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quinta-feira, 17 de março de 2011

17 de março de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Radiação está muito alta, diz chefe nuclear dos EUA

O chefe da comissão nuclear dos EUA, Gregory Jaczko, disse no Congresso crer que a radiação de Fukushima esteja "extremamente alta". Baseado em relatos, ele considera que o tanque do reator 4 não tem mais água para resfriar o urânio. Os japoneses negam, mas a Embaixada dos EUA aconselhou a seus cidadãos evitar o raio de 80 km da usina.


31 DE MARÇO
Exército retira celebração de data de início da ditadura
Força não explica por que 31/3 foi retirado

DE BRASÍLIA

O Exército retirou do seu calendário oficial a comemoração do dia 31 de março, que marca o início da ditadura militar (1964-1985). Até novembro do ano passado, a "data comemorativa" ainda constava do portal do Exército na internet.
Questionada pela Folha ontem, a assessoria de imprensa confirmou que o dia constava do calendário de comemorações, mas não soube informar o motivo da mudança no final do ano. Segundo a assessoria, outras datas também foram retiradas, mas ela não soube exemplificar quais eram.
Em nota enviada ao jornal, o Exército afirmou que "datas comemorativas constantes do novo portal" são o Dia da Pátria (7 de setembro), o Dia da Vitória (8 de maio), o Dia do Reservista (16 de dezembro) e o Dia da Bandeira (19 de novembro). Ainda segundo a nota, comemoram-se as datas magnas das três Forças Armadas; e as datas de Armas, Quadros e Serviços do Exército (como infantaria e cavalaria).


PAINEL DO LEITOR

Exército
Não consegui entender como um jornalista como Janio de Freitas, que tem oportunidade de obter a tempo informações necessárias para não assinar um texto em que ocorra uma inverdade, fez o que fez no artigo "Contra as verdades" (Poder, 13/3).
Ao especificar que "foi em represália a esse projeto [Comissão da Verdade, projeto encaminhado ao Congresso pelo governo Lula] que o patrono designado para a Turma de Aspirantes de 2010, no Exército, é o general Médici", Janio deixou de ser alertado, ou não quis sê-lo, de que a escolha dos patronos é feita no ano em que a turma ingressa na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, isto é, pouco mais de quatro anos antes da formatura dos aspirantes. Aliás, patrono não é "designado", e sim "eleito" pela turma.
GILBERTO SERRA, general de brigada reformado (Campinas, SP)


ASSENTO PERMANENTE
EUA se esquivam de apoio ao Brasil em órgão da ONU
Brasília objetiva vaga permanente no Conselho de Segurança em reforma
Casa Branca julga já ter ajudado país a elevar a presença global; Obama realiza visita ao Brasil neste final de semana

PATRICIA CAMPOS MELLO - ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
ANDREA MURTA - DE WASHINGTON

Os EUA não se comprometeram ontem a dar apoio formal à ambição brasileira a um assento permanente em um Conselho de Segurança da ONU ampliado na visita do presidente Barack Obama ao Brasil, no fim de semana.
Questionado sobre a possibilidade, Dan Restrepo , responsável por Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional, disse apenas: "O presidente Obama e a presidente Dilma vão discutir a reforma da ONU. E também vão discutir em um contexto amplo a adoção de uma nova arquitetura global que reflita novas realidades."
Obama, quando foi à Índia em novembro passado, declarou abertamente apoio à entrada dos indianos no CS.
A reforma do conselho da ONU permitiria ampliar o número de membros permanentes dos cinco atuais (China, EUA, Reino Unido, França e Rússia) para dez.
"Será um conversa ampla sobre a importância de instituições fortes para a paz e segurança no mundo, e inevitavelmente a ONU surgirá."

AJUDA
Anteontem, a Casa Branca disse já ter ajudado muito o Brasil em suas ambições para ganhar destaque global.
"Os EUA pressionaram, com sucesso, para que países como o Brasil tivesse um papel maior nos assuntos econômicos internacionais e advogou de forma enérgica para que o G20 se tornasse o principal foro de cooperação", disse a Casa Branca.
"Os EUA agiram de forma agressiva para aumentar o papel de países como o Brasil no FMI e Banco Mundial."
A Casa Branca confirmou que o grande discurso para a América Latina será em Santiago, e não mais no Rio, como fora dito anteriormente.
Restrepo destacou que a discussão de Obama com o Brasil vai girar em torno de temas globais e parceria no cenário internacional, inclusive na área de segurança.
"Temos muita disposição para fazer o possível para avançar juntos com o Brasil a paz global e a segurança."
Restrepo praticamente descartou a chance de acordo entre EUA e Brasil para a compra de caças no projeto de modernização da Força Aérea brasileira. "Não há expectativa de negócios bilionários sendo anunciados."


Brasil está pessimista com visita de Obama
Declaração de funcionário da Casa Branca de que foco é a recuperação americana "azeda" clima pré-encontro
Desânimo é reforçado por risco de presidente não comparecer a jantar oferecido por Dilma e antecipar ida ao Rio

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto começa a revelar pessimismo em relação à visita de Barack Obama, neste final de semana, e reclama da resistência dos EUA em discutir temas de interesse do Brasil, apesar do discurso corrente de implantar um novo capítulo nas relações entre os dois países.
Segundo a Folha apurou, a declaração de um funcionário da Casa Branca, publicada na edição de ontem do jornal, ajudou a "azedar" o clima pré-visita. Mike Froman, vice-conselheiro de segurança nacional de Obama, afirmou que a "viagem é fundamentalmente a respeito da recuperação econômica e exportações americanas".
Nas palavras de um integrante da Presidência, trata-se de um visão utilitarista dos EUA sobre o Brasil, principalmente diante da preocupação da presidente Dilma Rousseff com o deficit comercial brasileiro em relação ao mercado americano- US$ 7,731 bilhões em 2010, em dados do Ministério do Desenvolvimento.
O desânimo foi reforçado pela informação de que o mandatário não iria a um jantar que Dilma havia sugerido no Palácio da Alvorada.
A equipe que negocia os termos do encontro oficial comunicou que Obama gostaria de deixar Brasília rumo ao Rio de Janeiro no fim da tarde de sábado, não por volta das 20 horas, como inicialmente pensado. Até segunda ordem, o evento se transformou em um rápido encontro de despedida.
Representantes da diplomacia brasileira, porém, evocam outro tipo de visão. Consideram que a chegada do presidente da mais importante economia do planeta em menos de três meses de governo já é, por si só, um "êxito".
Apesar da contrariedade entre não diplomatas, o Itamaraty não faz reparos à lista de acordos e termos de cooperação que sairá da visita.
Dilma, embora reconheça o simbolismo da visita, tem dito a assessores que desejava ver do parceiro sinalizações mais concretas de aproximação. Na pauta de seus sonhos, o apoio à campanha brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
À medida que as negociações avançavam, multiplicavam-se as críticas no Planalto. Um interlocutor palaciano argumenta que os EUA tentam vender seus caças F18, mas dizem não aos aviões da Embraer.
Afirma que os americanos desejam entrar na indústria do pré-sal e cooperar na área energética, mas não discutem as tarifas à importação do etanol brasileiro.
Nas reuniões preparatórias, ministros relembram o financiamento de US$ 10 bilhões que a China concedeu à Petrobras no passado.
Um acordo para tratar de uma futura e gradativa eliminação da exigência de vistos a visitantes brasileiros nos EUA não deve sequer entrar nas conversas oficiais.


ENTREVISTA
Para analista, motivação da visita não é clara

DE WASHINGTON

Para Peter Hakim, presidente emérito do "think tank" Inter-American Dialogue, Washington não explicou direito o que quer com a viagem do presidente Barack Obama ao Brasil. A visita acabou se tornando uma indagação sobre o que o Brasil pode fazer pelos EUA, principalmente na economia. (AM)

Folha - O sr. havia dito que via uma falta de propósito na viagem. Por quê?
Peter Hakim - Não sinto que o objetivo real da viagem foi bem explicado. Houve diferentes focos.
Ela acabou se tornando largamente voltada a comércio e negócios. A equipe que viaja com o presidente é praticamente toda da área econômica. Hillary Clinton não vai, nem ninguém da Defesa.
A viagem começou como uma visita presidencial para discutir temas polêmicos que atrapalhavam a cooperação entre os dois países, principalmente Irã e programas nucleares -mas isso se tornou secundário, assim como o papel do Brasil na América Latina e no mundo.
O comércio é terrivelmente importante, mas não é o único tema importante das relações bilaterais. E não sei se os outros temas estão recebendo a atenção que merecem.
Os assuntos mais importantes são geopolíticos, e o Brasil deveria ter chance de falar sobre o Conselho de Segurança da ONU. Espero que esses assuntos sejam abordados e a viagem não seja só para o presidente se sentir bem.

Há sensação no Brasil de que os EUA estão oferecendo pouco. O sr. concorda?
Sim. Washington diz "não pergunte o que os EUA podem fazer pelo Brasil, mas o que o Brasil pode fazer pelos EUA".

A Casa Branca diz que quer fazer parcerias globais com o Brasil. Isso mostra reconhecimento de uma nova estatura do país?
Não sei bem o que eles querem dizer com "parcerias". É improvável que desejem ir até lá discutir o Oriente Médio. Acho que querem fazer programas de assistência na África ou repetir o modelo de cooperação que têm no Haiti.

Então qual o significado da ida ao Brasil?
O Brasil é a parte mais importante da viagem. O que acontecer no Brasil indicará se teremos mudança real de política dos EUA para a América Latina.


ELIANE CANTANHÊDE

Clima de surpresa
BRASÍLIA - No Egito, Barack Obama produziu manchetes mundo afora acenando com um novo patamar nas relações dos EUA com o mundo árabe. Na Índia, anunciando apoio à inclusão do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E no Brasil? A dois dias da chegada do presidente norte-americano a Brasília e a três de seu discurso à la Evita na Cinelândia, no Rio, o que se vê é uma disputa de versões elegantes e tangenciais pela imprensa.
Na versão brasileira, o Planalto sonha com medidas para reverter a balança comercial, que já foi favorável ao Brasil em quase US$ 10 bi em 2006, deu uma cambalhota e chegou a um deficit beirando US$ 8 bi em 2010. Na americana, a intenção de Obama é aprofundar as exportações para o Brasil, que geram 250 mil empregos em solo gringo. Na versão brasileira, a questão da cadeira permanente no Conselho da ONU só vai receber uma referência indireta e burocrática no Comunicado Conjunto. Na americana, pode haver surpresas, e o presidente anunciar algo mais consistente para afagar o ego brasileiro.
Na versão brasileira, o Comunicado Final vai fazer referência ao "interesse comum" e à "parceria" dos dois países na área de energia -petróleo, gás e biocombustíveis. Na americana, é algo bem mais concreto, que envolve muitas verdinhas nos próximos anos: a compra antecipada de petróleo do pré-sal. Ou seja, uma espécie de garantia de preferência, como a China já obteve em outras épocas. As versões do Brasil e dos EUA só coincidem numa coisa: Obama está louco para gostar de Dilma, Dilma está louca para gostar de Obama, e assim começarem novos tempos nas relações entre Brasil e EUA, superando as dificuldades de quando o presidente aqui era "o cara". Ao mostrar que quer novos tempos com o Brasil, Obama estará sinalizando ao mundo o que quer com toda a América Latina. Se isso é só da boca para fora, o tempo dirá.


MÔNICA BERGAMO

TUDO PARADO
O espaço aéreo de Brasília será fechado durante parte do sábado para garantir a segurança de Obama em sua visita à cidade. Quando o avião dele pousar e decolar novamente, terá prioridade absoluta sobre todos os demais.


JANIO DE FREITAS

O que lhe cabe
O número é fácil de memorizar, e vale a pena fazê-lo. É o 33, que tem celebridade até evangélica. Convindo apenas juntar-lhe, no caso atual, antes o símbolo R$ e depois a palavra bilhões. Tal é o valor definido pela colunista Dilma Rousseff, em seu recente texto de "Conversa com a presidenta" (quer dizer, com a presidente), para os gastos do governo com a Copa no Brasil. Valor correspondente aos 68% com que o governo entrará, conforme a mesma colunista, no custo de construção ou melhoria em transporte, segurança, aeroportos e outros trabalhos de infraestrutura.
Entre o orçamento e o custo real de obras públicas no Brasil, são conhecidos os milagres que as máquinas de somar e as notas fiscais produzem, como regra imutável. O que faz com que o custo já nasça estourado. Mas os citados R$ 33 bilhões têm ainda um agravante. Além desse gasto direto, haverá, e já há em parte, os financiamentos da Caixa Econômica Federal e do BNDES para integralizar os 32% do gasto total que não entraram na cifra da colunista. E mais, em paralelo aos gastos com infraestrutura urbana, aquelas duas torneiras de dinheiro vão financiar também a estrutura esportiva, os novos estádios, os campos de treinamento e as aprazíveis concentrações para as várias delegações estrangeiras.
Todo esse conjunto de financiamentos a juros privilegiados. E, em grande parte, financiamentos e juros não recebíveis senão muito mais do que a perder de vista: os financiados são entidades esportivas já estranguladas por dívidas, quase todas, e administrações municipais e estaduais que, como regra geral, são devedoras a multidões de credores. Todos os financiamentos e juros privilegiados, adicionais aos R$ 33 bilhões, têm um custo, que sabemos quem, afinal, paga. Mas fique com o número oferecido pela conversa da presidente. E divirta-se com a altitude a que chegará, na realidade. É tudo o que você pode fazer a respeito.


RIO
Disque-denúncia visa achar cemitérios clandestinos no Rio

DO RIO - O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, lançou ontem um disque-denúncia para que moradores dos Complexos do Alemão e da Penha, (zona norte), informem sobre a localização de cemitérios clandestinos, onde estariam enterradas vítimas de narcotraficantes. O número é 0/xx/21/2253-1177.
"Nós entendemos que precisamos localizar os restos mortais dessas pessoas, no sentido de minimizar a dor das famílias que sofreram com isso. Temos alguns inquéritos abertos com acusações de homicídios, mas não temos os corpos para que se possa concluí-los", disse Beltrame.
O Exército informou ter localizado ontem no Alemão a ossada de uma pessoa ainda não identificada. Foi a primeira encontrada desde a ocupação das favelas no ano passado.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

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