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COLUNAS
BH sem
direito a prorrogação
A capital mineira receberá os turistas que virão
assistir aos jogos da Copa das Confederações com obras espalhadas por
importantes corredores viários ou recém-concluídas. Ou seja: não haverá tempo
para testes e muito menos margem para atrasos. O torneio internacional ocorre
em junho do ano que vem, exatamente quando deve estar pronto o esperado BRT
(sigla em inglês para transporte rápido por ônibus). Já as finalizações da Via
710 (ligação entre as avenidas dos Andradas e Cristiano Machado) e do novo
terminal rodoviário da Estação São Gabriel ficarão para depois, enquanto o
aeroporto internacional de Confins permanecerá em reforma. Restará, então,
muito pouco até a Copa do Mundo.Um ano a mais, somente
Terra
improdutiva
O fracasso do assentamento de trabalhadores rurais
no Alto Paranaíba e no Triângulo Mineiro não impede novas ocupações. O Estado
de Minas mostra hoje que, nas duas últimas semanas, sem-terra invadiram a
Fazenda Santa Lúcia, em Serra do Salitre, a 80 quilômetros de Ibiá. Roberto
Macedo dos Santos é representante de uma das 71 famílias que estão vivendo na
propriedade. "Vou plantar de tudo um pouco", diz, indiferente à
realidade da região, com terrenos pouco ou nada cultivados, vendidos
ilegalmente para virar sítios de lazer. Incra planeja retomar lotes. Já foram
feitas 530 notificações em Minas
POLÍTICA
Depois
do fracasso, mais ocupações
MST invade novas áreas no alto Paranaíba, indiferente à
realidade dos assentamentos da região, onde lotes foram vendidos irregularmente
e viraram sítios de lazer
Maria Clara Prates
Enviada especial a Ibiá
Mesmo depois do malsucedido processo de
assentamento de trabalhadores rurais ocorrido na última década em pelo menos
nove projetos no Alto Paranaíba e no Triângulo Mineiro, as ocupações de terras
improdutivas prosseguem nessas regiões, desafiando a capacidade do governo
federal em lidar com a reforma agrária no país. Nas últimas duas semanas, a
apenas 80 quilômetros de Ibiá, onde se concentra grande número de
assentamentos, barracas de lona e bambu foram erguidas por sem-terra para
ocupação de uma nova propriedade rural – desta vez a Fazenda Santa Lúcia, com
700 hectares, localizada em Serra do Salitre. Sob um sol escaldante, 71 famílias
esperam o tempo passar e sonham com dias melhores, indiferentes aos problemas.
Sob a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), os escolhidos
para a ocupação têm de comprovar vínculo com o trabalho no campo, numa
tentativa de afastar o risco de novos insucessos.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
na Agricultura Familiar (Sintraf), o técnico agrícola Sérgio da Silva Reis, que
apoia a nova invasão, disse que os candidatos a um terreno são cadastrados e
vão sendo convocados sem interferência política. Silva Reis, que no passado
viveu sob lona em uma ocupação em Araxá, confirma que existe um verdadeiro
comércio de lotes de assentamentos em Ibiá, assim como o desvirtuamento no uso
das propriedades, conforme o Estado de Minas mostrou com exclusividade na
edição de ontem. Em assentamentos nos municípios de Ibiá e Uberlândia, que
deveriam abrigar centenas de famílias comprometidas com o cultivo da terra, a
reportagem do EM encontrou áreas abandonadas, sítios usados para lazer, ranchos
de pesca, casas confortáveis, igreja evangélica e pequenos comércios. No cargo
há apenas um ano, Sérgio Reis disse que é contra o comércio ilegal de terras da
reforma agrária e tenta alertar os compradores para a gravidade do caso. Ele
garante, no entanto, que os beneficiários não cobram pela terra, apenas vendem
as melhorias do terreno.
Incertezas O corpo de Manoel Barbosa de Vasconcelos
é franzino e queimado pelo sol impiedoso da região. Às 15h da última
quinta-feira, ele lutava para cortar um bambu e erguer, da melhor forma
possível, a barraca em que vai viver nos próximos meses. A matéria-prima da sua
nova casa exige longas caminhadas até o bambuzal e o retorno é penoso no
terreno íngreme. Ainda assim, Vasconcelos não desanima. Conta que deixou Ilhéus
(BA) para trabalhar em lavouras do Paraná, até chegar em Catiara, Alto
Paranaíba, onde está há 17 anos. O trabalhador rural diz que estava plantando
em um terreno de 10 alqueires arrendado e, sobre tudo o que produzia, era
obrigado a entregar ao dono da fazenda 30%. “Sei que isso aqui é incerteza, mas
estou cansado de não ter nada meu”. Com o cuidado de um artesão, Manoel conta,
enquanto prepara sua cama de bambu, que gosta de plantar diferentes culturas,
como arroz, algodão, café e milho, e é isso que planeja na terra nova. “Se Deus
quiser vou conseguir”.
Mesmo de diferentes gerações, Manoel e Roberto
Macedo dos Santos, de 34 anos, comungam da mesma esperança. Depois de erguer
sua barraca de lona, Roberto agora ajuda um companheiro nos arremates finais.
“Sempre trabalhei para os outros. Nunca rendeu nada”, explica. Diz que é a
primeira vez que vive a experiência da ocupação de terra improdutiva e já faz
planos: “Quero trazer meus três filhos, de 15, 14 e 13 anos, para viver aqui
comigo”. De fazenda em fazenda, o trabalhador rural deixou Minas Novas, no Vale
do Jequitinhonha, região de extrema pobreza no estado, em busca de dias
melhores em Catiara há dois anos. A terra boa da região, no entanto, não lhe
rendeu frutos e Roberto decidiu se juntar ao MST. “Vou plantar de tudo um
pouco”, planeja. Já o trabalhador rural Lindolfo Ferreira Gomes e sua mulher,
Elis, não só ergueram a barraca como trouxeram tudo o que tinham para o
acampamento – sofá, geladeira, fogão, cachorro e três filhos. “A gente trabalhava
na roça e só fazia o de comer. Por isso, estamos aqui”, explica Lindolfo.
Perfil O
coordenador regional do MST em Minas, Edvaldo Soares dos Santos, diz que o
sucesso da agricultura familiar está em assentar somente trabalhadores rurais.
Ele condena as distorções e diz que isso é responsabilidade dos coordenadores
das invasões de terras improdutivas. Santos, que vivia em um assentamento em
Capitão Enéas, Norte de Minas, está no Alto Paranaíba para ajudar na instalação
do novo acampamento. Ele condena o comércio ilegal dos lotes da reforma agrária
e conta que abriu mão de seu terreno, que foi devolvido ao Incra. “Estou de
mudança para esta região e, mesmo tendo mais de 10 anos no lote, fiz a
devolução ao instituto.” O coordenador, entretanto, critica o governo, ao qual
atribui a responsabilidade de fiscalizar a distribuição das terras da União. “É
preciso acompanhar o processo.”
De olho
nos antigos grandes crimes
Edson Luiz e Diego Abreu
Brasília – Depois de apressar o julgamento dos
responsáveis pela morte da deputada Ceci Cunha em Alagoas, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) se prepara para intervir em outros casos. E não apenas
envolvendo crimes de mort,e como o da próxima quarta-feira, quando um
representante da entidade vai acompanhar no Ceará o julgamento de duas pessoas
acusadas de integrar um grupo de extermínio. O conselho vai intensificar a ação
voltada a fatos insolúveis de desvio de dinheiro público. Um exemplo é o rombo
na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ocorrido há mais de
10 anos e que deu prejuízos de mais de R$ 2 bilhões aos cofres públicos.
Esses casos fazem parte da pauta do Programa
Justiça Plena, que reúne 71 ocorrências a serem tratadas com prioridade pelos
tribunais. Neste ano, o CNJ pretende adiantar o julgamento dos processos que
estão sem resolução há anos, como fez em 2011 em relação ao caso da deputada
Ceci Cunha. "São indicações de várias instituições e relacionadas a todas
instâncias da Justiça, com exceção dos tribunais superiores", explica o
auxiliar da corregedoria do CNJ, Erivaldo Ribeiro dos Santos. Em relação à
parlamentar assassinada em 1998, o conselho interferiu na tramitação da ação,
que estava travada por causa dos inúmeros recursos impetrados pelos defensores
dos acusados.
O assassinato dos auditores fiscais em 2004, em
Unaí, Noroeste de Minas, também está no foco do conselho . Os fiscais Nelson
José da Silva, Eratósteles de Almeida e João Batista Lage, e o motorista Airton
Pereira de Oliveira foram executados em 28 de janeiro daquele ano, quando
realizavam uma vistoria em fazendas da região. No último dia 7, o Supremo
Tribunal Federal (STF) deu o último passo para que o julgamento dos acusados
ocorra. A Corte negou o recurso de um dos supostos matadores. Segundo entendeu
o ministro Ricardo Lewandowski, relator do processo, a ação impetrada tinha
caráter meramente protelatório. "Aqui se trata de uma questão muito
conhecida, uma chacina de fiscais do trabalho, e pretende-se postergar, de
forma indeterminada, o julgamento", disse o ministro, durante a análise da
questão.
A partir disso, o CNJ vai começar a fazer gestões
para que o júri em Unaí ocorra ainda este ano. O pedido para que o conselho
acompanhasse o caso foi feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que se
mostrou preocupada com a morosidade na tramitação do processo. "Trata-se
de um crime que afrontou o Estado, intimidando aqueles que, no exercício de
suas funções, fazem cumprir as leis. Por isso, mostra-se imprescindível uma
resposta firme do poder público, a fim de não repassar à sociedade, em mais uma
oportunidade, a sensação de impunidade", justificou o presidente da OAB,
Ophir Cavalcante.
Desvio Os
casos acompanhados pelo Programa Justiça Plena foram selecionados depois de
análise de 330 pedidos de interferência feitos por diversas instituições. Um
deles refere-se aos desvios da Sudam, cujo processo está sem solução desde
2001. Hoje existem as ações na Justiça contra supostos fraudadores de
financiamentos – entre eles o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) –, mas ainda não
foram julgados. Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que
fez a solicitação para que o CNJ interviesse, a denúncia foi recebida em
fevereiro de 2002, mas nada foi feito até agora. O último andamento do processo
ocorreu em dezembro de 2010, quando foram expedidas várias cartas precatórias
para as testemunhas do caso.
Segundo o CNMP, o que ficou conhecido como o
escândalo da Sudam foi uma sucessão de fraudes na aprovação, na implementação e
na fiscalização dos projetos com recursos da autarquia entre 1998 e 1999.
"Os autos revelam sofisticado esquema criminoso, com danos consideráveis
causados à coletividade. O processo contém quantidade considerável de réus,
apensos e volumes, o que dificulta expressivamente a prestação jurisdicional
pretendida", justificou o CNMP. "O processo já se arrasta por quase
uma década, estando ainda em primeira instância, sem perspectiva de decisão
final", acrescentou o conselho no ofício enviado ao CNJ.
Extermínio Na quarta-feira, será realizado em
Fortaleza o júri do motorista Silvio Pereira do Vale da Silva e do cabo da
Polícia Militar Pedro Cláudio Duarte, acusados de integrar um grupo de
extermínio no Ceará. Eles são suspeitos de matar com vários tiros Lenimberg
Rocha Clarindo em julho de 2006. Na época, a vítima foi assassinada por engano
ao ser confundida com um assaltante que horas antes havia matado um policial. A
investigação do caso chegou à Polícia Federal, já que envolvia agentes de
segurança do Estado. Para apressar o julgamento dos acusados, o CNJ, por meio
do Programa Justiça Plena, ofereceu apoio à Justiça cearense.
Memória
Mais de 450 anos
Cinco pessoas foram condenadas a penas que chegaram
a mais de 450 anos pela morte da deputada Ceci Cunha. Um deles foi o
ex-deputado Talvane de Albuquerque, que pegou 103 anos de prisão em regime
fechado. Ele foi, segundo entendimento do júri, o mandante da morte da
parlamentar porque era suplente dela e queria assumir a função para imunidade.
Mendonça Medeiros, que deu fuga aos criminosos, levou o menor tempo de prisão:
75 anos. Foi um dos raros casos em que um homicídio foi julgado pela Justiça
Federal.
Produção
sem documento
Leonardo Augusto
Enviado especial a Uberlândia
Dois agricultores que compraram
irregularmente os lotes dos sem-terra no assentamento Zumbi dos Palmares, no Triângulo
Mineiro, conseguiram, mesmo com a falta de estrutura, iniciar a produção de
leite e frutas e afirmam que só não aumentam os rendimentos por não terem
documentação que comprova autorização para uso da terra.
Vanderlei de Assis Ferreira, de 46 anos, assumiu um
dos lotes do assentamento há três anos. O pequeno pecuarista, dono de 16 vacas,
coloca no mercado de Uberlândia 160 litros de leite por dia, e é o responsável
pela única visita diária de um caminhão transportador de leite ao Zumbi dos
Palmares. Vanderlei assumiu o terreno ao transferir para o antigo morador uma
casa em Uberlândia. "Sempre trabalhei em fazendas de outras pessoas. Vir
para cá foi minha única chance de ter um negócio próprio no que eu gosto de
fazer", afirma. O leite é repassado a valor que oscila entre R$ 0,56 e R$
0,70 o litro, dependendo do regime de chuvas, que altera o volume e a qualidade
do pasto.
Vizinha de Vanderlei, Clarice Rosa de Oliveira, de
42, assumiu lote no assentamento há quatro anos. Depois de plantar abacaxi, dedica-se
hoje à lavoura de maracujá. Mantém 450 pés da fruta, que, entre janeiro e a
primeira semana de fevereiro, renderam à agricultora 100 caixas do produto
vendidas a sacolões de Uberlândia e ao Ceasa em Belo Horizonte a R$ 35 cada.
Vanderlei faz uma comparação com ex-moradores do
assentamento. "Tem muita gente que chega aqui, consegue um financiamento
do Incra e a primeira coisa que faz é comprar um carro velho. Gasta o dinheiro
e ainda não consegue andar no veículo, de tão desgastado. O que eu fiz foi juntar
o pouco que tinha conseguido e aplicar aqui", afirma.
Tanto Vanderlei como Clarice reclamam da demora do
Incra em liberar o certificado que lhes concede o direito de trabalhar na terra
em que vivem. Nenhum dos novos moradores do Zumbi dos Palmares tem o documento.
"Uma grande empresa fabricante de sucos vem aqui toda semana querendo
comprar os maracujás, mas sem o documento do Incra não consigo o título de
produtor rural, exigido pela indústria para que possa nos comprar o
produto", conta Clarice.
Segundo Vanderlei, outro problema que surge com a
falta da documentação é a impossibilidade de acesso a programas de
financiamento do governo federal para a agricultura familiar, como o Pronaf. Os
planos do produtor, caso obtivesse o documento, e consequentemente o acesso à
linha de crédito, são aumentar o rebanho e passar a fornecer leite para
cooperativas, que também exigem o certificado de produtor rural aos seus
fornecedores.
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