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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

15 de fevereiro de 2012 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PÁGINA

Vendem-se projetos de lei
Página na internet mantida pelo ex-vereador José Gilberto de Souza, de Campo Mourão (PR), oferece projetos que vão parar em câmaras municipais país afora. O pacote mínimo, com 10 propostas nas áreas que o cliente escolher – saúde, educação, transporte, etc –, sai por R$ 200. O Estado de Minas comprou um desses pacotes. Souza jura que todos os projetos são de sua autoria. Um deles, que "institui a Semana Educativa Pipas sem Mortes nas Escolas Públicas", é idêntico ao apresentado em Contagem pelo então vereador Carlim Moura (PCdoB), hoje deputado estadual, que virou lei em 2005. Mas Moura garante não ter comprado nem copiado o texto.

EDITORIAL
Nas mãos da Justiça
Validade da Ficha Limpa volta a ser julgada pelo Supremo

Os milhares de brasileiros que assinaram o projeto de iniciativa popular da Lei Ficha Limpa e a maioria da cidadania que o aplaudiu, acompanharam a tramitação e acabaram frustrados com a impossibilidade de sua aplicação nas eleições de 2010 renovam suas expectativas. O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento que vai decidir se a lei pode, afinal, vigorar nas eleições para prefeitos e vereadores deste ano. Nas mãos dos ministros da mais alta Corte do país estão três ações envolvendo a constitucionalidade da nova lei, que pode marcar o início do sonhado processo de saneamento da política brasileira. Dois deles, patrocinados pela OAB e pelo PPS, pedem basicamente que o STF declare a constitucionalidade da lei e da sua aplicabilidade no pleito de 2012. A terceira ação, impetrada pela Confederação Nacional das Profissões Liberais, quer a inconstitucionalidade de alguns artigos. O julgamento dessas ações está suspenso desde o ano passado, quanto o ministro Dias Toffoli, então novato na Casa, pediu vistas ao processo.
Agora, a novata é a ministra Rosa Weber, recentemente empossada na vaga de Ellen Gracie, que se aposentou em 2010, e nunca se pronunciou publicamente sobre o assunto. Até então, a tendência da Corte era pelo empate, mas especialistas não descartam a possibilidade de alguns ministros mudarem o voto em favor da constitucionalidade total da lei. Pelo texto aprovado pelo Congresso, ficam impedidos de se candidatar a cargos eletivos por oito anos os políticos condenados criminalmente em segunda instância, assim como os cassados ou os que tenham renunciado para evitar a cassação. A discussão se prende aos argumentos de que os réus podem ser inocentados em terceira instância e os que renunciaram o teriam feito quando ainda não vigiam as punições da Ficha Limpa. Mas pelo menos dois ministros já se manifestaram contra essas duas alegações, afirmando que a lei não estabele punições e sim pré-requisitos para registro de candidaturas.
Seja por quais argumentos se pautarem os ministros do STF, o que não se espera é que as coisas continuem como estão: depois de ampla mobilização popular em favor da causa, não é possivel que tudo se frustre simplesmente por falta de pronciamento da Corte. O tempo corre contra a cidadania. Ainda ontem, reportagem do Estado de Minas revelou levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), identificando 210 prefeitos eleitos em 2008 em todo o país cassados pela Justiça por irregularidades. Só em Minas foram 29. Quantos desses que já deram provas de serem inconvenientes ao bem público vão concorrer a prefeituras em outros municípios, ou vão disputar vagas de vereadores? É na administração municipal que a maioria dos políticos começa a carreira que pode levá-los aos governos do estado e do país. É esse o ponto de partida ideal para a aplicação da Lei Ficha Limpa, que vai fechar a porta dos cofres públicos e a caneta das nomeações aos mal-intencionados que, até agora, agiram impunemente transformando o dinheiro do povo em propriedade privada. A política é atividade essencial ao desenvolvimento equilibrado da sociedade. Por isso mesmo, não pode ser entregue a qualquer aventureiro. É hora, portanto, de barrar a entrada dos malfeitores.

OPINIÃO
Royalties do minério, questão de justiça :: Zezé Perrella

Senador (PDT-MG)

A concessão de royalties para os estados produtores de minérios, cuja exploração tem sido muitas vezes predatória, está em debate há vários meses no Senado. Há projetos na Casa e outros na Câmara. Enquanto isso, obras sociais, investimentos econômicos que reverteriam no bem-estar e enriquecimento dos estados produtores e suas populações não podem ser realizados. Há falta de recursos adicionais aos seus orçamentos, já comprometidos e insuficientes para atender as necessidades da administração pública.
Uma das prioridades do meu mandato é lutar pela rápida aprovação do projeto que estabelece a nova política nacional de pagamento de royalties sobre a produção de minérios. A bancada de Minas está engajada nesse objetivo. Há proposição do senador Clésio Andrade e do senador Flexa Ribeiro. O ex-governador e senador Aécio Neves é o relator geral. O projeto ainda circula nas comissões técnicas, e lutarei pela sua rápida aprovação. É preciso abreviar a tramitação para que o produto dessa riqueza seja incorporado ao processo produtivo nacional.
O objetivo é ampliar a alíquota máxima da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) dos atuais 3% para 5% sobre o faturamento bruto das mineradoras, não mais sobre o lucro líquido. Os estados produtores lutam por esse objetivo há mais de dez anos. No caso de Minas, tais compensações, que no ano passado renderam R$ 715 milhões, poderiam chegar a R$ 2,3 bilhões.
Todos os aspectos da questão já foram amplamente discutidos. É tempo de decisão, para que os novos recursos sejam rapidamente aplicados em benefício do país. Não podemos confundir a luta dos estados produtores com interesses regionais. Trata-se de riqueza nacional e não dos estados produtores de minérios, cujos governantes e setores produtivos pensam em termos de país, de união nacional, e não de vantagens regionais. Para mim, essa é uma razão a mais para cuidarmos rapidamente da aprovação da proposta. A questão dos royalties do petróleo já está encaminhada, agora vamos cuidar dos minérios.
Cabe destacar que a exploração de minérios é a mais danosa ao meio ambiente entre todos os recursos naturais, necessitando por isso maior intervenção governamental para restaurar os estragos ambientais. Geralmente investimentos caros, que poderiam ser viabilizados pelo aumento dos royalties. O debate no Congresso deve ter ampla participação, não apenas das bancadas dos estados produtores.
O atual teto pago da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) é de 3%, enquanto a média mundial nos maiores países exploradores de minérios varia de 8% a 10%, o que evidencia a defasagem nos valores observados no Brasil. A arrecadação é distribuída na proporção de 12% para a União, 23% para os estados e 65% para os municípios.
O governo ainda não correspondeu de forma concreta ao esforço do Congresso para a solução do problema no menor espaço de tempo possível, a despeito de terem partido do Ministério das Minas e Energia iniciativas e promessas. Trata-se de uma questão equacionada e com proposta adequada e viável à solução do problema, apresentada pelo relator Aécio Neves. É preciso agora trabalhar pela rápida aprovação da proposta, para que uma dádiva econômica da natureza possa gerar mais riqueza em benefício de nosso estado.

POLÍTICA
Projeto de lei à venda por atacado na internet
Ex-vereador comercializa em site proposições prontas e tem clientes em câmaras de todo o país. Os temas variam ao gosto do freguês, que paga no mínimo R$ 200 por um pacote

Alice Maciel e Alessandra Mello

O vereador interessado em "turbinar" o mandato sem fazer força pode, simplesmente, encomendar um pacote de projetos de lei pela internet. Só precisa desembolsar a bagatela de R$ 200. E melhor, pelo menos para ele: pode escolher quais  áreas quer priorizar durante sua legislatura. Tem de tudo, desde educação, saúde e transporte ao meio ambiente. Até mesmo criação de datas comemorativas, uma especialidade de vereadores de todo o Brasil. É isso que oferece uma página na internet mantida pelo ex-vereador de Campo Mourão, cidade do interior do Paraná, José Gilberto de Souza. Há 10 anos ele abandonou o ofício de representante do povo e passou a vender projetos, segundo ele, apresentados durante seu mandato ou então elaborados a pedido. Ele garante que tem clientes nas câmaras de todo o país, inclusive de Minas Gerais.
Em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, um projeto à venda no site de José Gilberto virou lei em 2005. Ele foi apresentado pelo então vereador Carlin Moura (PCdoB), hoje deputado estadual e pré-candidato à Prefeitura de Contagem. O comunista jura que nunca ouviu falar do site que comercializa projetos. "Isso é um escândalo. Ele com certeza plagiou meu projeto." Já o ex-vereador afirma que nunca copiou projetos de nenhum legislativo e que mantém uma equipe especializada em formular proposições de lei sobre os mais diversos assuntos. O projeto que virou lei em Contagem criou em 2005 a Semana Educativa Pipas sem Mortes nas Escolas Públicas. O texto é idêntico à proposta à venda no endereço www.projetosdelei.com.br mantido por José Gilberto.
Para solicitar uma proposta de lei, o vereador só precisa escolher um tema que o interesse, anotar o número e enviar o pedido. No dia seguinte da solicitação feita por meio da página, o parlamentar já tem em mãos uma lista de projetos a apresentar na Câmara. O pagamento dos serviços pode ser feito nas casas lotéricas ou na Caixa Econômica Federal. Podem ser comprados até 100 projetos via internet por R$ 1,2 mil. O pacote mínimo inclui 10 propostas ao custo de R$ 200.
Caso precise dos textos das proposições de lei no mesmo dia é só falar com José Gilberto que ele dá um "jeitinho" de agilizar a entrega do serviço. Tudo é feito por meio de correspondência eletrônica. Os textos já vêm com os espaços em branco para o vereador acrescentar o nome da cidade e do autor. Todos também têm a justificativa, requisito exigido pelos legislativos na hora da apresentação de qualquer matéria.
BANCO DE DADOS Opções de temas é que não faltam. O ex-vereador paranaense criou um banco de dados que, segundo ele, conta hoje com 1,5 mil projetos de lei. Ele alega que começou a vender apenas os projetos de sua autoria apresentados na Câmara Municipal de Campo M ourão durante seu mandato. Como a demanda foi crescendo, ele conta que passou a fazer projetos sob encomenda. Tudo ao gosto do freguês. A lista de propostas foi sendo ampliada à medida que os pedidos começaram a aumentar. Além do site, José Gilberto trabalha na Prefeitura de Campo Mourão.
"Elaboramos os projetos de uma maneira que seja possível adaptá-los para todas as cidades", explica. Ele não revela quanto vende por mês, mas garante que tem clientes em todos os estados, inclusive em capitais, e que em ano eleitoral os pedidos aumentam.
NENHUMA PISTA O sigilo é um dos requisitos para atrair os clientes. Ele não dá nenhuma pista de quem são os compradores, mas reafirma que fornece projetos de lei para todo o Brasil. Várias propostas com títulos idênticos às vendidas pelo ex-vereador já foram apresentadas em câmaras do interior e das capitais. "Não vejo nenhum problema em vender os projetos. O importante é que o vereador apresente boas ideias à sua cidade, não interessa de onde elas vieram", diz.
A reportagem comprou ontem um pacote com 10 projetos de lei. Foram enviados, a pedido do Estado de Minas, três propostas com urgência, entre elas uma que "dispõe sobre o programa Valorizando a Vida". Uma matéria de mesmo nome foi apresentada na Câmara Municipal de Barbacena, na Zona da Mata mineira. O texto chegou a ser aprovado pelos vereadores, mas foi vetado pelo Executivo no ano passado. A reportagem não conseguiu ter acesso à proposta, pois é preciso a autorização da Presidência da Câmara para que o texto seja divulgado.

Câmara derruba a prefeita de Mariana

Juliana Cipriani

Depois de uma guerra de liminares, a Câmara Municipal de Mariana cassou ontem, por  oito votos a dois,  o mandato da prefeita Terezinha Ramos (PTB) por improbidade administrativa. Assume o vice Roberto Rodrigues (PTB). Ela é acusada de usar R$ 98 mil dos cofres da prefeitura para pagar advogados para sua defesa particular em processo eleitoral. O julgamento só foi retomado na noite de ontem, depois de ser adiado desde o dia 9 por decisão judicial. A desembargadora Albergaria Costa revogou a liminar que impedia os trabalhos e, depois de algumas suspensões, os vereadores apresentaram a conclusão da comissão processante, criada em novembro de 2011.
A denúncia, feita pelo engenheiro Marcius Costa Machado, também motivou um pedido de afastamento da prefeita pelo Ministério Público estadual. A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público apontou irregularidades no contrato entre o Executivo e o escritório de advocacia contratado pela prefeita. Terezinha não compareceu à sessão de julgamento e não enviou advogado, sendo designado um na hora. Os adiamentos foram em resposta a mandado de segurança impetrado pela prefeita. Na semana passada, o advogado dela, Arthur Guerra, disse ter levado ao tribunal 12 questionamentos sobre a atuação da Comissão Processante do Legislativo: "A prefeita não foi intimada como exige a lei, suas testemunhas não foram ouvidas e os editais de convocação não foram publicados", alegou.
Desde 2008, a cidade já teve quatro prefeitos. Terezinha Ramos assumiu a prefeitura em março de 2010, quando o prefeito eleito Roque Camello (PSDB) foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Pouco mais de um mês depois, foi afastada pela Justiça por suspeita de irregularidades na prestação de contas da campanha, e assumiu o presidente da Câmara Municipal, Geraldo Sales (PDT). Depois de uma batalha judicial, Terezinha voltou a comandar a prefeitura em agosto do ano passado.

Réu toma posse no tribunal eleitoral

Novo juiz substituto do TRE, Flávio Bernardes é acusado de improbidade em ação sobre contrato com prefeitura

Isabella Souto

Mesmo acusado de improbidade administrativa pelo Ministério Público por ter causado "grave dano" à Prefeitura de Mariana, o advogado Flávio Couto Bernardes foi empossado ontem como juiz substituto do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG). Ele foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff a partir de uma lista tríplice enviada em setembro. A vaga estava aberta desde 3 de dezembro de 2010, quando a advogada Maria Fernanda Pires de Carvalho deixou a Corte.
A ação judicial que corre no Fórum de Mariana desde o fim do ano passado questiona a contratação, sem licitação, do escritório Bernardes & Advogados Associados para prestar serviços jurídicos ao município. Flávio Couto Bernardes, que também advogava para o ex-ministro Hélio Costa (PMDB), teria sido indicado pelo então procurador-geral do município Wederson Advíncula Siqueira, com quem tinha relações profissionais. O contrato questionado foi assinado em 6 de maio do ano passado na modalidade "êxito", em que, quanto maior o "sucesso", maior a remuneração.
Além de um parecer, o escritório cuidaria de uma ação questionando o repasse pelo estado de ICMS relativo às operações de uma mineradora e o recolhimento do Valor Adicional Fiscal do município (VAF). Uma cláusula previa R$ 98 mil na entrega do parecer; R$200 mil se o valor de êxito fosse até R$ 2,5 milhões; R$ 350 mil de êxito se o valor fosse de até R$ 4 milhões ou R$ 500 mil se o valor ultrapasse os R$ 4 milhões.
No entanto, o MP alega que o município já havia ganho a ação. "Em 2007, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) já havia decidido a causa, inclusive com a efetivação de depósito judicial prévio a favor do município de Mariana com valor superior a R$ 6 milhões", afirmou a promotora Giselle Luciane de Oliveira Lopes Viveiros Melo. Ainda de acordo com ação, o dinheiro estava depositado em conta em favor do município e bastava um mero pedido de alvará judicial para o saque.
"Portanto, todo o contrato e em especial sua claúsula de êxito econômico eram um engodo, perdendo completamente toda a álea o objeto do contrato, posto que já tinha sido concedida a ordem no mandado de segurança em favor do município de Mariana, bem antes da assinatura do contrato, e o valor já estava depositado em juízo". Para o Ministério Público, o objetivo do contrato era levantar recursos para que a prefeita Terezinha Ramos, cassada na noite de ontem pela Câmara do munícipio (leia texto ao lado), quitasse honorários devidos a Wederson Siqueira, que a assessorou em ações durante e depois das eleições de 2008.
Afastamento São listados como réus na ação, além de Flávio Couto Bernardes e Wederson Siqueira, a prefeita Terezinha Ramos, os secretários da Fazenda, Milton Francisco de França Silva, e de Administração, Carlos Alberto Ferreira. O MP pediu o afastamento da prefeita, nulidade do contrato contestado, devolução dos R$ 98 mil pagos pelo parecer, perda da função pública de Terezinha e dos secretários, suspensão dos direitos políticos por pelo menos cinco anos, pagamento de multa civil equivalente a até duas vezes o valor do dano causado ao erário e proibição de contratar com o poder público por cinco anos.

Gabinete de Dilma e da história
Amiga do Colégio Estadual e companheira de armas da presidente, Sônia Lacerda chefia o QG do Planalto em BH e o memorial da escola, onde também estudaram Getúlio e Bernardes

Patrícia Aranha

Se você fosse presidente da República quem você indicaria para chefiar o gabinete regional da Presidência no estado em que você nasceu? E quem seria responsável por coordenar o projeto de um memorial da escola onde você e dois outros presidentes da República – Artur Bernardes (1922-1926) e Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) – estudaram? A resposta de Dilma Rousseff foi a mesma para as duas perguntas: uma amiga da adolescência, que foi sua colega de sala em dois colégios, companheira de armas na luta contra o regime militar e que a acompanhou até o Ministério da Casa Civil: a mineira, moradora do mesmo bairro do Carmo onde Dilma passou a infância, em Belo Horizonte, Sônia Lacerda Macedo. Desde o início do ano, ela coordena o QG mineiro da Presidência, no 11º andar da rua da Bahia, 2.500, num prédio onde funciona o Banco do Brasil, ao lado do Minas Tênis.
No meio da tarde de ontem, essa mineira de olhos verdes azulados aceitou o convite do Estado de Minas e deixou o gabinete regional – que ainda espera a visita de Dilma para ser inaugurado oficialmente –, para ir até o Colégio Estadual Central, que fica no mesmo bairro de Lourdes, tirar uma foto ao pé da rampa. Era o local preferido dela e da amiga presidente "onde meninos e meninas se encontravam"para segundo Sônia, "respirar liberdade em anos chumbosos". A data de matrícula na ficha das duas não deixa dúvidas do "caldeirão cultural e político" que ajudou a modelar o espírito contrarevolucionário: 9 de março de 1964, três semanas antes do Golpe Militar.
A ideia do memorial partiu de um ex-aluno e foi formatada ano passado, quando cursava o 3º do ensino médio: Vítor Diniz, de 18 anos, um ano menos do que Dilma ao se formar no 3º do Clássico, em Ciências Sociais, em dezembro de 1966. "Queria algo que trouxesse à tona a excelência do Estadual Central, a primeira escola de Minas, que formou três ex-presidentes da República e a colocasse em contato com os atuais alunos, que sofrem do complexo de vira-lata como outros brasileiros que frequentam a escola pública", afirmou ele, ontem. Filiado ao PT um ano depois de participar da campanha de Dilma com o slogan "Do estadual ao Planalto central", Vítor Diniz, levou a ideia ao gabinete do deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG), que indicou a museóloga Hélvia Vorcaro para fazer a proposta do memorial, entregue em maio do ano passado ao Ministério da Cultura.
Desanimado com as idas e vindas da burocracia, Vítor Diniz, resolveu mandar um e-mail diretamente à Presidência da Repúblia. O chefe de gabinete Caio Galvão de França ligou de volta dizendo que o assunto seria remetido ao gabinete regional já criado. A própria Sônia Lacerda telefonou, o convocando para a reunião. "É um pré-projeto, que agora está sendo transformado em projeto que será reencaminhado por nós ao Ministério da Cultura", esclarece Sônia.
Escola aberta A concepção do museu remete ao pensamento de Niemeyer de uma escola aberta. Hélvia Vorcaro explicou que a proposta é de fazer um museu de percurso. "O próprio colégio é o acervo. O museu de percurso envolverá o entorno, os prédios e volumes da escola. Seria importante tirar os muros da instituição, que foram colocados depois, porque foi construído num patamar mais alto e havia grama até o muro. O Fernando Pimentel (ex-aluno e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) conta que ao sair da aula pulavam a grama, pois não havia muro", conta Hélvia. "Se ficasse numa sala fechada, não atingiria o nosso objetivo, por isso mesmo, estamos fazendo junto uma associação dos amigos do Colégio Estadual Central", conta Vítor Diniz.
"Ao utilizar as formas do lápis, da borracha, do mata-borrão e da régua T, Niemeyer traduz na forma arquitetônica os materiais escolares utilizados na época de sua construção. A singularidade e a importância do Colégio Estadual Central são tão significativas que seus diretores eram cognominados de reitores", escreveu o deputado federal Gabriel Guimarães, na introdução da proposta entregue ao Ministério da Cultura, onde lembra os nomes dos notáveis que passaram por lá, não só os políticos como o ex-governador e deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB), mas artistas e intelectuais como Henfil e Fernando Sabino (Veja quadro).
Uma das obras de arte que ficava a céu aberto, de Oficialmente denomidada Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central foi inaugurada em fevereiro de 1854, em Ouro Preto, antiga capital de Minas com o nome de Liceu Mineiro de Ouro Preto, tornando-se a primeira escola pública estadual em Minas. Com a mudança da capital em 1897, ano ano seguinte o então denominado Ginásio Mineiro foi transferido da antiga Vila Rica para Belo Horizonte, onde foi instalado provisoriamente em um prédio da Praça Afonso Arinos. Depois, teve outros outros endereços: Rua da Bahia, Bairro da Serra, um prédio na Avenida Augusto de Lima derrubado para dar lugar ao que hoje abriga o Minascentro. Em 19543, foi rebatizado de Colégio Estadual de Minas Gerais e mudou-se para outro prédio na mesma avenida, onde foi posteriormente erguido o Fórum Milton Campos.
A escultura de Alfredo Ceschiatti foi inaugurada na nova sede em 1954, erguida durante a gestão de Juscelino Kubitschek no governo de Minas, no local onde antes funcionava o Regimento de Cavalaria da capital. A escultura, que foi trancafiada durante a ditadura por ter os seios à mostra, fica hoje no corredor ao lado da diretoria. Nas paredes, quadros com as várias sedes do colégio ao longo dos anos. O atual diretor Jefferson Pimenta já fez pelo menos uma das vontades dos ex-alunos: mandou retirar as grades que por mais de duas décadas fechavam a rampa de acesso ao segundo andar, cuja colocação fez chorar o socialista Niemeyer.

Getúlio e Bernardes
Não há documentos sobre a passagem do presidente Artur Bernardes na escola. Os responsáveis pelo arquivo lembram que vários papéis sumiram na transferência do Colégio Mineiro em Ouro Preto para a nova capital em Belo Horizonte. Nascido em Viçosa, teve que abandonar os estudos no Caraça por dificuldades financeiras para trabalhar como guarda-livros. Mas um decreto do governador Afonso Pena, de 1894, possibilitou a volta aos 18 anos ao Colégio Mineiro, depois de uma prestar exames finais das disciplinas do então curso ginasial. Do gaúcho Getúlio Vargas restaram alguns documentos, como a matrícula em 2 de setembro de 1896, aos 14 anos, acompanhando os irmãos que haviam estudado em Ouro Preto.

Berço de notáveis
Dilma Rousseff
Getúlio Vargas
Artur Bernardes
Eduardo Azeredo
Fernando Pimentel
Walfrido dos Mares Guia
Hélio Pelegrino
Bernardo Guimarães
Alfredo Balena
Raul Soares
Ronaldo Caiado
Sepúlveda Pertence
Henfil
Betinho
Elke Maravilha

Amiga do Colégio Estadual e companheira de armas da presidente, Sônia Lacerda chefia o QG do Planalto em BH

Personagem da notícia
Sônia Lacerda Macedo
Chefe do Gabinete Regional da Presidência da República

Companheira desde sempre
A vida das meninas do Sion mudaria para sempre com a ida para o Colégio Estadual Central, conta a amiga da presidente Dilma Rousseff. Questionada se foi um choque a nova escola, Sônia gargalhou e devolveu a pergunta: "Choque como? Era a liberdade". Apesar de a transferência do Colégio Santa Dorotéia, que as duas ainda chamam de Colégio Sion, ter a mesma data, Dilma terminou primeiro. "Tomei bomba", conta a chefe do Gabinete Regional da Presidência da República. Só no terceiro ano decidiram optar por cursos diferentes. Dilma foi para ciências sociais e Sônia para letras. Na faculdade, uma optou por economia, outra por direito na UFMG, abandonado um ano depois, e ciências e letras na então Fafi-BH, hoje UNI-BH. Foram juntas para a luta armada no Comando de Libertação Nacional (Colina) e na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). "Fui para o Rio, ela para São Paulo. Ela ficou presa em São Paulo, eu no Rio. Perdemos o contato desde a clandestinidade. Quando Dilma foi solta, veio a Belo Horizonte, nos reencontramos", conta. E não se largaram mais. Sônia trabalhou no Ministério da Casa Civil até julho de 2010, participou da campanha e agora mudou de mala e cuia para a cidade onde ambas nasceram.

Piorou a matemática
No acervo do Colégio Estadual Central, a pasta de Dilma Roussef é a primeira entre os notáveis. Desde ontem, lá está também a de Sônia Lacerda Macedo. Além da transferência, matrícula e atestados médicos, estão lá os boletins que narram a vida acadêmica da estudante. Em 1963, a melhor nota no Ginásio Sion, uma escola só de meninas, havia sido 9,9 em trabalhos manuais, com 8,2 em matemática e 7,45 em latim. Três anos depois, ao se formar no Estadual, a pior nota foi matemática (5,83) e a melhor, história (8,45). Em setembro de 1965, num ofício de próprio punho ao então diretor José Guerra Pinto Coelho, Dilma pediu para fazer uma segunda chamada do exame de matemática, do qual se ausentou por motivos de doença.

ECONOMIA
Investimento desembarca em Minas apesar da crise

Mesmo com turbulências na Europa, já foram anunciados neste ano projetos que somam R$ 283,96 milhões e 1.585 empregos no estado. Setores tradicionais devem puxar expansão
Marta Vieira e Paula Takahashi
Se é verdade que o país só começa a funcionar depois do carnaval, algumas empresas decidiram reverter a ordem e já estão lançando apostas em projetos de investimento desde o início do ano, a despeito do cenário de agravamento da crise financeira na Europa e das estimativas do setor privado de baixo crescimento da economia brasileira, ao redor de 3%. Em Minas Gerais, os primeiros 45 dias de 2012 trouxeram planos da indústria e do setor de prestação de serviços, em 19 protocolos firmados com o governo estadual, para aplicar R$ 283,96 milhões e gerar 1.585 empregos diretos. A cifra, que pode não ser tão modesta quanto se pensa para um início de ano envolto em nuvens escuras no mundo, está concentrada em empreendimentos de pequeno e médio porte.
A pergunta que ainda requer tempo para ser respondida é para onde vai caminhar o investimento do setor produtivo. A secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas, Dorothea Werneck, afirma ver sinais de que o país e o estado vão continuar recebendo um bom fluxo de investimentos estrangeiros. "Não sei se é uma tendência ou um desejo, mas tenho recebido investidores toda semana interessados em avaliar possibilidades no estado e há muita coisa nova ocorrendo nas áreas de biotecnologia, tecnologia de informação e do agronegócio", afirma.
Os três segmentos citados pela secretária de desenvolvimento não apareceram em destaque entre as empresas que anunciaram as maiores cifras de investimento no ano passado, quando o estado atraiu R$ projetos avaliados em 28,4 bilhões e uma previsão de abertura de 44.124 empregos diretos. Setores tradicionais da economia mineira, a mineração e a siderurgia é que lideraram os acordos de intenção de investimento firmados em 2011, com uma cifra total de R$ 15,429 bilhões, representando 54% do volume global anunciado, e a perspectiva de abrir 4.846 postos de trabalho. Para o presidente da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), Olavo Machado Júnior, o fôlego desses segmentos está longe de acabar.
"A mineração e a siderurgia vão continuar puxando a curva dos investimentos no estado", afirma o presidente da Fiemg. De fato, a indústria mineral anunciou em 2011 investimentos de US$ 68,5 bilhões no Brasil até 2015, sendo metade em Minas. Os números devem passar de US$ 70 bilhões deste ano a 2016, conforme estimativa preliminar para 2012 feita pelo Ibram. Um dos principais indicadores desse novo ciclo também surpreendente é a estimativa de valor recorde da produção mineral brasileira em 2011, de R$ 50 bilhões. A exploração em Minas responde por cerca de 50% desse montante.
Diante das más notícias que vêm da Europa, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, acredita que as empresas poderão retardar o cronograma de implantação de investimentos até que consigam ter uma visão mais clara dos rumos da crise. "O cenário é nebuloso, mas há setores que trabalham com horizonte de longo prazo e não deixarão de investir em função de uma turbulência de curto prazo", afirma.
Carros-chefes Na avaliação de Robson Andrade, os investimentos da indústria no Brasil tendem a seguir crescentes nas indústrias da mineração, de petróleo e gás e no setor automotivo. A mineração, em particular, tem como motivação seus grandes volumes destinados ao mercado internacional, especialmente à China e Índia, que mantêm rota de crescimento. Outros dois segmentos devem investir em expansão, a indústria naval, puxada pela demanda da Petrobras, e o agronegócio, fornecedor de alimentos para o mundo.
A secretária Dorothea Werneck está confiante em que o estado tem condições de repetir em 2012 o montante de investimentos anunciado no ano passado. Além da expansão de segmentos ligados à indústria da biotecnologia, ela tem boas expectativas sobre o agronegócio e o desenvolvimento da mineração no Norte, considerada a nova fronteira do setor em Minas.
Em estudo detalhado sobre as exportações, o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, faz a ressalva de que a potência chinesa não dá tantas garantias quanto alguns analistas imaginam no Brasil. "Importantes países e blocos econômicos sinalizam riscos de deterioração econômica, quadro que, se confirmado, deve se refletir diretamente e negativamente sobre as futuras cotações das commodities", diz o estudo da AEB.
Ferro e aço lideram ranking
Pelo menos 50% do volume total de investimentos firmados com o estado até agora serão destinados ao setor de mineração. O Grupo Carmargos Júnior assinou protocolo de intenções que prevê aporte de R$ 142,5 milhões em projeto minero-logístico na cidade de Ibirité, Região Central, sendo pelo menos R$ 140 milhões voltados para aquisição de terrenos, realização de estudos e projetos, obras civis e compra de equipamentos para a mineração. O restante será aplicado na logística do projeto.
Com início em 2008, o projeto tem conclusão prevista para 2031 e a expectativa é de que sejam gerados pelo menos 460 empregos diretos e 1.640 indiretos. A capacidade anual de produção chegará a 540 mil toneladas de minério de ferro.
Também na Região Central, a Cisam Siderurgia estima aportes de R$ 21 milhões para expansão da fábrica e consequentemente da produção de aços especiais, que deve chegar a 320 mil toneladas ao ano nas formas de lingotes e tarugos. Com conclusão prevista para dezembro de 2013, a nova fábrica deverá criar 20 empregos diretos e outros 40 indiretos.
Ainda na área central do estado, a Café Três Corações planeja expansão da unidade industrial em Santa Luzia com aporte de R$ 14,3 milhões. A intenção é de produzir e comercializar café torrado, moído e solúvel e café com leite, gerando pelo menos 120 empregos diretos.
Na rota de novos negócios, o Sul de Minas já conta com pelos menos R$ 55 milhões em investimentos anunciados somente nos 45 primeiros dias deste ano. O maior deles, da empresa de embalagens Graham Packaging prevê a instalação de uma unidade na área da fábrica da Danone, em Poços de Caldas, para produção de frascos plásticos para iogurtes da gigante do setor de alimentos. O investimento de R$ 40 milhões será suficiente para garantir capacidade de produção de pelo menos 600 milhões de frascos ao ano.
Em Santa Rita do Sapucaí, a White Film vai destinar R$ 15 milhões para a construção de uma fábrica voltada para a produção de filmes de polietileno para fraldas descartáveis e embalagens plásticas. A expectativa da empresa é de crescer 300% com a inauguração da nova unidade industrial, em dezembro de 2013. O resultado será a geração de 30 empregos diretos e 15 indiretos.
Esses são apenas alguns dos novos empreendimentos que ainda prevêem aportes nos setores de tecnologia, logística e de serviços. É o caso da construção de um hotel de 86 apartamentos e 134 leitos em Patrocínio, no Alto Paranaíba pela empresa Centro de Convenções e Hotelaria que destinará R$ 7,59 milhões para o projeto que vai criar 28 empregos diretos e 52 indiretos.

Atrás de óleo e gás
Grupo mineiro investe R$ 143 milhões para dar suporte a grandes empresas que atuam na prospecção de jazidas no Norte do país. Próximo passo é fechar contratos no exterior

Marta Vieira e Frederico Bottrel

Dos campos de pesquisa de óleo e gás na Amazônia para o Acre e o Pará, o grupo mineiro Georadar amplia a sua presença no setor, com investimentos de R$ 143 milhões previstos para aplicação até o ano que vem na execução de novos projetos licitados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Os contratos reforçam os planos da empresa de atuar também no exterior. Maior prestadora de serviços de levantamentos de sísmica em terra (onshore) do Brasil, a Georadar está na fase final de negociações para pisar no Paraguai e estuda oportunidades no Oriente Médio, informou o diretor Administrativo e Financeiro, Luiz Nagata.
Os trabalhos no Acre começam ainda neste semestre, com uma equipe de 500 pessoas na região do município de Cruzeiro do Sul. No Pará, as pesquisas sísmicas terão início no segundo semestre em torno de Santarém, onde será mobilizado um contingente idêntico de pessoal nas operações. Fruto de duas licitações da ANP, os projetos têm conclusão prevista neste ano e em 2013, respectivamente. Para bancar os recursos necessários à execução dos contratos, a Georadar recorreu à linha especial de empréstimo criada no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para atender fornecedores da cadeia de petróleo e gás.
O crédito de R$ 143 milhões é o maior já tomado dentro do Programa P&G do BNDES, orçado em R$ 4 bilhões para desembolso nos próximos quatro anos. "Grande parte das empresas precisa do financiamento para conseguir acompanhar as demandas da Petrobras e de outras indústrias do petróleo. Atuamos num setor dominado por multinacionais que têm acesso ao crédito lá fora", afirma Luiz Nagata. O financiamento, que contou com a intermediação do Banco do Brasil, teve rápida aprovação e o primeiro desembolso está previsto para esta semana.
Atuando desde 2007 na Amazônia como fornecedora da Petrobras, a Georadar conduz o Projeto Espec em duas bases de operação que estão no pico do trabalho, envolvendo 1,8 mil trabalhadores. O contrato, firmado com o consórcio constituído pela Petrobras e a portuguresa Petrogal, termina no primeiro trimestre de 2013. O empréstimo dirigido que o BNDES lançou em agosto do ano passado dá fôlego às empresas num momento de forte demanda, além de quebrar o paradigma da falta de uma política de financiamento para as empresas prestadoras de serviços, como a Georadar, e o comércio, observa Luiz Nagata.
"Nossa carteira de projetos para este ano é bastante representativa, alcançando até agora R$ 600 milhões", disse o diretor financeiro da Georadar. O grupo mineiro tem contratos firmados com grandes empresas, a exemplo da Vale e da OGX, do bilionário Eike Batista, no Maranhão. Outros fornecedores e prestadores de serviços à cadeia de óleo e gás procuraram o Banco do Brasil em Minas interessados na operação do empréstimo, informou Cláudio Borsa, superintendente empresarial da instituição para as regiões Centro e Norte. O BB opera em duas das quatro linhas do programa do BNDES e espera concluir negociações para novas liberações de recursos até junho.

Apoio vem do BNDES
A linha de empréstimo do BNDES oferece taxas de juros entre 4,5% ao ano para inovação nas empresas a 11,04% anuais em caso de financiamento para capital de giro nas operações diretas, quando toda a negociação é feita com a instituição, sem participação de outro agente financeiro. O programa permite que o banco apoie necessidades das empresas de aquisição de tecnologia, qualificação e capacitação de mão de obra e prestação de serviços de engenharia e certificação relacionados ao setor.
O chefe do Departamento da cadeia produtiva do petróleo e gás do BNDES, Ricardo Cunha da Costa, informou que do lançamento do programa até semana passada foram pedidos créditos no valor total de R$ 1,5 bilhão em cartas-consultas relativas a 19 projetos com investimentos previstos de R$ 2,6 bilhões. A cifra global de pedidos representa quase 38% do orçamento do P&G. "Trata-se de um valor alto para um período de cinco meses. É bem provável que consigamos bater a meta do programa", afirmou.
As previsões de desembolso da linha de empréstimo são de R$ 750 milhões para este ano e R$ 850 milhões para 2013. Os técnicos do BNDES estão empenhados, de acordo com Ricardo Costa, em estudos internos com o objetivo de simplificar os processos para aprovação das operações e determinar a liberação dos recursos em prazos mais curtos. Há orientação para que sejam flexibilizadas as condições de acesso ao crédito das micro, pequenas e médias empresas do setor. Os empreendimentos de menor porte somam cerca de 85% da cadeia de fornecedores do setor de petróleo e gás no país. (MV)

Divinópolis da moda
A cadeia de confecções de Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, cresceu e agora quer aparecer. O setor, que responde por 25% dos empregos da região e produz 25 milhões de peças por ano, se movimenta nos preparativos da Fashion Mix. A feira com foco em negócios, prevista para o período de 6 a 10 de março, tem objetivo principal de atrair novos compradores e consolidar a cidade, que tem 1,8 mil empresas no setor, como polo de moda. Com o propósito firme de aumentar em 6% a receita este ano, o projeto finca as bases de divulgação em rede social criada na internet, que já dá os primeiros resultados.
"Amadurecemos esse setor, com oficinas, workshops e formação de mão de obra qualificada e agora é hora de abrir as portas, em evento que é vitrine para todo esse trabalho", diz Antônio de Araújo Rodrigues Filho, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd), no lançamento do evento ontem, na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Segundo ele, o número de compradores que visitaram a cidade caiu 4% em 2011, na comparação com 2010. Já a receita, impulsionada pela alta do algodão no mercado, foi 11% maior.
O projeto em si é fruto amadurecido do Fashion Show, desfile semestral realizado desde 2010 na cidade, que durava apenas um dia. O novo modelo, que demandou investimentos de R$ 450 mil para gerar R$ 1,5 milhão em negócios e atrair 10 mil pessoas, comporta ainda oficinas e palestras. "Teremos 30 expositores, mas haverá vans para levar os compradores para outros seis shoppings da cidade, o que beneficiará toda a cadeia", diz Rodrigues.
Diferentemente de outros eventos de negócios em moda que funcionam a partir de pedidos, a Fashion Mix é voltada para a pronta entrega. "Preparamos, para a feira, 2 mil peças, que equivalem à expectativa de vendas de R$ 300 mil", conta Márcia Simoni, diretora da Chianelli, fábrica de moda festa que emprega 20 funcionários em Divinópolis e trabalha com 30 fornecedores de BH. Mesmo com todo o planejamento, ela aposta no potencial do evento para futuras encomendas.
Os poucos recursos de divulgação levaram à criativa solução da rede social também batizada de Fashion Mix, que já tem 1 mil participantes, com 80 dias no ar. Em vez de aderir a outra plataforma pré-concebida, como o Facebook, a Fashion Mix foi criada em ambiente específico, para facilitar o monitoramento estatístico da discussão. Sabe-se, por exemplo, que 30% dos participantes já são clientes em potencial e blogueiros de moda, os principais públicos do projeto de tornar o polo de Divinópolis ainda mais conhecido.
"O perfil do polo tem mudado muito. Antes era focado em roupa barata. Hoje, as criações são autorais e ganham relevância de design", opina Daiana Carvalho, de 23 anos, diretora da Ametista, fábrica de acessórios. A marca, tocada em parceria com a mãe de Daiana, Joana D"Arc, deu um salto quando a jovem se formou em design de moda, também em Divinópolis. "A grande maioria dos estilistas se forma e encontra trabalho fácil na cidade", conta. No último ano, a fábrica começou a produzir também vestuário, o que incrementou o faturamento em 50%. "Queremos mais 50% este ano", projeta Joana.

NACIONAL
MPF é contra a censura ao Twitter
Diante de ação impetrada pela União, Ministério Público Federal em Goiás defende liberdade de informações pela net

Goiânia – O Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) manifestou-se contrário à ação da União que pede o bloqueio de contas do Twitter que difundem informações sobre os locais, dias e horários de blitz policial realizadas no estado. O órgão pede ainda o indeferimento da petição inicial da Advocacia Geral da União (AGU) ou a extinção do processo. De acordo com o procurador regional dos direitos do cidadão Ailton Benedito, a petição inicial da demanda é inepta. "É absolutamente irracional, desde a pressuposição de convivência em sociedade aberta, constituída sobre os alicerces de liberdade, que se divise alguma possibilidade de se impedir o livre fluxo de informações pela internet".
Dessa forma, tentativas com esse desiderato mostram-se, em regra, não somente inúteis como também contraproducentes. Sobretudo, se o Estado pretender impor tais limitações de forma genérica e abstrata, a fim de inibir a prática de crimes. Nesses casos, as autoridades públicas jamais conseguem fechar todas as portas abertas aos criminosos, que, ordinariamente, sempre desenvolvem novas formas de comunicar e se organizar para suas práticas delituosas, escapando dos débeis limites estatais.
O pedido se refere especificamente aos alertas em Goiás, mas, dependendo da decisão do juiz, pode vir a ter impacto em todo o país. A informação sobre a ação judicial foi divulgada pela AGU ontem, mas o processo foi protocolado no fim de janeiro. A Justiça ainda não analisou o pedido. O MPF pede que a ação seja negada ou que o processo seja extinto sem julgamento.
A AGU entrou na Justiça Federal de Goiás com uma ação civil pública que pede a "suspensão imediata" de contas do Twitter que avisam sobre a localização de radares e que divulgam informações sobre data, hora e local de blitz policial. A ação é assinada pela Procuradoria da União de Goiás e tem como foco a empresa Twitter INC, com sede nos Estados Unidos e que gerencia as contas do Twitter. No pedido, a AGU afirma que a conduta de alertar sobre radar e blitz "agride diretamente a vida, a segurança e o patrimônio das pessoas em geral".
VIOLAÇÕES Segundo o órgão, dispositivo do Código Penal e do Código de Trânsito Brasileiro são violados com a divulgação. "Os advogados da União sustentam que, além da importância que as fiscalizações exercem para reduzir o número de acidentes de trânsito, também servem para combater a prática de outros delitos graves, como o furto de veículos, porte ilegal de armas e tráfico de drogas", diz nota divulgada. A AGU requer, por meio de uma liminar, que as contas dos usuários em Goiás sejam suspensas mesmo antes da análise do mérito do pedido e que seja aplicada uma multa diária de R$ 500 mil no caso de descumprimento.
De acordo com a AGU, a ação foi proposta a partir de estudos produzidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que apontam informações sobre acidentes e mortes no trânsito.

GERAIS
Centro-Oeste já teme surto

Simone Lima

Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas, corre risco de uma epidemia, ao registrar em janeiro índice de infestação de 11,4% dos imóveis no último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa), 7,4% a mais do que o percentual de 2011. O índice acima de 3,9% é considerado pelo Ministério da Saúde situação de alto risco. Diante do perigo de surto da doença, a cidade decretou guerra ao mosquito, adotando ações de prevenção.
No ano passado, o município registrou 204 notificações e neste ano o número de casos já chega a 16. Segundo a coordenadora de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Neide Braga Lopes, nas últimas semanas três bairros receberam mutirões de limpeza. Além disso, foram montadas salas de espera em 10 unidades de saúde para orientar as pessoas sobre a prevenção. "O índice de infestação é preocupante, mas as notificações não estão altas. Já capacitaremos todos os funcionários das unidades de saúde para que possam identificar pacientes com sintomas da doença e padronizar o atendimento", explicou.
A coodenadora ressaltou que em janeiro o município recebeu apoio da força-tarefa da Gerência Regional de Saúde, que passou com o fumacê pelas ruas da cidade e orientou a população. O objetivo é evitar um novo surto em Bom Despacho, como o que ocorreu no fim de 2009 e início de 2010, quando foram registrados mais de 4 mil casos da doença e três mortes. "Nessa época, o Liraa na cidade ficou em torno de 7,4%", contou.
O levantamento analisou 20% dos 21.260 imóveis da cidade. Desse total, 11,4% apresentavam focos do mosquito. Neide Lopes informou que a maior preocupação é que o tipo 4 da doença chegue ao município. "Já tivemos até dengue do tipo 3 e não queremos que a doença se espalhe e que esse novo tipo de vírus atinja a população", acrescentou.
DORES DO INDAIÁ Outro município do Centro-Oeste de Minas que apresentou aumento no índice de infestação do mosquito foi Dores do Indaiá. O percentual, que no ano passado foi de 2,2%, saltou para 7%. A coordenadora municipal de Epidemiologia, Núbia Fernanda da Silva, disse que o índice surpreendeu os profissionais. "Não esperávamos esse aumento e não sabemos como esse índice chegou a 7%", afirmouse.
Núbia Silva informou que os focos foram encontrados principalmente em casas. Desde então, a prefeitura faz alertas nos meios de comunicação e promove blitz educativa. Apesar do aumento no Liraa, nenhum caso da doença foi registrado neste ano."Estamos com 10 agentes percorrendo a cidade para orientar a população", disse.

Corrida para deter a dengue
Temor de epidemia mobiliza autoridades e técnicos de cidades do interior com alto índice de infestação do mosquito Aedes aegypti. força-tarefa redobra esforços para reduzir avanço da doença

Luiz Ribeiro

Várzea da Palma –  O último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa), da Secretaria de Estado da Saúde (SES), apontando 30 cidades de Minas com alto risco de infestação de focos do mosquito da dengue e de 42 com médio risco, deixou preocupadas autoridades e técnicos do interior de Minas, que temem uma epidemia da doença. Diante da gravidade da situação, a SES decidiu concentrar, com representantes das cidades em situação crítica, ações de combate ao vetor e impedir o avanço da doença, que causou 23 mortes em Minas no ano passado.
Várzea da Palma, no Norte de Minas, é o segundo município do estado com mais focos do mosquito transmissor, registrando infestação de 11,8% dos imóveis. As chuvas e a enchentes do Rio das Velhas são apontadas por especialistas como principais causas do aumento dos criadouros. A prefeitura garante que o número de casos de dengue ainda é reduzido.
"Até agora, tivemos somente oito casos de dengue clássica. A questão no município é que a infestação é alta, mas os mosquitos aqui não estão contaminados com a doença", argumenta o diretor de Vigilância em Saúde de Várzea da Palma, Gilberto Patrício da Silva. Segundo ele, os focos do mosquito aumentaram no período chuvoso, já que em novembro o índice Liraa era de apenas 1,5%. Gilberto acrescenta que a prefeitura reforçou o combate ao transmissor com as visitas domiciliares para eliminar os focos em casas e quintais, com o uso do fumacê. Trabalham na ação preventiva 26 agentes comunitários de endemias.
O combate aos focos do mosquito Aedes aegypti é elogiado pela aposentada Maria, do Bairro Jardim Itália. "Eu e meu marido já pegamos dengue duas vezes. O trabalho dos agentes é muito bom. Faço tudo para poder ajudar", diz a moradora. Mas nem todos colaboram. "Existem muitas pessoas que nem deixam a gente entrar nas casas e jogam lixo no quintal", informa uma agente de saúde de Várzea da Palma.
BOCAIÚVA Em Bocaiúva, também no Norte de Minas, o índice Liraa, que foi de 11% em janeiro de 2011, caiu para 7,6% este ano. No entanto, a preocupação com a dengue não é afastada, pois o índice ainda é considerado elevado. Por isso, a prefeitura promove hoje reunião para planejar um mutirão. "A proposta é fazer uma força-tarefa para acabar com os focos do mosquito. Vamos retirar a maior quantidade possível de entulho da cidade", anunciou o secretário municipal de Saúde, Eron dos Santos. Segundo ele, em novembro, antes do período chuvoso, o Liraa na cidade era de 1,4%.
A vigilância contra a dengue também merece atenção em Montes Claros. O Liraa no município foi de 6,4%, menor do que o registrado em janeiro de 2011, de 7,2%. "O problema é que há 101 bairros da cidade com alto índice de infestação. Em 38, o índice está acima de 10%", afirma Jesiel de Quadros Carvalho, chefe da Divisão de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Montes Claros. "Pedimos a colaboração dos moradores para baixar a infestação, pois 90% dos focos do mosquito transmissor da dengue estão dentro das casas e nos quintais", assegura Jesiel, lembrando que o percentual elevado é registrado em vários bairros de classe média alta.

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