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quinta-feira, 17 de março de 2011

17 de março de 2011 - BRASIL ECONÔMICO



QUESTÃO NUCLEAR
Marinha teme perder verba de submarino nuclear
Catástrofe no Japão pode levar à revisão do orçamento de projeto que viabiliza enriquecimento de urânio no país.


Martha San Juan França


A crise nuclear instalada no Japão repercute em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo, onde funciona o Centro Experimental de Aramar (CEA) da Marinha do Brasil. A decisão do governo de condicionar os rumos do projeto nuclear do país às novas medidas de segurança que poderão ser tomadas como resultado do que aconteceu nas usinas de Fukushima pós-terremoto e tsunami, acendeu o sinal de alerta entre os técnicos que se dedicam ao desenvolvimento da tecnologia do ciclo completo de fabricação do combustível e do reator brasileiro.
“Por muito tempo tivemos dificuldades bastante sérias, perdemos gente capacitada; mas ultimamente obtivemos mais recursos e voltamos a produzir em escala laboratorial”, afirma o comandante Claudio Teles, porta-voz da Marinha em Aramar, sobre o urânio enriquecido que será usado como combustível do reator. “Estamos construindo a usina de produção de hexafluoreto de urânio para conversão, necessária para a fase seguinte do obtenção do combustível, que é o enriquecimento. Um dos benefícios é o desenvolvimento tecnológico associado a esse processo.”
Segundo Teles, é certo que as lições do que ocorreu no Japão serão incorporadas não só pelo programa nuclear brasileiro como de outros países. “Mas não podemos deixar a emoção tomar conta e correr o risco de ficar sem a eletricidade que é produzida pelas centrais nucleares”, diz.

Desafios em andamento
Para o engenheiro, as medidas que estão sendo tomadas no Japão são corretas para evitar o perigo da radiação e estão previstas na legislação internacional. Agora é analisar o que está acontecendo dentro dos prédios dos reatores e continuar a produção. “Dezesseis por cento da eletricidade do planeta é de origem nuclear e não existe um substituto adequado na maioria dos países.”

O programa da Marinha já consumiu mais de US$ 1 bilhão em recursos desde que foi criado há mais de trinta anos. A maior parte foi gasta na central, cujo objetivo é o desenvolvimento do sistema de propulsão do primeiro submarino nuclear brasileiro.
Um dos desafios para a operação do submarino era o fornecimento de combustível. O material usado nos reatores não é o urânio natural, mas aquele obtido pelo processo de enriquecimento (U-235), numa proporção de 4% (3,5% nas usinas, como Angra 1 e 2). O processo exige que o minério seja purificado e concentrado na forma de um sal amarelo chamado yellow cake, que depois é convertido em gás (hexafluoreto de urânio ou UF6).
A previsão é que seja inaugurada a primeira fase da usina de conversão em UF6 em setembro, com capacidade de 40 toneladas por ano para atender as necessidades da Marinha. Nessa primeira etapa serão necessários testes de calibração e ajustes técnicos em diversos equipamentos. Após essa fase, a produção de gás será iniciada de forma progressiva. Foram gastos com o combustível cerca de R$ 115 milhões.
Hoje, só seis países têm condições de fazer a conversão de yellow cake em gás: França, Rússia, Canadá, Estados Unidos, Brasil e Irã. O UF6 que o Brasil usa em Angra 1 e 2 vem do Canadá. Uma terceira fase do programa será a construção de uma usina em Resende, onde já funciona um complexo de ultracentrífugas utilizadas para o enriquecimento do urânio, tecnologia também desenvolvida no Centro Experimental de Aramar e dominada por poucos países.
“Iniciamos aqui as pesquisas que são usadas em escala maior pela indústria”, afirma Teles. Paralelamente à usina de Resende, o centro pretende construir, se conseguir recursos, o laboratório do protótipo do reator de água pressurizada (PWR) do submarino.

Eletronuclear não quer alterar Angra3 
Para estatal, acidente no Japão não afeta planejamento energético brasileiro

Ruy Barata Neto

A estatal Eletronuclear não trabalha, por enquanto, com a perspectiva de mudar o projeto original definido para a construção da usina de Angra 3,mas não está garantido que o curso natural da obra continue inalterado nos próximos anos. Orçado em R$ 9 bilhões, o empreendimento conta com contrato assinado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiará cerca de 70% do projeto. O restante virá de recursos estrangeiros, de parceiros ainda a serem definidos. É exatamente essa a brecha que está condicionada à repercussão dos acontecimentos no Japão.
“O acidente não altera em nada o planejamento energético para o país, mas não há como garantir isso”, diz o chefe de gabinete da presidência da estatal, Leonam dos Santos Guimarães. No que diz respeito às outras quatro usinas previstas até 2030, a Eletronuclear ainda finaliza a conclusão da primeira etapa de um estudo de localização dos empreendimentos, possivelmente serão dois no Nordeste e dois no Sudeste.
Guimarães diz que não é possível estabelecer qualquer relação de causa e efeito entre os acontecimentos no Japão e o processo de continuidade do plano energético do país. Sua opinião é mantida mesmo diante da opção do governo de esperar os resultados finais das avaliações dos acidentes no Japão.
“As usinas brasileiras seguem rigorosamente o padrão internacional”, diz. “Se alguém for a qualquer usina nacional não irá encontrar diferença significativa em relação às japonesas.”
Mas elas existem e estão alinhadas às condições geológicas. As usinas são dimensionadas por esforços transmitidos por movimentos sísmicos. Como o Japão está em área de muita intensidade, elas são projetadas para suportar 0,3 vezes o número da aceleração da gravidade, já as brasileiras suportam 0,1. “O que mais importa é a força do tremor sobre a estrutura, que é determinada pela distância”, afirma o engenheiro. Ele explica que, no Oceano Atlântico, a formação de tsunamis é rara em razão das características das placas tectônicas.
O físico nuclear José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), alerta que os riscos existem e as conseqüências são graves demais para priorizar a energia nuclear em detrimento de outras opções. “O Japão é claramente o país com a melhor tecnologia em usinas atômicas e hoje vive um grave acidente”, diz o especialista.


POLO NUCLEAR
Ipen desenvolve projeto para construção de novo reator em Iperó

Ao lado do Centro Experimental de Aramar, em Iperó, está prevista a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que deve ser a base de um novo polo de tecnologia nuclear vinculado ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Seu objetivo primordial será suprir a área de saúde de radioisótopos, como o molibdênio, usados no diagnóstico e no tratamento de doenças nas áreas de cardiologia e oncologia. O Brasil tem quatro reatores de pesquisa, mas nenhum deles possui capacidade para a produção de molibdênio.
Além disso, o centro será utilizado para testes de irradiação do combustível e de materiais utilizados nos reatores, como varetas, paredes dos vasos de pressão e do envoltório de contenção, que servem para impedir a saída do material radioativo para o meio ambiente.
Outras empresas também poderiam dispor dos serviços do reator para o estudo de ligas metálicas, materiais magnéticos e proteínas. O Ministério da Ciência e Tecnologia liberou recursos da ordem de R$ 50 milhões para o projeto básico do RMB que está sendo desenvolvido pelo Ipen.
Mas a construção do reator, com custo estimado em R$ 850 milhões, corre o risco de atrasar por causa do contingenciamento fiscal proposto no início do ano pelo governo. Uma opção, segundo o superintendente do Ipen, Nilson Dias Vieira, seria iniciar uma parceria com a Argentina para a viabilização do projeto e divisão dos custos, uma vez que o país vizinho também tem interesse de desenvolver um reator desse tipo. M.F. Henrique Manreza


MARCADO

Epic Aviation, escola americana de aviação, promove, dia 24, em São Paulo, um workshop para jovens interessados em seguir a carreira de piloto. O seminário será no Hotel Ibis Congonhas e a entrada é franca.

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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