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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

03 de fevereiro de 2012 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PÁGINA

Ameaçada. Desprotegida. Assassinada
Ana Alice Moreira de Melo, de 35 anos, procuradora da Advocacia-Geral da União, foi morta em casa, com vários golpes, provavelmente de faca, por volta das 4h30 da madrugada de ontem. Acusado do homicídio, Djalma Brugnara Veloso, de 49 anos, dono de uma locadora de veículos, está foragido e com prisão preventiva decretada. O crime aconteceu após uma discussão do casal, ouvida pela babá, que, apavorada, se trancou no banheiro com os dois filhos dos patrões, de 3 e 7 anos. Em processo de separação, Ana Alice havia pedido proteção à polícia no dia 24 por ter sido jurada de morte pelo marido, conforme atesta inquérito no fórum de Nova Lima, ao qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade. No dia 25, a Justiça expediu medida protetiva, determinando que Djalma mantivesse no mínimo 30 metros de distância da mulher e dos filhos. O empresário foi notificado da sentença quarta-feira, o que pode tê-lo levado a cometer o assassinato horas depois.

Lobista registra dívida por serviços a Rogério Correia
Polícia Civil mineira apresenta cópia de documento de Nilton Monteiro, mentor da Lista de Furnas, em que ele cobra dívida do deputado estadual do PT por supostos serviços prestados. Monteiro usou programa de computador para escanear assinaturas e falsificar documentos, logotipos de empresas e selos de cartórios.

Supremo mantém poder do CNJ de fiscalizar juízes
Ministros do STF decidiram que Conselho Nacional de Justiça tem autonomia de investigar e punir.

Novo ministro assume a pasta e já enfrenta denúncias
Confirmado no comando do Ministério das Cidades, Aguinaldo Ribeiro assume na segunda a tarefa de dinamizar as ações da pasta já sob acusações de favorecimento a familiares
Paulo de Tarso Lyra, Juliana Braga e Júnia Gama

Vida cara em BH
Preços sobem na capital e inflação já acumula alta de 7,68% em 12 meses

Por mais que se saiba que janeiro é mês atípico na trajetória da inflação, o que vem se passando em Belo Horizonte não pode ser encarado sem preocupação. As famílias já vinham sinalizando que o material escolar e as matrículas escolares tinham disparado. O salário da empregada doméstica deu um salto e as taxas de administração de condomínio passaram a pesar no orçamento de quem mora em prédio de apartamento ou condomínio de casas. Tinha razão quem começou o ano reclamando do custo de vida em Belo Horizonte, capital que insiste em permanecer no pódio dos campeões de alta da inflação no país. É o que o comprovou o levantamento divulgado ontem pela Fundação Ipead (UFMG) sobre o comportamento do Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro. Foi de 2,60% o aumento médio dos preços em comparação com dezembro, empurrando para 7,68% o acumulado em 12 meses. É a mais alta taxa medida para janeiro dos últimos 10 anos, já que em janeiro de 2002 a alta dos preços na capital mineira tinha sido de 0,84%. Em janeiro do ano passado, o índice de aumento também foi elevado, mas não passou de 2,17%.
Já se previa que o aumento do salário mínimo, de 14,13%, teria grande repercussão sobre os preços, em especial sobre os de serviços. Mas é preciso levar em conta que o peso desse setor na economia e na formação do custo de vida é cada vez mais expressivo na maioria das economias desenvolvidas e emergentes. No Brasil não seria diferente, até porque, é exatamente esse setor que concentra a maior parte dos chamados non-tradables, bens e serviços imunes à concorrência direta das importações e, portanto, das variações cambiais. Uma ideia de como esses itens podem pesar nessa hora de corrida para corrigir o custo da mão de obra está estampado na variação dos preços das despesas com habitação, em que os classificados como encargos e manutenção subiram 2,76% em janeiro, acima, portanto, da média geral do mês. Pior ainda foram as despesas pessoais, que, segundo a pesquisa da Ipead, deram um salto ornamental de 5,52% sobre dezembro, mais do que o dobro do índice medido para janeiro.
É claro que o salário mínimo não vai subir todo dia. Mas o empurrão desse fator sobre o custo de vida no primeiro mês do ano mais os aumentos descarregados neste começo de ano são, quando nada, um sinal de perigo. Uma das principais apostas do governo para este ano é o rebaixamento geral das commodities, principalmente agrícolas, no mercado internacional. Se isso se confirmar, a pressão vinda dos serviços pode ser mitigada no resultado final. Mas, pelo menos por enquanto, as quedas nas cotações não foram suficientes. No varejo de Belo Horizonte, os preços da alimentação subiram em média 0,86%, mas os produtos in natura ainda ostentam o efeito das chuvas, com aumento de 5,18% em janeiro. O tempo é, portanto, de cautela. A experiência brasileira ensinou que a inflação é o pior imposto que se pode cobrar da sociedade, já que ele pesa mais sobre os pobres e poupa quem tem aplicações financeiras. Foi o controle rigoroso da inflação que permitiu ao Brasil edificar um mercado dde consumo que o coloca entre as grandes economias do mundo. É uma conquista que não vale a pena pôr a perder.

Brasil S/A
Zona de conforto Múltis têm US$ 4,9 tri em caixa. Não investem devido às incertezas. E a crise vai em frente

A parcela de analistas de investimentos mais atenta ao mundo real da economia que os seus pares hipnotizados pela evolução da crise na Zona do Euro, desconfiados da recuperação dos EUA e convencidos de que o crescimento ininterrupto da China desde 1978 criou bolhas de valorização artificial que vão estourar algum dia começa a ver mais na floresta que nas árvores desfolhadas sinais de preocupação.
Não se trata de aprofundamento da crise, devido à contaminação do que foi poupado até agora do vírus do endividamento tipo rosca sem fim dos Tesouros nacionais, como as grandes empresas globais e os países emergentes, com o Brasil no alto dessa lista de afortunados.
O problema, segundo estudo da boutique de investimento inglesa Bedlam, cujas análises têm forte viés estruturalista, é o oposto.
Ela foca a situação das empresas multinacionais de capital aberto, que ajustaram suas expectativas à "nova normalidade de crescimento econômico reduzido e maior concorrência" no mundo, como destaca em sua reflexão mais recente. Tais empresas empilham estimados US$ 4,9 trilhões em caixa – o equivalente a 19% da valorização de mercado de suas ações a preços atuais. Estão sólidas. Então, o que há para preocupar? Essa é uma das questões: o conforto da fartura.
Como o cenário que as rodeia é de incertezas, com demanda fraca e sujeita a encolher ainda mais em vários mercados importantes mundo afora – o da Europa, com certeza-, já fizeram o grosso da faxina que poderiam fazer em suas contas, liquidando dívidas, por exemplo.
Seu caixa como proporção do que devem é o mais alto dos últimos 20 anos, 36%. No caso das empresas da Ásia, ex-Japão, a relação chega a 46% da dívida. A saída normal seria o investimento operacional – exatamente o que, no Brasil, o governo gostaria de incrementar.
A tendência é que o dinheiro poupado pelas multinacionais engorde mais este ano. Em 2011, a geração de caixa foi de US$ 1,9 trilhão. Outro tanto em 2012 o elevará para US$ 6,8 trilhões – mais de 13 vezes o que deverá ser investido no Brasil este ano, na hipótese mais otimista. Ou quatro vezes o investimento previsto nos EUA.

Pressão dos acionistas
Mas nada disso será maior do que os governos de Barak Obama, ou de Dilma Rousseff, e todos os outros gostariam que fosse – talvez com a exceção solitária da China, onde as autoridades tentam segurar o investimento, sobretudo em infraestrutura e na construção civil.
A visão empresarial entre as multinacionais é que as oportunidades estão escassas no mundo. Por isso, não gastam. Esse é o problema. "Como os governos estão sendo forçados a encolher", diz o estudo da Bedlam, "qualquer recuperação econômica sustentada terá de vir do aumento dos investimentos privados". Como as empresas relutam abrir o cofre, acrescenta ela, cresce a pressão dos acionistas para que distribuam o caixa sob a forma de dividendos.
É ótimo para eles. E ruim para a economia, pois reduz a propensão do crescimento movido por inovação e pela expansão dos mercados.

Risco da produtividade
Nos EUA também preocupa uma tendência antiga que se espalhou para o mundo e já está aqui: o aumento da produtividade na indústria, implicando o emprego de menos gente por unidade fabricada. Se tal viés coincide com o encurtamento dos setores de serviços, situação dos EUA e da Europa, implica desemprego na veia, além de duradouro.
Nos EUA, o setor industrial empregava 17,2 milhões de pessoas em 1995, com lucro (ajustado ao dólar de 2011) de US$ 293 bilhões. No ano passado, com US$ 600 bilhões de lucro total, recorde histórico, o emprego na indústria estava reduzido a 11,7 milhões de postos, um terço menos que em 1995. Os 5,5 milhões de empregos cortados foram abrigar-se no setor de serviços, especialmente na área financeira, que hoje está em retração nos EUA e na Europa.

Imobilismo enigmático
Como romper o imobilismo de economias andando de lado, como aqui e nos EUA no ano passado, é quase um enigma. As empresas estão muito bem, mas não investem. E os governos ou devem muito, caso dos EUA, ou receiam as sequelas inflacionárias do laxismo fiscal, a situação do Brasil. O investimento potencial, assim, nunca é alcançado.
Tais situações se assemelham, até porque aqui o empresariado, como nos EUA, reclama dos custos de produção e do câmbio para voltarem a ser competitivos. A situação brasileira parece mais complicada.

Ameaçado veto ao aumento
Protegidos pelo voto secreto previsto no regimento interno da Câmara, vereadores de Belo Horizonte se articulam nos bastidores para manter o reajuste de 61,8% nos próprios salários
Leonardo Augusto

Apesar da pressão popular, um grupo de vereadores da Câmara de Belo Horizonte articula a derrubada do veto dado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB) ao projeto de lei que aumenta em 61,8%, de R$ 9 mil para R$ 15 mil, o salário dos parlamentares da Casa. O movimento é liderado por Leonardo Mattos (PV), um dos poucos vereadores que assumem publicamente o desejo de ganhar mais. O grupo dos que têm a mesma posição, mas prefere se esconder, somaria 26, conforme cálculos de integrantes tanto da ala dos que concordam com o aumento quanto da que não quer o reajuste. Para derrubar o veto são necessários 21 votos.
O maior aliado de quem não quer aparecer é a o regimento da Câmara. Conforme o texto, em dois casos há previsão de votação secreta: cassação de vereadores e apreciação de vetos do prefeito. "O pessoal delira por não ser obrigado a aparecer na votação", diz um parlamentar que, garante, votará pela manutenção do veto. O regimento proíbe até mesmo qualquer declaração dos vereadores em plenário depois da votação. Antes de acionar o "sim", "não" ou se abster, os parlamentares podem, porém, declarar o voto. "Mas é muito fácil. É só mentir", afirma o vereador.
"A população, para ser bem representada, tem que pagar bons salários a quem elege", afirma Leonardo Mattos. "Quem conseguiu impedir a destruição de um dos cartões-postais de Belo Horizonte, por exemplo, fui eu", argumentou o parlamentar, se referindo ao projeto, que não chegou a ser votado pela Câmara, alterando o zoneamento da cidade para permitir a ampliação da estrutura do antigo Instituto Hilton Rocha, na Serra do Curral, para se transformar em um centro de tratamento de câncer.
O presidente do Legislativo municipal, Léo Burguês (PSDB), defende o salário R$ 15 mil para os vereadores, mas que vai propor na reunião do partido, marcada para terça-feira, que os vencimentos dos parlamentares permaneçam no atual patamar. O encontro, segundo ele, servirá para definir a posição da legenda na votação do veto. A bancada tucana na Câmara é formada por quatro vereadores. "Independentemente da posição pessoal do vereador, nós temos que ser a caixa de ressonância da cidade, e a população de Belo Horizonte não quer o reajuste."
Alvo de protestos, sobretudo na internet, o tucano bloqueou comentários feitos em sua página na rede social Facebook. "As críticas precisam ser feitas de forma cidadã, não com palavras de baixo calão e ofensas pessoais", diz. Ontem, durante pequena entrevista coletiva, Burguês mostrou uma equipe de filmagem que acompanhava as perguntas feitas pelos repórteres.
Assim como o PSDB, o PSB deverá emitir posição para a bancada do partido na Câmara sobre o veto de Lacerda ao aumento dos salários. O pedido para que a legenda se pronuncie oficialmente sobre o reajuste será feito pelo vereador Fábio Caldeira, um dos três parlamentares socialistas na Casa.
A expectativa é de que o veto do prefeito ao reajuste dos salários seja votado na quarta-feira. Na terça, a comissão criada para analisar o texto, presidida por Elaine Matosinhos (PTB), deverá emitir relatório. Na mesma linha de Léo Burguês, a parlamentar afirmou ser a favor da manutenção do veto.
NA REDE Para ampliar a cobrança sobre os vereadores, entrou no ar esta semana um site para acompanhar a votação dos 41 vereadores e pressioná-los a não derrubar o veto do prefeito ao aumento de 61,8%. A página traz um quadro interativo com a posição de cada um deles atualizado automaticamente, de acordo com a primeira votação do aumento, a situação atual e os manifestos recebidos pelo site. A página traz ainda um infográfico com a novela do aumento em capítulos, galeria de fotos das manifestações contra os vereadores , abaixo-assinado a favor da manutenção do veto, além de notícias e espaço para comentários dos leitores. O site está hospedada no domínio www.naovaiderrubar.com e sua autoria é desconhecida.
REPÚDIO O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) divulgou ontem uma nota de repúdio contra a Câmara Municipal de BH por causa de agressões cometidas contra jornalistas que cobriam a entrevista coletiva concedida anteontem pelo presidente da Casa, Léo Burguês.
"Não bastasse a Casa do povo belo-horizontino ser objeto de chacota e palco de denúncia contra malversação do dinheiro público, vem se somar a esse triste rol de fatos burlescos a denúncia de agressão aos trabalhadores que têm por tarefa perguntar, inquirir, investigar e por missão informar, esclarecer, denunciar", diz a nota. O sindicato também criticou as declarações de Burguês, que, "para justificar os injustificáveis aumentos de salários dos vereadores tentou banalizar a desfaçatez dos seus pares comparando seus ganhos à laboriosa categoria dos jornalistas". (Colaborou Alessandra Mello)

FHC no muro

Muitos muros de Belo Horizonte apareceram cobertos com cartazes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segurando um quadro-negro. Em cada um deles aparece uma inscrição diferente, sempre em tom de humor e ironia. A autoria dos cartazes, que copiam a polêmica capa publicada pela revista Trip ano passado com uma entrevista do ex-presidente em defesa da descriminalização do uso da maconha, é desconhecida. Segundo o historiador e curado de arte Fernando Pedro, os cartazes fazem parte de uma tendência mundial conhecida como arte urbana que usa o espaço público como galeria de arte . "Na maioria das vezes para passar mensagens de alegria, esperança, ironia, humor e crítica política." (Alessandra Mello)

ECONOMIA
Inflação de janeiro em BH é a maior em 10 anos
 Reajuste de preços medido pelo IPCA dispara e fecha o primeiro mês do ano em 2,60%. Salário mínimo, impostos e ônibus pressionam indicador. Em 12 meses, alta é de 7,68%

Zulmira Furbino

O ano mal começou, mas a inflação disparou e já está doendo no bolso dos belo-horizontinos em 2012. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pela Fundação Ipead, avançou 2,60% em janeiro deste ano em comparação com dezembro do ano passado. É a taxa mais alta para janeiro nos últimos 10 anos. Em 2002, em igual período, o IPCA fechou com uma alta de preços de 0,84%. Em janeiro do ano passado, o índice foi de 2,17%. Os preços que mais subiram foram os dos produtos do grupo despesas pessoais (5,52%), seguidos pelos produtos in natura (5,18%), produtos não alimentares (3,04%), encargos e manutenção (2,76%) e serviços públicos (2,32%). Em 12 meses, a inflação acumulada na capital chegou a 7,68%.
Em relação aos produtos e serviços individualmente, as cinco altas que mais pesaram para o avanço do dragão na capital mineira em janeiro ficaram concentradas no pagamento de serviços de empregado doméstico (14,13%), IPTU (6,56%), ônibus urbano (7,03%), mensalidades escolares de nível universitário (8,37%) e do ensino fundamental (11,46%). Em termos de contribuição para o IPCA de janeiro, esses itens contribuíram com 0,62, 0,33, 0,28, 0,21 e 0,19 pontos percentuais, respectivamente
Mesmo assustando os consumidores, esse avanço de preços é considerado sazonal, uma vez que janeiro concentra muitos fatores que induzem à carestia: aumento do salário mínimo, da passagem de ônibus, das mensalidades e material escolar e do IPTU. "O índice foi bem mais alto do que o esperado, mas essa foi uma variação esporádica, que não pode ser tomada como tendência inflacionária para 2012", pontua o diretor adjunto da Fundação Ipead, Wanderley Ramalho.
O problema é que Belo Horizonte vem sendo sistematicamente castigada pela inflação. Basta dizer que o IPCA-15 de janeiro, índice que mede a prévia da inflação oficial de todo o Brasil, fechou em 0,65%. No fim do mês, deverá ficar em 0,55%, segundo estimativas de mercado. A auxiliar de serviços gerais Elizabeth Pereira e a professora Célia Regina de Freitas já sentiram a fisgada. "Os preços dos alimentos subiram e o material escolar nem se fala. Tenho uma filha de 12 anos que estuda em escola pública. Gastei R$ 230 comprando mochila, cadernos, lápis e borracha", reclama a primeira. "A gente vê que tudo sobe. Meus filhos trabalham numa papelaria e chegam em casa horrorizados com os valores que os pais estão gastando com a lista de material", observa a segunda.
Impactos Para Wanderlei Ramalho, a inflação muito mais alta do que a expectativa para o mês foi puxada fundamentalmente pelo aumento do salário mínimo, elevado em 14,13% no primeiro mês do ano, agregado ao aumento de preços dos transportes, material escolar e IPTU. "Tudo voltará ao normal a partir de fevereiro", defende. Thiago Curado, analista de inflação da Tendências Consultoria, concorda que janeiro é um mês atípico no país em matéria de alta de preços. Ele acredita, porém, que os impactos do aumento do salário mínimo só serão sentidos para valer em fevereiro e março, meses nos quais os patrões reajustam os salários dos trabalhadores domésticos. "Demora um certo tempo para o repasse chegar ao mercado", diz.
Além disso, a trajetória da inflação em Belo Horizonte e no Brasil seguiu direções diferentes. "O IPCA-15 mostra que o resultado para o país foi ligeiramente favorável. O preço da gasolina caiu e o do álcool vai cair até o fechamento de janeiro" aposta. Para o resto do ano porém, ele não vê trégua significativa nos preços "Em fevereiro haverá uma desaceleração, mas o cenário está longe de ser tranquilo no que se refere à inflação de 2012", diz. Ele lembra que haverá pressão de preços por conta da demanda interna aquecida e que o próprio aumento do mínimo é um combustível para a aceleração do consumo. "O governo tem dado sucessivos sinais de que em busca de um crescimento de 4% vai impulsionar a demanda. A meta da inflação deixou de ser uma prioridade política, mas de qualquer maneira, a inflação de janeiro deverá ser uma das priores do ano.

Taxas de juros têm redução na ponta
Se a inflação está em alta, os juros cobrados na ponta do consumo já estão caindo. Segundo levantamento da Fundação Ipead, em janeiro de 2012 as taxas de juros ao consumidor encolheram até 17,23% em Belo Horizonte entre dezembro de 2011 e o mês passado. A maior queda ocorreu nas taxas praticadas pelo setor alimentício, reduzidas em mais de 17%. Os juros cobrados pelas financeiras independentes estão 16,74% menores. O financiamento de automóveis novos também ficou mais barato: as taxas pré-fixadas pelas montadoras encolheram 3,70% e as pré-fixadas multimarcas 7,69%. O juro do cheque especial ficou, em média, 1,17% mais leve. A própria taxa básica de juros da economia encolheu 1,17% em janeiro deste ano.
"Como era esperado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) promoveu mais um corte na taxa básica de juros da economia trazendo-a para 10,5% ao ano em sua reunião de janeiro", observa o diretor adjunto do Ipead, Wanderley Ramalho. Na avaliação dele, uma leitura atenta da ata mostra que o Copom acredita haver ainda espaço para continuar com a flexibilização da política monetária, uma vez que atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic deslocando-se para o patamarde um dígito", diz.
Ele lembra, porém, que o Copom deixa claro não acreditar em descompasso entre oferta e demanda capaz de pressionar a inflação. Por outro lado, chama a atenção para uma possível ameaça ao processo inflacionário brasileiro que decorreria de reajustes salariais acima dos que seriam recomendados pela análise da produtividade dos diversos setores. "Do ponto de vista do consumidor, a recomendação continua sendo um uso bastante seletivo das diversas alternativas de crédito disponíveis uma vez que não há o que comemorar quanto à enormidade das taxas praticadas na ponta do consumo", orienta. (ZF)

Concorrência vai viajar de ônibus
 Linhas rodoviárias serão licitadas em abril e perspectiva é de redução de até 10% no preço da passagem interestadual

Pedro Rocha Franco

Frota mais nova e confortável, passagem mais barata e número maior de trechos. A licitação do transporte rodoviário interestadual que deve ser publicada em abril pinta um modelo revigorado das viagens de ônibus Brasil afora. Na tentativa de conter a expansão do setor aéreo, que, nos últimos anos, vem sufocando a indústria rodoviária, com mais de duas décadas de atraso, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) prevê mudanças robustas no principal modal do país, que somente até setembro do ano passado transportou mais de 116 milhões de passageiros. Com as modificações previstas, os principais percursos originados na capital mineira podem ter redução de 10,2% ainda este ano.
Em Minas, no comparativo entre os três primeiros trimestres dos dois últimos anos, segundo a ANTT, houve redução do número de passageiros de 2,49%. Enquanto de janeiro a setembro de 2010 foram transportados 15,33 milhões de pessoas, no mesmo período do ano seguinte o total caiu para 14,95 milhões. Não é apenas de uma freada de um ano para o outro. De 2005 até 2010 (os dados de 2011 ainda não foram fechados), o número de embarques e desembarques nas rodoviárias mineiras retraiu 8,49%. A modificação é reflexo do barateamento das passagens aéreas e também das condições do serviço prestado pelas empresas de ônibus, que, para piorar, ainda têm estradas ruins pela frente.
Valores Mas, de acordo com o que está previsto no edital do Projeto da Rede Nacional de Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional de Passageiros (ProPassBrasil), novas regras devem modificar bruscamente esse cenário. A principal medida deve ser sentida no bolso dos passageiros. A mudança no coeficiente que calcula o preço das passagens foi modificado e estudo da ANTT mostra que 84% das pessoas transportadas devem ter o valor da tarifa reduzida.
É o caso do trecho com maior demanda em Minas (BH-Rio). Para os 511 mil passageiros que usam o trecho anualmente, o custo da passagem deve cair de R$ 54,06 para R$ 48,55 – o valor não considera o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); pedágios e taxa de embarque. A viagem de Belo Horizonte para São Paulo deve ter redução semelhante, caindo de R$ 72,41 para R$ 65,03. "O aéreo cresce, mas o terrestre também. O setor rodoviário mantém sua clientela, mas uma rota pode sentir mais que a outra", afirma a superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Sônia Haddad, que ontem numa audiência pública em Belo Horizonte, discutiu os últimos detalhes do edital.
O edital do transporte público interestadual é uma premissa considerada ainda na Constituição de 1988. Mas, de lá para cá, o governo federal adiou o que deveria ser obrigatório por causa das reclamações oriundas do setor de transporte. As maiores empresas criticam o modelo por serem obrigadas a assumir percursos pouco rentáveis. Isso porque, os 60 lotes que compõem o edital mesclam trechos muito lucrativos, como BH-Rio, e outros bem menos interessantes.

Insatisfação a bordo
Anualmente, os irmãos Maria Akemi e Ivan Akira cruzam cinco estados para passar férias com os parentes em Alfenas, no Sul de Minas. De Petrolina, no interior de Pernambuco, até o Terminal Governador Israel Pinheiro, em Belo Horizonte, os estudantes enfrentam mais de 30 horas de viagem. Mas não é sempre que o tempo previsto na passagem se confirma. É comum a quebra do ônibus. Numa certa ocasião, o veículo apresentou problema por três vezes e, além do medo, eles tiveram que acrescentar umas boas horas na viagem. "E tem mais: O banheiro é insuportável e a segurança não é nada boa. Uns ônibus fazem um barulho excessivo e têm pneu careca", afirma Maria.
Mas, segundo as novas regras do transporte interestadual, a data de fabricação de cada veículo não pode ultrapassar 10 anos e a média da frota deve ser de cinco anos. Além disso, devem ser instalados sistemas de monitoramento das viagens, o que deve permitir fiscalizar velocidade, percurso e número de passageiros, garantindo melhorias no serviço. Na lista de melhorias, por Minas devem passar 18 linhas novas, o que garante maior capilaridade do transporte. No entanto, ainda assim, menos de 40% do total de cidades terá viagens interestaduais. Assim, em alguns casos, será preciso o passageiro seguir para uma cidade maior para na sequência seguir para outro estado.
Entre os novos percursos mais demandados estão Uberlândia-Campinas e Belo Horizonte-Volta Redonda. Essas rotas devem suprir os problemas de infraestrutura dos aeroportos de menor porte, absorvendo parte desses passageiros. "Estamos entre a cruz e a espada. De um lado, temos o inconveniente das estradas e dos ônibus, enquanto, do outro o problema é a infraestrutura dos terminais aéreos. É arriscado viajar para São João del-Rei e Governador Valadares, por exemplo. Se chove um pouquinho, não é possível decolar", afirma o advogado Leandro Amaral Andrade. 

Apreensão recorde chega a R$ 1,47 bi
 Cigarros, relógios e bebidas não alcoólicas lideraram a relação de mercadorias retidas pela Receita em 2011

Vera Batista

Brasília - As apreensões de mercadorias feitas pela Receita Federal em portos, aeroportos e postos aduaneiros bateram novo recorde no ano passado. Cresceram 16% em relação a 2010, somando R$ 1,47 bilhão. Segundo o subsecretário de Aduana e Relações Internacionais, Argolo Checcucci, os veículos continuaram no topo da lista, representando R$ 120,6 milhões, um aumento de 13,69% no confronto com o ano anterior. A Receita vem, nos últimos anos, modernizando as técnicas de repressão a práticas irregulares, entre outros motivos, para acompanhar a sofisticação dos delitos.
Observamos uma mudança no perfil do contrabando. Na década passada, era mais comum os contrabandistas usarem comboios de ônibus. A ação da Receita praticamente eliminou essa prática. Houve, então, diversificação e crescimento da apreensão em outros tipos de veículos, como carros de passeio ou às vezes até caminhões que se prestam a trazer mercadorias ilegais, ressaltou Checcucci. Outro item que se mantém em destaque são os cigarros. As apreensões cresceram 21,97% em 2011, somando R$ 114 milhões.
As apreensões de relógios, com R$ 108,5 milhões, mostraram alta de 134,99% ante 2010. As bebidas não alcoólicas, embora em valores absolutos bem menores (R$ 5,9 bilhões), apresentaram a maior evolução percentual, de 880,22%. A entrada no país de forma irregular de bolsas e acessórios cresceu 117,91%, alcançando R$ 61,14 milhões.
Na direção oposta, as apreensões de eletroeletrônicos, num total de R$ 103,3 milhões, diminuíram 10,52% em 2011, em comparação com 2010. Da mesma forma, a entrada ilegal de inseticidas, fungicidas, herbicidas e desinfetantes baixou 38,63%, para R$ 2,833 milhões. De acordo com os dados da Receita, do total de apreensões, R$ 314 milhões se referem a operações de vigilância e repressão nas fronteiras do Brasil. Esse número é 28,8% inferior ao registrado no ano anterior.
O fisco aplicou multas no valor de R$ 111 milhões, o que representa alta de 52% sobre o ano anterior. A fiscalização, segundo Checcucci, gerou crédito tributário (quantia que está sendo cobrada) de R$ 4,6 bilhões, valor inferior aos R$ 4,9 bilhões de 2010. O aperto na fiscalização e o aumento das importações explicam o resultado de 2011, uma vez que o Fisco cobrou cerca de R$ 5 bilhões em tributos federais que não haviam sido recolhidos.
A Receita Federal também intensificou as operações de fiscalização de bagagens de viajantes nos aeroportos de todo o país. Cerca de 50 mil passageiros foram avaliados, por dia, pela autoridade aduaneira só terminais internacionais. De acordo com dados da instituição, o número de voos para o exterior cresceu 9% em 2011, atingindo 187.529 viagens contra 172.365 no ano anterior. Não há dados específicos dos resultados da fiscalização das bagagens.

CHINA NO ALVO DAS OPERAÇÕES
Com o avanço das importações durante o ano passado, operações especiais foram montadas pelo fisco em conjunto com outros órgãos do governo. A China foi um dos principais alvos e esteve no foco da Operação Panos Quentes 2, que reteve para inspeção 2 mil toneladas de tecidos e roupas avaliadas em R$ 38,35 milhões. Deste total, R$ 4 milhões permanecem retidos. O mesmo ocorreu durante a Operação Passos Largos, que atuou no setor calçadista. Entre as irregularidades verificadas, estão a apresentação de declarações falsas de origem (triangulação) para evitar os tributos, classificação fiscal incorreta para driblar a cobrança dos impostos e subfaturamento. (Com agências)

NACIONAL
Proposta deixa alunos da rede pública sem tablets

Paula Filizola

Brasília – Depois de muitas indefinições, a proposta do Ministério da Educação (MEC) de disponibilizar tablets – computadores portáteis semelhantes a uma prancheta – nas redes públicas de ensino começa a sair do papel. Mas com mudanças. À frente da pasta há cerca de uma semana, Aloizio Mercadante anunciou ontem que os professores – em vez dos alunos, como era esperado – receberão o equipamento. O projeto Educação Digital será implementado inicialmente nas 58.700 escolas públicas brasileiras com banda larga e localizadas em áreas urbanas. A meta do MEC é entregar os computadores até o fim deste ano aos docentes do ensino médio.
Segundo o ministro, o programa foi formulado e finalizado na sua gestão, apesar de já estar em discussão há mais de um ano na Esplanada. "Eu tenho estudado isso há anos. Inclusive, quando estava no Ministério de Ciência e Tecnologia já estávamos prevendo essa compra." Mercadante afirmou que o MEC vai assumir integralmente a compra de 600 mil tablets. O orçamento deste ano da pasta prevê um gasto de cerca de R$ 180 milhões com as pranchetas.
Na visão de Mercadante, a inclusão digital deve começar pelos docentes. "Eles são os agentes desse processo, que será muito mais eficiente se os professores estiverem preparados", ponderou. O ministro esclareceu que atualmente cerca de 337 mil professores foram capacitados, por meio de cursos ofertados pelo MEC, para lidar com os avanços digitais. Mas, segundo o ministro, eles não são obrigados a participar da formação. "Os números demonstram que há um interesse grande dos professores", avaliou
Dados do Censo Escolar 2010 – o último disponibilizado pelo MEC – mostram que existem no Brasil cerca de 70 mil computadores nas escolas da rede pública e 51 mil laboratórios de informática instalados.tablets não inviabiliza o desenvolvimento de outros projetos digitais.

GERAIS
Colapso nas BRs agrava situação

Bruno Batista
Diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT)

As condições dos caminhoneiros é agravada pela penúria das estradas. É crítico num estado como Minas Gerais, que é dono da maior malha rodoviária do país, termos 58% das estradas com algum tipo de problema (dados da Pesquisa da CNT de 2010). O reflexo se dá primeiro na redução do nível de segurança e na queda de qualidade operacional dos veículos. Não conseguimos acompanhar nenhuma avaliação positiva ao longo dos anos. São rodovias antigas, boa parte na década de 1970, 88% em rodovias de pista simples e mão dupla, mas que recebe tráfego pesado do país inteiro. Se a malha não crescer ela estará comprometida.
A tendência do crescimento econômico é continuar, mas isso pode acabar sendo afetado negativamente pela falta de condições de escoamento, já que 60% do nosso transporte de carga é rodoviário. Para mudar isso é preciso investir mais nas ferrovias e hidrovias, mas isso tem de ser bem calibrado. Não podemos também cortar as verbas das estradas ou elas entrarão em colapso, já que estão saturadas. Em 2011 entraram em circulação mais de 10 milhões de veículos, mas só 657 quilômetros de rodovias federais foram construídos.
Para sanar todos os problemas encontrados seria necessário investir R$ 5,1 bilhões na recuperação do pavimento e R$ 547,1 milhões na conservação das rodovias mineiras, usando parâmetros do Dnit. O uso que se faz das rodovias para o transporte pesado não é competitivo. Cargas de grãos por meio rodoviário para serem levadas a longas distâncias significam prejuízo, mas não há alternativa. Minas Gerais tem um papel crucial no transporte de cargas. Geograficamente, as principais vias nacionais se ramificam e se ligam com o estado. Se Minas vai mal a integração do país não vai muito bem, pois é um estado de passagem para São Paulo, Santos, Centro-Oeste, Nordeste. Não temos pesquisas sobre isso no país, mas pode-se inferir que grande parte do tráfego que circula em Minas Gerais vem de fora. Daí a importância de mais investimentos da União, recuperação de estradas.

INTERNACIONAL
Fifa pode punir país

Os violentos distúrbios em Port Said, no fim da partida entre Al-Masry e Al-Ahly, pode custar ao Egito uma represália da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que costuma punir os países onde autoridades não esportivas interferem na atividade. Em resposta aos tumultos, o premiê egípcio, Kamal al-Ganzuri, destituiu toda a direção da Federação Egípcia de Futebol, que será ainda processada e penalizada como responsável pela tragédia.
Antes de a destituição ser anunciada, a Fifa chegou a emitir um comunicado no qual seu presidente, Joseph Blatter, disse estar "comovido" e entristecido com a barbárie. "Este é um dia de luto para o futebol. Algo desse tipo é inimaginável e não deveria acontecer. Quero oferecer minhas condolências àqueles que perderam seus entes queridos", afirmou. Blatter exigiu ainda que o Egito desenvolva um plano de ação para que os eventos não se repitam.
Até o fechamento desta edição, a Fifa não havia se pronunciado sobre a destituição da diretoria da federação egípcia, mas a medida pode ser vista como descumprimento do estatuto da organização internacional, que proíbe interferência ou ação de governos nas organizações de futebol locais. Como consequência, o Egito poderia ser suspenso indefinidamente das competições internacionais.
As reações pelo mundo do esporte continuaram com a notícia de que três jogadores do Al-Ahly decidiram abandonar o futebol depois de terem testemunhado a tragédia. Em entrevista para a tevê Al Ahley, Mohamed Aboutrika e Mohamed Barakat disseram que não jogariam mais depois do que ocorreu em Port Said. O terceiro que anunciou a aposentadoria foi Emad Moteab.
O meia egípcio Mohamed Zidan, recém-contratado do clube alemão Mainz, disse estar "escandalizado com as notícias e imagens" do drama em Port Said, sua cidade natal. "Estou muito preocupado com o que estou vendo. O Al-Masry é o meu clube de coração, assisti às minhas primeiras partidas como torcedor naquele estádio e joguei lá por muito tempo", explicou Zidan, de 30 anos, que saiu do Al-Masry em 1999 para jogar na Europa.
Palco de alguns dos mais violentos confrontos em partidas de futebol, a Europa passou a contar desde ontem com uma série de diretrizes, aprovada pelo Parlamento Europeu, para evitar novos casos em seus estádios, inclusive os incidentes de caráter racista. Entre os pontos aprovados está a luta contra a discriminação por motivos culturais ou religiosos e a criação de uma "lista" de torcedores vândalos, os hooligans, a serem banidos do continente.

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