PRIMEIRA PÁGINA
Cosan
está perto de entrar no bloco de controle da ALL
O grupo Cosan fez uma oferta milionária para entrar
no bloco de controle da ALL Logística. A companhia negocia a compra das
participações dos acionistas Wilson Ferro de Lara e Riccardo Arduini,
respectivamente presidente do conselho e conselheiro da empresa de logística,
que, juntas, somam cerca de 5%. O valor dessa operação é estimado em cerca de
R$ 900 milhões, apurou o Valor.
Alívio
passageiro
O ministro Evangelos Venizelos anuncia acordo de €
130 bilhões que amplia custos sociais, aumenta controle sobre a Grécia e não
afasta risco de saída do país da zona do euro
Compra
da Garoto pela Nestlé deve voltar ao Cade
A compra da Garoto pela Nestlé faz dez anos no
próximo dia 28 e deve retornar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) com a sugestão de venda de marcas ou de outros ativos das duas empresas
em troca da aprovação do negócio. A venda das marcas foi sugerida pela primeira
vez em março de 2004, um mês depois de o órgão antitruste vetar o negócio.
Agora, o processo pode voltar para o Cade porque o Tribunal Regional Federal de
Brasília deve determinar a realização de um novo julgamento
Soja
atinge 25% do valor da safra
O cultivo da soja consolidou nos últimos anos sua
liderança da produção agrícola brasileira. Dados do último Boletim Regional do
Banco Central mostram que, na média anual do triênio 2008/10, a oleaginosa
respondeu por 25,8% do valor bruto da produção (VBP). Há 15 anos, quando ainda
perdia para a cana-de-açúcar, tinha 15,7% do total
Estagnada,
Alagoas perde o boom nordestino
O ciclo de acelerada expansão econômica vivido pelo
Nordeste nos últimos anos não foi acompanhado por Alagoas. Altamente dependente
do setor sucroalcooleiro, sem infraestrutura, mercado consumidor relevante e
recursos próprios para contrapartidas, o Estado não conseguiu atrair
investimentos, que acabaram destinados para Bahia, Ceará e Pernambuco
EDITORIAL
Mais um
ano de desafios para os projetos do PAC
O governo pretende dar um gás no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) depois do desempenho decepcionante dos últimos
anos. Além de querer elevar a taxa de investimento acima dos 20% do Produto
Interno Bruto (PIB), o governo está pressionado pelo calendário dos eventos
esportivos globais que prometeu sediar, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada
de 2016, para os quais precisa preparar a infraestrutura.
Em 2011, o governo executou 79% das despesas
previstas pelo PAC, ou R$ 28 bilhões dos R$ 35,4 bilhões empenhados. Embora os
investimentos tenham sido 21% superiores aos de 2010, o ritmo está deixando a
desejar diante do compromisso do PAC de investir em sua segunda fase quase R$ 1
trilhão de 2011 a 2014 em obras de infraestrutura nas áreas de transporte,
geração de energia, saneamento, mobilidade urbana, construção de unidades
básicas de saúde e moradias.
O ritmo do PAC diminuiu em boa parte por causa dos
escândalos que interromperam os trabalhos e tumultuaram a rotina de órgãos do
governo como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e a
Valec, vinculados ao Ministério do Transporte, que perdeu quase toda a cúpula
em 2011 em escândalos de corrupção. Nada menos que oito ministros caíram em
apenas nove meses, de junho a fevereiro.
O andamento das obras caiu muito. Houve falha na
gestão e até greves atrapalharam o cronograma. O movimento sindical aproveitou
o interesse do governo em avançar com as obras do PAC. Foram afetadas por
paralisações as obras das usinas de Jirau e Santo Antônio (RO), da hidrelétrica
de São Domingos (MS), dos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), além de parte do
programa Minha Casa Minha Vida no Maranhão. No total, 80 mil funcionários
ficaram parados. Foi necessária a interferência do secretário-geral da
presidência, Gilberto Carvalho.
Agora o governo quer recuperar o atraso. Dos R$ 955
bilhões a serem investidos no PAC 2, metade será canalizada para a área de
energia e 30% para o programa Minha Casa Minha Vida; R$ 708 bilhões ou 74%
serão aplicados em obras a serem concluídas nos quatro anos e o restante em
projetos a serem terminados depois de 2014. Entre elas estão a hidrelétrica de
Belo Monte (PA), o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a
Ferrovia de Integração do Centro-Oeste.
Só a Copa do Mundo vai exigir R$ 30 bilhões em
investimentos, voltados principalmente para transportes, com R$ 11,6 bilhões
destinados à mobilidade urbana e R$ 5,5 bilhões para portos e aeroportos.
Neste ano, a meta do Ministério do Planejamento é
desembolsar R$ 33,5 bilhões no PAC, embora o orçamento divulgado pela Fazenda
preveja R$ 42,6 bilhões. O governo anunciou na semana passada corte de R$ 55
bilhões no orçamento da União para este ano, para garantir o cumprimento do
superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e a continuidade da
redução da taxa Selic, mas preservou os investimentos do PAC.
Foi na área de energia que o investimento mais
aumentou, de R$ 207 milhões em 2011 para R$ 422 milhões. Cresceram também os
investimentos sociais e urbanos - item que engloba de saneamento, mobilidade
urbana, irrigação a postos de saúde -, de R$ 6,4 bilhões para R$ 9,5 bilhões. O
maior volume de recursos será direcionado para a logística (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos): R$ 16,99 bilhões, 16,8% a mais do
que os R$ 14,6 bilhões empenhados em 2011. Os recursos destinados ao programa
Minha Casa Minha Vida ficaram estáveis em R$ 11,1 bilhões.
Também foram poupados dos cortes do orçamento os
ministérios ligados a investimentos em infraestrutura, como Cidades e
Transportes, refletindo a preocupação com as obras para a Copa do Mundo e Jogos
Olímpicos. O Ministério das Cidades, responsável pela execução do programa
Minha Casa Minha Vida, sofreu corte de R$ 3,3 bilhões neste orçamento em comparação
com os R$ 8,6 bilhões de 2011, uma redução de 16% em relação ao aprovado pelo
Congresso Nacional.
O governo se esforça, assim, para evitar a
repetição do que houve em 2011, quando os cortes do orçamento atingiram
principalmente os investimentos. Mas é preciso ver se a máquina do governo foi
limpa e azeitada para encarar a gestão dos projetos.
OPINIÃO
A idade
de ouro do gás
Martin Wolf
O mundo está em meio a uma revolução do gás
natural. Até mesmo a sóbria Agência Internacional de Energia (AIE) refere-se a
um cenário denomina "idade de ouro do gás". Se tal otimismo
revelar-se correto, as implicações seriam não só muito maiores do que as de uma
dissolução dolorosa da zona do euro, mas também economicamente positivas. Nunca
nos esqueçamos de que nossa civilização baseia-se em fontes baratas de energia
comercial. O crescimento econômico dos países emergentes fará a demanda por
energia comercial crescer enormemente nas próximas décadas. O gás é relevante.
Essa revolução tem um nome: "fraturamento
hidráulico", coloquialmente conhecido, em inglês, como
"hydrofracking" ou apenas "fracking". Como aconteceu em
quase todas as revoluções tecnológicas do século passado, essa também
originou-se nos EUA. A Administração de Informações Energéticas dos EUA explica
que "o uso de perfuração horizontal em associação com o fraturamento
hidráulico ampliou a capacidade dos produtores de extrair gás natural de
formações geológicas de baixa permeabilidade, em particular formações de
xisto" *.
Embora algumas inovações datem da década de 1970, a
AIE afirma que "o advento da produção do gás de xisto em larga escala não
ocorreu até que a Mitchell Energy and Development Corporation tentasse, durante
os anos 1980 e 1990, tornar a produção de gás de xisto profundo uma realidade
comercial em Barnett Shale, no centro-setentrional do Texas". Mas hoje,
acrescenta a AIE, "a extração de gás de xisto mudou o cenário do mercado
de gás natural nos EUA".
A nova atividade incrementou a produção de gás de
xisto seco nos EUA de 0,39 trilhões de pés cúbicos em 2000 para 4,8 trilhões de
pés cúbicos em 2010, ou 23% da produção seca de gás nos EUA. E muito, muito
mais, está por vir. A EIA estima haver 860 trilhões de pés cúbicos de gás de
xisto "tecnicamente recuperáveis" nos EUA, contra apenas 273 trilhões
de pés cúbicos nas atuais "reservas comprovadas". Se essa estimativa
estiver correta, apenas o gás de xisto supriria o consumo americano de gás
durante 40 anos, com base no ritmo atual.
Qual a dimensão das reservas mundiais de gás de
xisto? A AIE pediu a consultores que examinassem 48 bacias de gás de xisto em
32 países. O relatório estima os recursos "tecnicamente recuperáveis"
de gás de xisto em todo o mundo em 6,6 quatrilhões de pés cúbicos, volume
aproximadamente igual às atuais reservas comprovadas. As maiores reservas
identificadas, além das localizadas nos EUA, estão na China (1,275 quatrilhões
de pés cúbicos), Argentina (774 trilhões), México (681 trilhões), África do Sul
(485 trilhões), Canadá (388 trilhões), Líbia (290 trilhões), Argélia (231
trilhões), Brasil (226 trilhões), Polônia (187 trilhões) e França (180
trilhões). Regiões excluídas dessa análise incluem a Rússia, Ásia Central,
Oriente Médio, Sudeste Asiático e África Central. O potencial mundial deve ser
ainda muito maior.
Que diferença poderá a abundância de gás natural
(inclusive a de gás mais convencional) fazer para o futuro energético mundial?
Em seu World Energy Outlook 2011, a AIE comenta que "em todos os cenários
analisados,,, o gás natural tem uma participação maior no mix mundial de
energia em 2035 do que hoje". Segundo o cenário de sua "idade do
ouro", a demanda de gás crescerá 2% ao ano entre 2009 e 2035. Mesmo em um
cenário mais cauteloso, referido como "novas políticas", a previsão
de crescimento da demanda é de 1,7% ao ano, ou um total de 55% durante esse
período. Como resultado, o gás substituirá outros combustíveis, particularmente
em geração de eletricidade e aquecimento. Ele também tem grande potencial como
combustível para os transportes. No geral, argumenta a BP em seu mais recente
"Energy Outlook" (panorama energético), em torno de 2030, o gás
poderá vir a rivalizar com o carvão e o petróleo como fonte de energia
primária.
A substituição do carvão ou petróleo por gás é
desejável do ponto de vista das emissões de gases estufa e muitos outros
poluentes. Por unidade de produção de energia, o gás emite pouco mais de metade
das emissões de dióxido de carbono do que o carvão e 70% das emissões de CO2
originadas do petróleo. As emissões de monóxido de carbono na queima de gás
equivalem a 20% das emissões originadas do carvão. As emissões de dióxido de
enxofre e de partículas são desprezíveis. Em qualquer cenário plausível visando
controlar as emissões de gases que provocam o efeito estufa, o gás natural terá
que substituir outros combustíveis, embora o desenvolvimento de técnicas
baratas de captura e armazenamento de carbono também poderão reforçar as
justificativas para o uso do carvão. Para a China, em especial, com seu ônus
poluidor devido ao uso de carvão, o gás parece fazer sentido.
Mas, trará o gás de xisto a transformação benéfica
que alegam seus defensores? Talvez não. O aspecto controvertido dessa
tecnologia é o impacto sobre o ambiente. Em artigo publicado na edição de
novembro da "Scientific American", Chris Mooney, que escreve sobre
ciência, observa que o "fraturamento horizontal exige enormes volumes de
água e substâncias químicas. Enormes lagoas ou tanques são também necessários
para armazenar o "refluxo de água" quimicamente poluído que retorna
pelo buraco perfurado, após os poços terem sido fraturados". Um único eixo
perfurador lateral, requer entre 2 e 4 milhões de galões de água e 15 a 60 mil
litros de produtos químicos. Não admira que os críticos aleguem que a nova
tecnologia ameaça poluir lençóis freáticos e seja, portanto, um pesadelo
ambiental. O artigo sugere não se saber, ainda, se tal contaminação ocorreu.
Nessa fase, conclui, os riscos são incertos. As atividades da nova indústria
precisam ser rigorosamente monitoradas.
Se é adequado seguir em frente rapidamente com essa
tecnologia dependerá de várias considerações: 1- os custos de oportunidade
locais da água; 2- as competências e a confiabilidade dos operadores; 3 - a
capacidade das agências fiscalizadoras; 4 - os benefícios do eventual gás extra
obtido, em comparação com os benefícios de combustíveis alternativos (ou da
conservação), inclusive para a segurança; 5 - melhor conhecimento do impacto
das tecnologias. Para dar um exemplo, a competição da demanda por água e os
perigos da poluição poderão tornar perigosa a extração em larga escala de gás de
xisto na China.
O gás de xisto evidencia a engenhosidade dos
envolvidos na descoberta de novas fontes de energia. Também sugere a bem-vinda
possibilidade de obter gás natural barato por muitas décadas. Mas essa
revolução poderá revelar-se um pacto faustiano. É preciso cuidado em como - e
quão rapidamente - a tecnologia poderá ser adotada: os custos ambientais podem
revelar-se pesados. "Apressa-te lentamente", como os antigos romanos
costumavam dizer.
* World Shale
Gas Resources: An Initial Assessment of 14 Regions Outside the United States
(Recursos de gás de xisto no mundo: uma estimativa inicial de 14 regiões fora
dos EUA, 5 de abril de 2011, www.eia.gov. (Tradução de Sergio Blum)
Martin Wolf é
editor e principal comentarista econômico do FT.
COLUNAS
Rodrigo
Simonetti Lodi
Quem assume a responsabilidade?
O Supremo Tribunal Federal (STF) rediscutiu tema
relevante no âmbito empresarial: a responsabilidade dos sócios e
administradores pelo cumprimento das obrigações tributárias.
Toda vez que é praticado um ato que, segundo
previsto na legislação, enseja o nascimento da obrigação tributária e o dever
da empresa em efetuar o recolhimento de tributo aos cofres públicos, indaga-se
quem é o responsável por tal pagamento.
Sem dúvida, o responsável pelo cumprimento da
obrigação tributária é a pessoa que praticou o ato. Mas, no caso de
inadimplência, pode o Fisco cobrá-la do sócio ou do administrador?
O Código Tributário Nacional (CTN), em seu artigo
124, prevê que na omissão do contribuinte, a obrigação tributária pode ser
cobrada do administrador, que por ela deve responder solidariamente. Isto quer dizer
que na impossibilidade de pagamento por parte do devedor principal, responde o
administrador.
Ainda, o mesmo diploma legal, em seu artigo 135,
dispõe que os administradores e sócios somente serão pessoalmente responsáveis
quando tiverem agido com excesso de poder ou infração à lei ou ao contrato
social.
Portanto, quando há o simples inadimplemento pelo
fato da empresa não possuir condições financeiras de pagar o tributo, deve o
fisco cobrá-lo da empresa e, somente se esta não puder arcar com a obrigação é
que poderá cobrar dos administradores que tiverem relação com o fato que gerou
a obrigação tributária, ou seja, que naquele momento faziam parte do corpo
decisório da empresa.
Deve-se exaurir a cobrança para atribuir responsabilidade a
um terceiro
Nessa hipótese, segundo o CTN, o administrador
responde pelo débito de forma solidária, ou seja, pode o Fisco cobrar da pessoa
jurídica, do administrador ou de ambos. Contudo, nesse ponto, andou mal o
Código, pois não nos parece lógico e razoável tratar do mesmo modo o
contribuinte e o responsável tributário que tenha agido com absoluta correção
na gestão da empresa, e adotado as melhores práticas administrativas possíveis
nas circunstâncias de fato, mas que não tenham se consubstanciado no
recolhimento do tributo por razões alheias a sua vontade. Nesse caso,
entendemos que o responsável somente pode ser cobrado pelo débito depois de
esgotados todos os meios de cobrança do contribuinte, respondendo, portanto,
subsidiariamente.
Se for demonstrado, porém, que o administrador ou o
sócio agiu com a finalidade de burlar o Fisco, pode ocorrer que este responda
isoladamente pelo pagamento do débito, excluindo a responsabilidade da pessoa
jurídica.
Não obstante, em sua voracidade arrecadatória,
busca o Fisco satisfazer seus créditos indistintamente, não considerando que
deve exaurir primeiramente a cobrança do contribuinte para, em um segundo
momento, atribuir a responsabilidade do débito a terceiro e, tampouco, tem se
demonstrado atento na forma adotada para cobrança.
Assim, passou a ser comum que um débito objeto de
auto de infração lavrado contra a pessoa jurídica somente, desse ensejo a uma
ação de execução fiscal direcionada à pessoa jurídica e aos administradores.
Ainda, é comum uma ação ajuizada contra a pessoa jurídica ser redirecionada ao
administrador.
Os tribunais já se manifestaram em diversas
ocasiões equiparando o contribuinte e o responsável tributário como devedores a
integrarem a mesma relação jurídica tributária e, aceitando que a administração
tributária escolha, com pleno juízo de discricionariedade, sobre contra quem
exigir o pagamento do tributo transformando, com isso, o responsável tributário
em devedor.
O Supremo, no entanto, em recente julgamento de
relatoria do ministro Joaquim Barbosa afirma que somente o terceiro responsável
que tenha participado do procedimento administrativo pode figurar no polo
passivo da ação de execução, sob pena de violação aos princípios do
contraditório e da ampla defesa. Completa, ainda, manifestando entendimento de
que é necessário que haja decisão administrativa fundamentada sobre a
necessidade do terceiro responder pelo débito, de forma a afastar as presunções
e ficções legais.
Sem dúvida, esta decisão deve ser comemorada por
imprimir segurança jurídica às relações entre Fisco e contribuintes e eventuais
responsáveis tributários, posto que será o precedente a ser utilizado sempre
que, de forma abusiva, terceiro seja envolvido em ação de execução fiscal sem a
prévia demonstração de sua vinculação à obrigação inadimplida. Ou seja, deverá
o Fisco, para incluir terceiros nas ações de execução, apresentar motivação
idônea, demonstrando ter se utilizado de todos os esforços para identificar as
circunstâncias legais que permitirão a extensão da relação jurídica tributária.
Decorre desse entendimento, o fato de que as
execuções Fiscais não poderão mais ser redirecionadas aos administradores sem
que eles tenham integrado o procedimento administrativo, ou, ao menos, tenham
tido essa oportunidade.
Espera-se que o próximo passo da Corte máxima de
julgamento seja mais largo se posicionando a favor da responsabilidade
subsidiária nos casos em que o administrador age com distinção, afirmando que o
terceiro somente pode responder por débito de contribuinte a ele vinculado
quando esgotadas todas as formas de cobrança daquele.
Rodrigo Simonetti Lodi é advogado responsável pela
área tributária do escritório Glézio Rocha Advogados Associados, pós-graduado
em direito tributário pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), e
especialista em gestão de tributos pela Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras Fipecafi - USP
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do
jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado
pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do
uso dessas informações
POLITICA
Fundo
para servidores divide oposição
Por Caio Junqueira | De Brasília
A oposição entrará no plenário da Câmara dos
Deputados na próxima semana desunida e com diferentes estratégias para a
votação do principal projeto do governo para este ano, o que cria o Funpresp, o
fundo de previdência complementar dos servidores públicos federais. Enquanto o
Democratas se posicionará contra, o PSDB votará a favor e apresentará algumas
emendas. Já o PPS quer votar um substitutivo, já que concorda com a tese, mas
não com o formato do projeto do Executivo.
Será mais um exemplo de como a oposição ao governo
da presidente Dilma Rousseff, já desde os tempos do antecessor Luiz Inácio Lula
da Silva, patina na definição de uma estratégia conjunta de atuação que a
fortaleça e consiga amenizar a grande diferença quantitativa com a base aliada
dentro do Legislativo.
"Essa não é uma questão de governo, é de
Estado. Os impactos serão sentidos daqui a 25 anos. Quem estará no poder daqui
a 25 anos? Não sabemos. Então não é uma questão em que se coloque o embate
entre governo e oposição. É mais estrutural", afirma o deputado Marcus
Pestana (PSDB-MG), designado pela legenda para estar à frente das negociações
sobre o Funpresp.
Ele aponta o caráter das três emendas que o partido
vai propor para "aperfeiçoar" o projeto: a criação de apenas um fundo
para os servidores, em vez de três; a portabilidade, que permitiria a migração
dos recursos dos servidores para outros fundos privados; e a retirada do trecho
em que permite que o fundo tenha carteira própria, desvinculada de um
administrador ou de um fundo.
Para Pestana, não foi o PSDB que aderiu a uma
proposta petista, mas o contrário. "Isso tem a ver com a apropriação de
grande parte do da nossa agenda pelo PT a partir da Carta ao Povo Brasileiro. A
ideia petista era de um governo nacional, estatista e populista, e que foi
rasgado naquele momento em que o PT abandonou suas posições à esquerda e
incorporou nossas bandeiras". Ele afirma que essa apropriação é retomada
com o Funpresp, já que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi o
primeiro a defender e realizar uma reforma da Previdência.
Ele diz ainda que, nessas situações, vale
questionar se os partidos devem ser meramente instrumentos de conquista de
poder sem nenhuma consequência programática. "Acho que não deve ser assim.
Mas não é fácil ter essa postura tendo um jogo político eleitoral
imediato."
O DEM discorda. Vai obstruir ao máximo a sessão
para, depois, dizer não ao texto integral do governo. A percepção da bancada é
de que o debate é simplista, precipitado, feito às pressas e sem informações
corretas sobre o déficit e superávit da Previdência, em especial após as
reformas da Previdência feitas pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) e Lula.
"Esses dados eles (governo) não entregam. Não
nos negamos a discutir o sistema, mas queremos discutir qual a realidade e as
projeções. As contas do governo não batem", afirma o vice-líder do partido
na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Ele aponta ainda outro aspecto negativo: o
projeto que cria o Funpresp interessa à operação petista de se perpetuar no
poder. "Cria mais uma estrutura para ser administrada por eles",
declara.
Sobre a diferença de posicionamentos da oposição
neste projeto, ele diz que cada partido tem que montar sua decisão e sua
estratégia. "Se achasse que as opiniões deveriam ser as mesmas, defenderia
a fusão entre os partidos da oposição. Acontece que essa questão é muito maior
do que isso, é muito mais que perder no plenário por uma diferença de 20, 40 ou
60 votos"
Maia se diz ainda "espantado" com o apoio
do PSDB à proposta. "O PSDB até o mês passado não tinha posicionamento.
Agora estão muito amarrados a essa decisão do governo de São Paulo de fazer
isso (o governo paulista aprovou um fundo semelhante em setembro de 2011). Me
espanta um partido que se diz social-democrata ter essa posição. Prefiro esse
nosso entendimento a ter um voto que possa desqualificar o serviço público
brasileiro."
O PPS optou pelo meio termo entre a concordância
tucana e a rejeição do DEM. O presidente nacional do partido, deputado Roberto
Freire (SP), afirma considerar importante discutir a reforma da Previdência,
mas que a proposta encampada pelo governo "é muito ruim".
O substitutivo, ainda em elaboração, terá por
objetivo deixar as regras mais claras e transparentes, evitar ingerências
políticas, impedir que a participação da União seja retirada a qualquer momento
e fazer com que o fundo possa se capitalizar. "Do jeito que está, fica
fadado ao déficit. Por que adotar um sistema que caminha para a
disfunção?", questiona.
Freire avalia que se trata da situação ideal para
os três partidos caminharem juntos, tendo em vista haver divergências sobre o
melhor modelo dentro do governo e também na base aliada. Ele quer convencer
PSDB e DEM a apoiarem seu substitutivo.
Seu posicionamento sobre a desunião da oposição na
tramitação do projeto, contudo, é otimista. "As oposições obrigatoriamente
não têm que marchar juntas, até porque não compõem um bloco. Estamos atuando
bem e só não somos mais eficazes por uma questão numérica, não é porque não é
ou não sabe ser e fazer oposição."
Dilma
cobra ministro por Transposição
Por Yvna Souza | De Brasília
A presidente Dilma Rousseff disse ontem, em sua
coluna semanal "Conversa com a Presidenta", que o projeto de
transposição do Rio São Francisco passou por uma avaliação durante o primeiro
ano do seu governo e que a "situação hoje é de retomada das obras".
Dilma visitou trechos do projeto em Pernambuco e
Ceará no início deste mês. A visita ao município de Missão Velha (CE) foi
retirada do roteiro da presidente porque as obras estavam abandonadas.
"A situação hoje é de retomada das obras,
algumas já em ritmo normal e outras sendo reiniciadas em nove dos 14 lotes que
compõem os eixos Leste e Norte. Entregaremos o trecho da captação no São
Francisco até a Barragem de Areias, em Pernambuco, no final deste ano e outros
quatro trechos até 2014. O último, no eixo Norte, será entregue em 2015",
garantiu.
De acordo com a presidente, ao longo de 2011, o
Ministério da Integração Nacional teve o papel de renegociar os contratos do
projeto e definir um modelo de monitoramento.
"Agora, queremos resultados e cumprimento dos
prazos. Vou cobrar do ministro, que vai cobrar de todos os funcionários de seu
ministério e todos nós, juntos, vamos cobrar das empresas privadas e do
Exército, que estão executando as obras", afirmou Dilma, em referência ao
ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.
A presidente voltou ontem a Brasília depois de
permanecer os quatro dias de Carnaval na Base Naval de Aratu, na Bahia com a
família. No ano passado, ela passou seu primeiro Carnaval como presidente no
Centro de Lançamento Barreira do Inferno, da Força Aérea Brasileira, em
Parnamirim (RN).
(Com agências
noticiosas)
Código
Florestal abre pauta ruralista
Por Tarso Veloso | De Brasília
O Código Florestal deve abrir a pauta prioritária
da bancada ruralista no Congresso em 2012. Com votação prevista para os dias 6
e 7 de março, o código é o item mais importante de uma pauta que conta ainda
com o projeto de lei para regulamentar a aquisição de terras por estrangeiros,
a Proposta de Emenda Constitucional 215 que trata da demarcação de terras
indígenas e as dívidas de produtores rurais.
O relator do Código Florestal na Câmara dos
Deputados, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), espera consolidar um documento
preliminar com as contribuições recebidas dos parlamentares. O relator do
projeto no Senado, senador Jorge Viana (PT-AC), diz que após a aprovação do
texto será necessária uma "forte ação" do Congresso para implementar
as mudanças que a lei exigirá.
O presidente da subcomissão que analisa a compra de
terras rurais brasileiras por estrangeiros, deputado federal Homero Pereira
(PR-MT), diz que o texto deve ser apresentado até o fim do mês. O prazo para
que a subcomissão continue funcionando venceria dia 23 de dezembro, mas foi
prorrogado por mais 60 dias.
Em relação à questão indígena, o deputado federal
Nelson Padovani (PSC-PR) diz que o governo federal já sinalizou interesse em
rever a legislação. Para ele, é importante aprovar a PEC 215, que dará ao
Congresso a competência exclusiva para aprovar a demarcação de terras ocupadas
por tribos e ratificar demarcações já homologadas. "O país já possui
muitas áreas indígenas. Cerca de 16% do nosso território são destinados aos
índios, que correspondem a menos de 1% da população. Precisamos cuidar do
índio, mas também aproveitar melhor as terras", diz Padovani.
O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS) diz
que a votação de PEC está prevista para este mês: "Falei com o deputado
Ricardo Berzoini (PT-SP) e ele disse que o assunto será votado na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) assim que as atividades
iniciarem."
No que se refere ao endividamento, Padovani, que é
relator da Subcomissão de Endividamento Agrícola da Câmara diz que deve
entregar em 45 dias um relatório parcial. Padovani diz que é necessário
encontrar uma solução definitiva para o problema: "O endividamento rural é
um problema grave de todo o Brasil, e não apenas de uma classe."
Heinze diz que existem quase R$ 8 bilhões em
dívidas somente de produtores de arroz, maçã, soja e suínos, principalmente no
Sul do país. "O produtor não tem como agir sozinho por não ter
crédito", afirma. "Temos uma comissão tratando do assunto", diz.
"A nossa ideia inicial é pegar os municípios que declararam situação de
emergência em vários anos e ajudar os produtores desses locais."
BRASIL
Sindicatos
querem livrar participação no lucro de IR
Por Carlos Giffoni | De São Paulo
A isenção do imposto de renda sobre a Participação
nos Lucros e Resultados (PLR) vai ganhar força nas mobilizações sindicais deste
ano, já que grandes empresas têm pago PLR cada vez mais robustas e a tributação
reduz boa parte do valor recebido pelo trabalhador. Em 2011, um funcionário de
chão de fábrica da Renault no Paraná recebeu R$ 12 mil em PLR. O montante pago
em imposto de renda foi de cerca de R$ 2,5 mil e correspondeu a 117% do salário
médio dos 3.800 funcionários daquela planta. No início de fevereiro, o deputado
federal Paulinho da Força (PDT-SP) protocolou no Senado uma emenda
constitucional sobre a desoneração do imposto de renda referente à PLR,
negociada anualmente nos acordos coletivos.
Um estudo realizado pelo Sindicato dos Bancários de
São Paulo, Osasco e Região (SPbancários) em parceira com o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que a
PLR representou 14,5% da remuneração total anual de um caixa bancário,
incluindo nessa conta os benefícios com transporte, alimentação e o próprio
salário fixo, 13º salário e férias. Em 1995, quando a divisão dos lucros com os
funcionários foi regulamentada, a sua participação na remuneração total do
empregado em um ano era de 5,4%. "Não é justo que o acionista retire seus
dividendos sem pagar o imposto de renda e o trabalhador, que recebe menos,
pague", diz Juvandia Moreira, presidente do SPbancários.
Mais de 200 mil assinaturas apoiando a isenção de
imposto de renda na PLR foram recolhidas e entregues a representantes do
governo, entre eles o ministro Gilberto Carvalho, e ao presidente da Câmara dos
Deputados, Marco Maia (PT-RS). Além dos bancários, trabalhadores dos setores
químico, petroleiro e metalúrgico encabeçam o movimento. Segundo cálculos das
entidades, a proposta de desoneração dessas bases injetaria R$ 1,6 bilhão na
economia.
Os metalúrgicos do ABC paulista têm força na
negociação da PLR. Entre as cinco grandes montadoras instaladas na região,
apenas a Toyota pagou menos de R$ 10 mil em PLR no ano passado. Os funcionários
da empresa japonesa receberam R$ 7.350 como divisão dos lucros de 2011. Ford
(R$ 11,5 mil), Volkswagen (R$ 11,8 mil), Scania (R$ 12 mil) e Mercedes (R$ 12,8
mil) puxaram a média da região para cima. Os 36 mil metalúrgicos do ABC
receberam, em média, R$ 11,8 mil em PLR no ano passado. Desse total, R$ 2,5 mil
foram retidos diretamente na fonte, como imposto de renda, o que representa
48,7% do salário médio da categoria no ABC. Em São José dos Campos, a General
Motors pagou R$ 11.778 em PLR no ano passado. O valor retido como imposto de
renda representa 64,8% do salário médio dos mais de 8 mil funcionários daquela
fábrica.
Para Ana Cláudia Utumi, sócia responsável pela área
tributária do escritório TozziniFreire Advogados, a cobrança do imposto de
renda sobre a PLR não é uma injustiça. "Os dividendos dos acionistas são
isentos de imposto porque a empresa já paga imposto de renda e contribuição
social de 34% sobre o lucro. O lucro que vai para o acionista é líquido. A PLR
é dedutível para a empresa, que retira esse valor do lucro para fins de
tributação. Ele não é tributado pelo imposto de renda pessoa jurídica."
Ela ressalta que o empregado já recebe um incentivo tributário, que é a isenção
do INSS sobre a PLR.
Pedro César da Silva, da ASPR Auditoria e
Consultoria, concorda. Ele lembra que, para fechar as contas do ponto de vista
da arrecadação, alguém precisa pagar o IR: a pessoa física ou a jurídica. A
empresa que hoje paga o PLR tem a vantagem de não contabilizar esse benefício
no valor sobre o qual calcula o Imposto de Renda e a contribuição
previdenciária.
"Se não houvesse essas vantagens para as
empresas, provavelmente não haveria grande adesão dos empregadores para esses
programas e os valores pagos poderiam não ser tão relevantes como são
hoje", diz. "E se a empresa passar a pagar esse imposto,
automaticamente haverá menos lucro a ser distribuído aos trabalhadores. E mesmo
que mantenha o programa de PLR, a empresa certamente irá dividir esse custo
tributário com o empregado, o que também contribuirá para reduzir os valores
pagos atualmente", pondera Silva.
Os bancários em São Paulo chegaram a propor uma
tabela alternativa de tributação do imposto de renda sobre a PLR, mas, para Ana
Cláudia, tal diferenciação iria ferir o princípio da isonomia. "Um
trabalhador que não recebe PLR pode querer que a sua renda seja tributada da
mesma maneira que a PLR do outro trabalhador. O dinheiro que um recebe vale o
mesmo que é pago para o outro", diz.
A divisão do lucro com os trabalhadores nas grandes
empresas vem aumentando significativamente. À exceção de 2009, quando a crise
internacional interferiu diretamente na PLR paga, os valores não param de
crescer entre 14 empresas e dois sindicatos consultados pelo Valor. No ABC
paulista, a PLR paga aos trabalhadores da Mercedes cresceu 113% desde 2006,
quando foi de R$ 5.992. Entre 2009 e o ano passado, a PLR dos trabalhadores da
Renault, no Paraná, cresceu 152% (de R$ 4.750 para R$ 12 mil) e da Eletropaulo,
40% (de R$ 4 mil para R$ 5.600).
A regra para a PLR entre os bancos apresenta
inúmeras variáveis. A uma parcela fixa para todos os funcionários são somadas
uma porcentagem do salário mensal de cada trabalhador, uma fatia que se faz
valer no caso de o total distribuído em PLR pela instituição financeira não
alcançar 5% do seu lucro líquido e outros 2% do lucro líquido divididos entre
todos os funcionários.
A PLR serve para incentivar o trabalhador a
aumentar a sua produtividade. Os movimentos sindicais correm atrás de que a
remuneração variável, através da PLR, por exemplo, não ganhe espaço da
remuneração fixa. Com isso, o objetivo é evitar que a empresa repasse os riscos
- e possíveis prejuízos - para os trabalhadores.
"A desoneração da PLR será um assunto recorrente
em 2012. Os líderes de partidos da base aliada já me disseram que a isenção do
imposto de renda é viável. Depois do carnaval, vamos atrás dos partidos de
centro, para ter a maioria no Congresso", afirma Paulinho da Força. Ele
espera que a votação da emenda ocorra na segunda quinzena de março. "Se o
governo não entender que a PLR deve ser um ganho apenas do trabalhador, a ideia
é fazer muita pressão, inclusive nas negociações." (Colaborou Marta
Watanabe, de São Paulo)
Inflação
e mínimo dão impulso ao salário
Por De São Paulo
O aumento do rendimento médio real registrado em
janeiro foi impulsionado pelo avanço real de 7,5% do salário mínimo nacional, a
partir de 1º de janeiro, de acordo com economistas consultados pelo Valor. O
efeito ainda não foi sentido no bolso dos trabalhadores, porque o salário
referente a janeiro só é pago em fevereiro, mas o advento do mínimo influenciou
as respostas da população ocupada na Pesquisa Mensal de Emprego de janeiro, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"A desaceleração da inflação ajudou no ganho
real do trabalhador entre o fim do ano passado e o início de 2012", diz
Fabio Romão, economista da LCA Consultores. Na comparação entre janeiro e o
mesmo mês de 2011, o rendimento real habitual cresceu 2,7%. Em dezembro, a
variação registrada tinha sido de 2,6% frente a dezembro de 2010 após
resultados fracos nos meses de novembro (0,7) e outubro (recuo de 0,3%).
"O avanço do rendimento em 2012 terá um
impulso mais forte no começo do ano, sofrendo os efeitos do salário mínimo mais
alto, e deve crescer a uma taxa média mensal de 0,2% na comparação
dessazonalizada com o mês anterior", diz Rafael Bacciotti, da Tendências
Consultoria, cuja previsão de crescimento da renda média real é de 2,8% em
2012, contra os 2,7% registrados em 2011.
Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos,
acredita que o rendimento médio real visto em janeiro corrobora sua projeção
para a atividade econômica em 2012. "Esperamos um crescimento de 3,5% do
PIB no ano, principalmente por conta do estímulo à atividade via massa salarial
e renda." (CG)
Nintendo
quer manter país em lista de observação
Por De Washington
Uma carta entregue pela fabricante de videogames
Nintendo ao governo americano mostra que os Estados Unidos são o maior mercado
de produtos piratas da companhia, expondo o desafio de proteger os direitos de
propriedade intelectual na era da internet em diferentes partes do mundo. Em
2011, foram baixados 5,218 milhões de jogos ilegais da Nintendo nos Estados
Unidos por meio de sistemas que permitem a troca de arquivos entre
computadores. Por esses dados, os Estados Unidos são o campeão na pirataria,
seguidos pela Itália, com 3,564 milhões de cópias ilegais baixadas.
O Brasil aparece na oitava posição em números
absolutos, com 718 mil jogos pirateados baixados por esse canal. A Nintendo
também mapeou 21 mil ofertas de cópias ilegais de jogos em sites de vendas e
leilões na internet nos Estados Unidos, número que está atrás apenas da China.
O Brasil está na quarta posição, com 6 mil ofertas.
Os dados foram apresentados pela Nintendo of
America ao Escritório de Representação Comercial dos Estados Unidos (USTR, na
sigla em inglês) para subsidiar o relatório anual que lista as supostas
violações de direitos de propriedade intelectual americanos. A empresa sugere
que o Brasil continue na "lista de observação" e que seja mantido o
diálogo para reforçar as defesas contra a pirataria no país.
Uma das principais queixas é contra a prática
corrente no Brasil de vender aparelhos da Nintendo já com um pacote de jogos
pirateados. No caso da família de produtos DS, um videogame portátil, o produto
costuma ser oferecido com pacotes contendo 40 a 150 cópias ilegais de jogos.
Esses pacotes costumam custar até US$ 59, o que dá algo como 40 centavos de
dólar por jogo pirateado. Em mercados como o dos Estados Unidos, cada um desses
jogos custa, no mínimo, US$ 10, e a sugestão de preço do fabricante é um preço
de US$ 34,99.
A pirataria, argumenta a Nintendo, é incentivada
pelos altos impostos na importação de aparelhos de videogame. Nos Estados
Unidos, um aparelho da marca "Wii" sai por US$ 150, e um aparelho
portátil DSi, pelo mesmo preço. No Brasil, os produtos legais custam
respectivamente US$ 388 e US$ 333. O prêmio entre o preço doméstico e no
exterior incentivaria o contrabando de aparelhos, que normalmente vem
desbloqueados e com pacotes de jogos ilegais.
Dilma
quer controle on-line do andamento de obras
Por Fernando Exman | De Brasília
Decidida a implementar até meados do ano um sistema
de monitoramento em tempo real dos principais projetos do governo, a presidente
Dilma Rousseff decidiu criar um grupo de trabalho para desenvolver um programa
de computador que chegou a classificar de "revolucionário".
A Casa Civil já realizou alguns testes do sistema
que deverá se transformar na principal ferramenta da ministra Gleisi Hoffmann e
da própria presidente Dilma Rousseff para controlar em tempo real o andamento
das ações prioritárias do Executivo. O aplicativo não será apenas um banco de
dados permanentemente atualizado. Deverá conter imagens transmitidas ao vivo
por câmeras de vídeo instaladas nos canteiros de obra dos empreendimentos mais
estratégicos.
O tema é um assunto constante nos diálogos da
presidente com seus interlocutores e foi anunciado na reunião ministerial
realizada no início do ano. Na semana passada, num novo sinal de que pretende
imprimir a melhora da gestão pública como uma das principais marcas de sua
administração, Dilma também detalhou a ideia aos líderes e dirigentes dos
partidos que integram a base aliada.
O Palácio do Planalto ainda estuda se o grupo de
trabalho continuará atuando informalmente ou terá sua criação oficializada por
meio de um decreto ou uma portaria. A equipe, coordenada pelo
secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, é
integrada também por representantes da Casa Civil, da Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, do Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro) e da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência
Social (Dataprev). O Serpro é vinculado ao Ministério da Fazenda. A Dataprev,
ao Ministério da Previdência. Outro integrante do grupo de trabalho é Cláudio
Gastal, secretário-executivo da Câmara de Gestão criada por Dilma e presidida
pelo empresário Jorge Gerdau.
A presidente da República escolheu Gabas a dedo
depois que o secretário-executivo do Ministério da Previdência lhe apresentou o
sistema de monitoramento on-line desenvolvido pela pasta. Exposição semelhante
já havia sido feita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas Dilma havia
deixado o governo anterior e estava em campanha eleitoral pela Presidência da
República. À época, Gabas ocupava o comando do Ministério da Previdência em
substituição a José Pimentel, que deixou o cargo para concorrer a uma cadeira
no Senado. Mesmo assim, já havia chegado aos ouvidos da presidente que Lula
considerara o aplicativo uma inovação elogiável.
Servidor de carreira do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), Gabas tem pós-graduação em gestão de sistemas de
seguridade social e cursou uma especialização em gestão de qualidade com foco
no atendimento do serviço público. Em 2003, ele e alguns colaboradores
decidiram aprimorar o sistema de gestão do atendimento do INSS com o uso de
softwares livres e servidores da própria área - ou seja, sem a necessidade de
investimentos que pesassem sobre o orçamento da pasta. Num desdobramento dessa
iniciativa, o conceito de sala de situação que "encantou" Dilma
começou a ser desenhado cerca de três anos depois.
Trata-se de um programa da intranet do Ministério
da Previdência alimentado automaticamente em função do atendimento dos
beneficiários ou do andamento dos processos em todas as 1.257 agências do INSS
do país. O sistema demonstra a evolução dos indicadores relativos a todas as
metas acordadas entre o comando do INSS e seus subordinados.
As cem gerências, cinco superintendências
regionais, a cúpula do INSS e do Ministério da Previdência têm como saber
exatamente se as metas estabelecidas para cada um dos procedimentos não estão
sendo cumpridas e o motivo. Como resultado, por exemplo, é possível saber
exatamente em qual agência do INSS há a fila que está influenciando
negativamente a média nacional de tempo de espera por atendimento ou quais os
números dos processos que atrapalham o desempenho de determinada
superintendência regional.
O sistema tem ainda outras utilidades, como
permitir o acompanhamento da agenda e do tempo de cada consulta feita pelos
médicos peritos ou o andamento das obras, compras de mobiliário e equipamentos
de informática para a expansão de cada agência do INSS.
Autoridades do governo acreditam que a experiência
do Ministério da Previdência demonstrou ainda que esse modelo de gestão tem um
efeito pedagógico: a simples possibilidade de algum chefe estar acompanhando o
andamento de cada etapa do trabalho da área fez com que os servidores fossem
mais zelosos e aplicados. E é exatamente isso que a presidente Dilma procura.
A ideia da presidente é que cada ministério tenha
um aplicativo semelhante que se comunique com as salas de situação que serão
instaladas na Casa Civil e em seu próprio gabinete. Assim, Dilma e Gleisi, a
ministra que foi destacada para fiscalizar a execução dos projetos do governo,
poderão acompanhar em tempo real o andamento dessas ações.
Numa primeira etapa, porém, o Palácio do Planalto
definiu que alguns projetos e ministérios serão considerados prioritários. São
eles o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, as obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), o Ministério da Saúde, o programa Brasil Sem
Miséria, do Ministério do Desenvolvimento Social, e a execução dos contratos do
Ministério dos Transportes.
A decisão tem justificativa. Para Dilma, em meio
aos efeitos da crise financeira global, as obras de infraestrutura e os
programas sociais são essenciais para garantir o crescimento do Brasil e o
fortalecimento do mercado interno. Já os contratos do Ministério dos
Transportes foram alvos de uma série de denúncias de irregularidades. Além
disso, a presidente tem dito que seu governo terá de atender às crescentes
demandas feitas pela população que sai de uma situação de pobreza por serviços
públicos de maior qualidade, sobretudo nas áreas de educação, saúde e segurança
pública.
O trabalho também já começou em outras pastas.
Primeiros contatos foram feitos entre o grupo de trabalho e os ministérios da
Justiça, Defesa e Fazenda. Nesse último caso, o objetivo do governo é aprimorar
e monitorar o atendimento da Receita Federal à população.
Em outro front, a Câmara de Gestão presidida por
Jorge Gerdau e integrada pelos também empresários Abílio Diniz, Antonio Maciel
Neto e Henri Philippe Reichstul, e pelos ministros Gleisi Hoffmann, Guido
Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento) e Fernando Pimentel
(Desenvolvimento) tenta dar início a mudanças na cultura da administração
pública federal. Gerdau e sua equipe se espelham num modelo implementado pelo
ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair em seu governo no ano de 2001.
O receituário da chamada "Unidade de Entrega
do Primeiro-Ministro" prevê que o chefe de governo deve definir os
ministros e as equipes responsáveis pela implementação e o monitoramento diário
das metas fixadas. De acordo com o modelo, além de ter os meios para fiscalizar
o andamento dos projetos, o governo deve definir objetivos precisos, um
planejamento com a agenda de cada ação e estratégias com riscos, desafios e a
previsão dos meios necessários para alcançar os objetivos estabelecidos. Como
consequência, além de acelerar a execução de programas considerados
prioritários e promover a profissionalização da máquina pública, a cúpula do
governo passa a ter mais poder de influência sobre as ações dos ministérios.
O primeiro chefe da Unidade de Entrega do
Primeiro-Ministro de Tony Blair foi Michael Barber, que após deixar o cargo foi
trabalhar na McKinsey. A consultoria é a mesma que tem prestado serviços à
Câmara de Gestão criada por Dilma.
INTERNACIONAL
Argentina
promete um IPC confiável, mas só em 2014
Por César Felício | De Buenos Aires
O governo da Argentina promete dar no próximo mês o
primeiro passo para tentar encerrar a polêmica sobre o índice de inflação no
país, que se prolonga desde 2007. Uma pesquisa nacional de amostragem
domiciliar, com 38 mil entrevistas, começará a ser feita pelo Instituto
Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) para servir como base para a
elaboração de um índice de preços de caráter nacional.
Desde uma mudança da gestão do órgão, o atual
índice de preços da Grande Buenos Aires é questionado por oposicionistas,
sindicalistas, empresários, economistas independentes e organismos
multilaterais. Nem mesmo o governo o defende como uma bússola para a inflação
no país. "Índice de preços é uma coisa, o custo de vida é outra e a
inflação é uma terceira", disse em entrevista ao Valor a diretora-geral do
Indec, Ana Maria Edwin.
Mas a polêmica, que levou o governo a acionar
judicialmente consultorias independentes que publicaram índices de preços
divergentes, ainda deve durar. O novo índice só deve começar a ser divulgado
entre o final de 2013 e o início de 2014.
A criação de um índice com padrões internacionais é
uma cobrança constante do FMI, reiterada na última reunião da direção do Fundo,
no dia 1º de fevereiro. O aval de instituições como o FMI é importante para a
Argentina voltar ao mercado internacional de crédito, do qual está fora desde o
colapso econômico de 2001. Mas Edwin negou a motivação externa. "Não temos
e nem nunca tivemos um indicador de caráter nacional, e esta é uma necessidade
do país."
No comunicado à imprensa após a reunião do início
do mês, o FMI afirmou "lamentar a ausência de progresso em alinhar um
índice de preços com padrões internacionais" e convocou o país a
"implementar medidas específicas, dentro de 180 dias, para melhorar a
qualidade dos dados".
"Nossa questão é melhorar indicadores com
problemas que se arrastam há muitos anos e que não foram inventados por nós e
nem começaram em 2007. Eles [o FMI] sabem perfeitamente as ações que estamos
desenvolvendo", argumentou a dirigente.
Até 2005, o Indec divulgava um índice de preços,
sem grandes questionamentos, formado por uma cesta de 818 itens pesquisados na
região metropolitana da capital. Naquele ano, o então ministro da Economia
Roberto Lavagna lançou títulos da dívida pública vinculados à variação
inflacionária. Em fevereiro de 2007, pouco antes de deixar o cargo, o então
presidente Nestor Kirchner, que seria sucedido pela esposa, Cristina Kirchner,
determinou uma intervenção no órgão. O índice passou a ser calculado tendo como
base 440 itens e, desde então, tem a credibilidade questionada.
Segundo a direção do Indec, agentes econômicos
passaram a trabalhar com cenários de expansão da inflação, para elevar a
remuneração dos papéis, o que teria apressado a decisão de mudar o índice. A
cúpula do Indec afirma que o índice anterior era suspeito. "Havia uma
falta de transparência absoluta", comenta o diretor técnico Norberto
Itzcovitch, para quem um sinal de que havia coisas erradas no Indec era o fato
do índice não refletir o esforço do governo em exercitar controles na economia.
"Em 2006, o governo começou a implementar uma política de preços, e isso
não se refletia nos índices. Houve um acordo para se vender o pão a um
determinado valor, por exemplo, e no índice o pão subia. Era um trabalho que
não estava sendo guiado por critérios técnicos", afirmou.
O diretor também devolve as acusações de
manipulação e afirmou que os fundamentos das pesquisas eram irregulares.
"A medição de serviços domésticos não era feita por amostragem
probabilística, mas por uma consulta entre os amigos dos que trabalhavam no
escritório. E esta era só a quinta variável em importância na cesta",
ironizou Izcovitch.
Nos últimos quatro anos, o Indec tornou-se um dos
centros do debate político da Argentina, a ponto do jornal "La
Nación" afirmar, em editorial, que o instituto havia se tornado "uma
vergonha nacional". Edwin respondeu em um artigo publicado no jornal
"El Tiempo Argentino" (que apoia o governo), em que afirmou no
título: "A nação tem vergonha do jornal", referindo-se ao "La
Nación". A réplica de Edwin foi reproduzida em cartazes que estão colados
na porta do prédio do instituto.
O índice de preços oficial acumulado em 2011 ficou
em 9,5%, uma medição muito abaixo das estimativas com que trabalham a maioria
dos agentes econômicos para elaborar sua estrutura de custos. Nas negociações
sindicais, por exemplo, mesmo os sindicatos alinhados ao governo tentam obter
reajustes entre 25% e 30%, algo que a diretora-geral do Indec vê com
naturalidade. "Seria exótico um líder sindical ir negociar com o índice de
preços na mão. As negociações sempre tiveram como base a produtividade de cada
setor da economia, jamais a variação dos preços na capital do país" disse.
A divulgação de dados discrepantes fez com que o
governo argentino processasse judicialmente uma série de empresas de
consultoria econômica, às quais acusa de interesses financeiros em inflar
artificialmente o item.
Desde o ano passado, para driblar a restrição, um
grupo de deputados oposicionistas passou a divulgar no Congresso um índice
médio da inflação medido por oito consultorias. Como possuem imunidade
parlamentar, os deputados estão livres de sanções. Na medição extra-oficial, a
inflação de 2011 foi de 22,8%. "Falam que a inflação varia de 20% a 30% ao
ano, como se isso fosse uma verdade revelada, sem consultarem a ninguém a não
ser suas próprias consciências. A oposição divulga um indicador que seria
inapresentável em uma escola primária, uma média simples sem nenhuma base
científica", disse Edwin.
Chávez
volta a Cuba para se operar de uma nova 'lesão'
Por Agências internacionais
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou
ontem que retornará a Cuba para uma nova operação, desta vez por causa de uma
"lesão" de dois centímetros de diâmetro na região em que ele operou
de câncer no ano passado. Ela será retirada para análise.
Em um discurso pela TV, ao lado de seu irmão e de
sua filha, Chávez negou que seja uma metástase, mas não informou detalhes sobre
a "lesão". Não há também confirmação independente sobre a doença.
"Sinto dar essa notícia no Carnaval", disse.
A nova cirurgia voltou a suscitar incertezas sobre
a sua real condição de ele seguir no comando do país. Chávez, 57, prepara-se
para disputar as eleições presidenciais este ano e pode estender os seus atuais
13 anos de poder até 2019.
De acordo com analistas políticos, a doença também
pode fazer com que eleitores indecisos pendam a favor do candidato
oposicionista Henrique Capriles Radonski. "Chavez só é favorito para
ganhar as eleições se estiver com saúde. Este episódio diminui as suas chances",
disse Boris Segura, estrategista da Nomura Securities International, de Nova
York.
ESPECIAL
Nordeste
avança, mas Alagoas fica para trás
Por Murillo Camarotto | De Maceió
Com a devida pompa, o governo de Alagoas anunciou,
em outubro de 2009, a instalação do Estaleiro Ilha (Eisa) no município de
Coruripe, litoral sul do Estado. Orçado em R$ 1,5 bilhão, o empreendimento tem,
na visão do governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), potencial para "mudar
a paisagem do Estado" com os cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos
prometidos.
Mais de dois anos depois, as obras não começaram, o
que gera desconfiança e a percepção que a indústria naval é mais uma das muitas
soluções "milagrosas" já apresentadas para dar jeito na economia de
Alagoas, Estado com a população mais pobre do país.
O ciclo de expansão econômica experimentado pelo
Nordeste nos últimos anos não foi acompanhado por Alagoas. Sem infraestrutura,
mercado consumidor relevante e recursos próprios para contrapartidas, o Estado
não conseguiu absorver investimentos, que acabaram destinados para Bahia, Ceará
e Pernambuco. Altamente concentrada no setor sucroalcooleiro, a economia
alagoana ficou em desvantagem em relação a Estados como Rio Grande do Norte,
Paraíba, Sergipe e Maranhão.
Os péssimos indicadores sociais, sobretudo a
violência urbana, também ajudaram a repelir os investidores, tornando mais
complicada a tarefa de tirar a economia alagoana do atoleiro em que se encontra
há quase três décadas.
O cenário já foi diferente. Entre as décadas de 60
e 80, a secular indústria sucroalcooleira local se beneficiou dos muitos
programas federais de incentivo e se expandiu para onde foi possível, ocupando
as melhores áreas agricultáveis, praticamente monopolizando a atividade
econômica do Estado.
Com o fim do Proálcool e a desregulamentação do setor,
em 1990, os usineiros foram obrigados a se profissionalizar para competir com a
produção do Centro-Sul. Os cortes de custos exigidos pela nova realidade
inviabilizaram pequenos e médios fornecedores, incluindo as indústrias de
equipamentos. Esse cenário, somado à inoperância de seguidos governos, resultou
em uma população rural paupérrima e uma economia muito pouco diversificada.
Nos últimos anos, o Produto Interno Bruto (PIB) de
Alagoas avançou abaixo da média do Nordeste, ainda assim puxado pelo crescimento
do consumo, na esteira da expansão do crédito e do Bolsa Família, em um modelo
conhecido por "renda sem produção".
A distribuição do crédito ilustra bem a estrutura
da economia alagoana. De acordo com o Banco Central, Alagoas é o segundo Estado
nordestino onde mais cresce o volume de empréstimos a pessoas físicas. Entre
novembro de 2008 e outubro de 2011, o salto foi de 119%, atrás apenas de
Sergipe, com 120%. Por outro lado, no crédito para as empresas Alagoas tem o
pior desempenho da região, com alta de 60,9%. No mesmo intervalo, a média do
Nordeste foi de 105%.
A expansão do poder de compra da população aqueceu
o setor terciário do Estado, que passou a ser visto com maior interesse pelas
grandes redes varejistas, como o Carrefour, que desembarcou recentemente em
Alagoas com a bandeira Atacadão. Maceió está em vias de receber um shopping
center de alto padrão, que está sendo erguido pelo grupo Aliansce e deve
empregar 4.000 pessoas. Até 2009, o Estado tinha apenas um grande shopping.
A renda sem produção, porém, é insuficiente para
colocar Alagoas no ritmo nordestino de geração de empregos. De acordo com
Ministério do Trabalho, a criação de vagas formais em Alagoas cresceu 3,1% ao
ano, em média, entre 2007 e 2011, o pior desempenho da região, que registrou
avanço médio de 6%.
Em cinco anos, o Estado gerou pouco mais de 48 mil
empregos, abaixo de vizinhos com população bem inferior, como Sergipe, que
criou 75 mil. O Piauí, com PIB inferior ao de Alagoas, gerou 70 mil postos de
trabalho, alta de 6,6%.
A desvantagem em relação aos demais Estados pode
ser explicada em boa parte pela situação fiscal, a mais dramática do Nordeste.
O enfraquecimento do Proálcool, a partir de 1986, deixou os usineiros locais
sem auxílio federal, criando uma demanda pesada para os governadores,
historicamente íntimos - quando não membros - do setor. Acordo assinado em 1988
pelo então governador Fernando Collor de Mello isentou os usineiros de
impostos, gerando gigantesca perda de receita para o Estado, que quebrou em
1996.
"Isso aconteceu justamente na época em que
começava a guerra fiscal, quando os Estados nordestinos passaram a oferecer
incentivos para atrair as indústrias do Sul e Sudeste, que buscavam custos
menores e novos mercados em outras regiões. Como Alagoas estava quebrado, os
outros Estados saíram na frente", lembra o economista Cícero Péricles,
professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Quem também procurou o Nordeste naquele tempo foi o
gaúcho Darlan Jacobs. Técnico em logística, ele chegou a Maceió fugido do frio
do Sul, mas não encontrou lugar ao sol. O único emprego em solo alagoano foi de
garçom, sendo depois promovido a maître. Os salários "baixíssimos",
contudo, o arrastaram para a informalidade.
"Decidi vender biscoito na rua e ganho mais do
que antes. Como não tem emprego, eles pegam quem aceitar ganhar menos",
contou Jacobs, que trabalha em uma esquina no bairro de Pajuçara, área nobre de
Maceió.
A escassez de empregos, os salários baixos e a
agricultura familiar desamparada resultaram na população mais pobre do Brasil.
Números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) referentes a 2009
mostram Alagoas em primeiro lugar nos rankings de pobreza e extrema pobreza,
bem à frente do segundo colocado, o Maranhão, não menos famoso pelas mazelas sociais.
Também com base em 2009, a Pesquisa Nacional por
Amostragem de Domicílios, do IBGE, revela que as famílias alagoanas têm a menor
renda do Nordeste, com média mensal de R$ 1.396. São também as famílias que
gastam menos com alimentação, vestuário, transporte, higiene, lazer e educação.
Segundo relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU, Alagoas
tem, no país, o maior percentual de famílias (57,5%) que vivem com até meio
salário mínimo por mês.
Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, o Estado é
campeão de analfabetismo, de jovens com defasagem educacional, de homicídios e
está entre os primeiros em insegurança alimentar grave. Até pouco tempo, era
também líder absoluto em mortalidade infantil, cenário que, segundo o
governador do Estado, está mudando. "Saímos do último lugar para o 15º.
Temos um programa eficaz, que vai desde a atenção nutricional à gestante até o
apoio estrutural aos municípios", conta Vilela.
Na avaliação do professor Péricles, a reversão
desses indicadores passa obrigatoriamente pela dinamização de economia. Ele
entende que o crescimento do poder de consumo, devido aos programas de
transferência de renda, deveria incentivar a criação de polos industriais
voltados ao atendimento dessa demanda.
"Sem uma estratégia que leve em conta essas
especificidades regionais, teremos sempre as mesmas políticas centradas em
anúncios de factoides e investimentos mirabolantes, que nunca se
confirmam", diz Péricles. Nos anos 70, lembra, se dizia que, na onda do
Proálcool, Alagoas teria tanta força que entraria na Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep).
Na década seguinte, era o Polo Cloroquímico que
possibilitaria que a renda per capita dos alagoanos ultrapassasse rapidamente
US$ 5 mil. Mais tarde, o turismo surgiu como o novo eldorado, o que também não
se materializou, apesar dos avanços conquistados.
Dessa vez será diferente, garante o governador
alagoano. Ele lembrou que a Braskem está investindo R$ 1,5 bilhão para dobrar a
capacidade de sua unidade de PVC em Marechal Deodoro, região metropolitana de
Maceió. As obras do Estaleiro Ilha, segundo Vilela, devem começar em breve.
"Foram aprovados os recursos do Fundo da Marinha Mercante, mas ainda não
há um parecer definitivo do Ibama. Estamos aguardando, este ano sai."
EMPRESAS & TECNOLOGIA
Operadoras
virtuais ainda são promessa no país
Por De São Paulo
As regras para o serviço de telefonia móvel virtual
ficaram quase dez anos na "geladeira" até que foram aprovadas e
editadas em novembro de 2010. Essa década perdida deu às operadoras já
instaladas no Brasil uma vantagem competitiva - talvez, irreversível - para
consolidar suas atividades.
Nesse intervalo, as teles atraíram os assinantes
brasileiros com ofertas no pré-pago, serviços de valor agregado e pacotes
combinados de celular, telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura. Com
isso, o país atingiu o patamar de 245 milhões de linhas de telefonia móvel
habilitadas, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
referentes a janeiro. É mais de um celular por habitante, e essa proporção não
dá sinais de arrefecimento.
Quando a regulamentação das operadoras virtuais
ficou pronta, falou-se com entusiasmo das possibilidades que se abriam para as
empresas que quisessem se aventurar nesse mercado. Varejistas, bancos e outras
companhias com acesso direto aos consumidores eram apontadas como candidatos
naturais.
Na época, a consultoria AT Kearney divulgou estudo
estimando em 40 milhões de assinantes o mercado potencial para as operadoras
virtuais num horizonte de dez anos.
Quase um ano e meio depois, o mercado mal começa a
engatinhar. A Porto Seguro foi a primeira a anunciar que lançaria uma operadora
virtual para atender seus segurados e para fazer rastreamento de veículos. Foi,
também, a primeira a obter licença da Anatel para isso. A companhia fechou
acordos com a Datora, que será a parceira técnica, e com a TIM, de quem alugará
a rede de telefonia. Até agora, o serviço não foi lançado.
A Porto Seguro não atendeu os pedidos de entrevista
do Valor até o fechamento desta edição. Segundo fontes a par do assunto, o
serviço está em fase de testes, porém as dificuldades eram maiores do que se
imaginava.
Até agora, somente quatro empresas solicitaram à
Anatel autorização para entrar no mercado. Duas licenças já foram expedidas:
uma para a Porto Seguro e outra para a Datora. Além de atuar como parceira
técnica da seguradora e da Virgin Mobile, a Datora planeja montar uma operadora
virtual própria. De acordo com o gerente de inovação, Germano di Polto, o
objetivo é explorar serviços de comunicação máquina a máquina - segmento que
tende a crescer muito nos próximos anos.
Os dois pedidos que estão em fase de análise no
órgão regulador são da Virgin Mobile e da francesa Sisteer, que pretende atuar
como parceira técnica de operadoras virtuais no Brasil. Ela já desempenha esse
papel para 20 empresas que usam a infraestrutura da operadora francesa SFR e
quatro que estão na rede da Orange. Representantes da Sisteer não foram
localizados para comentar seus planos para o Brasil. (TM)
Cade
deve voltar a julgar compra da Garoto, após 10 anos
Por Juliano Basile | De Brasília
A compra da Garoto pela Nestlé faz dez anos no
próximo dia 28 e deve retornar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) com a sugestão de venda de marcas ou de outros ativos das duas empresas
em troca da aprovação do negócio.
A venda das marcas foi sugerida pela primeira vez
em março de 2004, um mês depois de o órgão antitruste vetar o negócio. Na
época, a Nestlé pediu sigilo quanto ao nome das marcas, alegando que a
divulgação poderia desvalorizá-las no mercado. De acordo com advogados que
tiveram acesso ao processo, as marcas seriam de ambas as empresas. No bloco de
marcas da Nestlé estariam Alpino, Charge, Diplomata, Sensação, Sedução e
Surpresa. No bloco de produtos Garoto, a Nestlé teria proposto a venda do
Baton, do Serenata de Amor, do Mundy, do Talento, do Surreal, do Sunny, It
Coco, Mania, Mundy e Personalidades.
Na época, a Nestlé alegou ao Cade que as marcas que
ela se dispunha a vender permitiriam a uma companhia concorrente ter 10% do
mercado e formar uma caixa de bombons para comercialização junto aos consumidores.
Esse ponto era importante, pois as caixas de bombons representavam mais de 30%
do mercado naquela época (2004) e são utilizadas até hoje pela Nestlé, pela
Garoto e pela Lacta - as líderes do mercado.
Mas, em outubro de 2004, o órgão antitruste
concluiu, por três votos a dois, que a proposta era insuficiente e, com isso,
manteve a decisão pela venda da Garoto. A avaliação foi a de que essas marcas
não eram as principais das duas empresas.
Apesar de totalizarem 10% do mercado, no ano
anterior à proposta (2003), as marcas não estavam recebendo investimentos em
2004, segundo o Ibope, e a maioria das marcas não figurava nas caixas de
bombons da Nestlé e da Garoto. Além disso, o órgão antitruste entendeu que a
proposta foi enfraquecida por não incluir achocolatados, balas e confeitos
entre os produtos que se dispunha a vender para um concorrente.
Agora, o processo pode voltar para o Cade porque o
Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília deve determinar a realização de um
novo julgamento.
"É um caso inglório", admitiu o
procurador-geral do Cade, Gilvandro Araújo. Na avaliação dele, no caso
Nestlé-Garoto, o setor privado ficou sem uma definição e o órgão antitruste não
conseguiu aplicar a sua decisão. "Eu acho que é um caso que tem que ser julgado
pelo TRF", enfatizou Araújo. Segundo ele, se o tribunal ordenar um
rejulgamento, o Cade vai verificar a possibilidade de entrar com novos
recursos. A outra hipótese seria a de analisar novas propostas da Nestlé para a
venda de marcas em troca da aprovação da compra da Garoto, mas, por enquanto, o
órgão prefere esperar pela Justiça.
Para a Nestlé, "a indefinição, ao longo da
última década, implica em perda e desgaste para as partes". A empresa
mantém o recurso na Justiça, mas defende um entendimento com o Cade. "Desde
a aquisição da Garoto, a Nestlé sempre demonstrou disposição e empenho em
encontrar uma solução de comum acordo para a questão antitruste decorrente da
transação", informou a empresa em comunicado ao Valor. "Esse
posicionamento não se alterou, independente de a situação da Nestlé no processo
judicial ser favorável", completou a companhia.
De fato, a situação no Judiciário, apesar de
provisória, favorece a Nestlé. A empresa conseguiu decisão de 1ª instância a
seu favor e, no TRF, dois dos três desembargadores que votaram a questão
concluíram que o Cade deve fazer um novo julgamento. Essa última decisão ainda
precisa ser confirmada num recurso que será julgado pelo próprio TRF.
A Nestlé alegou ainda que o cenário previsto pelo
Cade no mercado de chocolates, há dez anos, e que embasou o veto à Garoto, não
se concretizou. "Ao contrário do que se previa à época, o segmento cresceu
consistentemente e novos "players" entraram no mercado
brasileiro." A companhia disse que o mercado brasileiro conta com
"mais de 12 marcas globais consolidadas, além da crescente participação de
marcas próprias, regionais e de importados nos pontos de venda, bem como das
boutiques que ganham espaço nas principais cidades brasileiras".
De acordo com a decisão do Cade, de 2004, a compra
da Garoto levou à formação de um duopólio no mercado de chocolates no Brasil. A
Nestlé ficou, na época, com 58% do mercado de chocolates e a única empresa
capaz de rivalizar com ela seria a Kraft (dona da Lacta), que tinha 34%. A
venda da Garoto para uma empresa com menos de 20% do mercado seria a solução do
órgão antitruste, naquela época, para reequilibrar a concorrência.
Caso não haja negociação entre o Cade e a empresa,
a decisão final sobre a venda ou não da Garoto será mesmo da Justiça.
Alemã
Jungheinrich avalia iniciar produção no Brasil
Por Assis Moreira | De Zurique
A companhia alemã Jungheinrich, terceiro maior
fornecedor mundial de empilhadeiras industriais, sistemas de armazenagem e
logística, planeja produzir no país para melhorar sua competitividade frente a
produtores locais que estima serem protegidos por altas tarifas contra
importações.
Helmut Limberg, membro do conselho de administração
da companhia, disse ao Valor que, mesmo se o Brasil é "um pouco arriscado
para investir e tem um sistema tributário complexo", o fato é que o país
vem crescendo, a demanda vai aumentar e é preciso estar presente.
"O mercado brasileiro protege os produtores
que estão no país. Como não temos produção local, enfrentamos os efeitos
negativos da concorrência E a única maneira para sair disso é ter produção
local", afirmou Limberg.
Uma equipe examina todas as possibilidades,
incluindo os financiamentos favoráveis fornecidos pelo Finame e outras
vantagens na utilização de maior conteúdo local na produção.
O plano de Jungheinrich é ter 10% do mercado de
empilhadeiras no médio prazo no Brasil. Em alguns nichos do mercado, a
companhia é competitiva no país, mesmo pagando tarifa de importação de 20 a
25%, como na oferta de equipamentos VNA (Very Narrow Aisle) ou WMS (Warehouse
Management System) e produtos de alta tecnologia.
"A demanda brasileira por tecnologia
aumentará, com novas centrais de distribuição, armazenamento etc",
acrescentou.
Localizada em Hamburgo, o grupo alemão teve faturamento
próximo dos € 2 bilhões no ano passado. É controlado por duas famílias, que
detêm 53% das ações. O valor de sua ação desmoronou para € 8 em 2009, no meio
da crise global, e recentemente subiu para € 20. A empresa tem 10 mil
funcionários.
A companhia faz 80% de seus negócios na Europa, com
empilhadeiras modernas usando menos energia e com menor emissão de gases. Um de
seus últimos lançamentos é uma bateria de lítio para maquinas que economiza até
50% em relação a equipamentos convencionais. Mas o produto não pode ser
comercializado no Brasil, pela falta de regulamentação para despejo e
reciclagem da bateria.
Enquanto empresários europeus se queixam da
deterioração econômica, Limberg reitera que no seu ramo as perspectivas são
boas e espera crescimento de 2% nas vendas na Europa.
"Para quem reclama, digo que deveriam investir
em nossa companhia, porque temos grande potencial de crescimento", diz
Limberg, bem humorado.
"Obviamente os governos e as empresas passaram
períodos difíceis nos últimos anos, mas notamos que a crise acabou. Na
Jungheinrich também tivemos perdas em 2009, porém graças a nossa estável
situação financeira não tivemos grandes problemas e conseguimos superar a
crise", afirmou o membro do conselho.
Limberg conhece bem o Brasil, onde trabalhou para
outra companhia alemã há 20 anos e enfrentou um cenário de alta inflação e
instabilidade. Atualmente, a expansão econômica do país o entusiasma, mas ele
reclama de taxações estaduais, por exemplo, que alteram a competitividade dos
produtos de um Estado para outro.
Vale
busca solução na China para atracar supernavios
Por Vera Saavedra Durão | Do Rio
A Vale continua a negociar com autoridades e
representantes dos portos da China a liberação para atracação de seus navios
Valemax, aptos a transportar 400 mil toneladas de minério de ferro, nos portos
chineses. A proibição é dos Ministério de Transportes da China por pressão dos
armadores locais. A companhia não pediu até agora nenhuma gestão do governo
brasileiro para interceder junto ao governo chinês nesta questão. Durante a
vinda de Wang Qisham, vice-primeiro ministro da China ao Brasil, chefiando a
delegação que participou da 2ª reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto
Nível de Concertação e Cooperação (Cosbam), no entanto o problema foi abordado
nas suas conversas com o vice-presidente Michel Temer.
Segundo apurou o Valor, antes da chegada da missão
chinesa, o governo procurou a Vale para entender o que estava ocorrendo e ajudar.
A empresa solicitou que, caso a questão fosse tratada, que fosse incluída numa
agenda positiva para aproximar os dois países e aumentar os negócios e não numa
agenda negativa do contencioso comercial Brasil/China.
Em recente entrevista, o presidente da Vale, Murilo
Ferreira, disse que não considerava o assunto dos supernavios como político.
"Nosso posicionamento é que não estamos vivendo uma situação política.
Estamos conversando no âmbito técnico e os chineses (estaleiros) participaram e
participam de boa parte da construção dos navios. Acreditamos que há bom espaço
de negociação e isso está sendo feito em relação a estes navios e as restrições
estão sendo levantadas nos próprios portos", declarou.
No início do ano, o diretor-executivo da área de
ferrosos e estratégia da Vale, José Carlos Martins, esteve na China para mais
uma rodada de conversações sobre o assunto. Ele visitou o porto de Dalian, no
norte do país, onde no final de dezembro atracou o Berg Everest. É primeiro
Valemax a chegar ao litoral chinês, com um carregamento de 350 mil toneladas de
minério. Após a visita, o site do porto divulgou um comunicado declarando
esperar "fortalecer a comunicação e continuar a aprofundar a cooperação
para obter um resultado em que os dois lados saiam ganhando". A nota
informava ainda que tinham sido feitas melhorias para atender "as
exigências para grandes navios atracarem". O comunicado deixou a Vale
otimista, mas não informou se continuaria a receber suas superembarcações.
Martins está convencido de que as negociações com a
China poderão dar resultado, mas vão levar algum tempo. "Quando
desenvolvemos esses navios fizemos uma avaliação de quais portos poderiam
recebê-los, já que são os maiores do mundo. Sabemos que na China há vários
portos que têm condições de receber os navios. Mas, a legislação foi fixada
para uma peso máximo de navio de 350 mil toneladas, gerando uma limitação
legal. Temos de trabalhar dentro deste escopo". O executivo sabe que o
principal obstáculo à atracação dos navios é a Associação dos Armadores
Chineses, por temor da concorrência.
Enquanto continua impedida de atracar na maioria
dos portos da China, seu maior cliente de minério de ferro, a empresa montou um
plano B para garantir a entrada da commodity naquele mercado. Segundo Martins,
em 2013 a Vale contará com uma frota de 35 supernavios - 19 são comprados de
estaleiros da China e da Coreia e 16 contratados em 2008. "Eles terão
capacidade para transportar 60 milhões de toneladas de minério. Se eles não
puderem aportar na China, vão aportar em outro lugar. Não adotamos esta
estratégia de frota sob nosso comando para ficarmos pendurados em
possibilidades".
O plano B da Vale já saiu do papel. Na semana
passada começou a operar um centro de distribuição de minério de ferro em Subic
Bay, nas Filipinas. O trabalho desse centro é transferir a carga do Valemax
para outros navios que podem entrar em qualquer porto. Também pode armazenar
parte da carga e transferir parte para que o Valemax com menor volume possa
entrar em portos de menor calado. "Vai ajudar não somente na China, mas em
muitos portos da Ásia de pouco calado e baixa capacidade", disse Martins.
Em 2011, inaugurou o centro de distribuição de Omã
(Oriente Médio), apto a receber 10 milhões de toneladas de minério de ferro. Em
2014, ser á inaugurado outro na Malásia, no qual a empresa está investindo US$
1 bilhão para receber 40 milhões de toneladas/ano.
A estratégia de transportes da Vale, de ter uma
frota grande de navios para reduzir o custo do frete e melhorar a competição
com os australianos, não é contestada por Ferreira. Mas ele defende a venda dos
19 cargueiros, proposta já aprovada, em dezembro, pelo conselho de
administração.
FINANÇAS
Resgate
grego não elimina risco de saída do país da zona do euro
Por Assis Moreira | De Genebra
O novo pacote de socorro de € 130 bilhões (US$
172,1 bilhões) para a Grécia é baseado num cenário econômico irrealista e
dificilmente será melhor sucedido do que o primeiro programa de resgate ou
evitará a saída do país da zona do euro.
Essa é a visão de boa parte de analistas sobre o
pacote que os ministros de finanças da zona do euro aprovaram na madrugada de
terça-feira, após 12 horas de duras negociações em Bruxelas.
O risco de calote desordenado da Grécia em março
parece estar afastado pelo momento, mas a avaliação é de que o acordo vai
prolongar a recessão do país e deixar sua participação na zona do euro sempre
na beira do abismo.
O acordo amplia os custos e a humilhação para a
Grécia. O país teve que se submeter a colocar o dinheiro numa conta bloqueada
para priorizar pagamentos da dívida, antes de poder usar recursos para pagar as
faturas, salários, aposentadorias, etc.
Uma equipe permanente da troica - FMI, Banco
Central Europeu (BCE) e União Europeia - estará na Grécia para assegurar o
cumprimento dos termos e condições do pacote. E Atenas continuará comprometida
a mais vários anos de austeridade. Os dois principais partidos políticos, o
Pasok socialista e o Nova Democracia, de direita, se comprometeram a manter o
plano de rigor depois da eleição de abril. Ou seja, se quiserem rever as
condições do acordo, o pacote de socorro pode ser suspenso.
Para analistas, o acordo é baseado em projeções
otimistas. Por exemplo, de que o PIB sofrerá contração de 4,3% este ano e se
estagnará em 2013 - comparado a estimativas de queda de 8% em 2012 e de 7% no
ano que vem por várias consultorias.
Se a queda no PIB for maior, a troica será forçada
a exigir mais medidas de austeridade para a Grécia cumprir as metas atuais. E
neste caso, considerando a revolta popular que já existe hoje, só restará mesmo
abandonar o pacote e quebrar.
Para o analista Ben May, em Londres, os ministros
compraram tempo. Porque todo mundo sabe que, se a Grécia continuar na zona do
euro, precisará melhorar a competitividade que perdeu na última década e isso
significa um longo período de salários e preços em queda ou estagnados. Mas a projeção
é de que, mesmo com o novo programa de socorro, a relação dívida/PIB
dificilmente cairá.
Documento preparado pela troica, publicado pela
agência "Reuters", conclui que o plano de ajuda para a Grécia pode
fracassar e a dívida grega explodir a nível não administrável até 2020. A
troica duvida da capacidade de Atenas de controlar as finanças públicas e acha
que a dívida pode chegar a 160% do conjunto das riquezas nacionais, o que
significaria um retorno à situação atual.
Com a redução do pagamento de juros do empréstimo
de € 130 bilhoes, na prática financiado pelo Banco Central Europeu (BCE), as
autoridades europeias acham que a dívida grega pode ser baixada para 120,5% do
PIB até 2020.
Os bancos credores aceitaram corte de 53,5% na
dívida. Os novos bônus gregos vão pagar juros de 2% até 2014, 3% até 2002 e
3,5% depois. Segundo a "Reuters", a Grécia pretende completar o swap
de sua dívida com credores privados em 12 de março. Charles Dallara,
representante dos bancos, diz que a perda real dos credores será de 70% levando
em conta o valor atual dos papéis gregos.
A Grécia também vai pagar juros menores pelo
empréstimo de € 130 bilhoes, comparado aos 5% do primeiro pacote. Os bancos
centrais da zona do euro vão contribuir com € 1,8 bilhão, valor procedente dos
lucros esperados pelos investimentos em dívida pública grega.
O comissário europeu de assuntos econômicos e
monetários, Olli Rehn, fala de "condicionalidade rigorosa para assegurar
controle efetivo do programa". Para analistas do Rabobank, a implementação
do plano de rigor será atingido por "problemas periodicamente".
Mas Ben May é mais pessimista. "O alívio do
novo pacote tende a ser temporário", diz. "É possivel um colapso em
questão de meses ou mesmo semanas, e poderemos ver a Grécia deixando a zona do
euro este ano."
Para a consultoria Fathom, de Londres, a crise
grega só será resolvida quando, e se, bancos europeus estiverem suficientemente
recapitalizados para permitir um calote da Grécia e um contágio ser contido.
Para
Brasil, revisão deve considerar PIB
Por De Genebra
Quando o Brasil e outros emergentes cobram dos
europeus que cumpram o acordo para revisão do cálculo de cotas do FMI, a
resposta é uma irônica tentativa de reinterpretar o que já foi negociado pelos
chefes de Estado no G-20.
"Uma versão, vinda de um representante de países
europeu do G-20, vem assim: sim, nós concordamos em empreender uma revisão
ampla da fórmula, mas isso não significa que concordamos em mudá-la",
contou Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor executivo do Brasil e mais oito
países no fundo, numa apresentação recente no Brookings Institution, em
Washington.
Nogueira Batista lembra que Brasil, Rússia, Índia e
China só chegaram a um consenso na reforma de 2010, que aumentou em apenas 2,8
pontos percentuais o poder de voto para os emergentes, depois do compromisso da
revisão da fórmula considerada distorcida, a fim de permitir nova
redistribuição de cotas até janeiro de 2014.
Para o Brasil, essa revisão deve levar em conta no
cálculo mais o tamanho do PIB, para refletir melhor a dimensão econômica de
cada país e a crescente presença dos emergentes na cena global. E deve eliminar
conceitos como "abertura comercial" e "variabilidade", ou
medida de instabilidade dos fluxos da balança de pagamentos que indicaria
teoricamente a necessidade potencial de um país a recursos do fundo.
Certo mesmo é que, quando a reforma de 2010 entrar
em vigor, já estará defasada, quando se leva em conta que os emergentes, com
metade da economia mundial, estão crescendo muito mais rápido do que a outra
metade, que são os países desenvolvidos.
O peso relativo mudou consideravelmente na economia
global. A fatia dos emergentes no PIB mundial, em termos de Paridade de Poder
de Compra, era 40% em 2000. É agora mais de 50% e continuará a aumentar nos
próximos anos. "Essa é a realidade na qual o FMI precisa de ajustar se
quer permanecer relevante e corrigir seu déficit de legitimidade", disse
Nogueira Batista no Brookings Institution. (AM)
No
Brasil, Ibovespa se ajusta à toada externa
Por Márcia Pinheiro | De São Paulo
O acordo que permite nova ajuda à Grécia, costurado
na madrugada de terça-feira, é um dos motes principais do mercado brasileiro na
volta do feriado de Carnaval. A recepção global ao socorro financeiro ontem não
foi unânime: os principais índices europeus terminaram em leve baixa com a
avaliação de que a crise da dívida soberana da região não está encerrada,
enquanto o euro se fortaleceu diante das principais moedas.
No último pregão da Bovespa, na sexta-feira, o
clima já era de feriado. Com menos investidores na ativa, o movimento com o
principal índice de ações brasileiro somou apenas R$ 6,5 bilhões - um dos
menores volumes do mês. O indicador fechou praticamente estável, com leve alta
de 0,09%, aos 66.203 pontos.
Apesar desse desempenho tímido do Ibovespa no dia,
a bolsa paulista promete ser novamente um dos destaques entre as aplicações
financeiras em fevereiro. Na semana passada, o Ibovespa avançou 3,4%; no mês,
4,96%; e no ano 16,65%. Com o aumento do apetite ao risco, os investidores
estão ampliando as alocações em ações de mercados emergentes. De acordo com
pesquisa do Bank of America Merrill Lynch, 44% dos gestores estão com posição
acima da média do mercado para ações de países em desenvolvimento,
representando um aumento em relação aos 20% registrados em janeiro.
Na sexta, a insegurança em relação ao pacote de
ajuda à Grécia também ajudou a travar os negócios. Com tantos adiamentos, o
mercado preferiu ver para crer, antes de apostar todas as fichas que o desfecho
seria favorável.
Outra notícia acompanhada de perto por investidores
foi a de que o governo chinês vai reduzir em 0,5 ponto percentual o depósito
compulsório de instituições financeiras a partir do dia 24. O objetivo é evitar
uma desaceleração brusca da atividade econômica do país, com a irrigação de
crédito.
A perspectiva de revitalização da economia chinesa
levou as ações de commodities a altas expressivas, acompanhadas pelos papéis do
setor bancário.
Além disso, na bolsa paulista, o balanço do Pão de
Açúcar veio melhor do que as projeções. O grupo de varejo registrou lucro
líquido de R$ 361 milhões no quarto trimestre de 2011, alta de 43,1% ante o
mesmo período do ano anterior. O resultado ficou acima da média das projeções
de analistas ouvidos pela "Reuters", que estimavam R$ 312,78 milhões.
Prova, mais uma vez, de que o mercado interno está aquecido. O papel
preferencial da empresa avançou 5,68%, cotado a R$ 72,29.
Entre os ativos de maior peso, Vale PNA caiu 0,87%,
a R$ 41,99; Petrobras PN avançou 0,71%, a R$ 24,05; OGX Petróleo ON teve alta
de 2,02, a R$ 17,65; Itaú Unibanco PN teve valorização de 0,46%, a R$ 36,66; e
Bradesco PN se depreciou em 0,29%, a R$ 30,81.
A bolsa não funcionou na segunda e na terça-feira,
em função do Carnaval. Ontem foi feriado nos Estados Unidos, pelo Dia do
Presidente. Os pregãos voltam à batida normal hoje.
CVM leva
diretores da Petrobras a julgamento
Por Juliana Ennes e Claudia Schüffner | Do Rio
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai levar a
julgamento, na terça-feira, três diretores financeiros da Petrobras por terem
atuado ativamente na gestão de um fundo exclusivo do Banco do Brasil (BB
Milênio 6), o que não era previsto em estatuto e, portanto, foi considerado
irregular pela autarquia. Por isso, também fazem parte do grupo de acusados a
própria BB Gestão de Recursos DTVM e seu então diretor-executivo, Arnaldo José
Vollet. Foram analisadas operações entre 2003 e 2006.
Do lado da Petrobras, os acusados são o atual
diretor financeiro e de Relações com Investidores, Almir Barbassa, o agora
ex-presidente José Sergio Gabrielli e João Pinheiro Nogueira Batista. Os dois
últimos ocuparam a diretoria financeira: Gabrielli entre 2003 e 2005 e João
Nogueira Batista entre setembro de 2001 e janeiro de 2003, no lugar de Ronnie
Vaz Moreira. Barbassa sucedeu Gabrielli quando ele foi indicado para a
presidência da estatal em julho de 2005.
A Petrobras era a única cotista do BB Milênio 6 - a
data de constituição não foi informada - e aplicava em dois outros fundos,
criados exclusivamente para isso: o fundo Marte, do BNP Paribas; e o Vênus
Sudameris. Os três geriam recursos apenas para a companhia.
A denúncia da CVM é de que, a partir de 2003, a
Petrobras passou a operar parte da carteira desses dois fundos, especialmente
posições em contratos de dólar futuro. No entendimento da CVM, isso não poderia
ter acontecido porque supostamente as regras dos fundos não previam que o
cotista interferisse ou orientasse as aplicações, mesmo sendo os três
exclusivos.
Um dos envolvidos no caso contou ao Valor que a
Petrobras atuava de fato ativamente na decisão de compra de ativos, o que
deixou de ser feito a partir do momento em que a autarquia entendeu que isso
era uma infração às regras dos fundos e questionou a prática.
O Valor apurou que o objetivo da estatal era
aumentar sua posição em dólar futuro, maneira encontrada para fazer hedge dos
vencimentos que teria nos meses seguintes em moeda americana. Era uma forma de
se prevenir contra fortes oscilações cambiais do período sem desobedecer
explicitamente a regra que obriga as estatais a aplicarem recursos do seu caixa
única e exclusivamente em títulos públicos.
Um dos envolvidos no caso explicou que "uma
forma de comprar dólar futuro é trocar o rendimento Selic pelo rendimento
cambial". Com a operação no mercado de derivativos, a companhia entendia
que não estava aplicando em outra moeda, já que o principal estaria ainda em
títulos do Tesouro, explicou a fonte. Por esse raciocínio, estaria apenas
trocando o rendimento em reais por dólares.
Segundo um parecer elaborado por técnicos da CVM,
os fundos eram utilizados para "ajustar a posição cambial dos fundos do
cotista, determinada pelo seu Comitê de Caixa" e "realizar algumas
operações nos mercados de taxas de juros e, principalmente, dólar, com o
objetivo de buscar melhorar a rentabilidade dos fundos".
No julgamento da terça-feira, mesmo que os acusados
não consigam convencer o colegiado da autarquia e sejam condenados, a
penalidade não vai doer no bolso, ao menos dos diretores da Petrobras, porque
todos têm seguro.
No mesmo processo também foram acusados a ABN Amro
Asset Management (atual Santander Asset), na qualidade de gestora do fundo
Sudameris Venus, e dois ex-diretores, Luiz Eduardo Passos Maia e Luciene
Ribeiro.
Na mesma direção, a asset da BNP Paribas, que geria
o fundo Marte, e seu então diretor responsável Marcelo Giufrida também foram
incluídos no processo. Todos fecharam um termo de compromisso em 2010, com o
pagamento de R$ 50 mil, cada um, para encerrar o processo. Por isso, restam no
processo apenas os acusados por parte do BB e da Petrobras.
BC
retira crédito tributário do cálculo de alavancagem
Por Claudia Safatle e Murilo Rodrigues Alves | De Brasília
Uma das mudanças importantes que o Banco Central
(BC) anunciou sexta-feira, ao colocar a proposta de regulamentação do acordo de
Basileia 3 em audiência pública, é a retirada dos créditos tributários e dos
investimentos em seguradoras do cômputo do capital principal dos bancos, o de
mais alta qualidade. A avaliação da autoridade monetária é que tanto os
créditos tributários quanto os investimentos em seguradoras não têm a liquidez
necessária e são de difícil mensuração.
"Os ativos que comprometem a capacidade de
absorção de perdas da instituição, por sua baixa liquidez, difícil mensuração
ou dependência de lucro futuro para serem realizados, deverão ser deduzidos do
capital principal", diz o edital da audiência pública.
O texto também detalha o cronograma de
implementação das novas regras discutidas e aprovadas pelo Comitê de Supervisão
Bancária de Basileia (Basileia 3) no rastro da crise financeira internacional
de 2008/2009. A audiência pública terá duração de 90 dias.
No calendário estabelecido pelo BC, a nova
regulamentação será implementada dois anos antes do restante do mundo. No
entanto, em 2019, prazo final para a transição às regras, todos os países
adotarão o mesmo requerimento de capital. Atualmente, a regulamentação
prudencial brasileira é mais conservadora do que o padrão internacional, mas o
BC decidiu que os índices mínimos de capital dos bancos no país vão obedecer
aos termos de Basileia 3.
O índice de Basileia, que mede as exigências de
capital das instituições, passará dos atuais 11% dos ativos ponderados pelo
risco para um intervalo de 10,5% a 13%, a depender do ciclo econômico.
Os novos parâmetros de capital - o de conservação
ou parte fixa e o contracíclico - terão peso de 2,5% cada no índice de
Basileia, totalizando, portanto, o máximo de 13%. O capital contracíclico será
definido pelo BC a cada ano, podendo ser inferior a 2,5%. O que se espera é que
as instituições financeiras acumulem um "colchão" amortecedor em
excedente de capital para ser usado em momentos de crise.
Pelo novo acordo, as autoridades reguladoras
pretendem evitar que futuras crises bancárias causem tantos danos à economia
real.
Simultaneamente ao novo marco de requerimento de
capital, Basileia 3 criou um padrão internacional de liquidez ("Liquidity
Coverage Ratio"), até então um aspecto negligenciado pela regulação, que
exigirá dos bancos a disponibilidade de ativos líquidos realizáveis suficientes
para atender integralmente à demanda, numa janela de 30 dias, em situações de
crise.
Soma-se a esse conjunto de regras, ainda, o
requerimento de capital mínimo para alavancagem. A razão da alavancagem será de
3% do ativos não ponderados pelo risco (com o peso de capital nível 1).
Trata-se de um aperto nas regras prudenciais que
deverá ter efeito sobre a oferta de crédito no país. Levantamento feito com
dados de 2010 mostrava que se os créditos tributários fossem deduzidos da base
de capital de nível 1 dos cinco maiores bancos do país, R$ 64,1 bilhões dos R$
87,7 bilhões de créditos tributários existentes à época deixariam de valer como
referência para alavancagem de crédito.
Esses valores hoje são provavelmente maiores. De
acordo com o balanço do Bradesco, de dezembro de 2011, o total de créditos
tributários líquidos das obrigações fiscais diferidas atingiu R$ 16 bilhões, o
equivalente a 22,5% do patrimônio de referência usado para o cálculo do índice
de Basileia, segundo a instituição.
No caso do Itaú Unibanco, o saldo de créditos
tributários no fim do ano passado era de R$ 28,3 bilhões. Já no Banco do
Brasil, o total dos créditos tributários ativados estava em R$ 22,8 bilhões. No
Santander, os créditos tributários registrados chegavam a R$ 15,1 bilhões. Na
Caixa Econômica Federal, o total líquido de provisão foi a R$ 13,6 bilhões.
Em recente entrevista ao Valor, o presidente do Itaú
Unibanco, Roberto Setubal, ponderou que o Brasil poderia fazer um ajuste no
acordo de Basileia 3, em função do tratamento fiscal que é dado às provisões
para devedores duvidosos no Brasil, que cria um crédito fiscal maior do que em
outros países. Setubal explicou que o crédito fiscal não é dedutível para fins
de imposto de renda no momento em que se constitui a provisão, apenas quando a
perda se caracteriza de fato. (Colaborou Fernando Travaglini, de São Paulo)
INVESTIMENTOs
Otimismo
com a bolsa reduz aluguel de ações em janeiro
Por Karin Sato | De São Paulo
A perspectiva positiva para a bolsa de valores
neste início de ano resultou na queda do aluguel de ações em janeiro, para R$
63,348 bilhões. Trata-se de um recuo de mais de R$ 20 bilhões em relação à
cifra recorde atingida em dezembro de 2011, de R$ 84,767 bilhões.
Nessa transação, o detentor do ativo
"empresta" suas ações temporariamente para investidores ou montarem
posições "vendidas", apostando na desvalorização de preços, ou compor
estratégias de arbitragem, com operações de compra e venda para ganhar com a
diferença de preço dos papéis, e não com a direção da bolsa.
O aluguel de ações tende a crescer quando a
expectativa do mercado é de que o Índice Bovespa ou uma ação específica
decline, explica o analista da XP Educação, Marcos Moore. "Muitos fundos
de investimentos que realizam operações de arbitragem e investidores
individuais tomam papéis para ficar vendidos (ou "short", como também
é conhecida a estratégia). Por isso, o viés de valorização do índice em janeiro
explica a queda do volume movimentado em operações de aluguel", diz. No
mês passado, o Ibovespa avançou 11,1%, depois de recuar 18,11% em 2011.
A participação das pessoas físicas entre os
doadores de papéis também caiu de dezembro para janeiro, passando de 43,12% -
segundo maior percentual da história, perdendo apenas para dezembro de 2001
(64,31%) - para 27,01%. O analista da XP Educação acredita que isso tenha
ocorrido porque muitos investidores individuais venderam ações no fim do ano
passado, por necessidades financeiras ou porque simplesmente não acreditavam na
melhora da bolsa de valores. O saldo líquido (compras menos vendas) de
aplicações da pessoa física na bolsa ficou negativo em R$ 7,8 bilhões em 2011 e
em R$ 2,4 bilhões em janeiro.
O empréstimo de ações é indicado quando o investidor
não pretende vender seus papéis tão cedo, mas quer obter um rendimento extra.
Por exemplo, se ele acredita que o papel vai cair, pode disponibilizá-lo para
aluguel, com o objetivo de obter um retorno fixo com ele. O doador recebe um
percentual prefixado de outro investidor (o tomador), além de uma taxa líquida
de 0,05% ao ano sobre o volume emprestado (confira acima como funciona).
O gerente do home broker da Corretora Souza Barros,
Daniel Garcia, afirma que o aluguel de ações é uma boa opção de remuneração
àqueles investidores que visam ao longo prazo. "Para quem tem um horizonte
de investimentos de dez anos, por exemplo, é interessante disponibilizar as
ações para doação", diz.
Uma dica para o doador é acompanhar a evolução das
taxas médias para empréstimo praticadas no mercado. No site da BM&FBovespa,
no link "Empréstimo de títulos", dentro de "Serviços", é
possível encontrar tanto as taxas anualizadas recebidas pelos doadores quanto
as pagas pelos tomadores, sendo que as referentes a esses últimos são
geralmente maiores porque incluem também a comissão das corretoras.
"Vale a pena ficar de olho nos preços
recebidos pelo aluguel. A remuneração do doador é menor quando ele
disponibiliza papéis muito líquidos - como os preferenciais da Petrobras (entre
os dias 9 e 13 de fevereiro, a taxa foi de 0,23% ao ano) ou os preferenciais da
Vale (0,46% ao ano)", afirma Garcia. A razão disso é que, como as taxas
são acordadas livremente entre as partes, impera a lei da oferta e da demanda.
Desta forma, quando poucos investidores dispõem de
determinada ação para emprestar, a taxa a ser recebida tende a ser maior. Pode
acontecer ainda de muitos agentes do mercado estarem apostando na queda de
determinado ativo, ampliando a demanda, o que também faz com que a taxa aumente.
Assim, eventos ligados à determinada empresa podem fazer os ganhos do doador
disparar. No período entre 9 e 13 de fevereiro, destacavam-se as taxas da
Marfrig (24,50% ao ano), da JBS (26,36% ao ano) e da TecToy (26,83% ao ano).
O gerente comercial da Ágora Corretora, Helio Pio,
recomenda ao doador ficar atento a seus objetivos de investimentos, antes de
disponibilizar suas ações para aluguel. "Pode acontecer, por exemplo, de
ele precisar do dinheiro e querer se desfazer dos papéis enquanto o ativo estiver
em poder do tomador", argumenta.
A questão é que o doador somente consegue receber
de volta o papel antes do prazo acordado com o tomador se o aluguel tiver sido
feito na modalidade "reversível ao doador", segundo informações da
Ágora Corretora. Neste caso, o tomador terá três dias úteis após a data da
solicitação do doador para devolver os papéis. Se o contrato não estiver
enquadrado nessa modalidade, o doador terá de aguardar seu término para ter os
papéis de volta.
Obra vai
reunir frases provocativas de Brizola
Por Tom Cardoso | Para o Valor, de São Paulo
Até seus inimigos reconhecem: as frases e
provérbios de Leonel Brizola (1922-2004) fazem falta à política brasileira. Ele
era capaz de perder um aliado, mas uma boa frase, jamais. Que o diga Lula, seu
inimigo íntimo, que, por causa do velho caudilho, jamais se livrou do apelido
de "sapo barbudo". "A política é a arte de engolir sapo. Não
seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, este sapo
barbudo?", teria dito Brizola em 1989. A elite não engoliu e Lula perdeu a
eleição para a presidência para Fernando Collor.
No ano em que o ex-governador do Rio (1983-1987/
1991-1994) completaria 90 anos, um livro, ainda sem editora, com frases criadas
por ele, está sendo organizado por sua neta Juliana Brizola, deputada estadual
(PDT-RS). Serão 90 frases, cada uma representando um ano.
"A ideia surgiu assim que o meu avô morreu.
Começamos a lembrar das frases, das tiradas inteligentes, dos provérbios, que
não eram criados por ele, mas eram como se fossem", diz Juliana. A neta
lembra que passou a vida convivendo com um homem desconfiado. Um verdadeiro
"animal político". "Quando ele dizia: "Tem batata nessa
chaleira" é porque já sabia que alguém estava tentando enganá-lo. Aí ele
não sossegava", lembra. "Se alguém ameaçava sair do partido ou fechar
aliança com algum inimigo, todos já sabiam qual seria o provérbio: "Fulano
está costeando o alambrado"."
O curioso é que Brizola, socialista de formação,
usou boa parte do seu talento como frasista para cutucar a esquerda brasileira.
O alvo preferido sempre foi o PT, com quem vivia às turras. Suas brigas com o
partido abriram feridas jamais cicatrizadas, mas, ao mesmo tempo, serviu de
inspiração para um punhado de frases, repetidas até hoje, inclusive pelos
opositores: "O PT é a UDN de tamanco e macacão" ou "O PT é a
esquerda que a direita sempre quis".
AGRONEGÓCIOS
Expansão
da soja só 'poupa' região Sudeste
Por Fernando Lopes | De São Paulo
Quem vê a atual importância da soja para o
agronegócio do país muitas vezes perde de vista o alcance e a velocidade de sua
expansão no campo brasileiro e como essa "especialização nacional" na
cadeia produtiva do grão foi vital para a valorização do setor como um todo nas
últimas décadas.
Ainda que muitos especialistas tenham razão em
apontar os riscos de uma concentração excessiva de um setor em torno de um
único produto, a expansão do Brasil na soja se confunde com o reconhecimento
internacional do país como "celeiro do mundo", renovado nesse início
de milênio com a aceleração da demanda global por alimentos, puxada por
emergentes.
Em seu último "Boletim Regional", o Banco
Central apresenta estatísticas que não deixam essa influência da soja passar
despercebida. E na comparação entre dados de 1995 e de 2010, é possível
perceber um movimento relativamente contínuo de avanço, que deverá ter
prosseguimento.
O domínio da soja, que começou a ser cultivada no
Brasil no início do século passado, no Rio Grande do Sul, ganhou seus primeiros
contornos na década de 70, após a expansão promovida por gaúchos e paranaenses
no Centro-Oeste, em propriedades maiores, mecanizadas e mais eficientes. Mas
mesmo no Norte e no Nordeste o grão ganhou bastante relevância.
Na média anual do período entre 1995 e 1997, a
oleaginosa já representava 15,7% do valor bruto da produção (VBP) das
principais culturas agrícolas do país, mas perdia para a cana, que
"mordeu" 16,1% do VBP no intervalo, segundo dados do IBGE compilados
pelo BC. Com uma evolução quase constante desde então, a soja entrou nos anos
2000 já como líder em VBP agrícola, e chegou ao triênio 2008-2010 com uma
participação média de 25,8% no valor consolidado.
A cana, cultivo tradicional desde os tempos
coloniais, passou a "disputar" com o milho a segunda posição, mas
prevaleceu no período entre 2008 e 2010, com fatia média de 16,5%. O milho
permaneceu em terceiro e café e arroz mantiveram-se na lista das "cinco
mais", mas com pesos menores.
Vale notar, ainda, que das culturas que encabeçam o
VBP do campo, a soja, dada sua forte expansão, foi a única que de 2005/2007 a
2008-2010 registrou, apesar de alguns percalços, crescimentos médios anuais em
área colhida (5,4%), rendimento (1,7%), produção (7,2%), preço (0,2%) e valor
(7,3%). Nos preços domésticos, por exemplo, os quatro outros produtos que
encabeçam o rol apresentaram variações médias anuais negativas.
As projeções disponíveis indicam que há poucas
mudanças nessa tendência em 2012. Estimativa mais recente do Ministério da
Agricultura para o VBP das 20 principais culturas agrícolas do país aponta para
R$ 214,6 bilhões no total, 2,7% mais que em 2011 (R$ 214,6 bilhões) e liderado
por Sudeste (R$ 70,4 bilhões), Centro-Oeste (R$ 53,1 bilhão), Sul (R$ 51,7
bilhões), Nordeste (R$ 28,1 bilhão) e Norte (R$ 7,1 bilhões). Em 2000, foram
cerca de R$ 100 bilhões.
A soja vai manter sua já tradicional liderança
nesse ranking, com previsão de VBP de R$ 51,2 bilhões, mas o valor estimado é
5,2% inferior ao de 2011 e sua fatia no total deverá cair para 23,8%. Isso
porque, apesar do aumento de 2,4% da área plantada nesta safra 2011/12, a
colheita deverá diminuir 8,1% por conta de adversidades climáticas e seus
preços poderão cair em meio às turbulências globais.
No ciclo atual, os 24,8 milhões de hectares
calculada pela Conab correspondem a 48% da área plantada total de grãos
estimada, enquanto as 69,2 milhões de toneladas esperadas representam 44% da
colheita esperada.
Chama a atenção, ainda, o fato de a expansão da soja
ser marcante em quase todas as regiões do país, exceto no Sudeste, onde a cana,
"onipresente" em São Paulo, expandiu seu reinado. Mesmo no Nordeste,
outro tradicional reduto canavieiro, o que mais chama a atenção é o salto da
participação da soja no valor bruto da produção. A fatia passou de 4,4% no
biênio 1995-1997 para 14,2% em 2008-2010. A cana viu sua participação cair de
23,8% para 16,7%.
Se no Sul e no Centro-Oeste o avanço da soja é mais
visível, no Nordeste ela se dá sobretudo no Cerrado de Maranhão e Piauí, dois
dos três vértices do chamado "Mapito", compreendido também por
regiões de Cerrado de Tocantins.
No Norte, onde o grão avançou mas ainda perde para
a mandioca, boa parte da expansão aconteceu em áreas degradadas inicialmente
pela pecuária, e a fatia de 0,4% no VBP entre 1995 e 1997 engordou para 15,7%
de 2008 a 2010.
Na
exportação, foco na China
Por De São Paulo
Se a atual dependência do agronegócio brasileiro da
soja é motivo de preocupação para muitos especialistas, dados os reflexos
adversos que um revés no mercado do grão podem representar para produtores,
agroindústrias e economias regionais, o aumento da concentração das exportações
brasileiras da oleaginosa para a China nos últimos anos ampliou esses temores.
Único país do mundo que já semeava soja em escala
comercial no começo do século XX, a China ampliou de forma expressiva as
importações do grão no início deste milênio. Em boa medida, os chineses optaram
por elevar investimentos em lavouras como milho, trigo e arroz em detrimento da
soja, mas atraíram aportes, inclusive das grandes tradings multinacionais, em
seu parque de processamento da oleaginosa.
Com isso, ampliou sua dependência da matéria-prima
e hoje responde por cerca de 60% das importações mundiais, mas manteve produção
relevante de farelo e óleo, cuja demanda doméstica explodiu com a aceleração de
seu crescimento nas últimas décadas. EUA, Brasil e Argentina são os maiores
exportadores globais de soja em grão. (FL)
Carnaval
motiva aumentos da demanda e do preço do etanol
Por Fabiana Batista | De São Paulo
Usineiros com etanol estocado nesta entressafra
tiveram bons motivos para cair na folia durante o Carnaval. Por causa da maior
festa popular brasileira, o consumo do biocombustível subiu no país e puxou os
preços pagos nas usinas.
Entre 13 e 17 de fevereiro, semana que antecedeu o
feriado, o indicador Cepea/Esalq para o litro do hidratado negociado em São
Paulo subiu 6,9%, para R$ 1,1581. Já o anidro, que é misturado à gasolina,
registrou valorização de 4,67% e alcançou R$ 1,2104 o litro.
Durante os últimos dias, o indicador Esalq
BM&FBovespa para o hidratado posto em Paulínia (SP) já vinha apontando para
a guinada das cotações. Desde a segunda-feira, o índice subiu 2,49%, saindo de
R$ 1.190 o m3, na segunda-feira (dia 13), para R$ 1.218,50 o m3 na sexta (dia
17).
Além do consumo maior no período que antecede o
Carnaval, o aumento dos preços na usina é decorrência da volta da viabilidade
de abastecimento com etanol em algumas cidades do país, sobretudo em São Paulo,
o maior centro consumidor.
Isso se deve à queda dos preços nas usinas iniciada
em janeiro e que prosseguiu até a primeira quinzena de fevereiro. Nesse
período, a retração do valor pago à indústria acumulou cerca de 10%.
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo
(ANP), em 2011 as vendas de etanol recuaram 13,8%, sendo que somente a venda de
hidratado caiu 28,9%. Em janeiro de 2012 o movimento de retração do consumo
continuou.
Tribunal
de Justiça de SP nega ações contra abertura de capital da BM&F
Por Bárbara Pombo | De São Paulo
A transformação da Bolsa de Mercadorias &
Futuros (BM&F) em empresa e a abertura de seu capital, em 2007, ainda
rendem questionamentos no Judiciário. O Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJ-SP) tem analisado pedidos de ex-membros efetivos da Associação BMF e de
associados da Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP) - fundida à BMF, em 1991
- que discutem a operação. Atualmente, há 75 ações sobre o tema na Justiça,
segundo a BM&FBovespa - companhia aberta resultante da união entre a Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa) e a BMF. "Já temos oito decisões
favoráveis em segunda instância", diz o diretor jurídico da bolsa,
Henrique Vergara. Os associados têm recorrido ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ), mas ainda não há julgamentos.
Os sócios efetivos da BM&F pedem a anulação da
assembleia realizada em 20 de setembro de 2007, quando foi aprovado o
procedimento de desmutualização - conversão de uma associação sem fins
lucrativos em empresa -, a abertura de capital e a fixação de novo valor do
patrimônio social da BMF.
A determinação do patrimônio social da BMF era
fundamental para a conversão dos títulos patrimoniais em ações. Na ocasião,
cada título de sócio efetivo foi convertido em dez mil ações. Entretanto, eles
afirmam que a divisão deveria ter sido a mesma entre os sócios efetivos, os
corretores, membros de compensação e os operadores especiais. "Os títulos
das corretoras foram convertidos em cerca de 4,9 milhões de ações e dos
operadores em 1,3 milhões", diz o advogado que representa alguns desses
sócios, Welinton Balderrama dos Reis. A BM&FBovespa afirma que os valores
dos títulos eram fixados todos os anos desde 1984 sem terem sido contestados, e
as ações foram distribuídas de acordo com a contribuição de cada categoria na
formação do capital da BMF.
Os sócios alegam ainda que os prazos de convocação
para a assembleia geral não foram obedecidos pela bolsa. Para eles, o prazo
deveria ser de, no mínimo, 15 dias antes, conforme previsto no artigo 124 da
Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404, de 1976). A bolsa sustenta, no
entanto, que fez a convocação da assembleia geral por ofício circular no dia 17
de setembro. Ou seja, três dias antes, como determina seu estatuto.
Segundo o advogado dos sócios, os balancetes e os
novos valores do patrimônio social e dos títulos patrimoniais deveriam ser
analisados em assembleia ordinária. "Em má-fé, a BM&F declara que
esses documentos somente foram elaborados para informar os presentes, e não
para a sua aprovação", afirma Reis.
Nos dois últimos julgamentos sobre a questão, os
desembargadores do TJ-SP entenderam que os sócios ou seus representantes
compareceram à assembleia e aprovaram a desmutualização. Dessa maneira, não
teriam "interesse de agir". "O sócio não pode participar da
assembleia, aceitar a deliberação e depois entrar com ação para defender o
contrário", afirmou ao Valor um dos desembargadores que participou do
julgamento.
Até então, o TJ estava apenas negando os recursos
dos sócios e mantendo a sentença de primeiro grau. No entanto, no último
julgamento, realizado no dia 7, eles decidiram utilizar o argumento como
análise de mérito, e dar uma solução definitiva ao caso. "A pretenção dos
autores é improcedente, não há direito material. Vamos enfrentar o mérito porque
já há elementos para isso", afirmou o desembargador Ênio Zuliani, durante
a sessão.
O TJ-SP também negou, no julgamento realizado no
dia 7, o recurso de um portador de um título não patrimonial da BMF. Na ação,
ele pedia a efetivação da fusão patrimonial entre a BMF e a Bolsa de
Mercadorias de São Paulo (BMSP). Com isso, teria direito a cerca de dez mil
ações decorrentes da conversão dos títulos de sócio efetivo patrimonial.
Pelo acordo firmado entre as partes em 1991, a
união entre as associações seria feita em etapas. Na época, foi concretizada
apenas a fusão operacional. A fusão patrimonial poderia ser feita apenas depois
de solucionadas pendências financeiras da BMSP, que ainda tramitam na Justiça.
Os advogados do titular afirmam, no entanto, que o TJ já desconsiderou a
personalidade jurídica da BMSP para que a BM&F assuma a responsabilidade da
liquidação pendente.
Para os desembargadores, porém, os associados da
BMSP só terão o direito depois de concluída a fusão patrimonial. "A
questão é clara e objetiva. Os membros efetivos da BMSP não tinham, como não
têm até hoje, direito adquirido a qualquer participação no patrimônio da
BM&F", afirmou o desembargador, relator do caso, Romeu Ricupero. Além
disso, ele acrescentou que como detentores de títulos não patrimoniais daquela
associação, não faziam jus ao recebimento de ações da BM&F S/A.
Três dos cinco desembargadores que compõe a Câmara
Reservada de Direito Empresarial consideraram ainda que havia abuso no pedido.
"O autor nem era sócio patrimonial. A ação chega às raias da litigância de
má-fé", disse o desembargador Manoel Pereira Calças.
Fazenda
redireciona cobrança milionária
Por Maíra Magro | De Brasília
A BRF - Brasil Foods tenta livrar-se na Justiça de
uma cobrança de R$ 600 milhões da Fazenda Nacional, relativa a impostos devidos
de 1992 a 1994 pela Huaine Participações - uma holding da família Brandalise,
antiga controladora da Perdigão. A BRF argumenta que foi indevidamente incluída
no processo 15 anos depois de iniciado, e que não pode responder pela dívida
pois não tem qualquer tipo de relação jurídica com a Huaine.
Em 1997, a Fazenda Nacional lançou um auto de
infração contra a holding, por omissão de receitas e não pagamento de Imposto
de Renda e contribuições federais. Mas o débito nunca foi pago. A Huaine perdeu
a discussão no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Em 2000,
chegou a ser incluída no Refis, mas foi excluída cinco anos depois.
A Fazenda então redirecionou a cobrança para a
Perdigão, em 2008. A empresa afirmou no processo que foi intimada no ano
seguinte a pagar a quantia em cinco dias, caso contrário teria seu patrimônio penhorado.
O argumento do Fisco é de que a Perdigão responde solidariamente pelos débitos
da antiga controladora, pois teria interesse comum nos atos que levaram ao
lançamento dos tributos.
A empresa alega no processo que se trata de uma
injustiça. A Perdigão foi vendida a fundos de pensão em 1994 e, posteriormente,
sua fusão com a Sadia deu origem à Brasil Foods. A BRF argumenta que não houve
qualquer tipo de sucessão tributária nessas operações, e que o próprio
lançamento dos tributos ocorreu em 1997, quando a Perdigão já não tinha
qualquer relação com os antigos controladores. Em nota ao Valor, a BRF afirmou
que "não reconhece essa dívida, considera equivocada sua inclusão no
processo e não considera esse caso um risco para a companhia".
A BRF ganhou a discussão em primeira instância,
pelo argumento de que o prazo de inclusão no processo estaria vencido. Segundo
a defesa, o período máximo para isso seria de cinco anos, caso fosse
reconhecido algum tipo de relação entre as empresas. O Tribunal Regional Federal
(TRF) da 3ª Região, porém, deu ganho de causa à Fazenda, entendendo que não
seria possível falar em decadência do prazo, em razão do vínculo de
solidariedade entre as companhias. Ou seja, uma vez constituído o crédito
contra a Huaine, ele valeria também para a Perdigão.
A BRF recorreu ao STJ dizendo que a decisão de
segunda instância contraria a jurisprudência da própria Corte, de que seria
indispensável rever o lançamento do tributo quando houver inclusão de uma nova
empresa. Os advogados afirmaram durante o julgamento que, como os tributos eram
devidos pela Huaine, somente ela poderia responder pela dívida. Também
reclamaram na tributa que a Perdigão estaria sendo culpada por atos da família
Brandalise (os ex-controladores foram acusados na Justiça de sonegação fiscal).
Outro argumento da empresa foi de que, ainda que se
estabelecesse algum vínculo de solidariedade com a Huaine, a Perdigão não
poderia ter sido inserida na certidão de dívida ativa tão tarde, sem ter antes
a chance de se defender na esfera administrativa.
Na semana passada, o caso foi levado a julgamento
pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas os ministros não
chegaram a decidir o mérito. O relator do processo, ministro Herman Benjamin,
entendeu que o TRF não discutiu todos os argumentos trazidos pela BRF, e
determinou o retorno do processo para novo julgamento em segunda instância. O
voto foi acompanhado por unanimidade. "A decisão foi favorável à empresa,
ao acolher o pedido para que o caso volte a ser analisado pelo TRF-3",
afirmou a BRF em nota.
O advogado tributarista Plínio Marafon, do
escritório Marafon & Fragoso Consultores, explica que o STJ vem recusando
que empresas de um mesmo grupo econômico sejam obrigadas a responder pela
dívida uma das outras. "Se a holding toma dívidas e não paga, a empresa
operativa não responde, a não ser nos casos previstos em lei", afirma. As
exceções são quando a empresa é avalista da dívida ou sucessora tributária -
hipótese que a BRF rejeita. A Fazenda Nacional não comentou o caso.
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