PRIMEIRA PÁGINA
Morte da
procuradora põe mulheres em alerta
Segundo a delegada chefe da Divisão Especializada
de Atendimento à Mulher da Polícia Civil em BH, Margareth de Freitas Assis
Rocha, temendo a repetição da trágica história divulgada na mídia, cresce o
movimento de vítimas de violência dos parceiros na repartição. O fenômeno já
tinha ocorrido quando houve outros crimes de grande repercussão, como o que
envolve o ex-goleiro Bruno. Embora tenha 30 dias para encerrar o inquérito
sobre o homicídio da procuradora federal Ana Alice Moreira de Melo, a polícia
pretende antecipar a conclusão das investigações
Leilão
arrecada R$ 24,5 bilhões com aeroportos
O pregão para privatizar os aeroportos de Guarulhos
(SP), Campinas e Brasília (acima) surpreendeu as expectativas do governo
federal e arrecadou quase cinco vezes mais que os R$ 5,4 bilhões esperados de
lance inicial. Processo abre caminho para a venda de outros terminais no país,
o que pode ocorrer no próximo semestre. No topo da lista para licitação estão
Galeão (RJ), Congonhas (SP) e Confins, na Grande BH. Os consórcios vencedores
do leilão confirmaram que vão usar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) para financiar o negócio
Tensão
na Bahia
União pode aumentar contingente de 4 mil homens das
Forças Armadas enviado ao estado. Corporações se mobilizam pelo país
Aécio
critica a má gestão do governo
Senador do PSDB ataca o exagero na ocupação de
cargos públicos 2019, critica a atual política econômica e diz que a oposição
atua com firmeza no caso de denúncias contra ministros
EDITORIAL
Grevistas
armados
É grave o que se passa na Bahia. A população de
Salvador e das principais cidades baianas, que a esta altura de fevereiro
viveria a alegria da preparação do carnaval, enfrentou ontem o sétimo dia de
medo e apreensão. Os baianos e os milhares de turistas que visitam suas belas
praias tornaram-se reféns de um bando de policiais que, a propósito de
reivindicar melhores condições de trabalho – direito que a ninguém pode ser
negado –, usam o poder que julgam ter de chantagear um governo democraticamente
eleito. Desde terça-feira, quando lançaram um movimento grevista, policiais
militares da Bahia adotaram postura de confrontação com a autoridade do
governador Jacques Wagner (PT) e deixaram as ruas à mercê de bandidos. Já passa
de 80 o número de homicídios e contam-se às centenas os assaltos e cenas de
vandalismo. Nas praias da capital e do Sul do estado, banhistas são incomodados
por arrastões. O comércio nessas áreas não tem podido funcionar normalmente e
as escolas foram aconselhadas a adiar o início do ano letivo de ontem para
depois de resolvido o conflito. Disposto a manter a confrontação, um grupo de
policiais ocupou a Assembleia Legislativa, obrigando o presidente da Casa a
solicitar formalmente o apoio de tropas do Exército, que cercaram o prédio
desde as primeiras horas de ontem.
Em vários pontos da capital baiana, em vez da
movimentação de trios elétricos, blindados do Exército e militares da Força
Nacional deslocados nas últimas horas para a Bahia ocuparam as principais ruas
e avenidas desde domingo. Um grupo de 40 homens da elite da Polícia Federal
também desembarcou em Salvador, a mando do governo federal, com a missão de
cumprir 11 mandados de prisão expedidos contra os líderes grevistas. No
domingo, o governador ofereceu reajuste de 6,5% nos vencimentos de R$ 1,9 mil
(soldados) e R$ 2,3 mil (cabos e sargentos), sem anistia para os que aderiram
ao movimento (exceto os que estão com prisão decretada). A proposta foi
recusada. A verdade é que todas essas providências dos governos estadual e
federal vieram tarde. A greve dos policiais baianos não teria como se instalar
nessas proporções se não tivesse sido preparada semanas atrás.
Além disso, há menos de um mês que policiais do
Ceará fizeram igual paralisação e é de esperar que surjam movimentos
semelhantes em outros estados. Há ainda um fato político que não pode ser
desprezado: tramita no Congresso Nacional a PEC 300, uma emenda constitucional
que propõe a equiparação do salário de todos os policiais do país com os do
Distrito Federal (unidade federativa que, como se sabe, é mantida com recursos
da União e que, portanto, desfruta de condição fiscal privilegiada em relação
aos estados). Mas não foi só a falta de prevenção e a demora em agir do governo
baiano que deixaram a população nessa situação de perigo. Rápidos para
autoconcederem reajustes e benesses, ou para aprovarem emendas que rendem votos,
deputados e senadores continuam devendo à cidadania a regulamentação da lei que
regula movimentos reivindicatórios de funcionários públicos, em especial os das
classes de Estado, como militares, diplomatas, fiscais e outros funcionários de
setores essenciais ou que são armados pela sociedade. Ninguém quer enfrentar
algo que pode lhe trazer desgaste. A sociedade, bem, a sociedade que se dane.
POLITICA
PSDB
quer ouvir Mantega
Rosana Hessel
Brasília – A presidente Dilma Rousseff ordenou ao
ministro da Fazenda, Guido Mantega, que faça mudanças rápidas no comando da
Casa da Moeda. No que depender dela, toda a diretoria da estatal será trocada e
não somente Luiz Felipe Denucci, que foi afastado da Presidência da empresa na
semana passada devido a denúncias de corrupção. Para Dilma, não há por que o
governo alimentar um desgaste no Congresso, que já se movimenta para convocar
Mantega.
As explicações apresentadas pelo ministro sobre a
demissão do titular da Casa da Moeda não convenceram a oposição. O líder do
PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), protocolou ontem dois requerimentos na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), um convidando Mantega e outro destinado
a Denucci para que prestem esclarecimentos na Casa. "As explicações do
ministro comprometem o governo, quando ele admite que demitiu o presidente da
Casa da Moeda por pressão do PTB. O ministro admitiu ainda que nomeou para um
cargo estritamente técnico alguém que atenderia interesses políticos. Isso sem
falar nas denúncias de corrupção que pesam sobre o ex-presidente da Casa da
Moeda", justificou Dias.
Ontem, o ministro teve um almoço sigiloso, no qual,
segundo seus assessores, pode ter feito o convite para o presidente da Casa da
Moeda. A expectativa é de que os futuros
diretores da estatal, responsável pela fabricação de todo o dinheiro que
circula no país, sejam divulgados ainda esta semana.
Mantega não esconde a irritação com a proporção
tomada pela demissão de Denucci, que teria recebido US$ 25 milhões em propina.
Os recursos teriam sido depositados em paraísos fiscais. O ministro resistiu o
quanto pôde a comentar o assunto, apesar de o controle da Casa da Moeda ser da
Fazenda. Mas, na sexta-feira, ele foi obrigado por Dilma a se posicionar,
jogando a culpa da nomeação de Denucci para o PTB. O partido, no entanto,
garante que apenas endossou o nome sugerido por Mantega.
Segundo o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes
(GO), Mantega o teria procurado para que apadrinhasse Denucci. Ao Estado de
Minas, o deputado ressaltou que ainda não foi acionado pelo ministro para
conversar sobre como será processo de substituição dos diretores. "Vamos
esperar os nomes que o ministro trouxer e vamos analisá-los, como sempre
fazemos", disse, lembrando que o partido havia sugerido mudanças na
autarquia depois que a Receita Federal multou Denucci em R$ 3,5 milhões por
lavagem de dinheiro.
Posse
com troca de farpas
Aguinaldo Ribeiro assume o Ministério das Cidades em meio
às alfinetadas do grupo ligado ao antecessor e promete assumir postura de
gestor no comando para agradar a presidente
Paulo de Tarso Lyra, Juliana Braga e Júnia Gama
Brasília – O novo titular do Ministério das
Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP), que considerou simbólica a nomeação de um
representante do semiárido nordestino para ser ministro de uma presidente com
ascendência búlgara, prometeu concentrar sua atuação na gestão da pasta.
"O seu governo conseguiu romper o falso dilema existente entre política e
gestão. O seu governo adota a política no sentido mais amplo, de unir a
política com resultados concretos e conquistas de avanços", disse o novo
ministro a Dilma Rousseff, ontem, no Palácio do Planalto.
A presidente fez questão de lembrar ao novo
ministro a importância do cargo que vai ocupar. "O Ministério das Cidades
é uma pasta essencial para que o Brasil continue crescendo e se desenvolvendo.
Até 2014, serão R$ 100 bilhões em investimentos para que possamos dar um salto
na construção de um grande país", disse Dilma, que pediu uma "atitude
rigorosamente republicana" do novo titular da pasta.
A posse, com a presença de líderes de todos os
partidos e das correntes do PP que se digladiam internamente, não escondeu a
disputa aberta pelos cargos no ministério. Os pepistas lutam pelo direito de
emplacar o secretário executivo para substituir Roberto Muniz. Mas alguns
setores do Planalto confirmam a tendência da efetivação no cargo de Inês
Magalhães, atual secretária nacional de Habitação. A medida contaria com a
simpatia do PT e do PMDB.
Aguinaldo e o antecessor, Mário Negromonte (PP),
chegaram juntos, no mesmo carro, ao Palácio do Planalto, em um esforço para
mostrar que a situação política da legenda está pacificada. Não é bem assim.
Nos diversos discursos e declarações à imprensa, era nítida a troca de farpas.
"Não respondo a processo no Ministério Público, Justiça Federal, CGU ou
TCU. Tenho seis mandatos e não há processo algum contra mim. As acusações
contra o Aguinaldo precisam ser provadas. É lógico que ele precisa provar (a
inocência dele), como eu provei (a minha). Eu fui à Câmara, fui ao Senado e fui
ovacionado", disse Negromonte. Aguinaldo responde a dois processos no STF.
Aliados do ex-ministro que estiveram presentes à
posse confirmaram que participariam de uma confraternização da legenda à noite,
no Hotel Nacional. A aparente pacificação do PP tem um único motivo: não correr
o risco de perder o Ministério das Cidades. Mas as mágoas ainda estão
explícitas. "Na vida pública, ninguém consegue esconder nada,
principalmente os defeitos. Tem que ter transparência", alfinetou o
deputado Vilson Covatti (RS), questionado sobre as denúncias publicadas nos
últimos dias contra Aguinaldo.
Liderança O grupo de Aguinaldo obteve outra vitória
ontem. Apesar de alguns movimentos contrários, o deputado Arthur Lyra (AL) foi
eleito líder do partido na Câmara. Mas aliados do novo ministro estão
conscientes de que o fogo amigo vai continuar. "Sabemos que estão
engrossando o caldo com denúncias, mas precisamos manter a união para não
arriscar o ministério. Nossa postura agora é de cautela, não vamos chutar a
canela, mas também não dá para sair abraçando", pontuou um pepista próximo
ao atual ministro. (Colaborou Guilherme Amado)
ECONOMIA
Confins
rumo à privatização
Venda de 51% dos terminais de Brasília, Guarulhos e
Campinas por R$ 24,5 bilhões, com ágio de 348%, abre caminho para concessão do
aeroporto mineiro ainda este ano
Sílvio Ribas e Geórgea Choucair
O governo arrecadou R$ 24,53 bilhões com os leilões
dos aeroportos de Brasília, Guarulhos (Cumbica-SP) e Campinas (Viracopos-SP),
feitos ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Com 11
consórcios em disputa e 22 propostas iniciais, o ágio obtido — 348% acima dos
R$ 5,47 bilhões dos lances mínimos somados — surpreendeu analistas e
participantes. "No governo, é assim: termina uma etapa e começa outra.
Agora, é garantir administração eficiente dos três aeroportos", afirmou a
presidente Dilma Rousseff.
Logo que foram anunciados os vencedores dos
leilões, começaram também as especulações em torno da segunda rodada de
transferência de grandes terminais para a iniciativa privada. Embora o governo
ainda não tenha anunciado o plano de outorgas para o setor, previsto para
março, a expectativa da própria Secretaria de Aviação Civil (SAC) é iniciar a
licitação de mais três no próximo semestre.
No topo da lista estão os de Confins (MG), do
Galeão (RJ) e Congonhas (SP). Há quem aposte ainda na inclusão dos aeroportos
internacionais de Recife e Manaus. "É natural que os consórcios derrotados
sejam automaticamente candidatos fortes para a segunda rodada, com a vantagem
de ter mais conhecimento das regras e do mercado", aposta Marlon Ieri,
advogado de um dos grupos.
O subsecretário de Assuntos Internacionais da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Luiz Antônio Athayde,
revelou que a gestão compartilhada do governo com a iniciativa privada mostra
confiança no processo de concessão. "O setor aeroportuário tem grande interesse
para o país. E o aeroporto de Confins é um dos que registram o maior índice de
crescimento", afirma. De 2010 a 2011 o número de passageiros em Confins
saltou de 7,26 milhões para 9,35 milhões, alta de 28,89%, segundo a Infraero.
"De novo o Brasil deu uma demonstração de que
é um ambiente seguro de investimento. Ter um certame com tanta disputa mostra
isso", comemorou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner
Bittencourt. A capital federal gerou a concorrência mais acirrada, levando a um
ganho de 673,89%. Saiu vencedor da concessão, por 25 anos, o grupo Inframérica,
liderado pela construtora catarinense Engevix em parceria com a operadora
argentina Corporación América, que ofereceu R$ 4,5 bilhões, quase oito vezes
mais que o fixado no edital da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O
grupo vencedor de Brasília é o mesmo responsável pelo controle do Aeroporto de
São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Natal (RN), leiloado em
agosto.
Mais cobiçado entre os três, o aeroporto de Guarulhos foi arrematado por R$ 16,21 bilhões, num ágio de 373,5%. O consórcio vencedor, Invepar, formado pela Invepar Investimentos e a operadora sula-fricana Airport Company South Africa, venceu a concessão de 20 anos ficando no topo das 10 ofertas iniciais, com R$ 12 bilhões a mais que o mínimo. Campinas, por sua vez, ficou com a associação entre Triunfo, UTC Participações e a operadora francesa Egis Airport Operation, oferecendo R$ 3,82 bilhões — 159,75% de ágio. O contrato é de 30 anos.
Mais cobiçado entre os três, o aeroporto de Guarulhos foi arrematado por R$ 16,21 bilhões, num ágio de 373,5%. O consórcio vencedor, Invepar, formado pela Invepar Investimentos e a operadora sula-fricana Airport Company South Africa, venceu a concessão de 20 anos ficando no topo das 10 ofertas iniciais, com R$ 12 bilhões a mais que o mínimo. Campinas, por sua vez, ficou com a associação entre Triunfo, UTC Participações e a operadora francesa Egis Airport Operation, oferecendo R$ 3,82 bilhões — 159,75% de ágio. O contrato é de 30 anos.
Importados
em desaceleração
Retração nas vendas de veículos chega a 23% frente a
dezembro. Mas houve alta de 9,6% na comparação com 2011
Pedro Rocha Franco
Concessionárias de veículos importados amargam um
período de paradeiro, com redução significativa das vendas no primeiro mês do
ano, e puxam para baixo os negócios do setor no país. A queda em janeiro foi
até duas vezes maior que a média registrada tradicionalmente pelos integrantes
da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Segundo balanço divulgado ontem, a redução dos negócios foi de 23% (contando
automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões), frente a dezembro. Na
comparação com janeiro de 2011, no entanto, houve alta de 9,6%.
Os responsáveis pelas revendas acreditam que o
principal fator para afugentar o comprador foi a falta de informação do
consumidor. Muitos não sabiam que o aumento nos preços dos veículos importados
por causa das novas regras do governo federal — que prevêem alta de 30 pontos
percentuais no Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para carros que
contam com a maior parte da montagem em outros países – passou a valer apenas
desde a semana passada. E vale lembrar que 18 montadoras ficaram livres do
pagamento do imposto mais alto, mas para os gerentes das concessionárias,
muitos também não sabiam desse detalhe, o que resultou em vendas mais baixas.
Por isso, em tom convidativo, eles explicam: os preços ainda não subiram e
restam algumas unidades no estoque.
A Associação Brasileira de Importadoras de Veículos
Automotores (Abeiva) acredita que com o aumento da carga tributária dos seus
produtos deva ocorrer redução de 20% nas vendas deste ano, reduzindo o volume
de 199 mil para 160 mil unidades. Mas, antes mesmo da efetividade da mudança,
as concessionárias sentiram a falta do consumidor em janeiro. Em algumas
revendas a redução na comercialização foi de até 50%, na comparação com
dezembro.
Na Chery Beijing, na Avenida Barão Homem de Melo,
restam apenas dois exemplares de alguns modelos. É o caso do Face, que em
dezembro custava R$ 32,9 mil, mas teve redução de R$ 3 mil numa produção da
fábrica, disponível apenas nas cores prata e cinza. "Quem comprar agora
vai levar um troféu para casa", diz o consultor comercial da
concessionária, Fernando César Horta dos Santos. Ele diz que a tendência é de
que no próximo mês todos os carros estejam mais caros, podendo chegar a 20% a
mais, e com isso as vendas que caíram pela metade em janeiro podem ter novo
impacto negativo, ganhando fôlego só uns meses depois que os compradores se
acostumarem com os novos preços. O Chery QQ, por exemplo, vendido como o mais
barato do país, pode passar de R$ 24,9 mil para R$ 29,9 mil.
Na Kia Brisa, na Avenida Raja Gabaglia, a
expectativa era que em janeiro ocorresse redução de apenas 10% das vendas, mas
o percebido é diminuição de 30% no comparativo com dezembro. A explicação,
segundo o diretor comercial da unidade, Ruy Carlos Barbosa, pode ser o susto do
consumidor com a ampla divulgação na mídia de que os preços teriam aumento por
causa do IPI. Ele explica que na montadora o reajuste deve ser inferior a dois
dígitos, tendo em vista que fábricas, revendas e distribuidoras absorveram uma
parcela do aumento, reduzindo suas margens. "As montadoras nacionais
também aumentaram seus preços em dezembro. Com isso, na prática, o preço dos
importados deve se distanciar pouco dos nacionais", afirma. A expectativa
é de que os reajustes relacionados com a alta do IPI se tornem realidade a
partir de março. Nos estoques das concessionárias ainda há alguns modelos
antigos, mas com cores e acessórios limitados.
CONTRAMÃO Enquanto as revendas de importados
amargam redução brusca nas vendas, as montadoras que se enquadram entre
quesitos previstos para isenção do IPI mais alto aumentaram as vendas em 9,6%
em janeiro, frente a igual período do ano passado. Ao todo, foram
comercializadas 268,3 mil unidades no mês passado, segundo a Anfavea. Por outro
lado, a produção teve queda de 11,4% no comparativo entre o janeiro de 2011 e o
mês passado.
Segundo o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini,
essa queda está relacionada ao ajuste de estoques do setor. No ano passado, no
início do ano, os pátios das concessionárias estavam esvaziados. Agora, as
revendas têm unidades suficientes para as vendas de 36 dias, o que garantiu
desaleração na produção. "Nossos estoques estão preparados para as vendas
de fevereiro, que tradicionalmente crescem no comparativo com janeiro",
disse Belini.
GERAL
Efeito
Ana Alice lota delegacia
Após assassinato de procuradora, unidade
especializada registra aumento de 40% nas denúncias de mulheres agredidas.
Número de queixas/dia subiu 18,5% este ano
Flávia Ayer
A repercussão nos meios policiais do brutal
assassinato da procuradora da União Ana Alice Moreira de Melo, de 35 anos, foi
muito além da intensa mobilização para esclarecer o caso. O crime – ocorrido na
quinta-feira e que tem como principal suspeito o marido da vítima, o empresário
Djalma Brugnara Veloso, de 49 – encorajou mulheres agredidas a romper o
silêncio e denunciar seus companheiros. O resultado foi um aumento na procura
pela Divisão Especializada de Atendimento à Mulher da Polícia Civil de
Belo Horizonte, estimado em nada menos que 40%. São jovens, mães e esposas
vítimas de seus parceiros, que temem a repetição de uma história que há quase
uma semana é destaque na imprensa. "Muitas chegam à delegacia falando que
vivem a mesma situação e não querem morrer como Ana Alice", conta a
delegada Margaret de Freitas Assis Rocha, chefe da divisão.
Dentro da delegacia lotada, Margaret afirma que a
reação é fruto de casos de grande repercussão. "Constatamos esse efeito em
casos como o do goleiro Bruno, no assassinato da cabeleireira Maria Islaine
(morta pelo marido diante das câmeras de segurança) e agora, com a morte da
procuradora. Várias vítimas chegam dizendo que não querem virar manchete de
jornal", conta. Segundo a delegada, dados preliminares sobre solicitações
de medidas protetivas, como afastamento do agressor do lar, mostram que a média
de pedidos diários este ano já é 18,5% maior em relação ao primeiro semestre do
ano passado.
Até domingo, a Divisão Especializada de Atendimento
à Mulher registrou 992 solicitações de medidas protetivas, média de 27,5 por
dia. Já no primeiro semestre do ano passado foram 4.202 pedidos, média diária
de 23,2. O total de requerimentos feitos até dia 5 representa quase um quarto
(23,6%) das solicitações dos primeiros seis meses de 2011. "A divulgação
da Lei Maria da Penha (criada em 2006 para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher), o atendimento 24 horas pelas delegacias, tudo isso
contribui para o aumento das denúncias", afirma Margaret.
Ainda assim, a delegada ressalta que faltam ações
mais ágeis e educativas para afastar a violência da realidade feminina.
"Se houvesse uma ação imediata dos juizados, a vítima já voltaria para
casa com o pedido analisado. O monitoramento eletrônico dos denunciados (que
devem manter distância das mulheres ameaçadas) também ajudaria a resguardar
vítimas, além de ações preventivas e projetos de polícia comunitária, propondo
reflexões sobre a violência doméstica", avalia.
BANCOS cheios Enquanto isso não ocorre, falta
espaço nas delegacias para tantas vítimas à procura de proteção, segurança e,
principalmente, paz. Separada do marido há sete anos, a auxiliar administrativa
K., de 31 anos, perdeu as contas de quantas vezes recorreu à polícia para
garantir distância do ex-marido, pai de sua única filha. Ontem, na divisão
especializada, ela trazia três novos boletins de ocorrência, todos registrados
na última semana. "Não quero que ele chegue perto de mim. Ontem, esteve na
minha casa e estava descontrolado, gritando e xingando. Já me bateu uma vez e
estamos todos assustados, ainda mais depois do caso da procuradora",
afirma.
Grávida de oito meses, a dona de casa N., de 21
anos, ameaçada pelo ex-marido, é outra mulher para quem o sossego depende de
intervenção da polícia e da Justiça. "Tenho medo de ele me matar, pois
bate para machucar. No fim de semana esteve lá em casa, embriagado, e me
empurrou", conta. A dificuldade começa com o registro da ocorrência:
"Os militares falam como se fosse uma simples briga de marido e
mulher", diz a jovem, que passou o dia, ontem, entre a delegacia, o fórum
e a Defensoria Pública. "Quero garantir que ele mantenha distância de mim
e da minha filha e isso ninguém faz pela gente. Somos nós que temos que correr
atrás de tudo", diz.
A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a cientista
política Marlise Matos, afirma que essa realidade – expressa em boletins de
ocorrência malfeitos e no descaso em relação a questões femininas – é reflexo
da cultura de uma sociedade patriarcal. "Quando um policial chega e
aconselha a mulher a deixar para lá, ele reforça a estrutura brasileira
machista a favor dos homens em detrimento das mulheres", afirma.
CAMINHO DA PROTEÇÃO
No momento da agressão, mulheres vítimas de
violência podem acionar a Polícia Militar, pelo telefone 190. Outra opção é
procurar a Divisão de Atendimento à Mulher da Polícia Civil (Rua Aimorés, 3.005
– BH). O atendimento é 24 horas e a vítima recebe atendimento psicológico,
paralelamente ao início do processo de medidas protetivas. Em cidades do
interior que não tenham o serviço especializado, a orientação é procurar a
unidade local da Polícia Civil.
Trabalho
da polícia está perto do fim
Landercy Hemerson e Valquíria Lopes
O inquérito que apura a morte da procuradora
federal Ana Alice Moreira de Melo deve ser concluído na segunda quinzena,
diante da possibilidade de finalização antecipada dos laudos da perícia do
Instituto de Criminalística e de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) nos
corpos dela e do marido, o empresário Djalma Brugnara Veloso, suspeito de
matá-la e de se suicidar horas depois. Conforme antecipou o Estado de Minas, o
legista responsável pela necropsia no corpo de Djalma já concluiu os trabalhos
e a pendência se refere aos exames toxicológico e de consumo de álcool.
A delegada Renata Fagundes, responsável pelas
investigações, disse que o fechamento do inquérito vai depender da análise de
todos os exames técnicos, e não apenas de algumas partes. Segundo ela, uma
perícia complementar será realizada nesta semana na mansão da vítima, para
determinar se a faca encontrada junto ao corpo de Djalma, na suíte de um motel
na BR-040, é a mesma usada para matar a procuradora. Renata adiantou que vai
pedir ao Ministério Público o arquivamento do caso, com a extinção da
punibilidade do autor. Ontem, a chefe da perícia criminal do Instituto de
Criminalística, Ângela Romano, informou que o laudo conclusivo só será
encaminhado à delegada depois de realizada a investigação complementar na
mansão.
EXAME O laudo da necropsia no corpo de Djalma
Brugnara não aponta o horário específico em que a morte ocorreu. De acordo com
o legista Luiz Eduardo Toledo Avelar, responsável pelo exame, não foi possível
determinar a hora exata, porque no momento em que a necroscopia foi feita o
corpo já estava rígido. "A medicina legal calcula o tempo com precisão até
por volta de oito horas após a morte. A partir desse momento, o corpo para de
dar sinais e só é possível dizer que o óbito ocorreu há mais de oito
horas", explica.
CIENCIA
Tão
longe, tão perto
Apesar da semelhança genética de quase 99% com o
chimpanzé, o homem desenvolveu uma inteligência muito superior à do seu primo
evolutivo. A explicação parece estar na capacidade única do cérebro humano de
absorver e estocar informações no início da vida
Paloma Oliveto
Brasília – Pouco mais de 1% dos genes diferencia o
homem de um chimpanzé. Ainda assim, do ponto de vista cognitivo, a distância
entre um e outro é notável. Por mais inteligentes que sejam, não foram eles que
inventaram a roda. E, a não ser em filmes de ficção científica, jamais
colocarão humanos dentro de uma jaula para estudá-los em laboratório. Questões
como essas tiram o sono de pesquisadores evolutivos, que buscam entender por
que, mesmo compartilhando 98,8% das sequências genéticas com seus parentes
próximos, o Homo sapiens se diferenciou, tornando-se uma espécie à parte,
devido à sua inteligência.
A resposta pode estar na plasticidade do cérebro
humano, que, principalmente durante os primeiros anos de vida, é capaz de
absorver e estocar informações obtidas no meio ambiente, de forma
impressionantemente ativa. Acredita-se que essa é uma característica única no
reino animal. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores liderados pelo
Instituto Max Planck, da Alemanha, identificou no córtex pré-frontal uma
intensa comunicação entre neurônios, chamada sinaptogênese, que ocorre apenas
em humanos.
Esse mecanismo é conhecido por ser crítico para
garantir a aprendizagem e a estocagem de informação no cérebro durante sua fase
de desenvolvimento. No processo, ocorre a formação, o fortalecimento e a
eliminação de algumas conexões sinápticas, resultando na habilidade humana de
raciocinar. A sinapse é uma estrutura no sistema nervoso central que permite
aos neurônios passarem sinais químicos ou elétricos uns para os outros.
"O que nos motivou nessa pesquisa foi tentar
descobrir o que faz do cérebro humano um órgão tão especial, quando comparado
ao dos chimpanzés e ao de outros primatas mais distantes", conta Phillip
Khaitovich, pesquisador de antropologia evolutiva no Instituto Max Planck e
integrante da Academia Chinesa de Ciência. Como não é possível retirar células
vivas do cérebro, os pesquisadores usaram amostras de tecidos post mortem de
indivíduos saudáveis, que morreram de outras causas que não doenças. Da mesma
forma, eles obtiveram os neurônios de macacos. Com técnicas avançadas, fizeram
análise do DNA do material para investigar como os genes se expressam após o
nascimento.
No total, os cientistas estudaram a expressão de 12
mil genes de cada espécie. Eles descobriram 702 estruturas no córtex
pré-frontal, área do cérebro relacionada ao comportamento social e à razão, que
se decodificam de maneira diferente ao longo do tempo em humanos e demais
primatas. As disparidades ocorrem principalmente em relação ao desenvolvimento
das sinapses. "Nos homens, as conexões dos neurônios nessa região cerebral
começam logo depois do nascimento e continuam ativamente até os 5 anos de
idade. Porém, a expressão dos mesmos genes, em chimpanzés e outros macacos, acaba
pouco tempo depois que eles nascem, em até um ano. Por isso, achamos que esse é
um dos fortes motivos pelos quais o cérebro humano trabalha de forma
completamente diferente", diz Khaitovich.
De acordo com o pesquisador, o período até os 5
anos é considerado "uma parte essencial do desenvolvimento
cognitivo". "É quando a assimilação do conhecimento cresce em ritmo
inigualável. Com 2,5 anos, tanto crianças quanto macacos já demonstram essa
capacidade de assimilação", diz. Diferentemente dos demais primatas,
porém, que conseguem cuidar de si mesmos após o desmame, o Homo sapiens é
extremamente dependente até, pelo menos, os 7 anos. Isso sugere, segundo
Khaitovich, que o cérebro está sinalizando que ainda "não está
pronto". "Ou seja, ele continua em pleno desenvolvimento. Já nossos
primos distantes estão completamente formados, inclusive seus cérebros",
explica.
Maturidade Xiling Liu, pesquisador do Instituto de
Biologia Computacional da Academia Chinesa de Ciência, explica que isso não
está relacionado ao fato de o desenvolvimento humano ser diferente do dos
demais primatas, que vivem menos e amadurecem mais cedo. "Sabemos que a
trajetória do homem é drasticamente diferente. Por exemplo, a maturidade sexual
humana ocorre entre os 13 e os 14 anos, mas, nos chimpanzés, se manifesta entre
os 8 e os 9 anos e, nos macacos rhesus, antes mesmo dos 5 anos", afirma o
cientista, que também assina o artigo. "Para testar se essas diferenças de
desenvolvimento explicariam os padrões de expressão gênica observada nos
humanos, realizamos cálculos matemáticos complexos, de forma bastante segura. O
que descobrimos é que, em relação a diversos aspectos, incluindo a plasticidade
cerebral, a maturidade do primata não é um fator relevante", diz. Em
outras palavras, um macaco de 1 ano não equivale, em complexidade cerebral, a
um humano de 5.
"As diferenças entre o cérebro de um homem e
de um macaco são mais uma questão de quantidade do que de qualidade. Diferenças
na quantidade de expressões genéticas, mais do que na estrutura dos genes ou
das proteínas, é o que distingue as duas espécies", garante Ajit Varki,
professor de medicina molecular da Universidade da Califórnia, câmpus de San
Diego. Há 10 anos, ele participou de uma pesquisa liderada por Phillip
Khaitovich, que também investigava as principais divergências evolutivas entre
homem e macaco.
Na época, afirma, a equipe já havia concluído que a
expressão genética estava por trás dessas diferenças. "O estudo atual
valida nossa hipótese anterior, a partir de uma análise significativa dos
tecidos cerebrais de homens e macacos", avalia Varki, em relação ao
trabalho mais recente de Khaitovich. Ajit Varki é um dos principais
pesquisadores do tema – ele é conhecido por, em 1998, ter apresentado a
primeira evidência de diferença genética e bioquímica entre humanos e
chimpanzés. No caso, era a ausência, no Homo sapiens, de um átomo de oxigênio
na constituição de uma molécula chamada ácido siálico. "Desde então, meus
colegas têm realizado trabalhos bastante sérios e significativos, fazendo descobertas
incríveis", comemora.
Rápida evolução
Com base no estudo de fósseis encontrados na África
e na Ásia, a ciência acredita que homens e macacos, que compartilham um
ancestral, segundo a Teoria da Evolução, se diferenciaram há cerca de seis
milhões de anos. Esse período é bastante pequeno, se considerada a evolução do
Homo sapiens em relação aos outros primatas.
Diferença
Expressão gênica é o processo pelo qual a
informação hereditária contida nos genes torna-se uma proteína, que vai se
especializar e se diferenciar das demais.
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