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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

06 de janeiro de 2012 - ZERO HORA


PRIMEIRA PÁGINA
Em estado de seca

Prejuízo chega a R$ 877 milhões

Conforme a Emater, as lavouras de milho são as mais afetadas, principalmente nas Missões, no Planalto Médio e no Vale do Taquari

Verba para segurança não chega ao Piratini

Governo fica sem verba do Pronasci

Sob a gestão de Dilma, programa de combate à violência lançado por Lula não destinou nenhum real ao Piratini em 2011

COLUNAS
Brasília :: Carolina Bahia

Com Kelly Matos

Abafa o caso
Dilma Rousseff desembarcou em Brasília mais cedo para administrar a primeira crise política do ano. Não interessa ao Planalto um mal-estar com o PSB, aliado que comanda seis Estados, tem 31 deputados federais e é liderado pelo governador Eduardo Campos (PE). Irritado, Campos exigiu do governo apoio ao ministro Fernando Bezerra (Integração), apesar de sua inoperância. A legenda se sentia tão fortalecida, que almejava ampliar espaço na Esplanada. Afinal, havia passado incólume pelos escândalos que derrubaram ministros de PT, PMDB, PR e PC do B. Mas 2012 chegou, expondo socialistas envolvidos em artimanhas eleitoreiras. O PSB, agora, briga para manter suas pastas: Integração e Portos. Dilma pode até descartar Bezerra, mas não deixará o partido no sereno.

Superpoderosa
A Casa Civil começa o ano assumindo que virou de vez um superministério. É Gleisi Hoffmann quem puxa orelha de ministro, liga para governador e cobra relatórios. Agora, sim, virou a Dilma da Dilma.

PARA CONFERIR ali adiante
Socorro - Após conversar por telefone com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, decidiu anunciar até amanhã o pacote com medidas de socorro aos municípios gaúchos castigados pela estiagem. Em Porto Alegre, Mendes passou o dia, ontem, em reuniões para concluir o levantamento sobre as perdas nas lavouras.

Agora vai
Alquebrado depois das deserções para o PSD, o DEM lançará em breve um programa de reestruturação. Uma das premissas é se descolar do PSDB e apresentar candidatura à presidência em 2014, apostando no senador Demóstenes Torres (GO).
– O tempo de ser bengala já passou – decreta o gaúcho Onyx Lorenzoni (foto), secretário-geral do DEM.

Inspiração
Quer saber que livro faz a cabeça do presidente do Banco Central? Em voo recente de Porto Alegre para Brasília, Alexandre Tombini concentrava-se na leitura de O Último Teorema de Fermat, de Simon Singh. A obra narra uma busca épica para resolver o maior problema matemático de todos os tempos.

POLITICA
Governo fica sem verba do Pronasci
Sob a gestão de Dilma, programa de combate à violência lançado por Lula não destinou nenhum real ao Piratini em 2011

Criado pelo governador Tarso Genro quando era ministro da Justiça, em 2007, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) fechou 2011 sem repassar diretamente nenhum real ao governo do Rio Grande do Sul. No fim do ano passado, o Piratini chegou a comemorar a liberação de R$ 25 milhões para o combate à violência, mas, até ontem, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), o dinheiro permanecia longe do Tesouro estadual.
A situação de penúria do Pronasci não se restringe ao Estado. Em todo o país, desde 2009, o valor repassado pela União vem caindo. Em 2011, apenas 32,3% do recurso previsto foi depositado.
Nos corredores do Palácio do Planalto, o programa é dado como morto – embora a cúpula do governo negue. Desde que assumiu o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo vem batendo na mesma tecla: em tempos de crise, as prioridades mudaram. Passaram a ser o controle das fronteiras, o combate ao crack e a modernização do sistema penitenciário.
– Desde o início, o Pronasci foi mais propaganda do que ação, com algumas exceções pontuais. Nunca deslanchou – avalia o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.
Opositores identificam no enfraquecimento da iniciativa – gestada no governo Lula – uma mudança de eixo na política de segurança pública. Disposta a criar uma marca própria, a presidente Dilma Rousseff teria decidido apostar em outras frentes, relegando a segundo plano o programa vinculado a Tarso Genro.
– Os petistas são bons criadores de slogans, mas não sabem executar projetos – afirma o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
A debilidade do Pronasci é vista com preocupação pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que integra o Conselho Nacional de Segurança Pública. Para a assessora política da ONG, Eliana Graça, apesar de todos os problemas, o programa é considerado um avanço. Quem perde com sua ruína, afirma ela, é o Brasil.
– É o mais completo programa já apresentado na área. E mais do que isso: é uma lei. E lei não se joga fora – diz Eliana.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
JULIANA BUBLITZ

Ofensiva do PSB preocupa aliados
Liderada por governador do PE, partido pretende ampliar número de prefeituras no Sul e no Sudeste

Com um olho nas eleições municipais deste ano e outro nas presidenciais de 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, traçou uma estratégia pragmática para ampliar a inserção do PSB no Sul e no Sudeste no pleito de outubro. O objetivo é projetar o partido como uma força política do país. Para tanto, Campos pretende fechar alianças que vão do PT ao PSDB, a depender do cenário eleitoral.
Apontado como um dos nomes que podem disputar a eleição presidencial em 2018, Campos quer ampliar de 314 para 500 o número de prefeituras administradas pelo PSB, partido que preside. Em 2004, a sigla conquistou apenas 176 cidades.
Campos dedicou-se nos últimos 45 dias a tentar restabelecer a unidade do partido. O principal gesto pacificador foi oferecer a Secretaria de Relações Institucionais do PSB ao ex-ministro Ciro Gomes, até então o principal foco de dissidência. Por trás da ofensiva também está a intenção do presidente do PSB de se fortalecer perante o PT em 2014, como eventual vice numa chapa com Dilma Rousseff – o que significará uma rasteira no PMDB, hoje o principal parceiro dos petistas.
Campos costurou rede de prefeituras pelo Nordeste: 205 das 314 das administrações ficam na região. As aspirações eleitorais do PSB colocaram em alerta o PMDB e o próprio PT. A cúpula petista acompanha os movimentos de Campos. A avaliação é de que, até agora, as estruturas do PSB no Sul e no Sudeste dependem exclusivamente da força dos governos estaduais – o que limitaria o crescimento da legenda. Os socialistas compõem as bases de apoio aos governadores nos quatro Estados do Sudeste e três do Sul.

Mercadante admite assumir MEC

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, começa a admitir publicamente a possibilidade de trocar de endereço na Esplanada dos Ministérios e se tornar o novo titular da Educação na vaga de Fernando Haddad, que deve sair do governo ainda neste mês para se candidatar a prefeito de São Paulo.
Mercadante participou ontem do programa de rádio Bom Dia, Ministro. Ao ser perguntado sobre a eventual ida para o MEC e seus planos para a área, o ministro não afastou a possibilidade:
– Tenho visto todas essas informações na imprensa, mas vamos aguardar a reforma ministerial. Eu prometo a você que, se isso acontecer, e é possível que aconteça, eu estarei aqui à disposição e nós poderemos discutir a pasta da Educação.
Cauteloso, Mercadante lembrou que a nomeação "só vale depois que estiver no Diário Oficial"" e lembrou que "quem indica ministro é a presidente da República"".

Dilma de volta à rotina no Planalto
Presidente acompanhará de perto ações contra prejuízos da chuva e crise envolvendo ministro

Chegou ao fim, na tarde de ontem, o período de descanso da presidente Dilma Rousseff na Base Naval de Aratu, na Praia de Inema, em Salvador, a cerca de 40 quilômetros do centro da capital da Bahia. A presidente, que havia chegado ao local com a família na tarde de 26 de dezembro, deixou as instalações da Marinha em um helicóptero, por volta das 14h30min.
Apesar de assessores do Planalto afirmarem que a antecipação do descanso de Dilma – ela pretendia voltar à Capital Federal somente na próxima terça-feira – já era avaliada desde a semana passada, o retorno a Brasília deve fazer com que a presidente acompanhe mais de perto as ações do governo federal para combater os prejuízos causados pelas chuvas no Sudeste. De volta ao trabalho no Palácio do Planalto, Dilma também vai acompanhar de perto um novo foco de crise na Esplanada. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, é criticado por ter concentrado verbas para prevenção de desastres naturais em seu Estado natal, o Pernambuco. Em obras novas, iniciadas em 2011, o Estado do Nordeste concentrou quase 90% dos gastos da pasta destinados a esse fim, revelou levantamento feito com base em registros do Tesouro Nacional e pela ONG Contas Abertas.
Menos de duas horas depois de chegar a Brasília, a presidente reuniu-se, no Palácio da Alvorada, com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o secretário executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos. Num encontro de cerca de uma hora, Gleisi relatou providências que estão sendo tomadas para reduzir o impacto das enchentes em Estados como Minas e Rio de Janeiro. Ela falou também da crise aberta na Integração Nacional. Antes do encontro com Dilma, Gleisi teve uma reunião com Bezerra.

Retiro discreto
- A passagem de Dilma pela base naval foi a mais discreta da história dos descansos presidenciais no local. No fim de 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, recém-reeleito, chegou a deixar as instalações militares para conversar com populares na praia vizinha, de São Tomé de Paripe – separada da de Inema pelo muro que delimita a base.
- Nas três passagens pelo local, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não chegou a sair da base naval por terra, mas foi frequentemente visto com convidados e familiares na faixa de areia e no mar.
- Por sua vez, Dilma foi vista por fotógrafos, cinegrafistas e curiosos apenas duas vezes. A primeira, no fim da tarde de seu primeiro dia no local, quando foi à areia da praia com a filha e o genro e bebeu água de coco. A segunda, na manhã do dia 29, quando apareceu praticando uma caminhada, acompanhada por dois seguranças.
- Conforme prestadores de serviços da base, a presidente manteve uma rotina diária de caminhadas matinais até o réveillon. Nos últimos dias, teria ficado apenas descansando dentro da residência oficial da base, e acompanhando, por telefone, informações sobre as enchentes no Sudeste.

Proposta deve baratear custo de smartphones

A ideia de estender os benefícios fiscais dos tablets para a produção de smartphones deve acelerar a instalação de fábricas de empresas multinacionais no país, a exemplo da Huawei e da Alcatel One Touch. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que vai apresentar nos próximos dias a proposta de desoneração aos ministérios de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento. O objetivo do governo é que os aparelhos fiquem 25% mais baratos.
– Queremos incentivar a produção nacional de smartphones. Nas classes C, D e E, o maior sonho de consumo é ter celular com internet. Então nós precisamos baratear esses produtos – ressaltou Bernardo.
O ministro apontou que há smartphones sendo vendidos no mercado por R$ 200, mas esse valor cairia para R$ 150 com o benefício fiscal:
– Poderíamos estimular fortemente a internet móvel. A maioria das pessoas já tem celular. Com preços mais baratos, elas trocariam o aparelho por um que tenha internet.
As empresas ficaram animadas com a proposta do governo. Marcelo Najnudel, gerente de marketing da área de terminais da Huawei no Brasil, disse que essa medida pode acelerar a decisão da empresa de ter uma fábrica no Brasil:
– Obviamente, as empresas querem uma fatia maior do mercado brasileiro. Esperamos que os incentivos dos tablets sejam estendidos para os smartphones.


Lula faz nova sessão de radioterapia em SP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem a segunda sessão de radioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele trata um câncer na laringe, diagnosticado em outubro. Lula foi avaliado por um fonoaudiólogo e um dentista.
Em até sete semanas, o ex-presidente deverá receber entre 30 e 35 sessões, que ocorrerão de segunda à sexta-feira. Ele não deve ficar internado durante o período. No hospital, recebeu a visita do ministro Fernando Haddad (Educação).



Aluguel em Porto Alegre sobe 2,5 vezes a inflação
Especialista aponta que o forte reajuste na locação decorre do aumento da renda e da demanda

Alugar casa ou apartamento em Porto Alegre ficou mais caro ao longo de 2011. De janeiro a novembro, os preços dos imóveis para locação cresceram 13,2% na Capital. É mais do dobro do IGP-M, índice de referência para renovação de aluguéis, que subiu 5,22% no período.
O panorama anual do setor, que será divulgado na próxima semana pelo Secovi-RS, sindicato da habitação no Estado, deve apontar elevação consolidada de até 15% no ano. Será a maior alta no preço da locação em cinco anos.
– A valorização é um reflexo do aquecimento da economia, que gera mais renda à população e a estimula a buscar melhores moradias. Com isso, os preços dos aluguéis estão pressionados – explica Moacyr Schukster, presidente do Secovi/RS.
A crescente migração de executivos entre as capitais, percebida por Schukster como tendência na qual Porto Alegre está inserida, também aumenta a procura por residências provisórias. Outra explicação está na escassez de unidades oferecidas para aluguel, movimento que permaneceu estável por anos.
– Depois da nova Lei do Inquilinato (em vigor desde janeiro de 2010), muitos proprietários se sentiram seguros para colocar seus imóveis para alugar, mas a oferta ainda é baixa – afirma Schukster.
Os reajustes mais intensos foram verificados em apartamentos de um a três dormitórios e casas de três dormitórios. Nos apartamentos com dois quartos, os mais procurados, a variação média foi de 34,88%.
Apesar da expressiva alta acumulada, o preço dos aluguéis teve leve recuo. Em outubro e novembro, houve redução pela primeira vez desde fevereiro, de 0,65% e 0,29%, respectivamente. Mas Schukster prevê elevação nos dados de dezembro, ainda não fechados. Para 2012, a tendência é de estabilização.
– As notícias de crise econômica desencorajam as pessoas a fazer grandes mudanças, como alugar uma moradia – explica.
erik.farina@zerohora.com.br
ERIK FARINA

Cesta básica avança 9,80% na Capital

Apenas uma de 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou queda do preço médio da cesta básica em 2011: Natal, com variação negativa de 3,38% no acumulado do ano. Em Porto Alegre, o avanço ficou em 9,80%. São Paulo encerrou o ano como a capital com a cesta básica mais cara do país, com preço médio de R$ 277,27. Porto Alegre está em segundo, com R$ 276,86.

Estrangeiros de olho em siderúrgicas

Inicialmente controlado pelo Estado, o setor de aço hoje está concentrado em cinco grandes grupos, que detêm mais de 90% da capacidade do mercado. Dos cinco, três têm empresas estrangeiras como principais controladoras. O movimento deve continuar em razão do interesse de grupos da Índia, China e Europa.
– O que mais tenho ouvido é que o Brasil é o país do futuro, então vamos colocar nossas plantas lá, porque vai haver consumo – diz o presidente da ArcelorMittal Aços Longos América do Sul, Augusto Espeschit.

Brasileiros compram muito lá fora
O Banco Central estima que, em 2011, turistas de todo o Brasil gastaram mais de US$ 20 bilhões em viagens internacionais

Joias, iPads, produtos de beleza, roupas e carrinhos de bebê estão na lista de compras de brasileiros no Exterior. Impulsionados pela força da economia e do real, os brasileiros fazem jus à fama de consumistas e viajam e gastam como nunca, com os Estados Unidos e a França entre os destinos favoritos.
O crescente avanço social dos brasileiros – quase 30 milhões ascenderam à classe média nos últimos 10 anos –, o aumento da renda e do crédito e a queda do desemprego contribuíram para mais viagens e gastos recordes no Exterior. Os destinos favoritos são Estados Unidos (Flórida e Nova York), Buenos Aires e Paris, aponta o diretor do Departamento de Estudos do Ministério do Turismo, José Francisco Salles Lopes.
Em 2010, 1,1 milhão de brasileiros viajaram para os EUA, 870 mil para a Argentina e 384 mil para a França. A lista de preferências continua com Portugal, Itália e Espanha. E os brasileiros não apenas viajam, mas gastam muito.
Com US$ 5,9 bilhões de dólares desembolsados nos EUA em 2010, conforme o Departamento de Comércio americano, são os estrangeiros que mais gastam per capita no país: quase US$ 5 mil por pessoa. O Banco Central estima que, em 2011, os brasileiros gastaram mais de US$ 20 bilhões em viagens internacionais, 22% a mais que em 2010.
Um pediatra do Rio de Janeiro de 47 anos que não quis se identificar para evitar problemas com a alfândega, viaja para os EUA cerca de duas vezes por ano e chegou de Boston recentemente. Trouxe mais de 40 pacotes de itens comprados pela internet e enviados para o hotel por sua filha de 14 anos.
Rio de Janeiro

Portugal sugere emprego no Brasil

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, sugeriu que professores portugueses desempregados emigrem para países como Brasil e Angola. As declarações causaram enorme celeuma em Portugal, que vive uma das maiores crises de sua história.
Em entrevista ao jornal Correio da Manhã em 18 de dezembro, Passos Coelho afirmou que os professores "excedentes" de Portugal deveriam procurar emprego "em Angola e não só. O Brasil tem também uma grande necessidade no ensino básico e secundário." E acrescentou:
– Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm, nesta altura, ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos.
Para não deixar dúvidas de que estava realmente incentivando a emigração, completou:
– Nos próximos anos, haverá muita gente em Portugal que, querendo manter-se sobretudo como professor, pode olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa.
Questionado sobre o bom senso de se incentivar o êxodo de mão de obra qualificada do país, Passos Coelho não recuou – disse ter como princípio falar a verdade e não iludir os portugueses.
Paulo Rangel, um dos líderes do PSD, o partido do primeiro-ministro, foi além: deveria ser criada uma agência governamental para ajudar os portugueses que queiram emigrar por não encontrarem trabalho em Portugal.
Isso em um país que tem um dos piores níveis de escolarização da Europa. Segundo o relatório do Desenvolvimento Humano de 2011, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a escolarização média da população de Portugal com mais de 25 anos era de 7,7 anos, enquanto na Grécia e na Itália era de 10,1 anos. Na Alemanha é de 12,2 anos e nos Estados Unidos, de 12,4.
Os professores, irados, mandaram Passos Coelho fazer as malas e se mudar do país. O desânimo em Portugal é generalizado. O governo cortou salários e adicionais de férias e Natal dos funcionários públicos. O setor privado, da mesma forma, está negociando reduções de salários com os funcionários.

CAMPO E LAVOURA
Controle reforçado no RS

Nas quatro barreiras fixas montadas onde há balsas que fazem a travessia entre o Estado e a Argentina pelo Rio Uruguai, Porto Soberbo, em Tiradentes do Sul, merece atenção especial. É o único local em que a Secretaria da Agricultura faz a desinfecção de veículos que entram no Rio Grande do Sul, como forma de diminuir o risco da reintrodução do vírus da febre aftosa, após o Paraguai confirmar novo surto.
Dos pontos de atracação de balsa, Porto Soberbo é o que fica mais ao norte na fronteira com a Argentina. Por isso, é o mais próximo do Paraguai.
– Desinfetamos veículos de brasileiros que vão à Argentina e ao Paraguai fazer compras e de paraguaios que vêm ao Estado a turismo – explica o veterinário Marcelo Göcks, do Serviço de Doenças Vesiculares da Secretaria da Agricultura.
Enquanto o Estado e o país tentam se proteger, no Paraguai cresce a pressão pela demissão do presidente do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal, Daniel Rojas. Natural de Santa Rosa, Alfeu Lui, 56 anos, é pecuarista e agricultor em Santa Rita, no departamento de Alto Paraná, no Paraguai. Assegura existir fiscalização onde produz, mas admite que o panorama muda mais ao norte do país, como no departamento de San Pedro, onde surgiram os focos, e na região do Chaco, considerada problemática.
– Aqui na nossa região a coisa é séria. Se vacina. Nas outras regiões, eu não sei. Não adianta só comprar a vacina e ter a nota. Tem de vacinar – disse Alfeu, em entrevista por telefone à Zero Hora.
Segundo o produtor, há problemas como falta de estrutura de pequenos pecuaristas e dificuldade de fiscalizar as regiões ermas.

Prejuízo chega a R$ 877 milhões
Conforme a Emater, as lavouras de milho são as mais afetadas, principalmente nas Missões, no Planalto Médio e no Vale do Taquari

Com a quebra da safra de grãos, causada pela seca que atinge o Estado, os prejuízos diretos nas lavouras já ultrapassam os R$ 877,9 milhões. Até ontem, 72 municípios gaúchos haviam decretado situação de emergência em razão da falta de chuva.
A seca que colocou novamente o Estado em alerta levou a Emater a reavaliar a estimativa inicial para a safra dos grãos de verão – milho, feijão e soja. O maior prejuízo contabilizado até agora é constatado nas lavouras de milho. Conforme dados coletados na segunda quinzena de dezembro, a cultura já registra uma perda consolidada de 25,17% em relação à previsão inicial.
A redução no rendimento médio do milho, conforme a Emater, chega a 37% nas Missões, 35% no Planalto Médio e 30% no Vale do Taquari. Levando em conta a redução da produção estimada e a cotação atual dos preços, os prejuízos ultrapassam os R$ 568 milhões somente nas lavouras de milho – sem contar as perdas indiretas na cadeia produtiva, como fretes, insumos e mão de obra.
Os prejuízos são contabilizados também nas lavouras de feijão que, na primeira safra, apresentam queda de 11,43% em relação à estimativa inicial.
– O milho e o feijão foram os mais atingidos porque o percentual de lavouras em fases de floração e enchimento de grãos foi expressivo em dezembro – frisou o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus.
Se a falta de chuva persistir nas próximas semanas, as estimativas tendem a piorar, tendo em vista que a partir de agora começa um período crítico para a soja. Até o final do mês, cerca de 40% das lavouras do cereal entrarão no período de floração, fase extremamente sensível à falta de umidade no solo.
– Algumas variedades de soja estão florescendo, por isso a chuva é fundamental – acrescentou o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro), Rui Polidoro Pinto, ressaltando que levantamento aponta para um prejuízo de R$ 1,5 bilhão, se levado em conta perdas indiretas, como frete e insumos.

Mais de 375 mil pessoas afetadas em todo Estado
A falta de chuva no Rio Grande do Sul já afeta mais de 375 mil pessoas, de acordo com números da Defesa Civil. Segundo projeção do governo do Estado, entretanto, a abrangência dos efeitos da falta de chuva deve ser ainda maior e pode alcançar 200 municípios, em diferentes áreas. Na Região Central, por exemplo, o Rio Vacacaí transformou-se em um pequeno córrego.
Ontem, a comissão composta por 19 órgãos e instituições confirmou a estratégia de colocar o Estado em situação de emergência por meio de um decreto único. Hoje será decidido se o documento será feito de forma totalmente conjunta ou por regiões.
Em Santa Catarina, mais de 130 municípios sofrendo com a seca e 44 decretaram situação de emergência.
joana.colussi@zerohora.com.br
JOANA COLUSSI

Falta de chuva traz temor de seca igual à de 2005

A persistente falta de chuva que aflige os gaúchos transformou o que era estiagem em seca.
Em meio à série de decretos de emergência de municípios atingidos pela ausência de água para irrigar lavouras e ao baixo nível de rios em diferentes regiões do Estado, a meteorologia confirma que o clima cruzou uma barreira preocupante no Rio Grande do Sul.
Um período de mais de 40 dias sem chuva já pode ser classificado como seca, segundo a meteorologista Estael Sias, da Central de Meteorologia. Ela explica que, ainda que os registros das estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), espalhadas por 21 cidades gaúchas, apontem chuva isolada ao longo de dezembro, pontos das regiões Centro, Noroeste e Norte cruzaram o mês sem precipitação alguma.
– O Estado tem quase 500 municípios e, com certeza, os mais afetados contabilizam um período mais prolongado de ausência de chuva – pondera a meteorologista.
É o caso de cidades como Salvador das Missões, onde a última chuva ocorreu em outubro, causando perdas consideráveis nas lavouras de milho e de fumo. Ou do município de Trindade do Sul, no Norte, onde algumas localidades não veem água cair do céu há pelo menos dois meses. O problema se acentuou em todas as regiões nas últimas semanas:
– São quatro meses de pouca chuva. É preciso lembrar que a chuva que ocorre desde a primavera é muito isolada. Mesmo o que foi registrado pelo Inmet foi muito isolado.
Para atenuar o preocupante cenário de seca seria preciso uma sequência de, pelo menos, quatro ou cinco dias de chuva, o que não ocorre desde outubro em todas as regiões.
– Assim, mesmo que fosse chuva fraca, o solo começaria a reagir. Não adianta chover 50mm em um único dia e depois parar – explica Estael.
Até mesmo cidades que registraram chuva em dezembro devem se manter em alerta para o risco de seca. Em Santa Maria, na Região Central, por exemplo, choveu pouco mais de 13 mm ao longo de todo o mês. Já em Rio Grande, no Sul, a chuva chegou a apenas 31% da média esperada nos últimos quatro meses.
A volta da seca ao Estado provoca o temor de que se repitam os prejuízos registrados no verão de 2005. Ao todo, 447 municípios decretaram situação de emergência naquele ano, em que a seca tirou pelo menos 6,3 milhões de toneladas da safra do Estado – consideradas apenas as quatro principais culturas de verão: soja, milho, arroz e feijão. Foram cerca de 9,5 milhões de gaúchos torturados pela falta de chuva.

Estiagem x seca
- Um período de 10 dias sem chuva já pode ser considerado estiagem
- Um período mais longo sem precipitações, a partir de 40 dias, pode ser considerado seca
Fonte: Fonte: Estael Sias, Central de Meteorologia

Consumo aumenta em todo o país

O consumo de energia medido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) subiu 3,4% em 2011 no país, de acordo com dados preliminares, depois de ter registrado em dezembro alta de 3,2% sobre igual mês de 2010. Na comparação com novembro, quando geralmente registra queda, a variação do consumo ficou positiva em 1,4%.
"O pequeno aumento do nível de utilização da capacidade instalada pela indústria em relação à verificada em novembro, conforme divulgação da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi um dos fatores que contribuíram para o desempenho da carga de energia no mês de dezembro", informou o ONS.
O subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que concentra a maior parte do parque industrial brasileiro, registrou o menor incremento no consumo de energia em dezembro. O maior crescimento no mês passado foi registrado no Norte, seguido pelo Sul.

2 milhões atingidos em Minas

A chuva que afeta o Rio atinge outros Estados do Sudeste, como Espírito Santo e Minas Gerais. Em Minas, pelo menos 87 municípios estão em situação de emergência e mais de 2 milhões de pessoas teriam sido afetadas por tempestades, segundo a Defesa Civil. Oito pessoas morreram e uma estava desaparecida até ontem.
Somente depois de a União reconhecer a situação de emergência, os recursos do governo federal poderão ser liberados para as cidades atingidas. O Exército deverá ajudar a construir um ponte provisória sobre o Rio Pomba, em Guidoval. O município de 7 mil habitantes registrou duas mortes, e foi um dos mais atingidos na zona da mata mineira. Caminhões com cestas básicas, colchões, água potável e cobertores foram enviados para a região. O Estado tem quase 10 mil desalojados, em casas de amigos ou parentes, e 512 desabrigados, em abrigos das prefeituras.

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