PRIMEIRA PÁGINA
Contra a
farra do diploma
Na Prefeitura de BH, 2,5 mil professores são
suspeitos de conseguir benefícios com documentos de pós-graduação que não
atendem às regras do MEC. Desde junho do ano passado, 924 promoções foram
canceladas e 525 pedidos de aumento, negados. O prejuízo para os cofres
municipais nos últimos seis anos seria de no mínimo R$ 5,2 milhões.
Os diplomas que tomaram bomba são todos da
Faculdade da Região dos Lagos (Ferlagos) e das Faculdades Integradas de
Jacarepaguá (FIJ), ambas do Rio.
O inquérito também mira a Secretaria de Estado da
Educação, onde 1.652 servidores são investigados, a Polícia Militar, a
Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça e até o próprio Ministério
Público.
Da
guerrilha e da prisão para o poder
Primeira presidente da história, Dilma Rousseff se
cerca cada vez mais de mulheres em postos-chaves de seu governo. Recém-nomeada
ministra da Política das Mulheres, Eleonora Menicucci foi colega de cela de
Dilma.
Imigrantes
chegam aos canteiros de obras
Construção civil mineira contrata caribenhos que
desembarcam no Brasil pela Região Norte.
Combate
à sonegação
Receita Federal quer medir produção de cachaças
mineiras
E-M
Cultura: TV a cabo ficará mais brasileira
Lei 12.485, em fase de regulamentação, traz entre
outras mudanças cota que prevê o aumento da produção nacional independente na
grade das emissoras fechadas Gracie Santos
OPÍNIÃO
Pagamos
caro demais
O peso do Estado e a falta de infraestrutura são os
responsáveis pela incapacidade do Brasil de crescer como a China, o Chile e a
Turquia
Sacha Calmon - Presidente da Associação Brasileira de
Direito Financeiro (ABDF), parecerista, ex-professor titular de direito tributário
das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e do Rio de Janeiro (UFRJ)
Quem viaja ao exterior volta estarrecido com os
preços no Brasil, de automóveis às coisas de cama, mesa e banho, passando por
roupas, sapatos, vinhos, tudo enfim. A sensação de nossa carestia é maior nos
EUA, onde as coisas custam um terço do que se paga aqui, mas ocorre também na
Europa, especialmente mais ao sul, e até mesmo na Argentina, no Chile e no
Peru. Qual a razão? Ultimamente os preços dos restaurantes de médio e alto luxo
e os serviços de um modo geral estão de arrepiar os cabelos dos mais ricos (que
pagam ditos preços, contudo com mínima dificuldade). Mas os de classe média já
começam a se afastar dos estabelecimentos mais exploradores no setor de
serviços. O pior é que a inflação de serviços é autopromovida e somente é
combatível pela autocontenção dos consumidores ou pela entrada massiva de
concorrentes com preços mais equitativos.
A carestia não se resume a esse setor mas
espraia-se pelo comércio, a indústria e as atividades do setor primário
(agropecuário). Que não se confunda carestia com inflação, esta é apenas o
aumento relativo de preços em ascensão, daí a expressão espiral inflacionária.
Os monetaristas, atualmente desmoralizados, dizem
que a inflação nasce do excesso de emissão de moeda em relação aos bens e
serviços disponíveis. Pura balela, pois nos EUA fabrica-se dinheiro, os juros
estão negativos, desestimulando aplicações financeiras e estimulando o consumo
e no entanto a inflação é zero. O Japão está praticamente sem crescimento há 15
anos – embora num patamar altíssimo de consumo e conforto – com juros negativos
e relaxamento monetário. O excesso de moeda não explica – assim tão
simploriamente – a inflação.
Dezenas de fatores influem, estruturais e
psicológicos. Mas voltemos ao Brasil. Qual a razão de preços tão altos? O que
está acontecendo? Os industriais dizem que o país está se desindustrializando,
que lhes falta competitividade, que os importados são baratos. No entanto nós,
consumidores, continuamos a pagar caro por tudo que necessitamos. A ideia da
matriz insumo-produto (imput – output) serve para responder à indagação, ao
menos parcialmente.
Pois bem, em comparação com outros países, os
custos no Brasil são os maiores do mundo: excesso de burocracia, mão de obra
difícil de ser contratada e dispensada, energia, combustíveis e comunicação
caríssimos, falta de capacitação dos operários, produtividade por hora mínima,
em razão de despreparo e faltas ao serviço, além de desperdício de matérias-primas,
burocracia exagerada, portos, estradas e aeroportos precários, péssima
legislação trabalhista, tributação sufocante, ausência de inovação e
criatividade, corrupção dos agentes públicos etc. Assim sendo, acrescida a
margem de lucro ao produto ou serviço, torturados pelo custo Brasil, teríamos
os preços que pagamos.
O crescimento da classe média aumentou a demanda
doméstica, diz Welber Barral, sócio da M Jorge Consultores. "A indústria
nacional, porém, não conseguiu aproveitar esse crescimento para ganhar
mercado." No segmento de máquinas e bens de capital, diz Barral, há também
um problema de falta de oferta nacional. "Máquinas e equipamentos para a
indústria de petróleo e gás, por exemplo, são importados. A indústria do setor
sofreu com o aumento de custos de produção local. Insumos como aço e
eletricidade ficaram bem mais caros." Para Júlio Gomes de Almeida,
economista e pesquisador-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), os dados revelam que a origem do crescimento do déficit
comercial da indústria não está mais concentrada na produção de alta
tecnologia, na qual se destacam os segmentos de aeronáutica, informática, TV,
comunicações e os farmacêuticos. A maior deterioração da balança da indústria
em 2011 foi provocada principalmente por setores de média-alta tecnologia –
automóveis, produtos químicos, bens de capital mecânicos e elétricos – , além
de segmentos tradicionais de baixa tecnologia, como têxtil, vestuário e
calçados. "O jogo é o mesmo, mas mudou a escalação", resume Almeida.
"Isso significa que estão pesando mais a falta de competitividade e os
custos dos fatores de produção."
Ora, isso o PT não alcança, só quer empregar gente
no Estado, aumentar os privilégios trabalhistas, incluir mal e porcamente os
miseráveis emvez de treiná-los para trabalhar, financiar o consumo e não
privatizar. Pois bem, se não fizer as reformas do Estado, trabalhista,
tributária e não privatizar a infraestrutura, vai dar com os burros n"água
em futuro não muito distante. O modelo populista de aumento do consumo como
motor do crescimento está a esgotar-se.
Não deixo por menos, o peso do Estado e a falta de
infraestrutura são os responsáveis pela incapacidade do Brasil de crescer como
a China, o Chile e a Turquia. Com esses preços não há dinheiro que chegue.
Ficamos sem poupadores (e investidores).
COLUNAS
Marcos
Coimbra
O confuso PSDB paulista Desde 1994, o PSDB administra São
Paulo e bate todos os recordes de permanência de um partido à frente de um
governo estadual
O que se passa com o PSDB em São Paulo? Dito de outra
forma: que falta faz Mário Covas!
Criado em 1988, o PSDB nasceu em São Paulo. Foi lá
que um grupo de políticos da "ala do bem" do PMDB resolveu que havia
limites para tudo: o começo da administração de Orestes Quércia, no ano
anterior, mostrava que o partido era pequeno demais para eles e o governador.
Não querendo compactuar com o que imaginavam seria o restante de seu governo,
preferiram sair. Estavam certos. Quércia foi tudo que temiam.
(Isso não impediu que, anos depois, um candidato
tucano a presidente fosse cortejá-lo, obsequiosamente pedindo seu aval para
outra aventura malsucedida. Antes de falecer, em 2010, Quércia ainda teve tempo
de se revelar um sincero e prestimoso aliado de José Serra.)
Em São Paulo, o PSDB foi um sucesso. Mário Covas,
seu candidato a presidente em 1989 – apenas um ano após a criação do partido –,
ficou em quarto lugar e ganhou o respeito do país, pela campanha que fez e pela
coerência de apoiar Lula no segundo turno.
(Isso não desencorajou alguns quadros tucanos
paulistas a se dispor, alegremente, a integrar o ministério do adversário de
Lula. Se não fosse o veto de Covas, o governo Collor teria tido, no mínimo, um
tucano de alta plumagem no primeiro escalão. Convidado, havia dito sim.)
Com pouco mais de cinco anos de existência, o PSDB
paulista tinha feito o presidente da República, o núcleo de seu staff, vários
ministros e estava instalado no governo do maior estado da Federação. Uma
trajetória espetacular.
Desde 1994, o PSDB administra São Paulo e bate
todos os recordes de permanência de um partido à frente de um governo estadual
– sem contar a República Velha.
Ao término do atual mandato, Alckmin completará
duas décadas ininterruptas de ocupação tucana do Palácio dos Bandeirantes,
coisa que nenhuma oligarquia contemporânea conseguiu em outro lugar do Brasil.
Sarney e o finado Antonio Carlos Magalhães teriam muito que aprender com eles.
É verdade que, nesses 20 anos, o PSDB só governou a
capital por 15 meses, na fase em que Serra fez uma rápida baldeação à frente da
prefeitura – depois de perder a eleição presidencial de 2002, ganhar a
municipal de 2004 e antes de renunciar para concorrer ao governo estadual em
2006.
Mas continuou representado na administração
municipal, quando Kassab assumiu o lugar deixado por Serra e se reelegeu em
2008. São, portanto, oito anos de presença tucana na prefeitura.
Como entender que o PSDB paulista seja tão incapaz
de definir o que vai fazer este ano na sucessão de Kassab? Justo na capital de
seu reduto? Consta que procuraram Serra para ser candidato. Ele disse que não
queria – o que pode ser considerado normal em seu caso, pois nunca tem certeza
de uma candidatura. Deram-lhe tempo e ele foi peremptório: não o seria em
hipótese alguma.
Quatro nomes se ofereceram, todos qualificados. Era
a situação clássica para uma prévia entre os filiados. Estão às voltas com ela
– a primeira na história do partido – desde o ano passado e a data combinada
para fazê-la se avizinha.
E agora? Ficou o dito pelo não dito. Serra fez
saber que talvez queira. Os pré-candidatos estão sem saber o que fazer. E se
Serra voltar a desistir – o que seria totalmente normal para ele? Aí
aconteceriam as prévias? Entre quatro candidatos desmoralizados?
Uma forma de entender por que os tucanos paulistas
batem cabeça é imaginar o que estaria acontecendo se Mário Covas estivesse
vivo. É difícil dizer com segurança, pois ele era imprevisível. Mas de uma
coisa podemos estar certos: vexame, o PSDB paulista não estaria passando.
No estado, o partido tem hoje líderes demais e
liderança de menos. Entre os solipsismos e as obsessões de seus principais
quadros, o PSDB paulista não consegue dizer o que quer.
POLITCA
Companheiras
no poder
Um ano depois de assumir o Planalto, Dilma dá sua cara ao
governo, com uma Esplanada mais técnica, formada, sobretudo, por mulheres dos
quadros do PT ou que já trabalharam com ela
Alessandra Mello
Alessandra Mello
"Nunca antes na história deste país" o
sexo feminino teve tanto espaço no primeiro escalão do governo federal. O
bordão é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o recorde de mulheres
na Esplanada dos Ministérios e em cargos importantes é da presidente Dilma
Rousseff. Ela começou seu governo com nove ministras. Um ano depois, já são 11,
contando com Maria das Graças Foster, empossada semana passada na presidência
da Petrobras, cargo com status de ministério.
Esse número já supera a quantidade de mulheres que
passaram pelo primeiro escalão ao longo dos oito anos do governo Lula. Segundo
estudo das pesquisadoras Hildete Pereira de Melo e Lourdes Bandeira, desde a
proclamação da República até 2010, 18 mulheres ocuparam pastas ministeriais
como efetivas ou interinas. Desse total, 11 foram nomeadas no governo Lula,
incluindo nessa conta Márcia Nassit que permaneceu apenas alguns meses à frente
do Ministério da Saúde. Com as indicações de Dilma, incluindo o nome de Iriny
Lopes (PT-ES), que deixou a Esplanada para disputar as eleições municipais,
esse número saltou para 30.
O aumento da presença feminina é reflexo da nova
cara do governo Dilma, com ministros de perfil mais técnico e menos político e
muitas "companheiras", já que boa parte das mulheres no primeiro
escalão pertence ao PT ou trabalharam com a presidente durante o governo Lula. Das
12 ocupantes de postos chaves no primeiro escalão, oito são do partido da
presidente. Seis exerceram cargos de confiança na administração passada,
algumas trabalharam diretamente com Dilma, caso de Gleisi Hoffman (PT-PR), que
foi diretora financeira da Itaipu Binacional quando a presidente ocupava o
Ministério das Minas e Energia.
Desde a posse, em janeiro de 2010, já houve 13
trocas de comando nos cargos mais importantes da República. Nessas mudanças,
duas mulheres assumiram ministérios cobiçados. A Casa Civil, antes comandada
pelo todo-poderoso deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), está hoje nas mãos
de Gleisi Hooffman, e o Ministério das Relações Institucionais, antes comandado
por Luiz Sérgio (PT-RJ), passou para Ideli Salvatti (PT-SC), que ocupava a
inexpressiva pasta da Pesca.
A mais recente nomeada por Dilma foi assunto nos
jornais e revistas mundo afora pelo ineditismo. Graça Foster é a primeira
mulher a assumir no mundo o comando de uma companhia de petróleo. Militante do
PT e funcionária de carreira da Petrobras, ela já figurava na lista do jornal
Financial Times como uma das 50 mulheres em ascensão no mundo dos negócios.
Agora, chegou ao topo da carreira na estatal petroleira.
Para o cargo de ministra da Secretaria de Política
para Mulheres Dilma escolheu, sem a interferência de nenhum partido, Eleonora
Menicucci, feminista histórica e defensora da legalização do aborto, assunto
que divide opiniões dentro do Congresso Nacional. Apesar de ser filiada ao PT,
Eleonora não participava ativamente da vida partidária e nunca disputou nenhum
cargo eletivo.
INDICAÇÕES NO JUDICIÁRIO
Além das integrantes do primeiro estafe do
Executivo, a presidente indicou no seu mandato duas mulheres para posições
importantes: a gaúcha Rosa Weber para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a
pernambucana Ana Arraes (PSB) para o Tribunal de Contas da União. A nova
ministra do STF foi uma escolha pessoal de Dilma, em função da amizade da
família da presidente com a jurista, que antes do STF atuava como ministra do
Tribunal Superior do Trabalho (TST). Rosa Weber é a terceira mulher indicada
para o Supremo e Ana Arraes é a segunda ministra a ocupar a corte de contas em
seus 12 anos de existência.
Para o cientista político Malco Camargos,
finalmente um dos grandes paradigmas da política está sendo quebrado com o
aumento das mulheres nas esferas do poder. "A política sempre foi,
historicamente, um espaço masculino, mas com a chegada de uma mulher à
Presidência da República isso está mudando. Ainda há um caminho enorme a ser
percorrido, mas já demos passos importantes."
Para ele, essa mudança no perfil dos ocupantes do
primeiro escalão, marcado pela presença maior de mulheres, veio para ficar.
"Geralmente, as mulheres que conseguem ocupar um espaço tipicamente
masculino são muito competentes, pois, para isso elas têm que ser extremamente
qualificadas. Acho que esse é o perfil das ministras da presidente",
destacou.
Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, Fernando Pimentel (PT), da cota pessoal de Dilma, a "nomeação de
mulheres para cargos estratégicos" é a consolidação de um processo que
culminou com a eleição da própria presidente. "A ascensão feminina não é
mais novidade na história recente do Brasil. A escolha de mulheres para postos
chaves do governo é cada vez menos fruto de uma ação afirmativa, na medida em
que o perfil técnico é cada vez mais o critério de nomeação", acredita
Pimentel. "É dessa forma que se pode considerar as duas últimas escolhas
da presidenta Dilma: a da ministra Eleonora Menicucci e a de Maria das Graças
Foster, referências em suas áreas de atuação."
Todas as
mulheres da Presidência
Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR)
Ministra da Casa Civil
Advogada, 46 anos, a senadora licenciada participou
da equipe de transição do governo Lula e foi diretora financeira da Itaipu
Binacional. É casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Sucedeu a
Antonio Palocci, tido até então como um dos homens fortes da Presidência.
Eleonora Menicucci (PT-SP)
Ministra da Secretaria de Políticas para as
Mulheres
Nascida em Lavras (Sul de Minas), tem 66 anos, é
socióloga, filiada ao PT, militante feminista, foi presa com a presidente Dilma
em uma das celas do Presídio Tiradentes, em São Paulo, durante os anos de
ditadura.
Maria das Graças Foster (PT-RJ)
Presidente da Petrobras
Ex-catadora de lixo, nasceu em Caratinga (Zona da
Mata), tem 58 anos e é executiva de carreira da Petrobras, onde trabalha há 32
anos. Foi secretária de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do
Ministério de Minas e Energia durante a gestão de Dilma na pasta.
Miriam Belchior (PT-SP)
Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão
» Era o braço direito de Dilma Rousseff na
coordenação do PAC durante o governo Lula. Participou da equipe de transição do
novo governo do PT, é militante do partido na região do ABC Paulista, onde Lula
começou sua trajetória. Formada em engenharia de alimentos, tem 58 anos.
Helena Chagas (sem partido)
Ministra da Secretaria de Comunicação Social
Carioca, formada em jornalismo pela Universidade de
Brasília, é filha do jornalista Carlos Chagas, que também foi secretário de
Comunicação da Presidência durante o governo de Costa e Silva. Tem 50 anos.
Tereza Campello (PT-RS)
Ministra do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome
» Economista, 49 anos, trabalhou com o
ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra. Formada em economia, trabalha
no governo federal desde a formação da equipe de transição de Lula.
Izabella Teixeira (sem partido)
Ministra do Meio Ambiente
Nasceu em Brasília, tem 50 anos, é formada em
biologia, com mestrado na área de meio ambiente. É funcionária de carreira do
Ibama desde 1984. Também integrou a equipe de transição.
Maria do Rosário (PT-RS)
Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos
Deputada federal, 45 anos, formada em pedagogia,
militante dos direitos humanos, ex-deputada estadual e ex-vereadora em Porto
Alegre.
Luiza Helena de Barros (PT-BA))
Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial
Nasceu no Rio Grande do Sul, mas teve sua vida
acadêmica e política na Bahia. É socióloga, uma das principais lideranças do
movimento negro no Brasil, trabalhou no programa das Nações Unidas contra o
racismo e é formada em administração pública. Tem 58 anos.
Ideli Salvatti (PT-SC)
Ministra da Secretaria de Relações Institucionais
» Formada em física, 59 anos, foi a primeira mulher
eleita para o Senado pelo estado de Santa Catarina. Foi líder do governo no Senado
durante a gestão de Lula.
Ana de Hollanda (sem partido)
Ministra da Cultura
Filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e
irmã do cantor Chico Buarque, tem 63 anos . É cantora, atriz e ocupou cargos de
confiança na área da cultura.
Sônia Lacerda Macedo (sem partido)
Chefe do Escritório da Presidência da República em
Minas Gerais
Colega de Dilma Rousseff no antigo Colégio Sion e
no Estadual Central, em Belo Horizonte, e também companheira de militância da
presidente. Tem 63 anos.
Outro
prédio interditado
Risco - Rachaduras são tão grandes que é possível ver o
andar de baixo pelas fendas. Dos 16 apartamentos, 14 foram desocupados
Pedro Ferreira e Paulo Henrique Lobato
Mais um prédio corre risco de desabar em Belo
Horizonte, desta vez na Rua Taboão da Serra, 317, no Bairro Itaipu, Região do
Barreiro. Rachaduras se espalharam pelos quatro andares e os moradores dos 16
apartamentos foram orientados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
(Comdec) a deixar o imóvel, mas duas famílias que ainda não acharam outro
imóvel para alugar permanecem no local. Esse é o quarto prédio da capital que
tem a estrutura abalada nos últimos meses.
O estudante Sávio Neves de Araújo, de 16, conta que
ele, a mãe e um irmão estão morando de favor no apartamento de um vizinho do
prédio ao lado. "A gente começou a ouvir estalos e as rachaduras
apareceram de uma hora para outra", disse o estudante. O apartamento dele
fica no último andar e é o mais danificado. A camareira Celeste da Luz, de 36,
é uma das moradores que permanecem no prédio do Bairro Itaipu.
"Estou tendo dificuldade de encontrar imóvel
para alugar com os R$ 400 que a prefeitura oferece com o Bolsa Moradia. O valor
é muito baixo e há muita burocracia na imobiliária. A situação é crítica e
estou com medo de ficar aqui", disse Celeste, que mandou os três filhos
para a casa de um irmão em Contagem, na Grande BH. Segundo ela, as rachaduras
nas paredes começaram em agosto e foram aumentando. Hoje, é possível enxergar o
andar de baixo pelas fendas nos corredores.
Famílias carentes O condomínio tem quatro prédios e
foi construído em 2010 em um terreno cedido pela Prefeitura de Belo Horizonte
com recursos da Caixa Econômica Federal (CEF). As famílias beneficiadas foram
escolhidas por meio do Orçamento Participativo. A camareira conta que vai pagar
prestação de R$ 150 por 20 anos. "Moro aqui desde janeiro do ano passado e
ainda estava comprando as coisas para o apartamento. Agora, embalei tudo e vou
ter que sair", lamenta Celeste.
A Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel)
garante que não há risco imediato de o imóvel desabar, porém, ponderou que a
reforma é necessária. Na semana passada, as famílias foram orientadas a deixar
o local. Em contrapartida, auxiliou os moradores com a Bolsa Moradia, de R$ 400
mensais. A construtora EPC Empreendimentos, responsável por erguer o prédio,
reconheceu os problemas na estrutura e se comprometeu a fazer os reparos.
Para isso, porém, é preciso que todas as famílias
deixem o local. A demora em sair do imóvel, ainda de acordo com a Urbel, se
deve à dificuldade que os moradores estão tendo para conseguir alugar outra
residência no valor máximo de R$ 400, quantia que receberão do auxílio da
prefeitura.
Emoção
no adeus a Corrêa
Parentes, amigos, políticos e juristas se despedem em
Brasília do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal lembrando sua marcante
trajetória como homem público
Josie Jeronimo, Erich Decat e Gabriel Mascarenhas
Brasília – O legado das ideias, militância e carreira
jurídica de Maurício Corrêa foi lembrado por autoridades, parentes e amigos na
última homenagem prestada ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cerca de 300 pessoas estiveram no velório de Corrêa, realizado no Salão Branco
do Supremo, e no enterro, no Cemitério Campo da Esperança, no fim da tarde de
ontem. Quando o corpo de Corrêa chegou ao Supremo, a viúva do magistrado, Alda
Mara Gontijo Corrêa, emocionou os familiares ao receber o marido com um beijo
na testa e demorado abraço. Ela foi acompanhada pelas três filhas do casal e os
netos.
A morte de Maurício Corrêa, na noite de
sexta-feira, vitimado por uma parada cardio-respiratória, surpreendeu os
familiares e amigos mais próximos. O ex-ministro passou por uma intervenção
cardíaca para o implante de um marcapasso na segunda-feira, mas estava bem, de
acordo com pessoas próximas. A comoção também tomou conta da família quando o
corpo de Corrêa deixou o Supremo carregado por seis militares até o carro do
Corpo de Bombeiros, que aguardava para iniciar o cortejo pelas ruas de
Brasília.
Em meio ao percurso, aplausos e soluços de choro
contido se misturavam entre os familiares, amigos e pessoas que conviveram com
o ex-ministro durante décadas de vida pública. Antes do cortejo, o cardeal Dom
José Frei Falcão confortou a família dizendo que a morte é "o começo de
uma nova presença." Discursos, salvas de palmas e tiros da Polícia do
Exército marcaram o enterro do ex-ministro no Cemitério Campo da Esperança. A
presidente Dilma Rousseff, que passa o feriado de carnaval com a família na
Bahia, enviou uma coroa de flores com homenagem ao magistrado.
A cessão do Salão Branco do Supremo para o velório
do ex-ministro foi a forma escolhida pela corte para homenagear o magistrado. O
presidente do STF, ministro Cezar Peluso, lembrou de sua posse na corte, em
2003, quando Corrêa comandava o Supremo. Peluso associou-se ao sentimento da
família e amigos do ex-ministro para definir a perda do magistrado. "A
morte é uma coisa inevitável e dolorosa. Em particular, no meu caso, pois tomei
posse quando ele era presidente. Ele me recebeu e mantivemos um relacionamento
muito próximo e agradável. Nós nos tornamos muito amigos. Ele teve uma atuação
expressiva no Supremo e foi um constituinte de atuação marcante. Vai deixar muita
saudade, estamos todos de luto. Se de alguma forma o Supremo pode homenageá-lo
é permitindo que o velório seja realizado aqui. Essa é a última homenagem do
Supremo a um dos ilustres ministros."
Qualidade O ex-ministro Nelson Jobim também lembrou
sua trajetória profissional a partir de Maurício Corrêa. Jobim disse que
"foi um sujeito de sorte" por sempre estar "atrás" do
ex-ministro. "Na constituinte, ele era senador e eu era deputado, e eu
sempre ajudava muito o Maurício. Depois, eu fui para o Ministério da Justiça e
o Maurício Corrêa havia sido ministro antes. Depois, eu vim para o Supremo e
fui vice do Maurício, aqui e no TSE. Tenho um débito imenso com ele, que era um
homem da melhor qualidade. Superava as controvérsias e sempre olhava para
frente, ou seja, não retaliava os adversários".
Além do histórico que envolve a atuação de Corrêa
em momentos marcantes da vida republicana do país, os amigos também lembraram
histórias do ex-ministro. Jobim chegou a imitar um cacoete de Corrêa, que,
segundo ele, fazia um "bico" toda vez que debatia um assunto com
interlocutor com opinião contrária.
O ex-ministro do STF e presidente da Comissão de
Ética Pública da Presidência, Sepúlveda Pertence, também contou que Corrêa
ficava embravecido, às vezes, mas, por ter um temperamento afetuoso, contornava
as divergências. "Eu não consigo falar primeiro do homem público, pois
tenho uma amizade de quase 60 anos com ele. Na política, tivemos alguns
desencontros. Ele era um lutador. Um homem às vezes rude, mas um homem amoroso.
Tudo isso faz desse momento um momento doloroso."
Moralidade
A presença de parlamentares, juristas e integrantes
do governo federal nas cerimônias de homenagem ao ex-ministro, ontem, indicam o
trânsito construído por Corrêa ao longo de sua vida pública. A moralidade no
desempenho dos cargos públicos foi ressaltada pelo ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. "Corrêa atuou nos Três Poderes e em todos se comportou
com a mesma lisura e coerência. Isso foi importante para a Democracia e para o
Estado de direito. Por essa razão, hoje o país perde um grande homem
público."
ECONOMIA
Sonho
haitiano chega a Minas
Empresas da construção civil da Grande BH e da Zona da Mata
contratam trabalhadores que deixaram Porto Príncipe, no Caribe, oferecem
treinamento e já planejam mais vagas
Paula Takahashi
O francês e o dialeto crioulo africano se revezam
na condição de nova língua oficial de um canteiro de obras localizado na região
Nordeste de Belo Horizonte. Ainda sem muita habilidade com as ferramentas, nove
haitianos aprendem a manuseá-las, assim como a pronunciar os próprios nomes de
batismo no português apoiados por uma cartilha ilustrativa. Nela aparecem, como
na didática usada na alfabetização de crianças, as palavras separadas em
sílabas acompanhadas pela respectiva ilustração.
Dominado por um misto de desconfiança e receio,
sentimentos típicos de um estrangeiro recém-chegado, Jeune Saintanier, de 25
anos, não fala muito, apenas revela o objetivo de melhorar a qualidade de vida
que tinha em seu país, uma das nações mais pobres do mundo. Para isso, está
disposto, assim como seus companheiros, a "aprender de tudo", como
reforça Mynoel Zamor. Sem dar muitos detalhes de como chegaram no Brasil, eles
contam que levaram sete dias entre Porto Príncipe, capital do Haiti, e
Brasiléia, no Acre, onde se refugiaram por dois meses.
A história que já foi contada por brasileiros atrás
do sonho americano a partir da fronteira do México, submetidos a ação dos
chamados coiotes (agenciadores ilegais de mão de obra), parece se repetir.
Porém, diferentemente do fardo de muitos brasileiros, reclusos na ilegalidade,
os haitianos exibem CPF – curiosamente, a maioria deles iniciada com a sequência
549 – carteira de trabalho, PIS e visto humanitário concedido pelo Conselho
Nacional de Imigração (CNIg), órgão ligado ao Ministério do Trabalho.
Jeune Saintanier foi um dos 28 haitianos que
chegaram a Belo Horizonte no dia 10, contratados por uma construtora sediada na
capital que não quis ser identificada. Com os colegas, Saintanier está alojado
em um imóvel custeado pela empresa – o aluguel varia entre R$ 800 e R$ 1 mil
para cada um dos três apartamentos locadas. O grupo tem alimentação, cesta
básica e todos os direitos previstos pelo sindicato local da categoria,
inclusive o piso salarial.
A notícia da chegada desses trabalhadores ao Acre
chamou a atenção do proprietário da construtora, Carlos Maschetti. Diante da
dificuldade de encontrar gente disposta a trabalhar no canteiro de obras, ele
não viu melhor alternativa que recorrer à mão de obra estrangeira que inundou a
fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru. "Outras empresas despertaram o
mesmo interesse e foram atrás para recrutá-los", conta.
Na cidade de Brasiléia, a palavra mágica para
atrair a atenção dos interessados era "maçon", pedreiro em francês.
"Eles levantavam a mão como forma de demonstrar experiência na construção
civil e disponibilidade para trabalhar", explica Carlos Maschetti. O processo
seletivo se resumiu à linguagem de sinais, uma apresentação da empresa e ao
acordo salarial. Numa van alugada pela construtora, o grupo enfrentou jornada
de três dias do Acre à capital mineira. Aqui, os haotianos foram submetidos a
exames médicos e admissionais e já assumiram o posto de trabalho em pelo menos
quatro canteiros de obras espalhados pela Região Metropolitana.
Dispostos a trabalhar A experiência no setor que
eles declararam ao chegar ao Brasil não se confirmou. "Detectamos que
alguns deles são motoristas", conta Carlos. "Mas entendemos a
situação. Eles disseram que, se não falassem que eram pedreiros, não
conseguiriam sair de lá", reconhece. Os próximos passos, agora, são um
programa de qualificação, apresentação de ferramentas e técnicas de construção.
Mas o construtor garante que o mais importante eles já demonstraram: vontade de
trabalhar. "Eles são muito alegres, atenciosos e estão muito dispostos. Os
resultados até agora são satisfatórios", afirma.
Animado, o dono da construtora planeja uma viagem à
capital do Haiti, Porto Príncipe, em agosto, quando pretende trazer 100 pessoas
para integrar os canteiros de obra na Grande BH. "Eles aprendem rápido o
serviço. É preferível ter uma margem menor por conta da alta dos custos, mas
entregar as obras."
A
Receita também quer a sua dose
Sistema de controle será instalado em máquinas das maiores
fabricantes de cachaça. Sonegação é estimada em R$ 2,5 bi
Pedro Rocha Franco
Um mecanismo implantado nas maiores indústrias de
cachaça do país promete estancar a goteira da sonegação fiscal do setor. O
Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal, será
instalado nas linhas de produção de marcas industrializadas e também em duas
artesanais mineiras com alto volume de vendas (Salinas e Seleta). A suspeita é
de que o rombo supere os R$ 2,5 bilhões ao ano e a expectativa é de que a
ferramenta proporcione resultado semelhante ao obtido na indústria de
refrigerantes e cervejas. Nesse ramo foi possível verificar que pequenos fabricantes
subestimavam o total produzido para sonegar tributos.
O funcionamento é simples. É instalada uma máquina
que faz a contagem do número de garrafas envasadas na indústria. Em seguida, é
feita a diferenciação de qual rótulo foi envasado, sendo feita a diferenciação
dos modelos de cada indústria e por último é feita a selagem digital da tampa
da garrafa em substituição ao tradicional selo de papel. Atualmente, o
pagamento de impostos é feito tendo como base apenas o número de selos
distribuídos para cada fabricante.
Inicialmente, o Sicobe será implantado em 25
fábricas, das marcas tidas como as maiores do setor e responsáveis por
aproximadamente 90% do volume produzido no país. A tentativa da Receita Federal
é fechar uma brecha da indústria, que possibilita ao setor deixar de pagar o
imposto corretamente, de acordo com o que é produzido, causando rombo nos
cofres públicos e criando desajustes no segmento, que prejudicam a livre
concorrência. O controle da indústria de bebidas frias (refrigerantes, cervejas
e outros), iniciado em meados de 2009, permitiu mapear possíveis sonegadores,
além de ter aumentado a arrecadação de impostos federais em 20% já no primeiro
ano – mas parte desse volume é atribuído também ao crescimento do setor.
"Algumas empresa apresentavam valores abaixo daquilo que realmente
produzem. Se mostravam pequenas, mas são contribuintes com grande
potencial", diz o auditor fiscal da Divisão de Controles Especiais da
Receita Federal, Marcelo Fisch. O sistema também permite quantificar o volume de
bebida produzido durante o ano.
A medida atende reivindicação de parte do setor.
Entre os grupos que solicitaram a adequação da indústria de cachaça, está a
Cia. Muller de Bebidas, responsável pela Cachaça 51, que, inclusive, encaminhou
pedido formal à Receita Federal. A justificativa é que o mecanismo possibilita
rastrear o total que é produzido e fazer controle fiscal. A possibilidade de se
sonegar cria uma concorrência desleal: quando parte do setor não paga
devidamente Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e Pis/Cofins, pode
reduzir o preço do produto para o consumidor ou aumentar sua margem de lucro,
prejudicando o bom pagador. "O Sicobe é muito bem-vindo. Essa situação
prejudica o setor e se o próprio setor admite estar na informalidade, é preciso
ter um controle", afirma o presidente empresa, Ricardo Gonçalves.
BRECHAS Apesar de todas as variáveis,
representantes da indústria da cachaça atestam que o sistema é falho e deixa
brechas para que fabricantes menores soneguem. Isso porque aumenta a rigidez
apenas numa das pontas – a fabricação –, deixando a outra livre – a
comercialização – para que a farra continue e, inclusive, cria novas
possibilidades. "Nunca houve controle da Receita", critica o diretor
de Marketing do Grupo Salinas, Thiago Medrado. Ele afirma que a fiscalização
deveria ser feita no varejo e dá o exemplo do que pode ser feito para burlar o
pagamento de imposto. "Nada impede que a indústria fabrique numa outra
unidade, sem passar pelo processo do Sicobe. É só abrir um galpão paralelo e
envasar lá", afirma Medrado.
A Receita Federal contesta e diz que nesse caso
"o próprio setor se autofiscaliza". Mas admite que o varejo ainda é
um problema que deve ser considerado numa segunda etapa. Isso porque é
considerado inviável instalar o sistema de controle em alambiques e fabricas de
menor porte. "Lá, se combate (a sonegação) de outra forma. É no varejo
direto", afirma Fisch.
Bancos
preparados para alta no calote
Instituições financeiras reservam R$ 115 bilhões para
cobrir a inadimplência. Valor cresce 21,5% em um ano
Victor Martins
Brasília – Os bancos com operação no Brasil guardam
um volume recorde de recursos para cobrir o rombo deixado pelos maus pagadores
— uma fortuna de R$ 115 bilhões até dezembro do ano passado estava reservada
para cobrir a inadimplência dos clientes. Comparado ao fim de 2010, esse
colchão anti-calote cresceu 21,5% e tem custado às instituições uma fatia
expressiva dos lucros. Os dados do Banco Central mostram que esse montante se
expande a cada dia e mais: evidenciam que o setor privado, sobretudo o
estrangeiro, é o que exige menos garantias para emprestar e, portanto, tem
registrado as maiores taxas de incremento nas provisões.
Os bancos particulares elevaram suas reservas em
25,5%, enquanto as instituições públicas aumentaram a rubrica em 14%. Na
abertura entre nacionais e estrangeiros, os primeiros elevaram as provisões em
24,6% e os demais em 28,1%. Na visão dos especialistas ouvidos pelo Estado de
Minas esse avanço decorre da rápida expansão do crédito em 2009 e 2010, que
levou o brasileiro a um endividamento sem precedentes. Atualmente, quase 50% da
renda familiar está comprometida e, agora, a fatura dessa farra dos empréstimos
começou a cair no colo dos bancos. A inadimplência do consumidor está em 7,3%
e, conforme mostram os dados do Banco Central, os clientes "A", de
risco quase nulo e maior poder aquisitivo, têm liderado os calotes. "É um
número muito alto, mais que o dobro da média mundial", alerta o economista
Roberto Luís Troster.
O volume de provisões é tão elevado que superou as
reservas feitas em 2008, após o agravamento da crise global, para essa
finalidade. Em relação àquele período, o colchão dos bancos aumentou 76,4%.
Para Troster, o aperto feito pelo BC no início de 2011, que deixou mais caras
algumas linhas de financiamento mais longas, aliado à elevação da taxa básica
de juros (Selic), complicou ainda mais a vida do consumidor. "Aquele
pacote barrou o crédito, mudou a composição das carteiras e as linhas ficaram
mais apertadas. Muita gente se enrolou ainda mais", explica. Em sua
avaliação, as famílias deverão permanecer com os orçamentos estrangulados por
um longo período, obrigando os bancos a manterem suas provisões altas ao menos
até o fim o segundo semestre. Mesmo com um pequeno recuo, para Troster a
inadimplência fechará o ano em torno de 5%.
Sem controle A preocupação do sistema financeiro
com a resistência dos calotes aumentou porque, além dos atrasos acima de 90 dias
estarem em níveis elevados, as dívidas vencidas abaixo desse prazo também estão
crescendo, conforme explica Nicola Tingas, economista-chefe da Associação
Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
"A gente tem verificado esse problema em reuniões internas com bancos e
financeiras, eles reclamaram bastante da qualidade do tomador de crédito ao
longo de 2011. As famílias calcularam mal sua capacidade de pagamento e
compraram mais do que podiam pagar", disse.
Enquanto isso...
...China reduz compulsório
O Banco do Povo da China (o banco central chinês)
informou ontem que vai reduzir a exigência do depósito compulsório dos bancos
em 0,5 ponto porcentual a partir do dia 24 de fevereiro com o objetivo de
aumentar a liquidez e estimular a economia. O BC chinês havia cortado
anteriormente o depósito compulsório em 30 de novembro do ano passado, marcando
uma mudança na sua postura indo em direção ao estímulo do crescimento econômico
e afastando-se do combate à inflação. Antes daquele último corte, o BC chinês
havia aumentado o percentual do depósito compulsório seis vezes em 2011 e
elevado a taxa básica de juros e de depósitos três vezes. O nível de depósito
compulsório estabelecido pela China para a maioria dos bancos grandes vai cair
para 20,5% quando a medida entrar em vigor. Li Daokui, que trabalha como
assessor acadêmico do BC chinês, previu que a economia do país deverá crescer
8,5% neste ano. A inflação vai ceder em 2012 em razão de queda nos preços dos
alimentos, disse.
O
negócio é ser empreendedor
A nova classe C satisfez boa parte de suas necessidades de
consumo. Agora, 51% dos jovens querem ser empresários
Vera Batista e Gabriel Caprioli
Luiz Henrique Bonvini, 14 anos, ainda está longe de
entrar na universidade, mas já tem na ponta da língua o caminho que deseja
seguir. Amante da gastronomia, faz planos de se especializar na área e ganhar
muito dinheiro. No primeiro teste, ele já passou com louvor. Em parceria com os
primos Laura, de 13, e Vitor, de 10, o jovem fabricou brigadeiros em casa para
vender. O retorno foi tamanho que os três vão usar o lucro para bancar parte de
uma viagem à Disney, com a família, programada para este ano. Com tino
empreendedor, Luiz é o retrato fiel da nova classe média, que, depois de
incluir na sua cesta de alimentos itens a que antes não tinha acesso, comprar a
casa própria e eletrodomésticos e fazer as suas primeiras viagens ao exterior,
será senhora quase absoluta dos micro e pequenos negócios no Brasil dentro de
uma década.
Dados do Instituto Data Popular mostram que 51% dos
jovens entre 18 e 35 anos da classe C querem abrir o próprio negócio. Desse
total, 91% definiram que 2020 é o prazo máximo para concretizar o sonho. Não
por acaso, a nova classe média — que ganhou 40 milhões de brasileiros na última
década e, somente no ano passado, injetou R$ 1,03 trilhão na economia em
consumo de bens e serviços — é uma das armas mais poderosas da presidente Dilma
Rousseff para aquecer a atividade econômica e proteger o país da crise que
assola a Europa.
No caso de Luiz, o estímulo veio da mãe, a
microempresária Ursula Bonvini, de 37, que auxiliou os jovens em todos os
preparativos da empreitada, desde o cálculo dos gastos com o chocolate até o
transporte. "Fomos para a rua e vendemos tudo", comemora o jovem.
Herdeiros da transição econômica vivida pelos pais, Luiz e os primos reconhecem
que a sua realidade é bem diferente da vivida pela geração anterior. Sem
desgrudar dos iPods, símbolos dessa mudança, eles querem se qualificar para
fazer frente a um mercado cada vez mais competitivo. Luiz, que, além de
gastronomia quer cursar direito, também planeja ir para a Suíça com Laura para
realizar um intercâmbio. "Será muito bom conhecer outras culturas,
conviver com pessoas que falem outras línguas", aposta Laura.
Especialistas reconhecem que a nova classe média
conquistou seu espaço depois da estabilização da economia, o aumento da
formalização do mercado de trabalho e o incremento na renda da população.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
Brasil está muito próximo ao que se pode chamar de pleno emprego, quando
praticamente todas as pessoas que querem trabalhar estão contratadas. Em
janeiro deste ano, a taxa de desocupação no país ficou em 5,5% (em BH, 4,5%), a
menor para o mês desde o início da série histórica, em março de 2002. O salário
médio ficou em R$ 1.672, também um recorde para o mês.
Apesar de tantos números positivos, manter esse
contingente em condições tão boas é um dos desafios que o país terá que
enfrentar nos próximos anos. Embora tenham se rendido ao consumo e sorvam até a
última gota a possibilidade de levar para casa bens antes impensáveis, os 56%
da população ou 106,4 milhões de pessoas que estão na classe C — número quase
igual ao de habitantes do México e duas vezes o da Colômbia — reconhecem que a
conquista está apenas no começo. "Nós procuramos deixar claro para os
nossos filhos que eles podem ter um futuro confortável, mas que é preciso
batalhar", destaca Ursula.
GERAIS
'Adicional
jeitinho' se alastra em Minas
Detonada após escândalo no TCE, investigação sobre
promoções obtidas por servidores com diplomas irregulares chega a funcionários
da Assembleia, PM e até da Justiça e MP. Só na Prefeitura de BH, 1.924
integrantes da educação foram punidos ou tiveram progressão negada
Glória Tupinambás
Investigação sobre o uso de diplomas irregulares
para obtenção de promoções e aumentos salariais revela que o golpe se alastrou
por órgãos da administração pública em Minas Gerais. O primeiro foco do
inquérito do Ministério Público estadual é a Prefeitura de Belo Horizonte
(PBH), onde pelo menos 2,5 mil professores – um quarto do total ligado à
Secretaria Municipal de Educação – são suspeitos de conseguir benefícios por
meio de certificados de conclusão de cursos de pós-graduação que não cumprem as
regras estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). A sindicância aponta
também indícios de irregularidades e prejuízos aos cofres públicos na
Secretaria de Estado de Educação – onde 1.652 servidores são investigados –, na
Polícia Militar, na Assembleia Legislativa, no Tribunal de Justiça e até no
próprio Ministério Público. A ação foi motivada por um escândalo, em maio de
2005, envolvendo profissionais do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais
(TCE-MG) (veja o quadro Memória).
Na prefeitura da capital, onde as investigações
estão mais adiantadas, os primeiros resultados do inquérito enchem páginas e
páginas do Diário Oficial do Município (DOM). De junho do ano passado até o
início deste mês, 924 promoções suspeitas foram canceladas e 525 novos pedidos
de aumento salarial com base nos diplomas irregulares foram negados pela
Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação. A punição atinge
servidores que fizeram cursos de especialização na Faculdade da Região dos Lagos
(Ferlagos) e nas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ), ambas no Rio de
Janeiro. As duas instituições são acusadas pelo Ministério Público de oferecer,
ilegalmente, cursos não presenciais e também de adulterar diplomas.
O cerco às fraudes na Prefeitura de BH começou a
apertar em 2009, quando foram abertos os primeiros processos administrativos
para que funcionários apresentassem documentos comprovando a presença nos
cursos de especialização. Todos os notificados foram obrigados a mostrar cópia
dos diários de classe com a frequência às aulas e comprovantes de despesas com
deslocamento e hospedagem no período. Depois da análise dos dados, a
administração municipal publicou, em fevereiro do ano passado, parecer no qual
determinou que novos pedidos de progressão salarial com diplomas emitidos pela
FIJ e pela Ferlagos não seriam mais aceitos e que os benefícios já concedidos
seriam cancelados. Além disso, os valores recebidos indevidamente deveriam ser
devolvidos.
Apenas este ano, 24 professores tiveram a promoção
cancelada e 32 pedidos de progressão foram negados. Estimativa feita pelo EM
com base em dados divulgados pela prefeitura em 2009 aponta que, nos últimos seis anos, o prejuízo
aos cofres públicos municipais com promoções suspeitas pode ser de, no mínimo,
R$ 5,2 milhões. A prefeitura não divulga valores oficiais, mas confirma as
punições. "Fomos alertados pelo Ministério Público de que os cursos de
pós-graduação em questão não eram presenciais, apesar de o diploma atestar
frequência em 360 horas de aula. Como a prefeitura não tinha comprovação cabal,
decidimos suspender os pedidos de progressão com base nesses cursos. Ao mesmo
tempo, fizemos uma revisão das promoções já concedidas, abrindo prazo para que
os servidores comprovassem que tinham feito a pós-graduação conforme previsto
na grade do curso", explica o procurador-geral do Município, Marco Antônio
Rezende Teixeira.
Segundo ele, a análise dos documentos permitiu à
administração concluir que os servidores não participaram do curso presencialmente,
o que justificou a suspensão de promoções. "A prefeitura confirmou que a
pós-graduação não foi ministrada como previsto na grade e, portanto, não
poderia gerar os efeitos que gerou, ou seja, a progressão por escolaridade. Por
isso, estamos cobrando a devolução dos valores recebidos indevidamente",
acrescentou. Os atos da prefeitura levaram a uma avalanche de ações judiciais
com contestação às punições. Segundo levantamento do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte
(Sind-Rede/BH), há pelo menos 800 processos em tramitação.
Além de acompanhar a investigação das promoções em
todos os órgãos da administração pública de Minas Gerais, o Ministério Público
requisitou abertura de inquérito policial no Rio de Janeiro, para apurar
possíveis crimes contra o consumidor, estelionato e falsidade ideológica
cometidos pelas duas faculdades fluminenses. "O processo é tão demorado
porque são muitos professores e cada um abriu uma ação individual para ter
direito às progressões. Os primeiros processos de reconhecimento dos diplomas
estão sendo julgados agora e, quando houver uma sentença judicial, ela deve
ajudar a nortear o processo como um todo, acelerando-o", afirma a
promotora de Justiça Especializada na Defesa do Patrimônio Público, Patrícia
Medina Varotto de Almeida.
Memória
Diplomas frios valiam até 20% de aumento
Os diplomas com suspeita de irregularidade foram a
causa de um escândalo no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG),
em maio de 2005, quando os certificados fornecidos pela Ferlagos e pela FIJ
foram usados por funcionários para se classificar em processo interno de
progressão de carreira, que abriu 34 vagas em 2004. Essas promoções permitiram
aumento salarial de até 20%. Na época, o Estado de Minas comprovou o esquema da
venda de cursos por uma agência de viagem, a Cláudia Turismo, em que chamava a
atenção os atrativos oferecidos aos alunos. Além de poder aproveitar o dia nas
praias de Cabo Frio ou da capital fluminense, já que as aulas só eram
realizadas das 16h às 22h e em apenas cinco dias, o interessado poderia contar
com os serviços de uma pessoa indicada pela agência para fazer trabalhos e
monografia do curso. A agência exigia R$ 500 de cada aluno, referentes a
viagem, hospedagem e "serviços" oferecidos pela empresa. As
instituições cobravam menos de R$ 1,5 mil por todo o curso, incluindo matrícula
e mensalidades. Durante as investigações, ficou comprovado que os alunos só
estiveram em Cabo Frio ou no Rio de Janeiro durante cinco dias e frequentaram
apenas 30 horas do curso, sendo que a carga horária mínima exigida pelo MEC é
de 360 horas-aula. Apesar disso, o diploma atestava a frequência e a conclusão
de um curso na modalidade presencial.
Entenda o caso
O Plano de Carreiras da Prefeitura de Belo
Horizonte prevê aumento de 5% no salário de servidores que apresentam novos
títulos de especialização. Pelas normas, o benefício vale para, no máximo,
cinco progressões na carreira.
Na prática, isso quer dizer que um professor com
salário inicial de R$ 1.676,03 tem um ganho real de
R$ 83,80 ao apresentar o primeiro diploma de
pós-graduação. Ao fim das cinco progressões, a remuneração chega a R$ 2.139,08.
Cerca de 2,5 mil servidores da PBH, a maioria
vinculados à Secretaria Municipal de Educação, são suspeitos de usar diplomas
irregulares para conseguir promoções e aumentos salariais.
Os professores apresentaram diplomas de cursos
presenciais feitos entre 2000 e 2005, na Faculdade da Região dos Lagos
(Ferlagos), em Cabo Frio (RJ), ou nas Faculdades Integradas de Jacarepaguá
(FIJ), na cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de atestar presença em carga horária que
variava de 360 a 420 horas-aula, os cursos eram oferecidos a distância.
Além do falso atestado de presença, a FIJ só obteve
autorização do Ministério da Educação para ministrar cursos a distância em maio
de 2005. Até hoje, a Ferlagos só está credenciada a oferecer cursos presenciais
de pós-graduação.
O golpe se alastrou por outros órgãos da
administração pública. Na Secretaria de Estado de Educação, 1.652 servidores
são investigados. Além disso, há sindicância na Polícia Militar, na Assembleia
Legislativa, no Tribunal de Justiça e no Ministério Público.
Na Prefeitura de BH, onde as investigações estão
mais avançadas, 1.449 servidores já foram punidos. Desses, 924 perderam a
promoção e devem devolver os valores recebidos indevidamente e 525 tiveram os
pedidos de progressão negados.
INTERNACIONAL
Revolta
contra Al-Assad vira front da Al-Qaeda
Autoridades e especialistas admitem que a rede de Bin Laden
utiliza o levante para depor o ditador para ampliar sua influência. Em
comunicado, novo líder convocou resistência
Rodrigo Craveiro
Brasília – Ayman al-Zawahiri, líder da rede
terrorista Al-Qaeda, convocou os muçulmanos do Iraque, da Jordânia, do Líbano e
da Turquia a se unirem ao levante contra o regime "pernicioso e
canceroso" do ditador sírio, Bashar al-Assad. Em um vídeo de oito minutos
– intitulado Para a frente, leões da Síria e divulgado no último dia 11 –, o
extremista critica o governo de Al-Assad pelos crimes contra seus próprios
cidadãos. Antes mesmo do apelo de Al-Zawahiri, militantes da rede Al-Qaeda já operavam
na Síria. James Clapper, diretor da Inteligência Nacional dos Estados Unidos
(órgão subordinado ao presidente Barack Obama), afirmou anteontem no Senado que
os atentados realizados em Damasco e em Aleppo (Noroeste) tinham "todas as
marcas de um ataque similar aos da Al-Qaeda". "Acreditamos que a
Al-Qaeda no Iraque esteja estendendo seu alcance à Síria", acrescentou. Em
10 de fevereiro, dois carros-bomba mataram 28 pessoas e destruíram prédios das
forças de segurança em Aleppo.
Apenas 64 quilômetros separam Mossul, no extremo
Norte do Iraque, da Síria. Para o vice-ministro do Interior iraquiano, Adnan
al-Assadi, os extremistas estariam deixando a cidade, de maioria sunita, em
direção ao território sírio. A fronteira porosa também serviria de rota para o
contrabando de armamentos, inclusive fuzis Kalashnikov AK-47. "Temos
informações de inteligência de que um número de jihadistas iraquianos foi para
a Síria", admitiu Al-Assadi. Em entrevista por telefone, o xeque Omar
Bakri Muhammad – considerado o líder da rede Al-Qaeda no Líbano – disse
desconhecer que militantes da organização estejam combatendo o regime de Bashar
al-Assad. Mas admitiu que a Al-Qaeda apoia levantes em qualquer país árabe.
"A nação muçulmana é a que mais se beneficia com essas revoltas",
declarou, ao acrescentar que a causa é de todos os muçulmanos.
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal órgão da
oposição na Síria, desqualificou a mensagem de Al-Zawahiri e a intervenção da
Al-Qaeda no país. "Rejeitamos todo e qualquer apoio da Al-Qaeda e de seus
membros e reiteramos o compromisso em obter as metas da Revolução da Síria – um
Estado civil e democrático –, por meios diplomáticos e políticos",
afirmou, por e-mail, Ausama Monajed, conselheiro-geral do CNS. Ele destacou a
aliança com o Exército Livre da Síria e sustentou que os dois organismos, com a
Comissão Geral da Revolução da Síria, estão unidos no repúdio à mensagem da
Al-Qaeda. "Tal mensagem serve apenas como propaganda do regime",
criticou.
Especialistas em contraterrorismo admitiram a
influência da Al-Qaeda no levante sírio. Seth Jones, do Instituto Rand
Corporation e professor da Universidade de Georgetown (em Washington), afirma
que Al-Zawahiri busca levar vantagem sobre o vácuo de poder na Síria. "A
Al-Qaeda gostaria de depor o regime de Al-Assad e substituí-lo por elementos
simpáticos à organização, ávidos em estabelecer sua versão da sharia (lei
islâmica). O resultado é algo improvável", comenta. Jones concorda que a
Síria se tornou uma rota importante para os mujahideen (guerrilheiros do islã)
que se dirigem ao Iraque. "Já existe uma rede bem desenvolvida de
extremistas na Síria", acrescenta.
Por sua vez, Steven Emerson – diretor do Projeto
Investigativo sobre Terrorismo e uma das maiores autoridades em redes de
extremismo islâmico – aposta que Al-Zawahiri considera a revolta na Síria como
uma oportunidade de revigorar a Al-Qaeda e abrir nova frente da jihad.
"Guerrilheiros da Al-Qaeda têm se aliado à batalha contra Al-Assad",
atesta. "A deposição do ditador dará lugar a um regime totalmente instável
e composto por diferentes facções, cujas políticas são diametralmente
opostas." Segundo Emerson, as mortes de Osama bin Laden e de Anwar
al-Awlaqi, líder da rede no Iêmen, representaram pesados golpes. "Um novo
front da jihad na Síria permitira à Al-Qaeda a reconquista de parte de sua
influência e poder, perdidos no mundo muçulmano", observa o analista.
Há quem veja uma relação simbiótica entre a
Al-Qaeda e Al-Assad. É o caso do sírio Ammar Abdulhamid, da Foundation for
Defense of Democracies e exilado nos EUA. Ele explica que a rede de Al-Zawahiri
é oportunista e tem se aproveitado da instabilidade na Síria. "A Al-Qaeda
não tem um papel nessa revolução, nem simpatizantes entre os manifestantes. Mas
a atuação no país permite que ela deixe sua marca", comenta. Para Ammar, o
ditador sírio deseja usar a instabilidade como um fator de proteção, uma forma
de perpetuar-se no poder. Ele lembra que o regime libertou, nos últimos meses,
vários agentes da Al-Qaeda, incluindo o número 4 da rede, Abu Musab al-Suri,
mentor dos atentados a Londres, em 7 de julho de 2005.
PONTO CRÍTICO
Existe uma relação entre o regime de Bashar Al-Assad e a
rede Al-Qaeda?
SIM
É óbvio que Al-Assad deseja criar um abrigo para a
Al-Qaeda na Síria. Al-Assad crê que, quanto mais caos e lutas sectárias houver
no país, mais chances ele terá de se manter no poder. O ditador quer isolar e
sufocar os protestos, aliando-se às milícias leais ao regime e aos adeptos da
jihad. Os líderes dos protestos estão cientes dos perigos e buscam insistir na
unidade nacional.
Ammar Abdulhamid
Analista do Foundation for Defense of Democracies e
fundador da Fundação Tharwa, organização que luta pela democracia na Síria
NÃO
Ayman al-Zawahiri afirmou que o povo sírio, na
condição de muçulmano, tem a obrigação de adotar a jihad (guerra santa) e de
combater as atrocidades. Isso não quer dizer que a Al-Qaeda tenha agentes na
Síria. Não existem integrantes da Al-Qaeda em território sírio, nem mesmo
jihadistas salafistas. A liderança da Al-Qaeda elogiou os levantes da Primavera
Árabe, mas não convocou operações.
Xeque Omar Bakri Muhammad
Clérigo muçulmano sírio, considerado porta-voz da Al-Qaeda
na Europa
Protesto em Damasco
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH)
acusou ontem as forças de segurança do regime de abrir fogo contra cerca de 15
mil pessoas que acompanhavam os funerais de ativistas mortos na véspera no
Bairro de Mazeh, em Damasco. "O funeral se transformou em manifestação,
pela primeira vez no Centro da capital, perto da Praça dos Omíadas", disse
à imprensa Rami Abdel Rahman, dirigente do OSDH. O Bairro de Mazeh, na região
Oeste de Damasco, abriga diversas embaixadas e edifícios governamentais, inclusive
de órgãos de segurança. De acordo com os ativistas de oposição, na tarde de
ontem eram realizadas buscas e prisões na área, depois dos confrontos ocorridos
durante os protestos da véspera. A TV ABC revelou ontem, citando fontes
militares, que aviões americanos não tripulados estariam sobrevoando as cidades
sírias para monitorar e registrar a repressão às manifestações contra o regime
do ditador Bashar Al-Assad.
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