PRIMEIRA PÁGINA
Dilma reage a ministro que fez uso político de verba
antienchente
A presidente Dilma Rousseff ordenou ontem a adoção de
critérios técnicos na distribuição de recursos do Ministério da Integração para
o combate a enchente, no dia em que o Estado revelou que 90% dessa verba estava
sendo canalizada para Pernambuco, Estado de origem do ministro Fernando Bezerra
Coelho. A pedido de Dilma, a ministra Gleisi Hoffman (Casa Civil) interrompeu
suas férias no Paraná para convocar a reunião com técnicos do ministério e da
Defesa Civil. Dilma não procurou Bezerra, que vai suspender as férias e deve se
pronunciar hoje. Até expoentes do PT pernambucano avaliam que o ministro
exagerou na politização do uso das verbas antienchente
Imóveis sobem 26% em 2011, mas ritmo de alta é menor
O preço dos imóveis residenciais subiram em média 26% em
2011, mas o ritmo de alta é cadente desde maio, segundo o índice FipeZap, que
acompanha o valor médio do metro quarado de apartamentos prontos em seis
capitais (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza) e no
Distrito Federal. Em dezembro, a alta de 1,1%, a menor do ano, após pico de
2,7% em abril. A atividade econômica mais fraca no segundo semestre ajuda a
explicar a evolução dos preços
EDITORIAL
Um sopro de otimismo
O ano começou com boas notícias e algum otimismo nos
principais mercados, apesar da crise europeia ainda sem solução e da
perspectiva de uma dura disputa eleitoral nos Estados Unidos. O bom humor
avançou do Oriente para o Ocidente na terça-feira, com sinais de maior animação
em várias grandes economias. A primeira boa novidade foi a elevação do índice
da Federação Chinesa de Logística e Compras - um dado positivo sobre a
atividade industrial. No Reino Unido um indicador do mesmo tipo veio melhor que
o previsto. Na Alemanha, o governo informou a redução do desemprego para 6,8%,
o menor nível desde 1998. Nos Estados Unidos, indicadores de produção
industrial e de encomendas subiram de novembro para dezembro, com variação
melhor que a projetada pelos analistas. Os gastos com a construção também
surpreenderam positivamente e, além disso, a Ford noticiou novo recorde de
vendas no mercado americano, com mais de 2 milhões de veículos comercializados
em 2011.
Bolsas subiram na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos e a
Bovespa acompanhou o movimento. A reação foi positiva também nos mercados de
commodities, com valorização dos metais e do petróleo (neste caso, com alguma
influência da crise na região do Golfo Pérsico). Curiosamente, o otimismo
dominante durante a maior parte do dia foi acompanhado de preocupação quanto às
condições de algumas economias pesadamente endividadas. Os governos da Bélgica
e da Holanda venderam títulos públicos sem dificuldade, com juros menores que
os de leilões anteriores, mas os compradores foram mais cuidadosos em relação
aos papéis da França e da Espanha. Os juros dos títulos dos dois países subiram
no mercado secundário.
No caso da Espanha, a desconfiança aumentou porque o
governo reconheceu um déficit superior a 8% do Produto Interno Bruto em 2011. A
meta era 6%. Será necessária uma política mais dura para a correção do desvio.
Menos de uma semana antes havia sido anunciado um pacote de ajuste de 15
bilhões. Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Cristóbal Montoro, prometeu
medidas mais severas. O novo pacote envolverá um aperto de 40 bilhões. Na
semana passada, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, já havia mencionado novo
aumento de impostos - uma notícia assustadora para um país em recessão.
Em relação à França, o temor é de rebaixamento da dívida
pública. Essa possibilidade foi anunciada recentemente pela agência de
classificação Standard & Poor"s. O corte da nota poderá atingir outros
14 países da zona do euro e o mercado espera, neste momento, novidades sobre as
próximas ações da agência. Enquanto não se divulgam novos detalhes, os mercados
mantêm a cautela e impõem custos mais altos para a rolagem da dívida, embora a
situação fiscal da França seja obviamente mais confortável que a da maior parte
dos outros países da União Europeia.
Boas e más notícias continuarão motivando a oscilação nos
mercados no dia a dia, enquanto se esperam mudanças mais significativas no quadro
geral. A Comissão Europeia ainda terá muito trabalho para coordenar os ajustes
indispensáveis aos países mais endividados e para implantar novos padrões de
responsabilidade fiscal. Ao mesmo tempo, será preciso combinar as políticas de
austeridade em alguns países com estímulos ao crescimento nas economias em
melhores condições. Essas deverão funcionar como locomotivas do conjunto. Sem
isso, a recuperação será muito mais lenta e mais penosa. Não há espaço para
muito otimismo, disse na terça-feira um porta-voz da Comissão, Olivier Bailly.
Segundo ele, a economia do bloco só deve crescer 0,5% este ano, pelas previsões
atuais.
Nos Estados Unidos, a reativação pode ser comprometida
pelo acirramento da campanha eleitoral. O governo terá muito trabalho para vencer
a resistência republicana às medidas de estímulo à economia. O presidente
Barack Obama terá a vantagem, no entanto, de não precisar negociar uma nova
elevação do teto da dívida pública. Isso lhe dará algum espaço para conduzir
sua política. Quanto mais rápida a recuperação da maior economia do mundo,
melhor para todos.
Reforma da CPTM
Às vésperas de completar 20 anos, a Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) tem recordes a comemorar e grandes desafios a
enfrentar. Herdeira de uma malha de 260 quilômetros de trilhos sucateada,
transportava diariamente, em seu primeiro ano de funcionamento, 800 mil
passageiros, recolhidos em poucas e decadentes estações e espremidos em velhas
composições. Hoje, 3 milhões de moradores de 22 municípios da região
metropolitana de São Paulo lotam seus trens, um movimento maior do que o de
sistemas metroferroviários de cidades como Londres e Paris. Uma parte deles
embarca em estações modernas e viaja em confortáveis vagões climatizados; outra
é obrigada a disputar espaço em acanhadas plataformas e em velhas e barulhentas
composições.
Para alcançar a meta de transformar a CPTM na operadora de
trens mais moderna do Brasil, com a revitalização de toda a sua infraestrutura,
será preciso mais do que novos investimentos em suas linhas, estações e trens.
A construção do ferroanel metropolitano é fundamental para que a malha da
companhia sirva apenas ao transporte de passageiros e, assim, consiga cumprir
integralmente o seu papel na melhoria da mobilidade urbana na Grande São Paulo.
Para vencer o desafio de alcançar nas mais antigas o mesmo
padrão de atendimento das novas linhas, a CPTM colocará em prática, entre 2012
e 2020, o maior plano de ampliação e modernização da sua história. Duas linhas
serão construídas, com pelo menos seis paradas, e as seis linhas existentes no
sistema ganharão mais dez estações. Conforme o Plano Plurianual do Governo do
Estado, R$ 39,4 bilhões deverão ser investidos até 2015 para aumentar a
integração entre as modalidades metroferroviárias, dar continuidade às obras já
iniciadas, melhorar a eficiência do que hoje está em operação e expandir a
rede. Daquele total, R$ 9,4 bilhões serão destinados à CPTM.
Nos últimos cinco anos, 105 trens foram comprados pela
companhia, dos quais 62 já foram entregues. Até 2013, os outros 43 novos trens
começarão a circular. Em licitação, está a aquisição de mais 55 composições.
Cada uma delas, de oito carros, é equipada com sistema de monitoramento por
câmeras e ar-condicionado. Novos sistemas de sinalização, controle de tráfego,
telecomunicações, energia e rede aérea também receberam significativos
investimentos nos últimos anos, para reduzir o intervalo entre os trens e,
assim, aumentar a oferta, atingindo o almejado "padrão metrô".
Esse padrão de eficiência é necessário para uma companhia
que, somente em 2011, recebeu 1 milhão a mais de passageiros por dia. A
integração tarifária entre ônibus e o transporte metroferroviário é a principal
causa desse boom, seguida pela queda no desemprego e o aumento do número de
estações para baldeações. Até 2014, é esperado o aumento de pelo menos mais 500
mil passageiros por dia no sistema.
O esforço do governo estadual, no entanto, tem de ser
complementado pela atuação da Agência Nacional de Transportes Terrestres, que
precisa, de uma vez por todas, tirar do papel o ferroanel metropolitano. No
início de dezembro, o diretor-geral da agência, Bernardo Figueiredo, assegurou
que em janeiro o projeto do trecho norte do anel ferroviário estará pronto. Com
a conclusão da obra, prevista para 2015, o transporte de carga deixará de usar
a malha da CPTM, o que compromete a eficiência do transporte de passageiros.
Essa é uma obra já prevista no PAC, de 2007, mas não mereceu até agora a devida
atenção. O investimento estimado é de R$ 1,5 bilhão.
O anúncio é bem-vindo, mas surpreendeu alguns
especialistas em transporte, que esperavam a construção do trecho sul em
primeiro lugar, porque ele permitirá a circulação de cargas rumo ao Porto de
Santos. O trecho norte deve melhorar a ligação do interior paulista com o Rio
de Janeiro. O mais importante, porém, é que o projeto não seja fragmentado, o
que faria a discussão sobre cada trecho atrasar ainda mais uma obra esperada há
seis décadas.
Comércio exterior não terá o sucesso do ano passado
Em 2011 as exportações brasileiras apresentaram aumento de
26,8% e as importações, um crescimento de 24,5%. O saldo comercial aumentou
47,8%. Esse resultado ainda não reflete um ano de crise nos países ricos, mas é
preciso levar em conta que os produtos básicos foram responsáveis por 60% do
aumento das exportações, ante 18,0% dos semimanufaturados e 22,0% dos
manufaturados.
Essa predominância de produtos básicos nas exportações
levanta certa preocupação quando se constata que em dezembro, em relação ao mês
anterior, num total de 18 produtos básicos exportados, 12 tiveram reduções de
preços variando de 0,8% a 7,0%, sendo que, no caso do minério de ferro, que em
2011 gerou a maior receita de exportação, a queda de preços em dezembro foi de
6,6%. Isso afetou as receitas totais de exportação, cuja média diária, em
dezembro, foi a menor desde abril.
As exportações para regiões que estão passando por uma
recessão não parecem ter sido afetadas: para a União Europeia, o crescimento em
2011 foi de 22,7%, para os EUA foi de33,3%, enquanto nossas vendas para a China
cresciam 43,9% - o que mostra que qualquer recuo no crescimento das exportações
para este país nos afetaria sensivelmente.
As mudanças nas importações foram mais significativas.
Pela média diária, as importações de bens de capital foram as que menos
aumentaram (16,5%), com queda nos últimos meses do ano, um fato negativo para a
indústria brasileira, que assim se moderniza menos. As importações de
matérias-primas e de bens intermediários aumentaram 21,6%, e esses produtos são
os mais importantes em nossa pauta de compras no exterior. O aumento nas
importações de bens de consumo duráveis foi de 29,7%, com peso maior nas de
automóveis, que aumentaram 39,2%, um sinal do processo de desindustrialização.
No entanto, o aumento mais intrigante foi o de petróleo bruto, de 39,4%, que
certamente reflete atraso na produção da Petrobrás, especialmente de produtos
leves.
O Brasil ocupa posição razoável nas exportações, embora
com crescimento inferior ao da Índia (45% de aumento nos dez primeiros meses),
da Rússia e da Austrália. No ano que começa, só as commodities agrícolas
continuarão a ter bom preço, e medidas de incentivo à exportação serão bem
recebidas.
No entanto, a atividade econômica deve continuar fraca nos
países desenvolvidos, com crédito difícil, acirramento da concorrência e a
continuidade da guerra cambial.
ESPAÇO ABERTO
Agentes da impunidade nos três Poderes :: José Nêumanne
jornalista e escritor, é editorialista do "Jornal da
Tarde"
Há algo em comum e, da mesma forma, uma grande diferença
entre o militante petista Waldomiro Diniz e seu adversário político José
Roberto Arruda, desalojado do governo do Distrito Federal e do partido pelo
qual fora eleito, o DEM, além do fato de este ser um partido de oposição ao
governo do PT.
Em fevereiro de 2004, a revista semanal Época revelou a
existência de um vídeo no qual o citado Waldomiro, encarregado do
relacionamento entre a chefia da Casa Civil do presidente Luiz Inácio da Silva,
que havia celebrado um mês antes um ano em seu primeiro mandato, e o Congresso
Nacional, achacava um empresário da jogatina, Carlos Augusto Ramos, vulgo
Carlinhos Cachoeira, para financiar campanhas eleitorais de aliados do grupo no
poder federal nas eleições estaduais de 2002. Seus beneficiários seriam Rosinha
Matheus, que tinha passado pelo PSB e, à época do achaque, estava no PMDB;
Benedita da Silva, do PT, ambas no Estado do Rio; e o petista Geraldo Magela,
do Distrito Federal. O, digamos, "bingueiro" foi escolhido para a
abordagem porque o militante ocupava, à época, a presidência da Loteria do
Estado do Rio de Janeiro (Loterj) e lhe oferecia em troca da propina
favorecimento em concorrências.
O achacado não se fez de rogado, gravou e filmou o
encontro, tendo o vídeo chegado às mãos dos jornalistas da revista, que
reproduziu seu conteúdo e ainda obteve do denunciado confissão cabal do delito
cometido. Waldomiro Diniz foi demitido de seu posto e despejado do gabinete que
ocupava no Palácio do Planalto a reduzida distância de seu chefe, o então
todo-poderoso titular da Casa Civil José Dirceu, e do superior hierárquico dos
dois, Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem está para completar o sexto ano
de sua publicação e, embora afastado das prerrogativas e benesses do poder na
República, o indigitado continua gozando plena liberdade, numa prova viva e
circulante de que o Brasil oficial merece o apodo do título do livro do
jornalista paraibano Sebastião Barbosa: "o país da impunidade". Por
incrível que pareça, desde então a Polícia Federal (PF), partindo de uma
gravação inequívoca e de uma confissão que não deixa dúvidas, não conseguiu
produzir um inquérito que pudesse ser aceito como válido pelo Ministério Público
Federal (MPF).
Numa dessas circunstâncias que podem até ser assustadoras,
mas não são surpreendentes, essa é exatamente a justificativa que o Ministério
Público dá para outra efeméride. Quatro anos depois do escândalo na Casa Civil
de Lula, caso bastante similar explodiu no gabinete do então governador José
Roberto Arruda. Sua Excelência foi filmada e teve sua voz gravada recebendo
explicitamente pacotes de dinheiro de seu ex-secretário Durval Barbosa, que fez
o vídeo por ele produzido com o flagrante chegar às mãos da mesma PF em troca
de delação premiada. Ao contrário de Waldomiro, contudo, e aí está a primeira
diferença entre os dois, Arruda não foi pilhado sozinho com a boca na botija. O
deputado distrital Leonardo Prudente também o foi e guardou a propina na meia.
Tal como Waldomiro, Arruda perdeu seu valioso emprego
público, obtido, no caso dele, por sufrágio universal, secreto e soberano da
população do Distrito Federal. Mas, da mesma forma como o adversário e
antecessor em recebimento flagrado de suborno, até agora não se viu obrigado a
responder pelo delito perante a Justiça. Para tanto, ambos não precisaram de
álibis nem padrinhos fortes no Judiciário. Assim como ocorreu no escândalo
quatro anos mais velho, a investigação do "mensalão do DEM" foi
prejudicada, segundo o MPF, pela falta de "vários documentos" no
relatório encaminhado pela PF. De acordo com a Procuradoria, sem esses
documentos seria "impossível o oferecimento da denúncia por causa da
técnica própria da ação, que obriga o membro do Ministério Público Federal a
apresentar as provas dos fatos que afirma". Essa conclusão impediu que o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, cumprisse a promessa de que
denunciaria o ex-governador e seus cúmplices "sem falta" no ano
passado, feita logo após a sabatina a que foi submetido para ser reconduzido ao
cargo, em agosto. Agora ele pediu mais tempo para evitar delongas no processo
judicial e, assim, apresentar uma denúncia que chamou de "robusta".
"Embora seja frustrante a demora, seria ainda mais frustrante a
precipitação de oferecer uma denúncia que acabasse por não estar à altura da
gravidade daquela situação", disse ele. Em 2006 a Procuradoria levou dez
meses para denunciar o esquema do mensalão federal do PT, revelado em 2005.
Mas como a impunidade no Brasil tem muitos agentes nos
três Poderes, convém anotar que de pouco serviu a presteza do procurador-geral
há cinco anos, que é louvável, já que o esquema que o ex-chefe de Waldomiro,
José Dirceu, é acusado de comandar tornou réus do Supremo Tribunal Federal
(STF) 38 políticos, doleiros e empresários. Pois desde 2006 e em via de chegar
ao sexto ano, só agora o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, entregou a
seus pares seu parecer a respeito do episódio, às vésperas da eventual prescrição
dos principais crimes de que são acusados os denunciados como chefes do
esquema, o de formação de quadrilha. E o revisor do processo, Ricardo
Lewandowski, avisou que vai levar um bom tempo para tomar conhecimento de um
caso do qual qualquer cidadão brasileiro conhece praticamente tudo o que
ocorreu, e isso, por si só, levanta dúvidas quanto à punição dos eventuais
culpados.
Waldomiro, Arruda e os mensaleiros, bem como os ditos
"aloprados", que produziram um dossiê falso contra o tucano José
Serra na eleição paulista de 2006, têm-se beneficiado da impunidade que, pelo
visto, depende da incúria da PF, que, assim, não seria tão
"republicana" quanto se proclama, ou do MPF, que, então, não seria a
palmatória do mundo que garante ser.
POLÍTICA
Dilma manda Casa Civil cuidar de verbas antienchente e
ordena critérios técnicos
CHRISTIANE SAMARCO /BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Insatisfeita com a canalização de verbas federais quase
que exclusivamente para Pernambuco, Estado de origem do ministro da Integração
Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), a presidente Dilma Rousseff interveio
e ordenou a adoção de critérios técnicos na distribuição de recursos da pasta
para combate e prevenção de desastres naturais - enchentes e desmoronamentos.
A medida foi tomada após o Estado revelar que cerca de 90%
das verbas antienchente da Integração foram aplicadas em Pernambuco, a despeito
dos estragos provocados pelo verão chuvoso em outros Estados. Em reunião
convocada às pressas ontem, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, que
interrompeu a semana de férias no Paraná, a pedido da presidente, voltou ao
Palácio do Planalto para tratar da questão com técnicos do ministério e da
Defesa Civil.
Dilma conversou por telefone com Gleisi logo cedo,
mostrando-se preocupada com as chuvas e com a ação do governo. Àquela altura a
presidente já havia telefonado a Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas
Gerais, onde há 52 municípios em situação de emergência.
Minas. Anastasia evitou críticas ao ministro Fernando
Bezerra e disse que ele foi "extremamente amigo" de Minas,
"trazendo convênios e obras importantes". "O governo federal
está sensível. Tenho certeza que os ministérios vão nos ajudar. Foi o que a
presidente me disse hoje.".
O telefonema da presidente ao governador tucano não foi o
único sinal da disposição do Planalto de impor limites à prática já tradicional
da distribuição paroquial das verbas antienchente, em que ministros privilegiam
sua base eleitoral. No governo Lula, foi o ministro baiano Geddel Vieira Lima
(PMDB) quem concentrou na Bahia a grande maioria dos e investimentos.
Como chefe da Casa Civil, Gleisi foi escalada para fazer a
mediação técnica com o ministério neste ano de eleição municipal. A presidente
preferiu deixar tudo nas mãos de sua ministra. Não se deu ao trabalho de
procurar sequer Bezerra para questioná-lo sobre suas escolhas de investimentos.
O ministro permanecia de férias, em Pernambuco, canceladas na noite de ontem.
Antes de embarcar para Brasília, Gleisi encarregou seu
secretário executivo Beto Vasconcellos de organizar a reunião com técnicos da
Integração, Defesa Civil e Ciência e Tecnologia. Em seguida, telefonou ao
governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), para saber como estava a situação no
Estado que sempre figura no topo da lista dos mais atingidos pelas chuvas.
Rio. "A presidente Dilma está completamente
comprometida com essa reconstrução. Não temos o que falar do governo federal, a
não ser agradecer", afirmou Cabral, que desconversou ao ser questionado
sobre o direcionamento político de verbas.
Até expoentes do PT pernambucano, partido aliado, avaliam
que o ministro exagerou na politização do uso das verbas antienchente. Ontem,
não faltou quem criticasse o "provincianismo e o clientelismo" de
Bezerra, que dias antes surpreendera o prefeito petista do Recife, João da
Costa, com a transferência de seu domicílio eleitoral de Petrolina para a capital
pernambucana.
Ligado ao governador Eduardo Campos, Bezerra aplicou em
seu Estado R$ 25,5 milhões do total de R$28,4 milhões pagos em obras
autorizadas em 2011 para prevenção de desastres naturais. Deixou apenas R$ 2,9
milhões ao restante do País. / COLABORARAM LISANDRA PARAGUASSU, MARCELO PORTELA
e FELIPE WERNECK
Chuvas e estragos demoram a abalar férias do ministro
Só ontem à noite, depois de as chuvas terem causado
estragos por vários dias, especialmente em Minas e no Rio de Janeiro, o
ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, interrompeu suas férias em
Pernambuco para retornar a Brasília. Seu plano inicial, até ontem à tarde, era
ficar em Pernambuco até dia 9.
Ontem de manhã, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann,
já havia interrompido as dela e discutia as chuvas no Planalto, com a assessoria
de Bezerra. Este não era, até ontem, o único ausente no ministério. O
secretário executivo, Alexandre Navarro Garcia, e o de defesa civil,
continuavam fora. Quem respondia pela área era Ivan Ramos. / LISANDRA
PARAGUASSU
Governador diz que ele e Dilma definiram verbas
MONICA BERNARDES , ESPECIAL PARA O ESTADO / RECIFE - O
Estado de S.Paulo
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), saiu em
defesa de seu afilhado e correligionário, o ministro Fernando Bezerra, e negou
que ele tenha privilegiado o Estado no repasse de verbas para prevenção de
desastres naturais. Segundo ele, do total de recursos liberados pela pasta em
2011, R$ 25 milhões foram definidos e acordados com a presidente Dilma
Rousseff.
"Nunca houve nenhuma priorização para Pernambuco por
parte do ministro. Em 2010, quando o Ministério da Integração era comandado
pelos ministros ligados ao PMDB da Bahia, Pernambuco recebeu R$ 275 milhões da
pasta. Isso representa 22,5% do total de repasses feitos pela União ao Estado.
Em 2011, recebemos R$ 62,6 milhões. Recebemos menos com Fernando à frente da
pasta", argumentou.
"Em março, na noite em que a enxurrada atingiu a Mata
Sul, destruindo cidades inteiras, a presidente me ligou e perguntou como
poderia ajudar. Tínhamos os projetos das barragens. Sabia que a União não teria
como arcar com tudo, por isso fiz a proposta de bancarmos a metade e o governo
federal a outra metade."
CNJ vai manter apuração em SP, mesmo com investigação
interna
FELIPE RECONDO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A decisão do novo presidente do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJ-SP), Ivan Sartori, de apurar supostos pagamentos antecipados a um
pequeno grupo de desembargadores da corte não deve interferir na investigação
iniciada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Todos os dados da folha de
pagamentos do TJ já foram repassados para a Corregedoria Nacional de Justiça. A
apuração interna prometida por Sartori correrá paralelamente à investigação
comandada pela corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon.
A investigação do CNJ, que desencadeou a crise no
Judiciário, só estará prejudicada se o Supremo Tribunal Federal (STF) entender
que houve violação do sigilo fiscal de magistrados durante a investigação feita
por Eliana Calmon ou se limitar a atuação do conselho a revisar processos
abertos pelas corregedorias dos tribunais locais.
Neste último caso, o STF poderia pronunciar que o CNJ não
poderia ter aberto por conta própria essa investigação. Mas isso só será
decidido quando o Supremo voltar do recesso, no início de fevereiro.
Parcela única. Conforme informações preliminares, 17
desembargadores receberam de uma só vez aproximadamente R$ 1 milhão referente
ao pagamento atrasado de auxílio-moradia. Os demais desembargadores, ao
contrário, recebem parceladamente o benefício.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir
Cavalcante, viu com certa desconfiança o anúncio feito anteontem pelo
presidente do TJ. Na sua avaliação, uma investigação como essa poderia servir
apenas de satisfação para a opinião pública, sem que as irregularidades fossem
de fato apuradas pelo tribunal paulista. "Vamos dar um voto de confiança,
mas o histórico das corregedorias dos tribunais mostra que algumas
investigações são para inglês ver", afirmou Ophir.
Representantes das entidades de classe da magistratura -
autoras das ações que questionam os atos da Corregedoria Nacional de Justiça e
alegam que quase 217 mil juízes e servidores do Judiciário e seus parentes
teriam tido os sigilos de dados violados - não viram como novidade a decisão do
presidente do TJ paulista de apurar possíveis irregularidades na folha de
pagamento do tribunal. Ao contrário, o vice-presidente da Associação Nacional
dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Paulo Schmidt, afirmou que a
apuração interna deve ser corriqueira. "Para nós, esse tipo de apuração
não é nenhuma novidade, porque as contas da Justiça do Trabalho são todas
abertas", disse.
Dever de ofício. O presidente da Associação dos Juízes
Federais (Ajufe), Gabriel Wedy, afirmou que a decisão do desembargador Ivan
Sartori simplesmente cumpre um dever que todo administrador público tem.
"Todos os órgãos da administração pública, seja do Executivo, do
Legislativo ou do Judiciário, devem fiscalizar constantemente seus próprios
atos", avaliou Wedy. "Quanto maior transparência, melhor para o
País", acrescentou.
No entendimento do presidente da Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, a decisão do novo presidente do
TJ não denota que as administrações anteriores foram coniventes com pagamentos
irregulares. "O ex-presidente (José Roberto Bedran) deveria entender que
não havia fato concreto para fazer uma investigação", ponderou Calandra.
"Se o presidente (Ivan Sartori) tem alguma dúvida, nada obsta que ele
busque se assenhorear desses dados", acrescentou.
Acervo de Prestes inclui lista de torturadores
WILSON TOSTA / RIO - O Estado de S.Paulo
Um documento clandestino de fevereiro de 1976 acusando 233
integrantes do regime militar de serem torturadores integra o acervo do líder
comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990), doado ontem por sua família ao
Arquivo Nacional, no Rio.
Entregue a Prestes, então exilado em Moscou, na segunda
metade dos anos 70, por emissários do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o
"Relatório da IV Reunião Anual" do organismo revela algumas
surpresas. Uma delas: denúncias de tortura foram repassadas por militares
dissidentes, que continuavam nas Forças Armadas, mas discordavam da ditadura de
1964. As 32 páginas datilografadas são apenas parte da documentação que era
mantida por Prestes, catalogada pela família em sete pastas e cujo conteúdo
será digitalizado e colocado na internet, à disposição de pesquisadores.
"Eu já vinha acumulando este acervo havia alguns
anos. Depois da morte do Prestes, doei a maioria dos documentos para a Unicamp.
E tem também um museu em Tocantins, onde eu mesma levei a escultura e montamos
um museu. Fiquei três meses lá, pesquisando as cidades onde a Coluna (Prestes,
movimento revolucionário da segunda metade dos anos 20) passou e ainda recolhendo
muitos materiais de 1924, manifestos, jornalzinho, panfletos de quando a Coluna
passou. Isso está tudo lá no museu", relatou Maria do Carmo Ribeiro, viúva
do líder comunista. A lista com os supostos torturadores foi divulgada na
segunda metade dos anos 70, pela imprensa alternativa, de oposição.
De acordo com Luiz Carlos Prestes Filho, o material doado
tem documentos relativos à intensa militância internacional do seu pai, que
mesmo exilado viajou por países do antigo bloco comunista e da Europa ocidental,
denunciando a ditadura e pregando a redemocratização do Brasil. Um deles, de
1979, já em exposição no Arquivo Nacional, dirigido ao "companheiro Fidel
Castro Ruz", então chefe de Estado de Cuba, pouco antes da Anistia
encaminhava proposta de agenda para conversas entre delegações do PCB e do
Partido Comunista Cubano, em março daquele ano, em Havana.
"É um material muito forte nos anos 70, do
exílio", disse Prestes Filho. "Depois, tem coisas da volta dele, da
última época em que atuou politicamente, do rompimento com o PCB e da atuação
ao lado de (Leonel) Brizola (1922-2004). E tem o lado não político, com cartas
de todos os filhos e netos e de papai para eles." Um dos pontos
importantes do material pessoal, contou Prestes Filho, são cartas trocadas pelo
líder comunista com o filho do primeiro casamento de Maria Ribeiro, que Prestes
considerava como se fosse seu filho biológico. Morador, nos anos 70, em Cuba,
Pedro - morto em 2011 - era porta-voz do comunista brasileiro junto a Fidel. O
acervo também tem fotos do líder, como em uma reunião de família, em que
aparece empunhando um violão, em 1984, e outra, tomando sol na Praia do Futuro,
no Ceará, em 1989.
A divulgação dessa última imagem na imprensa irritou a
historiadora Anita Leocádia Prestes, filha do primeiro casamento do líder
comunista, com Olga Benário, comunista alemã entregue pelo Brasil, nos anos 30,
aos nazistas. Olga morreu em um campo de concentração. A pesquisadora afirmou
que seu pai não concordaria com a exposição pública de sua foto na praia, o que
teria sido um "desrespeito" à memória e à vontade do líder comunista,
"pois todos que com ele conviveram sabem que Prestes jamais concordaria
com tal divulgação", afirmou em e-mail ao jornal O Globo. Maria Ribeiro
reagiu. "A Anita não é dona do Prestes. Ela é uma estudiosa, uma
professora dedicada à história, já fez vários livros sobre a Coluna, com
depoimentos do Prestes e tudo. Ela não é dona dele. Tenho uma família com nove
filhos, vivi com ele 40 anos, ela não pode se apossar de uma pessoa com quem
nunca conviveu."
ECONOMIA
Especialistas não arriscam dizer quando o mercado vai se
estabilizar
Mas, para a maioria dos analistas ouvidos pela reportagem,
há pouco espaço para maior valorização dos imóveis
ROBERTA SCRIVANO - O Estado de S.Paulo
Os preços dos imóveis continuarão altos. A velocidade do
aumento dos valores, no entanto, deve ser cada vez mais lenta, até que haja uma
acomodação. Ninguém se arrisca a prever quando essa estabilização ocorrerá. Mas
especialistas explicam que, diante dos atuais patamares de preço, não há mais
muita margem para novas valorizações.
O cenário traçado por especialistas conclui duas coisas. A
primeira é que adquirir imóveis como investimento já não é mais tão vantajoso.
A segunda tem a ver com quem quer comprar a casa própria. Os integrantes deste
grupo, portanto, têm de colocar os atuais preços no planejamento financeiro,
uma vez que esperar para ver se os valores caem pode não adiantar.
A menor velocidade no ritmo de alta, como já foi
constatado pelo índice FipeZap no decorrer de 2011, deve continuar sobretudo
pela retração na demanda.
José Augusto Viana, presidente do Conselho Regional de
Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), cita que no ano passado já houve
um encolhimento no volume de negócios fechados, tanto em imóveis novos quanto
nos usados. "Foram vendidos 26% menos usados e quase 40% menos imóveis
novos", calcula.
Para ele, esse é um sinal claro de que o mercado precisa
se adequar à renda do comprador, ou verá seus negócios minguarem. "Queda
de preço é algo que eu não creio que ocorrerá. Mas o mercado precisa
estabilizar os preços", completa o presidente do Creci-SP.
Os preços médios dos imóveis prontos no País subiram 26%
no ano passado na comparação com os valores de 2010, segundo o índice FipeZap.
A valorização é muito mais expressiva do que qualquer outra aplicação
financeira no País.
O ouro, por exemplo, que foi a modalidade de investimento
que mais rendeu no ano passado, teve alta de 15,85%. "As altas no mercado
imobiliário têm sido muito expressivas. Diante disso, há uma lógica de que os
aumentos tendem a diminuir", insiste Fábio Colombo, administrador de investimentos,
que atua no mercado há mais de 20 anos. "E como as vendas estão caindo, há
uma expectativa de que os preços caiam ou, pelo menos, se ajustem. Mas não dá
para dizer se isso já começa em 2012", emenda Fábio Braga, diretor da
Porto Seguro Consórcio.
Embora Fábio Colombo concorde que a alta nos preços não
tem mais muita margem para continuar, ele pontua que as reduções que devem ser
promovidas na taxa básica de juros (Selic) ao longo de 2012 deixarão os imóveis
para locação mais atrativos como investimento, na comparação com as modalidades
de aplicação da renda fixa (como a caderneta de poupança, CDBs, fundos DI e de
renda fixa). "O imóvel é uma alternativa para investidores conservadores e
moderados", detalha o especialista. Comprar um imóvel agora, esperar a
valorização para depois vendê-lo, no entanto, não é recomendado por Colombo.
Descompasso. Samy Dana, PhD em finanças e professor da
Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), no entanto, é enfático ao dizer
que há uma valorização forçada nos imóveis, sobretudo em São Paulo e no Rio de
Janeiro.
"E, para piorar, os aluguéis não acompanharam a alta
no valor do imóvel", emenda o acadêmico. Dana afirma até, com base em
cálculos, que há fortíssimo risco de bolha imobiliária no País justamente por
esse descompasso na evolução do preço do ativo imóvel e do aluguel nos últimos
anos no País.
G-7 e Brics têm de pagar US$ 7,6 trilhões este ano
Japão é o primeiro da lista com dívida de US$ 3 trilhões;
Rússia é o último do ranking
SÍLVIO GUEDES CRESPO - O Estado de S.Paulo
As principais economias do mundo terão de enfrentar
dívidas de US$ 7,6 trilhões neste ano, segundo um levantamento da agência de
notícias Bloomberg. Esse é o valor total dos títulos públicos dos países do G-7
(sete economias mais poderosas do mundo) e do Brics (Brasil, Rússia. Índia,
China e África do Sul) que vencem em 2012.
O Japão aparece em primeiro da lista, com uma dívida de
US$ 3 trilhões a ser paga ou rolada neste ano. Os EUA estão em segundo lugar,
com US$ 2,8 trilhões. Ambos estão bem à frente do terceiro lugar, a Itália,
cuja dívida para 2012 é de US$ 428 bilhões. A Rússia é o último do ranking de
11 países, com apenas US$ 13 bilhões que vencem neste ano.
Nesse quesito, o Brasil está melhor do que a maior parte
dos mercados desenvolvidos (só perde para o Reino Unido) e pior do que os
demais emergentes do Brics . No total, o País tem dívidas de US$ 169 bilhões
com vencimento em 2012 (veja o ranking completo no blog Radar Econômico -
http://blogs.estadao.comn.br/radar-economico).
Dívida por trabalhador. O número referente ao Brasil
equivale a 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) projetado para este ano pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa conta custaria, em média, US$ 1.690
para cada um dos 99,5 milhões de trabalhadores ativos. No entanto, isso não
ocorre porque os países não pagam toda a dívida; eles rolam grande parte dela.
Custo. Apesar de apresentarem os números mais altos da
lista, EUA e Japão têm mais facilidade que outros países para rolar a dívida.
Os EUA porque estão endividados na própria moeda. O Japão tem reservas de US$
1,2 trilhão em moeda estrangeira.Com isso, os dois oferecem aos investidores
retorno de menos de 2% ao ano para contrair uma dívida por uma década. Já o
caso da Itália é mais complicado. No mês passado, investidores começaram a
cobrar retorno de 7% para comprar títulos italianos.
VIDA&
Criosfera 1 manda primeiros sinais ao País
Dados meteorológicos da Antártida foram transmitidos no
primeiro dia do ano
Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), em São José dos Campos, no interior paulista, começaram o ano com um
presente especial, recebido via satélite, do interior da Antártida: os
primeiros dados meteorológicos enviados pelo módulo de pesquisa Criosfera 1,
instalado a 670 quilômetros do Polo Sul Geográfico.
"Terminamos de instalar os painéis solares e
geradores eólicos, que produzem energia para o módulo, e assim foi possível
estabelecer o link com o satélite e fazer o primeiro teste de
transmissão", disse ao Estado, por telefone (também via satélite), o
engenheiro do Inpe e coordenador técnico do projeto, Marcelo Sampaio. Ele é um
dos dez integrantes da equipe que está instalando o Criosfera 1 no oeste da
Antártida, a temperaturas que dois dias atrás chegaram a -20 °C, com sensação
térmica de -40 °C.
As informações, que incluem dados básicos de meteorologia,
como velocidade do vento e umidade do ar, foram transmitidas no dia 1.º, depois
de os pesquisadores comemorarem um réveillon a plena luz do dia – já que nesta
época do ano o Sol não se põe nunca na Antártida. "Aqui temos,
basicamente, cinco meses de noite e cinco meses de dia, com dois meses de
transição", explica Sampaio.
Mais instrumentos entrarão em operação nos próximos dias.
Uma vez 100% operacional, o Criosfera 1 transmitirá dados meteorológicos da
Antártida para o Brasil, automaticamente, a cada três horas, que é o tempo de
órbita dos satélites.
Sete instituições brasileiras e duas chilenas participam
do projeto, que tem importância estratégica global para o estudo das mudanças
climáticas na Antártida. O Criosfera 1 será a primeira estação permanente de
pesquisa meteorológica no interior oeste do continente, que passa por um
processo acelerado de aquecimento – bem diferente do que ocorre na região
leste.
"Uma parte do continente está resfriando e acumulando
gelo, outra parte está aquecendo e perdendo gelo", diz Heitor Evangelista
da Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O motivo dessa dicotomia
climática, e as consequências dela para o futuro do gelo antártico, são
mistérios que os cientistas esperam ajudar a solucionar com o Criosfera 1. O
plano é que o módulo fique na localização atual, a 84 graus de latitude sul e
quase 1,3 mil metros de altitude, por pelo menos dois anos. Depois disso, poderá
ser deslocado para outras posições, conforme a necessidade das pesquisas.
Testemunhos de gelo.Como complemento aos dados
meteorológicos que serão registrados pelo módulo, os cientistas trarão de volta
da Antártida dois cilindros de gelo escavados do mesmo local: um com 40 metros
e outro, com 120 metros de comprimento. Como não há dados do passado para
comparar com o que está acontecendo no presente, esses chamados
"testemunhos de gelo" serão usados como uma espécie de registro
fóssil do que estava acontecendo na atmosfera antártica entre 200 e 400 anos
atrás.
O glaciólogo Jefferson Simões, da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, líder da expedição, estava escavando o segundo testemunho
quando o Estado falou com a expedição por telefone, ontem à tarde. "O de
40 metros já está pronto e o de 120 metros está pela metade", disse Silva.
Outro ponto importante de pesquisa do projeto é a relação
entre o buraco na camada de ozônio que se forma anualmente sobre a Antártida e
as mudanças climáticas que estão em curso no continente. Até alguns anos atrás,
acreditava-se que uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Mas hoje sabe-se
que o buraco influencia, sim, o clima da região. "O Criosfera 1 nos
ajudará a entender melhor como funciona essa relação", afirma Silva.
Os cientistas devem voltar ao Brasil por volta do dia 25.
Depois disso, o módulo será operado à distância.
INTERNACIONAL
Cirurgia de Cristina, hoje, deixa política do país em
suspenso
Presidente argentina deve ficar 20 dias afastada após
cirurgia para retirada de tumor na glândula tireoide
ARIEL PALACIOS, CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES - O Estado de
S.Paulo
A presidente argentina, Cristina Kirchner, será operada
hoje de um tumor na tireoide no Hospital Austral, na cidade de Pilar, na zona
noroeste da Grande Buenos Aires, onde dezenas de apoiadores fazem vigília. A
operação - que consiste na remoção de um carcinoma papilar no lóbulo direito
dessa glândula - deve durar de uma hora e meia a três horas.
Apesar da ausência de metástase, segundo explicaram os
porta-vozes presidenciais, e das perspectivas otimistas dos médicos, segundo os
quais o tumor tem de 90% a 95% chances de cura, há desconcerto entre os aliados
do governo, pois as decisões políticas estão centralizadas na presidente.
Cristina não faz reuniões de gabinete. Prefere se reunir
separadamente com cada um de seus ministros. Essa missão de coordenação
unilateral caberá ao vice-presidente, Amado Boudou, que a partir de hoje será o
presidente interino do país durante os 20 dias que Cristina terá de afastamento
segundo previsão inicial dos médicos (alguns especialistas afirmam que a
licença poderia passar dos 40 dias).
A doença da presidente levou a uma trégua com diversos
setores que estavam confronto com Cristina. A oposição manteve silêncio nos
últimos dias e sinais de apaziguamento também vieram da Confederação-Geral do
Trabalho. A maior central sindical do país, tradicionalmente peronista, que nos
últimos meses passou de aliada a crítica, deixou de lado as reclamações
salariais que estava fazendo.
METRÓPOLE
PM ocupa a cracolândia por um mês
Três pessoas foram presas ontem em operação que pretende
coibir o tráfico de drogas; uso de crack no centro, porém, não parou
ADRIANA FERRAZ, NATALY COSTA - O Estado de S.Paulo
A Polícia Militar ocupou ontem a região conhecida como
cracolândia, no centro de São Paulo. Cem policiais e 30 guardas civis
metropolitanos permanecerão 24 horas nas ruas dominadas por traficantes e
usuários de crack pelo menos até o fim de janeiro. O objetivo, segundo a
corporação, é sufocar o crime e permitir a ação de agentes comunitários que
circulam diariamente pela região com mais segurança. Três pessoas foram presas.
Quem passar pelo local hoje, no entanto, vai ver que os
"noias" continuam lá. A ação começou ontem às 9 horas nas
proximidades da Rua Helvétia e, por volta do meio-dia, o entorno da Praça Júlio
Prestes, um dos principais pontos de concentração de usuários, estava quase
vazio. Mas a migração para outras ruas do centro foi imediata - até vias
comerciais, como a Santa Ifigênia, foram tomadas por usuários de droga (leia
mais ao lado). Pouco a pouco, voltaram às imediações da Estação Júlio Prestes.
Quando foram inicialmente surpreendidos pela polícia,
alguns responderam com violência, atirando pedras e paus contra viaturas -
chegaram a atingir alguns carros estacionados e colocaram medo nos pedestres
que passavam pelo local, principalmente crianças.
Outros confrontos foram registrados quando funcionários da
Prefeitura iniciaram a limpeza da região, recolhendo objetos deixados pelo
caminho. Por volta do meio-dia, No fim da tarde, no entanto, os mesmos grupos
de usuários que fugiram da polícia de manhã já consumiam crack na praça, na
frente de policiais militares, que só observavam, sem interferir.
De acordo com a capitã da PM Leandra Pontes Dabagui,
coordenadora operacional do 13.º Batalhão, responsável pelo policiamento na
região, a operação não visa a expulsar os dependentes químicos da área, mas
coibir o tráfico e a ação de criminosos. "A questão do usuário é um
problema de saúde pública, não de polícia. Mas se algum usuário solicitar a
ajuda de um policial militar será prontamente atendido", disse. A
reportagem do Estado também flagrou a venda de drogas no local.
Tráfico. Segundo a Prefeitura, a operação pretende
intensificar o trabalho de identificação de traficantes e criminosos
infiltrados na região da Luz e evitar a chegada e a venda de drogas na área.
"A ação da PM ocorre no momento em que a Prefeitura coloca em prática o
novo sistema de coleta de entulho, limpeza de bueiros e varrição, o que reforça
os serviços de zeladoria na cidade", afirmou, em nota oficial. Ontem
mesmo, caminhões-pipa lavaram as ruas da cracolândia.
Balanço divulgado no início da noite registrava a
apreensão de um radiocomunicador, duas metralhadoras de brinquedo, dez carcaças
de moto e cachimbos improvisados para o consumo de crack. Prédios e becos
usados como esconderijo de drogas serão revistados durante a ação.
Presença da PM pode acabar com cracolândia?
SIM. Esse tipo de operação, desde que não seja contra o
usuário de drogas, mas contra o traficante, pode ajudar. A presença constante
da Polícia Militar deve coibir o tráfico, além de facilitar a ação de todo
mundo que trabalha com essa população. São cerca de 2 mil dependentes que
circulam pela cracolândia todo dia. Eles não podem ficar esquecidos. Essa venda
de drogas tem de ser combatida no local, com ações de revista inclusive em
prédios abandonados que servem de esconderijo. Mas, além das operações policiais,
há necessidade de se ampliar a atuação médica, assistencial e do Judiciário
para viabilizar o tratamento desses usuários. E não são só internações
compulsórias. Algumas são necessárias, mas a maioria pode ser trabalhada de
outra forma. Agora, um alerta: qualquer que seja a operação, não pode ter um
caráter higienista disfarçado. Não precisamos limpar as ruas, mas tratar as
pessoas. Por isso, ficaremos de olho.
* Antônio Carlos Malheiros, desembargador e coordenador da
Infância e Juventude do Tribunal de São Paulo
NÃO. Acho que é só perfumaria. Já vi inúmeras ações como
essa. Quando José Serra (PSDB) assumiu a Prefeitura, por exemplo, ocorreu uma
ação semelhante na região. E, no final, o resultado foi só ampliar o espaço de
uso dos viciados, já que eles migraram para as ruas onde a PM não estava. É
claro que se deve fazer alguma coisa, que não se pode deixar a cracolândia como
está. Mas é muito difícil que esse tipo de operação dê resultado a médio ou
longo prazo. O efeito é só imediato: funciona na hora, mas depois os usuários
voltam ao mesmo local onde estavam antes. O que é preciso é convencer essa
população de que precisam se tratar. Mas essa parte é a mais difícil de fazer.
O "noia" não quer sair de lá. E, mais ainda, é preciso combater o
narcotráfico, que abastece os pequenos traficantes da cracolândia. Isso sem
falar na prevenção. Para mim, essa ação só visa a melhorar a questão urbana, ou
seja, esconder pessoas e limpar ruas.
* Guaracy Mingardi, doutor em Ciência Política pela USP e
pesquisador em Direito da Fundação Getúlio Vargas
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