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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

12 de janeiro de 2012 - VALOR ECONÔMICO


ACESSE TODOS OS JORNAIS NO CANTO DIREITO DA PÁGINA "ARQUIVO DE CLIPPING"
PRIMEIRA PÁGINA
Dilma poderá enfrentar greve geral de servidores
Após oito anos de proximidade com o ex-presidente Lula, as categorias que representam um milhão de servidores públicos estão insatisfeitas com o tratamento que recebem do governo Dilma Rousseff. Lula foi responsável pela concessão dos melhores acordos salariais aos servidores desde a redemocratização. Dilma, em seu primeiro ano de mandato, concedeu apenas R$ 1,6 bilhão para reajuste de salários - incluído no Orçamento de 2012 -, diante dos R$ 40 bilhões reivindicados pelos servidores. Em 2012, o governo não quer conceder novos reajustes

Argentina ameaça com mais protecionismo
Empresas brasileiras instaladas na Argentina começam a ser informadas por representantes do governo que Cristina Kirchner pretende aumentar, ao longo do ano, a escalada protecionista para conter importações. Executivos foram avisados que nenhuma importação de bens acabados será mais autorizada, a não ser que o importador comprove que o produto não tem similar nacional. O objetivo é preservar o superávit comercial, de US$ 11 bilhões no ano passado

Exportação de básicos cresce ainda mais
As commodities não só aumentaram sua importância na pauta de exportações brasileiras como também passaram por um processo de maior "empobrecimento" nos últimos anos. Aprofundou-se a tendência de o Brasil exportar mais produtos básicos e menos itens industrializados. O fenômeno é evidente no grupo dos cinco produtos mais importantes da pauta - minério de ferro, petróleo, soja, açúcar e café

La Niña eleva pedidos de seguro rural
A seca provocada pelo La Niña já fez o número de comunicações de perdas para os seguros agrícolas no último trimestre de 2011 ultrapassar o total de toda a safra passada. O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) já recebeu 25.192 pedidos de ressarcimento em 17 Estados no período. Na safra 2010/11 foram 25.106. Os Estados mais atingidos foram Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Ao todo, a falta de chuvas no país causou 20.425 pedidos. Fontes do Ministério da Agricultura antecipam que o milho vai sofrer mais que outras culturas

OPINIÃO
Novas armas de combate à sonegação no país

Roberto Abdenur

A sonegação fiscal é um dos fatores que mais comprometem o desenvolvimento de uma economia, especialmente quando se trata da economia de um país emergente, como o Brasil. Toda sorte de justificativas é usada pelos sonegadores, desde a alta carga tributária, passando pelos complexos passos para o pagamento dos impostos, até a corrupção entre os responsáveis pelo destino do tributo.
Apesar de total ou parcialmente verdadeiras, na grande maioria dos casos essas justificativas acabam sendo usadas mais como pretextos para uma prática que vem corroendo a saúde da economia nacional: a concorrência desleal. Para enfrentar o problema, vez ou outra, se fazem megaoperações, que têm caráter punitivo e também um significativo efeito midiático.
Em agosto, por exemplo, a Polícia Federal levou a cabo uma dessas iniciativas, com ações coordenadas no Distrito Federal e em 17 Estados. O objetivo era recuperar aos cofres públicos R$ 1 bilhão em impostos desviados.
Tecnologia pode ajudar quando proporciona recursos necessários ao rastreamento de produtos desde a origem
Essas operações são muito importantes, pois fazem parte do esforço de fiscalização. Mas a prevenção também é fundamental para evitar que haja sonegação de impostos.
Nesse caso, a tecnologia pode ajudar. Principalmente quando proporciona os recursos necessários para o rastreamento de produtos, desde sua produção até a venda ao consumidor. Mecanismos para rastrear e controlar produtos têm sido desenvolvidos em iniciativas de empresas e instituições da sociedade civil que contam com a colaboração da União e de unidades da Federação.
Dois mecanismos têm tido bons resultados: o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) e o Sistema de Controle e Rastreamento da Produção de Cigarros (Scorpios). São dois setores da economia muito bem organizados, mas que frequentemente sofrem concorrência desleal por estarem na mira de alguns produtores ansiosos por obter vantagens competitivas pela via da sonegação de impostos.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que mais de 60% das vendas de destilados ocorrem na informalidade. Para mudar essa realidade, em 2008 a União adotou o Sicobe, ferramenta que permite rastrear a bebida produzida no país. O Sicobe envia à Receita Federal, em tempo real e diretamente das fábricas, informações sobre fabricante, marca, data de fabricação do produto, volume, embalagem, etc.
Os resultados são expressivos: um ano após sua implantação, a arrecadação de impostos federais, como IPI, PIS e Cofins, aumentou em 20% no setor de bebidas. O sucesso está levando os Estados a repetir a experiência, para combater a sonegação de tributos como o ICMS.
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O desembolso de R$ 0,03 por unidade, a fim de ressarcir a Casa da Moeda pelos procedimentos de manutenção do sistema, provocou reação de alguns pequenos e médios fabricantes. Mas o tempo deve mostrar que vale mais a pena investir na prevenção para enfrentar a concorrência desleal.
O mesmo se dá na indústria de cigarros. Segundo dados da indústria, o comércio ilegal de cigarros (contrabando, falsificação e sonegação de impostos) representa mais de 28% do mercado brasileiro. Estimativas indicam que a perda de arrecadação no setor é superior a R$ 2 bilhões por ano.
O Sistema de Controle e Rastreamento da Produção de Cigarros (Scorpios) é o mecanismo usado pela União para identificar o percurso do produto comercializado, a fim de interromper a cadeia de sonegação. Adotado em 2007, o Scorpios também permite controlar em tempo real o processo de produção e selagem dos cigarros. Fabricados pela Casa da Moeda, os selos contêm informações sobre fabricante, marca, data de fabricação e classe fiscal.
Os Estados já podem contar também com o chamado Business Intelligence - Nota Fiscal Eletrônica (BI-NF-e), que agrega inteligência à análise dos dados gerados pelas notas fiscais eletrônicas, e já em fase de implantação em 16 Estados. O mesmo permite às Secretarias da Fazenda extrair informações para uma melhor fiscalização dos segmentos obrigados à emissão da NF-e, principalmente no controle das operações inter-estaduais.
Além disso, contribui também para aumentar o recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Um recurso para os Estados, que possibilita ampliar a arrecadação sem aumentar a carga tributária.
Na indústria de medicamentos, outro setor bastante afetado pela sonegação e fraudes, os processos de controle são fundamentais para garantir não somente a igualdade concorrencial, mas, principalmente, para evitar riscos à saúde pública, dada a própria natureza do objeto. Em comunicado divulgado em dezembro de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que já deliberou sobre as diretrizes que nortearão a implementação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos, conforme determinado pela Lei 11.903/09.
O caminho para o pagamento de tributos deve ser simplificado no Brasil e o destino dos tributos deve ser acompanhado pela sociedade. Independentemente disso, as medidas para prevenir e fiscalizar a arrecadação precisam estar na lista de prioridades de qualquer administrador público.
Com a implementação dos instrumentos citados, todos saem ganhando. O governo, em todas as suas esferas, dispõe de mais recursos para aplicar em melhorias sociais; a iniciativa privada, que passa a ter condições mais equânimes de mercado, e a sociedade em geral, que pode consumir produtos de qualidade testada e aprovada, da sua fabricação até a chegada ao ponto de venda.
Roberto Abdenur é presidente executivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO)

COLUNAS
Humberto Saccomandi
Os chineses vão às compras; Brasil é alvo

Os chineses estão comprando já há alguns anos, mas certos fatores devem fazer com que cresça neste ano o apetite chinês por ativos no exterior. O Brasil deve ser um alvo preferencial, e a China pode se tornar em poucos anos o maior investidor externo por aqui.
O investimento chinês em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês] no exterior cresceu solidamente nos últimos três anos, atingindo US$ 61,2 bilhões em 2011, segundo dados da consultoria Dealogic (veja gráfico). Isso representa a maior parte dos US$ 72,4 bilhões que Pequim estima ter investido no exterior no ano passado. Esses dois valores são recordes.
"As empresas chinesas são cada vez mais importantes em M&A global. Achamos que, entre 2010 e 2020, elas investirão no exterior US$ 1 trilhão. É um processo de crescimento estrutural", afirmou Thilo Hanemann, diretor de pesquisa do Rhodium Group, uma consultoria americana especializada em investimentos.
Três fatores vão estimular neste ano os investimentos chineses.
O primeiro já vem de anos: é a necessidade de garantir o suprimento de energia, recursos naturais e alimentos ao país. "Esse ainda é o motor principal do investimento chinês", disse Oded Shenkar, professor de Administração na Ohio State University e autor dos livros "O Século da China" e "Copicats - Melhor que o Original". Mesmo se a China desacelerar, ele crê que o pouso será suave e a demanda por recursos continuará forte.
O segundo fator ficou mais evidente em 2011, com a crise da dívida europeia e a ameaça de calote americano: a necessidade de Pequim de diversificar seus investimentos, limitando a exposição a títulos soberanos. "Por causa da balança comercial, há muito capital na China. Os chineses costumam comprar títulos soberanos, especialmente americanos. Mas o governo quer reduzir a exposição. Há uma tendência clara de mudança do portfolio, de títulos para ativos reais", disse Joel Moser, sócio da Bingham McCutchen, escritório de advocacia com forte atuação na área de investimentos.
O terceiro fator é o crédito fácil e barato, frequentemente estatal, o que deixa empresas chinesas em vantagem em relação a rivais ocidentais que estão com dificuldade de se financiar nos bancos e mercados de ações locais. "O acesso a financiamento é fácil, e o custo do capital é baixo para as empresas chinesas", afirmou Ricardo Carvalho, sócio da M&A Transactions Services e líder do Chinese Services Group, ambos da Deloitte no Brasil. O custo financeiro menor, diz ele, faz com que os chineses possam aceitar taxas de retorno menores.
Outro fator, conjuntural, deve atrair o capital chinês neste ano: a oferta de ativos seguros e subavaliados na Europa, onde os governos estão iniciando planos agressivos de privatização e onde os bancos terão de vender ativos para levantar capital. Mas esse fator não deve ser determinante. "Não vejo a China agindo como um fundo abutre, indo atrás de repente de explorar o preço reduzido de ativos europeus", disse Moser. "Empresas que pensavam em investir na Europa nos próximos cinco anos podem acelerar isso", afirmou Shenkar.
Para analistas, a China entrou numa nova fase de gasto externo. Após focar em facilitação de comércio (portos, ferrovias etc.) e recursos naturais, o país agora que subir na cadeia de valor, com a compra de tecnologia ou com uma melhor inserção nas redes de distribuição globais. "Acho que eles buscarão nos EUA e na Europa empresas com tecnologia e marcas de bens de consumo valorizadas", disse Hanemann.
"O movimento de expansão chinês é uma estratégia de governo", disse Carvalho. "E o plano quinquenal em vigor [até 2016] visa não só garantir recursos naturais, mas ganhar tecnologia e "market share"."
Um caso exemplar citado foi a aquisição da Volvo Cars pela Geely, em 2010. "A Geely não tinha tecnologia avançada, não tinha uma marca global, não tinha um histórico de segurança, não tinha experiência em administrar uma empresa global. Ela obteve tudo isso com a compra da Volvo", disse Shenkar.
Hanemann vê obstáculos a um crescimento mais acelerado do investimento chinês. "Ainda há barreiras naturais. Em muitas empresas falta capacidade, falta know-how de fusões e aquisições, falta pessoal qualificado para integrar estruturas e manter operações no exterior." Ele acha que os investimentos vão crescer neste ano, mas não muito em relação à tendência recente.
Hanemann cita ainda a resistência de muitos países ao capital chinês. Outros analistas creem (assim como o governo chinês) acham que a crise fez essa rejeição diminuir. Persiste a preocupação, porém, com áreas sensíveis de segurança nacional.
O Brasil deve se beneficiar dessa expansão. "Em quatro ou cinco anos, o investimento chinês no Brasil chegará a US$ 40 ou US$ 50 bilhões. A China se tornará o maior investidor no país", disse Carvalho. Para ele, a segunda onda (depois da África) de investimento chinês em recursos naturais será na América Latina.
Shenkar alerta que muitos países não têm uma estratégia para receber o capital chinês. "É preciso encorajar o investimento que eleva o emprego. Mas há investimentos que reduzem o emprego, quando o comprador se apropria do que lhe interessa e fecha a produção. Isso não tem valor para a economia local."
"Esse processo [a expansão das empresas chinesas] vai aumentar dramaticamente. Os países devem se preparar, pensar em que tipo de investimento chinês querem. A maioria está fazendo uma avaliação caso a caso, não tem uma política clara", afirmou.
Humberto Saccomandi é editor de Internacional. Escreve mensalmente às quintas-feiras

Juízes do Trabalho articulam mudanças no projeto de terceirização

Fernando Exman | De Brasília

A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) está decidida a elevar os esforços para tentar promover mudanças na proposta de regulamentação de terceirização de mão de obra que tramita no Congresso. O diagnóstico da entidade em relação ao texto costurado na Câmara dos Deputados é claro: haverá um incentivo direto à terceirização do trabalho, os trabalhadores terão mais dificuldades para obter seus direitos na Justiça e menor poder de barganha nas negociações com seus patrões.
No ano passado, representantes da Anamatra participaram de reuniões com técnicos dos ministérios do Trabalho e da Justiça e também com parlamentares para tratar do assunto. Até agora, no entanto, não obtiveram sucesso. O projeto é relatado pelo deputado Roberto Santiago (PSD-SP), e pode ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e pelo plenário da Câmara no primeiro semestre. Se aprovado, o texto será ainda enviado ao Senado e terá de receber o crivo da presidente Dilma Rousseff.
A Anamatra, entretanto, não terá vida fácil. Além do lobby do empresariado em favor do projeto, o movimento sindical se dividiu. O relator é vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), mas a Central Única dos Trabalhadores, por exemplo, critica alguns pontos do seu parecer. Outro fator pode dificultar a ação dos juízes do Trabalho: o governo, que tem uma base parlamentar formada tanto por representantes dos trabalhadores como dos empresários, evita anunciar uma posição clara sobre o assunto e colocar seu peso político para influenciar a tramitação da proposta.
"O projeto vai acabar produzindo no Brasil uma reforma trabalhista precarizante e vai comprometer o futuro do Brasil", afirmou o vice-presidente da Anamatra, Paulo Schmidt, segundo quem já há 11 milhões de trabalhadores terceirizados entre os 43 milhões de empregados formais no país. "A aprovação desse projeto significa uma reforma trabalhista jamais pensada pelo mais radical dos liberais."
Na avaliação de Schmidt, ao não estabelecer regras claras para proibir a terceirização dos trabalhadores responsáveis pela execução de atividades fins das empresas, o projeto de lei gerará um cenário em que o Brasil poderá ter diversas empresas sem empregados. Ao admitir a subcontratação, acrescentou o vice-presidente da Anamatra, a proposta também poderá acabar permitindo a "quarteirização e a quinteirização".
"A responsabilidade pela mão de obra vai se diluindo para, ao fim e ao cabo, não haver responsabilidade nenhuma", alertou o dirigente da Anamatra, lembrando que a maioria dos processos judiciais que os trabalhadores vencem mas não conseguem executar a sentença é movida por trabalhadores terceirizados. "Para o juiz do Trabalho, o direito do trabalho é menos efetivo na terceirização. Não é uma questão ideológica, é uma questão prática."
Paulo Schmidt também criticou a forma como o projeto de lei em tramitação define a responsabilidade das empresas contratantes pelos trabalhadores terceirizados. O parecer em discussão na Câmara estabelece que inicialmente a responsabilidade seja subsidiária. Mas, se a empresa contratante não se certificar que a sua contratada está assegurando os direitos dos trabalhadores terceirizados, passará a ter responsabilidade solidária. Quando há responsabilidade subsidiária, o terceirizado só pode cobrar direitos trabalhistas da empresa contratante depois que forem esgotadas as possibilidades de cobrá-los da empresa contratada. Já a responsabilidade solidária determina que a tomadora e a prestadora do serviço se responsabilizem pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias.


BRASIL
'Básico do básico' ganha espaço na exportação

Por Marta Watanabe | De São Paulo

As commodities vendidas ao exterior não só avançaram de 65% em 2009 para os atuais 70% de participação na exportação brasileira como também passaram por um processo de maior "empobrecimento". O fenômeno é evidente no grupo dos cinco produtos mais importantes da pauta de exportação brasileira - minério de ferro, petróleo, soja, açúcar e café. Dentro de cada um desses grupos, os embarques dos produtos mais básicos cresceram em ritmo mais acelerado do que aqueles com maior valor agregado.
Dentro do complexo soja, por exemplo, a exportação do grão avançou desde 2005 muito mais que rapidamente que os embarques de farelo e óleo. De janeiro a novembro do ano passado, a soja em grão representou 68% dos US$ 22,97 bilhões exportados com o produto e seus derivados. Nos mesmos meses de 2005, essa fatia era de 57,3%. Há seis anos, a venda ao exterior de farelo de soja equivalia a pouco mais da metade da soja em grão exportada. No ano passado, essa participação caiu para 34,14%.
Em 2005, o minério de ferro aglomerado representava 39,2% do minério de ferro total exportado pelo Brasil. O valor embarcado de minério de ferro teve forte elevação no ano passado, mas a versão não aglomerada, que é mais bruta, avançou muito mais que o minério aglomerado, cuja participação caiu em 2011 para 23,8% do total exportado do produto. O não aglomerado avançou, no período, de 60,8% para 76,2%. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic).
No grupo do açúcar, os produtos mais industrializados também perderam espaço. De janeiro a novembro de 2005, o açúcar refinado representava 39,8% do valor total embarcado do grupo. No mesmo período do ano passado, a participação caiu para 20,8%. A boa notícia é que o álcool etílico passou a integrar o grupo no decorrer dos últimos anos, assumindo fatia de 8,7% do total embarcado no ano passado. Mesmo assim, o açúcar bruto, menos processado que a versão refinada, elevou sua representatividade de 60,2% em 2005 para 70,5% do total exportado dentro do grupo de açúcar e álcool no ano passado.
Para o economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, os exemplos revelam que a perda de competitividade em razão do custo elevado de industrialização atinge não só os manufaturados mais sofisticados, mas também as cadeias produtivas mais curtas. "Há um estreitamento do número de bens exportados acompanhada da redução de patamar tecnológico", diz ele. Quanto mais longa a cadeia produtiva, explica o economista, mais representativa a carga tributária e mais pesado o custo financeiro e o volume de encargos trabalhistas.
Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), explica que um dos desafios da produção brasileira de soja é conseguir exportar não só o grão, mas também os derivados, que têm maior agregação de valor.
O desafio esbarra em políticas protecionistas no destino. A China, parceiro mais importante na venda ao exterior da soja brasileira, diz Trigueirinho, aplica tarifas mais elevadas para os desembarques de farelo e óleo do que para a soja em grão. O problema, porém, não está somente na ponta do desembarque.
"Os argentinos conseguem exportar uma proporção maior de farelo e óleo de soja", lembra José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). No Brasil, a soja em grão significa 68% do total exportado dentro do complexo soja. O farelo representa 23,2% e o óleo, 8,7%. Na exportação argentina do complexo soja entre janeiro e agosto de 2011, 48,6% foram de farinha. Tanto o óleo quanto o grão ficaram com uma fatia próxima a 26% cada um.
A carga tributária é a maior variável que diferencia as condições de produção entre o Brasil e o país vizinho, diz Trigueirinho. O principal problema é com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O tributo pesa mais quando há algum processo de industrialização, principalmente quando se trata de exportação.
Se é produzida num Estado e vendida desse local diretamente ao exterior, sem processamento, em grão ou apenas triturada, a soja fica livre do ICMS, porque na operação de venda ao exterior o imposto não é cobrado.
O problema é quando a soja produzida no Mato Grosso, por exemplo, é vendida para ser beneficiada em outro Estado. Nessa operação o grão é tributado com 12% de ICMS. Depois de virar farelo ou óleo, o produto fica livre de imposto na operação de exportação. Teoricamente a indústria fica com o crédito do imposto. Ou seja, os 12% de imposto pagos seriam ressarcidos ao exportador.
Isso, porém, não acontece na prática. O imposto poderia ser compensado com o ICMS devido nas operações internas, mas as indústrias não possuem vendas domésticas suficientes para utilizar todo o crédito ou as operações internas são espalhadas por todo o Brasil. Poucas são no Mato Grosso - continuando com o mesmo exemplo dado -, Estado no qual está o crédito de ICMS.
O crédito não recuperado significa custo definitivo. "Na verdade, a margem permitida pelo maior valor agregado com a industrialização da soja não compensa esse custo", diz Trigueirinho. Na Argentina, diz, há uma política de apoio à exportação, cuja produção conta com tributação mais favorável e subsídio na aquisição de energia.
O sistema brasileiro de impostos faz o contrário: estimula a exportação da matéria-prima e não do manufaturado. E o ICMS é apenas um exemplo. Há dificuldade com outras contribuições federais, como Funrural, PIS e Cofins, lembra Trigueirinho. Resultado: o Brasil é o segundo produtor de soja e apenas o quarto processador do grão no mundo.
A soja é apenas um exemplo dos efeitos do imposto para a industrialização de produtos básicos, diz Castro. O problema se repete nas demais commodities. Para alguns grupos de produtos, lembra ele, é possível que o Brasil não tenha capacidade de produção industrial e, por isso, o produto mais bruto ganhe espaço na exportação em ritmo mais acelerado.
Ele dá como exemplo o setor de celulose e papel. Dentro desse grupo, a celulose avançou de 58,9% das exportações do setor para 69,4%. O papel recuou de 40,9% para 30,5%. "O Brasil tem atraído muito mais investimentos em celulose do que em papel", diz Castro. Mas talvez, afirma, isso também seja resultado de uma política que acaba desestimulando a industrialização, principalmente quando o objetivo é a exportação.
Silveira lembra que a taxa de câmbio também contribuiu nos últimos anos para tornar a exportação menos rentável. A valorização do real frente ao dólar fez a pressão dos custos em moeda nacional ser maior, diz, agravando problemas estruturais nos custos de produção.
A solução, porém, não está simplesmente no câmbio, segundo Silveira. "Precisamos da coordenação e definição de uma política industrial mais ambiciosa, capaz de tornar a produção nacional mais competitiva."

BC aumenta itens que fazem parte de serviços

Por De São Paulo

No relatório de inflação de dezembro, o Banco Central divulgou mudanças importantes no sistema de classificação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A principal é a inclusão de itens relevantes no grupo de serviços, como alimentação fora do domicílio, telefone celular e passagens aéreas. Com isso, os serviços responderão por pouco menos de 34% do IPCA - sem eles, o peso seria de 23,66%, nas contas do Bradesco. Essa classificação, porém, não fará a inflação ficar mais baixa ou mais alta. Representa só uma reorganização dentro dos grupos do IPCA.
A mudança que mais chama a atenção é a saída do item alimentação fora do domicílio do grupo dos não duráveis e a sua entrada nos serviços. Para o economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks, é uma alteração que faz todo o sentido, porque alimentação fora de casa, que responde por quase 8% do IPCA, tem de fato mais características de serviços. Os preços dos alimentos decerto influenciam as cotações, mas o item depende muito do comportamento da renda, além da variação de custos como aluguel e mão de obra.
Com peso de 0,57% no IPCA, as passagens aéreas, que subiram quase 53% no ano passado, também passam a integrar os serviços, deixando o grupo de administrados. O mesmo ocorre com telefone celular, que responde por 1,52% do IPCA. Segundo Weeks, são itens cujos preços são hoje definidos pelo mercado, justificando a mudança.
Com a nova classificação do BC, os preços administrados terão peso de 25% no IPCA, segundo estimativas da LCA Consultores. O grupo de bens (não duráveis, semi duráveis e duráveis) deve ficar com algo próximo a 42%. (SL)

Carros, celulares e educação mudam a cara do indicador

Por Tainara Machado | De São Paulo

O desejo de ter o veículo próprio movimenta a indústria automobilística nacional, com previsão que o setor tenha vendido 3,42 milhões de carros no ano passado. Além de mais automóveis circulando pelas cidades brasileiras, a crescente demanda por veículos alterou a composição dos gastos do brasileiro, como mostrou a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada entre 2008 e 2009.
A partir do resultado de janeiro, a medida oficial de inflação brasileira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), terá sua estrutura de ponderação atualizada de modo a refletir esse novo padrão de consumo das famílias. Entre as principais mudanças está o peso que ganhou transporte no índice e no bolso dos consumidores: entre dezembro e janeiro, o peso do item irá saltar de 18,69% para 20,54%, principalmente por causa da crescente importância do veículo próprio.
Despesas com a compra do automóvel novo ou usado, licenciamento e manutenção representam o segundo maior peso entre todos os que compõem o IPCA, com 10,32%, perdendo apenas para alimentação dentro do domicílio, com 15,15%.
Fátima Cavalcante, vendedora de uma loja de calçados na zona sul de São Paulo, há dois anos decidiu realizar o que era um sonho e comprou seu primeiro carro, um Celta modelo 2003. Para poder arcar com as parcelas, financiadas ao longo de quatro anos, e com as despesas decorrentes, Fátima preferiu sacrificar gastos com lazer, como o churrasco que costumava dar em sua casa nos fins de semana e as idas a bares com amigos.
Leslie Tesóri, analista de desenvolvimento e gestão de pessoas, também chamou de "sonho" a compra de um carro com cheiro de novo. Primeiro ela teve um veículo usado, comprado em 2007. Dois anos depois, "após muita pesquisa, adquiri meu primeiro carro zero quilômetro".
Durante boa parte dos últimos dois anos, Leslie conseguiu equilibrar as parcelas do automóvel com o financiamento do seu apartamento. "Só pude conciliar, porque ainda moro com meus pais e, por enquanto, tenho poucas despesas com habitação. Mas deixei de gastar com vestuário e diminui consideravelmente minhas despesas com lazer", afirmou. De fato, para acomodar gastos maiores com habitação e transportes, a nova ponderação do IPCA mostrou que dispêndios com vestuário e despesas pessoais perderam participação na composição do índice.
Com a necessidade de fazer um aporte maior para receber as chaves do imóvel, Leslie preferiu vender o automóvel. "Ter um carro novo era um sonho, mas veículo não é investimento. Hoje estou comprometida em quitar e montar meu apartamento", afirmou. Grávida, Leslie irá se casar em maio deste ano e está, com a ajuda do noivo, equipando sua nova casa.
Também com a ajuda do marido, que é motorista, Valéria dos Santos equilibra no orçamento familiar a educação das três filhas, alimentação, transporte, habitação e lazer. Ela conta que a família sempre teve automóvel, usado principalmente nos fins de semana. "Com filhos, é difícil ficar sem carro", afirmou. Em 2010, Valéria vendeu o carro antigo e, com o dinheiro, comprou um veículo novo. Agora, após uma batida, estudam trocar novamente de automóvel.
Para Valéria, que trabalha como cabeleireira em um salão de beleza no Morumbi, também é no lazer que a família aperta o cinto quando tem que arcar com as parcelas do veículo. "A gente acaba gastando menos em restaurante. Corta algumas saídas, deixa de pedir a pizza no fim de semana", explicou. Ainda assim, segundo Valéria, é com alimentação que a família gasta mais, tanto dentro quanto fora de casa. As despesas com habitação, que ficam majoritariamente a cargo de seu marido, são importantes, pois a família paga aluguel.
Sempre que pode, Valéria renova os eletrodomésticos da casa. Recentemente, aproveitou os descontos oferecidos na internet e a desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca para atualizar a cozinha. Em dezembro, trocou fogão, geladeira e forno de micro-ondas. Como reflexo da nova POF, o peso dos eletrodomésticos passou de 0,94% para 1,09% no IPCA entre dezembro e janeiro.
A educação, por outro lado, perdeu peso no orçamento doméstico. Para Valéria, a fatia gasta com ensino está concentrada em instrução superior e em cursos extracurriculares. A filha mais velha cursa administração de empresas em uma faculdade privada e Valéria a ajudou a pagar as mensalidades durante o primeiro ano do curso. Ela terá que dar a mesma contribuição às filhas mais novas, que estão na escola pública. As meninas ainda frequentam cursos de inglês e informática, pagos pela mãe.
Para Simão Carvalho, o aluguel, principalmente, pesa no orçamento desde que saiu de Londrina, no Paraná, para trabalhar em uma empresa que presta serviços de tecnologia da informação em São Paulo. Mas ele ressalta a despesa mensal que tem com a conta do celular. Embora tenha linha fixa no apartamento que divide com três amigos, Simão afirma que praticamente não a usa. Para otimizar seu tempo, optou por um plano pós-pago com acesso à internet.
"Em São Paulo, não tenho muito tempo livre no horário comercial. E, mesmo quando tenho, tudo aqui é mais longe. Então tento realizar todas as tarefas que posso, como pagamento de contas e compra de passagens, pelo celular. Por isso, tenho um plano de dados que me permite navegar na internet e o uso para qualquer coisa que preciso", afirmou Carvalho.

No Ceará, produção recua, mas emprego, não

Por Carlos Giffoni | De São Paulo

De janeiro a novembro, a produção física de calçados e têxteis no Ceará caiu fortemente - entre 23% e 25% -, enquanto o emprego formal, com carteira assinada, manteve-se constante nos dois segmentos. A reversão dessa situação pode ter começado em dezembro, quando uma série de medidas de adequação, como a adoção de férias coletivas e recolocação de funcionários, se esgotou, segundo diferentes segmentos da economia cearense ouvidos pelo Valor. De acordo com o sindicato local da indústria, pelo menos uma grande empresa fez demissões no fim de 2011.
A produção industrial do setor têxtil caiu 24,7% no Ceará até novembro, na comparação com o mesmo período de 2010, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física - Regional (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em compensação, o saldo de empregos no mesmo intervalo de 2011 foi positivo. Foram criadas 846 vagas na indústria têxtil e de vestuário, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o que representou um crescimento frente ao saldo de empregos no setor no fim de 2010: 1,18%. Cenário semelhante é visto no setor de calçados. Enquanto a produção caiu 22,2% na comparação entre os acumulados de janeiro a novembro dos dois últimos anos, o emprego recuou apenas 1,28%, com o fechamento de 824 vagas.
Diferentes analistas da economia cearense não possuem uma única explicação para esse descompasso entre produção e mão de obra formal nos dois setores. Entre as causas apontadas estão o aumento da importação pelas próprias indústrias, a expectativa de uma retomada (que leva o empresário a segurar demissões) e o custo expressivo de treinamento de mão de obra.
"A produção caiu no setor sapateiro porque as indústrias começaram a importar componentes. A plataforma [sola] do sapato era produzida aqui e passou a ser importada", diz Reginaldo de Aguiar, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) regional. Segundo ele, os funcionários foram direcionados para outras atividades produtivas, uma vez que a demanda pelos produtos do setor continua aquecida. "Esse mercado ainda cresce. Você produz menos, aumenta a importação, mas acaba acomodando essa mão de obra e evitando uma crise", afirma.
As demissões, contudo, devem ser vistas em maior escala nos resultados de dezembro, segundo Germano Maia, presidente do Sindicato da Indústria da Fiação e Tecelagem do Ceará. "O confeccionado chinês é o principal problema da indústria. As empresas têxteis no Ceará produziram o possível sem demitir, mas, no fim do ano, quando viram os altos estoques e as perspectivas fracas, tomaram, finalmente, medidas fortes. Os números de novembro do IBGE e do Caged ainda não mediram esse reflexo." Faz parte do pacote de medidas citado por Maia o fechamento de uma das cinco fábricas da Têxtil Bezerra de Menezes no Estado, o que representou cerca de 400 demissões.
Entre especialistas do setor, existem várias hipóteses que justificam a manutenção do nível de emprego nos setores de calçados e têxtil da indústria cearense em 2011 - apesar do resultado ruim. A adoção de férias coletivas é o movimento mais comum nas indústrias em momentos de acúmulo de estoque. "Até o momento, o emprego tem sido sustentado por essas "paradas". A Vulcabras marcou férias coletivas para fevereiro. O redirecionamento da mão de obra para o mercado interno, considerando a queda que houve na exportação de calçados, ajuda a controlar as demissões", diz Francisco Paiva das Neves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados do Ceará.
Outro palpite forte entre os industriais no Estado aponta para o receio de que seja ainda mais difícil - e caro - recontratar e treinar a mão de obra em um momento de recuperação desses setores do que lidar, agora, com a produção em baixa. Os investimentos para a Copa do Mundo ameaçam tirar profissionais do mercado. "Os empresários preferem manter seu quadro de funcionários na expectativa de melhorias. O mercado de trabalho está aquecido em decorrência dos investimentos ligados à Copa de 2014 e essas atividades são grandes absorvedoras de pessoal. Além disso, a qualificação de mão de obra não ocorre a curto prazo", segundo Eloisa Bezerra, do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
"O empresário não quer reduzir custo pouco depois de fazer um investimento em pessoal. Os setores de calçados e têxtil têm grande rotatividade, há muitas empresas se instalando no Estado e, logo, com investimento recente em pessoal", diz Roberto Macedo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Segundo ele, a automatização no setor têxtil permite que a produção seja reduzida sem afetar o emprego.
De acordo com a Fiec, a balança comercial da indústria no Estado fechará com déficit de US$ 1 bilhão em 2011. O aumento da importação de matérias-primas para a própria indústria é o maior responsável por esse desempenho. Na visão de Macedo, o emprego nos dois setores corre risco. "Temos várias fábricas no Ceará que estão perto de fechar."

INTERNACIONAL
Argentina dificulta importação de bem acabado com similar nacional

Por César Felício | De Buenos Aires

As empresas brasileiras instaladas na Argentina começam a ser informadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner que irá aumentar ao longo deste ano a escalada protecionista no país para conter as importações. Na última semana, executivos foram avisados que nenhuma importação de bens acabados será mais autorizada, a não ser que o importador comprove que a mercadoria não conta com produção no país.
Desta vez, o objetivo da medida não é impulsionar a produção local, mas preservar o saldo comercial, que foi de US$ 11 bilhões no ano passado. Desde dezembro, a área de comércio exterior no governo passou do Ministério de Relações Exteriores para o âmbito do Ministério da Economia, em que a figura central é o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, e não o ministro Hernán Lorenzino. É o próprio Moreno que tem conversado diretamente com os empresários, segundo afirmou um dos participantes dessas reuniões.
Um dos novos controles tornou-se público anteontem, com uma nova portaria da Afip, o órgão local da receita. A partir de fevereiro, todos os importadores deverão apresentar uma declaração jurada sobre o total que pretendem comprar do exterior ao longo do ano. Foi por meio de um controle aparentemente burocrático introduzido pela Afip, em novembro, que o governo argentino travou o mercado de câmbio de pessoa física no país, contendo uma corrida especulativa contra o peso argentino.
Sem ter como restringir importações em setores como o de energia, em que o déficit do país com o exterior deve atingir US$ 6 bilhões neste ano, segundo cálculo do consultor privado Daniel Montamat, e sem controlar variáveis como o preço da soja no mercado internacional ou o ritmo das compras de seus maiores clientes, o Brasil e a China, o governo argentino procura agir sobre as encomendas de produtos acabados, que somam cerca de US$ 14 bilhões por ano. Mas já há indícios que a transferência da área de comércio exterior para a esfera de Moreno começa a dificultar as importações até mesmo de insumos.
Na terça, a Fiat paralisou atividades em sua unidade em Córdoba, alegando não ter obtido licença para a importação de autopeças. A decisão da Fiat irritou o governo, que respondeu ontem em uma entrevista da ministra da Indústria, Debora Giorgi, à agência oficial Télam. A ministra classificou a atitude da montadora de "mesquinha e alienada", mas afirmou que a liberação das licenças - uma área da qual a ministra não é mais responsável - foi concedida para que a fábrica volte a funcionar "no menor prazo possível".
Em comunicado, a Fiat Argentina confirmou que decidiu retomar a produção ante "a firme determinação da Secretaria de Comercio Exterior de agilizar a tramitação das licenças". A empresa previu, além disso, a normalização das atividades hoje. Segundo a Fiat, as licenças que venceram em dezembro não tiveram renovação automática outorgada pela nova secretaria, comandada pela economista Beatriz Paglieri. A montadora alega que foi a primeira a ter que tramitar licenças na nova secretaria e atribui o atraso a um "ajuste das áreas administrativas do governo ao novo regime". A empresa destacou também que a maior parte da sua produção, de 700 veículos diários, se destina à exportação.
A Fiat Argentina possui a produção integrada com a Fiat brasileira. A unidade se abastece de autopeças no Brasil e transfere para o país cerca de 85% de sua produção. De todas as montadoras, é a que mais depende do país vizinho para a sua operação na Argentina. O setor automotivo é o principal na balança comercial entre os dois países.

Antes do embargo, refinarias já cortam petróleo iraniano

Por Javier Blas | Financial Times, de Londres

As refinarias europeias começaram a romper os laços com o Irã, ao suspender as compras de petróleo bruto no mercado à vista, em antecipação à reunião da União Europeia (UE), marcada para o fim deste mês, que poderá impor um embargo total de petróleo a Teerã.
Executivos do setor e traders de petróleo disseram que algumas refinarias pararam de adquirir ou reduziram as novas compras de petróleo iraniano, embora continuem a receber carregamentos mensais previstos em acordos de longo prazo anteriores, ou contratos futuros, que não podem romper sem ficar sujeitos a penalidades.
"Continuamos a comprar, segundo os contratos futuros, mas não fazemos mais transações à vista com eles", disse um alto funcionário de uma refinaria do sul da Europa. Outros altos executivos do setor de refino e vários traders de petróleo confirmaram a queda dos negócios no mercado à vista.
Tradicionalmente, as refinarias compram dois terços de seu petróleo por meio de contratos futuros e o restante no mercado à vista, embora a distribuição precisa da aquisição varie de empresa para empresa. No caso de um embargo, as refinarias europeias poderão declarar "force majeure" e cancelar seus contratos futuros sem sofrer penalidades.
As empresas estão se preparando para um embargo da União Europeia (UE) ao petróleo exportado pelo Irã, num momento em que os países ocidentais intensificam suas pressões para que Teerã abandone seu suposto programa de armas nucleares. Os Estados Unidos também lançaram sanções destinadas a penalizar as instituições financeiras externas que negociam com o banco central do Irã, responsável pela liberação da maior parte das exportações de petróleo. "No momento, os bancos estão sofrendo restrições [em financiar negócios com o Irã]", disse o diretor de comércio exterior de commodities de um grande banco.
"As refinarias estão reduzindo as compras de petróleo iraniano em resposta às novas sanções dos EUA e ao prever um embargo por parte da UE", afirmou David Greely, diretor de análise de petróleo do Goldman Sachs em Nova York, em nota encaminhada aos clientes.
A paralisação dos negócios obrigou o Irã a estocar mais petróleo bruto em superpetroleiros ancorados no Golfo Pérsico. A corretora de contratos de transporte marítimo Gibson estima que o volume de petróleo iraniano retido em "armazenagem flutuante" tenha aumentado dos 28 milhões de barris do fim de novembro para 32,5 milhões de barris atualmente. "As pessoas, de modo geral, estão recuando devido à associação com o Irã. Cada vez mais pessoas estão tomando essa decisão voluntariamente", disse Patrick Tye, analista-sênior de transporte marítimo da Gibson de Londres.
O Irã é o terceiro maior exportador mundial de petróleo e vende cerca de 2,3 milhões de barris/dia, principalmente para a Ásia. A UE compra cerca de 450 mil b/d, em média.
Entre as refinarias de petróleo sediadas na Europa, a Royal Dutch Shell é a maior compradora de petróleo bruto iraniano, segundo os volumes previstos em contratos futuros de longo prazo, de acordo com estimativas da publicação setorial "Argus Media".
Entre os demais compradores estão a francesa Total, as espanholas Repsol YPF e Cepsa, as italianas ENI, Saras e ERG e a grega Hellenic.
Os Estados Unidos deixaram de importar petróleo iraniano em outubro de 1987 e pressionaram com sucesso empresas europeias, como a Total e a Royal Dutch Shell, a suspender seus investimentos no enorme setor energético do país.

Governança ambiental é divergência na Rio+20

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

O principal conflito sobre o documento base de negociação da Rio+20, a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas que irá acontecer em junho, no Rio de Janeiro, mira a governança dos temas ambientais na estrutura da ONU. Se há consenso de que o tema tem que ser prioritário nas Nações Unidas, países ricos e nações em desenvolvimento divergem no formato.
Uma das propostas, defendida pelos europeus, é tornar o Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês), uma agência nos moldes da Organização Mundial do Comércio, por exemplo. O Pnuma tem sede em Nairóbi, no Quênia, foi criado em 1972 e é um organismo atuante. Publica regularmente relatórios ambientais que são referência global. Mas é um programa. Transformá-lo em uma agência daria visibilidade ao desenvolvimento sustentável, acreditam os europeus. Para outros, seria criar mais uma instituição burocrática que iria consumir verbas hoje já tão escassas.
Outro ponto de divergência entre os países, que aparece no documento de 19 páginas chamado "O Futuro que Queremos" (e que é o texto preliminar das negociações da Rio+20), é manter a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU. "É uma comissão que nunca decolou e é ocupada pelo quinto escalão da ONU", avalia um delegado que acompanha o assunto. O Brasil prefere que se fortaleça o conselho Ecosoc (Economic and Social Council), que já está no centro da hierarquia das Nações Unidas, como o pilar mais forte para promover o desenvolvimento sustentável no mundo. "Mas qualquer que seja a opção está claro que se deseja dar um upgrade no desenvolvimento sustentável dentro da ONU", diz Fernando Lyrio, assessor extraordinário do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a Rio+20.
Na sua avaliação do documento divulgado na terça-feira, houve uma tentativa de equilibrar as preocupações dos países desenvolvidos e as do mundo em desenvolvimento. "Está balanceado", diz. O próximo passo será debater o texto em uma série de rodadas de negociações informais (sem poder de decisão). A primeira acontece nos dias 27 e 28 em Nova York.
Nas 19 páginas do documento há pontos interessantes. Garante que cada país fará suas próprias escolhas rumo ao que vem sendo chamado de "economia verde" e que não existirão "regras rígidas" sobre isso. "A transformação para uma economia verde deve ser uma oportunidade para os países e não uma ameça", diz o texto. Países em desenvolvimento temem que a ideia embuta padrões de como deve ser o desenvolvimento. O texto diz que não se criarão novas barreiras comerciais e não serão impostas condições para ajuda ou transferência de recursos usando a economia verde como desculpa.
O documento reforça a ideia de que a participação da sociedade tem que ser fortalecida no processo e que o acesso à informação ambiental deve ser garantido e transparente. O Brasil sugeria um novo tratado internacional (uma convenção) sobre o tema, mas o texto que estará em discussão em NY faz uma sugestão mais branda.
O texto sugere que organizações que fazem parte do sistema multilateral (como o Banco Mundial ou o FMI) criem estratégias para apoiar o desenvolvimento sustentável em países mais carentes. Outro ponto reconhece as limitações do Produto Interno Bruto (PIB) como medida do desenvolvimento dos países e pede ao secretário-geral da ONU que estabeleça na Rio+20 um processo para a criação de uma métrica que integre as dimensões econômica, social e ambiental das nações.

EMPRESAS & TECNOLOGIA
Insud busca um parceiro para fábrica no Brasil

César Felício e Monica Scaramuzzo | De Buenos Aires e São Paulo

Um dos raros fabricantes de anticorpos monoclonais na América Latina, o grupo argentino Insud procura no Brasil um sócio para um investimento conjunto de US$ 80 milhões. A intenção do controlador do grupo, Hugo Sigman, é montar uma nova fábrica de anticorpos no Brasil e exportar a matéria-prima para ser envasada na Argentina, montando uma estrutura integrada. O sócio brasileiro entraria também no capital da atual fábrica, que entra em operação dentro de dois meses e deve faturar US$ 100 milhões anuais até 2016.
O anticorpo monoclonal é um linfócito clonado, utilizado na indústria farmacêutica e hospitalar no combate a doenças degenerativas, como artrites e câncer. Nenhum laboratório nacional produz anticorpos monoclonais. "Seria estratégico ter essa produção no Brasil, mas sua tecnologia é muito cara", afirmou uma fonte ao Valor. O grupo Insud será um dos dois únicos fabricantes na Argentina, por meio da subsidiária Pharma ADN.
O empresário argentino já havia conversado com alguns importantes laboratórios brasileiros para realizar o empreendimento na Argentina, mas as conversações não avançaram. Agora, tenta negociar a formação da empresa binacional e busca o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES. "Fizemos o empreendimento na Argentina com recursos próprios. Metade da nossa produção de anticorpos já está contratada por laboratórios brasileiros. Nossa escala é pequena. Para ampliarmos, temos que ir para o Brasil", disse Sigman, que investiu US$ 110 milhões para montar a fábrica da Insud, que irá comercializar quatro produtos cuja proteção patentária expirou: o Eternec, para artrite reumatoide, o Avastin, que prolonga a sobrevida em diversos tipos de câncer, além do Rituximab e do Herceptin, voltados para linfomas e câncer de mama.
O Insud já tem um acordo com a Eurofarma para a distribuição exclusiva e posterior fabricação, no Brasil, do Racotumomab
O Valor confirmou que uma das subsidiárias o grupo Insud, a Chemo, já esteve no BNDES. Na reunião com o banco, o grupo se comprometeu a investir em uma fábrica e um centro de pesquisa no Brasil. Segundo Sigman, o Brasil gasta anualmente US$ 200 milhões na importação de produtos desta natureza. "Em produtos farmacêuticos e hospitalares, o Brasil tem um déficit anual de US$ 10 bilhões, e a Argentina, de US$ 2 bilhões. Daí o interesse estratégico dos governos em fomentar iniciativas conjuntas."
O Insud já tem um acordo operacional com a Eurofarma para a distribuição exclusiva e posterior fabricação, no Brasil, do Racotumomab, um anticorpo para câncer de pulmão desenvolvida pela empresa em Cuba, em sociedade com uma estatal daquele país. A Eurofarma também é uma das três empresas que irá distribuir no Brasil 50% da produção de anticorpos na Argentina - as outras são a distribuidora Tecnofarma e a Libbs. Sigman disse que a Eurofarma é uma das empresas com quem tenta negociar a formação da "joint venture". Também houve conversas com a EMS e a Libbs. O Valor apurou que a companhia também conversou com o Aché, mas as conversas não foram levadas adiante.
Procurada, a Eurofarma informou que não discute joint venture no momento com o grupo argentino. A companhia apenas confirma as parcerias em andamento. A EMS e o Libbs não se manifestaram sobre o assunto.
Sigman é o controlador da fábrica na Argentina e administra diversas outras empresas e participações minoritárias que lhe garantem um faturamento anual de US$ 1,1 bilhão. Foi um dos empresários selecionados pela presidente argentina Cristina Kirchner para compor o conselho binacional de empresários criados pelos governos do Brasil e da Argentina exatamente para tentar fomentar produções integradas entre os dois países. O grupo é formado por dez empresários de cada país. Do lado brasileiro, estão Camargo Corrêa, Marfrig, Coteminas, Tramontina, Vale, Petrobras e Marcopolo. Do lado argentino, grupos das áreas de transporte e energia. Sigman é o único representante do segmento farmacêutico e biotecnológico. Entre as empresas da qual participa, está a Biogenesis Bagó, produtora de vacinas veterinárias e presente no Brasil desde os anos 90.
Os investimentos na área tendem a crescer porque diversos produtos estão perdendo a proteção da patente. O mercado farmacêutico mundial movimenta atualmente cerca de US$ 900 bilhões anuais, sendo US$ 160 bilhões de origem biotecnológica.
Com o apoio do governo argentino, Sigman esteve com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o da Saúde, Alexandre Padilha, e com o diretor para fomento à área de saúde no BNDES, Pedro Palmeira. "Há uma predisposição para se financiar apenas projetos controlados 100% por brasileiros, mas a formação de grupos binacionais é um interesse estratégico dos dois países", comentou o empresário.
Se a parceria com brasileiros sair, Sigman pode ganhar envergadura para um projeto mais ambicioso, que é o de produção de anticorpos monoclonais originais. Atualmente, o grupo participou apenas da produção do anticorpo cubano. "O desenvolvimento de um único produto pode consumir investimentos de US$ 200 milhões", disse.

Paraná libera licença ambiental prévia para nove PCHs

Marli Lima | De Curitiba

O governo do Paraná entregou ontem a licença ambiental prévia para nove pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e a licença de instalação para um empreendimento. Ao todo, elas somam 82,2 megawatts (MW) de potência, estão distribuídas em diversas regiões do Estado e agora dependem de aprovação da Assembleia Legislativa para a construção.
O evento de liberação das licenças concedidas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) contou com a presença de prefeitos e empresários e discursos favoráveis a investimentos em PCHs, que não receberam licenças na gestão do ex-governador Roberto Requião (PMDB), de 2003 a 2010. O presidente da Associação Paranaense de Geradores de Energia, Gustavo Brito Ribas, comemorou a mudança de rumo e acrescentou que, para cada MW, serão investidos cerca de R$ 5,5 milhões, ou aproximadamente R$ 450 milhões nos 10 empreendimentos em questão. A energia poderá ser para uso próprio das empresas ou negociadas no mercado livre.
Na segunda-feira, Requião criticou a liberação das licenças no twitter. "Richinha libera PCHs. Financiadas pelo BNDES, é melhor que pedágio e vender cocaína. Se pagam em 6 anos, negócio só para os íntimos", escreveu. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), não quis comentar a fala do adversário.
O presidente do IAP, Luiz Tarcísio Pinto, contou que há outras 150 PCHs com pedido de licenciamento em análise no Paraná. Algumas delas contam com a Copel como parceira. O presidente da estatal de energia, Lindolfo Zimmer, afirmou que a empresa tem interesse em investir em PCHs e que vai ajudar no que for possível. Segundo ele, embora o momento não seja bom em função do preço da energia, é possível encontrar um caminho para viabilizar as PCHs.
Tanto Richa como Zimmer foram questionados, no evento, sobre a compra de um avião pela Copel por R$ 16,9 milhões. A oposição diz que ele será usado pelo governo. O presidente da estatal evitou tratar do tema. O governador citou que a Cemig, de Minas Gerais, tem aviões e helicópteros e alegou que, como a Copel está investindo em outros Estados, os executivos vão precisar ser mais ágeis nas locomoções. "Se houver necessidade de eu usar, não vejo problema algum", finalizou o tucano, sobre a existência de um convênio com o governo para uso da aeronave.

FINANÇAS
Cielo e Redecard fecham acordos e inibem avanço de concorrentes

Por Aline Lima | De São Paulo

Passado um ano e meio da abertura do mercado de cartões, Cielo e Redecard estão conseguindo, na prática, barrar a entrada de novos competidores no chamado mercado de adquirência - responsável pelo credenciamento de estabelecimentos comerciais, captura, processamento e liquidação das transações de débito e crédito. A principal barreira tem sido os acordos de preferência fechados pelas duas empresas com diversos bancos fora de seus grupos de controle acionário. Ou seja, Redecard e Cielo têm prioridade para credenciar os estabelecimentos que são clientes desses bancos.
A Cielo, que tem como acionistas Banco do Brasil (BB) e Bradesco, possui acordo de preferência também com o HSBC. Redecard, empresa do Itaú Unibanco, tem parcerias com Safra e Tribanco . Já a Caixa Econômica Federal preferiu fechar um acordo simultâneo com Redecard e Cielo.
A americana Elavon fisgou uma das últimas alternativas do mercado - a Credicard, subsidiária do Citigroup - e criou com ela, em dezembro, uma "joint-venture". Além de precisar adaptar seus sistemas tecnológicos para poder operar no mercado brasileiro (o país é o único do mundo que tem o crédito parcelado sem juro, por exemplo), questão que vem contribuindo para postegar sua estreia no país, a Elavon ainda terá pela frente o desafio da baixa capilaridade do Citi no país. Procurada, a empresa não atendeu à reportagem.
Outra americana, a Global Payments, anunciou seu ingresso no mercado brasileiro há um ano, mas está à procura de um parceiro. "Os incentivos que as credenciadoras locais estão dando aos bancos para eles não entrarem no mercado de adquirência têm sido o principal obstáculo para a atuação das estrangeiras", afirma Edson Luiz dos Santos, presidente da Global Payments no Brasil.
Sobraram como opção para as novatas instituições financeiras com operações regionais ou de pequeno porte - que têm pouca capacidade de emissão de cartões, desinteressante portanto para bandeiras como Visa e Mastercard, além de pouca condição de arcar com risco de crédito elevado. Uma alternativa seria também atrair bancos que já fecharam parcerias com Cielo e Redecard com uma proposta melhor. E é por aí que as gigantes buscam se defender.
"A Global Payments fechou um acordo global com o HSBC. Por que não fez isso aqui?", questiona Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo. "Ter um banco é chave nesse processo, mas não adianta ter parceria sem proposta, e se tem alguém que sabe avaliar proposta é banco." Claudio Yamaguti, presidente da Redecard, lembra que tudo pode ser negociado. "É uma questão de preço", observa.
A Redecard apurou uma despesa líquida de R$ 28,9 milhões no terceiro trimestre de 2010 relativa a perdas com aluguel de equipamentos, ações culturais e, principalmente, incentivos para credenciamento (comissões pagas a bancos parceiros) - gasto 30,9% superior ao do terceiro trimestre de 2010. A Cielo não revela essa cifra. "A competição tornou o jogo mais duro e é natural que as empresas defendam mercado", explica Carlos Zanvettor, diretor de varejo, marketing e produtos da Redecard, em referência ao fim da exclusividade entre a Cielo e a bandeira Visa e, por tabela, da Redecard com Mastercard.
A parceria com uma instituição financeira é fundamental para uma adquirente porque, em primeiro lugar, a licença para operar com Visa e Mastercard é fornecida pelas bandeiras internacionais exclusivamente a bancos. Trata-se de uma medida prudencial, uma vez que está em jogo, em última instância, a segurança do sistema financeiro.
Ter um banco como parceiro também ajuda (e muito) na distribuição. As credenciadoras têm suas próprias equipes de vendas para colocar suas maquininhas nas lojas, mas boa parte do serviço é feita por meio da estrutura bancária. "É essencial ter distribuição bancária para ser bem sucedido nesse mercado no Brasil, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde o setor é mais pulverizado", afirma Victor Schabbel, analista do Credit Suisse.
Entretanto, até mesmo o voo solo feito pelo Santander em parceria com a processadora GetNet tem mexido pouco com o setor, até o momento. A participação de mercado do banco espanhol no setor de adquirência era de 2,1% em setembro de 2010. Na prática, portanto, Cielo e Redecard permanecem praticamente sozinhas no mercado brasileiro de pagamentos eletrônicos, após um ano e meio da abertura do mercado de cartões.
Os esforços do Santander no setor de adquirência estavam concentrados, até meados do ano passado, no pequeno varejo. A solução tecnológica do banco espanhol para atender a grandes varejistas, que trabalham com seus próprios terminais financeiros (TEF, no jargão do setor) em vez das maquininhas de captura de transações com cartões (o POS), ficou pronta apenas no segundo semestre de 2010.
Espera-se, portanto, que o Santander comece a atuar de forma mais agressiva em 2012 no credenciamento de estabelecimentos comerciais, passado o período de festas de fim de ano - época em que poucos comércios se atrevem a mudar de prestador de serviço, especialmente na área de tecnologia. Schabbel, analista do Credit Suisse, projeta uma participação de mercado de 10% do Santander até o fim de 2013. "Seria um crescimento agressivo, mas estou dando ao banco o benefício da dúvida", afirma.
Como a rede de atendimento do Santander está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, o maior desafio do banco para ganhar mercado será ampliar sua exposição ao Nordeste, onde está o maior potencial de crescimento. Em junho, os pagamentos feitos com cartões representavam 14% do consumo privado das famílias no Nordeste, ante 22% da média brasileira. "Se o Santander não se provar capaz de ganhar mercado de forma rápida, quem vai continuar se beneficiando é Cielo e Redecard", diz Schabbel. Procurado, o Santander não atendeu à reportagem.
Até 2015, o cenário traçado por Schabbel prevê Santander com os mesmos 10% de participação de mercado e outras três adquirentes estrangeiras com uma fatia total de 8%, atuando em nichos. Elavon, na visão de Schabbel, deverá focar em entretenimento, ramo no qual a Credicard é forte e já tem parcerias. Os 82% restantes do mercado de credenciamento ficariam divididos entre Cielo e Redecard, com Cielo mantendo a dianteira.
Tanto Redecard como Cielo defendem que os preços cobrados dos lojistas no aluguel das maquininhas (POS) e na tarifa de transação com cartões de débito e crédito (taxa de desconto) têm pouco espaço para cair, apesar da previsão de aumento de concorrência. Houve um forte recuo dessas duas receitas logo após a abertura do mercado, em julho do ano passado - numa guerra de preços liderada pela Redecard -, mas uma parte já foi recuperada, tanto em função de reajustes como dos volumes crescentes de transações com cartões. A evolução do preço das ações das duas empresas é emblemática da recuperação. As cotações apresentaram forte queda nos dois primeiros trimestres após a abertura de mercado, mas, depois que os investidores perceberam que ambas continuam nadando de braçada, o desempenho no mercado acionário também foi recuperado.

INVESTIMENTOS
Ganhos com crédito privado

Silvia Rosa | De São Paulo

Com a queda da taxa básica de juros (Selic) e a alta instabilidade no mercado acionário, diante das incertezas em relação aos desdobramentos da crise de endividamento na Europa, os investidores começam a olhar mais para papéis de crédito privado como opção para buscar um retorno mais elevado.
Em meio a esse cenário, os títulos privados com isenção de imposto de renda (IR) sobre ganhos para investidores pessoas físicas - como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Agrícola (LCAs) - tornam-se cada vez mais atraentes, já que oferecerem uma rentabilidade líquida superior a dos tradicionais Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
O estoque conjunto desses três papéis (CRI, LCI e LCA) cresceu 53,1% em 2011, atingindo R$ 93,856 bilhões, segundo dados da Cetip - Balcão Organizado de Ativos e Derivativos. O destaque foram as LCIs, cujo estoque saltou de R$ 29,260 bilhões em 2010 para R$ 46,832 bilhões no fim do ano passado, um crescimento de 60%. Cerca de 90% do estoque dos três títulos está hoje nas mãos de investidores pessoas físicas, afirma Andrea Moufarrege, diretora de investimento do HSBC Private Bank.
Antes concentrados entre os clientes do private banking, com aplicação mínima de R$ 300 mil na maioria das emissões, os CRIs começam a ganhar espaço no segmento de varejo. No ano passado, a Caixa realizou a primeira oferta de CRIs que contemplou esse público, em que captou R$ 232,7 milhões (aplicação mínima de R$ 10 mil). Cerca de 90% dessa colocação foi destinada ao varejo, com a participação de 1.675 investidores. O valor médio da aplicação, no entanto, foi de R$ 65 mil. Esses papéis contaram com a Caixa como formador de mercado, garantindo, assim, liquidez mínima e referência de preços para esses títulos.
O sucesso da primeira emissão abriu a possibilidade da realização de uma oferta para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), dessa vez sob regime de esforços restritos, conforme a Instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e que somou R$ 1,5 bilhão.
Por contarem com o benefício fiscal, as LCIs e as LCAs têm concorrido com CDBs, uma vez que o risco de crédito do papel está atrelado às instituições financeiras emissoras, que podem ser bancos ou companhias hipotecárias. Esses títulos também têm a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no valor até R$ 70 mil e contam com garantia de recompra pelos bancos emissores. Com essas vantagens, apenas na Brazilian Mortgages Cia. Hipotecária (BM) a emissão de LCIs cresceu 67% no ano passado em relação a 2010, somando um portfólio superior a R$ 800 milhões, afirma Vitor Bidetti, diretor da BM.
As LCIs têm como lastro créditos imobiliários já desembolsados. Na BM, a aplicação mínima é de R$ 20 mil e a rentabilidade oferecida oscila entre 85% e 95% da variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, referência para as aplicações conservadoras), dependendo do prazo e volume aplicado. Os prazos das LCIs geralmente variam de dois meses a dois anos, ou seja, são bem menores que os dos CRIs, cujo prazo médio varia de sete a dez anos. "Mesmo oferecendo uma taxa mais baixa que os CDBs, a rentabilidade líquida desses papéis chega a ser superior por conta da isenção de IR", destaca Bidetti. Além da vantagem fiscal, as LCIs ainda contam com outras estruturas que garantem maior segurança, como a alienação fiduciária.
Acessível hoje apenas para os clientes do private banking do Banco Brasil, com aplicação mínima de R$ 1 milhão, as LCAs serão distribuídas também para o segmento de varejo de alta renda do banco, o Estilo, a partir deste ano. "Estamos desenvolvendo um sistema que irá permitir colocar emissões com "tickets" menores", explica Osvaldo Cervi, gerente-geral do private banking do BB, que detém 62% do mercado de crédito ao agronegócio, que soma R$ 83 bilhões.
Só no segmento de private banking do banco, as aplicações em LCAs saltaram de R$ 250 milhões em dezembro de 2010 para R$ 6 bilhões em 2011. O prazo mínimo de investimento no papel é de 90 dias, mas o prazo médio das emissões do BB é de 180 dias. Quanto mais longo o vencimento, maior o prêmio oferecido. Os papéis com vencimento em 90 dias oferecem uma taxa de 85% do CDI, enquanto títulos acima de um ano chegam a pagar um rendimento de 1% a 2% acima do CDI. "Os investidores terão que abrir mão de liquidez se quiserem ter um retorno melhor", diz Cervi, do BB.
Apesar de ter uma carteira ainda pequena de crédito imobiliário, o banco também pretende oferecer LCIs para os clientes do varejo de alta renda. "Há apetite para investimentos em crédito privado, com os investidores buscando diversificar o risco", diz Cervi.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), do total de R$ 144 bilhões em títulos de crédito privado dos clientes private, 15% estão alocados em LCIs, 10,5% em LCAs e 2,5% em CRIs. No total, os títulos de crédito privado respondem por 30% dos recursos sob gestão no segmento de private banking.
Para os bancos, as emissões de LCAs e LCIs têm sido uma alternativa de captação de recursos para as operações de crédito imobiliário e agrícola, que são tipicamente financiadas com recursos da poupança. Isso porque esses papéis são isentos de recolhimento de compulsório de 25% sobre seu valor - e também estão liberados da cobrança 0,2% sobre cada operação ao FGC e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "A carteira do agronegócio tem crescido acima da captação da poupança", afirma Cervi, do BB.
No caso do crédito imobiliário, como a legislação obriga os bancos a aplicar 65% do que é captado via caderneta de poupança em financiamento habitacional, as instituições acabam emitindo as LCIs quando a carteira de crédito imobiliário é maior que o volume destinado para cumprir essa exigência.
Já o crescimento das emissões de CRIs, que contam com um prazo de investimento mais longo, depende do desenvolvimento do mercado secundário de renda fixa, fundamental para trazer maior liquidez a essas operações. Os executivos, no entanto, acreditam que o mercado de securitização tem muito espaço para crescer como opção alternativa para o financiamento à habitação, que deve atingir de 7% a 8% do PIB, segundo previsão da Caixa.


Liminares liberam emissão de nota fiscal

Adriana Aguiar e Bárbara Pombo | De São Paulo

Pelo menos três empresas, que começaram o ano surpreendidas com a medida da Prefeitura de São Paulo de bloquear a nota fiscal eletrônica de devedores do ISS, já obtiveram liminares para retomar seus negócios. Pelas decisões, a administração municipal deve liberar a emissão do documento. Os juízes consideraram, em todos os casos, que o Fisco tem outros meios previstos em lei para cobrar os débitos fiscais, e não poderia coagir os contribuintes a pagar suas dívidas dessa forma.
A restrição aos contribuintes inadimplentes está na Instrução Normativa (IN) nº 19, da Secretaria de Finanças, publicada em 17 de dezembro. A norma entrou em vigor no dia 1º. Como não conseguiu emitir sua primeira nota fiscal do ano, a Rhesus Medicina Auxiliar decidiu ir imediatamente ao Judiciário. No dia 4, mesmo dia que entrou com um mandado de segurança, teve seu pedido deferido pelo Plantão Judiciário Cível da Capital. O juiz Fábio Coimbra Junqueira entendeu que a medida instituída pela prefeitura "constitui grave ofensa a direito líquido e certo da empresa, o que não se pode admitir".
De acordo com a decisão, ainda que a companhia tenha dívidas de ISS, o município teria outros meios jurídicos previstos na Lei de Execução Fiscal para cobrar o contribuinte. A prefeitura já foi intimada da decisão, mas segundo os advogados da companhia, Fernando de Luizi e Frederico Loureiro, da Advocacia De Luizi, a situação ainda não foi normalizada. Enquanto isso, munida da liminar, a empresa tem emitido notas fiscais em papel. "A Fazenda não pode impedir as empresas de exercer suas atividades com sanções políticas. Há jurisprudência consolidada no Supremo Tribunal Federal (STF) nesse sentido", afirma Luizi. O tema foi tratado em três súmulas da Corte (70, 323 e 547).
Com uma autuação de R$ 1,5 milhão de ISS, a H2M Soluções também decidiu ir à Justiça e obteve liminar para voltar a emitir notas fiscais eletrônicas. A empresa do setor de informática foi fiscalizada e autuada no dia 27 de dezembro por supostas irregularidades no recolhimento do imposto entre 2006 e 2010. Na decisão, a juíza Marcia Helena Bosch levou em conta que a autuação apontou "recolhimento com alíquota menor do tributo, e não inadimplência". Segundo o advogado da empresa, Ricardo Chiarioni, da Advocacia Chiarioni, a emissão foi bloqueada durante o prazo para apresentação de defesa na esfera administrativa. "A medida complicou a vida da empresa. Os clientes e fornecedores não queriam mais fazer negócios", afirma o advogado, acrescentando que a prefeitura já cumpriu a determinação judicial.
Inadimplente há mais de quatro meses, uma empresa do setor de telecomunicação foi obrigada a ir à segunda instância da Justiça paulista para obter uma liminar. A desembargadora Vera Andrisani, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), reformou a decisão de primeiro grau por considerar que a Constituição Federal garante a livre prática de atividades econômicas e a liberdade do exercício profissional. Além disso, citou jurisprudência pacífica que impede a adoção desse tipo de medida. "Existem outros meios coercitivos para o adimplemento tributário", diz a juíza. A Prefeitura de São Paulo cumpriu a determinação judicial um dia após a decisão ser proferida, em 6 de janeiro.
O advogado da empresa de telecomunicações Flávio Maschietto, do Maschietto Sociedade de Advogados, sustenta que a medida coloca em risco a continuidade das atividades do devedor. "Sem a emissão da nota fiscal, o devedor não terá receita, o que o impedirá de honrar a folha de salários, encargos e os demais tributos e fornecedores", afirma. Procurada pelo Valor, a Prefeitura de São Paulo informou que vai recorrer das decisões.
Pela Instrução Normativa nº 19, estará impedido de emitir a Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e) quem deixar de recolher o ISS por quatro meses consecutivos ou por seis meses alternados durante um ano. Para voltar a imprimir a nota, o contribuinte não poderá ter mais de três meses seguidos em aberto ou cinco meses alternados. De acordo com a norma, os estabelecimentos que contratarem serviços de empresas com autorização suspensa deverão preencher a Nota Fiscal Eletrônica do Tomador/Intermediário de Serviços (NFTS), reter na fonte e recolher o ISS devido.

AGRONEGÓCIOS
Até agora, seca na Argentina afeta mais soja do que milho

Cesar Felício | De Buenos Aires

A indústria de soja da Argentina já projeta redução da ordem de 2 milhões de toneladas na produção do grão do país nesta safra (2011/12) em relação à colheita passada, em função da seca que atinge há semanas alguns dos principais polos locais. Na cadeia do milho, há mais otimismo e permanece a aposta em um ligeiro crescimento da produção neste ano, ainda que o mercado internacional também acredite em quebra nessa frente.
"O panorama inicial de se chegar a uma safra de 52 milhões de toneladas tornou-se utópico, impossível. É mais razoável se pensar em 48 milhões de toneladas", afirmou o presidente da Associação da Cadeia da Soja Argentina (ACSoja), Miguel Calvo. No ciclo passado, lembra Calvo, a produção foi de 50 milhões de toneladas de grão. Há alguns meses, a previsão era de colheita 5% maior em 2011/12.
"É razoável se pensar em uma queda da colheita porque o plantio está atrasado em função da seca. Estamos com 84% da área plantada. Ainda há um espaço para continuar o plantio, mas haverá perdas de pelo menos 10% na produtividade do plantio mais antigo", disse Calvo. Houve chuvas nas regiões produtoras nos últimos dias, com precipitações entre 6 e 15 milímetros, mas o volume ainda é insuficiente para sanar possíveis perdas.
No caso do milho, as previsões mais otimistas eram de um crescimento na produção de 23 milhões para 27 milhões de toneladas. Como há uma possibilidade de se estender o plantio por mais um mês e havia uma projeção de grande expansão na área plantada, ainda é difícil dimensionar eventuais perdas. "Atingir 27 milhões não é inalcançável, mas é mais razoável pensar em uma expansão de 10% em relação ao ciclo passado", comentou o diretor da Associação do Milho e do Sorgo Argentino (Maizar), Martín Fraguío.
De acordo com Fraguío, já foram semeados 4 milhões de hectares, área quase equivalente aos 4,2 milhões de hectares da safra passada, e ainda falta semear 1 milhão de hectares. Tanto Fraguío quanto Calvo lembraram que o cenário desta safra não é muito diferente do observado no ciclo passado, quando janeiro começou com um quadro prolongado de estiagem. O ritmo de chuvas ao longo do ano, contudo, fez com que não houvesse perdas na produção. "Tudo dependerá do ritmo de precipitação nos próximos dez dias", afirmou Calvo.
Hoje, os produtores de grãos do país devem ter uma reunião para discutir a seca com o ministro da Agricultura, Norberto Yauhar. Os produtores aproveitam a situação de seca para pedir a revisão do imposto sobre as exportações, conhecido no país como retenções. As exportações de soja são taxadas atualmente em 35%. Em entrevistas recentes, porém, o ministro argentino já colocou em dúvida a gravidade da seca atual.
A Argentina é o terceiro maior exportador de soja em grão do mundo, depois de EUA e Brasil, e as exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo) respondem por cerca de 40% do total vendido pelo país ao exterior.

Preços caem em Chicago

Gerson Freitas Jr. e Fernando Lopes | De São Paulo

Ainda que não tenham sido suficientes para melhorar as condições das lavouras argentinas de soja, as poucas chuvas que caíram recentemente na Argentina foram apontadas com determinantes para a queda das cotações do grão ontem na bolsa de Chicago.
Em curva ascendente desde o fim da primeira quinzena de dezembro por causa da atuação do La Niña no sul da América do Sul, os contratos com vencimento em março recuaram 29 centavos de dólar, para US$ 12,32 por bushel. Desde 12 de dezembro, quando o "fator La Niña" começou a pesar com mais força em Chicago, a alta acumulada ainda é de 7,75%, segundo o Valor Data.
Já consciente das chuvas, o banco Barclays Capital, de Londres, reduziu em 12% sua estimativa para a produtividade das plantações argentina de soja. A preços correntes, a instituição estima que o país perderá US$ 4,1 bilhões em exportações. (Com Dow Jones Newswires)

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