DESTAQUE DE CAPA
Dilma: ‘Pibão foi bom’, mas não se repetirá nos próximos anos
Presidente paga conta de gastança e estímulo ao consumo em ano eleitoral
Após encolher 0,6% em 2009, a economia brasileira cresceu 7,5% em 2010, a maior alta desde 1986, ano do Plano Cruzado, informou o IBGE. Com isso, o país já tem o sétimo maior PIB do mundo. A presidente Dilma disse que “o Pibão foi bom”, mas ressalvou que o governo não acredita que o percentual irá se repetir nos próximos anos. “Vamos procurar uma taxa razoável, de 4,5% a 5%, que seja sustentável.” Segundo economistas, o aumento de gastos no governo Lula, em ano eleitoral, e o consumo recorde fizeram o Brasil crescer acima do sustentável, pressionando a inflação e os juros. Para o FMI, é hora de desacelerar para evitar o superaquecimento.
MISSÃO DE PAZ
Medido estresse de militares no Haiti
Missão brasileira perturba-se mais com saudades do que com conflitos
Renato Grandelle
Reconstruir um país destroçado por décadas de ditaduras e guerras civis é um teste para os nervos de qualquer um. Que o digam os militares da missão de paz criada pelo Conselho de Segurança da ONU, em operação no Haiti há quase sete anos. O trabalho de pacificação, desde o início sob o comando brasileiro, é complexo e pode afetar a saúde mental dos seus participantes, provocando depressão ou, entre testemunhas dos rotineiros casos de violência, sintomas de estresse pós-traumático. Estes riscos motivaram três institutos - Fiocruz, UFRJ e o Instituto de Pesquisas da Capacitação Física do Exército - a avaliar o estresse de cerca de 600 praças e oficiais enviados à América Central. Os resultados foram melhores do que o esperado, embora revelem que, agora, alguns voluntários são mais vulneráveis a emoções fortes do que antes da viagem. Um dos pilares da pesquisa foi a análise do cortisol, o hormônio do estresse. A coleta de saliva, necessária para esta avaliação, foi realizada antes e após a passagem pelo Haiti, que durou seis meses. Os voluntários também responderam a perguntas sobre sua personalidade, situação financeira e histórico de traumas - casos de violência por que passou ou testemunhou.
Dos militares participantes de um dos estudos, apenas um deles foi diagnosticado com sintomas de estresse pós-traumático. Em situações de confronto, essa média histórica, de acordo com levantamentos ingleses, costuma chegar a 5%. Houve, no entanto, episódios em que ela foi quatro vezes maior. De acordo com o psicólogo Wanderson Souza, do Grupo de Pesquisa de Transtornos Relacionados a Estresse da UFRJ, o que mais perturbava os militares não era o risco de vida ou um combate armado, mas as saudades da família e assistir às dificuldades dos haitianos.
- O caráter humanitário de uma missão de paz permite ao soldado dar um caráter lógico ao seu estresse: ele sabe por que está naquele local e qual é o seu papel. Na guerra, muitas vezes isso não acontece - explica. - Além disso, o contingente, por ser do Brasil, não se assusta tanto com as condições de miséria encontradas. É um choque muito menor do que o registrado, por exemplo, por uma tropa holandesa.
O tenente-coronel Moacyr Alcoforado, que serviu em um dos contingentes estudados, lembra ter encontrado o Haiti em condições muito precárias, mas, em certos aspectos, muito semelhante ao "que pode ser visto em grandes centros aqui no Brasil":
- Vimos corpos, provenientes de brigas entre facções locais, que permaneciam nas ruas misturados ao lixo por muito tempo. A população havia se acostumado com tal situação. Nós estávamos preparados para enfrentar essa situação.
A visão humanitária de Alcoforado pode tê-lo ajudado a passar pela missão sem maiores distúrbios. A ligação entre o nível de envolvimento com a assistência à população e o estresse foi estudado pela biomédica Nastassja Fischer, pesquisadora do Instituto Carlos Chagas Filho, da UFRJ. Os soldados que participaram de seu levantamento faziam, pela manhã, a medição de dois hormônios antagônicos - o cortisol e o DHEA.
- Os entrevistados com maior nível de cortisol eram aqueles com menor capacidade de resistir a seus problemas - ressalta. - Quanto maior a sua visão humanitária, maior era a secreção do DHEA, o hormônio "antiestresse".
No entanto, mesmo nos militares que melhor respondiam a situações exaustivas, o estresse instala-se quase em caráter permanente - ao menos enquanto dura a missão.
- É natural que a resposta hormonal diminua durante a missão. Trata-se de uma adaptação do corpo à exposição constante ao trauma - pondera Ana Carolina Ferraz Mendonça, neurofisiologista da UFRJ. - Agora, o estresse deixa de ser contínuo e torna-se novamente pontual. O entrevistado, então, terá maior sensibilidade e reagirá com mais intensidade à tensão.
Com os novos conceitos de estresse e vulnerabilidade, o grupo espera desenvolver novos treinamentos para o Exército, aumentando a resistência dos soldados à missão.
POSSE NO STF
Na posse de Fux, clima de cobranças ao STF
Casos emperrados na Corte, como os da Lei da Ficha Limpa e dos suplentes, devem finalmente ter uma decisão
Carolina Brígido e Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. O ministro Luiz Fux assumiu ontem uma das 11 cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF) em clima de cobrança e expectativa. As cúpulas do Judiciário e da política brasileira querem ver logo decididos processos que aguardavam só a nomeação de Fux para ser julgados. É o caso da validade da Lei da Ficha Limpa para as eleições de 2010, assim como a polêmica sobre suplentes dos deputados: se devem ser do mesmo partido ou da mesma coligação. Mas ninguém arriscou uma data para os julgamentos.
- Esperamos que a posição do ministro Fux venha desempatar esse jogo em favor do Brasil, ou seja, em favor da aplicação completa e imediata da Lei da Ficha Limpa - disse o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, que foi à posse.
- O tribunal não existe para empatar, existe para decidir - disse o ministro do STF Gilmar Mendes.
Presidente da Câmara espera decisão rápida sobre suplentes
A Lei da Ficha Limpa impede a candidatura de políticos condenados por colegiado ou que renunciaram a mandato para escapar de cassação. Ano passado, foi concluído só o julgamento do caso de Jader Barbalho (PMDB-PA), barrado das eleições para o Senado pela nova regra. O julgamento terminou em empate em cinco votos a cinco. Optou-se pela manutenção da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que confirmou a validade da lei para o ano passado.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), também espera que as decisões saiam logo. O STF tem decidido, em liminares, que o substituto do deputado eleito deve ser o segundo mais votado na lista do partido. Mas, na interpretação da Câmara, a vaga é da coligação:
- É um tema importante a ser pacificado no STF.
O presidente do TSE e ministro do STF, Ricardo Lewandowski, disse que o Supremo analisará em breve as questões polêmicas. E elogiou a Ficha Limpa:
- Vamos enfrentar os grandes temas que estão aguardando o 11º ministro. Espero que tenhamos uma decisão sobre a Lei da Ficha Limpa. Independentemente de uma lei formal, a Ficha Limpa foi uma mudança de cultura importantíssima. A lei é uma ideia sem volta - afirmou.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, também elogiou a lei:
- A Ficha Limpa mudou a cultura da sociedade brasileira, que disse à classe política que quer uma política séria e limpa. Tenho certeza que o ministro Fux vai manter esse entendimento.
Fux, que não discursou, não se intimidou com a cobrança:
- Quando colocarem em pauta, estarei pronto para decidir. Estou tranquilo.
Também foram à posse o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e Nelson Jobim, (Defesa) o governador Sérgio Cabral, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) e o senador Lindberg Farias (PT-RJ).
PANORAMA POLÍTICO
Fernanda Krakovics
Sempre alerta
Como passará o Carnaval em Natal, a presidente Dilma brincou com o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), que aproveitaria para sobrevoar a área do aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Ele havia cobrado agilidade nas obras.
Aeronáutica
Foram escolhidos os novos membros do Alto-Comando da Aeronáutica: tenentes-brigadeiros Nivaldo Luiz Rossato, Francisco Joseli Parente Camelo e Hélio Paes de Barros Júnior.
DESCANSO DA PRESIDENTE
Em base militar com praia deserta, Dilma passará carnaval em família
Barreira do Inferno passou por reformas para receber presidente
Luiza Damé
NATAL. A presidente Dilma Rousseff desembarca no início da noite de hoje em Natal, onde passará o carnaval, no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, base militar da Aeronáutica a 13 quilômetros da capital do Rio Grande do Norte. O local foi escolhido a dedo pela presidente, que quer privacidade nos próximos quatro dias, quando terá a companhia da filha Paula e do neto Gabriel. Para receber a presidente, o centro passou por adequações nas áreas de segurança e comunicações.
Melhorias custaram cerca de R$8 milhões
As melhorias na Barreira do Inferno - primeira base de lançamento de foguetes no Brasil, implantada em 1965 - teriam custado R$8 milhões. Foi necessário implantar equipamentos de informática, comunicação e segurança para a estadia de Dilma. Também devem acompanhar a presidente sua mãe, Dilma Jane, sua tia Arilda e seu genro, Rafael Covolo.
A presidente avaliou opções como a base da Restinga de Marambaia, no Rio, e a ilha de Fernando de Noronha, mas considerou que, nos dois locais, não teria a privacidade desejada. Optou pela Barreira do Inferno, entre as praias de Ponta Negra, em Natal, e Cotovelo, em Parnamirim. O centro militar é isolado: o espaço aéreo é fechado, há falésias ao norte e ao sul, e o mar será vigiado pela Marinha.
A Barreira do Inferno tem oito quilômetros quadrados e está em "operação de treinamento" desde a semana passada. Visitas que ocorrem ao longo do ano foram suspensas. O hotel de trânsito do local tem 30 apartamentos confortáveis, mas não dispõe de piscina e restaurante. Dilma e comitiva farão refeições no refeitório dos militares.
Na praia deserta, há um quiosque com churrasqueira. Barreira do Inferno - nome dado por pescadores por causa do sol refletido nas falésias avermelhadas - está a cinco minutos de helicóptero da Base Aérea de Natal.
Dilma pretende descansar e não deve ter agenda política, embora circulem informações de que a governadora Rosalba Ciarlini (DEM), a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), e a ex-governadora Wilma de Faria (PSB) gostariam de visitá-la.
Eduardo Safra, do Banco Safra, também poderia se encontrar com Dilma. Do potiguar Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara, Dilma aceitou sugestão de restaurante na Rota do Sol, perto da Barreira.
COLABOROU: Paulo Francisco
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