PRIMEIRA PÁGINA
Inadimplência
reduz o lucro de grandes bancos
Os resultados dos cinco maiores bancos do país -
Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander -
mostram que o setor viveu um trimestre atípico, com queda de lucros, a primeira
desde o início de 2009, logo após a crise financeira provocada pela quebra do
Lehman Brothers nos EUA. No quarto trimestre de 2011, eles tiveram lucro
líquido total de R$ 11,86 bilhões, com uma redução de 9,2% em relação ao mesmo
período de 2010
Orçamento
terá corte de R$ 55 bilhões
O governo anuncia hoje um corte de gastos superior
ao de 2011, próximo a R$ 55 bilhões, para garantir o superávit primário nas
contas públicas de R$ 139,8 bilhões no ano. O valor do contingenciamento - que
no ano passado foi de R$ 50 bilhões - foi decidido durante almoço dos ministros
da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, após a reunião
do Conselho Político. Na reunião do Conselho, Mantega afirmou que "o
superávit primário de R$ 140 bilhões será cumprido na sua integralidade",
descartando, assim, a possibilidade de abater parte dos investimentos do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estimados em mais de R$ 40 bilhões
Nova
regra para operadora em leilões
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pode
endurecer a barreira de entrada para operadoras estrangeiras nos próximos
leilões de aeroportos. O objetivo é estimular a chegada de grandes empresas
internacionais na segunda rodada de concessões, ainda sem data definida. Além
do Galeão (Rio) e Confins (Belo Horizonte), o aeroporto de Manaus tem as
maiores chances de ir a leilão
Choque
importado
O avanço das importações traz forte pressão sobre a
indústria têxtil. As encomendas estão em baixa e a ociosidade, em alta. A
Sandra Têxtil, que produz tecidos planos para vestuário, buscou novos clientes
no setor de calçados, bolsas e móveis. "Estamos fazendo de tudo", diz
o dono, Ede Villanassi
ORÇAMENTO
Orçamento
de Obama evita choque fiscal prematuro
A batalha orçamentária que o presidente Barack
Obama começou a travar tem significados mais amplos que a simples busca do
equilíbrio das contas públicas na maior economia do mundo. Em seu aspecto mais
relevante, o presidente americano marca uma opção distinta de como tratar uma
economia ainda convalescente, a caminho de uma recuperação ainda incerta,
cercada por riscos relevantes de reversão. Essa trilha contrasta com a
perseguição do equilíbrio fiscal a ferro e fogo, em meio a uma recessão e com a
ameaça de uma crise bancária por perto, tal como a receita alemã para impedir o
esfacelamento da zona do euro e retirar a Europa da crise. Não é a menor das
ironias o fato de os republicanos serem agora os ortodoxos "alemães"
quando se trata do rigor fiscal, depois de oito anos de governo de George W.
Bush terem colocado os EUA de novo na rota dos déficits e legarem a Obama a
maior crise econômica em quase um século.
A proposta orçamentária de Obama para o ano fiscal
de 2013, que começa em setembro, escancara sua preferência por novas doses de
estímulos à economia até que a recuperação se consolide, com apoio de uma
política fiscal pouco contracionista. Estabelece também um forte contraste
severo com as ideias da oposição republicana que, para desalojá-lo do poder,
foi longe a ponto de criar um impasse fiscal que retirou dos EUA a nota máxima
de avaliação das agências de classificação de risco. O debate orçamentário para
o qual Obama chama a atenção é ao mesmo tempo um dos pilares de sua plataforma
eleitoral para a reeleição. Nesse ponto, o presidente, que ficou na defensiva
na questão fiscal no ano passado, tem agora a iniciativa.
O orçamento de Obama propõe redução de US$ 3,8
trilhões do déficit, que fechou em 67% do Produto Interno Bruto em 2011, algo
como US$ 10,1 trilhões. Mais de um terço disso, ou US$ 1,4 trilhão, será obtido
com aumento de impostos sobre os mais ricos. Para isso, Obama quer elevar a taxação
sobre dividendos de famílias com renda superior a US$ 200 mil anuais. Isso
elevará a taxa de 20%, vigente com os cortes de impostos de Bush, para 39,6%,
praticamente o nível de antes das reduções. Outra parcela expressiva virá do
fim de brechas fiscais que permitem às empresas pagarem menos impostos,
especialmente as de petróleo e gás.
A maior taxação sobre os mais ricos bancará um
plano de investimentos em educação, obras públicas, pesquisa e energia limpa.
Parte da economia obtida com os cortes na defesa contribuirá para gastos de US$
476 bilhões para modernizar a rede de transportes do país. Ao lado disso, o
orçamento poupa cortes nos programas sociais, mantém o incentivo às
contratações via redução de impostos na folha de pagamento das empresas e benefícios
do seguro desemprego. Esses dois estímulos expiram agora no fim de fevereiro e
os republicanos, influenciados pelos ventos eleitorais, tendem a concordar a
contragosto com a prorrogação.
Provavelmente nada do que Obama sugere passará na
Câmara, onde os republicanos conquistaram a maioria. Mas ao colocar a diferença
de prioridades orçamentárias como programa eleitoral, o presidente usa mais uma
vez a bandeira da igualdade de oportunidades para tentar conquistar votos. Com
a crise e o alto desemprego americano, tende a ser uma arma eficaz e obrigará
os republicanos a defender sua política de desigualdade social e hipocrisia
fiscal.
Taxação sobre os mais ricos cai também como uma
luva nas intenções do presidente-candidato. Entre as verdades que emergiram até
agora da indigesta luta fratricida na campanha republicana está a de que Mitt
Romney, o mais provável opositor de Obama, ao ser obrigado por seus rivais no
partido a divulgar suas declarações de renda, ter revelado que, como empresário
bem-sucedido e milionário, paga menos impostos que o americano comum.
As chances de reeleição de Obama estão crescendo.
Isso reflete em boa parte a recuperação da economia, que tem ganhado algum
fôlego. Pode refletir também o festival de fanatismo das primárias republicanas.
A divisão de seus rivais os arrastará a uma campanha de desgastes mútuos mais
longa que o previsto, o que é bom para o presidente. Muita coisa pode acontecer
até novembro, mas Obama teve alguma sorte - com qualquer dos candidatos
republicanos, poderá ter o rival de seus sonhos nas eleições.
OPINIÃO
O setor
elétrico e o metabolismo da eficiência
Paulo Pedrosa
Há no país o consenso, resultante da constatação
pelas mais variadas fontes, de que as tarifas e preços da energia elétrica
brasileira estão entre os mais altos do mundo. Apesar de não haver uma visão
comum sobre as causas do problema, há a tendência de explicar o fenômeno a
partir das elevadas alíquotas de ICMS, PIS e Cofins, que chegam a mais de 30%
das contas de energia.
Essa visão desloca a discussão para fora do setor e
acopla sua solução a problemas de mais difícil e lento equacionamento. Na
verdade, há muito a ser feito no próprio setor para reverter distorções
acumuladas - e com ganhos alavancados automaticamente com a redução da carga
tributária, que passaria a incidir sobre uma base menor. Isso depende não só do
encaminhamento adequado das concessões do setor elétrico com vencimento nos
próximos anos, como da alocação correta de custos e riscos do setor, e análise
de encargos e das políticas atribuídas aos consumidores de energia.
Esses e outros aperfeiçoamentos podem se dar por
meio do planejamento, gestão e decisões de governo. Mas as maiores
oportunidades talvez estejam no funcionamento do setor e do seu mercado e podem
ser resumidas no fortalecimento do metabolismo da eficiência, expressão
atribuída à presidente Dilma Rousseff quando ministra de Minas e Energia. Esse
fortalecimento passa pela premissa de aproveitamento da inteligência dispersa
na "nuvem" do mercado, estimulada por sinais econômicos corretos por
parte do governo e órgãos reguladores.
Há alternativas para fazer com que o custo da
energia diminua para todos os consumidores
A questão da segurança do abastecimento ilustra bem
esse quadro. Os consumidores pagam compulsoriamente por ela ao cobrir custos da
energia de reserva e do despacho fora da ordem de mérito econômico de térmicas
para manter o volume de água nos reservatórios.
O problema é que esses custos já deveriam fazer
parte dos contratos de energia. O setor vive, portanto, um paradoxo: em um
momento em que se preza a contratação em horizonte de longo prazo, o ambiente
regulatório sinaliza na direção contrária ao estimular práticas defensivas de
curto prazo e não permitir aos consumidores gerenciar suas contratações com a
venda de excedentes. Com isso, desvaloriza a principal característica do
contrato de longo prazo, que é ser um seguro contra as variações significativas
de preços.
Questões semelhantes se verificam na expansão do
parque gerador. O consumidor livre não pode contratar a energia dos novos
empreendimentos nas mesmas condições que os cativos, mas torna-se
corresponsável por seus impactos no aumento dos custos de transmissão, perdas e
encargos cobrados para compensar as características dos empreendimentos no
tocante à entrega da energia e potência contratadas. Isso compromete o
metabolismo da eficiência, uma vez que distribui riscos de forma inadequada
entre grupos de consumidores, geradores e comercializadores, e imputa custos
que resultam em perda de competitividade da indústria e, consequentemente, de
toda a economia brasileira.
Outra perturbação significativa se refere às
distorções provocadas por políticas energéticas que contribuem para o aumento
do custo da energia. Os subsídios à energia incentivada, por exemplo,
desperdiçam recursos da sociedade porque não há mecanismo que capture, nos
projetos a eles vinculados, ganhos de eficiência já disponíveis. Esse é o caso
dos descontos aplicados às tarifas de transporte, que continuam privilegiando
segmentos que já se provaram competitivos.
O metabolismo da eficiência também passa pela
revisão de encargos setoriais vinculados a políticas de desenvolvimento social
e regional, como é o caso da atual Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) e da
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que são cobradas na proporção da
energia consumida. Esse procedimento se justificava para a velha CCC, destinada
a reduzir o custo global da produção de energia no sistema interligado. Ocorre
que, com a mudança no conceito dos encargos, terminamos prisioneiros de uma
situação que aloca o custo de políticas públicas de forma proporcionalmente
maior para as grandes indústrias - que usam mais energia e menos sistemas de
transmissão e distribuição.
Claro que a solução mais racional seria retirar o
custo dessas políticas públicas das contas de energia porque, por mais
positivos que sejam seus méritos, deveriam ser custeadas diretamente pelo
Tesouro Nacional, de forma transparente. Mas, sendo tal solução de
implementação mais lenta, por ora pelo menos os valores cobrados deveriam ser
proporcionais às contas finais, de maneira isonômica a todos os consumidores.
Por fim, o momento propício criado com a
perspectiva de encaminhamento adequado das concessões é a grande chance para
reversão das distorções aqui citadas e de outras, que ampliaram em mais de 100%
os custos da energia para a indústria nacional nos últimos dez anos.
Independentemente da opção pela renovação ou nova licitação das concessões,
esse deve ser o foco do governo nesse processo.
Ao enfrentar essas questões de maneira a aumentar o
metabolismo da eficiência, o setor elétrico terá condições de fazer o custo da
energia diminuir para todos os consumidores. Felizmente, sinais da Presidência
da República, do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia
Elétrica e do Congresso Nacional permitem uma visão de confiança dos
consumidores em que o país terá disposição para corrigir distorções que se
acumularam em décadas e devolver ao setor elétrico sua condição de contribuir
decisivamente para o desenvolvimento nacional.
Paulo Pedrosa é presidente-executivo da Associação
Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores
Livres (Abrace).
POLÍTICA
Fator
Serra eleva cacife de PSD e PSB e preocupa PT
Cristiane Agostine, Vandson Lima e Raphael Di Cunto |
De São PauloKassab na reunião do Conselho de
Desenvolvimento Metropolitano: "Todos sabem que o PT e o PSD têm alianças
em diversas cidades do país para as eleições"
A possível entrada do ex-governador José Serra
(PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo embaralhou os planos do PT e
aumentou o cacife do PSD e PSB na negociação em torno de alianças eleitorais. A
cúpula petista vê com preocupação a pré-candidatura do tucano, com receio de
perder a aliança não só com o PSD mas também com o PSB. Sem os dois aliados, o
projeto político de o PT ganhar em 2014 o governo estadual de São Paulo,
comandado há cinco gestões pelo PSDB, ficaria em risco.
A eventual pré-candidatura de Serra atrapalha os
planos do PT, que sonha com a vitória do ex-ministro Fernando Haddad no
primeiro turno. O partido conta com a aliança com o PSD do prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab, e estava acertando os últimos detalhes para fechar um
acordo com o PSB, em articulação feita por Kassab.
A aliança com o PSD é defendida pelo comando
petista desde meados de 2011, com vistas à construção de um grupo político que
enfrente o PSDB não só em 2012, mas também em 2014, na disputa estadual. O
possível lançamento de Serra, avalia o PT, fará com que Kassab componha com o
tucano e leve consigo o PSB. O prefeito é ligado politicamente a Serra, de quem
foi vice na disputa municipal em 2004 e de quem herdou a prefeitura da capital
em 2006, quando o tucano deixou o cargo para concorrer ao Estado.
A cúpula do PT vê a aliança com Kassab como
"essencial" para ganhar a prefeitura. A principal vantagem do acordo
com o prefeito é ter a máquina pública para fortalecer a candidatura de Haddad.
A capilaridade das subprefeituras e o caixa municipal turbinariam o petista. O
apoio do prefeito ajudaria a quebrar a resistência da classe média e a abrir
diálogo com o eleitorado conservador, que não votou no PT em outras eleições. O
partido avalia que se ficar concentrado só no eleitorado tradicional petista,
na periferia, não ganhará. A possível indicação do ex-presidente do Banco
Central Henrique Meirelles como vice de Haddad facilitaria no contato com
empresários e na captação de recursos.
O PT também está de olho no tempo de televisão do
PSD. Se o partido de Kassab conseguir no Tribunal Superior Eleitoral tempo de
televisão e recursos do fundo partidário, oferecerá ao aliado mais três minutos
no horário eleitoral. Dessa forma, Haddad, que ainda é pouco conhecido, ficaria
com quase metade do tempo da propaganda eleitoral.
Enquanto o PT observa com atenção a movimentação de
Serra, o PSD comemora por ser cortejado tanto por petistas quanto por tucanos.
Na análise de dirigentes da sigla, ainda que Serra não dispute a prefeitura, os
rumores da pré-candidatura pressionarão o PT a oficializar o acordo com o PSD o
quanto antes para evitar a aliança com o tucano.
A possível entrada de Serra na disputa paulistana
divide o PSD. Nos bastidores, um grupo de dirigentes duvida dessa
pré-candidatura e avalia que ela atrapalhará alianças do partido com o PT em
todo o país. Além disso, criará atritos com o governo federal, já que o tucano
tornou-se uma das principais vozes da oposição à presidente Dilma Rousseff,
enquanto Kassab buscou estreitar a relação com a presidente. Para esses dirigentes,
sem o acordo com o PT, o ideal seria lançar a candidatura própria, com o
vice-governador Guilherme Afif Domingos.
Outro grupo do PSD analisa que candidatura de Serra
colocaria as coisas em seu devido lugar, pois haveria a defesa concreta da gestão
que Kassab e Serra compartilharam. Para estes, a costura levaria o PSB para a
chapa e a vice ficaria com Alexandre Schneider (PSD), secretário municipal de
Educação, ex-tucano próximo de Serra e do senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB).
Kassab, fundador do PSD, evitou falar sobre a
possível alteração na disputa municipal. "É até desrespeitoso da minha
parte falar em relação a uma eventual candidatura [de Serra] porque ele já me
afirmou que não será candidato", disse. "Cabe ao Serra definir seu
futuro. Prefiro manter o silêncio".
O PSB, a exemplo do PSD, comemora o aumento do
assédio do PT e PSDB. Com um cenário "incerto", nas palavras do
governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, o
partido ainda não decidiu quem irá apoiar. Partido que apoia tanto o PT, no
governo federal, quanto o PSDB, no Estado, e o PSD, na prefeitura, o PSB ganha
peso na disputa com essa indecisão sobre o rumo de Kassab.
A legenda é um dos alvos do PT, ao lado de PR, PDT,
PCdoB e PMDB, mas tende a apoiar os tucanos, segundo o secretário de Turismo do
Estado e presidente estadual do PSB, Márcio França, em gratidão ao gesto do
PSDB, que desistiu de concorrer em cidades importantes do interior, como
Campinas e São José do Rio Preto, para apoiar o PSB.
"Em política, nada é impossível, até porque
não temos qualquer tipo de inimizade no PT. Mas hoje as condições são mais
próximas do PSDB e, se possível, em aliança com o PSD", afirmou França.
"Se confirmada a candidatura do Serra, muda todo o cenário e se torna
ainda mais fácil essa aliança", comentou. Essa "ponte" foi
sondada como forma de tornar a aliança de Kassab com o PT mais aceitável para
os petistas contrários a compor com o prefeito. O PSB indicaria um vice
alinhado a Kassab para Haddad e facilitaria a composição.
Serra, se for candidato, terá chance de agregar
outros partidos à sua candidatura. O PDT, que tem como pré-candidato o deputado
federal e presidente da Força Sindical Paulo Pereira da Silva, poderia indicar
Paulinho como vice do tucano. O PPS, da pré-candidata Soninha Francine, também
sofreria desistir. O DEM, que negocia apoiar o PMDB, é outro provável aliado de
Serra.
No PSDB, a possibilidade da entrada de Serra na
disputa municipal dividiu os pré-candidatos tucanos sobre a manutenção da
prévia partidária para definir o candidato. O secretário estadual José Aníbal e
o deputado Ricardo Tripoli defenderam a manutenção das prévias para a escolha
do candidato, enquanto os secretários Andrea Matarazzo e Bruno Covas
demonstraram disposição de sair da disputa em favor de Serra.
Ontem foi o último dia para inscrição dos
pré-candidatos na disputa interna do PSDB. Os quatro postulantes se
inscreveram, mas Serra não, segundo o presidente do diretório municipal, Julio
Semeghini. A prévia está prevista para o dia 04 de março.
O presidente estadual do PSDB, deputado Pedro
Tobias, defendeu a realização de prévia, mesmo se Serra quiser se candidatar.
"Não concordo que atropelem algo que empolgou a militância por qualquer
motivo que seja", disse.
O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB),
mostrou-se cauteloso e disse que ainda é preciso "aguardar" a decisão
de Serra.
Embora defenda a prévia, a bancada de oito
vereadores do PSDB vê com bons olhos a possível candidatura de Serra, que
puxaria votos para a legenda e ajudaria na reeleição dos parlamentares.
"Em 2008, mesmo com o [governador] Geraldo Alckmin ficando em terceiro,
elegemos a maior bancada da Câmara, com 13 vereadores", disse o líder da
bancada, Floriano Pesaro. Para o tucano, o importante é a candidato próprio.
Câmara
aprova aposentadoria integral por invalidez
Caio Junqueira e Daniela Martins | De Brasília
A Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem,
em segundo turno, a Proposta de Emenda Constitucional nº 270, de 2008, que
garante pagamento integral aos que se aposentam por invalidez.
O texto vale apenas para os servidores que entraram
no serviço público até 16 de dezembro de 1998, desde que a invalidez permanente
seja decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
contagiosa ou incurável.
A eles fica garantido também a revisão dos
rendimentos na mesma proporção e na mesma data, sempre que houver alteração dos
benefícios dos servidores que permanecerem na ativa.
O plenário da Câmara aprovou também a Medida
Provisória 545/11 que trata de diversos temas, desde incentivos tributários
para a cafeicultura até a liberação do uso do Fundo de Investimento do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS) para obras da Copa do Mundo de 2014, da
Olimpíada de 2016 e para a exploração do petróleo da camada pré-sal. O texto
segue para análise do Senado.
O ponto sobre FI-FGTS foi incluído no texto nesta
tarde, segundo assessores da Câmara. No fim do ano passado, a MP 540 foi
aprovada pelo Congresso com a mesma previsão do uso do FI-FGTS na Copa. Esse
trecho foi vetado pela presidente Dilma Rousseff.
Outra MP aprovada pela Câmara foi a 544/11, que
estabelece normas especiais para as compras, contratações e desenvolvimento de
produtos e sistemas de defesa, além de dispor o Regime Especial Tributário para
a Indústria da Defesa (Retid). O texto segue, agora, para análise do Senado.
O novo regime suspende a cobrança do PIS/Pasep,
Cofins e do Imposto sobre Produtos Industrializados nas vendas no mercado
interno e também no caso de importação por empresas beneficiárias.
TSE
rejeita contas da campanha de 2006 de Delfim
A ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Nancy Andrighi arquivou ontem um recurso apresentado pelo ex-deputado e
economista Antônio Delfim Netto. Candidato a deputado federal pelo PMDB de São
Paulo em 2006, ele teve suas contas de campanha rejeitadas pelo Tribunal
Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). O ex-deputado não conseguiu se
reeleger e ficou como suplente da legenda, ao receber 38.085 mil votos.
Delfim Netto recorreu ao TSE sob o argumento de que
os problemas identificados pelo TRE-SP eram de "natureza meramente
formal" e não comprometiam a análise das contas.
As contas não foram aprovadas pelo TRE-SP devido à
existência de recibo eleitoral sem assinatura; falta de identificação de um
doador de R$ 100 mil e a contratação de duas empresas com atividades
incompatíveis com a que exercem.
Ao analisar o recurso, a ministra afastou a
irregularidade referente à contratação das duas empresas pois a exigência
passou a valer nas eleições de 2010. No entanto, Nancy Andrighi manteve a
decisão do TRE paulista sobre a falta de assinatura no recibo e a doação não
identificada.
Delfim Netto afirmou que a doação foi feita com
recursos próprios. Para a ministra, não havia provas e a "rejeição das
contas é medida que se impõe".
Na época, Delfim recebeu R$ 1,8 milhão para
financiar sua campanha, dos quais R$ 100 mil descritos de recursos próprios.
Além de doações repassadas pelo diretório regional do partido, no valor de R$
550 mil, o então candidato recebeu contribuições de instituições do mercado
financeiro e de empresas, especialmente do ramo da mineração. Do mercado
financeiro, doaram Bovespa (R$ 50 mil), BM&F (R$ 70 mil), Associação
Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (R$ 50 mil) e banco BMC (R$ 50
mil). Do setor produtivo, recebeu da Caemi mineração a maior doação, de R$ 300
mil, seguida pela Pirelli Pneus (R$ 250 mil) e Companhia Brasileira de Alumínio
(R$ 250 mil).
O Valor tentou ouvir Delfim Netto, mas não obteve
retorno.
Paulinho
quer vice do Corinthians
O PDT paulista decidiu ignorar o assédio dos
pré-candidatos a prefeito de São Paulo Gabriel Chalita (PMDB) e Fernando Haddad
(PT) e avançou ontem em uma negociação para lançar uma chapa "puro
sangue". Ela deve ser encabeçada pelo deputado federal e presidente
estadual da legenda, Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, tendo
como vice o médico do Corinthians, Joaquim Grava.
O convite lhe foi feito ontem pela manhã, em São
Paulo. Paulinho disse que tudo já está acertado com o médico, que se filiou ao
partido com intenção de concorrer a deputado em 2010, pretensão que não se
concretizou. "Acertei com ele [Joaquim Grava] hoje [ontem] e ele
topou", afirmou. Procurado, Grava não retornou o pedido de entrevista.
A estratégia do PDT é atrelar o nome de Paulinho ao
do Corinthians, que tem a maior torcida no município de São Paulo. Pesquisas
internas da legenda atribuem ao deputado intenção de voto superior a 17% na
zona leste da capital paulista, região que também detém um terço do eleitorado
paulistano. É lá que se localiza a sede do clube e também onde está sendo
construído seu estádio que abrigará a abertura da Copa do Mundo em 2014. Em
todo o município, Paulinho pontua entre 10% e 12% das intenções de voto.
Por essa razão, o partido negocia a candidatura a
vereador de ex-jogadores do Corinthians e ídolos da torcida, como o ex-goleiro
Ronaldo e o ex-atacante Dinei. Segundo Paulinho, eles integram um grupo de
pré-candidatos a vereador que afirmaram que só entrariam na disputa
proporcional se ele entrasse na majoritária.
"Minha candidatura ajuda o partido a crescer
na capital, amplia a bancada de vereadores e nos dá possibilidade de mostrar
nossas bandeiras", disse o deputado. O diretório municipal calcula que,
mesmo se obtiver os 10% de votos apontados nas atuais pesquisas, a legenda se
sairia bem. Seriam cerca de 800 mil votos, dando a possibilidade de eleger
quatro vereadores. Hoje, há apenas um.
Paulinho disse que na semana passada avisou ao
ex-ministro José Dirceu que não iria se coligar com o PT nas eleições deste
ano. Com Chalita, declara que as conversas não chegaram a avançar. E em relação
ao PSDB do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirma que todas as
conversas com ele sempre se referiram a 2014, e não a 2012.
Isso derruba as pretensões tucanas de contar com o
pouco mais de um minuto de tempo de televisão que o PDT deve ter no horário
eleitoral gratuito. Alckmin tem sinalizado conceder a Secretaria de Trabalho à
sigla. Paulinho avisou que aceita e atua para que o deputado federal João Dado
(SP) a ocupe, mas garante que ela não se relaciona com eventual apoio nas
eleições municipais de 2012. "Minha conversa com Alckmin é sobre um possível
apoio à sua reeleição."
Grava é especializado em medicina esportiva. A
maior parte de sua carreira se dedicou ao Corinthians, embora tenha tido também
passagens pelo Santos e pela seleção brasileira. O presidente do diretório
municipal do PDT de São Paulo, vereador Cláudio Prado, afirma que o interesse
da legenda em Grava se dá pelo seu reconhecimento profissional. "Não é
pela torcida. Ele é um dos médicos mais respeitados do país", disse. Ele
confirmou que o convite a Grava foi feito ontem, mas que ainda não houve
resposta. O partido deve se reunir após o Carnaval para uma decisão definitiva
sobre a candidatura própria.
Evangélicos
cobram de Dilma posição sobre aborto
Lideranças da bancada evangélica no Congresso
decidiram cobrar da presidente Dilma Rousseff o cumprimento da posição assumida
por ela com relação ao aborto, durante a campanha eleitoral. Também decidiram
"repudiar" declarações do ministro Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência da República) e rejeitá-lo como interlocutor
do governo com o setor.
Em reunião no gabinete do senador Magno Malta
(PR-ES), foram distribuídas cópias do documento "Mensagem da Dilma",
assinado pela então candidata, no segundo turno das eleições de 2010, no qual
ela diz ser "pessoalmente contra o aborto" e defende a
"manutenção da legislação atual sobre o assunto".
Os evangélicos tentarão marcar audiência com Dilma,
para tratar do assunto. Estão preocupados com a posição que a nova ministra da
Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, defenderá no
Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, nesta
semana em Genebra.
"Ela é ministra abortista. Está indo para a
ONU defender isso", afirmou Magno. "O comportamento dessa ministra
não é compatível com o comportamento de quem vai conduzir as políticas públicas
de um governo. As opiniões dela são contrárias às de governo. Então cabe à
presidente enquadrá-la", disse o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele
lembra que 30% dos eleitores do país são evangélicos.
Magno apela para a "lucidez" da
presidente, lembrando o compromisso assumido com os "cristãos" na
campanha, para tentar livrar-se da pecha de abortista, em documento público.
"Se é [pessoalmente contra o aborto], não vai permitir que uma ministra
dela jogue o governo contra o parlamento e o parlamento contra o governo dela.
O parlamento repudia essa posição da ministra."
Com relação a Carvalho, evangélicos pretendem
deixar claro o "repúdio" à sua declarações no Fórum Social Mundial.
Em palestra, Carvalho defendeu que o Estado faça uma disputa ideológica por uma
nova classe média, que estaria "sob hegemonia de setores
conservadores". Falou do "papel da hegemonia das igrejas evangélicas,
das seitas pentecostais, que são a grande presença para esse público que está
emergindo".
Em discurso no Senado, Magno havia usado palavras
como "safado" e "mentiroso" para criticar o ministro.
Ontem, voltou a criticar Carvalho por dizer que o governo tem interesse em
manter bom relacionamento com as pessoas de bem desse segmento. "Vou
propor aos líderes que peçam para ele explicar judicialmente quem são as
pessoas mal intencionadas desse segmento. Ele colocou todo mundo na vala
comum."
A decisão dos evangélicos chegou ao Planalto e,
minutos depois, Carvalho telefonou para o deputado João Campos (PSDB-GO), que
preside a Frente Parlamentar Evangélica, para tentar contornar a situação.
O ministro foi convidado a participar de reunião
marcada para hoje e explicar suas declarações. Aceitou o convite. A rápida
resposta do Planalto é uma forma de tentar impedir que o incômodo dos
evangélicos chegue até Dilma e que ela acabe perdendo o apoio do segmento. (Com
agências noticiosas)
BRASIL
Corte
sai hoje e fica próximo a R$ 55 bilhões
Por Claudia Safatle e Mônica Izaguirre | De Brasília
O governo anuncia hoje um corte de gastos superior
ao do ano passado, próximo a R$ 55 bilhões, para garantir o superávit primário
das contas públicas de R$ 139,8 bilhões este ano. O valor do contingenciamento
do orçamento, que em 2011 foi de R$ 50 bilhões, foi decidido durante almoço dos
ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, após a
reunião do Conselho Político, no Palácio do Planalto. A cifra exata estava
sendo depurada pelos técnicos ontem à noite.
Na reunião do Conselho Política, a primeira do ano,
Mantega assegurou que "o superávit primário de R$ 140 bilhões será
cumprido na sua integralidade", descartando, assim, a possibilidade de
abater parte dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
estimados em mais de R$ 40 bilhões para o exercício.
O ministro acenou, também, com a criação de
condições "financeiras e tributárias" para aumentar os investimentos
e garantir um crescimento econômico, este ano, de 4,5%. Embora o ministro não
tenha detalhado o que seriam as condições a que se referiu, fontes do governo
indicaram que o Ministério da Fazenda avalia a possibilidade de estender para
mais setores intensivos de mão de obra a desoneração da folha de pagamento
adotada, no ano passado, para confecções, calçados, móveis e softwares.
No segundo semestre de 2011, o governo reduziu a
zero a alíquota de 20% para contribuição ao INSS desses segmentos e transferiu
a tributação para o faturamento, com uma alíquota de 1,5% para confecções, calçados
e artefatos e móveis, e de 2,5%, para softwares. Agora, os técnicos avaliam a
possibilidade de não só transferir a taxação da folha para o faturamento, mas
reduzir de fato a carga tributária sobre alguns setores. Isso vai depender,
sobretudo, do espaço fiscal.
Outro assunto que está no radar de Mantega é,
novamente, a velha agenda de redução do "spread" bancário, que não
tem caído na mesma velocidade da redução da taxa Selic e o governo quer retomar
a discussão de porque o "spread" bruto no Brasil é tão
insistentemente elevado.
Ele fez uma exposição sobre a situação da economia
doméstica e internacional ao Conselho Político e deixou um apelo aos líderes da
base aliada presentes ao encontro com a presidente Dilma Rousseff, para que o
Congresso Nacional não crie novas despesas e aprove as medidas de interesse do
governo.
Os investimentos públicos e privados, segundo
Mantega, sustentarão a expansão do PIB brasileiro este ano. O objetivo, disse,
é elevar a taxa de investimento para 20% do PIB - em 2001, ela foi de 19%.
"Nosso desafio é remar contra a
corrente", disse Mantega, em entrevista. Enquanto economias maduras entram
em recessão e as emergentes desaquecem, o Brasil sairá de um crescimento
próximo a 2,8% no ano passado para a casa dos 4,5%, assinalou. Sobre boatos de
que poderia deixar o governo, disse: " eu vou continuar remando como tenho
feito há seis anos".
Ele negou que esteja pensando em usar da tributação
para desestimular os fundos de renda fixa atrelados ao DI. Os estudos, de fato,
não chegaram a ele. Estão na fase de avaliação técnica. Saíram da Secretaria de
Política Econômica para a Receita Federal.
Indústria
e varejo aprofundam disparidade
Por Francine De Lorenzo e Arícia Martins | De São Paulo
O descompasso entre indústria e varejo se
aprofundou no último trimestre de 2011, período no qual a produção industrial
encolheu 1,4% em relação ao trimestre anterior, descontadas as sazonalidades,
enquanto as vendas cresceram 1,15% no segmento ampliado, que inclui veículos e
material de construção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). No ano, a divergência é mais evidente: com desempenho
sofrível, a indústria encerrou 2011 com alta de apenas 0,3% sobre o ano
anterior, ao passo que o comércio avançou 6,6% no período. Os dois segmentos
vêm de crescimento superior a 10% em 2010.
Para economistas, o distanciamento entre oferta e
demanda doméstica que marcou 2011 é explicado principalmente pela maior parcela
de importados que entrou no mercado brasileiro, facilitada pelo câmbio
valorizado que barateia compras externas e dificulta exportações. O desemprego
historicamente baixo - de 6% na média do ano - e ganhos sucessivos de renda
também contribuiram para que o consumo continuasse avançando a um ritmo
razoável, enquanto a indústria sofreu com questões particulares a ela,
desnudadas pelo dólar barato e pela perda de ritmo da atividade.
Para 2012, a expectativa geral é que a divergência
entre os dois setores diminua, mas siga acentuada, já que a indústria deve
apresentar recuperação modesta e o aumento do mínimo, aliado à queda da taxa de
juros, deve dar novo fôlego ao varejo.
"A competição com a China fez com que a
indústria sofresse muito mais do que o varejo", afirma o economista-chefe
da MB Associados, Sérgio Vale, para quem o acúmulo de estoques não está por
trás do rápido processo de estagnação pelo qual a produção passou em 2011.
"Há dois anos se comenta que a indústria vai reduzir seus estoques. Essa
questão precisa ser colocada de lado. A indústria sofre de falta de
competitividade muito mais grave e profunda", opina.
Vale ressalva, no entanto, que o comércio não ficou
totalmente imune à piora do ambiente externo e ao crescimento mais modesto da
economia brasileira em 2011, já que a redução do emprego na indústria atenuou o
poder de fogo de parte dos consumidores, assim como a desconfiança gerada pela
crise externa.
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC
Consultores, o menor ritmo de contratações pela indústria deve impactar o
comércio no início do ano, quando as vendas sofrerão um "resfriamento
adicional", que não será tão intenso como o verificado nas fábricas.
"A remuneração na indústria, que tem vasos comunicantes com o resto da
economia, vai perder força. As pessoas demitidas pelo setor industrial vão
consumir menos e os prestadores de serviços à indústria também devem perder
poder de compra", prevê o analista, que espera expansão de 5,5% nas vendas
do comércio restrito em 2012, com crescimento mais forte a partir do segundo
semestre, e aumento de apenas 1,3% na produção.
Os mesmos fatores que provocaram a discrepância
entre indústria e varejo em 2011 devem permanecer neste ano, sustenta Felipe
França, economista do Banco ABC Brasil. "Por mais que o governo tente
estimular a competição, as questões externas têm muita influência na atividade
industrial", ressalta, referindo-se ao Programa Brasil Maior, que
desonerou a folha de pagamentos dos setores têxtil e de calçados e instituiu o
Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas
Exportadoras (Reintegra), e à redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para linha branca. Para França, uma melhora expressiva
da indústria só acontecerá se houver recuperação consistente da economia
mundial.
"Se nada de mais grave acontecer na
Europa", pondera Vale, da MB, as vendas do varejo restrito devem crescer
8,5% neste ano, ao passo que a produção, na melhor das hipóteses, terá alta de
2,5% frente a 2011.
Claudio Felizoni, professor da FEA-USP e
coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de
Administração (Provar - FIA), acredita que o descompasso entre oferta e demanda
pode diminuir ao longo do ano na esteira de medidas adicionais que o governo
deve adotar para estimular a produção industrial, ao mesmo tempo em que o
consumo deverá ser contido devido ao endividamento das famílias e aos altos
juros. "O segmento que mais vai sofrer será exatamente o de bens duráveis,
que cresceu muito nos últimos cinco anos", diz Felizoni, acrescentando que
setores suscetíveis à variação de renda, como o de supermercados, devem ter resultado
melhor.
Essa não é a visão de França, do ABC Brasil, que vê
grande espaço para o aumento nas vendas de móveis e eletrodomésticos diante da
redução da inadimplência e da queda dos juros.
No último mês de 2011, a redução do IPI para
eletrodomésticos e uma recuperação no segmento de veículos ajudaram o varejo
ampliado, quando o setor apresentou aumento de 1,6% no volume de vendas na
comparação com novembro. Sete dos dez setores pesquisados pelo IBGE tiveram
resultado positivo na passagem de novembro para dezembro.
Governo
suspende, pelo menos até maio, decisão sobre compra de caças
Por Sergio Leo e Assis Moreira | De Brasília e Genebra
A presidente Dilma Rousseff suspendeu, pelo menos
até maio, qualquer decisão a respeito da compra de novos caças para a Força
Aérea Brasileira (FAB), mas levará em consideração o novo cenário criado com a
compra dos caças franceses Rafale pela Índia, na semana passada. É o que informou
ao Valor uma autoridade com assento no Palácio do Planalto, que garante haver,
ainda, chances de que a FAB opte pelo Super-Hornet, da Boeing americana.
O governo, segundo a fonte, vai esperar os
resultados das eleições presidenciais na França, em março, e das conversas de
Dilma, em abril, com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que tem
feito intenso lobby a favor do jato americano.
Na França, existe a expectativa que o Brasil
anuncie, em breve, a encomenda de 36 aviões de combate Rafale. Segundo
informações da imprensa francesa, o governo do presidente Nicolas Sarkozy está
certo que Brasília confirmará a escolha do avião francês, no rastro da eficácia
do aparelho nas operações de apoio na revolução da Líbia e da decisão da Índia
de adquirir o avião.
Os franceses estão sendo agressivos na tentativa de
vender o Rafale, o caça mais caro do mercado, a ponto de baixar bastante o
preço para a Suíça. Uma oferta teria sido feita para fornecer 18 aparelhos por
2,7 bilhões de francos suíços - o preço inicial era de 4 bilhões de francos por
22 jatos.
A visita do ministro da Defesa, Celso Amorim, à
Índia, na semana passada, levantou, na imprensa e no setor aeronáutico,
especialmente da França, a expectativa que o Brasil acompanhe o governo
indiano, que anunciou, na semana passada, a decisão de comprar os caças
franceses.
Segundo apurou o Valor, Amorim, que não previa a
decisão da Índia ao iniciar a viagem a Nova Déli, chegou a conversar com o
primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, sobre a compra dos caças. Os
indianos estão dispostos a permitir que o Brasil conheça parte da
"documentação básica" que orientou o negócio, visto como uma tábua de
salvação para a francesa Dassault, fabricante do Rafale.
Ontem, após audiência com o ministro da Defesa do
Peru, Alberto Otarola, em Brasília, Amorim negou que haja decisão sobre a
compra dos caças e reafirmou que a palavra final será do Palácio do Planalto.
O fracasso de vendas do Rafale chegou a motivar
especulações sobre sua iminente retirada da linha de produção, o que provocou,
em Brasília, temor de falta de peças de reposição no futuro próximo, em caso de
opção pelo avião francês.
Ao mesmo tempo, com a demissão do ministro da
Defesa, Nelson Jobim, contrário aos caças americanos e favorável aos Rafale, a
presidente Dilma decidiu com Amorim, segundo define um assessor, "começar
do zero" o processo de escolha.
Na verdade, foi mantido o relatório feito pela FAB
no governo Lula, com os prós e contras de cada aeronave (concorre também o
Gripen, da Saab sueca), mas os concorrentes ganharam oportunidade de melhorar
suas ofertas.
Os EUA têm apresentado garantias de que será
concedido ao Brasil acesso a tecnologias sensíveis e garantias nunca dadas em
vendas anteriores dos caças da Boeing. Uma das principais restrições de Jobim
aos aviões dos EUA era o risco de veto do Congresso americano à venda de peças
essenciais aos aviões, no futuro, por motivos políticos e estratégicos.
Anac
quer só grandes em leilão de aeroportos
Por Daniel Rittner | De Brasília
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pode
endurecer a barreira de entrada para operadoras estrangeiras nos próximos
leilões de aeroportos. O objetivo é estimular a chegada de grandes empresas
internacionais na segunda rodada de concessões aeroportuárias, ainda sem data
definida. Além de Galeão (Rio) e de Confins (Belo Horizonte), o aeroporto de
Manaus tem as maiores chances de entrar na lista, depois do lote inicial de
privatizações.
No leilão da semana passada, os consórcios
precisavam incluir uma operadora com experiência de movimentar pelo menos 5
milhões de passageiros anuais. Não havia menção, no edital, se esse número se
referia à movimentação de um único aeroporto ou se dizia respeito à soma dos
aeroportos administrados pela operadora. A ideia em gestação é aumentar essa
exigência para 10 milhões de passageiros por ano, além de tornar explícito que
deve haver pelo menos um terminal com esse tráfego.
A mudança de regra impediria a participação, por
exemplo, de operadoras como a francesa Egis e argentina Corporación América nos
próximos leilões. O maior aeroporto da Egis, que faz parte do consórcio
vencedor de Viracopos, é o de Larnaca, no Chipre, com movimento anual de 5,5
milhões de passageiros. A Corporación América, com fatia de 50% no consórcio
que arrematou a concessão de Brasília, tem em Ezeiza sua mais importante
operação. O aeroporto de Buenos Aires processa 7,9 milhões de passageiros por
ano e é o 165º mais movimentado do mundo, segundo o Conselho Internacional de
Aeroportos (ACI, na sigla em inglês). Joanesburgo, o principal aeroporto da
ACSA, empresa sul-africana aliada da Invepar na proposta vitoriosa em
Guarulhos, aparece em 76º no ranking.
Além da necessidade de agilizar investimentos no
setor, o governo sempre ressaltou a absorção de know-how nas operações aeroportuárias
como um dos principais benefícios das concessões. A Infraero manteve 49% de
participação nos três aeroportos e a ideia era ganhar uma experiência que
pudesse ser replicada em outros terminais. No entanto, as operadoras
internacionais mais conceituadas ficaram fora da lista de vencedores do leilão.
A Secretaria de Aviação Civil, que conduziu o
processo das concessões, garante não ver problemas e manifesta confiança no
novo trio de operadoras privadas. Também encara com tranquilidade a ausência das
grandes empreiteiras brasileiras. Para o ministro Wagner Bittencourt, o
importante é que os consórcios vencedores comprovem a capacidade de honrar os
compromissos assumidos - por meio das garantias exigidas no edital, e que a
Anac de agora em diante elimine os riscos de descumprimento dos contratos.
A equipe de Bittencourt vê, inclusive, a criação de
sinergia entre as duas futuras operações da Corporación América. Antes de
ganhar o leilão por Brasília, a argentina havia arrematado a concessão do
aeroporto de São Gonçalo do Amarante, perto de Natal. Nos dois, fechou parceria
com a Engevix. Cada empresa detém 50%.
O Ministério da Fazenda levantou mais ressalvas ao
resultado do leilão. Com papel secundário nas concessões aeroportuárias, viu
com desconfiança o ágio médio de 347% e ficou preocupado com a viabilidade dos
lances vencedores, incluindo o da Invepar.
O Palácio do Planalto minimiza a derrota das
grandes empreiteiras. Para interlocutores da presidente Dilma Rousseff, elas já
estão suficientemente ocupadas com a construção de usinas hidrelétricas,
ferrovias e estádios no Brasil e com projetos importantes no exterior.
Portanto, só entrariam em novos empreendimentos com altas taxas de retorno e
isso explicaria propostas menos ousadas. No Planalto, entretanto, pegaram muito
mal as declarações de Carlo Botarelli, presidente da Triunfo, grupo que tem 45%
do consórcio vencedor de Viracopos. Ele chegou a relacionar investimentos
obrigatórios em terminais e em novas pistas à movimentação futura de
passageiros. Além disso, o nível de endividamento da Triunfo é objeto de
atenção no Planalto, que deverá colocar as concessões sob monitoramento do PAC.
ESPECIAL
Importação
em alta desestrutura setor têxtil
Há 20 anos a Stenville faz beneficiamento de
tecidos. George Tomic, sócio-diretor da empresa, conta que recebe os tecidos
dos clientes e os prepara para tingimento ou impermeabilização. Instalada em
Jundiaí, interior de São Paulo, a empresa usava, até o primeiro trimestre de
2011, pelo menos 80% da capacidade. "Mas desde abril do ano passado
deixamos de receber encomendas e a produção caiu", conta o empresário.
Atualmente, diz Tomic, a empresa trabalha com 50%
da capacidade. Em janeiro, ele faturou 40% menos na comparação com o mesmo
período de 2011 e as perspectivas para este ano não são boas. "As
encomendas não voltaram e se continuarmos assim fecharemos a fábrica até julho
porque não conseguimos mais pagar os custos fixos." No começo de 2011, a
Stenville tinha 130 funcionários. Hoje são 75.
Tomic credita a dificuldade da empresa à
importação. Ele conta que seus clientes são fabricantes de vestuário, de roupas
de cama e mesa e de calçados. "As encomendas caíram porque as importações
não são apenas de tecidos, mas de roupas já prontas."
A queixa de Tomic faz sentido. No ano passado, o
volume importado em roupas e acessórios aumentou 40,3% em relação a 2010. A
variação é, de forma disparada, a maior entre todos os 25 segmentos de
atividade em que o volume de desembarques é calculado pela Fundação Centro de
Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Depois do vestuário, o setor com maior
aumento no volume importado foi o de veículos, com elevação de 21,5%.
O volume de importação cresceu, mas a produção
física de vestuário em 2011 teve queda de 4,4% na comparação com o ano
anterior, segundo dados da pesquisa industrial mensal do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). O faturamento real do segmento contudo,
resistiu no ano passado, com alta de 2,9% em relação a 2010, pela pesquisa da
Confederação Nacional da Indústria (CNI).
"A indústria de confecção também passou a
importar não só matéria-prima têxtil, para reduzir o custo de produção, mas
também o vestuário pronto", diz Edgard Pereira, professor da Unicamp e
sócio de uma consultoria que leva seu nome. A importação de roupas já prontas
foi a reação da indústria de vestuário à concorrência externa, e foi o que
propiciou o aumento de faturamento, apesar da redução de produção doméstica.
"O problema é quem está atrás: o setor têxtil, prejudicado não só pela importação
da indústria quanto dos varejista", acrescenta Pereira.
A C&A e a Renner, as duas maiores redes de
lojas de departamento de vestuário do país, aumentaram as importações em ritmo
acelerado. A C&A trazia do exterior entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões
em 2008. Desde 2010 desembarca acima de US$ 100 milhões ao ano. A Renner, em
2010, ainda estava na faixa dos que importavam entre US$ 10 milhões e US$ 50
milhões. No ano passado, porém, comprou de fora mais de US$ 100 milhões. Tanto
a C&A quanto a Renner desembarcaram mais de US$ 50 milhões da China no ano
passado, sempre de acordo com estatísticas oficiais de comércio exterior.
Procuradas, as duas varejistas não comentaram o assunto.
"A importação não acontece mais somente por
preço ou sobra de mercado. Há uma mudança estrutural", diz Pereira. A
Stenville, a beneficiadora de tecidos de Jundiaí, é apenas uma das que
contribuíram com a queda de 14,9% da produção brasileira de têxteis registrada
pelo IBGE no ano passado. Além da queda de produção, o segmento amargou 9,2% de
perda de faturamento real em 2011. Foi o maior recuo entre os segmentos da
indústria de transformação, segundo o levantamento da CNI.
A importação começa a desestruturar a cadeia do
vestuário, atingindo principalmente os têxteis, diz José Augusto de Castro,
presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
"São números que já indicam ligeira desindustrialização. O importado está
tomando efetivamente o lugar do produto nacional." Há os que, dentro do próprio
setor, já protagonizam essa substituição.
É o caso da Maxim, que em 2010 produzia, por mês,
120 toneladas de um fio para a fabricação de esfregões de limpeza e tingia
outras 60 toneladas do produto. Um ano depois a produção caiu para 14 toneladas
mensais do fio e quatro toneladas de tingimento. "O fio chinês chega aqui
mais barato do que o custo da minha matéria-prima", diz Adalberto Oliveira
Martins Filho, dono da empresa.
A perda de clientes elevou a dívida, que chegou
perto de R$ 600 mil em janeiro. "Somos uma fiação pequena. Eu tinha 34
pessoas trabalhando em janeiro de 2011. Agora tenho 12 e semana que vem vou
demitir mais seis", afirma o empresário. A solução, diz, foi passar a
importar o produto que antes produzia. Se antes ele gerava cerca de 120 empregos
diretos e indiretos na região mineira de Alfenas, agora precisa de alguns
funcionários com pouco treinamento para receber as caixas, colocá-las no
depósito e depois enviá-las para os compradores. "Se eu vender duas
toneladas por mês do fio importado, consigo tirar R$ 50 mil. Produzindo,
ganhava R$ 10 mil ao mês."
O caso da Maxim, diz Pereira, mostra que a alta da
importação não é mais resultado do senso de oportunidade de um agente que
percebeu a demanda e um câmbio favorável. "É mais uma capitulação",
diz, referindo-se a empresários que investiram seu capital em produção por
muito tempo e agora desistiram. Em cadeia, esse fenômeno, diz ele, gera a perda
de uma cultura industrial difícil de recuperar. "Ficaremos sem a
qualificação da mão de obra e do empresário e sem as rotinas de trabalho
industrial. Isso não é refeito de uma hora para outra."
A perda de dinamismo dos segmentos de têxteis e
confecções refletiu na ocupação. Enquanto o emprego industrial total cresceu 1%
em 2011, na comparação com o ano anterior (segundo a pesquisa de emprego
industrial do IBGE), na indústria têxtil e de vestuário houve redução de 1,08%
e 3,23%, respectivamente.
Os dados da balança comercial Brasil-China mostram
outro lado perverso da desestruturação do setor no país: parte das roupas
importadas pelo Brasil pode estar sendo produzida com algodão verde-amarelo. A
China mais que triplicou as compras do algodão brasileiro no ano passado em
relação a 2010, quando passaram de US$ 140 milhões para US$ 569 milhões. Os
números não são decorrentes apenas da alta no preço da commodity. O volume
registrado foi 325% maior do que o verificado em 2010. Com o salto, os chineses
deixaram de ser o terceiro destino do produto nacional para serem os primeiros,
passando à frente de coreanos e indonésios, absorvendo 31% do total da
exportação brasileira dessa commodity.
"Metade da cadeia têxtil vai
desaparecer", estima Luiz Carlos Sandim, diretor da Sanfios, fabricante de
chenille, um fio em tecido especial usado principalmente em sofás. Ele conta que
no ano passado seu faturamento caiu um terço em relação a 2010.
Instalada em Americana, polo têxtil do interior
paulista, a empresa beneficia um fio que vai para outra fiação para só depois
virar tecido. Por isso, é difícil diversificar a produção. Em função do número
menor de encomendas, a empresa também demitiu um terço dos funcionários.
Para alguns, mesmo a diversificação não tem sido
suficiente. Em Santa Bárbara do Oeste, a Sandra Têxtil produz tecidos planos.
Em 2008, conta o dono, Ede Villanassi, 40% de sua produção de tecidos era
destinada a vestuário. Hoje apenas 15% dos tecidos que fabrica se transformam
em roupas.
A empresa tentou compensar a perda de parte da
clientela produzindo mais para outros setores. A indústria de calçados, por
exemplo, que há menos de cinco anos representava 45% de suas vendas, hoje
responde por 70% do faturamento. A maior dependência do setor calçadista,
porém, começa a preocupar Villanassi. "A indústria de sapatos também está
começando a sentir a concorrência dos importados", diz o empresário.
A Sandra Têxtil passou a produzir para fabricantes
de bolsas, segmento que não atendia antes e que significa 5% do faturamento da
empresa. Outros 10% da sua produção vão para móveis. "Estamos fazendo de
tudo." Ele lembra, porém, que o fornecimento para indústrias como
calçados, bolsas e móveis tende a oscilar mais. "O uso de tecido para
esses clientes muda muito conforme a moda."
Por isso, mesmo diversificando, a empresa não é
exceção no setor têxtil. Villanassi conta que até 2010 mantinha ocupada cerca
de 80% da capacidade de produção. No primeiro semestre a ocupação caiu para
60%. "Atualmente estamos produzindo com 37%." O número de
trabalhadores caiu de 18 em 2010 para dez hoje.
A diminuição da produção têxtil no país no ano
passado foi sentida também por quem está no começo de toda a cadeia de algodão.
A trading InterAgrícola compra algodão em pluma dos produtores e o vende a
indústrias no mercado.
Enquanto em 2010 60% das saídas do produto
destinavam-se ao mercado interno e 40% ao externo, a proporção se inverteu no
ano passado. Como o algodão é uma commodity, não há diferença para a trading em
vender para fora ou abastecer a demanda brasileira, de acordo com o diretor da
empresa e vice-presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão
(Anea), Marco Antonio Aluísio. "É até um pouco mais vantajoso vender aqui
em razão do custo do frete", diz. Mas as vendas ao mercado externo se
aqueceram com o apetite internacional. A China, que aumentou suas vendas de
têxteis e vestuário ao país no ano passado, é o maior compradora da companhia,
que contabilizou aumento de 20% no volume de vendas.
Indústria
têxtil de SC quer imposto menor para ficar mais competitiva
O setor têxtil de Santa Catarina pretende pleitear
na Fazenda estadual a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) devido pelas indústrias do setor dos atuais 17% para 12%. De
acordo com o presidente da Câmara Tributária da Federação das Indústrias de
Santa Catarina (Fiesc) e assessor da presidência da empresa têxtil Lepper,
Sérgio Alves, essa medida, bem como uma revisão do programa Pró-emprego, que dá
benefícios para importações, inclusive de produtos têxteis, pode ajudar a
melhorar a competitividade do setor.
Alves, ex-secretário da Fazenda de Santa Catarina,
defende que com as alterações o setor pode melhorar seus custos e ter mais
condições de competir. A alíquota de 12% já é aplicada aos têxteis produzidos e
vendidos em São Paulo. Pelas regras interestaduais do imposto, quem vende
produto têxtil fabricado em Santa Catarina a lojas em São Paulo paga 12%.
Porém, aqueles que produzem e vendem em Santa Catarina (SC) pagam 17% e ficam
em desvantagem diante dos que produzem, por exemplo, em São Paulo e
comercializam em SC, pois nesta operação pagam apenas 12%. Os têxteis que
chegam pelos portos catarinenses ficam em posição ainda mais vantajosa, pois
pagam 4% de ICMS.
A discussão ocorre em um momento em que o setor
têxtil catarinense, em especial o ramo de cama, mesa e banho, apresenta
resultado ruim. O segmento sofreu queda de 17,8% na produção industrial de
2011, segundo a Fiesc. O alto preço do algodão foi um dos problemas graves no
ano passado, principalmente em linhas no qual o insumo dificilmente pode ser
substituído por fibras artificiais, como é o caso das toalhas.
Para a presidente da Dudalina, Sônia Hess de Souza,
"qualquer reivindicação tributária legítima é bem-vinda".
"Estamos com uma carga tributária que está fora da realidade da
concorrência mundial." O presidente do Sinditex, que reúne indústrias de
têxteis e vestuário de Blumenau, Ulrich Kuhn, também defende a ideia e diz que
a "classe empresarial parte do pressuposto de que quanto maior o imposto,
poucos pagam muito, e quanto menor o imposto, muitos pagam pouco".
Tanto Kuhn quanto Alves entendem que as mudanças
tributárias não mudam o quadro do setor têxtil, mas podem trazer alívio. O
secretário da Fazenda, Nelson Serpa, disse que ainda não recebeu nenhuma
reivindicação formal e que, caso isso ocorra, ela entrará em avaliação.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
Analistas
estimam lucro menor para Vale
Por Vera Saavedra Durão | Do Rio
Projeções para o resultado da mineradora Vale
feitas por corretoras e bancos ouvidos pelo Valor estimam um lucro menor para a
companhia no último trimestre do ano, ante o mesmo período de 2010. Os valores
previstos estão próximos de R$ 8 bilhões, 20% abaixo dos R$ 10 bilhões
atingidos no mesmo período do ano anterior. Os números apontam para um ganho
acumulado em 2011 de cerca de R$ 37 bilhões, que, se concretizado, pode superar
o recorde de R$ 30,1 bilhões de 2010. O balanço será divulgado hoje.
A expectativa de um resultado menor para a Vale é
atribuída por analistas à redução nos preços do minério de ferro. A queda foi
de 20,2% nos preços de outubro a dezembro, ante o trimestre anterior.
A "flexibilização" (mudança) ocorrida no
sistema de precificação dos preços da mineradora por conta da pressão de
clientes chineses ajudou a manter os preços contraídos, segundo especialistas.
"Em consequência [da queda dos preços no spot, mais baratos], os chineses
migraram para o mercado à vista, cancelando os contratos Iodex [de longo prazo
com a mineradora]", destaca o relatório da Ágora Corretora.
As corretoras do Bradesco trabalha com projeções
baseadas na contabilidade brasileira. A casa prevê um lucro de R$ 8 bilhões
para a Vale no período, 20% menor que os R$ 10 bilhões atingidos no mesmo
trimestre de 2010. As estimativas apontam estabilidade em relação aos R$ 7,8
bilhões do terceiro trimestre de 2011. O Ebitda previsto é de R$ 14,6 bilhões,
semelhante ao conquistado no mesmo período de 2010 e 8,9% abaixo do recorde de
R$ 16,1 bilhões do terceiro trimestre de 2011.
A margem Ebitda da mineradora é estimada pela Ágora
em 59,6%, superior a de 55,2% do quarto trimestre de 2010 e abaixo dos 62,7% do
trimestre anterior de 2011. A receita líquida estimada é de R$ 24,6 bilhões,
7,1% a menos que no ultimo trimestre de 2010, apesar das projeções de vendas de
70 a 81 milhões de toneladas de minério de ferro no período.
As prévias de resultados feitas pelos bancos Itaú
BBA e BTG Pactual para a Vale se baseiam na contabilidade americana (US Gaap).
Os dois bancos também trabalham com queda do lucro da mineradora no quarto
trimestre. O Itaú BBA prevê lucro de US$ 4,28 bilhões, ante US$ 6,8 bilhões no
mesmo período de 2010, uma retração de 37,2%.
O Ebitda previsto pelo Itaú BBA é de US$ 7,4
bilhões, ante US$ 9,1 bilhões no quarto trimestre de 2010. A margem Ebitda
estimada pelo banco é de 52,2%, bem abaixo dos 69,4% do mesmo período de 2010.
A receita líquida soma US$ 14,3 bilhões.
O BTG Pactual projeta lucro de US$ 5,3 bilhões,
Ebitda de US$ 8 bilhões e receita líquida de US$ 14,7 bilhões.
Para o primeiro trimestre de 2012, as expectativas
dos analistas são de uma performance também fraca para a Vale por conta das
chuvas que castigaram Minas Gerais e agora prejudicam a produção de minério de
Carajás, no Norte do país.
O BTG Pactual aponta em relatório o preço do
minério de ferro como o principal motor dos resultados da Vale em 2012.
"Nossa visão ainda é que os preços na China vão ficar entre US$ 140 a US$
150 por tonelada, abaixo da média de 2011, o que vai se traduzir em ganhos
menores na comparação ano a ano." O banco espera uma recuperação dos
preços do minério somente no fim de 2012.
Brasil
pode derrubar resultado da MAN
Por Eduardo Laguna | De São Paulo
A fabricante de caminhões alemã MAN reportou ontem
desempenho recorde no ano passado, mas trouxe junto com as demonstrações
financeiras previsões que apontam para uma queda de 5% da receita no negócio de
veículos comerciais em 2012.
A expectativa reflete a contração de 15% prevista
para o mercado brasileiro de caminhões, onde a MAN - que atua no país com a
marca Volkswagen, sua controladora na Europa - teve a liderança de vendas no
ano passado.
A empresa espera um forte arrefecimento durante o
primeiro semestre, na esteira dos aumentos de preços decorrentes da adoção
neste ano da nova norma de emissão de poluentes - conhecida como Euro 5 -, que
exigiu mudanças no motor de caminhões e ônibus.
Somando-se a isso a estagnação no mercado europeu,
a MAN prevê queda tanto de receita quanto de resultado operacional do grupo em
2012.
A montadora confirma para o segundo trimestre a
estreia da marca MAN no Brasil, com a chegada do modelo extrapesado TGX. Foi
necessário realizar algumas adaptações da fábrica de Resende (RJ) - como o
remanejamento de fornecedores - para abrir espaço à nova linha.
No relatório que acompanha o balanço, a MAN diz que
2011 foi o melhor ano para sua operação na América Latina. Com vendas de 72,1
mil veículos, entre caminhões e ônibus, os volumes na região tiveram
crescimento de 10%, enquanto a receita avançou 14%, para € 3,6 bilhões (21,6%
do montante global), e a produção alcançou a marca recorde de 83 mil unidades.
Em todo o mundo, a MAN vendeu 155,52 mil veículos,
23% a mais do que em 2010. Já a receita global registrou a marca histórica de €
16,47 bilhões, marcando crescimento de 12% sobre os € 14,67 bilhões de um ano
antes.
Apesar disso, fatores não recorrentes derrubaram o
lucro da empresa para € 247 milhões, bem abaixo dos ganhos de € 722 milhões do
exercício anterior.
Segundo a montadora, o resultado na última linha do
balanço foi prejudicado, principalmente, por perdas extraordinárias de € 434
milhões assumidas para resolver uma disputa com a IPIC - uma empresa de
investimento do governo de Abu Dhabi - envolvendo a venda do grupo de serviços
industriais Ferrostaal.
Vale
usará terminal em Santos para soja e açúcar
Por Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
A Vale Fertilizantes pretende se tornar a maior
operadora de logística integrada para exportação de granéis sólidos do porto de
Santos (SP). Com investimentos de R$ 3,5 bilhões na Ferrovia Centro Altântica
(FCA) e na ampliação do Terminal Marítimo Ultrafertil (TUF), em Santos, ambos
sob sua concessão, a companhia passará a exportar soja e açúcar. Hoje, a
empresa apenas importa a matéria-prima para atender a demanda própria por
fertilizantes.
Quando concluída a expansão do TUF, atualmente em
licenciamento ambiental e prevista para entrega em 2015, a empresa terá
capacidade estática para armazenar 518,5 mil toneladas de soja e açúcar. O
volume equivale a 37% da oferta atual dos oito terminais que escoam as duas
commodities por Santos. A instalação com maior capacidade consegue estocar 280
mil toneladas de grãos.
Açúcar e soja são as duas principais cargas, em
volume, exportadas por Santos. Em 2011, responderam juntas por 27% das 97
milhões de toneladas movimentadas no porto. O TUF passou para a Vale com a
compra da Ultrafertil em 2010 e a criação da Vale Fertilizantes. "Até a
chegada do negócio Fertilizantes, a Vale não tinha um terminal portuário em
Santos. "A ideia era saber como maximizar as operações do terminal,
sabendo que ele tem área de expansão", diz Ricardo Buteri, gerente
executivo do terminal.
A ampliação portuária prevê a construção de mais
três berços de atracação no TUF, hoje com apenas um. Dois serão dedicados a
soja e açúcar e os outros dois para fertilizantes. A retroárea do terminal será
quadruplicada, para 800 mil metros quadrados. Serão construídos ainda um novo
pátio para enxofre e novo armazém para fertilizantes, além das instalações para
estocagem de grãos.
O investimento também contempla compra de material
rodante - mais 2.700 vagões e 148 locomotivas. "Estamos pensando não só na
ampliação do porto, mas na gestão integrada entre ferrovia e porto", diz
Buteri. O transporte do granel até o TUF será 100% ferroviário. A FCA corta sete
Estados: os quatro do Sudeste, Bahia, Sergipe e Goiás.
O investimento prevê ainda construção e adaptação
de terminais e pátios de apoio nas cercanias da malha da FCA. "São dois
terminais de transbordo, onde temos silos de estocagem, e 43 pátios, onde podemos
fazer manobras e transbordo de composições de locomotivas", diz. O
objetivo é ter a gestão sobre toda a logística, desde a captação da carga até a
entrega no porto para que sejam feitos os carregamentos nos navios.
Hoje, todo o enxofre descarregado no TUF - quase
1,5 milhão de toneladas em 2011 - segue para Uberaba (MG) e Catalão (GO).
Apesar de o terminal da Vale não operar
agronegócio, a FCA sempre transportou commodities agrícolas até o porto de
Santos para outros terminais. Com a saturação de áreas no porto, viu na
expansão do portfólio de cargas uma oportunidade de negócio e, ao mesmo tempo,
a chance de reduzir o gargalo logístico no país. "Com essa integração de
modais é possível evitar as filas quilométricas que acontecem em Paranaguá
(PR), com o caminhão descendo com grãos de Goiás e Minas Gerais por falta de
oferta de berço aqui em Santos".
Outro pilar da expansão do TUF foi a demanda por
fertilizantes. Segundo o executivo, em 2014 a movimentação de cargas da Vale
Fertilizantes já demandaria um píer adicional no TUF. Em dois anos, o terminal
começará a receber potássio da Argentina e rocha do Peru, todas plantas da
empresa.
Os granéis sólidos responderão por quase 50% da
movimentação do TUF. A importação de insumos para fertilizantes, pelo restante
do volume. Como o terminal é de uso privativo misto, pode movimentar carga de
terceiros desde que a própria seja preponderante.
Em 2011, a Vale Fertilizantes importou cerca de 2,6
milhões de toneladas, volume que poderá chegar a 6 milhões de toneladas com a
expansão do terminal. "O nosso nível de carga própria é tal que nos
capacita a fazer quase 6 milhões de toneladas de oferta na prestação de
serviço", afirma Buteri. Também haverá duplicação da oferta de tancagem
para granel líquido, que irá para 46 mil metros cúbicos. Além de movimentação
de amônia, já existente, a Vale operará álcool, cujo volume anual deverá ser
equivalente a 1 milhão de toneladas.
O novo TUF não terá manobras ferroviárias, o que
dará mais produtividade à operação. Serão construídos 10,6 km de linha férrea,
permitindo que o trem entre e descarregue a carga em no máximo seis horas.
"É um dos maiores ganhos desse projeto. A pera terá uma linha para cada
produto, não tem concorrência entre as cargas, é fluxo contínuo", afirma
Buteri. Uma linha será somente para enxofre, outra para granéis sólidos e outra
para fertilizantes. Serão três composições diárias com 85 vagões em média.
Positivo
lança conteúdo na internet para atrair usuário
Por Marli Lima | De Curitiba
Não é de hoje que os fabricantes de computadores
buscam novas fontes de receita para fortalecer seus negócios em um mercado
competitivo e de margens apertadas. Essa combinação entre concorrência
crescente e margens em queda é potencialmente explosiva, mesmo para as maiores
companhias do setor. Daí o cuidado com que as marcas estão criando estratégias
para desarmar o que, sem controle, poderia se converter em uma bomba-relógio.
Na Positivo Informática, líder do mercado brasileiro de computadores em número
de unidades, o plano está pronto. O projeto apoia-se em dois pontos: reforçar a
oferta de serviços aos clientes e criar um braço de atuação forte em São Paulo.
O estudo para a criação de novas áreas de atuação
começou em 2010. Tendo como exemplo o caminho tomado por multinacionais do
setor, a Positivo decidiu incrementar a oferta de produtos, mas com uma
diferença: o reforço não será no mercado empresarial, que se tornou foco das
concorrentes. "Somos mais fortes em varejo, então vamos atender o
consumidor", diz Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática.
Isso significa fazer com que a companhia de
equipamentos passe a olhar com atenção um termo que sempre foi mais comum no
setor de mídia: conteúdo.
A estratégia, que começou a ser adotada
"timidamente" em novembro, como classifica o empresário, será "
a grande novidade" de 2012. "Ao longo do tempo, [o reposicionamento]
pode mudar significativamente nossos resultados financeiros", afirma.
Quem entra no site da fabricante é direcionado para
um portal, o Mundo Positivo, onde há uma loja com produtos (livros, música e
jogos) e serviços (ajuda para quem tem o computador infectado por vírus, por
exemplo). São 6,5 mil livros eletrônicos em português e 1 milhão de músicas
disponíveis para download. No site também há anúncios publicitários, notícias
compradas de agências e análises de produtos feitas por equipes da própria
empresa. "Queremos ser um portal de notícias, como o UOL e o Terra, para
manter as pessoas próximas da nossa loja", diz Rotenberg.
A ênfase na chamada área de negócios digitais criou
outra base geográfica para a Positivo. Sediada em Curitiba, a empresa escolheu
a cidade de São Paulo para servir de base à nova frente de atuação. Com 60
profissionais, o braço paulistano já recebeu R$ 11 milhões em investimentos no
ano passado e conta com um valor no mínimo idêntico - talvez até superior -
para o exercício atual.
A Positivo também vê com expectativa o desempenho
da unidade inaugurada na Argentina, no ano passado. A concorrência no mercado
vizinho é menor, e as margens, melhores, afirma Rotenberg. No terceiro
trimestre, a empresa vendeu 190 mil notebooks no país vizinho sob a marca
Positivo BGH e assumiu a liderança de mercado, poucos meses depois de seu
ingresso. "A Argentina já vai transferir um bom lucro", diz
Rotenberg, que planeja sedimentar a atuação da primeira subsidiária
internacional antes de cruzar outras fronteiras. Recentemente, a empresa
participou de uma licitação no Uruguai, mas sem sucesso.
Os resultados financeiros mais recentes refletem o
esforço da Positivo para manter-se saudável. No terceiro trimestre, a empresa
obteve lucro líquido de R$ 3,2 milhões, revertendo as perdas do segundo
trimestre. Mesmo assim, o desempenho significou uma queda de 79% em relação ao
mesmo período de 2010. Os dados, segundo a companhia, incluem um ajuste
extraordinário no segundo trimestre, relativo à revisão da estrutura de
pós-vendas pela companhia.
Não há previsão de investimento para aumentar a
capacidade das fábricas. Mensalmente, a Positivo tem capacidade para produzir
20 mil PCs em Manaus, 10 mil computadores e 70 mil monitores em Ilhéus (BA), e
380 mil PCs, 60 mil gabinetes e 127 mil placas-mães em Curitiba (PR). Na
Argentina, são 60 mil notebooks e 30 mil placas-mãe/mês.
Depois de lançar um tablet de sete polegadas em
novembro, a companhia pretende apresentar no fim do mês a versão de 10
polegadas e, ainda neste semestre, estrear no segmento de ultrabooks, notebooks
mais finos e leves.
Escala permanece o ponto central da estratégia da
Positivo na produção de equipamentos. "Vamos brigar por volume
eternamente", afirma Rotenberg. Essa é a maneira com que a companhia
pretende competir, sem reduzir margens. "Apertar mais é impossível",
diz o empresário.
Não é fácil determinar preço na indústria de
computadores, sujeita a fatores que incluem da variação do dólar a acidentes
climáticos em centros de produção de componente. As enchentes na Tailândia, em
outubro, por exemplo, afetaram a oferta mundial de discos rígidos. Rotenberg
diz que o preço dos discos triplicou. Foi preciso revisar a administração dos
estoques e repassar parte do custo aos consumidores, uma medida que começará a
ser sentida nas próximas semanas. Os modelos mais baratos vão ficar cerca de R$
100 mais caros, e os que já custavam mais terão incremento de R$ 200.
A Positivo aguarda a confirmação do resultado do
pregão feito em janeiro, pelo Ministério da Educação, para a compra de tablets.
De qualquer maneira, a expectativa é que a demanda do governo neste ano será
maior que a de 2011, afirma Rotenberg.
Há três anos, a Positivo recebeu uma proposta de
compra da chinesa Lenovo e desde então frequentemente reacendem os comentários
de que a empresa estaria sendo sondada por grupos internacionais. Questionado
se pudesse voltar atrás e aceitar a oferta da Lenovo, Rotenberg é taxativo.
"Eu daria a mesma resposta: não. Acredito na empresa."
O empresário mantém a discrição sobre outra
negociação, que envolve uma parceria com a Foxconn. A gigante chinesa tem cinco
fábricas no Brasil - em Jundiaí (SP), Santa Rita do Sapucaí (MG) e Manaus. A
unidade mais recente construída em Jundiaí, ainda em fase de teste, vai abrigar
a produção local de produtos da Apple, como o iPhone e o iPad.
"Continuamos estudando [uma possível aliança]", diz Rotenberg. Dois
representantes da Positivo foram a Taiwan recentemente, com outros interessados
em estabelecer sociedade em uma fábrica de telas. "Discutimos
verticalização [o mesmo fabricante faz tudo de que necessita] há muito tempo.
Pesquisamos o assunto e nos colocamos como interessados para o governo e a
Foxconn", diz o empresário, sem revelar detalhes. Na indústria de PCs em
mutação, guardar segredo dos concorrentes é uma vantagem estratégica que não
muda.
FINANÇAS
Cai o
lucro dos grandes bancos no quarto trimestre
Os cinco maiores bancos do país - Banco do Brasil,
Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander - tiveram lucro
líquido total de R$ 11,86 bilhões no quarto trimestre de 2011. A queda em
relação ao mesmo período de 2010 foi de 9,2%, a primeira nesse tipo de
comparação desde o primeiro trimestre de 2009, logo após o estouro da crise
financeira internacional. Em relação ao terceiro trimestre, o recuo no lucro
consolidado foi de 6,3%.
O aumento da inadimplência, especialmente das
pessoa físicas, é um dos principais fatores que explica a piora nos resultados.
Segundo dados do Banco Central sobre todo o sistema, os atrasos subiram de 5,7%
em dezembro de 2010 para 7,3% no fim do ano passado.
Se entre outubro e dezembro de 2010 a despesa com
provisão para devedores duvidosos consumiu 20,1% da margem financeira gerada
pelos cinco bancos, no trimestre final de 2011 esse índice foi de 31,3%.
Considerando os créditos com atraso superior a 60
dias sobre o total da carteira de pessoas físicas e jurídicas, o Itaú foi o que
registrou o maior indicador entre os cinco principais bancos. O índice ficou em
5,9% no último trimestre, contra 5% no mesmo período de 2010. A segunda maior
alta foi do Santander, de 4,7% para 5,5%.
A inadimplência já havia crescido nos trimestres
anteriores, por causa do cenário de desaceleração da economia. E a expectativa
dos bancos era que a escalada chegasse ao pico nos últimos três meses de 2011 e
perdesse fôlego neste ano.
Entretanto, o que se desenhou nas divulgações de
resultados é diferente. As provisões para devedores duvidosos, que visam
proteger as carteiras de crédito de calotes futuros, continuam altas e os
próprios bancos reconheceram que o aumento dos atrasos pode não estar no fim.
"As provisões adicionais dos bancos estão bem
acima do total de créditos vencidos. Se por um lado isso mostra
conservadorismo, por outro indica que as instituições estão prevendo um cenário
ruim pela frente", diz Luís Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.
O Itaú Unibanco estima que ao longo deste ano ainda
vai ocorrer alguma deterioração nos empréstimos. "A inadimplência ainda
deve escorregar um pouquinho (...) no primeiro semestre, mas deve recuar na
segunda metade do ano", afirmou o presidente, Roberto Setubal, no anúncio
dos dados.
Fora do grupo dos cinco maiores bancos, o
PanAmericano também considera que a inadimplência será um desafio em 2012.
"Janeiro é sazonalmente um mês difícil, em que as pessoas têm vários
compromissos financeiros. Ainda que o nível da inadimplência já tenha sido
maior no passado, o atual não é bom, tem de baixar", disse José Luiz Acar
Pedro, presidente do banco (ver mais na página C12).
A carteira de crédito dos cinco bancos avançou
21,3% na comparação com dezembro de 2010, movimento puxado pela Caixa, que
elevou o saldo de empréstimos em 42%. Sem o banco federal, a expansão dos
demais teria sido de 17,9%, inferior à verificada pelo Banco Central no sistema
financeiro todo, de 19%, como mostra da cautela em relação à economia e à
deterioração da qualidade do crédito. Para este ano, a expectativa de aumento
das carteiras varia de 15% a 22%.
Mas não foi apenas a inadimplência que afetou os
resultados no trimestre. Houve particularidades. No Bradesco, as despesas
administrativas e de pessoal pesaram no resultado, em função da agressiva
estratégia do banco de aberturas de agências, após a perda do contrato de
administração do Banco Postal para o BB.
A banco abriu, de julho a dezembro, 1.009 agências.
Foram contratados, ao longo de 2011, 9,5 mil funcionários. "Mas o maior
impacto [dos gastos com expansão da rede de agências] já ocorreu", disse o
vice-presidente, Domingos Abreu.
O BB sofreu impacto do prejuízo do Banco
Votorantim, no qual possui participação de 50%, e do resultado do fundo de
pensão dos funcionários, a Previ. A perda do Votorantim no trimestre foi de R$
656 milhões (ver mais nesta página).
O Santander realizou provisões extraordinárias de
quase R$ 1 bilhão para processos trabalhistas em decorrência de sua integração
com o Real. Já o Itaú teve um resultado mais forte no quarto trimestre de 2010,
por causa de uma reversão de provisão para crédito, o que prejudicou a
comparação.
Cai
inflação implícita na NTN-B que vence em 2013
Em meio ao debate sobre o espaço para mais queda da taxa
básica da economia, a Selic, o mercado de títulos públicos opera com projeções
cada vez mais baixas para o rumo da inflação no curto prazo.
A chamada inflação implícita das NTN-Bs - parcela
do rendimento do papel que se refere à expectativa da variação do IPCA - vem em
trajetória de queda desde o início do ano, mas o movimento ganhou força na
última semana, diante da informação de que as coletas diárias de preços mostram
desaceleração da inflação, em especial da categoria de alimentos. O desempenho
mais favorável do IPCA neste início de ano também reforçou a sensação de alívio
da inflação, encorajando investidores a saírem dos papéis atrelados à inflação
para aplicarem em títulos prefixados.
Ontem, no início dos negócios, o rendimento da
NTN-B com vencimento em 2013, formado por uma taxa prefixada mais a variação do
IPCA, indicava uma inflação embutida de 5,41% ao ano, a menor observada ao
longo de 2012, segundo cálculos do mercado.
Para se ter uma ideia, a máxima do ano foi 5,77%,
atingida em 19 de janeiro. E, no dia 26 de janeiro - quando o Banco Central
divulgou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) indicando a disposição
da autoridade monetária em reduzir a Selic para um dígito diante da percepção
de que o nível do juro neutro no país é menor -, a inflação implícita estava em
5,72%.
Esse movimento, entretanto, ainda se baseia em
fatos de curto prazo e não pode ser entendido como uma mudança consistente do
cenário para inflação. "É verdade que o Banco Central ganhou grau de
liberdade em relação à inflação (na condução da política monetária), mas isso
não significa que as preocupações com o rumo dos preços tenham acabado, em
especial para 2013", afirma o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis
Otávio de Souza Leal.
Ele observa que, embora o Relatório de Inflação
mostre que o Banco Central trabalha com uma média de inflação de 0,62% ao mês
no primeiro trimestre, o IPCA em janeiro ficou em 0,56% e, em fevereiro, deve
ficar abaixo de 0,60%.
"É uma situação positiva, mas que afeta apenas
o curto prazo", diz Souza Leal. "A grande dúvida, e que não foi
eliminada, é sobre como a inflação vai se comportar à medida que a atividade
voltar a crescer."
AGRONEGÓCIOS
Importador
de etanol tem prejuízo em 2012
Depois de dar muito lucro no ano passado, com os
preços elevados do etanol no mercado interno, a importação do biocombustível
vem se convertendo em fonte de prejuízo em 2012. Somente em janeiro, entraram
no país 250 milhões de litros de etanol anidro, a maior parte contratada entre
outubro e novembro do ano passado, quando os preços internos estavam, pelo
menos, 13% mais altos.
O mercado estima que os navios que entraram no país
a partir de janeiro tenham desembarcado o produto a um custo entre R$ 1,25 e R$
1,40 por litro (com impostos). Algumas dessas operações, provavelmente,
registraram resultado positivo até o dia 13 de janeiro, quando o indicador
Cepea/Esalq para o anidro atingiu seu último pico, a R$ 1,33 (R$ 1,378 com
impostos) o litro. Depois dessa data, os preços recuaram para R$ 1,25 (R$ 1,298
com imposto) o litro na semana seguinte e, sete dias depois, já estavam em R$
1,16 (R$ 1,208) na usina. Desde o dia 30 de janeiro, estão estacionados em R$
1,15 (R$ 1,198) por litro, na usina.
Desde o começo da safra 2011/12, em maio de 2011,
até janeiro de 2012, foram importados 1,298 bilhão de litros do biocombustível,
segundo dados da Secex, compilados pelo Ministério da Agricultura. Em igual
intervalo do ciclo passado, esse volume se resumiu a 50 milhões de litros.
A maior parte - 1,048 bilhão de litros - entrou no
país quando os preços internos estavam mais altos, garantindo boas margens aos
importadores. Em meados do ano passado, o cenário era de uma forte quebra de
safra - que se concretizou - e havia preocupação com desabastecimento.
"Produtores e distribuidores de etanol e o
governo se reuniram para evitar a falta de etanol, e a importação foi uma
alternativa acertada", lembra Leonardo Gadotti Filho, vice-presidente
executivo de logística, distribuição e trading da Raízen (Cosan/Shell).
Assim, o bom negócio, potencializado pela
necessidade de mais etanol no mercado interno, atraiu mais players para a
operação. A variável, em parte inesperada, foi a redução, pelo governo, da
mistura de anidro na gasolina de 25% para 20%. A medida tirou do mercado uma
demanda de cerca de 1 bilhão de litros e o resultado é que em janeiro, o
mercado, até então em alta, entrou em declínio.
Segundo a Secex, somente em janeiro, entraram no
país 250 milhões de litros de etanol. Levantamento da empresa de agenciamento
marítimo Williams mostra que na lista das principais importadoras em toda a
safra estão a Total Distribuidora, do grupo da petroleira francesa Total, além
de Raízen, a americana Cargill, a Louis Dreyfus Commodities e a indiana Shree
Renuka Sugars. Apesar de estar fora dessa lista, a Copersucar também foi uma
grande importadora, com um volume de cerca de 250 milhões de litros. Mas,
segundo a empresa, todo o volume desembarcou no país em dezembro. Shree Renuka,
Cargill e Dreyfus foram procuradas, mas não se pronunciaram.
Um corretor que preferiu não se identificar disse
que a maior parte do volume que foi importado em 2012 ainda não foi
comercializada. "Pressionados a desocupar espaço no porto, alguns grupos
até optaram por transportar o produto até a usina", contou ele.
Outra pressão vem sendo exercida para a
comercialização desse produto. É que foi antecipado de abril para março o fim
da isenção de 25% do ICMS que até então incidia no anidro importado.
Em 2011, a operação de importação trouxe muitos
ganhos às empresas, diz o mesmo corretor. Segundo ele, houve casos extremos de
resultados líquidos na operação de R$ 1 mil por m3, nada desprezível se
considerar que os negócios que chegaram neste ano têm valor total de até R$ 1,4
mil por m3.
A Raízen, maior processadora de cana do país,
importou em toda a safra 250 milhões de litros. Gadotti Filho conta que, na
média, a operação foi positiva, mas reconhece que a carga que chegou em janeiro
- cerca de 25 milhões de litros - teve resultado negativo. "A carga é
entregue no porto de destino de 30 a 40 dias após fechado o contrato. Esse
momento pode coincidir com a virada do mercado. E foi o que aconteceu com as
cargas de janeiro."
Normalmente em alta, os preços do etanol nesta
entressafra de cana entraram em espiral de baixa. A redução da mistura de
anidro na gasolina, aliada à retração no consumo de hidratado, que abastece diretamente
os veículos, ajudou a derrubar os preços. Desde janeiro, o indicador semanal
Cepea/Esalq para o anidro acumula queda 14%, a R$ 1,1563 o litro na usina. Mas
essa retração ainda não trouxe grandes impactos para o consumidor. Os preços
ainda elevados na bomba fizeram com que o consumo em janeiro recuasse 39,6%,
para 413,324 milhões de litros ante janeiro de 2011, de acordo com o Sindicato
Nacional das Empresas Distribuidoras (Sindicom), cujas associadas representam
60% do etanol vendido no país.
Ontem, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica) informou que as vendas de etanol hidratado pelas usinas recuaram 31,6%
para 10,82 bilhões de litros no acumulado da safra.
São
Martinho amplia hedge e eleva preço de seu açúcar em 15%
Para maximizar o ganho com as cotações mais altas
do açúcar ao longo do ano passado, o grupo São Martinho, um dos maiores
sucroalcooleiros do país, aumentou sua posição de hedge para a próxima safra, a
2012/13. Em uma combinação de proteção ao produto e ao câmbio, a empresa
conseguiu alcançar até agora um preço médio 15% maior para o açúcar que será
produzido no próximo ciclo.
Até 31 de dezembro de 2011, a empresa havia fixado
42% do volume de açúcar que potencialmente deve embarcar na próxima safra a um
preço médio de 24,70 centavos de dólar por libra-peso. Na mesma época de 2010,
o percentual fixado era bem menor, de cerca de 30%.
A estratégia, explica o presidente do grupo, Fábio
Venturelli, foi desenhada no ano passado, logo que se vislumbrou um provável
arrefecimento nas cotações mundiais diante da maior produção da commodity no
Hemisfério Norte, sobretudo na Índia, Tailândia e na Rússia.
A companhia também aproveitou o pico do dólar em
2011 e ampliou as posições de hedge cambial. Com isso, conseguiu fixar US$ 151
milhões a uma cotação média de R$ 1,85. "Esse valor é equivalente ao
volume fixado de produto", esclarece Felipe Vicchiato, gerente de Relações
com Investidores.
A combinação resultou em um preço médio de R$ 1,060
mil por tonelada de açúcar, 15% mais alto do que o valor médio atingido nos
nove meses da atual safra (R$ 925 por tonelada).
Ontem, a companhia divulgou que obteve no terceiro
trimestre da safra 2011/12, que compreende o período de outubro a dezembro de
2011, lucro líquido de R$ 44,9 milhões, 35,6% menor do que os R$ 69,6 milhões
registrados em igual intervalo da safra passada. No acumulado dos nove meses do
atual ciclo, o resultado líquido foi de R$ 131,5 milhões, um pouco acima dos R$
130,4 milhões registrados em igual intervalo do ciclo anterior.
Venturelli esclareceu que a queda no trimestre se
deveu também à estratégia de comercialização do açúcar. Para elevar a
precificação, a companhia decidiu exportar mais a commodity no segundo
trimestre e não no terceiro, como no ciclo passado. Assim, no trimestre
encerrado em 31 de dezembro, a São Martinho exportou 198 mil toneladas, 13,9%
menos do que em igual intervalo da safra 2010/11.
Mas com a estratégia, a companhia conseguiu preços
médios de açúcar 12,9% mais altos nos nove meses da safra na comparação com
igual intervalo da 2010/11.
Como houve queda de 12,7% na moagem de cana, o
volume vendido caiu e pressionou o faturamento. No terceiro trimestre, a
receita líquida atingiu R$ 380,4 milhões, queda de 2,5%. No acumulado dos nove
meses da safra, a receita subiu 9,2% para R$ 1,107 bilhão.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização) ajustado no terceiro trimestre foi de R$ 154,2
milhões, 19,5% menor do que os R$ 191,5 milhões de igual período da safra
passada. A margem Ebitda caiu para 40,5% ante os 49,1% do mesmo trimestre da
2010/11. No acumulado da safra, o Ebitda também recuou de R$ 482 milhões para
R$ 464 milhões e a margem, de 47,5% para 41,9%.
O balanço dos nove meses da safra reflete uma
participação média de 58% da São Martinho nas vendas da usina Boa Vista, de
Goiás, pertencente à Nova Fronteira, joint venture entre São Martinho e
Petrobras Biocombustível.
Brasil
terá maior fatia do aumento do comércio de soja até 2021/22, diz USDA
O Brasil deverá responder por mais de 65% do
aumento do comércio global de soja até o fim da próxima década e isolar-se como
maior exportador mundial da commodity. Essa é uma das sinalizações de um
relatório divulgado nessa semana pelo Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA), com projeções sobre o setor para os próximos dez anos.
De acordo com o relatório, as exportações mundiais
de soja deverão aumentar 48,7%, para 137,4 milhões de toneladas, até a
temporada 2021/22. Na última safra, os embarques somaram 92,4 milhões de
toneladas.
O Brasil deverá chegar a 2021/22 com uma exportação
anual de 59,2 milhões de toneladas, quase o dobro das 30 milhões registradas no
ciclo 2010/11. Com isso, a fatia do país no comércio da oleaginosa deverá
saltar de 32% para mais de 43% na mesma comparação. Já os Estados Unidos, que
na safra passada abocanharam 44,2% do mercado, verão sua participação minguar
para 31,6%.
Na outra ponta, as importações chinesas deverão
continuar a crescer de modo acelerado. Ao todo, os desembarques do grão deverão
subir de 52,3 milhões, na safra passada, para 90 milhões de toneladas. Isso
corresponde a nada menos que 83% de todo o aumento das importações mundiais
esperados até 2021/22.
"Nos próximos anos, a China terá de tomar
algumas decisões políticas a respeito da opção entre produzir e importar milho
e soja. [Nossas] projeções pressupõem que essas políticas vão perseguir um
aumento da produção de milho, permitindo que as importações de soja cresçam
livremente", avalia o USDA.
Se as indicações estiverem corretas, a China será
responsável por mais de 65% das importações mundiais de soja em 2021/22, ante
cerca de 56% na safra passada. Ou seja, o comércio mundial de soja será, cada
vez mais, um jogo entre a China e o Brasil.
Em contrapartida, o Brasil deverá ter uma
participação tímida no aumento do comércio global de milho nos próximos anos.
Até 2021/22, as exportações globais do grão deverão
saltar 45%, de 90,5 milhões para 131,3 milhões. Os Estados Unidos deverão
responder por 36,7% desse aumento, acompanhados pelo grupo dos países
pertencentes à ex-União Soviética - sobretudo a Ucrânia - (29,9%) e a Argentina
(18,8%). Segundo o USDA, o Brasil deverá participar com apenas 11,5% da
expansão. Suas exportações deverão aumentar 52,2%, de 9 milhões para 13,7
milhões de toneladas- apenas o suficiente para manter a atual fatia de mercado,
de aproximadamente 10%.
O USDA projetou, ainda, que os preços agrícolas
internacionais deverão se manter acima dos patamares pré-2006, quando começaram
a subir de maneira mais acentuada até atingir máximas históricas. Segundo o
órgão, o aumento da demanda por grãos, oleaginosas e carnes nos países em
desenvolvimento, a contínua depreciação do dólar, os altos custos com energia e
o aumento na produção de biocombustíveis deverão sustentar os preços em
patamares elevados.
As restrições ao aumento da oferta também
contribuem para a manutenção dos preços em níveis elevados. "A produção
agrícola cresce em resposta aos preços altos e à melhora tecnológica, mas uma
série de fatores devem reduzir o ritmo de crescimento da produção. Muitos
países têm limitações para expandir a área de plantio, e o aumento ocorre em
terras menos produtivas. Além disso, o ritmo de crescimento da produtividade
média vem caindo ao longo das últimas duas décadas, em parte por causa da
redução dos recursos para pesquisa e desenvolvimento", pondera o órgão
americano.
O USDA chama a atenção, ainda, para o crescimento
da África e do Oriente Médio no comércio global de alimentos. De acordo com o
órgão, esta é a região onde o consumo de aves e carnes vermelhas deverá
registrar o crescimento mais expressivo. "Até o fim do período analisado,
os países da África e do Oriente Médio devem responder por metade das
importações de aves e 22% das importações de carne bovina". A região
deverá responder ainda por 48% do aumento nas importações globais de trigo, 48%
nas de arroz e 39% nas de óleo de soja.
O órgão afirma que exportadores agrícolas
tradicionais, como Argentina, Austrália, Canadá, União Europeia e Estados
Unidos, continuarão a ter um papel importante no comércio global de alimentos,
mas deverão perder cada vez mais espaço para países que fizeram investimentos
pesados no setor, como Brasil, Ucrânia e Cazaquistão.
Mudança
no perfil das exportações de suco aos EUA
As restrições que a Administração de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) impôs a cargas de
suco de laranja importado pelo país reduziram drasticamente as exportações
brasileiras da commodity em sua tradicional forma concentrada (FCOJ) para
aquele mercado. Em contrapartida, os embarques brasileiros para os EUA do suco
integral de laranja pronto para beber (NFC), que tem menor possibilidade de
rejeição, quase dobraram, em uma mudança de perfil que deverá durar pelo menos
até o fim deste ano.
Alertado sobre a presença de um fungicida proibido
nos EUA em suco importado (carbendazim), o FDA começou a parar navios e a
testar as cargas de diferentes países no dia 11 de janeiro. Permitido em
diversos produtores, inclusive no Brasil, o carbendazim foi banido no mercado
americano em 2009. No suco pronto para beber, a presença do fungicida é diluída
e seus baixos níveis de presença são aceitos pelos EUA. Já na forma concentrada
e congelada, o nível sobe e ultrapassa limites que, desde janeiro, passaram a
ser considerados inaceitáveis.
Com isso, as exportações brasileiras de FCOJ aos
EUA somaram apenas 846 toneladas em janeiro, ante as 5,151 mil enviadas no
mesmo mês de 2011, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). Essas vendas renderam US$ 1,692 milhão no mês
passado, muito abaixo dos US$ 8,646 milhões de janeiro do ano passado. Já os
embarques de NFC ao mercado americano chegaram a 40,928 mil toneladas em
janeiro, 103% mais que no mesmo mês de 2011. A receita desses embarques atingiu
US$ 15,644 milhões, alta de 97,4% na mesma comparação. Houve, portanto,
compensação.
As travas de Washington refletiram-se nas
exportações totais do Brasil. Os embarques nacionais de FCOJ alcançaram 27,6
mil toneladas em janeiro, 21,2% menos que no mesmo mês de 2011, conforme a
Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). Ao mesmo
tempo, as vendas de NFC ao exterior cresceram 13,3% e chegaram a 118,8 mil
toneladas. O NFC ocupa de cinco a seis vezes mais espaço do que o FCOJ, por
isso sua logística de transporte é mais complicada e influencia os preços, mais
elevados.
Até a semana passada, a FDA já havia impedido o
desembarque de 23 carregamentos de suco, 12 deles do Brasil. As cargas em
questão testaram positivo para o carbendazim em níveis acima do permitido - 10
ppb (partes por bilhão). No caso das cargas brasileiras retidas, sete eram de
FCOJ. O Valor apurou, contudo, que esse transtorno não deverá mais acontecer,
uma vez que as grandes indústrias exportadoras - Citrosuco / Citrovita, Cutrale
e Louis Dreyfus - vão evitar embarcar FCOJ aos americanos por pelo menos oito
meses.
Enquanto isso, as empresas desviam cargas para
outros mercados e identificam entre seus fornecedores de laranja aqueles que já
não utilizam o carbendazim. Há menos de duas semanas, o Fundo de Defesa da
Citricultura (Fundecitrus), mantido por indústrias e produtores, decidiu banir
o fungicida dos pomares de São Paulo, Estado que reúne o maior parque citrícola
do mundo e de onde saem mais de 80% das exportações brasileiras de suco de
laranja.
As indústrias brasileiras não acreditam que os EUA
compensarão todo o volume de FCOJ que deixará de ser exportado pelo Brasil com
NFC. Elas trabalham com a expectativa de que os clientes operem com estoques,
que devem desabar até o fim do ano, o que poderá levar os preços do FCOJ na
bolsa de Nova York a novas máximas, como as observadas logo após o início dos
testes da FDA. Mesmo com as disparadas, os futuros de segunda posição de
entrega do FCOJ acumularam queda de 3,41% entre 10 janeiro e ontem, segundo
cálculos do Valor Data.
Justiça
aceita arbitragem em discussão trabalhista
Em uma decisão ainda rara no Judiciário, a 76ª Vara
do Trabalho de São Paulo reconheceu a validade de uma cláusula arbitral
presente em um contrato trabalhista entre um alto executivo do mercado de
capitais e o BTG Pactual. A Justiça do Trabalho é normalmente contra o uso da
arbitragem para conflitos trabalhistas. Nesse caso, porém, o juiz Hélcio Luiz
Adorno Júnior considerou que o documento foi firmado por um alto executivo de
"notável formação acadêmica" e "expressivos vencimentos".
Após ter sido demitido em 2008, o executivo propôs
uma ação judicial contra o BTG Pactual pleiteando o pagamento do chamado bônus de
retenção - premiação com o objetivo de reter talentos e evitar a saída de
empregados estratégicos para a concorrência. Segundo o contrato, o executivo
poderia receber cerca de R$ 500 mil, em três parcelas a vencer em 2011, 2012 e
2013, caso permanecesse na empresa. A companhia alegou na Justiça que o
contrato tinha uma cláusula compromissória, segundo a qual qualquer conflito
deveria ser levado à Câmara de Arbitragem do Rio de Janeiro e não ao
Judiciário.
De acordo com o magistrado, a indisponibilidade dos
direitos trabalhistas e a hipossuficiência do trabalhador são os motivos que
têm impedido o reconhecimento de cláusulas arbitrais no contrato de trabalho.
Contudo, essa não seria a situação discutida no processo. O juiz Hélcio Luiz
Adorno Júnior entendeu que o executivo não teria sido coagido a aceitar os
termos do contrato de gratificação por ter "condições para negociar
livremente sua contratação". Além disso, o magistrado considerou que o
bônus de retenção foge do padrão dos títulos de natureza trabalhista,
declarando extinto o pedido formulado.
A advogada Priscila da Rocha Lago, do Demarest
& Almeida, escritório responsável pela defesa do BTG Pactual, afirma que a
decisão é um paradigma porque relativiza a interpretação atual do Judiciário
Trabalhista, exatamente em razão das peculiaridades dos contratos de trabalho
desses altos executivos.
Segundo a advogada, a Justiça do Trabalho tem
considerado inválidas as cláusulas arbitrais por entender que os direitos
trabalhistas são indisponíveis - ou seja, verbas das quais não se poderia abrir
mão. Há também o entendimento de que o empregado é a parte mais frágil da
relação trabalhista e poderia ser coagio a assinar contratos com previsão
arbitral. A maioria das decisões no Tribunal Superior do Trabalho (TST), porém,
envolve trabalhadores comuns. "No nosso caso já é diferente, pois os altos
executivos têm uma relação muito mais igual com o empregador. Em geral, são tão
disputados no mercado que podem negociar cada detalhe da sua contração",
afirma.
Para a advogada Selma Lemes, especialista em
arbitragem, a decisão é interessante porque o juiz aceita essa forma de
resolução de conflitos considerando que não há um desequilíbrio entre as partes
na relação de trabalho. "No caso dos altos executivos fica claro que, por
conta de toda a sua qualificação, há um alto nível de discernimento para
negociar esses contratos e optar ou não pelos termos e condições
estabelecidas". No entanto, segundo ela, o Tribunal Superior do Trabalho
ainda é resistente a esse entendimento, mesmo quando se trata de executivos.
O advogado Rafael Francisco Alves, do escritório
L.O. Baptista, Schmidt, Valois, Miranda, Ferreira, Agel, afirma que a decisão
reflete um posicionamento de vanguarda. "Até pouco tempo a Justiça não
admitia o uso da arbitragem trabalhista em nenhuma hipótese. Agora esse
entendimento já vem se flexibilizando". Para ele, a posição fixada na
sentença será significativa se prevalecer na jurisprudência. Principalmente
numa época em que há um aumento na contratação de executivos estrangeiros no
Brasil. "Em outros países, a inclusão de cláusulas arbitrais nesses
contratos é bastante tranquila", afirma.
Punição
fiscal às empresas brasileiras
A partir das duas últimas décadas do século passado
assistiu-se ao surgimento da multinacional brasileira. O fenômeno da
globalização e necessidade de conquista de novos mercados impulsionaram as
empresas nacionais em busca de oportunidades além-fronteiras.
Mas em vez de estimular e favorecer este esforço, a
legislação tributária brasileira criou um regime que desincentiva a
internacionalização e prejudica a competitividade das nossas multinacionais.
Esse regime, previsto no artigo 74 da Medida
Provisória nº 2.158-35/01, consiste em tributar os lucros das sociedades
controladas e coligadas, domiciliadas no exterior, no momento da apuração por
essas sociedades, sem aguardar pela sua distribuição, na forma de dividendos
para o sócio no Brasil. Momento este em que tais lucros deixariam de ser renda
das sociedades estrangeiras, dotadas de personalidade jurídica própria, para
passar a ser renda da controladora ou coligada brasileira.
Esse sistema perverso é uma singularidade
brasileira, não adotado pelos demais países, pelo qual a competitividade das
nossas empresas vê-se seriamente abalada, pois comporta um ônus fiscal mais
pesado do que o das suas rivais no mercado global.
É que esses países apenas adotam um regime
excepcional de tributação automática de lucros de certas controladas quando
estas auferem rendas passivas e são domiciliadas em território de baixa
tributação (regime "CFC" - Controlled Foreign Corporation), enquanto
que o Brasil fez dessa regra o regime geral de controladas e coligadas no
exterior, independentemente de qualquer condição.
A legislação tributária criou um regime que
desincentiva a internacionalização
A lei brasileira adotou um sistema que se afasta
totalmente do tipo CFC, por não ter caráter excepcional e finalidade
antielisiva, já que atinge, como regra geral, o lucro das sociedades
controladas ou coligadas no exterior, independentemente da natureza dos
rendimentos que o integram e do nível de tributação do país de seu domicílio. A
total inexistência de um elemento "abusivo" relacionado ou com o
domicílio ou com a natureza do rendimento leva a afirmar que a lei brasileira
não tem a natureza de uma lei "CFC", e que seu objetivo é puramente
arrecadatório.
Ainda mais grave é o caso das empresas brasileiras
que investem, direta ou indiretamente, em países que celebraram com o Brasil
tratados contra a dupla tributação e que contêm o artigo correspondente ao
artigo 7º do Modelo OCDE. Segundo esse artigo, o país de domicílio da sociedade
matriz (por exemplo, o Brasil) pode tributar os lucros externos de filiais ou
sucursais (estabelecimentos permanentes sem personalidade jurídica), mas no que
concerne às sociedades controladas ou coligadas (dotadas de personalidade
jurídica) a competência para a sua tributação é exclusiva do Estado de
domicílio destas sociedades (i.e., Dinamarca), com a consequente proibição de
tributação pelo Estado de domicílio do sócio (Brasil).
Na sistemática dos tratados, tais lucros só seriam
tributáveis pelo Estado de domicílio do sócio, quando distribuídos como
dividendos.
Porém, a regra clara do artigo 7º, tem sido
contestada por autoridades brasileiras que pretendem recusar a aplicabilidade
dos tratados com base em dois argumentos equivocados.
Um deles consiste em afirmar que a legislação
brasileira corresponde ao modelo das legislações estrangeiras do tipo "CFC",
e que, segundo a OCDE, não seriam incompatíveis com o art. 7º dos tratados.
Essa afirmação não é verdadeira, pois a OCDE apenas
admite essa compatibilização por reconhecer que as leis "CFC" só se
aplicam aos casos de abuso, o que não ocorre com a lei brasileira.
O outro argumento é o de que não se aplicariam os
tratados internacionais, uma vez que a legislação brasileira estaria tributando
o lucro (resultado de equivalência) do sujeito passivo brasileiro controlador
no Brasil e não o lucro da empresa estrangeira, pelo que não ocorreria um
conflito sujeito à aplicação do art. 7º do tratado.
Esse argumento é contrário à própria letra expressa
da lei brasileira que manda "adicionar" ao lucro líquido da matriz ou
controladora no Brasil, o lucro da sociedade estrangeira (art. 25, parágrafo
2º, II da Lei nº 9.249, de 1995 e parágrafo 4º do art. 1º da IN nº 213, de
2002.
Logo, o que se tributa no Brasil, não é o lucro da
empresa local, nem o resultado de equivalência patrimonial, que a lei expressamente
declara não tributável (parágrafo 6º da Lei nº 9.249), mas é o lucro da própria
empresa estrangeira que é adicionado ao do sócio no Brasil, tal como se ela
fosse transparente ou sem personalidade jurídica.
Tal lucro só é tributado nas mãos de empresa
brasileira por ser essa a única técnica possível para viabilizar a arrecadação
pelo Estado brasileiro, de impostos incidentes sobre pessoas estrangeiras.
A tentativa das autoridades de afastar a proteção
dos tratados desvirtuando a sua finalidade, poderá agravar o dano à
competitividade das nossas empresas e causar a perda de confiança no país pelo
descumprimento de compromissos internacionais.
Alberto Xavier é sócio do escritório Xavier
Bragança Advogados
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do
jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas informações
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