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terça-feira, 1 de março de 2011

1º de março de 2011 - FOLHA DE SP


DESTAQUE DE CAPA
Funcionário do Estado negocia dados sigilosos

O sociólogo Túlio Kahn, que é chefe da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento) da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, vende serviços de consultoria nos quais põe à disposição de empresas dados sigilosos sobre a violência no Estado, informa Mario Cesar Carvalho. Como sócio da Angra Consultoria, Kahn repassa a clientes informações cuja divulgação é vetada, "para não alarmar o público".


CORTE NO ORÇAMENTO
Cortes na Defesa ameaçam acordo entre Brasil e França
Secretária do Orçamento diz que ministério terá que rever contratos em vigor
Parceria com franceses envolve gastos de R$ 20 bilhões; novas despesas para compra de caças não serão feitas em 2011

MÁRIO SÉRGIO LIMA
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

O Ministério da Defesa terá de "cortar na carne" para reduzir em R$ 4,38 bilhões suas despesas, afirmou ontem a secretária do Orçamento Federal, Célia Corrêa.
Segundo ela, os cortes terão de ser realizados tanto na manutenção das tropas quanto na revisão dos contratos vigentes, como a aquisição de helicópteros, submarinos e cargueiros.
Aí há um complicador. A compra de 50 helicópteros, quatro submarinos convencionais e a integração de um modelo nuclear são parte do acordo militar Brasil-França.
A parceria foi assinada em 2009 e prevê desembolsos de até R$ 20 bilhões até 2024. Fazer alterações terá implicações diplomáticas.
"O ministério terá de sentar com os credores e explicar a nova situação fiscal, buscar renegociação, alongar pagamentos", disse Corrêa.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que novas despesas para a compra de caças não serão feitas neste ano, conforme a Folha adiantou em janeiro.

OUTROS MINISTÉRIOS
As pastas da Integração Nacional e da Justiça terão dificuldade em cortar sem mexer no PAC (Programação de Aceleração do Crescimento) e no Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania).
Na Integração, o Orçamento era de R$ 4,6 bilhões e passou para R$ 2,8 bilhões.
O PAC representava, segundo dado do Siafi (sistema de acompanhamento de gastos do governo), R$ 2,4 bilhões dos recursos.
O maior programa é o de Integração de Bacias Hidrográficas (R$ 1,3 bilhão), fonte dos recursos para a transposição do rio São Francisco.
Se tiver de manter a promessa de não cortar o PAC, sobrarão cerca de R$ 400 milhões para todo o resto.
A Justiça tinha Orçamento de R$ 4,7 bilhões e ficou com R$ 3,2 bilhões.
Para o restante sobra R$ 1,2 bilhão, mas as outras despesas correntes (por exemplo, o funcionamento das polícias Federal e Rodoviária) representam R$ 2,7 bilhões. Ou seja, o ministério terá de cortar mais de 60% de suas despesas comuns.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que, dos R$ 3 bilhões cortados, R$ 1 bilhão é do Orçamento da pasta e o restante, de emendas parlamentares.
O Ministério do Turismo afirmou que priorizará ações que preparem as cidades da Copa e da Olimpíada.
O Ministério do Esporte disse que a redução de despesas "não deve afetar a execução dos programas".



ANÁLISE
Confuso, anúncio gera dúvidas sobre firmeza do governo no combate à inflação

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Ao anunciar o detalhamento dos cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento, o governo deu uma aula de como perder a guerra das expectativas, fundamental para convencer os agentes econômicos de que manterá a inflação sob controle.
Em entrevista tumultuada ontem, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) anunciaram medidas de consistência duvidosa, tentaram relativizar a importância dos cortes no combate à inflação e se preocuparam mais em dizer que a política econômica não mudou.
Mais parecia um discurso dirigido ao mundo petista, e não ao mercado, que duvidou de saída da capacidade do governo de executar o corte de R$ 50 bilhões.
Dúvida que se refletiu nas previsões sobre a inflação de 2011, que se mantiveram em alta desde a divulgação dos cortes há 20 dias, contrariando a expectativa inicial do governo de deter o pessimismo na economia.
Em sua fala inicial, Guido Mantega mostrou-se mais preocupado em rebater avaliações de que o governo tomou um caminho ortodoxo na economia.
"Fica essa confusão, o ministro mudou, o ministro não é mais aquele, fico preocupado com essas coisas."
Seguindo essa trilha, chegou a dizer que o objetivo principal do ajuste fiscal "não é exatamente a inflação", discurso não muito afinado ao que reina no Palácio do Planalto, preocupado em garantir que não deixará o Banco Central sozinho no combate à inflação.
De seu lado, Miriam Belchior se irritou com os insistentes questionamentos dos jornalistas sobre a consistência de cortes por meio de combate a fraudes no seguro-desemprego e ajuste fino nos gastos de pessoal.
"Vou repetir pela terceira vez", afirmando que não anunciava nenhuma "missão impossível".
Faltou os ministros lembrarem que o ajuste fiscal já tem data para ser revisto.
Um corte extra de R$ 2,2 bilhões terá de ser feito por conta do reajuste de 4,5% da tabela do Imposto de Renda na fonte, ainda não previsto no Orçamento deste ano.


AVIAÇÃO
Com Azul, cresce disputa entre aéreas
Empresa inicia hoje suas operações no Leite Lopes com voos para Campinas e traslado de ônibus para a capital
Passagens mais baratas e rotas regionais são os instrumentos das companhias aéreas, afirma especialista

VENCESLAU BORLINA FILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

A disputa das empresas de aviação por passageiros no aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão, ganha hoje novo reforço com o início das operações da Azul Linhas Aéreas.
A empresa tem dois anos de operação e já é a terceira maior do país, atrás apenas da TAM e Gol. Porém, a estratégia é a mesma das concorrentes: passagens mais baratas e rotas regionais.
Além da Azul, operam no Leite Lopes TAM, Webjet, Passaredo, Trip e Pantanal.
As tarifas mais baixas cobradas do aeroporto de Ribeirão passam a ser as promocionais da Webjet (R$ 9) e as da Azul (R$ 29,90).
Com cinco voos diários (de segunda a sexta) e três aos sábados e domingos, a Azul começa a operar no Leite Lopes com o trecho Ribeirão-Campinas, e conexão de lá para outros 15 destinos.
As tarifas promocionais da Azul vão custar até R$ 49,90, desde que a compra seja feita de forma antecipada, e incluem o traslado de ônibus até São Paulo. Os aviões da empresa aérea são os turboélices ATR 72-200.
A principal concorrente da Azul, a Webjet, oferece voos a partir de R$ 9 para sete capitais: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Rio e São Paulo.
Já a TAM oferece passagens a partir de R$ 49 para São Paulo. A Trip opera diversos destinos regionais, como Uberlândia (MG).


TENDÊNCIA
"A característica low cost [baixo custo] é comum a todas as companhias e principal instrumento para a concorrência", disse o professor de ciências econômicas e pesquisador da PUC-Campinas, Josmar Cappa.
Segundo ele, o baixo custo e a aviação regional são movimentos irreversíveis.
"A inflação estável, o aumento da renda do brasileiro e o maior poder aquisitivo, aliado ao crescimento econômico, levaram a esse cenário, do aumento da aviação no Brasil", disse.
Segundo o Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), que administra o Leite Lopes, somente em janeiro foram transportados 96.963 passageiros, um recorde histórico para qualquer mês do ano.
Cappa disse, porém, que um problema a ser enfrentado com o aumento é a capacidade física dos aeroportos.
Segundo o Daesp, em 2010 passaram pelo aeroporto de Ribeirão Preto 677.768 pessoas. O terminal é o maior em número de passageiros administrados pelo Estado e opera acima da capacidade.
"Esse movimento já ocorreu no aeroporto de Viracopos, em Campinas, que não tinha característica para transporte de passageiros, e agora está com 5 milhões de passageiros por ano", disse.


E EU COM ISSO?
Concorrência gera tarifa mais barata

A disputa entre as empresas de aviação que operam no aeroporto Leite Lopes poderão oferecer tarifas mais baixas e melhores serviços aos usuários. Para o professor da PUC-Campinas Josmar Cappa, com a Azul atuando em Ribeirão Preto, a tendência é que haja mais redução nos valores das tarifas.


Estrutura não acompanha crescimento

DE RIBEIRÃO PRETO

O crescimento verificado no aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão, porém, é prejudicado pela falta de estrutura. Ontem de manhã, por causa da chuva, o aeroporto fechou por 35 minutos.
A falta de visibilidade impediu os aviões de pousar e decolar. O voo 5704 da Webjet, previsto para sair às 8h25, atrasou. O avião só decolou por volta das 9h, segundo informou o Daesp.
O terminal também é pequeno para a quantidade de passageiros. Um pedido de ampliação ao governo do Estado está em tramitação, além da construção de um novo pátio para manobra.
Segundo apurou a Folha, a intenção é que o pátio possa abrigar até 18 aeronaves simultaneamente.
A assessoria do Daesp não informou sobre os planos de ampliação.
(VBF)


Ampliar Leite Lopes é viável, diz Alckmin

DE RIBEIRÃO PRETO

O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem de manhã, em Franca, que há viabilidade técnica para ampliar a pista do aeroporto Leite Lopes.
A declaração foi feita durante a inauguração do AME (Ambulatório de Especialidades Médicas) de Franca.
Ele disse que pediu ao secretário de Transportes, Saulo de Castro Abreu Filho, para procurar o Ministério Público e negociar a permissão da ampliação.
Uma decisão judicial de 2008 veta a ampliação da pista, o que é considerado fundamental para que o aeroporto se torne internacional.
"Nós entendemos que não haverá nenhum prejuízo à população [com a ampliação]. Vamos levar argumentos técnicos para rever a decisão anterior que nos permita a ampliação em 300 metros."
Alckmin anunciou ainda que até a próxima sexta-feira deverá ser publicado o edital para adequação da área interna e realização do "grooving" (ranhuras na pista).
As obras devem começar em abril, juntamente com as de sinalização da pista.
(JC)
Prefeita fala em complô contra aeroporto

DE RIBEIRÃO PRETO

A prefeita de Ribeirão, Dárcy Vera (DEM), afirmou ontem, durante evento sobre a situação do aeroporto, que "alguém ou algum órgão" tenta inviabilizar a internacionalização do Leite Lopes. Sem dizer de quem é o plano, ela afirmou: "Seja para privatizar ou vender a preço de banana, querem enfraquecer o Leite Lopes". A prefeita fez as afirmações após elencar uma série de críticas ao Daesp, órgão que administra o aeroporto de Ribeirão Preto.
Antes, ela também havia tentado arrancar críticas ao departamento do assessor de diretoria da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Dorieldo Luiz dos Prazeres, que evitou se posicionar contra o órgão estadual.  O Daesp foi convidado a participar do debate, segundo Márcio Santiago, presidente do Convention Bureau, organizador do evento, mas não mandou representante porque está sem presidente.
Políticos e técnicos presentes ao evento farão carta de reivindicações a ser apresentada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).


FOCO
Na internet, endereço da Passaredo "vira" Webjet

DE RIBEIRÃO PRETO

A disputa entre as empresas de aviação ultrapassou o valor das tarifas e as rotas de voos e chegou à internet. Até ontem, às 11h, quem acessava o endereço www.voepassaredo.com era automaticamente transferido para a página da Webjet. O endereço não pertence à Passaredo, que usa o site www.voepassaredo.com.br.
Procurada pela Folha, a Webjet informou, por meio de sua assessoria, que não tinha conhecimento ou participação sobre o fato até ser avisada pela reportagem. Mesmo assim, a assessoria da Webjet afirmou que acionou a LocaWeb, que hospeda o endereço, e pediu que fosse feita a correção. Às 16h, o endereço www.voepassaredo.com migrou para a empresa Passaredo.
A Passaredo diz, também por assessoria, que tomou conhecimento do caso há dois meses e que, por isso, move um processo na Justiça Federal para proibir a migração do endereço para a Webjet.
A assessoria da empresa, porém, não apontou o responsável pelo fato e tampouco informou sobre qual medida tomará diante da nova situação, uma vez que mantém o endereço www.voepassaredo.com.br. A LocaWeb foi procurada pela Folha, mas até o fechamento da edição não retornou às solicitações.
(VBF)


TAM anuncia lucro de R$ 637 milhões e pedido de 34 jatos

DE SÃO PAULO - A TAM anunciou ontem uma encomenda de 34 novos aviões, no valor de US$ 3,2 bilhões. Serão dois Boeings-777/300 e 32 A320 da Airbus, dos quais 22 da nova geração, o A320neo.
A empresa divulgou ontem um lucro líquido de R$ 637,4 milhões, queda de 48,9% em relação a 2009.
Segundo Líbano Barroso, presidente da TAM, o lucro deste ano reflete melhor a operação da empresa. O de 2009 foi beneficiado pela apreciação do real. A alta do petróleo, segundo Barroso, já levou a um aumento do yield (indicador de referência para o preço de passagens) de 5% em fevereiro. Ele diz que é cedo para falar de novos aumentos e que trabalha com o barril a US$ 93.


EDITORIAL
Teto de vidro

Com o intuito de evitar desperdício de dinheiro público e coibir abusos de poder, a Constituição estabelece que nenhum servidor deverá receber remuneração superior àquela paga mensalmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Tal teto salarial, hoje fixado em R$ 26.723, não tem sido, no entanto, respeitado por nenhum dos três Poderes da República. Funcionários e integrantes das instituições responsáveis por elaborar, executar e interpretar a legislação vigente lançam mão de manobras contábeis e subterfúgios normativos para descumpri-la.
O desrespeito à Constituição e ao contribuinte se vale do fato de o dispositivo que estabelece o limite às remunerações do funcionalismo nunca ter sido regulamentado como deveria. Ainda que seu sentido seja inequívoco, Executivo, Legislativo e Judiciário interpretam, cada um à sua maneira, quais "proventos", "verbas", "adicionais", "vantagens pessoais" e "comissionamentos" devem ou não ser contabilizados como parte do pagamento de seus integrantes.
Uma profusão de extras continua a sair dos cofres públicos e a engordar os salários de servidores, sem serem, entretanto, considerados como parte "oficial" de sua remuneração.
Ministros de Estado, por exemplo, que ao final de 2010 tiveram seus ganhos equiparados aos dos integrantes do Supremo, ultrapassam o teto ao somarem a seus salários pagamentos provenientes da participação em conselhos de empresas públicas -prática comum na Esplanada. É no Executivo, todavia, que se constata maior rigor no cumprimento à regra estabelecida pela Constituição.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a maioria dos 30 ministros recebeu mais do que o limite determinado pela lei em todos os meses do ano passado, segundo reportagem desta Folha. A presidência do STJ afirma que segue normas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nos cálculos, mas persistem questionamentos no Supremo Tribunal Federal sobre as interpretações.
Como é costume no país, busca-se agora criar novas regras, cada vez mais detalhadas, a fim de tapar as brechas utilizadas para desrespeitar o propósito da lei. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) propõe legislação específica para determinar o modo de contabilizar os componentes da remuneração de funcionários públicos, a fim de coibir os abusos praticados.
É deplorável constatar que tal medida se faça necessária. O sentido do artigo da Constituição que institui o teto salarial é mais do que claro e corresponde a um anseio evidente da opinião pública por austeridade no trato com o dinheiro do contribuinte.
Cada Poder deveria zelar pelo cumprimento do teto, em vez de sabotá-lo a qualquer oportunidade e pretexto. Dentre eles, contudo, o exemplo do Judiciário é o que mais salta aos olhos, por se tratar precisamente do principal guardião da eficácia das leis.


PAINEL DO LEITOR

STJ
A reportagem "STJ ignora teto e paga supersalário a seus ministros" (Poder, 27/2) é um amontoado de desinformações, que junta dados falsos (a) a interpretações equivocadas (b).
a) Exemplo de dados falsos: "Acréscimo: pelo menos 21 ministros receberam mensalmente R$ 2.792 e R$ 5.585 em vantagens pessoais (incorporação de 20% de funções anteriores, abonos por tempo de serviço, entre outros)".
Fato: O STJ não paga a seus ministros a incorporação de 20% de funções anteriores ou abonos por tempo de serviço.
b) Exemplo de interpretações equivocadas:
"Um único ministro chegou a receber R$ 93 mil em um mês".
Fato: O art. 65, inciso I, da lei complementar nº 35, de 1979, assegura aos magistrados a percepção de ajuda de custo para despesas de transporte e mudança.
O magistrado nomeado para o cargo de ministro do STJ recebe, após a posse, essa ajuda de custo, que varia conforme o número de seus dependentes. O teto constitucional diz respeito à remuneração do magistrado e nesse conceito não se enquadra a ajuda de custo, que tem natureza indenizatória.
Por isso, a resolução nº 13, de 21 de março de 2006, do Conselho Nacional de Justiça, dispôs no art. 8º, in verbis: "Ficam excluídas da incidência do teto remuneratório constitucional as seguintes verbas: I - de caráter indenizatório, previstas em lei: a) ajuda de custo para mudança e transporte".
2. O STJ paga a seus ministros os subsídios e vantagens previstos pela Constituição, na forma como interpretada pelo Conselho Nacional de Justiça (resolução nº 13, de 2006), a saber: 1 - subsídio, constituído de parcela única (lei nº 12.041, de 2009, art. 1º);
2 - abono de permanência, com caráter de provisoriedade, porque cessa com a inativação, para os ministros que tenham implantado os requisitos da aposentadoria voluntária, mas estejam em atividade (lei nº 10.887, de 2004, art. 7º); 3 - gratificação pelo exercício da presidência do tribunal (lei complementar nº 35, de 79, art. 65, V).
Nos termos da resolução nº 13, de 2006, do Conselho Nacional de Justiça, o abono de permanência está excluído da incidência do teto remuneratório (art. 8º, IV) e a gratificação pelo exercício da Presidência do Tribunal não está abrangida pelo subsídio e não foi por ele extinta (art. 5º, II, 'a').
A ajuda de custo e o abono de permanência são devidos a todos os servidores públicos, estando as respectivas verbas excluídas do teto remuneratório.
ARI PARGENDLER, presidente do Superior Tribunal de Justiça (Brasília, DF)
Battisti
Sobre a reportagem "Governo busca saída legal para Battisti no Brasil" (Poder, 27/2), gostaria de comentar que esse "maledeto imbróglio" teve sua origem na incompetência do "cara", que nunca estudou administração pública e não sabia que o presidente não tem competência para decidir se extradita ou não. O presidente só pode decidir quanto à forma da extradição. A competência do sim ou do não é do Judiciário. Além disso, deve estar fundamentada, como de fato foi, nos tratados internacionais de extradição.
EDGAR RENZO FABBRINI (São Paulo, SP)


ERRAMOS

PODER (27.FEV, PÁG. A4) Diferentemente do que diz a reportagem "STJ ignora teto e paga supersalários a seus ministros" e a chamada da Primeira Página, "STJ paga salário acima do teto a seus ministros", o STJ não ignora o teto imposto pela Constituição aos salários do funcionalismo. Ele segue uma resolução do Conselho Nacional de Justiça que permite excluir do limite legal várias vantagens recebidas pelos ministros.
O quadro que acompanhou a reportagem incluiu entre essas vantagens benefícios que os ministros do STJ não recebem.


SUPERSALÁRIOS NO STJ
Norma autoriza pagamento de supersalários, afirma STJ
Resolução do Conselho Nacional de Justiça permite excluir vantagens do teto
Critérios adotados pelo Judiciário para cumprir limite constitucional são questionados em ações no Supremo

DE BRASÍLIA

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) afirmou ontem por meio de nota distribuída por sua assessoria de imprensa que todos os pagamentos feitos aos ministros que compõem a corte respeitam uma resolução aprovada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em 2006.
Como a Folha informou em reportagem publicada no domingo, os ministros do STJ receberam em média R$ 31 mil por mês no ano passado, quase R$ 5.000 acima do teto estabelecido pela Constituição para os salários do funcionalismo, R$ 26.700.
A Constituição estabelece que "vantagens pessoais" devem ser somadas aos salários para efeito do cálculo desse limite, mas a resolução do CNJ abre exceções para diversas vantagens recebidas pelos ministros do STJ e de outros tribunais.
O artigo da Constituição que define o teto salarial do funcionalismo nunca foi regulamentado por lei e por essa razão o Judiciário e os outros Poderes adotaram critérios diferentes para definir quais vantagens são incluídas no cálculo do teto.
Assinada pelo presidente do STJ, Ari Pargendler, a nota classifica a reportagem da Folha como um "amontoado de desinformações, que junta dados falsos e interpretações equivocadas".
De acordo com o tribunal, a ajuda de custo paga em agosto do ano passado para um único ministro fazer sua mudança em Brasília, de R$ 76 mil, e os "abonos de permanência" de R$ 2.000 não podem ser considerados remuneração.
O STJ classifica como "vantagem pessoal" em sua contabilidade o "abono de permanência", o que teoricamente permitiria submetê-lo ao teto, mas a resolução do CNJ permite que ele seja excluído do limite.
"A ajuda de custo e o abono de permanência são devidos a todos os servidores, estando as verbas excluídas do teto remuneratório. O STJ paga a seus ministros os subsídios e vantagens previstos pela Constituição, na forma como interpretada pela resolução do CNJ", diz a nota do presidente do STJ.
Os critérios adotados pela resolução do CNJ são questionados por várias ações atualmente em discussão no STF (Supremo Tribunal Federal), mas não há previsão para o julgamento desses processos.
O tribunal afirmou ainda que é "falsa" a afirmação publicada em quadro que acompanhou a reportagem, que incluiu entre as vantagens recebidas pelos ministros do STJ a incorporação de 20% de funções anteriores ou abonos por tempo de serviço. Os ministros do STJ não recebem essas vantagens.




ENTREVISTA - ELLIS GOLDBERG - PROFESSOR PH.D DA UNIVERSIDADE AMERICANA DO CAIRO E DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UNIVERSIDADE DE WASHINGTON
"Exército quer manter o poder no Egito"
Militares pretendem preservar força em governo civil, afirma Ellis Goldberg, professor da Universidade do Cairo
Para ele, manifestantes que derrubaram ditador desejam um Parlamento forte; já Exército quer regime presidencialista

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

O professor de ciência política Ellis Goldberg, da Universidade Americana do Cairo, diz acreditar que os militares tentarão preservar seu poder no Egito, ainda que não à frente do governo. Segundo ele, essa manutenção do status quo pode vir acompanhada de uma bem-vinda renovação geracional na política egípcia. Leia abaixo os principais trechos de sua entrevista.

Folha - Até que ponto podemos esperar reformas reais dos militares no Egito?
Ellis Goldberg - Estamos em uma situação muito transitória.O Exército não vai reescrever a Constituição -por isso nomeou uma comissão. Eles vão preferir emendar a Carta atual, mas muitos juristas preferem redigir uma nova.
O Exército prefere um sistema presidencial forte, enquanto os manifestantes querem um Parlamento com mais poderes. Acho que essas são questões cruciais, e envolvem em que medida eles vão se livrar das seções da Constituição que viabilizam as leis de emergência e até que ponto limitarão o poder do presidente.
Tariq al Bishri [jurista e ex-membro do Conselho de Estado], que coordena a revisão constitucional, é mais inclinado a restabelecer um Judiciário forte e limitar o poder do presidente. Isso é bom sinal. Mas o texto será submetido ao Conselho Supremo.

O Exército aceitaria algum tipo de barganha no qual mantenha o poder econômico, mas abriria o regime?
Acho que eles querem um regime mais aberto ao mundo. A questão é quanta competição eles aceitam de fato.

Se o Exército quiser manter poder, buscará cara nova?
Não acho que o Exército vá tentar se manter no poder no sentido de vermos uma autocracia militar. Acho que eles gostariam de ver um governo civil mais autoritário, que o deixe ter um papel forte. Mas não que eles planejem conduzir as coisas eles mesmos -deve haver eleição, dentro de 8 a 12 meses.

Então o sr. está entre os que acham que o modelo da Turquia [governo civil, mas com Exército que se vê como guardião da Constituição] é o mais provável?
Sim, e o Exército pode inclusive criar uma situação na qual possa intervir na política, que era o caso até bem recentemente na Turquia.

Como ficará a relação com os EUA e com Israel? Os EUA preferirão lidar com o Exército do Egito a ver outros grupos no poder?
Certamente, embora os EUA não tenham uma relação próxima com o Exército hoje como tinham com Mubarak e seus amigos.
Já sobre Israel, acho que não há dúvidas de que, qualquer que seja o futuro governo, a posição será mais dura.

O Exército ou o governo que emergirá serão capazes de lidar com os problemas que detonaram os protestos? O que pode ser feito já?
Uma coisa é parar com a ostentação dos mais ricos. Mas mais importante é melhorar a distribuição de renda, provavelmente aumentando os salários no setor privado. É preciso haver crescimento econômico.
Temos um número muito grande de trabalhadores sem qualificação, e é preciso descobrir como fazer isso funcionar na economia global.

A economia então tem de ser totalmente transformada? Uma economia de serviços?
Sim, no longo prazo. No curto prazo, é preciso aumentar as exportações -e, como você sabe, isso é difícil para qualquer nação nos dias de hoje, competindo com a economia da China.


ANÁLISE
Arsenal militar egípcio motiva preocupação entre israelenses
Revoluções mostram que o poder termina nas mãos dos grupos mais bem organizados. pode ser esse o caso da irmandade muçulmana no Egito

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Assim como ninguém previu o que ocorreu no Oriente Médio, não há consenso sobre o que poderá acontecer a países passando por revoltas populares, como Egito e Líbia, a médio e longo prazos.
O risco de surgirem regimes islamistas anti-Ocidente e hostis a Israel existe, por mais que o temor seja visto por muitos observadores apenas como reflexo da tradicional política americana e israelense de optar pela estabilidade política proporcionada por ditadores.
Afinal, a história de revoluções costuma mostrar que o poder acaba nas mãos dos grupos políticos mais bem organizados e estruturados.
Poderia ser o caso da Irmandade Muçulmana no Egito. Ou não. Mas um regime abertamente contra Israel viraria de cabeça para baixo a geopolítica regional.
O receio fica maior quando se analisa o vasto arsenal à disposição dos militares egípcios e, em menor grau, líbios. Um Egito hostil seria o pior pesadelo para Israel, ainda mais do que um Irã que detenha a bomba atômica.
Depois de lutar várias guerras com Israel utilizando armamento de origem soviética (Guerra do Sinai de 1956, Guerra dos Seis Dias de 1967, Guerra de Atrito de 1969-1970, Guerra do Yom Kippur de 1973), o Egito assinou acordo de paz com o seu tradicional inimigo.
E passou à esfera de influência dos Estados Unidos, aos poucos substituindo seu arsenal feito na União Soviética por armas ocidentais, especialmente americanas.
O resultado atualmente são Forças Armadas convencionais muito mais poderosas do que as das guerras árabe-israelenses.
Israel conseguia prevalecer em combate por apostar na qualidade em vez de quantidade (isto é, empregar militares mais bem treinados), mas também por contar com equipamento ocidental em geral mais moderno do que o do bloco soviético.
O Exército egípcio tem hoje a segunda frota do planeta do tanque americano M1 Abrams, considerado o melhor existente, empregado com resultados devastadores pelos EUA nas duas guerras com o Iraque.
São cerca de mil desses carros de combate, que pesam 62 toneladas. Israel conta com um tanque excelente e comparável, o Merkava, também em grande quantidade, cerca de 1.600; mas a maior parte ainda é dos primeiros modelos de produção, Merkava 1 e Merkava 2, com uma minoria dos mais modernos 3 e 4.
A Força Aérea Egípcia também foi trocando seus velhos MiG soviéticos por caças ocidentais; o principal deles é o americano F-16 Fighting Falcon -exatamente o mesmo avião empregado por Israel como seu principal caça-bombardeiro.
Ironicamente, os militares de Israel nos últimos anos tinham se concentrado em dois extremos tecnológicos: combater a guerra "assimétrica" de grupos terroristas ou buscar uma defesa antimíssil para fazer frente aos mísseis balísticos do Irã.
Foi planejado reduzir o tamanho de forças convencionais, como blindados e aviões. O novo cenário geopolítico poderá fazer o país rever suas opções.
 FONTE: FOLHA DE SP

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