ACESSE TODOS OS JORNAIS NO CANTO DIREITO DA PÁGINA "ARQUIVO DE CLIPPING"
PRIMEIRA PÁGINA
Dilma poderá enfrentar greve geral de servidores
Após oito anos de proximidade com o ex-presidente Lula, as
categorias que representam um milhão de servidores públicos estão insatisfeitas
com o tratamento que recebem do governo Dilma Rousseff. Lula foi responsável
pela concessão dos melhores acordos salariais aos servidores desde a
redemocratização. Dilma, em seu primeiro ano de mandato, concedeu apenas R$ 1,6
bilhão para reajuste de salários - incluído no Orçamento de 2012 -, diante dos
R$ 40 bilhões reivindicados pelos servidores. Em 2012, o governo não quer
conceder novos reajustes
Argentina ameaça com mais protecionismo
Empresas brasileiras instaladas na Argentina começam a ser
informadas por representantes do governo que Cristina Kirchner pretende
aumentar, ao longo do ano, a escalada protecionista para conter importações.
Executivos foram avisados que nenhuma importação de bens acabados será mais
autorizada, a não ser que o importador comprove que o produto não tem similar
nacional. O objetivo é preservar o superávit comercial, de US$ 11 bilhões no
ano passado
Exportação de básicos cresce ainda mais
As commodities não só aumentaram sua importância na pauta
de exportações brasileiras como também passaram por um processo de maior
"empobrecimento" nos últimos anos. Aprofundou-se a tendência de o
Brasil exportar mais produtos básicos e menos itens industrializados. O
fenômeno é evidente no grupo dos cinco produtos mais importantes da pauta -
minério de ferro, petróleo, soja, açúcar e café
La Niña eleva pedidos de seguro rural
A seca provocada pelo La Niña já fez o número de
comunicações de perdas para os seguros agrícolas no último trimestre de 2011
ultrapassar o total de toda a safra passada. O Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária (Proagro) já recebeu 25.192 pedidos de ressarcimento em
17 Estados no período. Na safra 2010/11 foram 25.106. Os Estados mais atingidos
foram Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Ao todo, a falta de chuvas no
país causou 20.425 pedidos. Fontes do Ministério da Agricultura antecipam que o
milho vai sofrer mais que outras culturas
OPINIÃO
Novas armas de combate à sonegação no país
Roberto Abdenur
A sonegação fiscal é um dos fatores que mais comprometem o
desenvolvimento de uma economia, especialmente quando se trata da economia de
um país emergente, como o Brasil. Toda sorte de justificativas é usada pelos
sonegadores, desde a alta carga tributária, passando pelos complexos passos
para o pagamento dos impostos, até a corrupção entre os responsáveis pelo
destino do tributo.
Apesar de total ou parcialmente verdadeiras, na grande
maioria dos casos essas justificativas acabam sendo usadas mais como pretextos
para uma prática que vem corroendo a saúde da economia nacional: a concorrência
desleal. Para enfrentar o problema, vez ou outra, se fazem megaoperações, que
têm caráter punitivo e também um significativo efeito midiático.
Em agosto, por exemplo, a Polícia Federal levou a cabo uma
dessas iniciativas, com ações coordenadas no Distrito Federal e em 17 Estados.
O objetivo era recuperar aos cofres públicos R$ 1 bilhão em impostos desviados.
Tecnologia pode ajudar quando proporciona recursos
necessários ao rastreamento de produtos desde a origem
Essas operações são muito importantes, pois fazem parte do
esforço de fiscalização. Mas a prevenção também é fundamental para evitar que
haja sonegação de impostos.
Nesse caso, a tecnologia pode ajudar. Principalmente
quando proporciona os recursos necessários para o rastreamento de produtos,
desde sua produção até a venda ao consumidor. Mecanismos para rastrear e
controlar produtos têm sido desenvolvidos em iniciativas de empresas e
instituições da sociedade civil que contam com a colaboração da União e de
unidades da Federação.
Dois mecanismos têm tido bons resultados: o Sistema de
Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) e o Sistema de Controle e Rastreamento
da Produção de Cigarros (Scorpios). São dois setores da economia muito bem
organizados, mas que frequentemente sofrem concorrência desleal por estarem na
mira de alguns produtores ansiosos por obter vantagens competitivas pela via da
sonegação de impostos.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que mais
de 60% das vendas de destilados ocorrem na informalidade. Para mudar essa
realidade, em 2008 a União adotou o Sicobe, ferramenta que permite rastrear a
bebida produzida no país. O Sicobe envia à Receita Federal, em tempo real e
diretamente das fábricas, informações sobre fabricante, marca, data de
fabricação do produto, volume, embalagem, etc.
Os resultados são expressivos: um ano após sua
implantação, a arrecadação de impostos federais, como IPI, PIS e Cofins,
aumentou em 20% no setor de bebidas. O sucesso está levando os Estados a
repetir a experiência, para combater a sonegação de tributos como o ICMS.
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O desembolso de R$ 0,03 por unidade, a fim de ressarcir a
Casa da Moeda pelos procedimentos de manutenção do sistema, provocou reação de
alguns pequenos e médios fabricantes. Mas o tempo deve mostrar que vale mais a
pena investir na prevenção para enfrentar a concorrência desleal.
O mesmo se dá na indústria de cigarros. Segundo dados da
indústria, o comércio ilegal de cigarros (contrabando, falsificação e sonegação
de impostos) representa mais de 28% do mercado brasileiro. Estimativas indicam
que a perda de arrecadação no setor é superior a R$ 2 bilhões por ano.
O Sistema de Controle e Rastreamento da Produção de
Cigarros (Scorpios) é o mecanismo usado pela União para identificar o percurso
do produto comercializado, a fim de interromper a cadeia de sonegação. Adotado
em 2007, o Scorpios também permite controlar em tempo real o processo de
produção e selagem dos cigarros. Fabricados pela Casa da Moeda, os selos contêm
informações sobre fabricante, marca, data de fabricação e classe fiscal.
Os Estados já podem contar também com o chamado Business
Intelligence - Nota Fiscal Eletrônica (BI-NF-e), que agrega inteligência à
análise dos dados gerados pelas notas fiscais eletrônicas, e já em fase de
implantação em 16 Estados. O mesmo permite às Secretarias da Fazenda extrair
informações para uma melhor fiscalização dos segmentos obrigados à emissão da
NF-e, principalmente no controle das operações inter-estaduais.
Além disso, contribui também para aumentar o recolhimento
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Um recurso para
os Estados, que possibilita ampliar a arrecadação sem aumentar a carga
tributária.
Na indústria de medicamentos, outro setor bastante afetado
pela sonegação e fraudes, os processos de controle são fundamentais para
garantir não somente a igualdade concorrencial, mas, principalmente, para
evitar riscos à saúde pública, dada a própria natureza do objeto. Em comunicado
divulgado em dezembro de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) afirmou que já deliberou sobre as diretrizes que nortearão a
implementação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos, conforme
determinado pela Lei 11.903/09.
O caminho para o pagamento de tributos deve ser
simplificado no Brasil e o destino dos tributos deve ser acompanhado pela sociedade.
Independentemente disso, as medidas para prevenir e fiscalizar a arrecadação
precisam estar na lista de prioridades de qualquer administrador público.
Com a implementação dos instrumentos citados, todos saem
ganhando. O governo, em todas as suas esferas, dispõe de mais recursos para
aplicar em melhorias sociais; a iniciativa privada, que passa a ter condições
mais equânimes de mercado, e a sociedade em geral, que pode consumir produtos
de qualidade testada e aprovada, da sua fabricação até a chegada ao ponto de
venda.
Roberto Abdenur é presidente executivo do
Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO)
COLUNAS
Humberto Saccomandi
Os chineses vão às compras; Brasil é alvo
Os chineses estão comprando já há alguns anos, mas certos
fatores devem fazer com que cresça neste ano o apetite chinês por ativos no
exterior. O Brasil deve ser um alvo preferencial, e a China pode se tornar em
poucos anos o maior investidor externo por aqui.
O investimento chinês em fusões e aquisições (M&A, na
sigla em inglês] no exterior cresceu solidamente nos últimos três anos,
atingindo US$ 61,2 bilhões em 2011, segundo dados da consultoria Dealogic (veja
gráfico). Isso representa a maior parte dos US$ 72,4 bilhões que Pequim estima
ter investido no exterior no ano passado. Esses dois valores são recordes.
"As empresas chinesas são cada vez mais importantes
em M&A global. Achamos que, entre 2010 e 2020, elas investirão no exterior
US$ 1 trilhão. É um processo de crescimento estrutural", afirmou Thilo
Hanemann, diretor de pesquisa do Rhodium Group, uma consultoria americana
especializada em investimentos.
Três fatores vão estimular neste ano os investimentos
chineses.
O primeiro já vem de anos: é a necessidade de garantir o
suprimento de energia, recursos naturais e alimentos ao país. "Esse ainda
é o motor principal do investimento chinês", disse Oded Shenkar, professor
de Administração na Ohio State University e autor dos livros "O Século da
China" e "Copicats - Melhor que o Original". Mesmo se a China
desacelerar, ele crê que o pouso será suave e a demanda por recursos continuará
forte.
O segundo fator ficou mais evidente em 2011, com a crise
da dívida europeia e a ameaça de calote americano: a necessidade de Pequim de
diversificar seus investimentos, limitando a exposição a títulos soberanos.
"Por causa da balança comercial, há muito capital na China. Os chineses
costumam comprar títulos soberanos, especialmente americanos. Mas o governo
quer reduzir a exposição. Há uma tendência clara de mudança do portfolio, de
títulos para ativos reais", disse Joel Moser, sócio da Bingham McCutchen,
escritório de advocacia com forte atuação na área de investimentos.
O terceiro fator é o crédito fácil e barato,
frequentemente estatal, o que deixa empresas chinesas em vantagem em relação a
rivais ocidentais que estão com dificuldade de se financiar nos bancos e
mercados de ações locais. "O acesso a financiamento é fácil, e o custo do
capital é baixo para as empresas chinesas", afirmou Ricardo Carvalho,
sócio da M&A Transactions Services e líder do Chinese Services Group, ambos
da Deloitte no Brasil. O custo financeiro menor, diz ele, faz com que os
chineses possam aceitar taxas de retorno menores.
Outro fator, conjuntural, deve atrair o capital chinês
neste ano: a oferta de ativos seguros e subavaliados na Europa, onde os
governos estão iniciando planos agressivos de privatização e onde os bancos
terão de vender ativos para levantar capital. Mas esse fator não deve ser
determinante. "Não vejo a China agindo como um fundo abutre, indo atrás de
repente de explorar o preço reduzido de ativos europeus", disse Moser.
"Empresas que pensavam em investir na Europa nos próximos cinco anos podem
acelerar isso", afirmou Shenkar.
Para analistas, a China entrou numa nova fase de gasto
externo. Após focar em facilitação de comércio (portos, ferrovias etc.) e
recursos naturais, o país agora que subir na cadeia de valor, com a compra de
tecnologia ou com uma melhor inserção nas redes de distribuição globais.
"Acho que eles buscarão nos EUA e na Europa empresas com tecnologia e
marcas de bens de consumo valorizadas", disse Hanemann.
"O movimento de expansão chinês é uma estratégia de
governo", disse Carvalho. "E o plano quinquenal em vigor [até 2016]
visa não só garantir recursos naturais, mas ganhar tecnologia e "market
share"."
Um caso exemplar citado foi a aquisição da Volvo Cars pela
Geely, em 2010. "A Geely não tinha tecnologia avançada, não tinha uma
marca global, não tinha um histórico de segurança, não tinha experiência em
administrar uma empresa global. Ela obteve tudo isso com a compra da
Volvo", disse Shenkar.
Hanemann vê obstáculos a um crescimento mais acelerado do
investimento chinês. "Ainda há barreiras naturais. Em muitas empresas
falta capacidade, falta know-how de fusões e aquisições, falta pessoal
qualificado para integrar estruturas e manter operações no exterior." Ele
acha que os investimentos vão crescer neste ano, mas não muito em relação à
tendência recente.
Hanemann cita ainda a resistência de muitos países ao
capital chinês. Outros analistas creem (assim como o governo chinês) acham que
a crise fez essa rejeição diminuir. Persiste a preocupação, porém, com áreas
sensíveis de segurança nacional.
O Brasil deve se beneficiar dessa expansão. "Em
quatro ou cinco anos, o investimento chinês no Brasil chegará a US$ 40 ou US$
50 bilhões. A China se tornará o maior investidor no país", disse
Carvalho. Para ele, a segunda onda (depois da África) de investimento chinês em
recursos naturais será na América Latina.
Shenkar alerta que muitos países não têm uma estratégia
para receber o capital chinês. "É preciso encorajar o investimento que
eleva o emprego. Mas há investimentos que reduzem o emprego, quando o comprador
se apropria do que lhe interessa e fecha a produção. Isso não tem valor para a
economia local."
"Esse processo [a expansão das empresas chinesas] vai
aumentar dramaticamente. Os países devem se preparar, pensar em que tipo de
investimento chinês querem. A maioria está fazendo uma avaliação caso a caso,
não tem uma política clara", afirmou.
Humberto Saccomandi é editor de
Internacional. Escreve mensalmente às quintas-feiras
Juízes do Trabalho articulam mudanças no projeto de
terceirização
Fernando Exman | De Brasília
A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (Anamatra) está decidida a elevar os esforços para tentar promover
mudanças na proposta de regulamentação de terceirização de mão de obra que
tramita no Congresso. O diagnóstico da entidade em relação ao texto costurado
na Câmara dos Deputados é claro: haverá um incentivo direto à terceirização do trabalho,
os trabalhadores terão mais dificuldades para obter seus direitos na Justiça e
menor poder de barganha nas negociações com seus patrões.
No ano passado, representantes da Anamatra participaram de
reuniões com técnicos dos ministérios do Trabalho e da Justiça e também com
parlamentares para tratar do assunto. Até agora, no entanto, não obtiveram
sucesso. O projeto é relatado pelo deputado Roberto Santiago (PSD-SP), e pode
ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e pelo plenário da Câmara
no primeiro semestre. Se aprovado, o texto será ainda enviado ao Senado e terá
de receber o crivo da presidente Dilma Rousseff.
A Anamatra, entretanto, não terá vida fácil. Além do lobby
do empresariado em favor do projeto, o movimento sindical se dividiu. O relator
é vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), mas a Central Única
dos Trabalhadores, por exemplo, critica alguns pontos do seu parecer. Outro
fator pode dificultar a ação dos juízes do Trabalho: o governo, que tem uma
base parlamentar formada tanto por representantes dos trabalhadores como dos
empresários, evita anunciar uma posição clara sobre o assunto e colocar seu
peso político para influenciar a tramitação da proposta.
"O projeto vai acabar produzindo no Brasil uma
reforma trabalhista precarizante e vai comprometer o futuro do Brasil",
afirmou o vice-presidente da Anamatra, Paulo Schmidt, segundo quem já há 11
milhões de trabalhadores terceirizados entre os 43 milhões de empregados
formais no país. "A aprovação desse projeto significa uma reforma
trabalhista jamais pensada pelo mais radical dos liberais."
Na avaliação de Schmidt, ao não estabelecer regras claras
para proibir a terceirização dos trabalhadores responsáveis pela execução de
atividades fins das empresas, o projeto de lei gerará um cenário em que o
Brasil poderá ter diversas empresas sem empregados. Ao admitir a
subcontratação, acrescentou o vice-presidente da Anamatra, a proposta também
poderá acabar permitindo a "quarteirização e a quinteirização".
"A responsabilidade pela mão de obra vai se diluindo
para, ao fim e ao cabo, não haver responsabilidade nenhuma", alertou o
dirigente da Anamatra, lembrando que a maioria dos processos judiciais que os
trabalhadores vencem mas não conseguem executar a sentença é movida por trabalhadores
terceirizados. "Para o juiz do Trabalho, o direito do trabalho é menos
efetivo na terceirização. Não é uma questão ideológica, é uma questão
prática."
Paulo Schmidt também criticou a forma como o projeto de
lei em tramitação define a responsabilidade das empresas contratantes pelos
trabalhadores terceirizados. O parecer em discussão na Câmara estabelece que
inicialmente a responsabilidade seja subsidiária. Mas, se a empresa contratante
não se certificar que a sua contratada está assegurando os direitos dos
trabalhadores terceirizados, passará a ter responsabilidade solidária. Quando
há responsabilidade subsidiária, o terceirizado só pode cobrar direitos
trabalhistas da empresa contratante depois que forem esgotadas as
possibilidades de cobrá-los da empresa contratada. Já a responsabilidade
solidária determina que a tomadora e a prestadora do serviço se responsabilizem
pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias.
BRASIL
'Básico do básico' ganha espaço na exportação
Por Marta Watanabe | De São Paulo
As commodities vendidas ao exterior não só avançaram de
65% em 2009 para os atuais 70% de participação na exportação brasileira como
também passaram por um processo de maior "empobrecimento". O fenômeno
é evidente no grupo dos cinco produtos mais importantes da pauta de exportação
brasileira - minério de ferro, petróleo, soja, açúcar e café. Dentro de cada um
desses grupos, os embarques dos produtos mais básicos cresceram em ritmo mais
acelerado do que aqueles com maior valor agregado.
Dentro do complexo soja, por exemplo, a exportação do grão
avançou desde 2005 muito mais que rapidamente que os embarques de farelo e
óleo. De janeiro a novembro do ano passado, a soja em grão representou 68% dos
US$ 22,97 bilhões exportados com o produto e seus derivados. Nos mesmos meses
de 2005, essa fatia era de 57,3%. Há seis anos, a venda ao exterior de farelo
de soja equivalia a pouco mais da metade da soja em grão exportada. No ano
passado, essa participação caiu para 34,14%.
Em 2005, o minério de ferro aglomerado representava 39,2%
do minério de ferro total exportado pelo Brasil. O valor embarcado de minério
de ferro teve forte elevação no ano passado, mas a versão não aglomerada, que é
mais bruta, avançou muito mais que o minério aglomerado, cuja participação caiu
em 2011 para 23,8% do total exportado do produto. O não aglomerado avançou, no
período, de 60,8% para 76,2%. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (Mdic).
No grupo do açúcar, os produtos mais industrializados
também perderam espaço. De janeiro a novembro de 2005, o açúcar refinado
representava 39,8% do valor total embarcado do grupo. No mesmo período do ano
passado, a participação caiu para 20,8%. A boa notícia é que o álcool etílico
passou a integrar o grupo no decorrer dos últimos anos, assumindo fatia de 8,7%
do total embarcado no ano passado. Mesmo assim, o açúcar bruto, menos
processado que a versão refinada, elevou sua representatividade de 60,2% em
2005 para 70,5% do total exportado dentro do grupo de açúcar e álcool no ano
passado.
Para o economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores,
os exemplos revelam que a perda de competitividade em razão do custo elevado de
industrialização atinge não só os manufaturados mais sofisticados, mas também
as cadeias produtivas mais curtas. "Há um estreitamento do número de bens
exportados acompanhada da redução de patamar tecnológico", diz ele. Quanto
mais longa a cadeia produtiva, explica o economista, mais representativa a
carga tributária e mais pesado o custo financeiro e o volume de encargos
trabalhistas.
Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), explica que um dos
desafios da produção brasileira de soja é conseguir exportar não só o grão, mas
também os derivados, que têm maior agregação de valor.
O desafio esbarra em políticas protecionistas no destino.
A China, parceiro mais importante na venda ao exterior da soja brasileira, diz
Trigueirinho, aplica tarifas mais elevadas para os desembarques de farelo e
óleo do que para a soja em grão. O problema, porém, não está somente na ponta
do desembarque.
"Os argentinos conseguem exportar uma proporção maior
de farelo e óleo de soja", lembra José Augusto de Castro, presidente em
exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). No Brasil, a soja
em grão significa 68% do total exportado dentro do complexo soja. O farelo
representa 23,2% e o óleo, 8,7%. Na exportação argentina do complexo soja entre
janeiro e agosto de 2011, 48,6% foram de farinha. Tanto o óleo quanto o grão
ficaram com uma fatia próxima a 26% cada um.
A carga tributária é a maior variável que diferencia as
condições de produção entre o Brasil e o país vizinho, diz Trigueirinho. O
principal problema é com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS). O tributo pesa mais quando há algum processo de industrialização,
principalmente quando se trata de exportação.
Se é produzida num Estado e vendida desse local
diretamente ao exterior, sem processamento, em grão ou apenas triturada, a soja
fica livre do ICMS, porque na operação de venda ao exterior o imposto não é
cobrado.
O problema é quando a soja produzida no Mato Grosso, por
exemplo, é vendida para ser beneficiada em outro Estado. Nessa operação o grão
é tributado com 12% de ICMS. Depois de virar farelo ou óleo, o produto fica
livre de imposto na operação de exportação. Teoricamente a indústria fica com o
crédito do imposto. Ou seja, os 12% de imposto pagos seriam ressarcidos ao
exportador.
Isso, porém, não acontece na prática. O imposto poderia
ser compensado com o ICMS devido nas operações internas, mas as indústrias não
possuem vendas domésticas suficientes para utilizar todo o crédito ou as
operações internas são espalhadas por todo o Brasil. Poucas são no Mato Grosso
- continuando com o mesmo exemplo dado -, Estado no qual está o crédito de
ICMS.
O crédito não recuperado significa custo definitivo.
"Na verdade, a margem permitida pelo maior valor agregado com a
industrialização da soja não compensa esse custo", diz Trigueirinho. Na
Argentina, diz, há uma política de apoio à exportação, cuja produção conta com
tributação mais favorável e subsídio na aquisição de energia.
O sistema brasileiro de impostos faz o contrário: estimula
a exportação da matéria-prima e não do manufaturado. E o ICMS é apenas um
exemplo. Há dificuldade com outras contribuições federais, como Funrural, PIS e
Cofins, lembra Trigueirinho. Resultado: o Brasil é o segundo produtor de soja e
apenas o quarto processador do grão no mundo.
A soja é apenas um exemplo dos efeitos do imposto para a
industrialização de produtos básicos, diz Castro. O problema se repete nas
demais commodities. Para alguns grupos de produtos, lembra ele, é possível que
o Brasil não tenha capacidade de produção industrial e, por isso, o produto
mais bruto ganhe espaço na exportação em ritmo mais acelerado.
Ele dá como exemplo o setor de celulose e papel. Dentro
desse grupo, a celulose avançou de 58,9% das exportações do setor para 69,4%. O
papel recuou de 40,9% para 30,5%. "O Brasil tem atraído muito mais
investimentos em celulose do que em papel", diz Castro. Mas talvez,
afirma, isso também seja resultado de uma política que acaba desestimulando a
industrialização, principalmente quando o objetivo é a exportação.
Silveira lembra que a taxa de câmbio também contribuiu nos
últimos anos para tornar a exportação menos rentável. A valorização do real
frente ao dólar fez a pressão dos custos em moeda nacional ser maior, diz,
agravando problemas estruturais nos custos de produção.
A solução, porém, não está simplesmente no câmbio, segundo
Silveira. "Precisamos da coordenação e definição de uma política
industrial mais ambiciosa, capaz de tornar a produção nacional mais
competitiva."
BC aumenta itens que fazem parte de serviços
Por De São Paulo
No relatório de inflação de dezembro, o Banco Central
divulgou mudanças importantes no sistema de classificação do Índice de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA). A principal é a inclusão de itens relevantes no
grupo de serviços, como alimentação fora do domicílio, telefone celular e
passagens aéreas. Com isso, os serviços responderão por pouco menos de 34% do
IPCA - sem eles, o peso seria de 23,66%, nas contas do Bradesco. Essa
classificação, porém, não fará a inflação ficar mais baixa ou mais alta.
Representa só uma reorganização dentro dos grupos do IPCA.
A mudança que mais chama a atenção é a saída do item
alimentação fora do domicílio do grupo dos não duráveis e a sua entrada nos
serviços. Para o economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks, é uma alteração
que faz todo o sentido, porque alimentação fora de casa, que responde por quase
8% do IPCA, tem de fato mais características de serviços. Os preços dos
alimentos decerto influenciam as cotações, mas o item depende muito do
comportamento da renda, além da variação de custos como aluguel e mão de obra.
Com peso de 0,57% no IPCA, as passagens aéreas, que
subiram quase 53% no ano passado, também passam a integrar os serviços,
deixando o grupo de administrados. O mesmo ocorre com telefone celular, que
responde por 1,52% do IPCA. Segundo Weeks, são itens cujos preços são hoje
definidos pelo mercado, justificando a mudança.
Com a nova classificação do BC, os preços administrados
terão peso de 25% no IPCA, segundo estimativas da LCA Consultores. O grupo de
bens (não duráveis, semi duráveis e duráveis) deve ficar com algo próximo a
42%. (SL)
Carros, celulares e educação mudam a cara do indicador
Por Tainara Machado | De São Paulo
O desejo de ter o veículo próprio movimenta a indústria
automobilística nacional, com previsão que o setor tenha vendido 3,42 milhões
de carros no ano passado. Além de mais automóveis circulando pelas cidades
brasileiras, a crescente demanda por veículos alterou a composição dos gastos
do brasileiro, como mostrou a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada
entre 2008 e 2009.
A partir do resultado de janeiro, a medida oficial de
inflação brasileira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
terá sua estrutura de ponderação atualizada de modo a refletir esse novo padrão
de consumo das famílias. Entre as principais mudanças está o peso que ganhou
transporte no índice e no bolso dos consumidores: entre dezembro e janeiro, o
peso do item irá saltar de 18,69% para 20,54%, principalmente por causa da
crescente importância do veículo próprio.
Despesas com a compra do automóvel novo ou usado,
licenciamento e manutenção representam o segundo maior peso entre todos os que
compõem o IPCA, com 10,32%, perdendo apenas para alimentação dentro do
domicílio, com 15,15%.
Fátima Cavalcante, vendedora de uma loja de calçados na
zona sul de São Paulo, há dois anos decidiu realizar o que era um sonho e
comprou seu primeiro carro, um Celta modelo 2003. Para poder arcar com as
parcelas, financiadas ao longo de quatro anos, e com as despesas decorrentes,
Fátima preferiu sacrificar gastos com lazer, como o churrasco que costumava dar
em sua casa nos fins de semana e as idas a bares com amigos.
Leslie Tesóri, analista de desenvolvimento e gestão de
pessoas, também chamou de "sonho" a compra de um carro com cheiro de
novo. Primeiro ela teve um veículo usado, comprado em 2007. Dois anos depois,
"após muita pesquisa, adquiri meu primeiro carro zero quilômetro".
Durante boa parte dos últimos dois anos, Leslie conseguiu
equilibrar as parcelas do automóvel com o financiamento do seu apartamento.
"Só pude conciliar, porque ainda moro com meus pais e, por enquanto, tenho
poucas despesas com habitação. Mas deixei de gastar com vestuário e diminui
consideravelmente minhas despesas com lazer", afirmou. De fato, para
acomodar gastos maiores com habitação e transportes, a nova ponderação do IPCA
mostrou que dispêndios com vestuário e despesas pessoais perderam participação
na composição do índice.
Com a necessidade de fazer um aporte maior para receber as
chaves do imóvel, Leslie preferiu vender o automóvel. "Ter um carro novo
era um sonho, mas veículo não é investimento. Hoje estou comprometida em quitar
e montar meu apartamento", afirmou. Grávida, Leslie irá se casar em maio
deste ano e está, com a ajuda do noivo, equipando sua nova casa.
Também com a ajuda do marido, que é motorista, Valéria dos
Santos equilibra no orçamento familiar a educação das três filhas, alimentação,
transporte, habitação e lazer. Ela conta que a família sempre teve automóvel,
usado principalmente nos fins de semana. "Com filhos, é difícil ficar sem
carro", afirmou. Em 2010, Valéria vendeu o carro antigo e, com o dinheiro,
comprou um veículo novo. Agora, após uma batida, estudam trocar novamente de
automóvel.
Para Valéria, que trabalha como cabeleireira em um salão
de beleza no Morumbi, também é no lazer que a família aperta o cinto quando tem
que arcar com as parcelas do veículo. "A gente acaba gastando menos em
restaurante. Corta algumas saídas, deixa de pedir a pizza no fim de
semana", explicou. Ainda assim, segundo Valéria, é com alimentação que a
família gasta mais, tanto dentro quanto fora de casa. As despesas com
habitação, que ficam majoritariamente a cargo de seu marido, são importantes,
pois a família paga aluguel.
Sempre que pode, Valéria renova os eletrodomésticos da
casa. Recentemente, aproveitou os descontos oferecidos na internet e a
desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha
branca para atualizar a cozinha. Em dezembro, trocou fogão, geladeira e forno
de micro-ondas. Como reflexo da nova POF, o peso dos eletrodomésticos passou de
0,94% para 1,09% no IPCA entre dezembro e janeiro.
A educação, por outro lado, perdeu peso no orçamento
doméstico. Para Valéria, a fatia gasta com ensino está concentrada em instrução
superior e em cursos extracurriculares. A filha mais velha cursa administração
de empresas em uma faculdade privada e Valéria a ajudou a pagar as mensalidades
durante o primeiro ano do curso. Ela terá que dar a mesma contribuição às
filhas mais novas, que estão na escola pública. As meninas ainda frequentam
cursos de inglês e informática, pagos pela mãe.
Para Simão Carvalho, o aluguel, principalmente, pesa no
orçamento desde que saiu de Londrina, no Paraná, para trabalhar em uma empresa
que presta serviços de tecnologia da informação em São Paulo. Mas ele ressalta
a despesa mensal que tem com a conta do celular. Embora tenha linha fixa no
apartamento que divide com três amigos, Simão afirma que praticamente não a usa.
Para otimizar seu tempo, optou por um plano pós-pago com acesso à internet.
"Em São Paulo, não tenho muito tempo livre no horário
comercial. E, mesmo quando tenho, tudo aqui é mais longe. Então tento realizar
todas as tarefas que posso, como pagamento de contas e compra de passagens,
pelo celular. Por isso, tenho um plano de dados que me permite navegar na
internet e o uso para qualquer coisa que preciso", afirmou Carvalho.
No Ceará, produção recua, mas emprego, não
Por Carlos Giffoni | De São Paulo
De janeiro a novembro, a produção física de calçados e
têxteis no Ceará caiu fortemente - entre 23% e 25% -, enquanto o emprego
formal, com carteira assinada, manteve-se constante nos dois segmentos. A reversão
dessa situação pode ter começado em dezembro, quando uma série de medidas de
adequação, como a adoção de férias coletivas e recolocação de funcionários, se
esgotou, segundo diferentes segmentos da economia cearense ouvidos pelo Valor.
De acordo com o sindicato local da indústria, pelo menos uma grande empresa fez
demissões no fim de 2011.
A produção industrial do setor têxtil caiu 24,7% no Ceará
até novembro, na comparação com o mesmo período de 2010, segundo a Pesquisa
Industrial Mensal de Produção Física - Regional (PIM-PF) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em compensação, o saldo de
empregos no mesmo intervalo de 2011 foi positivo. Foram criadas 846 vagas na
indústria têxtil e de vestuário, segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), o que representou um crescimento frente ao saldo de
empregos no setor no fim de 2010: 1,18%. Cenário semelhante é visto no setor de
calçados. Enquanto a produção caiu 22,2% na comparação entre os acumulados de
janeiro a novembro dos dois últimos anos, o emprego recuou apenas 1,28%, com o
fechamento de 824 vagas.
Diferentes analistas da economia cearense não possuem uma
única explicação para esse descompasso entre produção e mão de obra formal nos
dois setores. Entre as causas apontadas estão o aumento da importação pelas
próprias indústrias, a expectativa de uma retomada (que leva o empresário a
segurar demissões) e o custo expressivo de treinamento de mão de obra.
"A produção caiu no setor sapateiro porque as
indústrias começaram a importar componentes. A plataforma [sola] do sapato era
produzida aqui e passou a ser importada", diz Reginaldo de Aguiar, técnico
do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
regional. Segundo ele, os funcionários foram direcionados para outras
atividades produtivas, uma vez que a demanda pelos produtos do setor continua
aquecida. "Esse mercado ainda cresce. Você produz menos, aumenta a
importação, mas acaba acomodando essa mão de obra e evitando uma crise",
afirma.
As demissões, contudo, devem ser vistas em maior escala
nos resultados de dezembro, segundo Germano Maia, presidente do Sindicato da
Indústria da Fiação e Tecelagem do Ceará. "O confeccionado chinês é o
principal problema da indústria. As empresas têxteis no Ceará produziram o
possível sem demitir, mas, no fim do ano, quando viram os altos estoques e as
perspectivas fracas, tomaram, finalmente, medidas fortes. Os números de
novembro do IBGE e do Caged ainda não mediram esse reflexo." Faz parte do
pacote de medidas citado por Maia o fechamento de uma das cinco fábricas da
Têxtil Bezerra de Menezes no Estado, o que representou cerca de 400 demissões.
Entre especialistas do setor, existem várias hipóteses que
justificam a manutenção do nível de emprego nos setores de calçados e têxtil da
indústria cearense em 2011 - apesar do resultado ruim. A adoção de férias
coletivas é o movimento mais comum nas indústrias em momentos de acúmulo de
estoque. "Até o momento, o emprego tem sido sustentado por essas "paradas".
A Vulcabras marcou férias coletivas para fevereiro. O redirecionamento da mão
de obra para o mercado interno, considerando a queda que houve na exportação de
calçados, ajuda a controlar as demissões", diz Francisco Paiva das Neves,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados do Ceará.
Outro palpite forte entre os industriais no Estado aponta
para o receio de que seja ainda mais difícil - e caro - recontratar e treinar a
mão de obra em um momento de recuperação desses setores do que lidar, agora,
com a produção em baixa. Os investimentos para a Copa do Mundo ameaçam tirar
profissionais do mercado. "Os empresários preferem manter seu quadro de
funcionários na expectativa de melhorias. O mercado de trabalho está aquecido
em decorrência dos investimentos ligados à Copa de 2014 e essas atividades são
grandes absorvedoras de pessoal. Além disso, a qualificação de mão de obra não
ocorre a curto prazo", segundo Eloisa Bezerra, do Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
"O empresário não quer reduzir custo pouco depois de
fazer um investimento em pessoal. Os setores de calçados e têxtil têm grande
rotatividade, há muitas empresas se instalando no Estado e, logo, com
investimento recente em pessoal", diz Roberto Macedo, presidente da
Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Segundo ele, a
automatização no setor têxtil permite que a produção seja reduzida sem afetar o
emprego.
De acordo com a Fiec, a balança comercial da indústria no
Estado fechará com déficit de US$ 1 bilhão em 2011. O aumento da importação de
matérias-primas para a própria indústria é o maior responsável por esse
desempenho. Na visão de Macedo, o emprego nos dois setores corre risco.
"Temos várias fábricas no Ceará que estão perto de fechar."
INTERNACIONAL
Argentina dificulta importação de bem acabado com similar
nacional
Por César Felício | De Buenos Aires
As empresas brasileiras instaladas na Argentina começam a
ser informadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner que irá aumentar ao
longo deste ano a escalada protecionista no país para conter as importações. Na
última semana, executivos foram avisados que nenhuma importação de bens
acabados será mais autorizada, a não ser que o importador comprove que a
mercadoria não conta com produção no país.
Desta vez, o objetivo da medida não é impulsionar a
produção local, mas preservar o saldo comercial, que foi de US$ 11 bilhões no
ano passado. Desde dezembro, a área de comércio exterior no governo passou do
Ministério de Relações Exteriores para o âmbito do Ministério da Economia, em
que a figura central é o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, e não o
ministro Hernán Lorenzino. É o próprio Moreno que tem conversado diretamente
com os empresários, segundo afirmou um dos participantes dessas reuniões.
Um dos novos controles tornou-se público anteontem, com
uma nova portaria da Afip, o órgão local da receita. A partir de fevereiro,
todos os importadores deverão apresentar uma declaração jurada sobre o total
que pretendem comprar do exterior ao longo do ano. Foi por meio de um controle
aparentemente burocrático introduzido pela Afip, em novembro, que o governo
argentino travou o mercado de câmbio de pessoa física no país, contendo uma
corrida especulativa contra o peso argentino.
Sem ter como restringir importações em setores como o de
energia, em que o déficit do país com o exterior deve atingir US$ 6 bilhões
neste ano, segundo cálculo do consultor privado Daniel Montamat, e sem
controlar variáveis como o preço da soja no mercado internacional ou o ritmo
das compras de seus maiores clientes, o Brasil e a China, o governo argentino
procura agir sobre as encomendas de produtos acabados, que somam cerca de US$
14 bilhões por ano. Mas já há indícios que a transferência da área de comércio
exterior para a esfera de Moreno começa a dificultar as importações até mesmo
de insumos.
Na terça, a Fiat paralisou atividades em sua unidade em
Córdoba, alegando não ter obtido licença para a importação de autopeças. A
decisão da Fiat irritou o governo, que respondeu ontem em uma entrevista da
ministra da Indústria, Debora Giorgi, à agência oficial Télam. A ministra
classificou a atitude da montadora de "mesquinha e alienada", mas
afirmou que a liberação das licenças - uma área da qual a ministra não é mais
responsável - foi concedida para que a fábrica volte a funcionar "no menor
prazo possível".
Em comunicado, a Fiat Argentina confirmou que decidiu
retomar a produção ante "a firme determinação da Secretaria de Comercio
Exterior de agilizar a tramitação das licenças". A empresa previu, além
disso, a normalização das atividades hoje. Segundo a Fiat, as licenças que
venceram em dezembro não tiveram renovação automática outorgada pela nova
secretaria, comandada pela economista Beatriz Paglieri. A montadora alega que
foi a primeira a ter que tramitar licenças na nova secretaria e atribui o
atraso a um "ajuste das áreas administrativas do governo ao novo
regime". A empresa destacou também que a maior parte da sua produção, de
700 veículos diários, se destina à exportação.
A Fiat Argentina possui a produção integrada com a Fiat
brasileira. A unidade se abastece de autopeças no Brasil e transfere para o
país cerca de 85% de sua produção. De todas as montadoras, é a que mais depende
do país vizinho para a sua operação na Argentina. O setor automotivo é o
principal na balança comercial entre os dois países.
Antes do embargo, refinarias já cortam petróleo iraniano
Por Javier Blas | Financial Times, de Londres
As refinarias europeias começaram a romper os laços com o
Irã, ao suspender as compras de petróleo bruto no mercado à vista, em
antecipação à reunião da União Europeia (UE), marcada para o fim deste mês, que
poderá impor um embargo total de petróleo a Teerã.
Executivos do setor e traders de petróleo disseram que
algumas refinarias pararam de adquirir ou reduziram as novas compras de
petróleo iraniano, embora continuem a receber carregamentos mensais previstos
em acordos de longo prazo anteriores, ou contratos futuros, que não podem
romper sem ficar sujeitos a penalidades.
"Continuamos a comprar, segundo os contratos futuros,
mas não fazemos mais transações à vista com eles", disse um alto
funcionário de uma refinaria do sul da Europa. Outros altos executivos do setor
de refino e vários traders de petróleo confirmaram a queda dos negócios no
mercado à vista.
Tradicionalmente, as refinarias compram dois terços de seu
petróleo por meio de contratos futuros e o restante no mercado à vista, embora
a distribuição precisa da aquisição varie de empresa para empresa. No caso de
um embargo, as refinarias europeias poderão declarar "force majeure"
e cancelar seus contratos futuros sem sofrer penalidades.
As empresas estão se preparando para um embargo da União
Europeia (UE) ao petróleo exportado pelo Irã, num momento em que os países
ocidentais intensificam suas pressões para que Teerã abandone seu suposto
programa de armas nucleares. Os Estados Unidos também lançaram sanções
destinadas a penalizar as instituições financeiras externas que negociam com o
banco central do Irã, responsável pela liberação da maior parte das exportações
de petróleo. "No momento, os bancos estão sofrendo restrições [em
financiar negócios com o Irã]", disse o diretor de comércio exterior de
commodities de um grande banco.
"As refinarias estão reduzindo as compras de petróleo
iraniano em resposta às novas sanções dos EUA e ao prever um embargo por parte
da UE", afirmou David Greely, diretor de análise de petróleo do Goldman
Sachs em Nova York, em nota encaminhada aos clientes.
A paralisação dos negócios obrigou o Irã a estocar mais
petróleo bruto em superpetroleiros ancorados no Golfo Pérsico. A corretora de
contratos de transporte marítimo Gibson estima que o volume de petróleo
iraniano retido em "armazenagem flutuante" tenha aumentado dos 28
milhões de barris do fim de novembro para 32,5 milhões de barris atualmente.
"As pessoas, de modo geral, estão recuando devido à associação com o Irã.
Cada vez mais pessoas estão tomando essa decisão voluntariamente", disse
Patrick Tye, analista-sênior de transporte marítimo da Gibson de Londres.
O Irã é o terceiro maior exportador mundial de petróleo e
vende cerca de 2,3 milhões de barris/dia, principalmente para a Ásia. A UE
compra cerca de 450 mil b/d, em média.
Entre as refinarias de petróleo sediadas na Europa, a
Royal Dutch Shell é a maior compradora de petróleo bruto iraniano, segundo os
volumes previstos em contratos futuros de longo prazo, de acordo com
estimativas da publicação setorial "Argus Media".
Entre os demais compradores estão a francesa Total, as
espanholas Repsol YPF e Cepsa, as italianas ENI, Saras e ERG e a grega
Hellenic.
Os Estados Unidos deixaram de importar petróleo iraniano
em outubro de 1987 e pressionaram com sucesso empresas europeias, como a Total
e a Royal Dutch Shell, a suspender seus investimentos no enorme setor
energético do país.
Governança ambiental é divergência na Rio+20
Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
O principal conflito sobre o documento base de negociação
da Rio+20, a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
que irá acontecer em junho, no Rio de Janeiro, mira a governança dos temas
ambientais na estrutura da ONU. Se há consenso de que o tema tem que ser
prioritário nas Nações Unidas, países ricos e nações em desenvolvimento divergem
no formato.
Uma das propostas, defendida pelos europeus, é tornar o
Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em
inglês), uma agência nos moldes da Organização Mundial do Comércio, por
exemplo. O Pnuma tem sede em Nairóbi, no Quênia, foi criado em 1972 e é um
organismo atuante. Publica regularmente relatórios ambientais que são
referência global. Mas é um programa. Transformá-lo em uma agência daria
visibilidade ao desenvolvimento sustentável, acreditam os europeus. Para outros,
seria criar mais uma instituição burocrática que iria consumir verbas hoje já
tão escassas.
Outro ponto de divergência entre os países, que aparece no
documento de 19 páginas chamado "O Futuro que Queremos" (e que é o
texto preliminar das negociações da Rio+20), é manter a Comissão de
Desenvolvimento Sustentável da ONU. "É uma comissão que nunca decolou e é
ocupada pelo quinto escalão da ONU", avalia um delegado que acompanha o
assunto. O Brasil prefere que se fortaleça o conselho Ecosoc (Economic and Social
Council), que já está no centro da hierarquia das Nações Unidas, como o pilar
mais forte para promover o desenvolvimento sustentável no mundo. "Mas
qualquer que seja a opção está claro que se deseja dar um upgrade no
desenvolvimento sustentável dentro da ONU", diz Fernando Lyrio, assessor
extraordinário do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a Rio+20.
Na sua avaliação do documento divulgado na terça-feira,
houve uma tentativa de equilibrar as preocupações dos países desenvolvidos e as
do mundo em desenvolvimento. "Está balanceado", diz. O próximo passo
será debater o texto em uma série de rodadas de negociações informais (sem
poder de decisão). A primeira acontece nos dias 27 e 28 em Nova York.
Nas 19 páginas do documento há pontos interessantes. Garante
que cada país fará suas próprias escolhas rumo ao que vem sendo chamado de
"economia verde" e que não existirão "regras rígidas" sobre
isso. "A transformação para uma economia verde deve ser uma oportunidade
para os países e não uma ameça", diz o texto. Países em desenvolvimento
temem que a ideia embuta padrões de como deve ser o desenvolvimento. O texto
diz que não se criarão novas barreiras comerciais e não serão impostas
condições para ajuda ou transferência de recursos usando a economia verde como
desculpa.
O documento reforça a ideia de que a participação da
sociedade tem que ser fortalecida no processo e que o acesso à informação
ambiental deve ser garantido e transparente. O Brasil sugeria um novo tratado
internacional (uma convenção) sobre o tema, mas o texto que estará em discussão
em NY faz uma sugestão mais branda.
O texto sugere que organizações que fazem parte do sistema
multilateral (como o Banco Mundial ou o FMI) criem estratégias para apoiar o
desenvolvimento sustentável em países mais carentes. Outro ponto reconhece as
limitações do Produto Interno Bruto (PIB) como medida do desenvolvimento dos
países e pede ao secretário-geral da ONU que estabeleça na Rio+20 um processo
para a criação de uma métrica que integre as dimensões econômica, social e
ambiental das nações.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
Insud busca um parceiro para fábrica no Brasil
César Felício e Monica Scaramuzzo | De Buenos Aires e São
Paulo
Um dos raros fabricantes de anticorpos monoclonais na
América Latina, o grupo argentino Insud procura no Brasil um sócio para um
investimento conjunto de US$ 80 milhões. A intenção do controlador do grupo,
Hugo Sigman, é montar uma nova fábrica de anticorpos no Brasil e exportar a
matéria-prima para ser envasada na Argentina, montando uma estrutura integrada.
O sócio brasileiro entraria também no capital da atual fábrica, que entra em
operação dentro de dois meses e deve faturar US$ 100 milhões anuais até 2016.
O anticorpo monoclonal é um linfócito clonado, utilizado
na indústria farmacêutica e hospitalar no combate a doenças degenerativas, como
artrites e câncer. Nenhum laboratório nacional produz anticorpos monoclonais.
"Seria estratégico ter essa produção no Brasil, mas sua tecnologia é muito
cara", afirmou uma fonte ao Valor. O grupo Insud será um dos dois únicos
fabricantes na Argentina, por meio da subsidiária Pharma ADN.
O empresário argentino já havia conversado com alguns
importantes laboratórios brasileiros para realizar o empreendimento na
Argentina, mas as conversações não avançaram. Agora, tenta negociar a formação
da empresa binacional e busca o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social BNDES. "Fizemos o empreendimento na Argentina com
recursos próprios. Metade da nossa produção de anticorpos já está contratada
por laboratórios brasileiros. Nossa escala é pequena. Para ampliarmos, temos
que ir para o Brasil", disse Sigman, que investiu US$ 110 milhões para
montar a fábrica da Insud, que irá comercializar quatro produtos cuja proteção
patentária expirou: o Eternec, para artrite reumatoide, o Avastin, que prolonga
a sobrevida em diversos tipos de câncer, além do Rituximab e do Herceptin,
voltados para linfomas e câncer de mama.
O Insud já tem um acordo com a Eurofarma para a
distribuição exclusiva e posterior fabricação, no Brasil, do Racotumomab
O Valor confirmou que uma das subsidiárias o grupo Insud,
a Chemo, já esteve no BNDES. Na reunião com o banco, o grupo se comprometeu a
investir em uma fábrica e um centro de pesquisa no Brasil. Segundo Sigman, o
Brasil gasta anualmente US$ 200 milhões na importação de produtos desta
natureza. "Em produtos farmacêuticos e hospitalares, o Brasil tem um
déficit anual de US$ 10 bilhões, e a Argentina, de US$ 2 bilhões. Daí o
interesse estratégico dos governos em fomentar iniciativas conjuntas."
O Insud já tem um acordo operacional com a Eurofarma para
a distribuição exclusiva e posterior fabricação, no Brasil, do Racotumomab, um
anticorpo para câncer de pulmão desenvolvida pela empresa em Cuba, em sociedade
com uma estatal daquele país. A Eurofarma também é uma das três empresas que
irá distribuir no Brasil 50% da produção de anticorpos na Argentina - as outras
são a distribuidora Tecnofarma e a Libbs. Sigman disse que a Eurofarma é uma
das empresas com quem tenta negociar a formação da "joint venture".
Também houve conversas com a EMS e a Libbs. O Valor apurou que a companhia
também conversou com o Aché, mas as conversas não foram levadas adiante.
Procurada, a Eurofarma informou que não discute joint
venture no momento com o grupo argentino. A companhia apenas confirma as
parcerias em andamento. A EMS e o Libbs não se manifestaram sobre o assunto.
Sigman é o controlador da fábrica na Argentina e administra
diversas outras empresas e participações minoritárias que lhe garantem um
faturamento anual de US$ 1,1 bilhão. Foi um dos empresários selecionados pela
presidente argentina Cristina Kirchner para compor o conselho binacional de
empresários criados pelos governos do Brasil e da Argentina exatamente para
tentar fomentar produções integradas entre os dois países. O grupo é formado
por dez empresários de cada país. Do lado brasileiro, estão Camargo Corrêa,
Marfrig, Coteminas, Tramontina, Vale, Petrobras e Marcopolo. Do lado argentino,
grupos das áreas de transporte e energia. Sigman é o único representante do
segmento farmacêutico e biotecnológico. Entre as empresas da qual participa,
está a Biogenesis Bagó, produtora de vacinas veterinárias e presente no Brasil
desde os anos 90.
Os investimentos na área tendem a crescer porque diversos
produtos estão perdendo a proteção da patente. O mercado farmacêutico mundial
movimenta atualmente cerca de US$ 900 bilhões anuais, sendo US$ 160 bilhões de
origem biotecnológica.
Com o apoio do governo argentino, Sigman esteve com o
ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o da Saúde, Alexandre
Padilha, e com o diretor para fomento à área de saúde no BNDES, Pedro Palmeira.
"Há uma predisposição para se financiar apenas projetos controlados 100%
por brasileiros, mas a formação de grupos binacionais é um interesse
estratégico dos dois países", comentou o empresário.
Se a parceria com brasileiros sair, Sigman pode ganhar
envergadura para um projeto mais ambicioso, que é o de produção de anticorpos
monoclonais originais. Atualmente, o grupo participou apenas da produção do
anticorpo cubano. "O desenvolvimento de um único produto pode consumir
investimentos de US$ 200 milhões", disse.
Paraná libera licença ambiental prévia para nove PCHs
Marli Lima | De Curitiba
O governo do Paraná entregou ontem a licença ambiental
prévia para nove pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e a licença de instalação
para um empreendimento. Ao todo, elas somam 82,2 megawatts (MW) de potência,
estão distribuídas em diversas regiões do Estado e agora dependem de aprovação
da Assembleia Legislativa para a construção.
O evento de liberação das licenças concedidas pelo
Instituto Ambiental do Paraná (IAP) contou com a presença de prefeitos e
empresários e discursos favoráveis a investimentos em PCHs, que não receberam
licenças na gestão do ex-governador Roberto Requião (PMDB), de 2003 a 2010. O
presidente da Associação Paranaense de Geradores de Energia, Gustavo Brito
Ribas, comemorou a mudança de rumo e acrescentou que, para cada MW, serão
investidos cerca de R$ 5,5 milhões, ou aproximadamente R$ 450 milhões nos 10
empreendimentos em questão. A energia poderá ser para uso próprio das empresas
ou negociadas no mercado livre.
Na segunda-feira, Requião criticou a liberação das
licenças no twitter. "Richinha libera PCHs. Financiadas pelo BNDES, é
melhor que pedágio e vender cocaína. Se pagam em 6 anos, negócio só para os íntimos",
escreveu. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), não quis comentar a fala
do adversário.
O presidente do IAP, Luiz Tarcísio Pinto, contou que há
outras 150 PCHs com pedido de licenciamento em análise no Paraná. Algumas delas
contam com a Copel como parceira. O presidente da estatal de energia, Lindolfo
Zimmer, afirmou que a empresa tem interesse em investir em PCHs e que vai
ajudar no que for possível. Segundo ele, embora o momento não seja bom em
função do preço da energia, é possível encontrar um caminho para viabilizar as
PCHs.
Tanto Richa como Zimmer foram questionados, no evento,
sobre a compra de um avião pela Copel por R$ 16,9 milhões. A oposição diz que
ele será usado pelo governo. O presidente da estatal evitou tratar do tema. O
governador citou que a Cemig, de Minas Gerais, tem aviões e helicópteros e
alegou que, como a Copel está investindo em outros Estados, os executivos vão
precisar ser mais ágeis nas locomoções. "Se houver necessidade de eu usar,
não vejo problema algum", finalizou o tucano, sobre a existência de um
convênio com o governo para uso da aeronave.
FINANÇAS
Cielo e Redecard fecham acordos e inibem avanço de
concorrentes
Por Aline Lima | De São Paulo
Passado um ano e meio da abertura do mercado de cartões,
Cielo e Redecard estão conseguindo, na prática, barrar a entrada de novos
competidores no chamado mercado de adquirência - responsável pelo
credenciamento de estabelecimentos comerciais, captura, processamento e
liquidação das transações de débito e crédito. A principal barreira tem sido os
acordos de preferência fechados pelas duas empresas com diversos bancos fora de
seus grupos de controle acionário. Ou seja, Redecard e Cielo têm prioridade
para credenciar os estabelecimentos que são clientes desses bancos.
A Cielo, que tem como acionistas Banco do Brasil (BB) e
Bradesco, possui acordo de preferência também com o HSBC. Redecard, empresa do
Itaú Unibanco, tem parcerias com Safra e Tribanco . Já a Caixa Econômica
Federal preferiu fechar um acordo simultâneo com Redecard e Cielo.
A americana Elavon fisgou uma das últimas alternativas do
mercado - a Credicard, subsidiária do Citigroup - e criou com ela, em dezembro,
uma "joint-venture". Além de precisar adaptar seus sistemas
tecnológicos para poder operar no mercado brasileiro (o país é o único do mundo
que tem o crédito parcelado sem juro, por exemplo), questão que vem
contribuindo para postegar sua estreia no país, a Elavon ainda terá pela frente
o desafio da baixa capilaridade do Citi no país. Procurada, a empresa não
atendeu à reportagem.
Outra americana, a Global Payments, anunciou seu ingresso
no mercado brasileiro há um ano, mas está à procura de um parceiro. "Os
incentivos que as credenciadoras locais estão dando aos bancos para eles não
entrarem no mercado de adquirência têm sido o principal obstáculo para a
atuação das estrangeiras", afirma Edson Luiz dos Santos, presidente da
Global Payments no Brasil.
Sobraram como opção para as novatas instituições
financeiras com operações regionais ou de pequeno porte - que têm pouca
capacidade de emissão de cartões, desinteressante portanto para bandeiras como
Visa e Mastercard, além de pouca condição de arcar com risco de crédito
elevado. Uma alternativa seria também atrair bancos que já fecharam parcerias
com Cielo e Redecard com uma proposta melhor. E é por aí que as gigantes buscam
se defender.
"A Global Payments fechou um acordo global com o
HSBC. Por que não fez isso aqui?", questiona Rômulo de Mello Dias,
presidente da Cielo. "Ter um banco é chave nesse processo, mas não adianta
ter parceria sem proposta, e se tem alguém que sabe avaliar proposta é
banco." Claudio Yamaguti, presidente da Redecard, lembra que tudo pode ser
negociado. "É uma questão de preço", observa.
A Redecard apurou uma despesa líquida de R$ 28,9 milhões
no terceiro trimestre de 2010 relativa a perdas com aluguel de equipamentos,
ações culturais e, principalmente, incentivos para credenciamento (comissões
pagas a bancos parceiros) - gasto 30,9% superior ao do terceiro trimestre de
2010. A Cielo não revela essa cifra. "A competição tornou o jogo mais duro
e é natural que as empresas defendam mercado", explica Carlos Zanvettor,
diretor de varejo, marketing e produtos da Redecard, em referência ao fim da
exclusividade entre a Cielo e a bandeira Visa e, por tabela, da Redecard com
Mastercard.
A parceria com uma instituição financeira é fundamental
para uma adquirente porque, em primeiro lugar, a licença para operar com Visa e
Mastercard é fornecida pelas bandeiras internacionais exclusivamente a bancos.
Trata-se de uma medida prudencial, uma vez que está em jogo, em última
instância, a segurança do sistema financeiro.
Ter um banco como parceiro também ajuda (e muito) na
distribuição. As credenciadoras têm suas próprias equipes de vendas para
colocar suas maquininhas nas lojas, mas boa parte do serviço é feita por meio
da estrutura bancária. "É essencial ter distribuição bancária para ser bem
sucedido nesse mercado no Brasil, diferentemente do que ocorre nos Estados
Unidos, onde o setor é mais pulverizado", afirma Victor Schabbel, analista
do Credit Suisse.
Entretanto, até mesmo o voo solo feito pelo Santander em
parceria com a processadora GetNet tem mexido pouco com o setor, até o momento.
A participação de mercado do banco espanhol no setor de adquirência era de 2,1%
em setembro de 2010. Na prática, portanto, Cielo e Redecard permanecem
praticamente sozinhas no mercado brasileiro de pagamentos eletrônicos, após um
ano e meio da abertura do mercado de cartões.
Os esforços do Santander no setor de adquirência estavam
concentrados, até meados do ano passado, no pequeno varejo. A solução
tecnológica do banco espanhol para atender a grandes varejistas, que trabalham
com seus próprios terminais financeiros (TEF, no jargão do setor) em vez das
maquininhas de captura de transações com cartões (o POS), ficou pronta apenas
no segundo semestre de 2010.
Espera-se, portanto, que o Santander comece a atuar de
forma mais agressiva em 2012 no credenciamento de estabelecimentos comerciais,
passado o período de festas de fim de ano - época em que poucos comércios se
atrevem a mudar de prestador de serviço, especialmente na área de tecnologia.
Schabbel, analista do Credit Suisse, projeta uma participação de mercado de 10%
do Santander até o fim de 2013. "Seria um crescimento agressivo, mas estou
dando ao banco o benefício da dúvida", afirma.
Como a rede de atendimento do Santander está concentrada
nas regiões Sul e Sudeste, o maior desafio do banco para ganhar mercado será
ampliar sua exposição ao Nordeste, onde está o maior potencial de crescimento.
Em junho, os pagamentos feitos com cartões representavam 14% do consumo privado
das famílias no Nordeste, ante 22% da média brasileira. "Se o Santander
não se provar capaz de ganhar mercado de forma rápida, quem vai continuar se
beneficiando é Cielo e Redecard", diz Schabbel. Procurado, o Santander não
atendeu à reportagem.
Até 2015, o cenário traçado por Schabbel prevê Santander
com os mesmos 10% de participação de mercado e outras três adquirentes
estrangeiras com uma fatia total de 8%, atuando em nichos. Elavon, na visão de
Schabbel, deverá focar em entretenimento, ramo no qual a Credicard é forte e já
tem parcerias. Os 82% restantes do mercado de credenciamento ficariam divididos
entre Cielo e Redecard, com Cielo mantendo a dianteira.
Tanto Redecard como Cielo defendem que os preços cobrados
dos lojistas no aluguel das maquininhas (POS) e na tarifa de transação com
cartões de débito e crédito (taxa de desconto) têm pouco espaço para cair,
apesar da previsão de aumento de concorrência. Houve um forte recuo dessas duas
receitas logo após a abertura do mercado, em julho do ano passado - numa guerra
de preços liderada pela Redecard -, mas uma parte já foi recuperada, tanto em
função de reajustes como dos volumes crescentes de transações com cartões. A
evolução do preço das ações das duas empresas é emblemática da recuperação. As
cotações apresentaram forte queda nos dois primeiros trimestres após a abertura
de mercado, mas, depois que os investidores perceberam que ambas continuam
nadando de braçada, o desempenho no mercado acionário também foi recuperado.
INVESTIMENTOS
Ganhos com crédito privado
Silvia Rosa | De São Paulo
Com a queda da taxa básica de juros (Selic) e a alta
instabilidade no mercado acionário, diante das incertezas em relação aos
desdobramentos da crise de endividamento na Europa, os investidores começam a
olhar mais para papéis de crédito privado como opção para buscar um retorno
mais elevado.
Em meio a esse cenário, os títulos privados com isenção de
imposto de renda (IR) sobre ganhos para investidores pessoas físicas - como os
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e as Letras de Crédito
Imobiliário (LCIs) e Agrícola (LCAs) - tornam-se cada vez mais atraentes, já
que oferecerem uma rentabilidade líquida superior a dos tradicionais
Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
O estoque conjunto desses três papéis (CRI, LCI e LCA)
cresceu 53,1% em 2011, atingindo R$ 93,856 bilhões, segundo dados da Cetip -
Balcão Organizado de Ativos e Derivativos. O destaque foram as LCIs, cujo
estoque saltou de R$ 29,260 bilhões em 2010 para R$ 46,832 bilhões no fim do
ano passado, um crescimento de 60%. Cerca de 90% do estoque dos três títulos
está hoje nas mãos de investidores pessoas físicas, afirma Andrea Moufarrege,
diretora de investimento do HSBC Private Bank.
Antes concentrados entre os clientes do private banking,
com aplicação mínima de R$ 300 mil na maioria das emissões, os CRIs começam a
ganhar espaço no segmento de varejo. No ano passado, a Caixa realizou a
primeira oferta de CRIs que contemplou esse público, em que captou R$ 232,7
milhões (aplicação mínima de R$ 10 mil). Cerca de 90% dessa colocação foi
destinada ao varejo, com a participação de 1.675 investidores. O valor médio da
aplicação, no entanto, foi de R$ 65 mil. Esses papéis contaram com a Caixa como
formador de mercado, garantindo, assim, liquidez mínima e referência de preços
para esses títulos.
O sucesso da primeira emissão abriu a possibilidade da
realização de uma oferta para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),
dessa vez sob regime de esforços restritos, conforme a Instrução 476 da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e que somou R$ 1,5 bilhão.
Por contarem com o benefício fiscal, as LCIs e as LCAs têm
concorrido com CDBs, uma vez que o risco de crédito do papel está atrelado às
instituições financeiras emissoras, que podem ser bancos ou companhias hipotecárias.
Esses títulos também têm a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no
valor até R$ 70 mil e contam com garantia de recompra pelos bancos emissores.
Com essas vantagens, apenas na Brazilian Mortgages Cia. Hipotecária (BM) a
emissão de LCIs cresceu 67% no ano passado em relação a 2010, somando um
portfólio superior a R$ 800 milhões, afirma Vitor Bidetti, diretor da BM.
As LCIs têm como lastro créditos imobiliários já
desembolsados. Na BM, a aplicação mínima é de R$ 20 mil e a rentabilidade oferecida
oscila entre 85% e 95% da variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro
(CDI, referência para as aplicações conservadoras), dependendo do prazo e
volume aplicado. Os prazos das LCIs geralmente variam de dois meses a dois
anos, ou seja, são bem menores que os dos CRIs, cujo prazo médio varia de sete
a dez anos. "Mesmo oferecendo uma taxa mais baixa que os CDBs, a
rentabilidade líquida desses papéis chega a ser superior por conta da isenção
de IR", destaca Bidetti. Além da vantagem fiscal, as LCIs ainda contam com
outras estruturas que garantem maior segurança, como a alienação fiduciária.
Acessível hoje apenas para os clientes do private banking
do Banco Brasil, com aplicação mínima de R$ 1 milhão, as LCAs serão
distribuídas também para o segmento de varejo de alta renda do banco, o Estilo,
a partir deste ano. "Estamos desenvolvendo um sistema que irá permitir
colocar emissões com "tickets" menores", explica Osvaldo Cervi,
gerente-geral do private banking do BB, que detém 62% do mercado de crédito ao
agronegócio, que soma R$ 83 bilhões.
Só no segmento de private banking do banco, as aplicações
em LCAs saltaram de R$ 250 milhões em dezembro de 2010 para R$ 6 bilhões em
2011. O prazo mínimo de investimento no papel é de 90 dias, mas o prazo médio
das emissões do BB é de 180 dias. Quanto mais longo o vencimento, maior o
prêmio oferecido. Os papéis com vencimento em 90 dias oferecem uma taxa de 85%
do CDI, enquanto títulos acima de um ano chegam a pagar um rendimento de 1% a
2% acima do CDI. "Os investidores terão que abrir mão de liquidez se
quiserem ter um retorno melhor", diz Cervi, do BB.
Apesar de ter uma carteira ainda pequena de crédito
imobiliário, o banco também pretende oferecer LCIs para os clientes do varejo
de alta renda. "Há apetite para investimentos em crédito privado, com os
investidores buscando diversificar o risco", diz Cervi.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), do total de R$ 144 bilhões em
títulos de crédito privado dos clientes private, 15% estão alocados em LCIs,
10,5% em LCAs e 2,5% em CRIs. No total, os títulos de crédito privado respondem
por 30% dos recursos sob gestão no segmento de private banking.
Para os bancos, as emissões de LCAs e LCIs têm sido uma
alternativa de captação de recursos para as operações de crédito imobiliário e
agrícola, que são tipicamente financiadas com recursos da poupança. Isso porque
esses papéis são isentos de recolhimento de compulsório de 25% sobre seu valor
- e também estão liberados da cobrança 0,2% sobre cada operação ao FGC e do
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "A carteira do agronegócio tem
crescido acima da captação da poupança", afirma Cervi, do BB.
No caso do crédito imobiliário, como a legislação obriga
os bancos a aplicar 65% do que é captado via caderneta de poupança em
financiamento habitacional, as instituições acabam emitindo as LCIs quando a
carteira de crédito imobiliário é maior que o volume destinado para cumprir essa
exigência.
Já o crescimento das emissões de CRIs, que contam com um
prazo de investimento mais longo, depende do desenvolvimento do mercado
secundário de renda fixa, fundamental para trazer maior liquidez a essas
operações. Os executivos, no entanto, acreditam que o mercado de securitização
tem muito espaço para crescer como opção alternativa para o financiamento à
habitação, que deve atingir de 7% a 8% do PIB, segundo previsão da Caixa.
Liminares liberam emissão de nota fiscal
Adriana Aguiar e Bárbara Pombo | De São Paulo
Pelo menos três empresas, que começaram o ano
surpreendidas com a medida da Prefeitura de São Paulo de bloquear a nota fiscal
eletrônica de devedores do ISS, já obtiveram liminares para retomar seus
negócios. Pelas decisões, a administração municipal deve liberar a emissão do
documento. Os juízes consideraram, em todos os casos, que o Fisco tem outros
meios previstos em lei para cobrar os débitos fiscais, e não poderia coagir os
contribuintes a pagar suas dívidas dessa forma.
A restrição aos contribuintes inadimplentes está na
Instrução Normativa (IN) nº 19, da Secretaria de Finanças, publicada em 17 de
dezembro. A norma entrou em vigor no dia 1º. Como não conseguiu emitir sua
primeira nota fiscal do ano, a Rhesus Medicina Auxiliar decidiu ir
imediatamente ao Judiciário. No dia 4, mesmo dia que entrou com um mandado de
segurança, teve seu pedido deferido pelo Plantão Judiciário Cível da Capital. O
juiz Fábio Coimbra Junqueira entendeu que a medida instituída pela prefeitura
"constitui grave ofensa a direito líquido e certo da empresa, o que não se
pode admitir".
De acordo com a decisão, ainda que a companhia tenha
dívidas de ISS, o município teria outros meios jurídicos previstos na Lei de
Execução Fiscal para cobrar o contribuinte. A prefeitura já foi intimada da decisão,
mas segundo os advogados da companhia, Fernando de Luizi e Frederico Loureiro,
da Advocacia De Luizi, a situação ainda não foi normalizada. Enquanto isso,
munida da liminar, a empresa tem emitido notas fiscais em papel. "A
Fazenda não pode impedir as empresas de exercer suas atividades com sanções
políticas. Há jurisprudência consolidada no Supremo Tribunal Federal (STF)
nesse sentido", afirma Luizi. O tema foi tratado em três súmulas da Corte
(70, 323 e 547).
Com uma autuação de R$ 1,5 milhão de ISS, a H2M Soluções
também decidiu ir à Justiça e obteve liminar para voltar a emitir notas fiscais
eletrônicas. A empresa do setor de informática foi fiscalizada e autuada no dia
27 de dezembro por supostas irregularidades no recolhimento do imposto entre 2006
e 2010. Na decisão, a juíza Marcia Helena Bosch levou em conta que a autuação
apontou "recolhimento com alíquota menor do tributo, e não
inadimplência". Segundo o advogado da empresa, Ricardo Chiarioni, da
Advocacia Chiarioni, a emissão foi bloqueada durante o prazo para apresentação
de defesa na esfera administrativa. "A medida complicou a vida da empresa.
Os clientes e fornecedores não queriam mais fazer negócios", afirma o
advogado, acrescentando que a prefeitura já cumpriu a determinação judicial.
Inadimplente há mais de quatro meses, uma empresa do setor
de telecomunicação foi obrigada a ir à segunda instância da Justiça paulista
para obter uma liminar. A desembargadora Vera Andrisani, do Tribunal de Justiça
de São Paulo (TJ-SP), reformou a decisão de primeiro grau por considerar que a
Constituição Federal garante a livre prática de atividades econômicas e a
liberdade do exercício profissional. Além disso, citou jurisprudência pacífica
que impede a adoção desse tipo de medida. "Existem outros meios coercitivos
para o adimplemento tributário", diz a juíza. A Prefeitura de São Paulo
cumpriu a determinação judicial um dia após a decisão ser proferida, em 6 de
janeiro.
O advogado da empresa de telecomunicações Flávio
Maschietto, do Maschietto Sociedade de Advogados, sustenta que a medida coloca
em risco a continuidade das atividades do devedor. "Sem a emissão da nota
fiscal, o devedor não terá receita, o que o impedirá de honrar a folha de
salários, encargos e os demais tributos e fornecedores", afirma. Procurada
pelo Valor, a Prefeitura de São Paulo informou que vai recorrer das decisões.
Pela Instrução Normativa nº 19, estará impedido de emitir
a Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e) quem deixar de recolher o ISS por
quatro meses consecutivos ou por seis meses alternados durante um ano. Para
voltar a imprimir a nota, o contribuinte não poderá ter mais de três meses
seguidos em aberto ou cinco meses alternados. De acordo com a norma, os
estabelecimentos que contratarem serviços de empresas com autorização suspensa
deverão preencher a Nota Fiscal Eletrônica do Tomador/Intermediário de Serviços
(NFTS), reter na fonte e recolher o ISS devido.
AGRONEGÓCIOS
Até agora, seca na Argentina afeta mais soja do que milho
Cesar Felício | De Buenos Aires
A indústria de soja da Argentina já projeta redução da
ordem de 2 milhões de toneladas na produção do grão do país nesta safra
(2011/12) em relação à colheita passada, em função da seca que atinge há
semanas alguns dos principais polos locais. Na cadeia do milho, há mais
otimismo e permanece a aposta em um ligeiro crescimento da produção neste ano,
ainda que o mercado internacional também acredite em quebra nessa frente.
"O panorama inicial de se chegar a uma safra de 52
milhões de toneladas tornou-se utópico, impossível. É mais razoável se pensar
em 48 milhões de toneladas", afirmou o presidente da Associação da Cadeia
da Soja Argentina (ACSoja), Miguel Calvo. No ciclo passado, lembra Calvo, a
produção foi de 50 milhões de toneladas de grão. Há alguns meses, a previsão
era de colheita 5% maior em 2011/12.
"É razoável se pensar em uma queda da colheita porque
o plantio está atrasado em função da seca. Estamos com 84% da área plantada.
Ainda há um espaço para continuar o plantio, mas haverá perdas de pelo menos
10% na produtividade do plantio mais antigo", disse Calvo. Houve chuvas
nas regiões produtoras nos últimos dias, com precipitações entre 6 e 15
milímetros, mas o volume ainda é insuficiente para sanar possíveis perdas.
No caso do milho, as previsões mais otimistas eram de um
crescimento na produção de 23 milhões para 27 milhões de toneladas. Como há uma
possibilidade de se estender o plantio por mais um mês e havia uma projeção de
grande expansão na área plantada, ainda é difícil dimensionar eventuais perdas.
"Atingir 27 milhões não é inalcançável, mas é mais razoável pensar em uma
expansão de 10% em relação ao ciclo passado", comentou o diretor da
Associação do Milho e do Sorgo Argentino (Maizar), Martín Fraguío.
De acordo com Fraguío, já foram semeados 4 milhões de
hectares, área quase equivalente aos 4,2 milhões de hectares da safra passada,
e ainda falta semear 1 milhão de hectares. Tanto Fraguío quanto Calvo lembraram
que o cenário desta safra não é muito diferente do observado no ciclo passado,
quando janeiro começou com um quadro prolongado de estiagem. O ritmo de chuvas
ao longo do ano, contudo, fez com que não houvesse perdas na produção.
"Tudo dependerá do ritmo de precipitação nos próximos dez dias",
afirmou Calvo.
Hoje, os produtores de grãos do país devem ter uma reunião
para discutir a seca com o ministro da Agricultura, Norberto Yauhar. Os
produtores aproveitam a situação de seca para pedir a revisão do imposto sobre
as exportações, conhecido no país como retenções. As exportações de soja são
taxadas atualmente em 35%. Em entrevistas recentes, porém, o ministro argentino
já colocou em dúvida a gravidade da seca atual.
A Argentina é o terceiro maior exportador de soja em grão
do mundo, depois de EUA e Brasil, e as exportações do complexo soja (grão,
farelo e óleo) respondem por cerca de 40% do total vendido pelo país ao
exterior.
Preços caem em Chicago
Gerson Freitas Jr. e Fernando Lopes | De São Paulo
Ainda que não tenham sido suficientes para melhorar as
condições das lavouras argentinas de soja, as poucas chuvas que caíram
recentemente na Argentina foram apontadas com determinantes para a queda das
cotações do grão ontem na bolsa de Chicago.
Em curva ascendente desde o fim da primeira quinzena de
dezembro por causa da atuação do La Niña no sul da América do Sul, os contratos
com vencimento em março recuaram 29 centavos de dólar, para US$ 12,32 por
bushel. Desde 12 de dezembro, quando o "fator La Niña" começou a
pesar com mais força em Chicago, a alta acumulada ainda é de 7,75%, segundo o
Valor Data.
Já consciente das chuvas, o banco Barclays Capital, de
Londres, reduziu em 12% sua estimativa para a produtividade das plantações
argentina de soja. A preços correntes, a instituição estima que o país perderá
US$ 4,1 bilhões em exportações. (Com Dow Jones Newswires)
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