PRIMEIRA PÁGINA
Petrobras assina hoje projeto para
triplicar gás industrial no RS
Protoloco para estudo de viabilidade de complexo de
energia que pode chegar a US$ 5 bilhões será assinado hoje no Rio
CNJ
retoma o poder de regular juízes
Em sessão longa e tensa, maioria dos ministros do
STF votou por derrubar a liminar que limitava poderes de corregedoria
EDITORIAL
Mais um
ex-ministro
O ministro das Cidades, Mário Negromonte, que há
uma semana se considerava "mais firme do que as pirâmides do Egito",
encaminhou ontem sua carta de demissão à presidente Dilma Rousseff. Acusado de
acumular cargos remunerados em confronto com a lei e de fraudar contrato para
obras da Copa em Cuiabá, além de outras irregularidades, o ministro – a exemplo
de seus colegas destituídos no ano passado – sai acusando a imprensa e dizendo
que não tem mais condições políticas para continuar no governo. Dos oito
ministros afastados do governo Dilma, sete seguiram roteiro semelhante:
primeiro foram flagrados em irregularidades pela imprensa para que, só depois
de muito desgaste, o governo concluísse que deveriam ser substituídos.
Outros, também apontados por envolvimento em
indícios de irregularidades, conseguiram sobreviver. Mas a regra, diante da
divulgação de denúncias, tem sido a de que o suspeito resiste por um bom tempo,
apresenta argumentos, convoca aliados e até faz chantagens, para afinal ser
exonerado. Foi o que aconteceu com o senhor Negromonte. A companheiros do PP, o
ex-ministro confessou estar cansado com o que classificou de
"tiroteio" e "batalha da mídia" para derrubá-lo. Imagine-se
o cansaço a que ele se submeteu.
Desde janeiro, Negromonte vinha sendo confrontado
com informações de que o Ministério das Cidades atendia com preferência, para
liberação de recursos, emendas de parlamentares da Bahia, Estado do ex-ministro.
Depois, deve ter ficado exausto dando explicações para a denúncia de que o
ministério forjara um documento para alterar um projeto de transporte para a
Copa em Cuiabá. O papel teria sido adulterado com o conhecimento do então
ministro. Diante de tantas demandas para que explicasse seus atos, é natural
que Negromonte se sentisse cansado e abatido, além de abandonado pelos
correligionários.
A sétima queda de um ministro, em pouco mais de um
ano de governo, seria um fato inverossímil em qualquer roteiro de ficção.
Infelizmente, é a realidade brasileira e tem, pelo inusitado, suas virtudes.
Com o recorde de exonerações em tão pouco tempo, a presidente Dilma Rousseff
consegue se desfazer de aliados que atrapalhavam muito e contribuíam pouco ou
quase nada para a eficiência do governo. O balanço geral demonstra que a
presidente se livrou de assessores dos quais não sentirá a menor falta. A
maioria desembarcou na sua gestão como espólio do acervo político de seu
antecessor. Se não fossem denunciados, estariam todos na Esplanada dos
Ministérios, liberando verbas para currais, firmando contratos suspeitos,
empregando amigos e constrangendo a presidente da República.
A esperada reforma política pode tirar proveito das
exonerações como lição para escolha dos novos ministros. A presidente terá de
exigir dos partidos uma seleção mais rigorosa dos indicados, não só em nome da
preservação das alianças que sustentam o governo, mas de uma governabilidade
com moralidade. No primeiro ano, a presidente foi refém do vale-tudo das
coligações partidárias. Na mudança ministerial, terá a grande chance de montar
um governo com as suas feições e sem assessores diretos que possam se cansar
com a vigilância da imprensa.
Toga
desalinhada
Apesar da confusão instaurada pela liminar do
Supremo Tribunal Federal que suspendeu a posse do novo presidente do Tribunal
de Justiça do Estado, é saudável que o Judiciário também exponha seus conflitos
para que os cidadãos conheçam melhor o pensamento dos julgadores e também os
interesses que os movem. O episódio não representa ameaça para o mandato do
desembargador Marcelo Bandeira Pereira, que atende a qualquer dos critérios que
prevalecer no julgamento do mérito da ação: o da antiguidade, como determina a
Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), e o da escolha livre de seus
pares, que ocorreu na eleição de dezembro de 2011 – empate em votos com José
Aquino Flôres de Camargo e desempate pelo tempo de tribunal.
Independentemente do desfecho do caso, porém,
torna-se urgente uma revisão da Loman. Se ela contraria avanços democráticos do
país, como argumentou ontem a Associação dos Juí-zes do Rio Grande do Sul em
nota de apoio e solidariedade à direção do TJ, precisa ser revista – mas não
pode ser desrespeitada enquanto estiver em vigor. Foi, aliás, esta a
argumentação do desembargador Arno Werlang, proponente da ação impugnatória.
Pretendente a um dos cargos na nova diretoria e habilitado a concorrer pelo
artigo 102 da Loman, ele foi desconsiderado por seus pares. A lei prevê que a
votação para escolha da direção nos tribunais deva ser feita entre os juízes
mais antigos, em número correspondente ao de cargos, excluídos aqueles que já
tiverem exercido as referidas funções, até que se esgotem todos os nomes na
ordem de antiguidade.
Não é a primeira vez que um tribunal confere uma
interpretação permissiva à Loman. E nem é a primeira vez que o Supremo
interfere para lembrar aos magistrados que a lei continua vigente e deve ser
respeitada. Ou, como a realidade parece sugerir, deve ser reformulada.
ARTIGO
Um passo
atrás
Gerson Almeida
A aprovação do projeto de lei que volta a permitir
o manejo do campo gaúcho por meio de queimadas é uma verdadeira volta ao
passado, um retrocesso em relação ao Código Florestal Estadual, aprovado em
1992 pela mesma Assembleia Legislativa. Há 10 anos, os deputados souberam
enfrentar a cultura arcaica e amplamente superada de uso das queimadas no campo
e, ao proibir esse método de manejo, induziram o desenvolvimento de modelos
alternativos e, entre outras tantas vantagens, mais eficazes para a produção e
a preservação da qualidade do solo.
O retorno das queimadas representa um
extraordinário salto na contramão daquilo que tem motivado as mais relevantes
lutas sociais no mundo, que buscam a construção de outro paradigma capaz de
superar o modelo predador dos recursos naturais e que continua a erodir a
condição de vida de todos. Mesmo nos países de capitalismo central, a qualidade
do ar, da água e as condições sociais penalizam cada vez um contingente maior
de pessoas.
O forte simbolismo regressivo da decisão da maioria
dos deputados representa uma mudança de rota na boa tradição da Assembleia
gaúcha em legislar de forma sintonizada com o crescimento da consciência
ambiental, inaugurada quando da votação da pioneira lei contra os agrotóxicos
nos anos 80. Além disso, vai de encontro aos objetivos da Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que pretende
reafirmar os compromissos dos chefes de Estado e lideranças mundiais com o
desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente justo.
Na questão ambiental, o combate às queimadas ganha
cada vez mais relevância, dado que as emissões globais de gases cresceram mais
de 40% em relação ao ano de 1992, quando foi realizada a ECO-92, também no Rio
de Janeiro, sem que haja qualquer iniciativa que permita prever alguma inflexão
nesta curva de crescimento. Essa, portanto, deve ser uma das preocupações
centrais em discussão na Rio+20, que não pode perder a oportunidade para
avançar num acordo global para a redução drástica das emissões, com poder legal
vinculante.
Sendo assim, mesmo que o projeto tenha obtido a
maioria dos votos, as decisões do governador Tarso Genro e do deputado Adão
Villaverde (então presidente da Assembleia), o primeiro em não sancionar a lei
e o segundo em não promulgá-la, sinalizam que esse impactante revés da luta
pela sustentabilidade no Rio Grande não encontrará campo livre para outros
passos atrás. Ao contrário, chama a atenção dos gaúchos para o fato de que ter
sido pioneiro não é garantia de continuar sendo protagonista. Para isso, é
preciso permanente vigilância e luta.
*Ex-secretário
do Meio Ambiente de Porto Alegre
O drama
da juventude brasileira
Carmem Maria Craidy
Não é possível refazer este país, democratizá-lo,
humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação
sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (Paulo
Freire, 2000-Terceira carta – Do assassinato de Galdino, o índio Pataxó)
A série de reportagens sobre os meninos condenados,
de ZH, trouxe em boa hora a discussão sobre as políticas de e para a juventude
no Brasil. Não temos dúvida de que a Fase deve passar por profundas
transformações, que, cabe salientar, têm sido buscadas já há alguns anos sem o
devido sucesso. As causas desta dificuldade de transformar-se de presídio
degradador em instituição educacional estão merecendo uma análise cuidadosa.
O mais importante é salientar que o problema da
violência da e na juventude brasileira, vastamente analisada no Mapa da
Violência, certamente é um problema complexo, não redutível a um único fator.
Segundo o Mapa da Violência 2011
(Waiselfisz/Instituto Sangari/Ministério da Justiça), dividindo a população em
dois grande grupos: os jovens, 15 a 24 anos, e os não jovens, de 0 a 14 e 25
anos e mais, na população não jovem, 9,9% do total de óbitos são atribuíveis a
causas externas. Já entre os jovens, as causas externas são responsáveis por
73,6% das mortes: homicídio, com 39,9%; acidentes de trânsito, 19,3%; e
suicídios, 3,9%.
Face a estes dados assustadores, que superam até os
de países em guerra declarada, cabe perguntar: por que a juventude está se
matando? A resposta talvez seja: por não ter razões suficientes para viver, ou,
ainda, porque não aprendeu a resolver conflitos com o diálogo. Como diz Hannah
Arendt, a violência surge onde não há a palavra, e a superação da violência
jamais é atingida através de respostas violentas. O contrário da violência é a
palavra, e não a violência.
Outro aspecto fundamental a ser considerado é que
só é possível aprender a respeitar os direitos dos outros pela vivência de
direitos na própria experiência. Aqui vai outra pergunta: como são respeitados
os direitos desses meninos condenados em toda a cadeia de opressões a que estão
submetidos? Como são tratados pela polícia? Como são recebidos nas escolas?
Como são submetidos a julgamento? Têm sempre o direito de defesa garantido e a
apresentação de provas consistentes? Conversam com seus advogados antes das
audiências? Como são olhados por nós, pela sociedade em geral, os jovens que
moram na periferia, sobretudo se são negros? Não haverá um olhar estigmatizante
que os considera perigosos mesmo sem que nada tenham feito de mal?
Para concluir, gostaria de chamar a atenção para o
fato de que as medidas socioeducativas são diversas. Não existe apenas a
condenação à Fase para os que cometerem atos infracionais. Há as medidas de
meio aberto (sem privação de liberdade) como a prestação de serviços à
comunidade e a liberdade assistida. Essas medidas têm recebido pouco
financiamento e pouca atenção das políticas públicas. Seria importante avaliar
também os egressos dessas medidas em comparação aos egressos da Fase. Registro
que executamos, na UFRGS, um programa de prestação de serviços à comunidade
subordinado ao Pemse/Fasc.
Esse programa é executado na UFRGS desde 1997, sem
interrupção, no início vinculado diretamente ao Juizado da Infância e da
Juventude. Por ele já passaram cerca de 1,4 mil adolescentes em cumprimento de
medida socioeducativa. Em todos esses anos, nunca houve um ato de violência
cometido por eles no âmbito da universidade, e os problemas de pequenas
transgressões não passaram muito de uma dezena.
Talvez seja o momento de prestar mais atenção a
formas alternativas à privação de liberdade para a chamada
"recuperação" dos adolescentes e promover políticas de e para a
juventude que abram mais possibilidades à realização pessoal. Valeria a pena
perguntar aos próprios jovens o que eles pensam e propõem. Estou convencida de
que as respostas poderão surpreender e ser mais lúcidas do que podemos
imaginar.
*Professora
Faced/UFRGS
POLÍTICA
Fux
decide hoje sobre posse no TJ
Comitiva de desembargadores gaúchos esteve ontem no
gabinete do ministro para defender legalidade de nova administração
Os 15 minutos de conversa do novo presidente do
Tribunal de Justiça do Estado, Marcelo Bandeira Pereira, com o ministro do
Supremo Tribunal Federal Luiz Fux não foram suficientes para resolver o impasse
que paralisa o judiciário gaúcho. Somente hoje Fux deve decidir se suspende os
efeitos da liminar que anulou a posse da diretoria do TJ.
Se ele acatar o pedido dos gaúchos, Bandeira Pereira
permanece no cargo pelo menos até a próxima quarta-feira e os atos assinados
por ele à frente do TJ, como a aposentadoria do desembargador Leo Lima, que o
antecedeu, serão validados.
Escudado por quatro desembargadores, entre eles o
ex-presidente do TJ Arminio da Rosa, Bandeira Pereira viajou a Brasília para
deflagrar duas iniciativas: uma no campo jurídico e outra na esfera política.
Ele protocolou um agravo regimental para tentar cassar a decisão tomada por Fux
na quarta-feira, quatro horas após a posse da nova diretoria. Ao mesmo tempo, o
presidente da Corte gaúcha pediu que o ministro suspendesse os efeitos da
medida judicial até o julgamento do recurso no plenário do STF, o que deve
ocorrer na quarta-feira.
O ministro aceitou receber os gaúchos durante o
intervalo da sessão que analisava os poderes de investigação do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Não sinalizou qual medida irá tomar, mas durante a
rápida audiência se comprometeu a responder até o final da tarde de hoje se
concorda em manter a posse até o caso ser analisado pelos 11 integrantes do
tribunal.
– Tentamos sensibilizar o ministro. O desmonte (da
diretoria) seria de difícil execução e causaria transtornos – enfatizou
Bandeira Pereira.
Ao final do encontro, Fux justificou a concessão da
liminar. Segundo o ministro, para anular a posse ele se baseou em decisão do
Supremo, que havia determinado ao tribunal gaúcho o cumprimento da Lei Orgânica
da Magistratura. Pela norma, as Cortes devem eleger, dentre seus juízes, os
mais antigos para os cargos de direção.
– A legislação quer evitar essa disputa dentro dos
tribunais, que traz uma política deletéria para a própria instituição. Como foi
descumprido o acórdão e a Lei Orgânica da Magistratura, deferi liminar para que
não houvesse a posse – disse Fux.
O ministro também comentou o fato de a decisão ter
sido concedida justamente no dia da posse no TJ. Conforme Fux, o processo
chegou ao seu gabinete somente na última quarta-feira, momentos antes da
solenidade.
Entenda a controvérsia
- Duas chapas, lideradas pelos desembargadores
Marcelo Bandeira Pereira e José Aquino Flôres de Camargo, candidataram-se às
eleições do TJ-RS.
- De última hora, também se apresentou ao pleito o
desembargador Arno Werlang.
- Werlang recebeu dois votos, Aquino recebeu 68 e
Bandeira Pereira, 66. Houve dois nulos.
- Como nenhum atingiu mais de 50%, houve segundo
turno entre Aquino e Bandeira Pereira, os dois mais votados.
- A segunda rodada terminou em empate, e a escolha
recaiu sobre o mais antigo dos dois: Marcelo Bandeira Pereira.
- A posse ocorreu na quarta-feira, mas, no mesmo
dia, foi suspensa por uma liminar do STF.
- A liminar resultou de reclamação ajuizada por
Werlang.
- Ontem, Bandeira Pereira foi a Brasília para
tentar reverter a decisão.
fabiano.costa@gruporbs.com.br
FABIANO COSTA
| Brasília
Decisão
do STF é embasada em três casos
Em SP, MG e DF, Supremo impediu posses baseadas em
regramentos internos dos tribunais
Embora a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)
tenha surpreendido desembargadores gaúchos, não foi a primeira vez que a Corte
bateu de frente com regras adotadas por tribunais de Justiça do país para
eleger seus dirigentes. Em pelo menos outras três ocasiões, os ministros
colocaram em xeque atitudes que, na avaliação deles, feriam a Lei da
Magistratura.
Os casos ocorreram em Minas Gerais, São Paulo e no
Distrito Federal. Em todos eles, ações diretas de inconstitucionalidade
acabaram por derrubar medidas locais que ampliavam o rol de desembargadores
considerados elegíveis nas Cortes estaduais. Em suas decisões, os ministros
sustentaram que os tribunais não podiam fazer isso. O correto seria eleger,
dentre seus juízes, os mais antigos.
Na reclamação encaminhada ao STF contra a posse a
nova administração do Judiciário gaúcho, o desembargador Arno Werlang valeu-se
desses exemplos para embasar sua crítica. O presidente eleito Marcelo Bandeira
Pereira tem mais tempo de casa do que ele, mas Werlang alega estar em quinta
colocação na ordem de antiguidade.
Como são cinco os cargos de direção, o magistrado
entende que deveria ocupar um deles – sua preferência era pela
Corregedoria-Geral de Justiça. No entanto, a chapa eleita com Bandeira Pereira
em 12 de dezembro ocupou todos os cargos eletivos. Entre eles, há
desembargadores com menos tempo de carreira que Werlang.
Em liminar, Fux ressaltou preocupação com política
Apesar disso, ele afirma que não tinha
"interesse pessoal" na suspensão.
– O que quero é preservar a instituição. O
princípio da antiguidade é lei, e deve ser respeitado. Essa é uma forma,
inclusive, de evitar corporativismo – disse Werlang.
Ao avalizar a reclamação ajuizada pelo
desembargador gaúcho e conceder uma liminar suspendendo a posse dos eleitos, o
ministro Luiz Fux também citou os três casos em sua argumentação. Para ele, a
Lei da Magistratura "optou por afastar dos tribunais a atividade política
e, com isso, restringiu os elegíveis aos cargos de direção ao máximo".
As regras
Entenda o que diz a Lei Orgânica da Magistratura
(Loman):
- A eleição para os cargos de direção dos tribunais
estaduais de Justiça deve se dar entre os desembargadores mais antigos de cada
Corte.
- Como no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
são cinco os cargos de direção, os cinco desembargadores mais antigos que
aceitarem e que não estiverem impedidos devem ser eleitos.
- No Estado, os cargos colocados em disputa são de
presidente, 1º vice-presidente, 2º vice-presidente, 3º vice-presidente e
corregedor-geral da Justiça.
- São impedidos, dentre os mais antigos, aqueles
que já foram presidentes ou que exerceram cargos diretivos por quatro anos.
- Os mandatos devem durar dois anos e a lei proíbe
a reeleição.
Quem é o
pivô da polêmica no TJ
Natural de Santo Cristo, na Região das Missões,
Arno Werlang tem 68 anos, dos quais 35 na magistratura.
Começou a carreira como juiz adjunto da comarca de
Encantado, no Vale do Taquari. Passou por municípios como Panambi, Júlio de
Castilhos, Santa Maria e Porto Alegre. Na Capital, é desembargador do Tribunal
de Justiça do Estado desde 1998. Também é pai de três filhos. Werlang afirma
que gostaria de ser corregedor-geral por acreditar que, com sua experiência
dentro do Judiciário, poderia contribuir na fiscalização da instituição.
Cai
barreira à investigação de juízes
Em sessão longa e tensa, maioria dos ministros do
STF votou por derrubar a liminar que limitava poderes de corregedoria
Em um round definitivo na batalha entre a
corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon, e entidades
que representam os magistrados brasileiros, o Supremo Tribunal Federal (STF)
derrubou ontem, por seis votos a cinco, uma liminar que limitava o poder de
investigação do CNJ. O voto decisivo – que praticamente desempatou a questão
entre os ministros – coube à gaúcha Rosa Maria Weber, que ingressou no Supremo
em 12 de dezembro.
O STF julgou ontem a validade de uma ação da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que questionava o poder do CNJ
para dar início a investigações. No entendimento da entidade, cabia às
corregedorias de cada tribunal a prerrogativa de iniciar os procedimentos.
A questão era uma chaga que corroía relações dentro
do Judiciário havia meses, principalmente depois de Eliana vir a público para
dizer que existem "bandidos de toga" no Brasil. À época, a frase
provocou reações das entidades, que a acusaram de generalização, e do próprio
presidente do STF, Cezar Peluso, que chamou a corregedora de "leviana".
O placar apertado na sessão de ontem evidenciou o
racha no plenário. Somente com a chegada de Rosa Weber ao STF a questão se
definiu. Ela afirmou que a criação do Conselho relativizou as competências das
corregedorias dos tribunais locais.
– A competência do CNJ é originária e concorrente,
e não meramente supletiva e subsidiária – disse.
Alinhado com o entendimento de Rosa, Gilmar Mendes
foi além:
– Até as pedras sabem que as corregedorias não
funcionam quando se trata de investigar os próprios pares.
Da trincheira adversária, os quatro ministros que
se apoiaram no relatório de Marco Aurélio Mello, derrotado na noite de ontem,
afirmaram temer que a medida represente excesso de poder para o CNJ. Na saída
da sessão, Marco Aurélio foi irônico.
– O CNJ é o órgão a quem o Supremo deu uma carta em
branco. Só espero que não haja o despejo do Supremo do prédio que ele hoje
ocupa – disse.
Os ministros também votaram outros pontos. Eles
decidiram que todas as sessões do CNJ devem ser abertas, negando pedido da AMB
para, em alguns casos, realizar julgamentos sigilosos de juízes.
Como votaram
CONTRA A LIMINAR
- Rosa Weber
- Cármen Lúcia
- Dias Toffoli
- Joaquim Barbosa
- Ayres Britto
- Gilmar Mendes
A FAVOR DA LIMINAR
- Marco Aurélio
- Luiz Fux
- Ricardo Lewandowski
- Celso de Mello
- Cezar Peluso
Dilma
recebe sucessor de Negromonte
Mário Negromonte já é página virada no governo
Dilma Rousseff. Ao entregar sua carta de demissão ontem à tarde, o agora
ex-ministro das Cidades se tornou o sétimo integrante do primeiro escalão a
deixar o cargo após denúncias de corrupção.
O momento, agora, é do substituto: Aguinaldo
Ribeiro (PP), que se encontrou ontem com a presidente e deverá tomar posse na
segunda-feira à tarde. O deputado paraibano passou pelo crivo do Planalto,
apesar de responder a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime
contra a Lei de Licitações. Dilma o recebeu com sorrisos e, após a conversa no
Planalto, ele afirmou que sua preocupação será dar o andamento técnico à pasta,
bem ao gosto da presidente:
– Vamos ter este fim de semana para nos inteirarmos
de todas essas questões com maior profundidade e apresentarmos o que a
presidente quer, que é exatamente resultado efetivo dessas ações do Ministério
das Cidades.
Nem bem foi recebido no governo, Ribeiro tem de
lidar com denúncias. No caso dele, suspeitas de direcionamento de recursos para
beneficiar seus parentes. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, em
maio de 2011, ele enviou um pedido para que Negromonte incremente o programa
Minha Casa, Minha Vida em Pilar (PB) – município distante 55 quilômetros de
João Pessoa – que é administrado por sua mãe, Virgínia Maria Veloso Borges. Em
sua edição de ontem, o jornal já havia divulgado que o deputado destinou cerca
de R$ 800 mil em emendas para Campina Grande (PB), onde sua irmã é
pré-candidata à prefeitura neste ano.
Perguntado se teme o fogo amigo, que vitimou vários
colegas de Esplanada, foi direto:
– Não. Nós estamos preocupados agora é em
trabalhar. A melhor resposta que nós temos (contra fogo amigo) é trabalho.
O novo ministro evitou falar de possíveis mudanças
em cargos-chave do ministério, a partir da saída de Negromonte.
ECONOMIA
Avança
plano de terminal de gás
Protoloco para estudo de viabilidade de complexo de
energia que pode chegar a US$ 5 bilhões será assinado hoje no Rio
Será assinado hoje, no Rio de Janeiro, o protocolo
de intenções entre Petrobras, governo gaúcho, Hyundai e Samsung para estudar a
viabilidade de implantar no Estado um terminal de regaseificação de gás natural
liquefeito (GNL) e uma fábrica de fertilizantes. Estimado entre US$ 2 bilhões e
US$ 5 bilhões, o projeto ganha importância pelo peso dos parceiros envolvidos –
a maior estatal brasileira e duas empresas internacionais especializadas no
segmento – e por representar a possibilidade de triplicar o volume de gás
disponível no Estado.
Conforme fontes familiarizadas com a negociação, a
modelagem final do projeto será definida ao longo do estudo, mas a planta de
regaseificação deverá ter capacidade para 7 milhões de metros cúbicos ao dia –
2,5 vezes a quantidade de gás que o Estado recebe hoje por meio do gasoduto
Brasil-Bolívia. Desse volume, a fábrica de fertilizantes deverá consumir cerca
de 2 milhões de metros cúbicos diários. O restante será destinado para geração
de eletricidade e consumo industrial, principalmente.
Embora não tenha local definido previamente, o
complexo tende a se instalar em Rio Grande porque os navios que transportam o
GNL exigem um porto com boa infraestrutura e grande calado. Além disso, o gás
disponível poderia ser usado por estaleiros e outras empresas que estão se
instalando no coração do polo naval do Estado.
Na parceria estabelecida hoje, só estão previstos o
terminal de regaseificação e a fábrica de fertilizantes, mas para que o projeto
cumpra um de seus principais objetivos – permitir o abastecimento de novas
indústrias com gás natural e reforçar o abastecimento de eletricidade no Estado
–, ainda devem ser incluídos um gasoduto e uma usina térmica.
Grupos
se apresentam para leilões de aeroportos
Anac decide hoje quais consórcios estão qualificados para a
disputa
Pelo menos 11 consórcios apresentaram ontem na
BMF&Bovespa propostas de participação no leilão de três aeroportos.
Conforme as regras da disputa, marcada para segunda-feira, os grupos podem
fazer propostas para Guarulhos, Viracopos (Campinas) e Brasília –, mas só
poderão arrematar um dos terminais.
Hoje, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)
vai anunciar os nomes dos consórcios que não se qualificaram para a etapa
final, na segunda-feira, quando serão feitos lances por viva voz. Os nomes dos
grupos que seguem na disputa serão revelados oficialmente apenas no dia do
leilão.
Só passarão para a segunda fase as empresas que
apresentaram proposta inicial cujo valor corresponda a até 90% da maior oferta.
Advogados avaliam que as empresas estão preparadas para entrar com recursos
judiciais caso venham a ser desqualificadas em razão do que chamam de
"proposta aventureira". Se algum grupo entrar com preço muito
superior ao valor mínimo estabelecido pelo governo para cada aeroporto, pode
desqualificar grupos importantes. A Advocacia-Geral da União (AGU) também
montou operação para derrubar possíveis ações contra a realização do leilão.
Governo busca garantir investimentos para a Copa
Com a licitação dos três aeroportos, a União
arrecadará ao menos R$ 5,477 bilhões. A Infraero obrigatoriamente será sócia de
cada um dos aeroportos, com participação de 49% e poder de veto.
Compondo os consórcios estão grandes operadores
internacionais, como a Changi, de Cingapura, que apresentou proposta em
conjunto com a Odebrecht. A suíça Zurich AG entrou com a CCR, empresa
controlada por Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa e atuante nas concessões
rodoviárias, e a alemã Fraport, controladora do aeroporto de Frankfurt, com o
grupo Ecorodovias.
Responsável pela operação de um dos aeroportos mais
movimentados do mundo, o de Heathrow, em Londres, a espanhola Ferrovial fez
sociedade com a Queiroz Galvão e o BTG Pactual. Com nove aeroportos da África
do Sul sob sua administração, a ACSA apresentou proposta com a Invepar, empresa
de investimentos em transportes do grupo OAS com fundos de pensão das estatais
Previ, Petros e Funcef.
A transferência dos terminais para a iniciativa
privada é estratégia do governo para garantir os investimentos necessários nos
aeroportos antes da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Os contratos
de concessão preveem obras emergenciais nos próximos dois anos para expandir
terminais de passageiros, estacionamento de automóveis e pistas de taxiamento
de aeronaves.
Brasil
pode rever acordo automotivo com o México
O governo brasileiro estuda rever e até suspender o
acordo automotivo com o México. Firmado em 2002, o acordo permite importações
de automóveis, peças e partes de veículos do México.
A medida é uma resposta ao crescente déficit
brasileiro no segmento. Detalhes da negociação não foram divulgados. A
secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, apenas confirmou as
articulações em curso.
Em 2011, a importação de veículos do México cresceu
40%. Atingiu US$ 2 bilhões, enquanto o Brasil exportou US$ 372 milhões em
automóveis e peças. Um rompimento do acordo aumentaria preços dos veículos
vindos do México, que teriam de pagar 35% de Imposto de Importação além do
Imposto sobre Produtos Industrializados aumentado no passado para automóveis
provenientes do Exterior.
Geral
Avança
projeto para construir ponte entre Brasil e Argentina
A ser firmado hoje, contrato permitirá o início dos estudos
de viabilidade
A longa espera dos gaúchos pela construção de uma
nova ponte entre Brasil e Argentina pode estar perto do fim. Está marcada para
as 15h de hoje, em Foz do Iguaçu (PR), a assinatura do contrato que formaliza o
início do estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental da obra sobre o
Rio Uruguai, no noroeste gaúcho.
O documento será assinado por representantes da
comissão binacional Brasil-Argentina e o Consórcio Iatasa, Atec, Grimaux e
Ballcons, responsável pelo trabalho.
A ponte é uma reivindicação feita há cinco décadas
pelos moradores da fronteira do Estado. Porto Mauá-Alba Posse, na região
Noroeste, Porto Xavier-San Javier, nas Missões, e Itaqui-Alvear, na Fronteira
Oeste, são as cidades que podem ser contempladas com a construção.
Nessas áreas, a ligação entre os países é feita via
balsa. Há pontes para a Argentina apenas em São Borja e em Uruguaiana.
Segundo o consultor Carlos Lopes, da Ballcons, no
prazo de 230 dias será sugerido um termo de referência, a partir do qual será
definido um modelo para a execução da obra. O trabalho levará em conta a
realidade das comunidades envolvidas no Brasil e na Argentina. A partir daí,
será definido o local de construção da ponte.
– O estudo permitirá definir as diretrizes
estratégicas que servirão de marco integral para estruturar um programa de
investimentos para os próximos anos, propondo a execução de projetos tanto nas
passagens fronteiriças já priorizadas como também naquelas cujo potencial seja
definido a partir do estudo – afirma Lopes.
Vencida essa etapa, outras duas licitações devem
ser realizadas. A primeira, para a elaboração do projeto executivo da obra. A
segunda, para a contratação da empresa para sua execução.
Obra trará benefícios comerciais e turísticos
Para o secretário de Desenvolvimento, Turismo e
Mercosul de Porto Xavier, Lino Pauli, a construção da ponte internacional facilitará
o comércio entre os dois países, além de contribuir para o circuito turístico
das Missões. Outro benefício seria o fim das restrições impostas pelos horários
das balsas e a facilidade de trânsito para o país vizinho.
– Estamos na torcida para que a ponte, finalmente,
saia do papel e vá para cima do rio, onde é o lugar dela– comenta Pauli.
JULIANA
GOMES | Casa Zero Hora/Santo Ângelo
Crise na
Europa abala as ONGs brasileiras
Corte de recursos fez entidade que defende homossexuais
fechar as portas
O fechamento do Grupo Somos, que há uma década luta
pelas causas de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, revela um
drama que afeta a maioria das ONGs do Brasil. As entidades enfrentam
dificuldade de manter atividades devido à escassez de recursos repassados por
organismos internacionais, especialmente após a crise na Europa e nos EUA.
A solidariedade europeia em relação ao Brasil tem
raízes nas décadas de 60 e 70 e se intensificou nos anos 80 e 90, após a
redemocratização do país. As vacas gordas coincidiram, portanto, com a pujança
da Europa no pós-guerra e a economia cambaleante no Brasil.
Ao longo da década passada, porém, a realidade
começou a se inverter: a recessão transferiu-se para o norte, abalando a
Europa, e a bonança assentou-se mais ao sul, com milhões de brasileiros sendo
incorporados ao consumo e ao mercado formal, criando uma nova classe média. O
quadro, entre tantas consequências positivas, mudou o foco da ajuda
transnacional.
O Grupo Somos, por exemplo, entre 2005 e 2012,
perdeu dois convênios: R$ 200 mil ao ano repassados pelo governo dos EUA e R$
250 mil, também a cada 12 meses, da Fundação Schorer, da Holanda.
– Eram recursos importantes, que nos ajudavam em
diferentes áreas dos nossos projetos – detalha a pedagoga Claudia Penalvo, coordenadora
técnica do Grupo Somos.
Organizações mais antigas, como a ONG Camp –
fundada em 1983 por jovens estudantes, religiosos ligados à teologia da
libertação e sindicalistas urbanos e rurais – só não encerraram os trabalhos
porque foram obtidas outras fontes de financiamento. A entidade desenvolve
projetos com catadores, quilombolas, moradores de áreas de risco e jovens.
De acordo com João Marcelo dos Santos, diretor da
Camp, o recurso antes destinado ao Brasil migrou, em parte, para países do
Leste Europeu, que se reorganizam após a queda dos regimes socialistas, e
nações africanas, assoladas por guerras civis e desastres naturais.
– Em paralelo ao declínio, houve avanço nas
políticas públicas no Brasil, permitindo que as ONGs captassem recursos no país
– explica Santos.
Assessor administrativo da Fundação Luterana de
Diaconia, Dezir Garcia salienta que o fato de sermos tratados como um país de
"renda média" e visto como um "global player" não reduz o
papel das ONGs junto aos excluídos:
– Se você colocar a cabeça numa geladeira e os pés
no fogo, na média, você estará bem, mas vai morrer igual.
A Fundação Luterana, conta o assessor, também
precisou se reorganizar para enfrentar a nova realidade – a participação
internacional, que representava 80% do orçamento, hoje significa 50%.
– Criamos duas grandes frentes: um plano de
mobilização de recursos, que ampliou a captação junto aos governos, empresas e
pessoas físicas, e um plano de comunicação institucional – detalha Garcia.
Para sobreviver, Luteranos, Camp e outras ONGs
contam cada vez mais com verbas públicas, repassadas, em especial, pelos
ministérios do governo federal. Mas as últimas denúncias envolvendo o
Ministério dos Esportes e ONGs ligadas a partidos políticos podem tornar a
situação ainda mais complicada. Por determinação da presidente Dilma Rousseff,
todos os repasses estão sendo revistos.
CARLOS
ETCHICHURY
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