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Um João festeja, outro silencia. E o PT ferve
Ex-prefeito agradece liderança apontada na primeira
pesquisa JC/IPMN como um reconhecimento de sua gestão. João da Costa não fala e
petistas expõem preocupação
Bruna Serra
As principais lideranças petistas reagiram com
resignação aos números apontados pela pesquisa do Instituto de Pesquisa
Maurício de Nassau (IPMN), publicada ontem pelo JC. Não houve, nas declarações,
muita convicção de que o prefeito João da Costa tenha condições de reverter os
índices de rejeição – altos na amostragem –, mas ninguém chegou a cogitar a
retirada do seu nome. Os petistas tiveram que reconhecer, alguns a contragosto,
o poderio eleitoral do deputado federal João Paulo, que lidera com folga o
cenário da pesquisa onde é incluído na lista de pré-candidatos.
Com um forte percentual de rejeição, João da Costa
– que empata tecnicamente com Mendonça Flho (DEM) nos cenários em que os dois
aparecem – preferiu silenciar, cabendo ao presidente municipal do PT, Oscar
Barreto, partir em sua defesa. “Vamos avaliar o conjunto das perguntas para
poder ter uma leitura mais precisa do que é essa rejeição”, disse o petista.
Ele reafirmou, que João da Costa segue na disputa. “Nada muda, o prefeito
continua sendo candidato”.
Já o deputado federal João Paulo, que em um dos
cenários apareceu na pesquisa com 46% das intenções de voto, disparado na
frente, preferiu manifestar por nota a sua satisfação. “Sou grato ao povo do
Recife pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de oito anos de
gestão à frente da prefeitura”, afirmou o ex-prefeito, também apontado na
pesquisa como o mais forte opositor à atual gestão.
Na direção estadual do PT, as declarações foram
cautelosas, porém sem esconder o desânimo com os números do prefeito – em uma
das tabelas, 75% dos 816 eleitores recifenses entrevistados avaliam que Costa
“não merece ser reeleito”. Integrante da tendência Construindo um Novo Brasil
(CNB), Dilson Peixoto alertou para a necessidade de uma decisão criteriosa. “A
pesquisa mostra que precisamos de um trabalho forte e cuidadoso para definir o
candidato”, opinou. Um dos principais líderes do partido, o senador Humberto
Costa demonstrou receio com a percepção que o eleitorado tem da briga entre o
prefeito e o antecessor. “Na verdade, depois de tantas desavenças, já ficou
claro para a população de que há um desentendimento político entre ambos,
fatalmente na campanha isso seria do conhecimento da população”.
O senador avalia que ainda é possível reverter a
rejeição ao prefeito. “Há tempo suficiente para um processo de reversão. Nas
campanhas anteriores a rejeição não era tão intensa, mas era forte em relação a
João Paulo e Luciana Santos (PCdoB, ex-prefeita de Olinda). Reverter depende de
várias questões, mas principalmente do candidato. Há um trabalho de recuperação
da gestão, então acredito que vamos ter condições de mudar”.
O presidente estadual do PT, Pedro Eugênio, tentou
minimizar: ”as pesquisas nos ajudam, mas não são determinantes. Esse é um
elemento, uma referência do momento, mas vamos continuar o nosso processo de
discussão interna”, disse.
COLUNAS
Cláudio Humberto
CNC quer virar imobiliária
A Confederação Nacional do Comércio (CNC), cujo
objetivo deveria ser o de zelar pelos interesses do setor, decidiu entrar firme
no mercado imobiliário de Brasília, com a construção de dez edifícios com custo
estimado em R$ 700 milhões. Uma etapa de quatro torres já está em construção no
valorizado Setor de Autarquias Norte, em uma área que fica praticamente sobre a
quadra residencial 402 Norte. Para estrear no ramo imobiliário, a CNC escolheu
como parceira a construtora Via Engenharia, do DF, mas não explicou como a
escolheu. Do seu orçamento de R$ 264 milhões para 2012, a confederação pode
gastar até R$ 107 milhões (mais de 40%) em seus investimentos imobiliários. E
dinheiro não é problema. Em 2011, a CNC aplicou no empreendimento cerca de 30%
do seu orçamento de R$ 246 milhões. Foram R$ 76 milhões no total. À frente da
entidade há 31 anos, Antonio Oliveira Santos, 86, diz estar preocupado com o
futuro. Quer a CNC “auto-sustentável”. Ah, bom.
TCU reprova a “prevenção”
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União
constatou que o Programa de Prevenção e Preparação para Desastres do Ministério
da Integração ainda é um belo projeto no papel: apenas 426 dos 5.565 municípios
brasileiros têm Defesa Civil – menos de 8% do total – e que coordenadorias
municipais só existem no papel. Repasses, valores, prazos e prestação de contas
também estão ao sabor das chuvas. Na foto, cenário dos estragos em Minas.
Exploração
Um pão de queijo médio e refrigerante custam R$
6,25 na lanchonete do aeroporto de Brasília. Em Congonhas (SP), R$ 9. Quase 50%
mais.
Paixão nacional
Os shoppings já representam 18,3% das vendas no
varejo e 2% do Produto Interno Bruto no Brasil. Mais 44 entram em operação este
ano.
De molho
Em Fortaleza, PT e PSB já conversaram, pressionam,
mas a prefeita Luizianne Lins ainda não anunciou quem apoiará à própria
sucessão.
Rasgação de seda
Cotada para ministra de Políticas para Mulheres, a
petista Inês Pandeló foi quem apresentou projeto para dar o Título de Cidadão
do Estado do Rio de Janeiro à atual ministra, Iriny Lopes. Que é de Espírito
Santo.
Bom de bola
Do ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT),
sobre a tentativa do prefeito Gilberto Kassab (PSD) de se aproximar do PT: “Ele
joga bem e o PT não deve rejeitar o que depois pode ser útil”.
Põe na conta
A Câmara dos Deputados vai gastar menos com
reformas este ano: R$ 135 milhões. A ONG Contas Abertas apurou que só a
ampliação do Anexo IV poderá custar R$ 95 milhões. O Tribunal de Contas da
União reservou R$ 14 milhões para reformar sua sede em Brasília.
Areia movediça
A Justiça do Ceará paralisou a construção da
Central Eólica Trairi, sob pena de multa de R$ 500 mil diários, por prejudicar
o “pôr do sol” nas dunas da praia de Flecheiras, famosa pelo turismo com os
“bugreiros”.
Agora vai
A Infraero contratou por R$ 28,8 milhões, em São
Paulo, a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico para diagnóstico e
implantação de nova gestão no setor da estatal. Leia-se aeroportos ruins.
Pensando bem...
... pela afinidade com os costumes locais, o
comandante do Costa Concordia pedirá asilo ao Brasil assim que sair da cana na
Itália.
Frase
Nós respeitamos a posição do ex-governador” –
Geraldo Alckmin (PSDB), governador paulista, aliviado com a desistência de
Serra
Na gaveta
O projeto de “regulação da mídia”, sonho
autoritário de Gilberto Carvalho e do ex-jornalista Franklin Martins, está no
Ministério das Comunicações, mas o ministro Paulo Bernardo não simpatiza com
ele.
Bardo Relutante
O leitor Laudelino Marcos Silva, de Blumenau (SC),
sugere outra minissérie na Globo: “O Bardo Relutante”, inspirada no senador
Aécio Neves (PSDB-MG), o mais retumbante fiasco do ano político de 2011.
Um João festeja, outro silencia. E o PT ferve
Ex-prefeito agradece liderança apontada na primeira
pesquisa JC/IPMN como um reconhecimento de sua gestão. João da Costa não fala e
petistas expõem preocupação
Bruna Serra
As principais lideranças petistas reagiram com
resignação aos números apontados pela pesquisa do Instituto de Pesquisa
Maurício de Nassau (IPMN), publicada ontem pelo JC. Não houve, nas declarações,
muita convicção de que o prefeito João da Costa tenha condições de reverter os
índices de rejeição – altos na amostragem –, mas ninguém chegou a cogitar a
retirada do seu nome. Os petistas tiveram que reconhecer, alguns a contragosto,
o poderio eleitoral do deputado federal João Paulo, que lidera com folga o
cenário da pesquisa onde é incluído na lista de pré-candidatos.
Com um forte percentual de rejeição, João da Costa
– que empata tecnicamente com Mendonça Flho (DEM) nos cenários em que os dois
aparecem – preferiu silenciar, cabendo ao presidente municipal do PT, Oscar
Barreto, partir em sua defesa. “Vamos avaliar o conjunto das perguntas para
poder ter uma leitura mais precisa do que é essa rejeição”, disse o petista.
Ele reafirmou, que João da Costa segue na disputa. “Nada muda, o prefeito
continua sendo candidato”.
Já o deputado federal João Paulo, que em um dos
cenários apareceu na pesquisa com 46% das intenções de voto, disparado na
frente, preferiu manifestar por nota a sua satisfação. “Sou grato ao povo do
Recife pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de oito anos de
gestão à frente da prefeitura”, afirmou o ex-prefeito, também apontado na
pesquisa como o mais forte opositor à atual gestão.
Na direção estadual do PT, as declarações foram
cautelosas, porém sem esconder o desânimo com os números do prefeito – em uma
das tabelas, 75% dos 816 eleitores recifenses entrevistados avaliam que Costa
“não merece ser reeleito”. Integrante da tendência Construindo um Novo Brasil
(CNB), Dilson Peixoto alertou para a necessidade de uma decisão criteriosa. “A
pesquisa mostra que precisamos de um trabalho forte e cuidadoso para definir o
candidato”, opinou. Um dos principais líderes do partido, o senador Humberto
Costa demonstrou receio com a percepção que o eleitorado tem da briga entre o
prefeito e o antecessor. “Na verdade, depois de tantas desavenças, já ficou
claro para a população de que há um desentendimento político entre ambos,
fatalmente na campanha isso seria do conhecimento da população”.
O senador avalia que ainda é possível reverter a
rejeição ao prefeito. “Há tempo suficiente para um processo de reversão. Nas
campanhas anteriores a rejeição não era tão intensa, mas era forte em relação a
João Paulo e Luciana Santos (PCdoB, ex-prefeita de Olinda). Reverter depende de
várias questões, mas principalmente do candidato. Há um trabalho de recuperação
da gestão, então acredito que vamos ter condições de mudar”.
O presidente estadual do PT, Pedro Eugênio, tentou
minimizar: ”as pesquisas nos ajudam, mas não são determinantes. Esse é um
elemento, uma referência do momento, mas vamos continuar o nosso processo de
discussão interna”, disse.
Ministros da zona do euro têm nova reunião
ATENAS E SÃO PAULO – Os ministros de Finanças da
zona do euro se reúnem hoje, em Bruxelas, com a missão de reverter o impasse no
acordo entre o governo grego e seus credores privados, para redução da dívida
do país. Eles devem pressionar as duas partes a resolver as questões técnicas
ainda pendentes. Para a Europa, o acordo impedirá que a crise da dívida se
arraste para economias maiores, como a Itália.
A ideia é que o acordo seja fechado antes da cúpula
europeia, em 30 de janeiro. O representante dos credores privados da Grécia
disse ontem que continua otimista, mesmo após um fim de semana sem avanços.
“Nós estamos em uma encruzilhada e eu continuo
esperançoso”, disse Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças
Internacional (IIF pela sigla em inglês).
Na sexta-feira, fontes ligadas às negociações
disseram que um acordo estava próximo e que os credores da Grécia aceitariam
perdas de 65% a 70%. Mas uma intervenção de última hora do FMI e da Alemanha –
pedindo que os credores aceitem juros ainda menores – desvirtuou o acordo. O
FMI, dizem as fontes, quer que os novos bônus da Grécia paguem no máximo 3,5%.
Dallara não fez comentários sobre isso.
O ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos,
afirmou que o diálogo continuaria por telefone, mas não houve notícia de
avanços. A Grécia quer que este grupo de credores troque seus papéis da dívida,
reduzindo em 100 bilhões sua dívida de mais de 360 bilhões.
O acordo é condição ainda para o recebimento da
nova parcela do segundo pacote de ajuda financeira à Grécia, de 130 bilhões.
Ontem, o banco dos EUA Sachs afirmou que o acordo aniquilaria o risco sistêmico
sobre os europeus, salvando seu elo mais fraco.
Dallara disse ontem que os bancos e os credores em
geral fizeram uma “oferta máxima” ao governo grego para um acordo da dívida.
Dallara disse estar confiante no acordo em breve.
Em declarações ao canal de televisão Antenna,
Dallara afirmou que uma proposta feita pelos bancos a respeito da troca de
bônus será avaliada, agora, por funcionários da União Europeia e do Fundo
Monetário Internacional. “Nossa oferta, entregue ao primeiro-ministro (da
Grécia), é a oferta máxima consistente com um acordo voluntário PSI”, ele disse.
ECONOMIA
CONTAS PÚBLICAS
Governo deve
definir hoje os cortes no OGU
A presidente Dilma Rousseff deverá definir hoje,
numa reunião com os 38 ministros, o corte nos programas dos ministérios para
economizar cerca de R$ 70 bi
BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff deverá
definir hoje, numa reunião com os 38 ministros, no final da tarde, o corte nos
programas dos ministérios para que sejam economizados cerca de R$ 70 bilhões no
Orçamento de 2012. Desde quinta-feira a presidente vem ouvindo os planos de
cada um dos ministros para este ano. As reuniões terminam hoje, com os
ministros do setor de infraestrutura. Em seguida, haverá o encontro geral.
Decidido o valor do corte no Orçamento, o Banco
Central terá como fazer os cálculos para a política da taxa de juros – que vem
se mantendo em queda – sem comprometer o plano de segurar a inflação deste ano
na meta de 4,5%. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom)
reduziu a taxa básica da economia (conhecida por taxa Selic) para 10,50% ao
ano. As expectativas do mercado são de que as quedas continuem nos próximos
meses.
A ideia posta em prática pela presidente Dilma
Rousseff é a de que se o governo segurar seus gastos sobrará espaço para que o
BC aja como o mercado espera. Isso dará mais força à oferta de crédito e
financiamento – assunto que ganhou uma reunião específica com a presidente
ontem e da qual participaram os ministros Guido Mantega (Fazenda), Miriam
Belchior (Planejamento), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia,
transferindo-se para a Educação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior) e os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e da Caixa, Jorge Hereda.
A ideia é favorecer o crédito produtivo, para
incentivar o consumo, e também para aumentar a exportação por empresas
brasileiras.
A favor do governo está a expectativa de mais um
ano de forte arrecadação de impostos, assim como ocorreu em 2011.
Só de receitas extras, fala-se, por baixo, de mais
R$ 18 bilhões. Se confirmado o aumento, uma estratégia poderá ser a de
simplesmente limitar o crescimento dos gastos. Dessa forma, os investimentos da
União poderiam ser feitos sem corte nenhum.
Para este ano, são previstos investimentos de R$
79,7 bilhões, dos quais R$ 42,4 bilhões são para obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC).
A avaliação da equipe econômica é a de que o Brasil
vem conseguindo algum descolamento da crise internacional. A questão é que a
percepção também é a mesma por parte dos investidores estrangeiros, que
passaram a remeter pequenas fortunas para a bolsa brasileira nos primeiros dias
do ano. Esse movimento, ao lado de outros indicadores preliminares, fez o dólar
recuar mais de 5% desde 1º de janeiro.
Rápidas - Venezuela pede crédito ao BNDES
A Venezuela negociará crédito de até US$ 814
milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
brasileiro para financiar a compra de 20 aviões de uso comercial da Embraer,
disse ontem o presidente Hugo Chávez. As aeronaves integrarão a frota da
companhia estatal venezuelana Conviasa. Chávez informou, ainda, que está em
negociação a compra de quatro aeronaves Airbus 340-500 com cinco anos de uso de
uma companhia estatal dos Emirados Árabes por US$ 60 milhões cada. “Aprovados
os recursos para a aquisição destes aviões, só resta fazer o esclarecimento de
crédito”, afirmou Chávez.
Rápidas - Número de pobres cai muito no Brasil
O número de pessoas em situação de pobreza extrema
caiu drasticamente na última década, segundo uma pesquisa da IPC Marketing,
consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo. Em 1998, o número
de domicílios da Classe E chegava a 13%, segundo dados do IBGE. Hoje, de acordo
com a IPC Marketing, apenas 0,8% dos domicílios estão situados na Classe E.
Esse percentual corresponde a 404,9 mil lares. No total, o Brasil tem 49
milhões de domicílios. O percentual dos mais pobres é bem parecido com o dos
mais abastados (0,5%). A grande massa está mesmo nas classes B e C.
VIOLÊNCIA
Reintegração de posse gera confronto em SP
Uma pessoa foi baleada e outras dez se feriram
durante a desocupação de uma favela em São José dos Campos. Moradores
resistiram e houve enfrentamento com a polícia
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) – A reintegração de posse
de uma área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, deixou um
rastro de destruição nas ruas da cidade do interior paulista ontem. Um homem
levou um tiro nas costas e está hospitalizado. Outras dez pessoas ficaram
feridas – entre elas um PM e um assessor enviado pela Presidência da República
para acompanhar a ação – numa série de confrontos que se espalharam pelos
bairros vizinhos, na periferia. Até as 20h (19h pelo horário do Recife), ainda
havia focos de conflito.
Atendendo a uma determinação da Justiça Estadual, a
Polícia Militar iniciou a operação por volta das 6h locais. A área, pertencente
à massa falida de uma empresa do megainvestidor Naji Nahas, foi invadida em
2004. Cerca de 6 mil pessoas moravam no terreno.
Ontem, cerca de 3 mil estavam no local – metade já
havia saídos com medo de conflitos. Parte dos moradores chamou a atenção do
País ao formar um Exército improvisado para resistir à polícia. Com escudos de
latão, porretes e capacetes, passaram as últimas semanas à espera. Ontem,
poucos usaram a indumentária, pois disseram ter sido pegos de surpresa.
Um centro poliesportivo, onde foram montadas tendas
pela prefeitura para atendimento de moradores que perderam as casas, foi
depredado. Foi em torno desse centro, próximo à área desocupada, que ocorreram
os principais confrontos ontem. Num deles que uma pessoa foi baleada durante um
conflito com guardas municipais.
Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil para
identificar o responsável pelo disparo. O comando da PM diz que o tiro não
partiu de seus homens, já que a arma utilizada foi um revólver calibre 38,
armamento aposentado pela corporação. A guarda local utiliza 38.
Houve um espancamento, presenciado pela reportagem,
de um homem por um grupo de guardas civis. A guarda não explicou os motivos.
“Isso está uma praça de guerra. São esses maloqueiros que querem depredar
tudo”, disse o comandante da guarda, Jorge Pinheiro.
Seis veículos foram incendiados por moradores, dois
pertencentes a empresas de comunicação. Dezesseis pessoas foram detidas por
vandalismo. Segundo a PM, parte dos presos não era de moradores. Havia vários
representantes de movimentos sociais.
A rodovia Presidente Dutra chegou a ser interditada
por um grupo de pessoas em apoio às famílias retiradas. Uma pessoa foi presa em
flagrante ao atacar um carro da PM. Até um carro dos bombeiros foi atacado a
pedradas. O advogado que representa os moradores, Antonio Donizete Ferreira,
afirma ter sido baleado na virilha, no joelho e nas costas com balas de
borracha.
INTERNACIONAL
Oposição cubana quer encontro com Dilma
HAVANA – Opositores do governo cubano e defensores
de direitos humanos querem aproveitar a visita da presidente Dilma Rousseff ao
país para fazer um relato sobre a situação dos prisioneiros políticos e sobre
os abusos contra dissidentes.
Dilma chegará ao país poucos dias após o enterro de
Wilman Villar Mendoza, dissidente de 31 anos ligado à União Patriótica de Cuba.
Ele morreu na última quinta-feira, após 50 dias de greve de fome, em protesto
contra a sentença de quatro anos de prisão por desobediência após participar de
uma manifestação pacífica.
A porta-voz das Damas de Branco, Berta Soler, disse
que, apesar de ainda não ter encaminhado pedido formal, o grupo gostaria de se
reunir com a presidente para apresentar dados sobre a situação de direitos
humanos no país.
“Dilma pode ter mais sensibilidade com o tema por
ser mulher. O principal problema é que o governo cubano pode não permitir.
Queremos falar sobre a situação que vivemos, em que o governo dia a dia viola
nossos direitos.”
O grupo de familiares de dissidentes acusou ontem o
regime cubano de assassinar Villar. Carregando flores e imagens do dissidente,
cerca de 40 mulheres fizeram um minuto de silêncio pela morte do detento
durante sua marcha semanal em Havana. “Hoje é um dia em que o povo de Cuba, as
Damas de Branco e a oposição interna estão de luto. Perdemos um homem jovem que
deu a vida pela liberdade do povo cubano”, disse Berta.
Para Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos
Humanos, o momento da visita da presidente não poderia ser pior. “Acabamos de
enterrar mais um prisioneiro político. É uma situação desafiadora para a
presidente. Só no mês passado foram feitas 800 detenções arbitrárias”, disse.
Sánchez afirma que gostaria de, ao menos, ter uma
reunião com um membro da delegação brasileira, mas tem poucas esperanças de que
Dilma faça menção aos direitos humanos durante a visita. “A única coisa que
espero é que ela não faça nenhum pronunciamento negativo, como lamentavelmente
fez o presidente Lula em sua visita ao país, quando desqualificou o prisioneiro
Orlando Zapata Tamayo, que morreu após 85 dias de greve de fome.” Na época,
Lula comparou a situação dos dissidentes com a de prisioneiros comuns no Brasil.
Liga Árabe prolonga missão na Síria
CAIRO – Confrontos entre tropas sírias e desertores
do Exército irromperam ontem em um subúrbio da capital Damasco, no dia em que a
Liga Árabe informou no Cairo que estenderá por mais um mês sua missão de
observadores na Síria. O governo da Arábia Saudita, contudo, disse que retirará
seus observadores da missão. Os chefes diplomáticos árabes também pediram ao
presidente sírio, Bashar al-Assad, que delegue “prerrogativas ao vice”, e a
formação de um governo de união nacional em dois meses.
Paralelamente ao encontro no Cairo, pelo menos
cinco pessoas foram mortas em Douma, subúrbio de Damasco, de acordo com grupos
de ativistas. Já os Comitês de Coordenação Local afirmaram que 12 pessoas foram
mortas m confrontos ao redor do país.
“Existe um progresso parcial na implementação das
promessas do governo sírio”, disse no Cairo o chefe da Liga Árabe, Nabil
al-Arabi. A Síria “não cumpriu todas as suas promessas, embora tenha
implementado parte do que prometeu”, afirmou o secretário-geral. Ele disse que
o uso de uma “força extrema” da parte do governo de Al-Assad levou a uma reação
dos opositores, “no que poderá levar a uma guerra civil”.
O governo da Arábia Saudita anunciou que está
retirando seus observadores da missão no país. “O governo sírio não implementou
o plano árabe”, justificou o ministro das Relações Exteriores da Arábia, Saudi
al-Faisal.
Os chanceleres árabes pediram a Al-Assad que
“delegue prerrogativas ao vice-presidente para negociar com um governo de união
nacional”, que deve ser formado “em dois meses”, segundo o comunicado, lido
pelo premiê do Catar, xeque Hamad ben Jasem al-Thani, durante uma entrevista
coletiva.
A Liga Árabe buscará agora o apoio da ONU às suas
iniciativas. “Informaremos a ONU sobre o conjunto de resoluções da Liga, com
vistas à sua aprovação”, disse Al-Thani. Nabil al-Arabi explicou na coletiva
que a organização busca o apoio da ONU para dar “mais peso” a seu plano de
saída da crise na Síria.
Al-Thani explicou, posteriormente, que “a nova
iniciativa árabe aprovada pelos chanceleres tem como objetivo uma saída do
regime sírio de maneira pacífica”. O líder do Catar expressou seu desejo de que
o governo sírio aceite um plano “parecido com o do Iêmen”, que permitiu um
acordo para a saída do presidente Ali Adbullah Saleh.
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