras; na região de Citrolândia, nos bairros Itacolomi e Nossa Senhora de
Fátima, na região das Alterosas, e no Bairro Vianópolis ao longo da MG-050.
Enquanto na região de Citrolândia e Vianópolis o problema é o transbordamento
do Rio Paraopeba, os outros bairros são diretamente afetados pela cheia da
Represa Várzea das Flores, que não tem comportas e verte ininterruptamente mais
de 50 centímetros do excesso d"água, com efeito direto no leito do Rio
Betim.
A situação do Rio Paraopeba continua preocupando os moradores. Na tarde
de ontem, a água já ameaçava invadir a ponte na BR-381. Três casas, uma fábrica
de cerâmicas, um alambique e dois galpões próximos ao local ficaram alagados. O
local é monitorado por moradores e por funcionários da Autopista Fernão Dias,
que administra a via.
Chuva na CAPITAL Em uma hora choveu um quinto do
esperado para janeiro inteiro em BH, ontem. Foram 54 milímetros de chuva em
pouco mais de 60 minutos, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia,
volume considerado alto para um curto espaço de tempo. A previsão é de mais
pancadas para hoje. A tempestade que caiu por volta das 15h30 alagou ruas e
avenidas, derrubou encostas e árvores, além de causar apreensão à população.
Somente a Defesa Civil da capital registrou nesse
intervalo mais de 20 ocorrências relacionadas às chuvas. Ao longo de todo o
dia, até as 18h, foram 138 chamadas recebidos. A Região Leste foi onde mais
choveu, 82,8 milímetros das 14h40 às 16h40, segundo a Defesa Civil. O aguaceiro
inundou a Rua Pouso Alegre, na altura do Bairro Santa Tereza. Carros ficaram
submersos e a via parecia um rio. Na Avenida Getúlio Vargas, no Funcionários,
Região Centro-Sul de BH, também houve pontos de alagamentos. A Avenida Pedro
II, na altura do Bairro Santo André, também foi totalmente inundada e exigiu
cuidados dos motoristas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário