Pesquisar

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

21 de dezembro 2011 - VALOR ECÔNOMICO


PRIMEIRA PÁGINA

Braskem elege Brasil para investir
Nos últimos dois anos, a Braskem fez grandes investimentos no exterior, com aquisições nos Estados Unidos e Europa. Agora, a empresa voltou a eleger o Brasil para desenvolver seus principais projetos de expansão. Carlos Fadigas, CEO da companhia, disse ao Valor que os planos de crescimento no país incluem uma fábrica de polipropileno no polo de Camaçari (BA), duas novas unidades de produção de "plástico verde" e aportes no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj)

Desafio é reverter o desaquecimento
Nunca as preocupações na área econômica mudaram tão rapidamente. Um ano atrás, tentava-se desmontar medidas que aqueceram demais a demanda. Agora, 2012 se inicia com o objetivo de reestimular a economia e criar um contraponto à recessão provável na zona do euro

Mercosul vai ampliar lista de exceções à TEC
A presidente Dilma Rousseff disse ontem, em Montevidéu, ao final da reunião de cúpula do Mercosul, que os países do bloco precisam reduzir o que chamou de "avalanche de importações predatórias" de países com maior índice de industrialização, da Europa, América do Norte e Asia. Foi decidido que a lista de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) será temporariamente ampliada em mais cem itens, até dezembro de 2014, conforme a proposta inicial defendida pelo Brasil

Engenheiros deixam o Brasil para aprender na Alemanha
Mesmo disputados pelas empresas no Brasil, muitos engenheiros estão em busca de oportunidades na Alemanha, que atualmente tem um déficit de 77 mil desses profissionais. O objetivo é se aperfeiçoar e aprender novas técnicas, uma vez que o país europeu é um dos mais inovadores no setor. "As principais tecnologias são desenvolvidas lá", afirma Fabio Amaral, gerente de RH da Bosch, que enviou 99 brasileiros para o exterior neste ano. De acordo com Sönke Böge, da consultoria Boyden, o ideal é ir para a Alemanha no início da vida profissional. "Os salários no Brasil para os mais seniores são entre 20% e 40% mais altos", afirma


CDB turbinado pode custar R$ 5,4 bi ao PanAmericano
A nova administração do Banco PanAmericano conseguiu impedir o pagamento de cerca de R$ 21 milhões em quatro Certificados de Depósitos Bancários (CDB) suspeitos de fazer parte de uma fraude bilionária na instituição. A liminar concedida pela Justiça também impede a negociação dos papéis


EDITORIAL
Caixa precisa aprender com as lições do passado recente

Decididamente, a Caixa Econômica Federal deixou o noticiário financeiro para ganhar as páginas políticas e policiais dos jornais. É difícil dizer que isso tenha ocorrido por causa do aparelhamento político-partidário ocorrido na instituição, mas é fato que a Caixa se tornou reincidente em práticas pouco ou nada ortodoxas depois que a composição de sua diretoria passou a atender diretamente aos interesses da base de sustentação do governo federal no Congresso.
Há pouco mais de cinco anos a confiabilidade da Caixa foi posta à prova com a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, "inconveniente" testemunha das visitas que o então ministro Antonio Palocci (Fazenda) costumava fazer a uma casa de lobby, em um bairro nobre de Brasília. Palocci acabou isentado da acusação de ter mandado quebrar o sigilo do caseiro, mas ainda hoje tramita na Justiça um processo contra Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal naquela ocasião.
Em 2009, penúltimo ano do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Caixa Econômica Federal pagou R$ 739 milhões por ações do Banco PanAmericano depois de um parecer do Banco Central (BC) sobre risco de concentração bancária. Poucas semanas depois, o Banco Central descobriria que o banco do empresário de televisão Silvio Santos apresentava fraudes em seus balanços. Mais tarde soube-se que o valor pago pela Caixa, em vez de ser empregado na recuperação do banco, foi utilizado para pagamentos de outras empresas do Grupo Sílvio Santos, entre elas o SBT.
A Caixa, enfim, assumiu um banco com um rombo estimado em R$ 1,5 bilhão, mas essa foi só a conta inicial. No fim de 2009, depois de mudada toda a diretoria do PanAmericano, descobriu-se que o buraco era maior e chegava à casa dos R$ 4 bilhões. Não escapou também à auditagem das contas do PanAmericano que o banco era doador de campanhas políticas, oficialmente, mas que andou maquiando contribuições feitas ao PT.
No último domingo a "Folha de S. Paulo" revelou que a Caixa Econômica Federal foi vítima de uma fraude refinada da qual ficaram vestígios e um provável rombo superior a R$ 1 bilhão nos cofres do Tesouro: um "erro" no serviço de informática do banco federal deixara no escuro investidores que pagaram muito por papéis de pouco valor e, agora, podem se encontrar com um "mico" na mão. "Podem", diga-se, porque a Caixa demonstra disposição de contestar judicialmente a dívida que caiu em seu colo num piscar de olhos. Para vencer, no entanto, terá de provar que os compradores dos papéis agiram de má-fé.
A situação da Caixa preocupa, sobretudo, quando se olha para a situação dos bancos oficiais antes do saneamento do sistema financeiro, ocorrido a partir da metade dos anos 1990. Já estavam praticamente quebrados por má gestão quando abatidos definitivamente com o Plano Real e o fim da superinflação.
Tradicional na política brasileira, a partilha partidária dos cargos nos bancos federais também ocorreu no governo tucano-pefelista. Os dois partidos aliados disputavam espaço palmo a palmo, pois nem sempre os interesses do PSDB convergiam com os do PFL, como ocorreu no caso da concessão de isenções para uma montadora de veículos se instalar na Bahia.
Caixa e Banco do Brasil tiveram que ser resgatados por uma operação de capitalização do tesouro Nacional em meados dos anos 1990. Foram colocados R$ 8,9 bilhões na Caixa e outros R$ 8 bilhões no Banco do Brasil. A apropriação política ocorreu em todos os bancos públicos, inclusive nos estaduais, verdadeiras máquinas de emissão de moeda nas mãos dos governadores, que foram na sua grande maioria varridos do mercado.
A blindagem dos bancos brasileiros, oficiais e privados, que distinguiu o país na crise financeira de 2008, tem relação com a reestruturação que foi feita nos anos 1990.
Os políticos costumam afirmar que não se deve governar com os olhos no retrovisor. Mas a triste história dos desmandos nos bancos públicos e o custo dos programas de recuperação para o contribuinte são um caso clássico em que as lições de um passado não muito distante devem ser bem medidas e aproveitadas.



OPINIÃO
Chernobyl +25

Joaquim Francisco de Carvalho

Na década de 1970, quando surgiram na extinta União Soviética o Reator Bolshoy Moshchnosty Kanalny (RBMK), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) avaliava que os acidentes por perda de refrigeração com equipamentos desse tipo seriam praticamente impossíveis de acontecer (ver AlEA Bulletin vol. 25, nº 2, p. 51). Apesar da avaliação da AIEA, há 25 anos (abril de 1986) acontecia em Chernobyl, precisamente com um reator RBMK e por perda de refrigeração, o que, na época, foi considerado mais grave desastre nuclear da história.
Então, a AIEA previa que um acidente daquela magnitude só poderia acontecer a cada século. Coincidentemente, 25 anos depois, (março de 2011) acontecia em Fukushima outro acidente da mesma gravidade.
O acidente de Three Mile Island, ocorrido nos Estados Unidos sete anos antes do de Chernobyl (1979), também foi muito grave, mas a radiação permaneceu no interior da envoltória de aço que abriga o reator onde ficam os elementos combustíveis, nos quais se processam as reações de fissão do urânio, que produzem o calor, que vai para os geradores de vapor, que acionam os geradores de eletricidade. A gravidade da catástrofe de Chernobyl vem de que os reatores não ficavam em envoltórias de aço, mas sim em construções pouco mais reforçadas do que edifícios de indústrias químicas.
A central dispunha de quatro reatores de canal, do tipo RBMK, refrigerados a água leve e moderados a grafita. Os elementos combustíveis eram feixes de tubos (ou varetas) de zircaloi (liga de zircônio), preenchidos com pastilhas de óxido de urânio levemente enriquecido.
Cada elemento era alojado num tubo de pressão (ou canal), também de zircaloi, numa disposição mais ou menos semelhante à dos reatores canadenses do tipo Candu. Os canais, por sua vez, eram embutidos em prismas (ou blocos) de grafita, de secção quadrada. A carga de combustível era de 192 toneladas de óxido de urânio. Tudo indica que houve falha no sistema primário de refrigeração, que injeta água pressurizada nos canais. Com isso, a temperatura das varetas subiu rapidamente para cerca de 2.8000 C, rompendo-as.
Supõe-se que, em contato com as varetas, naquela temperatura, a água ainda existente nos canais decompôs-se termicamente, liberando hidrogênio. Ao mesmo tempo, o vapor, em contato com a grafita, também se decompôs e liberou mais hidrogênio. Houve então uma explosão deste gás, que rompeu a tampa do vaso do reator e lançou na atmosfera gases e nuvens de vapor, carregando produtos de fissão tais como cobalto-60, estrôncio-90, iodo-13l e césio-137, além de actinídeos, como o netúnio-237 e os isótopos de plutônio de pesos atômicos 239, 240 e 241.
Para agravar a situação, a grafita - cuja estrutura cristalina é instável quando submetida a altas temperaturas e a intensos fluxos de nêutrons - deve ter "queimado" em contato com o ar, engrossando as nuvens que veiculavam os produtos de fissão. Essas nuvens elevaram-se a mais de 1.500 metros de altura, sendo colhidas pelos ventos dominantes e conduzidas na direção da Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Holanda, França e países escandinavos.
Os defensores emocionais da energia nuclear afirmam que os acidentes de Chernobyl e Fukushima só aconteceram porque - no primeiro caso - houve uma falha humana e - no segundo caso - ocorreu um tsunami, esquecendo que todo acidente tem uma causa.
Os acidentes Three Mile Island, Forsmark, Tokaimura, Bohunice, Erwin, Mayak e outros, também tiveram causas. Só um leigo, ou alguém movido por pura emoção afirmaria que nunca existirão causas para outros acidentes, seja na França, na Coreia ou em Angra dos Reis. O fato é que as usinas nucleares, como qualquer outra obra de engenharia, são e sempre serão vulneráveis a erros humanos, a desastres naturais, a falhas de projeto e, porque não dizer, a ataques terroristas.
Entretanto os acidentes nucleares têm dimensões que os outros não têm. Eles se propagam pelo espaço (regiões inteiras ficam contaminadas e têm que ser evacuadas e interditadas) e pelo tempo (muitas décadas). Um desastre de avião, por exemplo, atinge os passageiros e, por mais traumático que seja, é um acidente que termina no local e no instante em que acontece. Um acidente em central nuclear apenas começa no instante e no local em que ocorre. Alguns anos depois centenas de pessoas sofrerão males induzidos por exposição a radiações ionizantes, como acontece até hoje com as populações que permaneceram nas cidades próximas a Chernobyl.
Há controvérsias sobre o número de vítimas fatais do acidente de Chernobyl, pois as agências nacionais e internacionais do setor nuclear não divulgam informações confiáveis sobre isso, como, aliás, observa a ex-ministra francesa do Meio Ambiente, Corinne Lepage, em seu livro "La vérité sur le nucléaire", publicado em junho de 2011, onde ela afirma que as autoridades nucleares de seu país minimizam a gravidade dos acidentes que ocorreram em Saint-Laurent-des-Eaux, Chooz, Blaiais e outros, que contaminaram lençóis freáticos e poderiam ter sido catastróficos - revelando, ainda, que os custos da energia gerada em centrais nucleares são altamente subvencionados pelo estado e que tudo o que é divulgado a respeito disso vem revestido de dissimulações e meias-verdades.
A AIEA calculava que, no acidente, teriam perdido a vida "cerca de 20 a 30 pessoas", mas atualmente já admite que esse número deve estar em torno de 4.600. Greenpeace e outras ONGs ambientalistas estimam a área contaminada em 155 mil km2, estendendo-se pela Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.
Com base em sua própria vivência, as diversas associações de vítimas do acidente afirmam que mais de 50 mil pessoas já perderam a vida e cerca de 109 mil bielorrussos e mais de 250 mil ucranianos apresentam, com maior ou menor gravidade, sequelas das radiações recebidas, em consequência da catástrofe.
Joaquim Francisco de Carvalho é pesquisador associado ao IEE/USP, foi diretor industrial da Nuclen (atual Eletronuclear) e presidiu a comissão consultiva criada pela presidência da República, para avaliar o acidente com o césio 137 ocorrido em setembro de 1.987.


POLÍTICA
PPA é aprovado em votação simbólica

Por De Brasília

O Congresso aprovou ontem, em votação simbólica num plenário praticamente vazio, o projeto que estabelece o Plano Plurianual (PPA) que vigorará entre 2012 e 2015, abrindo caminho para a votação do Orçamento de 2012 ainda nesta semana.
O PPA definiu as metas do governo para os próximos anos, dividindo-as em quatro áreas: social, infraestrutura, desenvolvimento produtivo e ambiental e políticas especiais, como Defesa e proteção da Amazônia.
O relatório aprovado, de autoria do senador Walter Pinheiro (PT-BA), prevê que os dispêndios de R$ 5,4 trilhões no período. O valor é 38% superior do que o PPA estabelecido para 2008 a 2011. O Poder Executivo ficará com 97,5% dos recursos alocados, enquanto Legislativo e Judiciário dividirão os 2,5% restantes. Só os investimentos das empresas estatais totalizarão R$ 372,3 bilhões.
"É importante registrar a coragem do governo em mudar a estrutura do plano, facilitando o Orçamento de cada ano", comentou o relator, após a votação da proposta. "Caberá ao Executivo, de forma continuada, fazer uma atualização do plano e de sua execução."
Os setores que mais receberão recursos são o social (R$ 2,58 trilhões) e de infraestrutura (R$ 1,94 trilhão). O programa Brasil Sem Miséria, por exemplo, deve contar com R$ 20 bilhões até 2015. O PPA também prevê investimentos de R$ 389,7 bilhões em programas habitacionais, R$ 227,7 bilhões em petróleo e gás, R$ 177,2 bilhões em energia elétrica e R$ 117,1 bilhões em transportes entre 2012 e 2015.
De acordo com o senador Walter Pinheiro, o texto aprovado ampliou em R$ 300 milhões os recursos definidos originalmente pelo Executivo para ações de combate ao crack. Outra alteração feita pelos parlamentares foi a destinação de R$ 2 bilhões para os programas de ampliação da rede de internet de banda larga, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A iniciativa, se levada adiante pelo Executivo, fortalecerá a Telebras.
O texto aprovado pelo Congresso Nacional estabelece que as fontes dos recursos previstos no Plano Plurianual serão os orçamentos fiscal e da seguridade social (R$ 3,7 trilhões), o orçamento de investimentos das estatais (R$ 372,3 bilhões) e recursos extraordinários, como parcerias com o setor privado (R$ 1,3 trilhão).
O PPA aprovado ontem trabalha com um cenário de crescimento do Produto Interno Bruto de 4,5% em 2012 e de 5,5% por ano entre 2013 e 2015. A presidente Dilma Rousseff já afirmou, entretanto, que a meta do governo é fazer a economia brasileira crescer 5% no ano que vem.
O texto estima ainda que a inflação será de 6% em 2012 e 4,5% ao ano até 2015. Já o salário mínimo chegaria a R$ 817,97 ao fim desse mesmo período, de acordo com o parecer do senador Walter Pinheiro.
No início da atual legislatura do Senado, o Plano Plurianual era relatado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), atual ministra-chefe da Casa Civil da Presidência. Mas Pinheiro assumiu a tarefa depois que Gleisi licenciou-se do Senado para assumir o cargo no Palácio do Planalto. (FE)


Câmara tenta reajustar comissionados

Por Daniela Martins | De Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), não descartou, em entrevista sobre o balanço de atividades da Casa em 2011, conceder reajustes no fim do ano legislativo para servidores de gabinetes parlamentares, desde que esteja previsto na Lei Orçamentária de 2012, a ser votada nesta semana.
"Estamos esperando o resultado do Orçamento que sai ainda nesta semana. É uma decisão que vamos tomar à luz do que sair no Orçamento. Se tiver uma posição favorável, pode-se discutir [o tema do reajuste] ainda neste ano. Senão, a discussão ficará ao longo do próximo ano", afirmou, ontem.
Maia defendeu o aumento para aqueles que trabalham para os deputados, sem concurso público, destacando que os reajustes visam recompor perdas inflacionárias e devem atingir os menores salários da Câmara. A remuneração desses funcionários está atrelada à verba de gabinete dos parlamentares, que, de acordo com Maia, está congelada há cinco anos. "Quando falamos de verba de gabinete, falamos de servidores públicos que estão há cinco anos sem reajuste", justificou.
Segundo informou assessores do deputado, se não houver condição de dar o aumento por meio do Orçamento, Marco Maia poderá concedê-lo pela reorganização nos gastos da Casa - sinal de que há pressão da categoria.
Sobre o balanço de 2011 na Câmara, o presidente destacou que foram aprovados 637 projetos no plenário e nas comissões. Desse total, foram 37 medidas provisórias e duas propostas de emenda à Constituição (PECs).
Entre os principais projetos votados neste ano, o presidente da Câmara citou a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, que estabelece investimentos mínimos em saúde; o projeto que define a política de valorização do salário mínimo até 2015; e o texto que cria a Comissão Nacional da Verdade, dedicada à apuração de crimes contra os direitos humanos praticados durante a ditatura militar.
Para 2012, Maia disse que é "prioridade absoluta" a retomada do projeto de divisão dos royalties da exploração do petróleo, e ainda o fim do chamado fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho e a reforma política.


Aprovada medida que permite brecha na LRF

Por De Brasília

O plenário do Senado aprovou ontem um projeto de resolução que permite aos Estados e municípios inadimplentes contratarem empréstimos para refinanciar suas próprias dívidas com instituições do sistema financeiro nacional. A iniciativa permite, desta forma, uma brecha à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
A votação do projeto, que não estava na pauta do plenário, foi rápida e simbólica. O projeto altera o artigo 16 de resolução do próprio Senado que veda essa manobra. A proposta, de autoria do senador Casildo Maldaner (PMDB-SC), beneficia especificamente os municípios de Brusque (SC) e Petrolina (PE), além de quatro outras cidades não identificadas. Os municípios fizeram empréstimos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e não pagaram suas dívidas.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, autorizou a contratação de novos empréstimos para cobrir os débitos, sem consulta ao Ministério da Fazenda e ao Senado.
O líder do Democratas, Demóstenes Torres (GO), criticou a medida por criar jurisprudência para outros casos. (DM)


BRASIL
Saldo comercial cairá 88% em 2012 e atingirá apenas US$ 3 bi, prevê AEB

Por Daniel Rittner | De Brasília

A balança comercial deverá levar um tombo em 2012 e registrar superávit de US$ 3,040 bilhões. Se esse número for confirmado, será o pior desempenho desde 2001 e significará uma queda de 88,7% na comparação com o provável resultado deste ano, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).Conforme as estimativas da entidade, as exportações serão afetadas pela menor cotação das commodities, chegando a US$ 236,5 bilhões (-7,2%). Já as importações ficarão pressionadas pelos bens de consumo, devido ao aquecimento do mercado interno, e atingirão US$ 233,5 bilhões (alta de 2,4% sobre 2011).
"Esses dados são resultado do cenário internacional em crise, que deve provocar queda nas cotações das commodities, produtos que representam mais de 70% da pauta brasileira de exportações", diz José Augusto de Castro, da AEB. "As importações, cujos produtos manufaturados representam mais de 80% na pauta, poderão ser superficialmente impactadas pela crise externa, pois o governo está adotando medidas fiscais e monetárias para manter o mercado interno aquecido."
As projeções levam em conta uma taxa de câmbio média de R$ 1,80 - variando entre R$ 1,75 e R$ 1,85 -, gerando rentabilidade na exportação de manufaturados para "poucos setores" e falta de competitividade para a "grande maioria", enquanto "não desestimula" as importações. Também considera um crescimento de 3% do PIB e expansão de 15% no volume de crédito interno, além de queda no valor de commodities.
Os preços de produtos como minério de ferro, milho, soja em grãos e farelo de soja devem cair entre 18% e 22%. A queda afetará principalmente mercadorias negociadas em bolsa, consideradas ativos financeiros, que operam com grande alavancagem e volatilidade, segundo avalia a AEB.
O relatório da associação faz uma advertência: "Dependendo da evolução da crise internacional, a hipótese de déficit na balança comercial em 2012, o primeiro após os US$ 731 milhões apurados no ano 2000, não deve ser descartada". Com isso, haverá deterioração da conta de transações correntes, podendo gerar necessidade de captar mais recursos externos ou consumir parte das reservas.
Em 2012, a queda das exportações será puxada pelos produtos básicos (-11,2%), mas também afetará os semimanufaturados (-9,4%, com destaque para alumínio em bruto e cacau em pó) e os manufaturados (-1,5%, com variações maiores para papel e cartão, açúcar refinado e laminados planos).
A alta das importações abrangerá bens de capital (3,6%), bens intermediários (1,7%), bens de consumo não duráveis (7,2%, principalmente produtos farmacêuticos e têxteis) e bens duráveis (11,7%, com destaque para automóveis). Só combustíveis e lubrificantes terão queda das importações (-5,6%), gerando economia de quase US$ 2 bilhões, segundo a AEB.
A estimativa da entidade é sempre aguardada com expectativa pelo mercado, por causa de sua precisão. Em dezembro de 2010, a entidade divulgou projeção de superávit de US$ 26,1 bilhões neste ano. Esse foi exatamente o saldo verificado pelo Ministério do Desenvolvimento até a terceira semana de dezembro.


Nova lei amplia área de atuação do Inmetro

Por Guilherme Serodio | Do Rio

Sancionada na semana passada pela presidente Dilma Rousseff, a Lei 12.545 determina um papel mais ativo ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) no combate a práticas enganosas de comércio, de acordo com o presidente da instituição, João Jornada. A nova lei, que também acrescentou a palavra tecnologia ao nome da instituição, permite que o Inmetro passe atuar ao lado da Receita Federal para evitar a entrada de produtos estrangeiros que não atendam a requisitos técnicos estabelecidos pela regulamentação brasileira.
Na prática, a Receita Federal poderá solicitar o apoio do Inmetro para fazer as análises técnicas e aferir a qualidade dos produtos importados in loco nas áreas de alfândega antes do desembaraço alfandegário. Antes, a fiscalização era feita pela própria Receita. "O que se ganha com isso é velocidade", afirma o presidente do Inmetro. De acordo com ele, o órgão tem o prazo regulamentar de 60 dias para realizar a anuência de um produto estrangeiro.
Jornada descarta que a medida possa ser usada para proteger a indústria nacional. "O tratamento dado a produtos nacionais ou importados é igual e não poderia ser diferente. A ideia não é atrasar nada. Nosso objetivo é ajudar", diz o executivo.
O Inmetro não vai fazer esse trabalho sozinho, explica Jornada. O órgão conta com o apoio dos Institutos de Pesos e Medidas (Ipems) estaduais nas atividades de fiscalização, parceiros que também "vão estar envolvidos nesse processo de apoio à Receita Federal".
Para Jornada, o novo papel do Inmetro "é importante neste momento em que o Brasil é desafiado por produtos importados de baixa qualidade". Segundo o presidente do instituto, por trás da decisão do governo federal está o alto nível de sofisticação da indústria internacional. "A cada momento o mercado lança produtos novos e esta análise de qualidade torna-se muito mais complexa", afirma Jornada.
Segundo ele, a instituição "se prepara para uma atuação muito mais abrangente" e se insere "no cerne do Plano Brasil Maior de apoio à inovação e à competitividade da indústria brasileira". Na avaliação do presidente do órgão, a medida "estabelece uma capacidade de concorrência mais igualitária para produtos locais".
A nova lei estabelece ainda a possibilidade do Inmetro exercer poder de polícia administrativa em casos que previnam a prática enganosa de comércio para produtos estrangeiros ou nacionais - o que o permite expedir regulamentos ou recolher produtos. A instituição já tinha essa prerrogativa no que diz respeito a questões como segurança dos produtos, proteção da vida e da saúde humana e proteção do ambiente.
O Inmetro ganhou também a capacidade de conceder bolsas de pesquisa para atrair pesquisadores e reforçar seu quadro de profissionais. Os valores e prazos das bolsas ainda não foram definidos, mas Jornada aposta que serão semelhantes aos oferecidos pelos grandes institutos de pesquisa do país. Com as bolsas, ele acredita que o Inmetro possa se tornar "uma agência altamente competitiva na área científica".


Importador pede ação contra pneu subfaturado

Por De Brasília

Importadores cobraram ontem medidas do governo para coibir a entrada de pneus trazidos do exterior com preços subfaturados. Eles alegam que as fraudes geram prejuízo de até R$ 500 milhões ao governo em sonegação de impostos, e podem afastar do mercado quem importa sem subfaturamento.
"Nos últimos três anos, esse problema aumentou. Já fizemos 36 ofícios à Receita, à Polícia Federal, ao Ministério do Desenvolvimento e Ministério Público, mas nenhuma medida foi tomada", queixa-se o presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos Automotivos (Abidipa), Rinaldo Siqueira Campos, que representa 24 empresas do setor.
Munido de registros oficiais no sistema informatizado de operações do comércio exterior, Campos mostra que o mesmo tipo de pneu foi importado a valores tão discrepantes como a US$ 80 e a US$ 27. Com o subfaturamento, os tributos que incidem sobre esse produto - Imposto de Importação, IPI, PIS/Cofins e ICMS - acabam pesando menos.
De acordo com a Abidipa, o Brasil importa anualmente cerca de US$ 550 milhões em pneus, o equivalente a 25 milhões de unidades. Pouco menos da metade é comprada por montadoras de automóveis e por fabricantes instalados no país, para complementar a produção nacional.
Cerca de 15 milhões de unidades são vendidas no mercado brasileiro pelos chamados importadores independentes. A estimativa da Abidipa, no entanto, é que as importações subfaturadas já representem 70% disso.
Campos propõe a adoção de valores de referência para as importações, combinando peso e aro dos pneus. Segundo ele, se nenhuma ação for tomada pelo governo, os importadores que não praticam fraudes podem deixar seus negócios e o mercado corre o risco de ser inundado por pneus subfaturados. A Abidipa convidou representantes da Receita, da PF e do Ministério do Desenvolvimento para uma reunião ontem, em Brasília, mas nenhum deles compareceu.


INTERNACIONAL
Gingrich fez lobby e obteve contribuição do setor do álcool nos EUA

Por Alex Ribeiro | De Washington

Um dos mais fortes pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, o ex-deputado Newt Gingrich mantém laços antigos com a indústria de álcool combustível de milho e recebeu doação de campanha de uma das maiores empresas do setor. Gingrich está longe de ser o favorito nas eleições do ano que vem, mas, no caso de vitória sua, o Brasil teria mais dificuldades para derrubar eventuais barreiras protecionistas contra o álcool de cana-de-açúcar.
A Poet, uma gigante do setor de biocombustíveis baseada no Estado de Dakota do Sul, é a segunda maior financiadora da campanha de Gingrich, com uma doação de US$ 20 mil, de acordo com o Center for Responsive Politics, um centro de estudos que compila dados sobre contribuições políticas. A maior doadora é a RockPenn, uma empresa de embalagens da Geórgia, base eleitoral de Gingrich, com US$ 27 mil. A campanha de Gingrich havia levantado US$ 2,8 milhões até setembro de 2011, segundo os últimos dados disponíveis.
Gingrich é um dos poucos candidatos republicanos que apoiam o atual regime de subsídios e tarifas de importação que protege o etanol, como também é conhecido o álcool combustível. É quase certo que o sistema vá acabar no fim deste ano, em grande parte devido à pressão de parlamentares conservadores que questionam o seu alto custo fiscal, estimado em US$ 6 bilhões anuais. Mas as usinas americanas defendem uma série de outros interesses, como os subsídios aos biocombustíveis feitos a partir de celulose, que competem com produtos mais baratos, como os feitos com cana-de-açúcar.
Nos últimos anos, Gingrich foi contratado como consultor da Gowth Energy, uma associação que faz lobby em Washington para manter as barreiras à importação de álcool. Em depoimentos e artigos, o hoje candidato disse que os subsídios são estratégicos para os Estados Unidos reduzirem a sua dependência de petróleo importado.
As pesquisas eleitorais apontam Gingrich como um dos líderes na disputa nas eleições primárias republicanas, ao lado do ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, que ainda é visto como o favorito. Apesar de sua baixa popularidade, o presidente Barack Obama tem boas chances de ganhar um segundo mandato.
A proximidade com a indústria do etanol e outros lobbies que atuam em Washington é um dos pontos fraco de Gingrich, candidato no qual poucos botavam fé e que foi abandonado por seus assessores há apenas alguns meses. As bases conservadoras do partido, como o movimento Tea Party, estão mobilizadas na defesa de cortes de gastos públicos e de subsídios ao setor privado.
Para incentivar o desenvolvimento de uma industria de combustíveis alternativos, os Estados Unidos mantém um sistema de subsídio que paga 45 centavos para cada galão (3,8 litros) de álcool misturado à gasolina. Também impõem uma tarifa de 54 centavos por galão de álcool importado. O sistema vem sendo renovado nas últimas três décadas, mas deve expirar se não for prorrogado até o fim do ano. Há outros 22 programas federais que apoiam o uso de biocombustíveis. Um deles dá um crédito de US$ 1,01 por galão de álcool de celulose misturado à gasolina.
Os incentivos aos biocombustíveis seriam um possível ponto de embate com o Brasil no caso de vitória de Gingrich, mas a expectativa é que as relações no geral sejam boas. "Meu palpite é que ele terá uma política bastante favorável em relação ao Brasil", afirma Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, um centro de estudos de Washington. "Ele disse no passado que os Estados Unidos não devem ignorar o Brasil porque um dia o país iria virar uma potência."


ESPECIAL
Porto Velho já teme impacto do pós-usina na economia local

Por Daniel Rittner | De Porto Velho

Às vésperas de cortarem o laço que marcará o início das operações da usina de Santo Antônio, com o funcionamento da primeira turbina, os vizinhos das hidrelétricas do rio Madeira se perguntam: há vida após a morte em Porto Velho? O pico das obras civis, que chegaram a envolver mais de 40 mil trabalhadores, levando em conta os canteiros de Jirau, ficou para trás. Até 2016, uma desmobilização gradual do contingente empregado nos dois empreendimentos ganhará corpo, gerando efeitos ainda incertos no futuro da economia local."É provável que haja alguma desaceleração", disse ao Valor o governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB). Nos dez primeiros meses deste ano, o recolhimento de ICMS - termômetro do nível de atividade - subiu 33%, liderando o crescimento da arrecadação no país. "Se a nossa economia se ajustar à média de expansão dos demais Estados da região Norte, já será muito bom."
O tamanho da desaceleração, a partir de agora, é um assunto que intriga os moradores de Porto Velho. "A nossa economia ainda não está preparada para a desmobilização dos canteiros", afirma Pedro Costa Beber, secretário municipal de Programas Especiais.
Novas obras de infraestrutura, como as eclusas, que prometem facilitar a navegação pelo rio Madeira, e um ramal de 550 quilômetros do gasoduto Urucu-Manaus, para atrair indústrias de setores como plástico e cerâmica, são frequentemente apontadas como as maiores prioridades do período pós-usinas. Só que ainda não há perspectiva, conforme o planejamento do governo federal, de saírem do papel nos próximos anos. O gasoduto sequer faz parte dos planos do Ministério de Minas e Energia.
Sinais de desaquecimento já são observados, por exemplo, no mercado imobiliário. Nos últimos cinco anos, grandes construtoras, como Gafisa, Direcional e Bairro Novo, desembarcaram em Porto Velho. Um condomínio de quatro torres de alto padrão, lançado no início de 2008, teve 200 das suas 280 unidades vendidas até três meses depois do lançamento. Um servente de pedreiro, cujos rendimentos mensais dificilmente ultrapassavam um salário mínimo quando as usinas começaram a ser construídas, hoje costuma ganhar pelo menos R$ 1 mil. "O mercado entrou em ebulição. Desde os anos 80, na época do garimpo, nunca vi tanta muvuca", comenta Cézar Zoghbi, proprietário da Zoghbi Imóveis e vice-presidente do Creci, a associação dos corretores.
O panorama, no entanto, mudou nos últimos meses. Entre 2007 e 2009, as incorporadoras lançaram mais de 10.000 unidades habitacionais, espetando no mapa de Porto Velho os primeiros arranha-céus. "Neste ano, o número de lançamentos não chegou a 2.000", compara Zoghbi. O valor dos aluguéis, inflado pela procura de profissionais vindos de outras cidades, se multiplicou desde o início das obras das usinas, mas hoje está cerca de 20% menor do que no momento de pico da demanda.
Cada uma das hidrelétricas pagará, ao longo de toda a sua construção, em torno de R$ 1,5 bilhão em salários. Boa parte do dinheiro fica em Rondônia. Quando as obras terminarem, o receio do empresariado local é que haja desaquecimento da economia. "Para cada emprego direto gerado pelas usinas, temos três ou quatro indiretos. A nossa preocupação é manter esse crescimento para absorver a mão de obra", afirma o superintendente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), Gilberto Baptista.
Além das obras de infraestrutura e da exploração sustentável de recursos naturais (madeira com plano de manejo e beneficiamento de minérios como o estanho), Baptista vê a permanência de indústrias recém-chegadas à região como fundamentais para manter o nível de atividade. "Mesmo após o encerramento das obras das usinas, existirá no Estado sustentabilidade para um crescimento de 8% ao ano até 2020."
Uma das empresas que fincaram raízes é a Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia (IMMA), associação da Alstom com a Bardella, instalada no semivirgem distrito industrial de Porto Velho para fornecer equipamentos pesados à hidrelétrica de Santo Antônio. Em um terreno de 253 mil metros quadrados, a IMMA fez investimentos de R$ 90 milhões e hoje tem capacidade para produzir 12 mil toneladas por ano de equipamentos de levantamento e hidromecânicos.
"Viemos para ficar", define o gerente de recursos humanos da empresa, Gustavo Almeida, responsável pelo treinamento de mil pessoas desde a chegada da IMMA. Cada uma passou por 700 horas-aula de curso teórico e prático - mais de 600 foram contratadas ao fim do processo. "Hoje, 85% da nossa mão de obra é local, e pretendemos chegar a 95% até meados de 2012", diz Almeida.
Com a montagem dos equipamentos em Porto Velho, a Alstom e a Bardella planejam atender à demanda que surgir com futuros empreendimentos hidrelétricos na Amazônia. As chapas de aço vêm de siderúrgicas de Cubatão (SP) e de Ipatinga (MG), evitando o pesadelo logístico que significa o transporte rodoviário em esquema especial. E o futuro já é realidade para a empresa.
"Temos encomendas que preenchem a capacidade da fábrica por pelo menos quatro anos", comemora o executivo. Foram assinados contratos para fornecimento às usinas de Belo Monte, Teles Pires e Santo Antônio do Jari. Além disso, a IMMA espera atender a encomendas de usinas brasileiras no Peru e na Bolívia.
A Votorantim Cimentos, que instalou uma unidade em Porto Velho e destina cerca de 70% de sua produção às usinas, também continuará na cidade após a conclusão das obras. O governo de Rondônia ainda quer uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) funcionando na cidade.
Outros projetos para estimular a economia local são tocados diretamente pela União. É o caso da instalação de 50 mil tanques-rede nos reservatórios de Santo Antônio e de Jirau para o desenvolvimento da pesca em cativeiro. "A nossa ideia é ter de 4.000 a 5.000 famílias envolvidas com a aquicultura nos lagos das hidrelétricas", afirma o superintendente regional do Ministério da Pesca, Jenner Menezes. A exploração será feita em apenas 1% das águas, mediante contratos de 20 anos.
Atualmente, segundo Menezes, Rondônia produz 15 mil toneladas de peixe cultivado por ano - 95% disso é de tambaqui. A meta do governo estadual é chegar a 80 mil toneladas, mas há potencial para muito mais, garante o funcionário. "Queremos ampliar a criação de pirarucu, de pintado e de bagres em geral."
A vocação florestal de Porto Velho também é ressaltada pela prefeitura. O secretário Pedro Beber calcula que é possível obter R$ 3 bilhões por ano com planos de manejo sustentável só na reserva extrativista de Jaci-Paraná, que tem área total de 192 mil hectares. Ele estima que, explorando metade disso - com reposição permanente da mata - a um ritmo anual de 30 metros cúbicos de madeira por hectare, chega-se "facilmente" a esse valor.
O futuro da cidade pós-usinas causa angústias na população e o receio de que, como a borracha e o garimpo em décadas anteriores, tudo não passe de mais um ciclo sem legados. Por isso, o promotor Aluildo de Oliveira Leite, responsável pelo grupo instituído no Ministério Público Estadual de Rondônia para monitorar a implantação das hidrelétricas, recomenda cautela com a "ideia utópica" de que o Estado entrou em um processo inesgotável de prosperidade.
"Nós somos um laboratório para os impactos de futuros empreendimentos do governo federal na Amazônia. Hoje é difícil contratar um carpinteiro, um pedreiro ou uma empregada doméstica em Porto Velho, tamanho o movimento causado pela construção das usinas. Mas, e depois? Não vejo a atração de empresas em número suficiente para empregar tanta gente quando as obras terminarem."


EMPRESAS & TECNOLOGIA
Braskem vai concentrar investimentos no Brasil

Por Mônica Scaramuzzo | De São Paulo

Depois de dois anos de intensos investimentos no mercado internacional, com aquisições de ativos nos Estados Unidos e Europa, a petroquímica Braskem vai concentrar sua estratégia de expansão no Brasil em 2012. Em entrevista ao Valor, Carlos Fadigas, principal executivo da companhia, afirmou que os planos de crescimento no país incluem uma fábrica de polipropileno (PP) no polo de Camaçari (BA), duas novas unidades de plástico verde e aportes no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
O total desses investimentos ainda está em discussão, mas deve ser da ordem de US$ 5 bilhões. "Nossa estratégia [de expansão] não será diferente da deste ano, mas nossa prioridade será o Brasil", afirmou o executivo.
Segundo Fadigas, o ano de 2011 foi difícil para as indústrias químicas e petroquímicas nacionais, considerando um cenário retraído por conta da crise internacional. No Brasil, o setor foi abatido pela valorização do dólar e pelos altos volumes de produtos importados, o que deve resultar em uma balança comercial negativa em US$ 25,9 bilhões. No ano de 2010, a balança do setor encerrou igualmente no vermelho, mas em US$ 20,7 bilhões. "Apesar desses fatores, a Braskem tem uma visão de longo prazo", disse o executivo.
O maior projeto da companhia será tocado em parceria com a Petrobras. O Comperj, a maior central petroquímica em construção no país, está sendo desenhado para que a proporção nafta/gás fique em 30% e 70%, respectivamente. O complexo, orçado em US$ 13 bilhões, segundo fontes do setor, terá duas refinarias, que serão controladas pela estatal, e um polo petroquímico, do qual a Braskem será majoritária, com investimentos de US$ 4 bilhões, segundo apurou o Valor. Pela configuração atual, o projeto petroquímico terá uma unidade de produtos básicos (eteno, propeno, benzeno e outros) e de segunda geração, especialmente as resinas que fazem parte do portfólio da Braskem. "Precisamos definir tecnologia e como será essa central de matérias-primas."
Com 28 fábricas em operação no Brasil, uma parte delas herdada durante a incorporação da Quattor em 2010, a Braskem também planeja erguer uma unidade de polipropileno no polo de Camaçari à base de nafta. Segundo Fadigas, outros dois projetos de resina verde também ganharão forma em 2012 - a construção da primeira planta de PP verde e a segunda unidade de polietileno (PE) verde. A primeira fábrica "verde" está em operação desde setembro do ano passado em Triunfo (RS). "A fábrica de PE deverá ser construída próxima a uma usina de etanol", afirmou. A companhia também não descarta promover o "desgargalamento das unidades petroquímicas em operação" para elevar a capacidade de produção da companhia.
A nafta é hoje a principal matriz petroquímica da Braskem, com unidades instaladas nos polos da Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo. O grupo herdou a unidade Riopol, da Quattor, que opera no Rio de Janeiro com gás, mas ainda sem grande regularidade. O salto da Braskem virá justamente com o Comperj, que terá maior fonte de gás natural, um passo para tornar a companhia mais competitiva no Brasil, uma vez que os custos para produzir resinas com nafta são bem maiores do que com gás natural.
Nos últimos dois anos, a petroquímica brasileira intensificou seu processo de internacionalização, tornando-se a maior petroquímica das Américas. O primeiro passo dado pela Braskem foi durante a crise financeira global, com a compra dos ativos da Sunoco Chemicals, subsidiária da petrolífera Sunoco, nos EUA, que incluem três fábricas de polipropileno. Neste ano, a companhia anunciou a compra de duas unidades da Dow Chemical nos EUA e outras duas na Alemanha. Com essa transação, o grupo consolidou sua liderança em PP em território americano e colocou seus pés na Europa. "Agora que consolidamos nossa liderança em PP nos EUA, podemos olhar negócios na área de polietileno."
Além dessas aquisições nos EUA, o grupo está investindo em um projeto "greenfield" (construção do zero) no México. Com investimentos da ordem de US$ 3,1 bilhões em parceria com a companhia Idesa, a Braskem, que terá participação de 65% nesse negócio, vai construir três fábricas, com capacidade para 1 milhão de toneladas de etileno e polietileno. No Peru, o grupo também estuda um projeto petroquímico à base de gás, com a petrolífera Petroperu, orçado em US$ 3 bilhões.
O último grande movimento da Braskem no país foi a incorporação das fábricas da Quattor em parceria com a Petrobras, em 2010. Essa operação não foi bem recebida pelo mercado, uma vez que os ativos da Quattor não eram tão atraentes como as unidades em operação da Braskem.
Em 2012, a companhia deverá colocar em operação a fábrica de butadieno, matéria-prima para a cadeia de borracha, no Rio Grande do Sul, e uma fábrica de PVC em Alagoas, que juntas somam aportes de cerca de R$ 1,2 bilhão. "O setor petroquímico cresce 1,5 a 2 vezes o PIB. O crescimento [do Brasil] não foi como o projetado no início do ano. Os custos de produção no Brasil não são competitivos", observou.
Em Pernambuco, a companhia também tem um grande projeto, mas que ainda está em "stand-by". O complexo de Suape, que está sendo erguido pela Petrobras, prevê a construção de uma fábrica de resinas PET, que está no radar da Braskem. "Ainda estamos analisando como será nossa participação. Não teve muita evolução", disse Fadigas.


Petrobras não vê problemas para captar no exterior

Por Rafael Rosas e Marta Nogueira | Do Rio

A crise internacional não deverá ser problema para que a Petrobras consiga captar os recursos necessários. Prova disso foi o sucesso, este ano, com a captação de US$ 18 bilhões, considerados suficientes pela empresa para tocar o cronograma do plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2015. As boas notícias vindas da capacidade financeira foram a tônica ontem no tradicional café da manhã que a estatal realiza com a presença do presidente, José Sergio Gabrielle, e diretores com jornalistas nas últimas semanas do ano. Diante dos mais variados questionamentos, poucas foram as perguntas que ficaram sem resposta.
E as respostas positivas se concentraram na capacidade financeira da companhia "Não tivemos nenhum grande problema de captação em 2011", afirmou Gabrielli, acrescentando que as petroleiras têm encontrado bons ventos para captação, uma vez que a fraqueza esperada para demanda por petróleo e derivados na Europa e Japão deverá ser compensada pela expansão no consumo na Ásia, África e América do Sul, mantendo em alta as cotações da commodity.
O diretor financeiro e de relações dom investidores da estatal, Almir Barbassa, destacou que a estatal tem buscado recursos em várias fontes. "Abrimos recentemente os mercados de euros e libras", disse, lembrando que a Petrobras tem liquidez suficiente para passar por eventual fechamento do mercado europeu em função da crise.
A boa notícia na questão do financiamento também foi estendida aos fornecedores e Gabrielli fez questão de frisar que o programa Progredir, criado para facilitar o financiamento da cadeia de fornecedores, deve atingir R$ 1 bilhão em empréstimos este ano. Atualmente já foram emprestados, via Progredir, R$ 990,3 milhões pelos seis bancos - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e HSBC - filiados ao programa.
O bom humor demonstrado pela diretoria, com o sucesso da empresa para conseguir recursos para tocar os seus projetos, foi suficiente para manter o bom clima mesmo com diversas informações não tão positivas. O diretor de exploração e produção, Guilherme Estrella, confirmou que a produção de óleo este ano vai ficar, mais uma vez, "pouquinho mais baixa" que a previsão de 2,1 milhão de barris diários na média anual.
"Vamos produzir um pouco menos por uma série de circunstâncias que não estavam previstas", disse Estrella, citando o atraso na chegada de sondas e problemas pontuais, como o defeito em um conector de um poço que reduziu a produção em 40 mil barris diários por dez dias. Depois de citar a entrada de quatro projetos de produção para 2012 - Tiro e Sidon, Baleia Azul, P-55 e Guará -, Estrella foi taxativo: "bombar mesmo [a produção], só quando entrar o pré-sal".
Outra notícia também menos positiva veio do abastecimento, que teve de aumentar o volume importado de gasolina para fazer frente ao aumento da demanda, que subiu 23,2% nos 11 primeiros meses do ano. A previsão da companhia é de que as compras externas do combustível fiquem entre 45 mil e 47 mil barris por dia, bem acima dos 9 mil barris diários em 2010, fruto da incapacidade dos produtores de etanol de atender à demanda, que migrou para a gasolina. Esse crescimento nas importações aconteceu a despeito do aumento de 40 mil barris diários de produção nas refinarias do país.
"Para 2012 não temos entrada de novo refino. Então, deveremos manter a taxa [de utilização das refinarias] em 90%, com 1,850 milhão de barris por dia de capacidade de refino", disse o diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. O executivo acrescentou que a impossibilidade de se aumentar a produção de gasolina em 2012 se dará em um cenário cuja expectativa é de alta contínua na demanda do produto. Com isso, novos avanços nos volume importados podem ser esperados.
Em 2011, o consumo de gasolina será de 432 mil barris por dia, o que coloca a produção nacional na casa dos 390 mil barris diários. Já a importação de diesel até novembro foi de 176 mil barris por dia, para consumo de 862 mil barris por dia.


CARREIRA
Alemanha busca engenheiros do Brasil para suprir escassez

Por Adriana Fonseca | De São Paulo

Embora o mercado esteja aquecido para os engenheiros no Brasil, há profissionais optando por sair do país para fazer carreira na Alemanha. Dados levantados pela Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha mostram que faltam de 77 mil engenheiros atualmente no país europeu. A maior escassez, segundo Edgar Horny, presidente da associação, está na indústria mecânica e nas montadoras (32 mil). Também há grande déficit no setor elétrico (18 mil) e na construção civil (9 mil).
Ir para a Alemanha neste momento pode ser positivo para o desenvolvimento da carreira de um engenheiro, mas não há perspectiva de ganhos financeiros elevados. Sönke Böge, diretor da consultoria de recrutamento executivo Boyden, afirma que a grande vantagem de trabalhar no país é se aperfeiçoar e aprender técnicas avançadas. "A engenharia alemã está salvando o país da crise. A tecnologia desenvolvida lá nesse segmento é inovadora", diz.
Segundo o consultor, os salários dos engenheiros nos primeiros cinco anos de formados são equivalentes no Brasil e na Alemanha. Mas, para os mais experientes, com mais de cinco anos de mercado, a remuneração aqui é entre 20% e 40% superior. "Vale a pena ir para lá no início da carreira para aprender e ganhar experiência. Depois de algum tempo, porém, é mais vantajoso financeiramente trabalhar no Brasil", diz.
Formado em engenharia de controle e automação industrial pela Universidade Federal de Santa Catarina, Rodrigo Isleb decidiu começar sua carreira no país germânico. Em 2007, prestes a concluir a graduação, ele foi para a Alemanha desenvolver seu projeto de conclusão de curso. Ao terminar a faculdade, recebeu algumas ofertas de trabalho para permanecer no país. Aceitou o convite feito pela Nestlé, onde ficou até abril de 2011, envolvido com a construção de uma nova fábrica para a produção de leite em pó.
Como tinha propostas de trabalho na Europa, Isleb nem pensou em começar sua carreira no Brasil. "Queria ter uma experiência profissional internacional forte e achei que conseguiria um bom aprendizado trabalhando na Alemanha", afirma. Após concluir a implementação da fábrica da Nestlé, Isleb recebeu uma nova proposta de trabalho e, desde março deste ano, atua como consultor na Altran.
Sediado em Ingolstadt, no Sul da Alemanha, o executivo trabalha atualmente no planejamento de uma nova fábrica da Audi na Hungria. Agora, com 33 anos e após alcançar ampla experiência no exterior, Isleb não descarta regressar ao Brasil. "Ainda não comecei um movimento de retorno, mas estou atento aos investimentos recebidos pelo país para construção de novas fábricas. Essa é a minha área de atuação", ressalta.
Böge, da Boyden, afirma que os brasileiros são bem recebidos para trabalhar na Alemanha, mas ressalta que é importante saber pelo menos um pouco do idioma local para se candidatar a uma vaga. "Encontrar um trabalho lá sem falar a língua deles é muito difícil", diz. Isleb concorda. O executivo, que já sabia alguma coisa do idioma quando decidiu se mudar, conta que usa o alemão na empresa desde o primeiro dia de trabalho. "Não é preciso ser fluente, mas é fundamental saber se comunicar na língua deles", afirma Isleb, que diz ter levado dois anos para dominar o idioma.
A falta de engenheiros na Alemanha também fez com que Robinson Silva, 32 anos, deixasse Campinas rumo à Europa. Cerca de um ano atrás, a Bosch precisava de alguém para ocupar o cargo de gerente de produtos da divisão de reposição automotiva na sede da companhia, na Alemanha. A vaga foi anunciada para todos os funcionários da empresa no mundo e ele foi considerado o mais preparado para ocupar o cargo. "Os profissionais brasileiros se destacam na área de gerenciamento de produtos. Enquanto na Alemanha os engenheiros trabalham focados no desenvolvimento de novas tecnologias, os brasileiros têm uma visão mais sistêmica dos produtos e do mercado", afirma Fabio Amaral, gerente de recursos humanos da Bosch.
Silva foi para a matriz justamente para direcionar o departamento mais para o mercado, redefinindo a forma como os produtos são oferecidos aos clientes. "A vaga tinha como pré-requisito alguém que entendesse bem as necessidades dos clientes. Nós, que trabalhamos no Brasil, atuamos naturalmente dessa maneira", explica Silva.
O executivo revela que sua transferência para a Alemanha não trouxe benefícios financeiros. O que pesou na decisão, segundo ele, foi a oportunidade de se desenvolver profissionalmente e de proporcionar uma experiência internacional para suas duas filhas, de 11 e 5 anos. "Recebi apenas uma correção de salário para manter o mesmo padrão de vida que tinha no Brasil, além de auxílio para moradia e educação das meninas."
Silva ingressou na Bosch como estagiário, enquanto ainda cursava a escola técnica. Foi efetivado e ali traçou sua carreira com a conclusão da faculdade de engenharia. Hoje, avalia que a experiência adquirida no chão de fábrica pesou na escolha da companhia para expatriá-lo. "Depois da faculdade, fui direcionado para a área de marketing de produto. Tenho um conhecimento técnico dos produtos que desenvolvemos e também comercial", afirma.
A expatriação de brasileiros para a Alemanha é algo comum na Bosch. Em 2010, a unidade brasileira enviou 93 funcionários para o exterior. Neste ano, foram 99. Amaral explica que o intercâmbio de profissionais é muito valorizado pela companhia como forma de ampliar o entendimento de outras culturas e estilos de trabalho, além de estabelecer uma rede internacional de contatos e aprender a trabalhar com sucesso em um ambiente diferente.
"A experiência dos engenheiros na Alemanha também é uma ótima forma de capacitação, já que é na matriz que são desenvolvidas as principais tecnologias que, posteriormente, chegam no resto do mundo", afirma o gerente de RH da Bosch.


FINANÇAS
Fraude com CDB no PanAmericano pode chegar a R$ 5,4 bi

Por Rafael Rosas e Felipe Marques | Do Rio e de São Paulo

Os advogados contratados pela nova administração do Banco PanAmericano, sob controle do BTG Pactual, conseguiram ontem impedir o pagamento de cerca de R$ 21 milhões em quatro Certificados de Depósitos Bancários (CDB) suspeitos de fazerem parte de uma fraude bilionária na instituição. A liminar conseguida também impede qualquer negociação dos papéis.
Os R$ 21 milhões bloqueados ontem são apenas a ponta do iceberg de um esquema que envolve dezenas de CDBs vendidos pelo PanAmericano ainda sob o controle do empresário Silvio Santos. Parte do esquema já havia vindo à tona, mas a cópia da ação à qual o Valor teve acesso descreve em detalhes o que foi encontrado pela nova gestão dentro do banco. Se todos os CDBs comprados por uma lista de 28 investidores - quase todas da cidade mineira de Juiz de Fora, mas alguns também do Estado do Rio de Janeiro - tiverem que ser pagos, representarão um desembolso de até R$ 5,4 bilhões pelo PanAmericano, segundo descreve o texto de petição apresentada à 19ª Vara Cível de São Paulo pelo escritório do advogado Sérgio Bermudes, contratado pelo banco para tentar evitar o pior.
Em cópias de e-mails obtidos pela Polícia Federal e anexadas pelos advogados à ação, o ex-presidente da instituição, Rafael Palladino, chama a operação de "captação louca". As emissões começaram a ser feitas em 2005.
O principal titular dos CDBs é Adalberto Salgado Junior, de Juiz de Fora, cujo nome já havia aparecido antes relacionado ao caso. Na lista de investidores constam várias pessoas com o mesmo sobrenome que o dele, mas não está claro o grau de parentesco.
Segundo os advogados do banco, os investidores, que consideram ser participantes de uma fraude contra o banco, compravam CDBs do PanAmericano a taxas totalmente fora do padrão do mercado. Segundo parecer assinado pelo economista Affonso Celso Pastore, as emissões de CDB com prazos de 15 anos feitas entre dezembro de 2005 e março de 2006 teriam uma taxa de mercado próxima de 15% ao ano. Os CDBs do PanAmericano emitidos no mesmo período e com esse prazo premiavam os investidores com juros de 30,5%. "Nessas operações foram pagas taxas de juros situadas muito acima das taxas do mercado", escreveu Pastore no parecer.
De acordo com o documento, o esquema dos CDBs já rendeu cerca de R$ 93 milhões em resgates embolsados e mais R$ 338 milhões em valorização pelas taxas. A estimativa é que o valor total a ser resgatado até 2027, quando vencem os últimos CDBs, possa ultrapassar a cifra de R$ 5,4 bilhões. O valor inclui principal investido e mais juros no período, Entretanto, o grosso é representado pelos rendimentos, inflados pelas taxas fora de padrão.
Um CDB específico dá uma dimensão disso. Emitido em junho de 2008 e com vencimento em 2025, o papel tem uma taxa anual de 24,46%. Isso significa que, com R$ 8,7 milhões investidos inicialmente, seriam resgatados astronômicos R$ 361,7 milhões no vencimento.
Em conversa por e-mail em maio de 2007, capturada pela Polícia Federal, o então presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, refere-se ao esquema dos CDBs como "captação louca", em mensagem enviada para Wilson de Aro, que era diretor de investimentos do banco. "Antes de conversarmos veja com o Bruno [diretor jurídico do banco] se podemos cair fora legalmente desta "captação louca" feita por vocês", escreveu.
O esquema também envolveu, no caso de alguns réus, empréstimos que o banco fez para possibilitar a compra de novos CDB. O banco teria emprestado R$ 58,5 milhões a um dos investidores, que foram integralmente aplicados na compra de novos CDBs.
A petição é apenas o começo da briga que os advogados do escritório de Sergio Bermudes prometem comprar com os investidores desses CDBs. "A petição é uma ação cautelar preparatória de uma ação principal em que se fará uma narrativa mais minuciosa e pedirá para remeter [o processo] ao Ministério Público, diante da prática de um crime", diz Bermudes. O objetivo é conseguir desfazer os negócios listados na petição.
A petição revela ainda que os investidores acusados de fraude conseguiram inflar ainda mais seus ganhos ao pactuar com o banco um resgate antecipado de alguns dos CDBs que venceriam mais adiante. Valores investidos em 2005, 2006 e 2008, que venceriam em até 15 anos, foram resgatados em 2009 e 2010. Só que, em vez de calcular o valor de resgate antecipado usando a mesma taxa estratosférica acertada inicialmente, foram aplicadas taxas bem menores. Assim, os valores aplicados foram multiplicados em até 11 vezes. Em um dos casos, um CDB de R$ 370,24 mil, feito em 7 de dezembro de 2005 a uma taxa de 30,52% ao ano e com vencimento em dezembro de 2020, foi resgatado em julho de 2009. O investidor recebeu R$ 4,04 milhões porque o banco aplicou a taxa de desconto de 15% ao ano. Se tivesse usado os mesmos 30,52% para trazer o papel a valor presente, o resgate teria sido de R$ 968 mil.


Remessas não têm a ver com crise, avalia BC

Por De Brasília

O chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, disse não ver elementos para relacionar o aumento das remessas de lucros e dividendos à crise internacional. Para fazer essa vinculação, argumentou, "seria necessário um fluxo contínuo em patamar alto". Segundo ele, um movimento nesse sentido foi percebido na crise de 2008/2009, quando houve preocupação das multinacionais em socorrer suas matrizes.
Em novembro, o Brasil remeteu US$ 4,2 bilhões em lucros e dividendos. A cifra superou outubro (US$ 1,558 bilhão) e novembro de 2010 (US$ 1,949 bilhão), mas foi inferior a agosto (US$ 5,11 bilhões) e quase igual ao de maio (US$ 4,19 bilhões). Normalmente há uma elevação sazonal de remessas no fim do ano, disse.
Maciel acha natural que esses gastos tenham crescido em função do investimento estrangeiro direto (IED), cujo fluxo tem sido forte nos últimos anos.
O expressivo volume de remessas foi um dos motivos pelos quais o déficit do país em transações correntes superou os US$ 5,5 bilhões projetados pelo BC, chegando a US$ 6,8 bilhões, recorde para um mês. "O número veio mais acentuado", disse Maciel, sem informar qual era o prognóstico.
O desempenho da balança comercial também influenciou. O BC esperava um saldo comercial acima dos US$ 583 milhões efetivamente verificados, acrescentou o chefe do Depec.
No acumulado do ano, as remessas somaram US$ 33,426 bilhões, ante R$ 25,031 bilhões em igual período de 2010. Em 12 meses, o valor alcançou US$ 38,76 bilhões, o maior da série nesse critério. (M I)


INVESTIMENTOS
Estrangeiro já tira do pregão R$ 2,7 bi em dezembro

Por Beatriz Cutait | De São Paulo

Em um mês tradicionalmente marcado pela valorização da bolsa brasileira, o famoso rali de fim de ano, os investidores internacionais não estão fazendo sua parte e acentuaram de forma representativa o ritmo de saída de recursos do pregão. Para se ter ideia desse movimento, no acumulado de dezembro, até o dia 16, o estrangeiro já resgatou R$ 2,754 bilhões.
Após suas vendas superarem as compras em R$ 677,2 milhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entre os dias 5 e 9, o estrangeiro fechou a segunda semana de dezembro, encerrada no dia 16, com saldo líquido negativo de R$ 2,897 bilhões.
Esse movimento de saída ajuda a explicar a queda do Índice Bovespa de 3,7% na segunda semana deste mês, marcado novamente pelas ameaças de rebaixamento de notas de países europeus, pelas grandes agências de classificação de risco, leilões de títulos de dívida soberana na região, além da insatisfação com a falta de novas medidas de estímulo à economia americana pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Os investidores pessoa física, contudo, impediram uma perda maior do principal índice da bolsa na segunda semana de dezembro, ao injetarem liquidamente R$ 151,9 milhões. Mesma atuação positiva tiveram os investidores institucionais, com uma entrada líquida de R$ 570 milhões, empresas privadas e públicas, com R$ 1,971 bilhão, e as instituições financeiras, com aplicações de R$ 203 milhões.
No acumulado de dezembro, o estrangeiro já resgatou R$ 2,754 bilhões da Bovespa, valor que resulta de entrada de recursos da ordem de R$ 34,545 bilhões e da saída de R$ 37,299 bilhões. Na mesma direção, a pessoa física tem uma posição negativa de R$ 422,8 milhões na bolsa.
No sentido oposto, o saldo líquido dos investidores institucionais neste mês é positivo em R$ 1,03 bilhão, das empresas privadas e públicas em R$ 1,978 bilhão e das instituições financeiras em R$ 164,6 milhões.
Apenas na sexta-feira passada, quando o Ibovespa caiu 0,42%, para 56.096 pontos, houve uma saída líquida dos investidores internacionais do pregão da Bovespa da ordem de R$ 55,3 milhões.
Em um ano conturbado para os mercados financeiros, principalmente em função da crise da dívida soberana europeia, o estrangeiro apresenta vendas superiores às compras em R$ 1,683 bilhão na Bovespa, até 16 de dezembro. Vale lembrar que, em 2010, quando o Ibovespa subiu cerca de 1%, o saldo direto de atuação do investidor internacional ficou positivo em quase R$ 6 bilhões.
Neste ano, o investidor institucional ainda mostra retirada líquida de R$ 4 bilhões da bolsa e a pessoa física, de R$ 7,6 bilhões. Já as empresas privadas e públicas acumulam ingresso líquido de R$ 12,7 bilhões em 2011.
No mercado futuro, os dados mais recentes da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) mostram que a posição "vendida" (aposta de queda) do estrangeiro em Ibovespa futuro aumentou para 38.933 contratos na segunda-feira. O total está bem distante do recorde negativo do ano, de 19 de julho, quando a posição "vendida" foi de 106.841 contratos.


AGRONEGÓCIOS
Uma revolução agroindustrial no horizonte?

Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo

De todos os efeitos que a rápida ascensão da China tiveram sobre a economia mundial na última década, a alta dos preços dos alimentos e de o utras matérias-primas é, certamente, um dos que mais despertam a atenção dos economistas. Em poucos anos, muitas commodities ficaram duas ou três vezes mais caras do que no início dos anos 2000. E, apesar dos revéses sofridos após o estouro da crise financeira americana, em 2008, e do agravamento dos problemas europeus, nos últimos meses, os preços se mantêm bem acima das médias históricas.
Poucos estudiosos acreditam se tratar de um movimento de curto prazo. Pelo contrário, para a maioria, a escalada dos últimos anos parece sepultar de vez a era das matérias-primas baratas, uma das bases que sustentaram o crescimento econômico durante o século 20. Agora, economistas de várias tendências se veem obrigados a repensar as questões relacionadas aos recursos naturais e ao desenvolvimento econômico dos países produtores de commodities. E, como nunca, dispostos a questionar dogmas como a disseminada "maldição dos recursos naturais". Afinal, é possível para países como o Brasil se desenvolver a partir de setores como a agricultura?
Talvez em poucos períodos na história capitalista, tantos estudiosos do desenvolvimento econômico estivessem tão propensos a responder positivamente a essa pergunta. A economista venezuelana Carlota Perez, pesquisadora da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é um deles. "As condições estão mudando. Precisamos de teorias que sejam capazes de explicar essas mudanças e lidar com as possibilidades que elas abrem", afirma. Embora tenham oferecido poucas oportunidades no passado, pondera Perez, as indústrias baseadas em recursos naturais e seus mercados consumidores estão se tornando sensivelmente mais dinâmicos. E, em vez de uma maldição, podem se tornar "a base para uma estratégia de desenvolvimento tecnológico e sustentável".
Diante do crescimento de países como EUA, Canadá, Austrália e Brasil, economistas do século 19 consideravam a abundância de recursos naturais como terra e água um forte indutor do desenvolvimento. Mas essa visão mudou radicalmente durante as décadas de 1950 e 1960. Desde então, a especialização em matérias-primas passou a ser vista como um entrave ao crescimento, à inovação e à geração de empregos, além de um fator de desequilíbrio das contas externas. Agora, a discussão parece novamente propensa a uma mudança de eixos. "Ainda não há um consenso, o tema suscita polêmicas, mas é evidente que houve uma mudança estrutural na economia mundial com a presença da China", afirma Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp).
Se o "século americano" foi caracterizado pela queda relativa dos preços das commodities em relação aos produtos industrializados, de maior valor agregado (o que motivou, em boa parte, a crítica contra a especialização em recursos naturais), o "século chinês" sinaliza uma inversão, com produtos industrializados cada vez mais baratos e "commoditizados" em relação aos produtos baseados em recursos naturais. A própria globalização fez com que o debate entre indústria e commodities, tal como colocado no século passado, perdesse o sentido. "As pessoas ainda pensam na indústria de 40 anos atrás, que era toda integrada, mas o processo fragmentou-se. Não é simples responder onde um iPhone é fabricado e muito difícil afirmar quem é que está, de fato, agregando e capturando seu valor", exemplifica.
O mesmo raciocínio aplicado ao telefone esperto da Apple poderia ser estendido a um carregamento de soja. A produção agrícola, pondera o acadêmico, envolve tecnologias de ponta nas áreas de biotecnologia e química fina. "Mas aí me debruço sobre a cadeia de valor e me pergunto: quem está desenvolvendo as novas sementes e os defensivos? Onde esses bons empregos estão sendo criados? Quem está capturando a margem na comercialização e quem está processando o produto? No caso da soja, parece que ficamos apenas com a produção, o que é pouco", afirma. Sarti pondera, porém, que setores como o sucroalcooleiro e, principalmente, o de carnes, conseguiram dar um passo à frente. "Especialmente no caso das carnes, passamos a dominar toda a cadeia de produção e comercialização", afirma.
"O Brasil tem problemas de encadeamento. Ainda não conseguimos dar o salto da soja para o óleo, do gás natural para o fertilizante, da mineração para a siderurgia e do petróleo para os produtos refinados", afirma Carlos Frederico Rocha, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, países como a Suécia e Austrália conseguiram, com base em sua competitividade em recursos naturais, desenvolver e dinamizar toda a sua economia. "O problema não está no produto, mas na sua capacidade de inovar nos processos", sustenta.
Nesse sentido, uma gama de novas oportunidades pode surgir para países como o Brasil, diante do crescimento de potências como China e Índia, com suas centenas de milhões de habitantes em rápida ascensão econômica, prestes a exercer uma pressão possivelmente sem precedentes sobre a oferta de produtos primários, em um cenário marcado pela escassez de terras agricultáveis e água e ameaçado pelas mudanças climáticas.
Para fazer frente a essa demanda, calcula a McKinsey, será necessário mais que dobrar a taxa anual de expansão na oferta de água e mais que triplicar a de terras agricultáveis - em relação às taxas observadas nas últimas duas décadas. Ao fim do período, o consumo global de água terá crescido 30% e o avanço das lavouras terá consumido até 175 milhões de hectares de florestas - um custo que o planeta não parece mais disposto a suportar.
"Por causa das restrições ambientais e de uma possível escassez de água, energia e alimentos, há uma pressão crescente sobre a ciência e a tecnologia para desenvolver novos materiais, aumentar a produtividade dos recursos, desenvolver embalagens biodegradáveis e melhorar o conteúdo nutricional dos alimentos", afirma Perez.
Para ela, a agricultura, assim como outros setores primários, começa a se colocar no centro de um ciclo inédito de investimentos em inovação, que pode culminar numa revolução tecnológica com consequências tão expressivas como o desenvolvimento das linhas de produção fordistas ou do microprocessador e da fibra ótica. "A próxima revolução provavelmente será uma combinação entre biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais, os três setores de tecnologia de ponta mais relacionados com recursos naturais".
A pesquisadora aposta que a competição por acesso às matérias-primas criará condições mais vantajosas para que os países produtores sejam também os responsáveis por seu processamento. "Além disso, os altos custos de energia vão deixar o transporte muito caro, de modo que fará muito mais sentido agregar valor na origem".


Apesar de crise, embarques de frutas devem parar de recuar

Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo

Depois de amargar uma forte queda nos embarques de frutas frescas ao exterior em 2011, a fruticultura brasileira espera ao menos estancar a queda e repetir o desempenho das exportações no ano que vem, ainda que as incertezas da economia europeia, principal mercado para as frutas nacionais, inspirem cautela.
Entre janeiro e novembro deste ano, as exportações brasileiras de frutas alcançaram 611,8 mil toneladas, retração de 12,29% sobre o mesmo período de 2010, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Ao fim de dezembro, os embarques devem totalizar cerca de 720 mil toneladas.
De acordo com Maurício de Sá Ferraz, gerente da central de serviços de exportação do Ibraf, a combinação entre câmbio apreciado e mercado interno aquecido resultou num ano "totalmente atípico" para o segmento.
"Com o real valorizado e o mercado interno mais robusto, ficou mais vantajoso vender a fruta no país", afirma Ferraz, para quem a força do mercado interno deve "equilibrar as contas da cadeia de frutas". Segundo ele, os brasileiros absorveram cerca de 200 mil toneladas da produção nacional destinada à exportação. Ao todo, o consumo nacional de frutas está estimado em 4,2 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).
Além das condições de mercado, o clima também prejudicou as exportações de frutas importantes como o melão e maçã, que viram os embarques ao exterior caírem, em volume, 46,41% e 7,35%, respectivamente.
No caso da maçã, cuja produção foi afetada pela ocorrência de geadas e granizo na região Sul do país, as exportações saíram de 90,8 mil toneladas entre janeiro e novembro de 2010 para 46,6 mil toneladas neste ano. Já em relação ao melão, principal fruta da pauta de exportações brasileira, os embarques recuaram de 149,4 mil toneladas para 138,4 mil toneladas no mesmo intervalo.
Ainda que a redução das exportações deva se repetir no caso da maçã, mais uma vez afetada por problemas climáticos, o Ibraf prevê manutenção dos embarques totais de frutas em 2012 - em torno de 750 mil toneladas.
"O dólar voltou a um patamar razoável, entre R$ 1,85 e R$ 1,90, muito melhor dos que os patamares de R$ 1,50 praticados em parte deste ano", avalia Ferraz.
Para que o ritmo de embarques seja mantido, no entanto, o gerente do Ibraf alerta para a situação europeia. "Não acredito que essa crise deva perdurar por muito mais tempo, mas não podemos manter esse nível de dependência", diz ele. De acordo com o Ibraf, a União Europeia consome 75% das exportações totais de frutas do Brasil.
De olho nessa dependência, Ferraz revela esforços do segmento junto ao Ministério da Agricultura para "abrir novos mercados", citando as exportações de limão tahiti para os EUA e para o mercado asiático.

THE WALL STREET JOURNAL AMERICAS
Turistas brasileiros batem recorde de compras nos EUA

Por John Lyons e Paulo Trevisani | The Wall Street Journal, de São Paulo e Nova York

Ana Ligia Paladino viajou 8.000 quilômetros de sua casa no sul do Brasil no mês passado para se acotovelar atrás das promoções da "Black Friday" na Macy"s, na cidade de Nova York. Na fila de espera às 5h da manhã, ela logo fez as primeiras das compras planejadas por 10 dias. "Foi uma bagunça!", ela lembrou descrevendo a cena.
Os compradores brasileiros estão tomando os Estados Unidos nesta temporada de Natal, um impulso bem-vindo para varejistas dos EUA que enfrentam uma economia lenta. Armados com uma moeda forte, um acesso mais fácil ao crédito e um apetite para compras aparentemente inesgotável, os brasileiros têm deposto nações mais ricas, como o Reino Unido, como os maiores gastadores estrangeiros em mercados-chave dos EUA, como Nova York e Flórida.
Os brasileiros se tornaram os clientes internacionais mais lucrativos na Flórida, depois de gastarem US $ 1 bilhão nos primeiros seis meses do ano, um aumento de 61% sobre 2010 e mais do que o dobro do segundo maior grupo gastador, o dos britânicos.
Cerca de 700.000 brasileiros devem visitar Nova York neste ano, mais do que o dobro de 2009. Isso é menos do que o total de britânicos e alemães, mas os brasileiros devem gastar mais do que os dois grupos somados, segundo autoridades locais.
"Os consumidores brasileiros agora estão no topo da lista de todos os varejistas e, se não, eles estão no topo de suas listas de desejo", disse Fred Dixon, vice-presidente sênior de desenvolvimento do turismo da NYC & Co., autoridade de turismo da cidade. A organização está fazendo campanha no Congresso americano para acelerar o processo de visto para brasileiros, e, eventualmente, acabar com a exigência dele.
A nova influência global do comprador brasileiro reflete a ascensão da maior economia da América Latina, enquanto os EUA e a Europa permanecem atolados em crises. Uma década de estabilidade monetária e de bons preços das commodities ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza. Para muitos recém-classificados como classe média no Brasil, uma maratona de compras nos EUA é um importante rito de passagem.
Mas a grande razão para os brasileiros comprarem nos EUA é que tudo, desde os iPads, da Apple, até as camisas da Polo custam metade do preço cobrado no Brasil. Com altos impostos, o aumento da inflação e uma moeda sobrevalorizada, a economia relativamente fechada do Brasil se tornou um lugar extremamente caro para fazer ou comprar produtos - não necessariamente uma coisa boa para o crescimento a longo prazo. Os brasileiros economizam tanto comprando nos EUA em vez do Brasil que muitas vezes isso cobre o gasto com a passagem e as contas de hotel.
"Você pode encontrar tudo isso no Brasil, mas muito mais caro", disse Hélida Geber, uma brasileira em sua primeira viagem à região de Nova York. Ela estava tomando um ar entre as compras de cosméticos, roupas e "presentes para todo mundo", incluindo iPods, da Apple, bolsas e relógios no shopping Jersey Gardens, na cidade de Elizabeth, no Estado de Nova Jersey.
Localizado a poucos minutos do aeroporto de Newark, na região metropolitana de Nova York, o Jersey Gardens foi descrito como o lugar "que muitos visitam antes mesmo de fazer o check-in nos hotéis", em um guia de compras de 84 páginas para Nova York e Miami que veio de graça com uma edição recente da revista "Veja". As mecas comerciais incluem o Sawgrass Mills Outlet Mall, em Sunrise, na Flórida, que agora oferece culinária brasileira na praça de alimentação.
Para muitos brasileiros, as coisas nos EUA parecem tão baratas que não é difícil comprar tudo que está à vista. Considere a experiência de Vladimir Lúcio Martins, um funcionário judicial em férias na região de Nova York, em outubro, com sua esposa e filha de 7 anos de idade. Um motociclista ávido, Martins comprou um capacete Shoei por US $ 587, um quarto do que custaria em sua cidade natal, Presidente Prudente, disse ele.
Mais tarde, num clube de compras em Nova Jersey, ele não pode acreditar no preço do queijo parmesão ralado: US$ 7 por uma embalagem de 680 gramas de queijo parmesão Kraft, uma fração do custo no Brasil. Ele comprou. Seu único arrependimento: Não ter voltado para comprar queijo brie da marca President que estavam por US$ 5. "Foi um sonho de consumo que não se realizou", disse ele mais tarde.
Martins ajudou a economia de Nova Jersey. Mas no Brasil, nem todo mundo acha tão bom que os brasileiros viajem até os EUA para as compras.
A presidente Dilma Rousseff tem tentado conter a alta do real, com resultados limitados. Nos últimos meses, o governo anunciou vários pacotes de incentivos e outras medidas para tornar a fabricação local e o varejo mais competitivos. Para pagar por eles, o Brasil também estabeleceu um imposto de 6% para compras com cartão de crédito no exterior.
Até agora pouco tem dado resultado. A moeda caiu um pouco, mas permanece 25% acima do que estava no início de 2009. Os brasileiros estão a caminho de gastar 60% a mais no exterior do que no ano passado, que já foi um recorde. Ao longo do caminho, o consulado dos EUA em São Paulo se tornou o mais movimentado em processos para o visto.
Por enquanto "boa parte das nossas vendas estão concentradas em coisas que você não pode trazer de volta no avião, como carros e televisores", disse Fabio Pina, economista da associação de varejistas do Brasil, a Fecomércio. Sua filha tinha acabado de voltar dos EUA com um carrinho de bebê e outros objetos para bebês, disse ele.

fonte: http://clipping.radiobras.gov.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário