PRIMEIRA PÁGINA
Leilão abre hoje privatização de
aeroportos
Concessão de terminais de Guarulhos, de Campinas e
de Brasília atrai operadores internacionais
Por que
a rebelião de PMs assusta
Depois de mais de 80 homicídios em seis dias,
Polícia Federal entra em ação em Salvador
EDITORIAL
Disciplina
e ousadia
Duas palavras foram apresentadas pelo governo como
definidoras da linha que a União pretende seguir em 2012, para assegurar a
continuidade dos avanços econômicos e sociais do ano passado, sem descuidar do
controle das contas públicas. Disciplina e ousadia são, literalmente,
compromissos que a senhora Dilma Rousseff assumiu na mensagem enviada ao
Congresso na reabertura dos trabalhos legislativos. O longo texto com um
balanço do que foi feito e do que o Executivo pretende realizar contém um
compreensível otimismo com as perspectivas para o ano. São informações baseadas
no comportamento da economia, nas realizações em áreas como o combate à pobreza
e na expectativa de que as relações do governo com os partidos serão finalmente
aperfeiçoadas por uma sempre adiada reforma política.
A receita básica do governo para manter um nível de
crescimento razoável este ano é a mesma que deu certo em 2011, mas que
dependerá de ações mais efetivas do próprio setor público como disseminador de
investimentos. Diz a senhora Dilma Rousseff, na mensagem que a ministra Gleisi
Hoffmann entregou ao senador José Sarney, que a aposta será mais uma vez no
fortalecimento do mercado interno. A tática de fato vem sendo exitosa, desde
2008, quando do início da crise econômica mundial, mas não pode contar apenas
com o esforço privado para que seja preservada e aperfeiçoada em 2012. É
preciso que o próprio governo deixe de fazer economia com recursos que deveria
aplicar em obras de infraestrutura, muitas das quais previstas no Programa de
Aceleração do Crescimento, como ocorreu em 2011.
Também deverão ter melhor atenção este ano duas
áreas essenciais e que mais dependem de ações governamentais. A educação básica
e a saúde exigem menos discurso e mais determinação do governo, ou o sucesso da
economia, com a manutenção de níveis de renda e de pleno emprego, não terá
sentido. A mensagem presidencial reconhece que a saúde pública é uma das
maiores demandas e preocupações da população brasileira e faz referência à
distribuição de medicamentos para diabetes e pressão alta, a programas como o
Rede Cegonha, para as gestantes, e aos planos de prevenção do câncer. É preciso
fazer mais, para estancar o drama nos corredores das emergências, a falta de
leitos, as filas à espera de exames e consultas médicas.
Em outra área relevante, a da administração das
próprias contas, o compromisso com a disciplina deverá se traduzir em controle
de gastos com a manutenção da máquina pública, que incluem despesas inúteis com
excesso de pessoal. Na frente política, o governo também terá de transformar
boas intenções em resultados substantivos, ao manifestar empenho em favor de uma
reforma que, como ressalta o texto do Planalto, seja capaz de fortalecer
"o sentido programático dos partidos brasileiros, de aperfeiçoar as
instituições e permitir maior transparência ao conjunto da atividade
pública". O Executivo é desafiado, desde já, a perseguir os compromissos
assumidos na mensagem ao Congresso, para que as circunstâncias que se anunciam
em 2012 não sejam desperdiçadas.
COLUNAS
Brasília
Carolina Bahia
Amarga continuidade
Criado no primeiro ano do governo Lula para ser o
elo de Brasília com os municípios, o Ministério das Cidades virou um
instrumento de barganha política e acertos eleitorais. A posse hoje de
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) nem de longe altera esse desvio de rota. Em 2005, a
pasta passou do PT – à época o ministro era Olívio Dutra – para o PP em troca
do apoio na crise do mensalão. Aliados de Dilma, os progressistas continuam à
frente da pasta, comandando um orçamento de R$ 22 bilhões e projetos
estratégicos. Ribeiro, porém, nem bem assumiu e já precisa dar explicações
sobre acusações que vão de nepotismo à sonegação de informações para a Justiça
Eleitoral. Amanhã, ele começa a anunciar a nova equipe. Será que nada mesmo vai
mudar?
De volta
O diretório nacional do PT estará reunido em Porto
Alegre dia 18 de maio. Nos dois dias que antecedem o encontro, os 85
integrantes da alta cúpula petista discutirão as eleições de 2012. Paulo
Ferreira, um dos organizadores, trabalha com a possibilidade de Lula (foto)
estar presente já que o evento coincide com o fim do tratamento contra o câncer.
Ação
Com previsão de investir US$ 5 bilhões na Metade
Sul, os presidentes da Celulose Riograndense, Walter Nunes, e da Stora Enso,
Otávio Pontes, desembarcam em Brasília esta semana para reuniões com o
presidente da Câmara, Marco Maia, e com a bancada gaúcha. Além de apresentar
projetos, eles pretendem conversar sobre a nova legislação para compra de
terras por empresas estrangeiras, em discussão no Congresso.
Reflorestamento
Na região de Pelotas é grande a expectativa quanto
ao futuro do projeto Losango, estimado em US$ 2,5 bilhões. O plano chama a
atenção de potenciais compradores, mas eles aguardam definição sobre a lei da
venda de terras para estrangeiros.
Quase lá
Apesar da pressão dos servidores federais, a Câmara
começaria o ano com pé direito se aprovasse de uma vez por todas a criação do
fundo de previdência dos funcionários públicos. Déficit do setor já chega a R$
60 bilhões.
ARTIGOS
O legal
e o legítimo
Pio Giovani Dresch
Em 30 de abril de 2009, o Supremo Tribunal Federal
afastou do ordenamento jurídico brasileiro a Lei de Imprensa, com base no
entendimento de que a lei, nascida na ditadura, foi criada a partir de uma
ótica punitiva e cerceadora da liberdade de expressão. Prevaleceu a tese
defendida por 21 anos pelas entidades representativas de empresas e
profissionais da imprensa, inclusive Zero Hora.
Lembrei disso ao ler o editorial de ZH da última
sexta-feira, com o irônico título "A toga desalinhada", em que
apresenta a posição do jornal sobre os incidentes que envolveram a posse no
Tribunal de Justiça. Embora reconheça o anacronismo da Lei Orgânica da Magistratura,
o editorialista censura nosso Tribunal, dando o seguinte conselho jurídico:
"Se ela (a Loman) contraria avanços democráticos do país (...), precisa
ser revista – mas não pode ser desrespeitada enquanto estiver em vigor."
Talvez não tenha se lembrado de que o direito, como
ciência humana, comporta diferentes interpretações, e muitas vezes exige um
tempo de maturação, como ficou claro naquela decisão sobre a Lei de Imprensa. A
tese do editorial, que lembra o famoso brocardo dura lex, sed lex, ignora a
evolução da ciência jurídica, que impõe sejam as normas interpretadas de modo
integrado, conforme valores jurídicos dominantes, com a supremacia da
Constituição.
Foi o que aconteceu com a Lei de Imprensa e é o que
o Tribunal de Justiça faz com a Loman, ao interpretar que os membros mais
antigos a que se refere o art. 102 são os mais antigos dos aceitantes.
Mais do que isso – e o editorial tem essa percepção
–, há que se cuidar da legitimidade. Todos sabem o quão disputada foi essa
eleição, só desempatada a favor do desembargador Marcelo Bandeira Pereira pela
antiguidade. Mesmo assim, a magistratura do Rio Grande do Sul, a começar pelo
candidato derrotado, José Aquino Flôres de Camargo, passando pelos
desembargadores e chegando aos juízes de primeiro grau, aos quais, embora
reivindicação antiga, nem é assegurado o direito de voto, cerrou fileiras em
torno do presidente e demais desembargadores eleitos.
A posição da nossa magistratura é uníssona. Não
temos poder para alterar a Loman, mas o nosso tribunal lhe pode dar uma
interpretação que melhor se aproxime do espírito constitucional. É a
legitimidade democrática que aflora dessa interpretação já consagrada que leva
todos os juízes do Rio Grande do Sul a dizerem que Marcelo Bandeira Pereira é o
presidente do Tribunal de Justiça.
O resto será dito pelo Supremo Tribunal Federal,
mas é bom ficar claro que nas leis, assim como na imprensa – e, de resto, na
vida –, nem sempre as coisas são como parecem ser.
*Presidente
da Ajuris
POLITICA
TJ teme
prolongamento de impasse sobre posse
Após devolver cargo hoje, presidente vai a Brasília tentar
garantir julgamento no STF na quarta-feira
É crescente no Tribunal de Justiça a preocupação
com a possibilidade de o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF),
não colocar na pauta desta semana a apreciação do agravo que poderá derrubar a
liminar que gerou uma reviravolta no Judiciário gaúcho. Fux invalidou a posse
do desembargador Marcelo Bandeira Pereira na presidência da Corte.
Bandeira Pereira irá a Brasília hoje com dois
objetivos: pedir celeridade no julgamento do caso e convencer os outros 10
ministros do STF de que a eleição dele não desrespeitou a Lei da Magistratura.
– Vamos tentar sensibilizar o ministro sobre a
necessidade de resolver isso o mais rápido possível – diz Bandeira Pereira.
Hoje, às 9h, antes de embarcar para a capital
federal, ele devolverá o comando do TJ à gestão anterior, conforme a liminar.
Como o ex-presidente Leo Lima se aposentou, caberá a José Aquino Flôres de
Camargo assumir a presidência interinamente – ele ocupava o cargo de 1°
vice-presidente.
Bandeira Pereira permanecerá em Brasília pelo menos
até quarta ou quinta-feira, dias das sessões em que poderá ser apreciado o
agravo. Sua estratégia é percorrer os gabinetes dos 11 ministros do STF. Ele
precisa apresentar argumentos que convençam os magistrados da mais alta Corte
do país de que a sua eleição foi legal – o reclamante, desembargador Arno
Werlang, alega desrespeito ao critério que determina disputa pelos cargos entre
os cinco mais antigos do TJ.
Contudo, a cúpula da Judiciário gaúcho teme o
prolongamento do impasse. Não há nenhum dispositivo que obrigue Fux a colocar
em pauta nos próximos dias o agravo de Bandeira Pereira. Com uma demanda enorme
de processos, Fux poderá protelar o julgamento do caso.
Excluindo aqueles que estão inelegíveis ou
afastados, Bandeira Pereira é o desembargador mais antigo do TJ gaúcho. Ele
reúne as condições para ser presidente da Corte conforme as regras da Lei
Orgânica da Magistratura. O problema, alega Werlang, é que a chapa elegeu para
os outros cargos da direção desembargadores que não estão entre os cinco mais
velhos.
CARLOS
ROLLSING
“Isso é
constrangedor para todos nós”
José Aquino Flôres de Camargo 1º vice-presidente do TJ
José Aquino Flôres de Camargo, 1º vice-presidente
do TJ, assume hoje o comando porque o ex-presidente Leo Lima se aposentou.
Aquino concorreu a presidente. Acabou empatado com Marcelo Bandeira Pereira,
que levou o cargo por ser mais antigo.
ZH – O senhor foi comunicado no sábado de que assumiria o
TJ?
Aquino – Por força desta determinação do Supremo,
assumo provisoriamente. É dever do juiz cumprir as decisões judiciais. O
presidente Leo Lima está aposentado. Então, o substituto sou eu, o 1º
vice-presidente.
ZH – O senhor chegou a declarar que não queria assumir
nestas condições?
Aquino – Jamais disse que não queria. O que eu
disse é que jamais queria qualquer benefício que resultasse desta reclamação,
da qual eu não faço parte. Isso é constrangedor para todos nós.
ZH – Quais os desfechos possíveis? Novas eleições?
Aquino – Eu não quero dar entrevistas. Depois de
transmitido o cargo, se isso ocorrer, estarei à disposição.
ECONOMIA
Arrocho
na mesa do restaurante
No segundo dia da série sobre a crise na Europa,
como o aumento de impostos impõe desafios aos comerciantes de Portugal
A secular Madragoa, bem próxima ao Rio Tejo e à
zona portuária de Alcântara, já resistiu ao Grande Terremoto de 1755, ao rearranjo
político-econômico do regime salazarista e à tão aguardada entrada na União
Europeia (UE). Costuma-se dizer pelas ruelas desse bairro que "quem por cá
vive gente forte é". Mas o que essa gente empreendedora não esperava é
que, num piscar de olhos, um empréstimo internacional de 78 bilhões de euros
mudasse tudo.
A crise vivida pela zona do euro vem impondo um
novo modo de vida aos lusitanos. Somada à política intervencionista da troika
(composta por UE, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu),
alterou hábitos de consumo, elevou o índice de desemprego e diminuiu a
competitividade do país no mercado externo.
Nas ruelas da Madragoa, nem todos conseguiram se
reinventar. Na pequena Travessa do Pasteleiro, em dois meses a vizinhança viu
dois tradicionais estabelecimentos fecharem: um salão de cabelereiro e uma
galeria de arte que empregava uma dezena de profissionais.
O que se diz na travessa, um discurso que ecoa por
toda a cidade, é que "não há maneira de sustentar tantos impostos".
Traduzindo em números, significa dizer que, para o governo do primeiro-ministro
Passos Coelho cumprir as metas determinadas pela troika, os donos de
restaurantes, por exemplo, pagarão 10% a mais de Imposto sobre o Valor
Acrescentado (IVA). E há mais: 23% de aumento nas contas de energia elétrica e
gás, 3,19% nos aluguéis, 13% na tarifa da água, 4,36% nos pedágios.
30% dos jovens sem trabalho
O reflexo da austeridade é sentido por vários
segmentos. Como muitos em Lisboa, o comerciante José Martins Sousa, 64 anos, à
frente de um pequeno restaurante na Madragoa há três décadas, refez toda a
logística do local para reduzir o impacto dos aumentos de tributos.
– Não alterarei os valores do cardápio. Mas me vi
obrigado a dispensar meus três funcionários e manter o ritmo da casa apenas
comigo e minha esposa – diz Martins, que não sabe até quando manterá as portas
abertas.
Um dos primeiros a integrar a passeata dos
Indignados e Precários, no dia 21 de janeiro, o aposentado Fernando Augusto, 64
anos, confirma um cenário cada vez mais recorrente: de pais que mantêm os
filhos desempregados. Mesmo com o corte mensal de 300 euros na aposentadoria,
Augusto arca com todo o orçamento doméstico e sustenta os dois filhos
recém-formados.
– Que perspectiva tem um pai de família ao ver os
filhos formados e desempregados há meses? – desabafa o aposentado.
Mais de 30% dos jovens estão sem trabalho no país.
De acordo com os últimos dados da Eurostat e da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), há mais de 600 mil desempregados inscritos
nos centros de emprego em Portugal.
Mas é no meio da crise que se vê emergir uma nova
linguagem de emancipação. Na gramática da indignação, repercutida da Madragoa
até Benfica e passando pelo Chiado, há uma população disposta a transformar a
política unilateral do país. E, como nem todo fado canta a desilusão, o
português sabe muito bem o que significa transformação.
*Jornalista, Juliana Souza vive em Lisboa desde
2008 e escreve para jornais e agências em Portugal e no Brasil. Atualmente
cursa doutorado em Linguagens e Heterodoxias na Universidade de Coimbra
JULIANA SOUZA
| Especial/Lisboa
Operadores
globais disputam aeroportos
Primeiro leilão de terminais aéreos está marcado para as
10h de hoje
Com previsão de durar mais de cinco horas, está
marcado para as 10h de hoje o primeiro leilão de concessão de aeroportos do
Brasil. Com valor mínimo de R$ 5,4 bilhões e previsão de investimentos de até
R$ 16 bilhões, a disputa representa um capítulo inédito nas privatizações
brasileiras.
Devem participar mais de 20 grupos privados em
diferentes consórcios, que só devem ser confirmados depois do resultado. Como
nenhum concorrente foi desclassificado na etapa prévia, realizada sexta-feira
passada, pelo menos duas dezenas de empresas estarão envolvidas em diferentes
composições de grupos. Entre os participantes, estão alguns operadores de
grandes terminais internacionais, como Changi, de Cingapura, Zurich, da cidade
suíça de mesmo nome, Fraport, de Frankfurt, e Ferrovial, que administra Hea-
throw, um dos maiores aeroportos de Londres. Com sócios brasileiros e
participação mínima de 49% da Infraero, alguns desses operadores podem assumir
a gestão dos terminais por 20 anos – no caso de Guarulhos –, 25 anos – Brasília
–, e até 30 anos, em Viracopos (Campinas, SP).
Sistema inclui possibilidade de lances em viva-voz
Um dos motivos para a longa duração prevista para o
leilão é seu sistema. Antes do início da disputa propriamente dita, haverá
abertura das propostas e classificação das empresas. Passam à nova etapa as
três melhores ofertas para cada aeroporto ou todas que correspondam a no mínimo
90% da maior oferta apresentada.
Caso várias propostas passem dessa fase, pode haver
um leilão viva-voz. Nesse caso, o corretor que representa cada consórcio pode
fazer novos lances a qualquer momento.
Como é a combinação de resultados que determinará
os vencedores, é possível que mesmo que uma companhia tenha ofertado o valor
mais alto para um dos aeroportos, não consiga arrematar o terminal desejado.
Essa situação inusitada pode ocorrer porque cada consórcio só pode ficar com um
dos terminais. Quer dizer, cada proponente pode apresentar proposta para todos
os aeroportos, mas somente poderá ser o vencedor de um deles. O leilão dos três
aeroportos será simultâneo.
Os novos controladores assumem os terminais
arrematados seis meses depois da assinatura dos contratos. Nesse intervalo,
haverá um período de transição no qual a concessionária vencedora administrará
o aeroporto em conjunto com a Infraero.
Um dos objetivos da concessão é acelerar a execução
das obras necessárias para atender à atual demanda e a prevista para a Copa do
Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Levantamento da ANP em 90 estabelecimentos constata pouca
variação no litro de gasolina
Sete em
cada 10 postos em Porto Alegre estão com preço idêntico
No levantamento de preços realizado pela Agência
Nacional do Petróleo (ANP) na semana passada, dos 90 postos pesquisados em
Porto Alegre 66 cobravam o mesmo valor pelo litro da gasolina comum: R$ 2,699.
Além disso, em outras 13 revendas, o preço do combustível foi de R$ 2,690,
restando apenas 11 estabelecimentos com quantias diferentes.
A pesquisa da agência responsável pela fiscalização
do setor foi feita entre os dias 29 de janeiro e 4 de fevereiro. O que chama a
atenção é que mais de dois terços ou 73% dos postos pesquisados apresentem
exatamente o mesmo valor na bomba – a coincidência vai até a terceira casa
depois da vírgula.
Embora os fatores que representam maior impacto nos
preços sejam comuns a todos os estabelecimentos (o que determina frequentes
flutuações em conjunto – para cima ou para baixo), é pouco usual tanta
coincidência de valores.
Dirigente ressalta que fixação de valor é livre
Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de
Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro), Adão Oliveira
lembra que a fixação do preço final dos combustíveis é livre. Oliveira explica
que os donos de postos levam em conta o valor pago aos fornecedores e os custos
fixos – como transporte, energia elétrica e funcionários.
– Cada revendedor define o preço cobrado no varejo.
Às vezes um baixa um centavo e o outro baixa também – afirmou o dirigente,
acrescentando que os estabelecimentos da Capital costumam reduzir os preços nos
meses de verão para atrair consumidores em um período de venda menor.
Conforme o presidente do Procon de Porto Alegre,
Omar Ferri Junior, uma das explicações para os preços idênticos pode ser o fato
de um mesmo proprietário controlar vários postos na cidade.
– O dono pode tabelar o valor nos seus
estabelecimentos, forçando pequenos estabelecimentos a baixar os preços para
conseguir concorrer – explicou Ferri Junior.
Na avaliação do responsável pelo órgão de defesa do
consumidor da Capital, essa prática poderia ser considerada monopólio, mas não
cartel. Cartel é uma associação de empresas que atuam no mesmo ramo para combinar
preços ou outras medidas que provocam distorções no mercado e é considerada uma
atividade que prejudica a concorrência.
Em episódios anteriores, durante investigações
iniciadas pelo Ministério Público Estadual em 2007, em Caxias do Sul, e em
2005, em Novo Hamburgo, a uniformidade de preços foi considerada um indício
para apurar eventual formação de cartel. Tomada isoladamente, porém, a
repetição de preços iguais não é suficiente para definir prática ilegal.
JOANA COLUSSI
CAMPO E LAVOURA
Governo
avalia usar trigo como ração
Com a quebra na safra de milho, a pressão para o
uso do trigo como ração animal ganhou força entre os produtores de aves e
suínos do Estado. E produziu efeitos em Brasília: o governo promete definir
nesta semana a realização de leilões com esse objetivo.
De acordo com o secretário de Política Agrícola do
Ministério da Agricultura, Caio Rocha, a publicação da portaria com a
autorização para os leilões – que depende da assinatura dos ministros da
Agricultura, do Planejamento e da Fazenda – deve sair nos próximos dias. A
expectativa de entidades ligadas à produção de aves e suínos é de que 500 mil
toneladas de trigo sejam incluídas no mecanismo.
Para o diretor executivo do Sindicato das
Indústrias de Produtos Suínos do Estado, Rogério Kerber, a utilização do trigo
resolve dois problemas: as dificuldades de escoamento do cereal e de garantia
da alimentação animal.
– Como o produto está estocado no Estado, o custo
seria mais acessível, pois economizaria em logística e em ICMS – alerta Kerber.
Chefe-geral da Embrapa Trigo em Passo Fundo, Sergio
Roberto Dotto concorda que essa é uma forma de escoar o excedente do Estado de
cerca de 1,1 milhão de toneladas, já que o custo operacional emperra a venda
externa.
– Para moinhos da região sudeste do Brasil, custa
mais barato importar trigo da Argentina – explica Dotto.
Apesar do estoque, o presidente do Sindicato da
Indústria do Trigo no RS (Sinditrigo), José Antoniazzi, pondera:
– Há cerca de 345 mil toneladas à venda. Esse é o
número que poderia ser incentivado. Caso contrário, ao tentar solucionar um
problema, pode-se criar outro.
MUNDO
Por que
Rússia e China, formam o Eixo do Não
No palco de negociações do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, Rússia e China, dois países dos cinco que têm poder de veto,
costumam recorrer à mesma fala nas tentativas de impor resoluções contra a
Síria ou o Irã. Seja em negociações de novas sanções, seja em censuras
diplomáticas, ambos têm quase sempre a mesma resposta: não.
O último grande "não" conjunto de Moscou
e Pequim foi anunciado na quarta-feira antes da votação na ONU. Nem os 10 meses
de repressão contínua da ditadura de Bashar al-Assad, com mais de 5 mil mortos
no país, nem a chegada da violência no arredores de Damasco, abalaram as
negativas. O argumento na arena internacional, conforme os diplomatas do Kremlin,
é que as novas sanções poderiam ser interpretadas como uma autorização para
recorrer à força. Ao mesmo tempo, a Rússia fechou com a Síria, um aliado desde
os tempos da Guerra Fria, um acordo de mais de meio bilhão de dólares em venda
de caças.
Já a China, estrategicamente, diz que apoia o povo
sírio. Uma posição que, para o Ocidente, pode significar até mesmo o uso da
força, mas que, para os chineses, representa deixar os sírios resolverem por si
os problemas internos sem interferência externa – mesma atitude que teve no
caso da Líbia. A deterioração na região aumentaria os preços do petróleo, o que
poderia ferir o crescimento chinês.
União Europeia barrou petróleo iraniano
No que toca o Irã, país pressionado pelo Ocidente
por conta de seu obscuro programa de enriquecimento de urânio que pode levar ao
desenvolvimento de armas nucleares, as lideranças ocidentais cansaram das
negativas no Conselho de Segurança e partiram para a adoção de sanções
unilaterais.
A retaliação começou pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha,
seguidos pela União Europeia, que barrou a importação do petróleo iraniano.
Japão e Coreia do Sul estão sendo pressionados para fazer o mesmo. Mais uma
vez, a política e economia se misturam à diplomacia: a voracidade chinesa por
energia barata impede qualquer censura à República Islâmica. Para a Rússia, o
país é um grande mercado consumidor de armamento.
PMs
radicalizam protestos no país
Greve de PMs que leva pânico a Salvador (BA) é o novo
capítulo de uma onda de radicalização policial que já atingiu o RS e deve
chegar a outros Estados
Mais de 80 assassinatos em seis dias, lojas
saqueadas, ônibus atravessados em avenidas e Assembleia Legislativa invadida
compõem o cenário em Salvador, provocado pela greve dos policiais militares da
Bahia. Um dos mais intransigentes protestos de corporações policias de que se
tem notícia no Brasil, a greve da PM baiana segue uma tendência de
radicalização, cujo marco é a invasão do quartel general dos bombeiros do Rio,
em 2011.
À frente dos grevistas, entrincheirado dentro da
Assembleia Legislativa, está o ex-PM Marco Prisco, coordenador-geral da
Associação de Policiais e Bombeiros e de Seus Familiares da Bahia. Ele foi
expulso da corporação há 10 anos, durante uma greve. Pagos para garantir a
ordem, os PMs, acompanhados de familiares, amotinaram-se em quartéis e
invadiram a Assembleia Legislativa. Além disso, são suspeitos de sequestrar
ônibus.
– Deve haver 3 mil pessoas aqui na Assembleia, com
muitas famílias, mulheres, idosos. Montamos até um pula-pula para as crianças –
disse Prisco a ZH.
Ele e outros 11 líderes tiveram mandado de prisão
expedido pela Justiça, mas até ontem apenas um havia sido detido. Os mandados
devem ser cumpridos pela Polícia Federal, conforme determinação do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo. O socorro de Brasília inclui a mobilização do
Exército e da Força Nacional de Segurança no patrulhamento de ruas e avenidas.
Surgidos após a redemocratização, as reivindicações
de PMs, com seus piquetes desorganizados e lideranças desarticuladas, fazem
parte do passado. Com a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas do Rio, 2016,
como barganhas, as entidades de classe entraram em sintonia, pressionando
autoridades e espalhando pânico entre a população.
– Hoje, há algo bem diferente, que favorece os
policiais militares: os sites de relacionamento, que permitem que a gente se
organize, e a Copa do Mundo. Na sexta-feira, estavam em Salvador prestando
solidariedade ao pessoal representantes de entidades das 12 cidades que serão
sede – diz o gaúcho Leonel Lucas, presidente da Associação Nacional dos
Policiais Militares e Bombeiros Militares do Brasil.
CARLOS
ETCHICHURY
Salvador
vive dias de convulsão
Terceira maior cidade do Brasil, Salvador vive dias
de terror por conta da greve da PM. Abandonada à própria sorte nos últimos seis
dias, a população viu os crimes se multiplicarem e trancou-se em casa.
A cidade ficou à mercê de bandidos. Saques e
arrastões levaram comerciantes a cerrar as portas no meio da tarde, na última
sexta-feira. Até os shopping centers anteciparam o fechamento. O Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino do Estado emitiu recomendação para que os colégios
só voltem às aulas após o fim do motim.
O caos só não é generalizado porque 3,5 mil homens
das Forças Armadas patrulham ruas e avenidas. Quarenta policiais do Comando de
Operações Táticas da Polícia Federal desembarcaram em Salvador para prender os
líderes do movimento. As primeiras ações para a desocupação da Assembleia
começaram no início da noite de ontem, quando as luzes foram desligadas e
viaturas cercaram o prédio.
A tática dos grevistas de invadir prédios públicos
e obstruir rodovias pode representar "um tiro no pé". O alerta é do
secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de
Lima:
– Faz parte do processo político subverter a ordem
durante protestos. Mas a ordem está sendo subvertida justamente por quem tem a
função de preservar o estado democrático de direito. Como uma instituição vai
reprimir um bloqueio de rodovias, se ela mesmo queima pneus no asfalto? Como
vai impedir que manifestantes invadam Assembleias, se ela mesma invade?
A insurgência policial
JUNHO DE 2011 RIO DE JANEIRO
- Dois mil bombeiros invadiram o quartel central da
corporação, no centro do Rio. Após a desocupação, 439 foram presos, mas
acabaram anistiados. Também fizeram protesto na Assembleia Legislativa (foto).
AGOSTO E SETEMBRO DE 2011 RIO GRANDE DO SUL
- Foram realizados 70 protestos com queima de pneus
em avenidas e rodovias (foto). O ato mais radical foi o uso de um boneco
fardado, com ameaças a Tarso Genro. Foram instaurados 26 inquéritos. A Polícia
Civil indiciou dois PMs por ameaça ao governador e por participação na queima
de pneus.
JANEIRO DE 2012 CEARÁ
- PMs começaram greve no dia 29 de dezembro.
Durante os protestos, que foram até 4 de janeiro, acamparam em batalhão. Usaram
viaturas para bloquear uma rua e esvaziaram os pneus de veículos
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