OPINIÃO
JULIO ROCHA
Incrível a dificuldade de interpretação e o esforço
na tentativa de distorção do legado de Vargas, por boa parte da esquerda
brasileira. Saí há pouco de um debate onde tive que defender as posições trabalhistas,
onde estavam presentes 4 siglas de esquerda. Ainda hoje estão tentando derrubar
as conquistas da Era Vargas, como a CLT, que o empresariado jamais engoliu, e
que, novamente está sendo alvo de ataques no Congresso. E também querem
derrubar a Voz do Brasil, aqui com ajuda de setores da esquerda com flertes com
a ideologia liberal, pois trata-se do único programa de rádio que leva
informações ao povão, em todos os grotões, sem as distorções da ditadura de
mercado que controla o rádio comercial. É, portanto, uma positiva experiência
de regulamentação informativa e estes segmentos da esquerda que querem torná-la
inaudível e oferecer o espaço de 1 hora aos magnatas da comunicação, confessam
assim a sinceridade de sua pregação em defesa da regulamentação comunicacional.
Pregam regulamentação, mas votam pela desregulamentação!
É duro ouvir um representante da esquerda falar
desse período, especialmente quando fala que o segundo governo Vargas foi
democrático e positivo, passando uma idéia de que o primeiro governo não teve
conquistas aos trabalhadores. A Previdência Social, a CLT, o direito de voto às
mulheres, a licença meternidade, a criação da Vale do Rio Doce, o Conselho
Nacional do Petróleo e a nacionalização do subsolo, a Cia Siderúrgia Nacional,
o salário-mínimo, tudo isto é do primeiro governo. A criação do Ministério do
Trabalho, do Instituto Nacional do Cinema, do Instituto Nacional do Cinema
Educativo, com Humberto Mauro e Roquete Pinto à frente, do Instituto Nacional
de Música, dirigido por Villa-Lobos, tudo isto é do primeiro governo. O
contexto internacional na época era do fortalecimento do nazi-fascismo, muitos
países fora do Eixo também tiveram seus direitos democráticos suspensos. O
grave erro dos comunistas - Prestes foi convidado por Vargas para dirigir
militarmente a Revoluçao de 30 (aceitou inicialmente e depois recusou) - levou
a grave divisão no movimento popular. Depois os comunistas combateram Vargas,
pediram sua renúncia, aproximaram-se das teses da UDN, situação que volta a repertir-se
hoje no posicionamento do PPS junto dos liberais na oposição a Lula-Dilma. Os
comunistas não entenderam Peron, nem Alvarado, nem Torrijos, nem Cárdenas, não
entenderam os Sandinistas, tampouco
Chávez. Vale ler o livro de Entrevistas de Fidel a Ramonet que toca na
questão da incompreensão dos comunistas na América Latina frente ao
nacionalismo revolucionário.
Por fim, vale lembrar que Trotsky propunhua que os
revolucionários fizessem uma aliança com Vargas, assim como também com Cárdenas
no México, mas o stalinismo, tanto lá como cá, somou-se aos liberais e ajudou a
destabilizar esses dois governos populares. No dia 24 de agosto de 1954, o
jornal Tribuna Popular, do PCB, trazia uma entrevista de Prestes pedindo a
renúncia de Vargas. Diante da fúria popular que atacou os jornais da direita e
também a Tribuna, os dirigentes comunistas determinaram, envergonhados, o
recolhimento do seu jornal das bancas, temendo pela reação popular, que estava,
esta sim, sintonizada com a história! Páginas que não se podem apagar!
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