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sexta-feira, 4 de março de 2011

4 de março de 2011 - JORNAL ZERO HORA - RS



PIBÃO DE 7, 5%
O voo da economia
Depois de obter o maior avanço em 24 anos, em 2010, desafio é reduzir ritmo para manter crescimento contínuo do país

Um dia depois de ter elevado o juro básico em meio ponto percentual para frear a economia, o governo anunciou ontem que o país registrou no ano passado a maior expansão do Produto Interno Bruto (PIB), indicador que mede as riquezas do país, desde 1986.
Com os 7,5%, em crescimento o Brasil só fica atrás da China e da Índia entre as principais economias globais (veja ranking na página ao lado) e teria alcançado o posto de sétima maior do mundo, segundo projeções do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Apesar de expressivo, o resultado mostra uma fotografia velha: a economia terminou o ano em desaceleração e, em 2011, o desafio de crescer entre 4,5% e 5% esbarra num cenário externo adverso e numa ameaça cada vez mais real de aumento de inflação.
Mantega reconheceu ontem que o crescimento em ritmo chinês, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é insustentável e indesejável:
– Mostra a capacidade produtiva da economia brasileira. Vamos continuar crescendo, mas com equilíbrio para afastar problemas de abastecimento e de inflação.
O avanço do ano passado foi motivado principalmente pela indústria e pelo consumo das famílias. A economia, porém, já está esfriando, aponta o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Rogério Cézar de Souza:
– O que não quer dizer que 2011 será um ano ruim. Mas para crescer de modo sustentável, sem inflação, é preciso melhorar questões ligadas à infraestrutura.
A desaceleração provocada pelo governo já é visível: a indústria gaúcha, segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), registrou retração pelo segundo mês consecutivo em janeiro, caindo 0,5% em relação a dezembro. A inflação, atacada com um corte de gastos de R$ 50 bilhões detalhado na terça-feira pelo governo e com o segundo aumento do juro na era Dilma, também não dá sinais de trégua.


Dilma reforça ação contra a inflação

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria alertou que causa preocupação o recuo da atividade industrial no segundo semestre do ano passado. Entre as centrais sindicais, CUT e Força Sindical criticaram os juros “estratosféricos” que travam o crescimento do setor produtivo.
Ainda assim, espera-se mais esfriamento. Ontem, em encontro em Brasília, a presidente Dilma Rousseff e o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, conversaram sobre os riscos do superaquecimento da economia e a necessidade de crescimento “lento e estável” dos países emergentes.
– É chegado o momento de desacelerar a economia – afirmou Strauss-Kahn sobre o Brasil após o encontro.
A presidente chegou a comentar:
– O pibão foi bom – disse, quando se deslocava para a rampa do Palácio do Planalto a fim de recepcionar o primeiro-ministro do Timor Leste, ao responder uma pergunta de um jornalista.
Mais tarde, em entrevista coletiva à imprensa, elogiou o crescimento de 7,5% da economia, mas reforçou que para este e os próximos anos espera taxas em torno de 4,5% a 5%. Dilma ressaltou que o governo está empenhado em ajustes para permitir que o crescimento do PIB possa ser contínuo.
– Esse número demonstra que o Brasil tem capacidade de crescer a essas taxas e, nos próximos anos, não acreditamos que repetiremos esses 7,5%, mas ficaremos numa faixa de 4,5%, 5% tranquilamente.
Dilma reforçou ainda a preocupação do governo com a estabilidade dos preços:
– Não vamos deixar a inflação ficar fora de controle. Vamos ter um olho na estabilidade e outro nos investimentos.
O cenário externo também é um complicador. O economista Antonio Carlos Fraquelli, da Fundação de Economia e Estatística (FEE) lembra que a crise nos países árabes coloca o preço do petróleo como uma incógnita.
– Aquele 2011 de recuperação da economia mundial já começa a ficar distante – avaliou.
BRASÍLIA
Carolina Bahia

O Pibão e o vento
O PIB gigante de 2010 não vai se repetir em 2011 porque o Brasil esqueceu de se preparar para crescer. E, agora, não adianta o governo reclamar da administração tucana. O presidente Lula teve oito anos para sedimentar os eixos da economia. Os investimentos em infraestrutura poderiam ter saído do papel, com a redução de burocracias, com a eleição de prioridades. Apesar de todo o barulho das várias versões do PAC, o país não consegue nem mesmo ter aeroportos decentes para garantir – sem sobressaltos – a Copa de 2014. Estradas e portos em condições de sustentar a economia aquecida por mais de dois anos, nem se fala. Este é um dos gargalos. O outro, é a falta de tradição em crédito de longo prazo para incentivar as indústrias locais. O resultado é o consumo mais acelerado do que a produção, provocando o dragão adormecido da inflação. A administração Dilma paga agora pela falta de planejamento do passado, quando ela era a gerente do governo Lula.
FONTE: JORNAL ZERO HORA

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