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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

20 de dezembro 2011 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PAGINA
Alerta nas estradas

Dados do Dnit, DER e Polícia Rodoviária Federal consolidados pelo Estado de Minas apontam pelo menos 11 pontos críticos provocados pelas chuvas nas rodovias federais que cortam o estado. Entre eles estão trecho esburacado na BR-040 do Viaduto da Mutuca a Lafaiete e desmoronamento na BR-356, entre Ouro Preto e a 040. Desde quinta-feira, já foram seis mortes, 17 feridos e 12 interdições de pista nas BRs em Minas. A PRF divulgou os trechos nas estradas em que ocorrem mais acidentes. O mais perigoso fica entre os quilômetros 480 e 490 da BR-381, em Contagem.


COFRE FECHADO PARA SALÁRIOS
Relator deixa fora reajuste dos servidores
Parecer final do relator do Orçamento da União de 2002 deixa de for a reajustes para os servidores dos três poderes, além do aumento real para aposentadorias e pensões do INSS

Erich Decat

Brasília – O recado da presidente Dilma Rousseff de que não iria aceitar aumento para servidores no próximo ano ecoou no Congresso e foi acatado pelo relator da proposta Da Lei Orçamentária Anual da União de 2012 (LOA), deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O texto elaborado pelo parlamentar não prevê os reajustes para nenhuma categoria. Também ficou de for a a dotação para o aumento real – acima da inflação – das aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) superiores ao salário mínimo. Com isso, esses benefícios contarão apenas com a reposição da inflação deste ano. O projeto da LOA é o principal tema de debate desta semana que antecede o recesso parlamentar. Ele deve ser votado na próxima quarta-feira na Comissão Mista do Orçamento e no dia seguinte no plenário do Congresso.
Mesmo sem a previsão do reajuste para os servidores, os gastos totais com pessoal e encargos sociais do próximo ano é de R$ 203,24 bilhões. Em comparação com o Orçamento de 11 anos atrás, a folha de pagamento com pessoal da União cresceu 249%. Esses gastos poderiam ser ampliados caso algumas propostas de reestruturação de carreira — que tramitam no Congresso — fossem aprovadas. Entre esses projetos há três que preveem o reajuste para integrantes do Judiciário e do Ministério Público da União (MPU). O impacto do reajuste dessas categorias, se for incluído no Orçamento do próximo ano, é estimado em cerca de R$ 10 bilhões.
Diante de um cenário econômico de pouco crescimento para os próximos anos, líderes da base aliada e da oposição tentaram negociar nos bastidores um texto em que fosse estabelecido um aumento de no mínimo 5,2% para integrantes do Judiciário. Essa proposta representaria um impacto de cerca de R$ 1 bilhão no Orçamento. Essa alternativa, no entanto, também foi descartada pelo relator. Na mesma situação, encontram-se projetos que reestruturam as carreiras de servidores da Câmara dos Deputados e do Tribunal de Contas da União (TCU). O impacto dessas duas matérias é, respectivamente, de R$ 207 milhões e R$ 303 milhões.
"Na minha opinião política, seria uma certa inocência dizer que um parlamentar dentre 594 poderia tomar uma decisão dessa magnitude. Se no plenário da comissão houver essa alteração, será uma decisão coletiva", ressaltou Chinaglia. Apesar de o relator não ter colocado no texto a previsão reajustes, qualquer parlamentar ainda pode tomar essa iniciativa por meio de emendas ao texto. Resta saber quem colocará decidirá enfrentar o governo. "Acho improvável, quase impossível, haver mudança no meu relatório. A base aliada do governo teria que se dividir", afirmou o relator.
Mínimo O texto do Orçamento elaborado por Arlindo Chinaglia também atende à demanda da equipe econômica do governo de ampliar o valor do salário mínimo — a partir de janeiro de 2012 — de R$ 545 para R$ 622,73, de acordo com a variação da inflação. Havia a expectativa de que o valor fosse arredondado para R$ 625. O parecer, apresentado pelo deputado na tarde de ontem, também descartou um acréscimo de 11,7% nos rendimentos dos aposentados que ganham acima de um salário mínimo, o que teria custo de R$ 20 milhões.



GREVE AMEAÇA EMBARQUES DE FIM DE ANO
Caos no aeroporto às vesperas do Natal
Trabalhadores do setor aéreo não chegam a um acordo com os patrões e anunciam greve geral a partir de quinta-feira

Sílvio Ribas

Brasília – Os trabalhadores do setor aéreo já têm data e hora marcadas para a sua greve nacional, que vai começar às vésperas do Natal. Ontem, ao fim da reunião no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para tentar a conciliação com as companhias aéreas, os sindicatos dos aeroviários (pessoal de terra) e aeronautas (pilotos e tripulantes) anunciaram paralisação por tempo indeterminado a partir das 23h da próxima quinta-feira. Os trabalhadores prometem greve com apenas 20% de pessoal trabalhando como escala mínima. Em quatro horas de tensa reunião, representantes dos funcionários rejeitaram a proposta de reajuste salarial dos empregadores pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 6,17%, ao insistir em 7%, diferença de apenas 0,83 ponto percentual.
Apesar dos apelos em favor de um acordo feitos pela ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, que presidiu a sessão do TST, e pelos procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT), a reunião fracassou, surpreendendo até sindicalistas na plateia. "Falta muito pouco para celebrar o acordo, considerando que a diferença não era só ínfima, mas apenas circunstancial, que desaparece no índice de um mês para o outro", disse a juíza. Os dois lados concordaram integralmente apenas com um ponto: os passageiros sofrerão as piores consequências dos braços cruzados.
Os patrões representados pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA) alegaram que não poderiam conceder aumento real este ano em razão dos prejuízos acumulados pelas maiores companhias até o terceiro trimestre e, sobretudo, como precaução para a perspectiva negativa para a economia global em 2012. Os advogados dos aeroviários e aeronautas se mantiveram irredutíveis ao lembrar a atual expansão recorde do setor no país e dos ganhos salariais reais obtidos por diversas outras categorias.
Como a Justiça entra a partir de hoje em recesso, o julgamento da negociação só poderá ocorrer em fevereiro. Até lá, considerando o aviso verbal de greve ontem, os patrões deverão recorrer ao TST para fixar os limites do movimento grevista, considerando se tratar de uma atividade essencial. Segundo Maria Cristina Peduzzi, a exemplo do ano passado, trata-se de algo bem provável e a decisão deverá ser dada pelo presidente do tribunal, João Oreste Delazen, que estará de plantão. A ministra espera, contudo, que ambas as partes ainda se reúnam entre hoje e quinta-feira para encontrar um entendimento e, assim, evitar a paralisação.
O SNEA também havia aceito os demais pontos da contraproposta apresentada pelos empregados na última quinta-feira, incluindo reajuste de 10% da cesta básica e vale-refeição e a criação de um piso salarial para os operadores de equipamentos. A diferença entre o valor pedido para essa parcela minoritária, que ganha em média R$ 774, foi de apenas R$ 100. Os patrões ofereceram R$ 1 mil, contra os R$ 1,1 mil cobrados pelos sindicatos de funcionários. "Acredito que foi um avanço o estabelecimento de salário-base para parte dos aeroviários e a aceitação de outros pontos reivindicados, além da proposta de reajuste pelo INPC. Lamento que nossa intermediação não tenha sido bem-sucedida", acrescenta a ministra Peduzzi.
SEM PLANO B O negociador indicado pelo SNEA, Odilon Junqueira, disse que não há um plano alternativo para garantir a normalidade no atendimento dos passageiros das companhias aéreas no caso de greve. "Não fomos notificados. Não há nada preparado como a lei diz que deve ser preparado", afirmou, referindo-se a uma notificação que os trabalhadores deveriam ter apresentado às empresas por se tratar de serviço essencial. (Com agências).


EDITORIAL
Mais pressa com mensalão
Presidente do STF acerta ao pedir que autos do processo sejam abertos aos ministros

É procedente a preocupação e oportuna a decisão do presidente do Supremo Tribuna Federal (STF), Cezar Peluso, de solicitar ao ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão, que coloque, desde já, à disposição dos 10 colegas que com ele dividem o pleno da Corte a íntegra dos autos, inclusive as peças mantidas sob sigilo. Maior escândalo político do governo Lula, o caso do mensalão abalou a opinião pública brasileira ao se revelar, em 2005, que a cúpula do principal partido do governo, o PT, teria montado um esquema de pagamento por apoio nas votações de projetos de interesse do governo no Congresso Nacional. Dois anos depois, em 2007, o então chefe do Ministério Público Federal, Antônio Ferreira Barros Silva de Souza, formulou denúncia ao Supremo, em que apontou o envolvimento de 40 pessoas, desde o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu até funcionários de segundo escalão do PT, passando por dirigentes de outros partidos da base aliada do governo.
Desde a memorável sessão do STF em que a totalidade de seus ministros recebeu a denúncia e decidiu abrir processo contra os acusados, a opinião pública aguarda o desfecho do caso com a punição dos que forem realmente culpados. Distribuído o processo para o ministro Joaquim Barbosa como relator, centenas de pessoas foram ouvidas e sabe-se que há mais de 600 páginas apenas de depoimentos de testemunhas. Além das dificuldades que um processo dessa magnitude envolve, o relator teve ainda impedimentos de ordem pessoal, por ter enfrentado um mal na coluna. Mas, com ou sem razão, o fato é que, transcorridos seis anos desde que o escândalo veio à luz, a cidadania nada mais tem tido do que declarações de inocência de alguns dos principais acusados. Com isso, a cada dia aumenta o temor de que os culpados acabem impunes, já que os prazos de prescrição não param de correr. O recente julgamento da aplicação da Lei Ficha Limpa pelo Supremo, estancado por pedidos de vista, ajudou a reforçar essa preocupação. Antes, em julho, o atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel, requereu à corte a condenação de 36 dos réus, reiterando o pedido de seu antecessor.
A preocupação com a perspectiva de impunidade não é sem sentido. Recentemente, o ministro Ricardo Lewandowski, que deverá exercer o papel de revisor do parecer de Barbosa, não escondeu estar convencido de que a prescrição lhe parece inevitável. De fato, já se tem certeza de que o julgamento ocorra em 2012, o que só aumenta a expectativa de punição ou de absolvição dos chamados mensaleiros. Na verdade, desde o início do processo, não faltaram apelos para que os ministros do Supremo não se deixassem vencer pelas infindáveis possibilidades de recursos postergatórios permitidos pela legislação brasileira. Tampouco deveriam se conformar com as deficiências estruturais a que a Justiça brasileira ainda está submetida. Todo o esforço precisa ser desenvolvido e todos os atalhos permitidos pela lei devem ser usados para evitar o pior: a impossibilidade de condenar por decurso de prazo. Seria uma desfeita e um reforço perigoso à sensação de impunidade aos que procuram a política para dela tirar proveito e, ao mesmo tempo, mais um golpe no cidadão de bem que ainda acredita no funcionamento das instituições que sustentam o regime democrático em nosso país.


OPINIÃO
O preço da arrogância :: Gilson E. Fonseca
Europa tem de mesclar o capitalismo com a sabedoria oriental de desejar menos

 - Consultor de empresas
A atual crise europeia, de grande magnitude, talvez sirva de exemplo para todo o mundo pensar nas causas que, evidentemente, não são só econômicas. Da Europa, vem sempre a ideia de riqueza, o que é bom para qualquer povo desenvolver-se e sentir-se feliz. Entretanto, parece que valores transcendentes importantes foram abandonados, como fonte de riqueza humana, na nítida substituição pela exacerbação do dinheiro. Paris sempre ostentou a caríssima gastronomia, suas luzes e suas grifes ditando a moda para o mundo. Milão também não ficou para trás e acompanhou o luxo da moda como uma de suas marcas mundo afora. A Inglaterra, mesmo fora da Zona do Euro, e que foi a maior potência mundial do século 19 e primeiras décadas do século 20, não consegue sair do ranço da burguesia, da ostentação, onde parecer é mais importante do que ser. Fechou 2010 em 4º lugar na economia europeia. O luxo do rico gera riquezas e emprego para os menos afortunados, todos nós entendemos isso; o que não pode é a soberba, a arrogância, a ganância abafarem os bens intangíveis, tão necessários à nossa felicidade.
Na visão meramente econômica, parece-me que a crise europeia, além de fatores menores, tem origem na falta de cuidados em abrigar moedas diferentes em uma moeda só. Para integrar a Zona do Euro e países com moedas fracas faltou uma fiscalização multilateral, sem a ingenuidade de que cada país-membro faria seu dever de casa. Aconteceu que, com culturas diversas, vários países aumentaram suas farras, gastando mais do que arrecadavam, mantendo subsídios a torto e a direito, além de criarem generosas leis assistencialistas. Muitos participantes desse bloco venderam a crença ao povo de que o euro, a moeda forte, iria fazer todos ricos e prósperos. Porém, sem zelar pelas próprias contas, alguns países estão com dívida pública maior que seu PIB. A situação é muito preocupante porque enfraquece a capacidade de crédito dos países que estão socorrendo os outros, e também não se sabe até quando e onde a crise vai alastrar-se.
Penso que chegou o momento de a Europa reciclar-se e abraçar com força a palavra grega metanoia, que significa mudança de pensamento. Os tecnocratas, sobretudo europeus, sempre criticaram o misticismo oriental, com o argumento de que países que adotam filosofias da contemplação estavam fadados a viver na pobreza. O Japão, budista, foi o primeiro a desmistificar essa ideia. Os tigres asiáticos Hong Kong Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan seguiram o exemplo japonês, investiram obcecadamente na educação e no trabalho e, hoje, esbanjam prosperidade. A China é o maior exemplo atual. Segunda economia do mundo, caminha firme para tomar o primeiro lugar dos Estados Unidos da América. A mudança de atitude passa por abandonar a arrogância e mesclar o que o capitalismo tem de melhor, como premiar a criatividade, o conhecimento e o trabalho, introduzindo pensamentos transcendentes da sabedoria oriental, como aconselhou Buda: "O sofrimento é proporcional ao desejo". Portanto, a Europa precisa desejar menos, ser menos arrogante e trabalhar mais.


POLÍTICA
Dilma defende modernização militar

Guilherme Amado

Brasília – A presidente Dilma Rousseff defendeu ontem o aparelhamento das Forças Armadas, que são, segundo ela, fundamentais para o desenvolvimento do país. A afirmação, feita no Palácio do Planalto, durante discurso na apresentação de oficiais generais recém-promovidos, foi repetida em seguida em almoço de confraternização no Clube da Aeronáutica de Brasília. A plateia, formada por militares e familiares, recebeu a mensagem como uma resposta a um recente relatório encaminhado ao Planalto pelo Ministério da Defesa evidenciando o sucateamento da área.
Segundo Dilma, que quebrou o protocolo e chegou a trocar beijinhos com alguns generais, o crescimento econômico brasileiro vai exigir do país uma grande preocupação com a indústria nacional. "Em especial, a indústria da defesa e também nossa capacidade de incorporar ciência, tecnologia e inovação nos serviços e bens militares", ressaltou a presidente, lembrando a tradição pacifista do país. "O Brasil é um país pacífico, que possui relações baseadas na cooperação e no diálogo, especialmente com nossos vizinhos, com quem mantemos há mais de 140 anos relações amigáveis."
Sem fazer menção à ditadura militar, Dilma ressaltou a participação que as Forças Armadas têm hoje no processo democrático. "Nossos soldados reconhecem seu papel com partícipes de uma política de Estado, a política de defesa que deve guardar perfeita coerência com as aspirações do povo brasileiro, traduzidas por seus representantes democraticamente eleitos."
Temas delicados ficaram fora do discurso, como o impasse na compra dos jatos ou o relatório preparado pelos três comandantes militares e entregue ao Palácio do Planalto em novembro. O texto criticava o mau estado do aparelhamento das Forças e afirmava que a situação inviabilizaria as tentativas brasileiras de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Dilma limitou-se a dizer que pretender manter os projetos prioritários, mas não os citou explicitamente. "Prosseguiremos com os projetos prioritários de aparelhamento das Forças, sem deixar de valorizar os homens e as mulheres que tornam esses projetos possíveis. (...) O país com o qual sonhamos precisará cada vez mais das Forças Armadas equipadas e qualificadas para o cumprimento de suas funções", afirmou a presidente.


Cofre fechado para salários
Parecer final do relator do Orçamento da União de 2002 deixa de for a reajustes para os servidores dos três poderes, além do aumento real para aposentadorias e pensões do INSS

Erich Decat

Brasília – O recado da presidente Dilma Rousseff de que não iria aceitar aumento para servidores no próximo ano ecoou no Congresso e foi acatado pelo relator da proposta Da Lei Orçamentária Anual da União de 2012 (LOA), deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O texto elaborado pelo parlamentar não prevê os reajustes para nenhuma categoria. Também ficou de for a a dotação para o aumento real – acima da inflação – das aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) superiores ao salário mínimo. Com isso, esses benefícios contarão apenas com a reposição da inflação deste ano. O projeto da LOA é o principal tema de debate desta semana que antecede o recesso parlamentar. Ele deve ser votado na próxima quarta-feira na Comissão Mista do Orçamento e no dia seguinte no plenário do Congresso.
Mesmo sem a previsão do reajuste para os servidores, os gastos totais com pessoal e encargos sociais do próximo ano é de R$ 203,24 bilhões. Em comparação com o Orçamento de 11 anos atrás, a folha de pagamento com pessoal da União cresceu 249%. Esses gastos poderiam ser ampliados caso algumas propostas de reestruturação de carreira — que tramitam no Congresso — fossem aprovadas. Entre esses projetos há três que preveem o reajuste para integrantes do Judiciário e do Ministério Público da União (MPU). O impacto do reajuste dessas categorias, se for incluído no Orçamento do próximo ano, é estimado em cerca de R$ 10 bilhões.
Diante de um cenário econômico de pouco crescimento para os próximos anos, líderes da base aliada e da oposição tentaram negociar nos bastidores um texto em que fosse estabelecido um aumento de no mínimo 5,2% para integrantes do Judiciário. Essa proposta representaria um impacto de cerca de R$ 1 bilhão no Orçamento. Essa alternativa, no entanto, também foi descartada pelo relator. Na mesma situação, encontram-se projetos que reestruturam as carreiras de servidores da Câmara dos Deputados e do Tribunal de Contas da União (TCU). O impacto dessas duas matérias é, respectivamente, de R$ 207 milhões e R$ 303 milhões.
"Na minha opinião política, seria uma certa inocência dizer que um parlamentar dentre 594 poderia tomar uma decisão dessa magnitude. Se no plenário da comissão houver essa alteração, será uma decisão coletiva", ressaltou Chinaglia. Apesar de o relator não ter colocado no texto a previsão reajustes, qualquer parlamentar ainda pode tomar essa iniciativa por meio de emendas ao texto. Resta saber quem colocará decidirá enfrentar o governo. "Acho improvável, quase impossível, haver mudança no meu relatório. A base aliada do governo teria que se dividir", afirmou o relator.
Mínimo O texto do Orçamento elaborado por Arlindo Chinaglia também atende à demanda da equipe econômica do governo de ampliar o valor do salário mínimo — a partir de janeiro de 2012 — de R$ 545 para R$ 622,73, de acordo com a variação da inflação. Havia a expectativa de que o valor fosse arredondado para R$ 625. O parecer, apresentado pelo deputado na tarde de ontem, também descartou um acréscimo de 11,7% nos rendimentos dos aposentados que ganham acima de um salário mínimo, o que teria custo de R$ 20 milhões.


Apelo à comissão de ética
Representantes do PSDB, PPS, PP e DEM pedem à Assembleia Legislativa para investigar a participação do deputado Rogério Correia (PT) na elaboração do documento forjado

Marcelo da Fonseca

Depois de acionar o Ministério Público Federal e estadual para que sejam apuradas as denúncias de falsificações na Lista de Furnas, representantes dos partidos citados no documento – PSDB, PPS, PP e DEM – querem que a Assembleia Legislativa (ALMG) também investigue as supostas irregularidades presentes no documento. Ontem, os deputados federais Rodrigo de Castro (secretário-geral do PSDB) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) – em nome das quatro legendas – estiveram na ALMG para pedir que a Comissão de Ética da Casa faça um trabalho paralelo ao dos órgãos e apure a participação do deputado Rogério Correia (PT) em supostas irregularidades cometidas na elaboração da lista. Os partidos alegam ter havido falsificação de assinaturas e uso da estrutura do Legislativo em articulações com o lobista Nilton Monteiro.
"Já representamos nos MPs e vamos entrar agora com uma representação no Legislativo mineiro, porque precisamos de uma resposta. Não é correto que se monte uma fraude dessa para tentar calar um grupo de parlamentares que fiscalizava atos e irregularidades que poderiam ocorrer no governo do presidente Lula", explicou Rodrigo Maia. O deputado democrata garantiu que a assinatura dele foi forjada em um dos recibos presentes na Lista de Furnas. "Uma fraude clara no documento, já que o recibo é de 2002 e minha assinatura era diferente. Queremos também uma ação política, já que essa falsificação perto das eleições prejudica muitas pessoas. Esses vagabundos fraudaram não só a minha, mas a assinatura de várias pessoas", criticou.
Rodrigo Maia questionou ainda as justificativas apresentadas por Rogério Correia de que o documentos teriam sido considerados autênticos pela Polícia Federal. "As provas de falsificação são claras. O que o perito da PF disse é que, por serem cópias, ele não poderia afirmar que os documentos foram realmente falsificados. Mas cadê o original? Acredito que essas investigações vão avançar e já existe até um caminho a ser seguido", cobrou.
A reunião com os deputados federais foi acompanhada pelo presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro (PSDB), pelo presidente da comissão de ética, Doutor Viana (DEM), e pelos parlamentares dos partidos envolvidos na Lista de Furnas. Depois do encontro, Viana garantiu que o caso será tratado com muita seriedade na Assembleia e que a tramitação do requerimento deverá começar no início de 2012, quando os parlamentares retomarem as atividades. "Já apresentaram o requerimento, mas ainda não foi entregue em nossas mãos. Após o recebimento, devemos ler em plenário para tornar público o pedido e divulgar no Minas Gerais. Em seguida encaminhamos às reuniões para análise e definimos o relator", explicou.
Outro lado Alvo da denúncia de falsificação, o deputado Rogério Correia voltou a defender a autenticidade documento e afirmou que o movimento dos representantes dos partidos citados na lista é uma tentativa de inibir a ação da oposição em Minas Gerais. "Está acontecendo uma verdadeira perseguição de quem não aceita críticas da oposição. A PF já fez e divulgou um laudo técnico da lista e confirmou ser verdadeira. Não existe falsificação ou montagem", justificou o petista.
A denúncia de que a Lista de Furnas era um documento forjado para incriminar adversários do PT já tinha sido feita pelo Estado de Minas, há cinco anos. Em 23 de março de 2006, reportagem do EM noticiou que Rogério Correia havia convocado uma entrevista sobre o assunto, mas não compareceu. A mesma matéria mostrou que laudo do Instituto Nacional de Criminalística (INC), órgão ligado à PF, apontava montagens, alterações ou implantes na última página do documento. O EM chegou a reproduzir outras duas perícias que atestavam a falsificação.

SAIBA MAIS
Lista de Furnas
Documento de cinco páginas com supostas contribuições de campanha não contabilizadas a 156 políticos nas eleições de 2002. As denúncias de irregularidades se baseiam em transcrições de gravações em que o assessor do deputado Rogério Correia (PT) Simeão de Oliveira e o ex-deputado Agostinho Valente (PDT) aparecem conversando com Nilton Monteiro sobre a elaboração da lista. Segundo representantes dos partidos citados, "a lista seria uma trama para constranger e caluniar adversários políticos".


ECONOMIA
Caos no aeroporto às vesperas do Natal
Trabalhadores do setor aéreo não chegam a um acordo com os patrões e anunciam greve geral a partir de quinta-feira

Sílvio Ribas

Brasília – Os trabalhadores do setor aéreo já têm data e hora marcadas para a sua greve nacional, que vai começar às vésperas do Natal. Ontem, ao fim da reunião no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para tentar a conciliação com as companhias aéreas, os sindicatos dos aeroviários (pessoal de terra) e aeronautas (pilotos e tripulantes) anunciaram paralisação por tempo indeterminado a partir das 23h da próxima quinta-feira. Os trabalhadores prometem greve com apenas 20% de pessoal trabalhando como escala mínima. Em quatro horas de tensa reunião, representantes dos funcionários rejeitaram a proposta de reajuste salarial dos empregadores pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 6,17%, ao insistir em 7%, diferença de apenas 0,83 ponto percentual.
Apesar dos apelos em favor de um acordo feitos pela ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, que presidiu a sessão do TST, e pelos procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT), a reunião fracassou, surpreendendo até sindicalistas na plateia. "Falta muito pouco para celebrar o acordo, considerando que a diferença não era só ínfima, mas apenas circunstancial, que desaparece no índice de um mês para o outro", disse a juíza. Os dois lados concordaram integralmente apenas com um ponto: os passageiros sofrerão as piores consequências dos braços cruzados.
Os patrões representados pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA) alegaram que não poderiam conceder aumento real este ano em razão dos prejuízos acumulados pelas maiores companhias até o terceiro trimestre e, sobretudo, como precaução para a perspectiva negativa para a economia global em 2012. Os advogados dos aeroviários e aeronautas se mantiveram irredutíveis ao lembrar a atual expansão recorde do setor no país e dos ganhos salariais reais obtidos por diversas outras categorias.
Como a Justiça entra a partir de hoje em recesso, o julgamento da negociação só poderá ocorrer em fevereiro. Até lá, considerando o aviso verbal de greve ontem, os patrões deverão recorrer ao TST para fixar os limites do movimento grevista, considerando se tratar de uma atividade essencial. Segundo Maria Cristina Peduzzi, a exemplo do ano passado, trata-se de algo bem provável e a decisão deverá ser dada pelo presidente do tribunal, João Oreste Delazen, que estará de plantão. A ministra espera, contudo, que ambas as partes ainda se reúnam entre hoje e quinta-feira para encontrar um entendimento e, assim, evitar a paralisação.
O SNEA também havia aceito os demais pontos da contraproposta apresentada pelos empregados na última quinta-feira, incluindo reajuste de 10% da cesta básica e vale-refeição e a criação de um piso salarial para os operadores de equipamentos. A diferença entre o valor pedido para essa parcela minoritária, que ganha em média R$ 774, foi de apenas R$ 100. Os patrões ofereceram R$ 1 mil, contra os R$ 1,1 mil cobrados pelos sindicatos de funcionários. "Acredito que foi um avanço o estabelecimento de salário-base para parte dos aeroviários e a aceitação de outros pontos reivindicados, além da proposta de reajuste pelo INPC. Lamento que nossa intermediação não tenha sido bem-sucedida", acrescenta a ministra Peduzzi.
SEM PLANO B O negociador indicado pelo SNEA, Odilon Junqueira, disse que não há um plano alternativo para garantir a normalidade no atendimento dos passageiros das companhias aéreas no caso de greve. "Não fomos notificados. Não há nada preparado como a lei diz que deve ser preparado", afirmou, referindo-se a uma notificação que os trabalhadores deveriam ter apresentado às empresas por se tratar de serviço essencial. (Com agências)


Passageiro refém nas negociações

Ana Carolina Dinardo

Brasília – Trabalhadores e companhias aéreas trocaram acusações até o último minuto para justificar a falta de acordo de uma negociação que se arrastava há três meses. Para os patrões, a fixação de uma data-base para os aeroviários e aeronautas em 1º de dezembro é a principal razão para as ameaças de greve a cada véspera de Natal. "A população não pode se tornar refém das imposições dos funcionários usando a greve em período de alta temporada como ameaça", disse Odilon Junqueira, representante do Sindicato das Empresas Aeroviárias (SNEA), perante o TST.
Para os sindicatos de trabalhadores, as empresas do setor deveriam reservar uma parcela maior dos seus R$ 30 bilhões faturados este ano à folha de pagamento, que não chega a 20%. "Pedíamos 14% de reajuste salarial, recuamos para 10% e chegamos a 7%. Isso foi o mínimo para evitar o confronto e serve de alerta: para sair da greve não aceitaremos mais só os 7%", alertou o economista Cláudio Toledo, negociador pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas.
Funcionários do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistschek acham que o maior problema é a carga horária excessiva, sobretudo no movimento recorde de fim de ano. Evandro dos Santos, de 36 anos comissário de bordo da TAM, concorda com o protesto. "A situação dos aeroportos está caótica. As empresas precisam aumentar o número de funcionários para que não haja sobrecarga", disse. Ele contou que está trabalhando este mês até 10 horas por dia e seu salário é R$ 2 mil.
Alessandra Mendes Moraes, de 37, também comissária, reconhece que o protesto é válido, mas receia perder o emprego. "Sei que é importante a manifestação, mas não posso perder o emprego", confessou. Em contrapartida, a aeromoça Silvana Alves Mendonça, de 27, está disposta cruzar os braços. "Não podemos continuar aceitando tudo que as empresas nos dizem", afirmou. (Colaborou Sílvio Ribas)


3,6 mil empregos em Minas

Marta Vieira

Grandes empresas do setores de mineração e siderurgia anunciam a criação de 3,6 mil empregos em Minas Gerais no ano que vem para cumprir um programa audacioso de expansão e modernização que deverá consumir investimentos de R$ 36 bilhões em todo o estado nos próximos cinco anos. Com a escassez de mão de obra especializada, boa parte dessas oportunidades será preenchida por meio de programas de formação e qualificação bancados pelas próprias companhias reunidas no Consórcio mínero-metalúrgico para formação e qualificação de profissionais de Minas.
Participam da iniciativa as mineradores Anglo American, AngloGold Ashanti, Ferrous, Jaguar Mining, Kinross , Namisa, Samarco e Vale; as siderúrgicas ArcelorMittal, Usiminas, CSN, Gerdau e Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB) e a MRS Logística, operadora de parte da malha da antiga Rede Ferroviária Federal. De toda a demanda de mão de obra que será necessária, conforme divulgou ontem o consórcio empresarial, 1.489 postos se destinam a profissionais de nível básico; 1.421 para nível técnico e 757 são de nível superior.
INSCRIÇÕES VIA SITE Segundo a coordenadora do grupo, Alba Valéria Santos, as empresas estão recebendo os curriculos dos candidatos às vagas por meio do site www.cmm-mg.com.br. O portal oferece link próprio para envio que dá acesso direto aos sites das companhias. "Juntas, as empresas já têm desenvolvido uma série de estratégias de qualificação profissional com apoio do governo de Minas e de instituições de ensino que têm contribuído para reduzir o problema da escassez de mão de obra", afirma. As vagas para atender as fornecedoras de insumos e prestadoras de serviços deverão somar outras 2,4 mil oportunidades em 2012 no estado.

NACIONAL
Mesada para PMs liberarem o tráfico

Novo comandante e outros policiais do mesmo batalhão dos que executaram a juíza Acioli são acusados de receber propina
Rio de Janeiro – O tenente-coronel Djalma Beltrami, atual comandante do 7º BPM (São Gonçalo), foi preso na manhã ontem durante uma operação da Polícia Civil para cumprir mandados de prisão contra policiais militares e traficantes. Ele é um dos alvos da Operação Dezembro Negro, deflagrada na madrugada durante pela Delegacia de Homicídios de Niterói, com o apoio de outras unidades especializadas e da Corregedoria Geral Unificada (CGU). Segundo o delegado Alan Luxardo, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, foram cumpridos 11 mandados de prisão contra traficantes e 13 contra policiais militares.
O Ministério Público começou a investigar o tráfico de drogas na Região dos Lagos há sete meses e descobriu que a droga que abastecia a região saía das favelas Parque União, Nova Holanda e Manguinhos, no Rio; ia para São Gonçalo, no Morro da Coruja, e de lá era enviada para São Pedro da Aldeia, que funcionaria como uma porta de entrada. Também foi detectado que policiais militares do batalhão de São Gonçalo estariam recebendo propinas semanais para deixar o tráfico de drogas funcionar livremente. Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, foram flagradas conversas de PMs do 7º batalhão com traficantes. Em uma delas, um policial pedia R$ 10 mil para o zero um, como é chamado o comandante do batalhão, e R$ 5 mil para cada um do Grupo de Apoio Tático (GAT) por semana. Segundo o delegado Alan Luxardo, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, os PMs recebiam valores que chegavam a cerca de R$ 160 mil por mês.
O tenente-coronel Djalma Beltrami assumiu o batalhão há três meses, depois das denúncias da participação do então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, na morte da juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros, próximo à sua residência, em Piratininga, na em Niterói. O comandante também estava entre as equipe acionadas após o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo (Zona Oeste do Rio), em abril deste ano, quando um rapaz entrou na unidade e atirou contra diversas crianças e depois se matou. Doze pessoas morreram na ocasião.
No início da manhã de ontem os agentes também foram ao Morro da Coruja. Na chegada dos policiais à comunidade, houve troca de tiros, e um bandido morreu. Cerca de 100 agentes participam da operação. Beltrami chegou ao quartel às 8h25m, no banco do carona de um Gol prata. O tenente-coronel entrou na unidade e logo em seguida um PM foi à porta do quartel para dizer que o oficial trocaria a farda. Às 9h05m, ele deixou o local acompanhado do corregedor da PM, num carro da Corregedoria Geral Unificada (CGU), escoltado por outros quatro veículos daquela unidade. Ele estava à paisana e parecia bastante agitado, gesticulando muito. Pouco antes de entrar no veículo, abaixou a cabeça, parecendo inconformado com a prisão. O tenente-coronel foi levado para a Delegacia de Homicídios Niterói, onde prestou depoimento.
Nos gramados Como tenente-coronel do 14º BPM (Bangu), Beltrami coordenou tropas na retomada do Complexo do Alemão, na Zona Norte, em novembro do ano passado. Juiz de futebol, ele se despediu dos gramados em maio deste ano, ao apitar a decisão do Troféu Carlos Alberto Torres entre Madureira e Boavista. O tenente-coronel pertencia aos quadros da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) desde 1989 e da CBF desde 1995. Na ocasião, o árbitro recebeu uma placa da Ferj em agradecimento aos serviços prestados ao futebol.
Um dos jogos mais marcantes de sua carreira no futebol foi o duelo entre Náutico e Grêmio, no  Recife, uma das decisões da Série B do Campeonato Brasileiro de 2005. Conhecida como a batalha dos aflitos, a partida terminou com quatro jogadores gremistas e um do Náutico expulsos. Belatrami anotou dois pênaltis a favor do time pernambucano, que ainda assim conseguiu perder por 1 a 0.


Mutirão solta mais de 2 mil

São Paulo – O primeiro mutirão carcerário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) libertou 2,3 mil pessoas que se encontravam presas no estado de São Paulo. Desse total, 400 detentos foram soltos porque suas penas já estavam cumpridas ou encerradas e outros 1.890 apenados receberam liberdade condicional. O mutirão também concedeu indulto a 10 pessoas.
Durante o mutirão iniciado em 20 de julho e encerrado na sexta-feira, foram analisados 76.331 processos de execução penal de réus presos em penitenciárias, centros de detenção provisória e delegacias de polícia do estado. O número de processos torna o mutirão de São Paulo o maior já realizado pelo CNJ desde o início do programa, em 2008.
Os relatos dos juízes que inspecionaram 160 casas prisionais, entre penitenciárias, centros de detenção provisória e delegacias de polícia, revelam que a maioria das unidades prisionais está superlotada e apresenta condições insalubres. As situações mais graves registradas nos estabelecimentos penais sob a responsabilidade da Secretaria de Administração Penal do Estado de São Paulo foram observadas nos Centros de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros I, II e III, pelas condições físicas e superlotação da unidade, além da assistência jurídica insuficiente à população carcerária da casa.
Sem água O CDP de Praia Grande, na Baixada Santista, também mereceu destaque negativo do mutirão carcerário pela constante falta d"água, inclusive para higienização pessoal mínima, na unidade. Na Penitenciária Feminina de Santana, a assistência material às detentas é mínima – mulheres já tiveram de usar de miolo de pão como absorvente íntimo. Outra situação considerada das mais precárias entre as unidades visitadas é a da Penitenciária Feminina da Capital, que tem estrutura física antiquada e precária. Quase 500 das 800 presas na unidade são estrangeiras a cumprir pena ou aguardar julgamento sem assistência jurídica eficiente.
Na Penitenciária Franco da Rocha III, a assistência médica é precária e a cozinha insalubre. Desde a criação do programa de mutirões carcerários pelo CNJ, em agosto de 2008, já foram analisados 408.894 processos em todo o país. Em mais de três anos de trabalho, a mobilização permitiu a libertação de 36.318 presos – ou cerca de 9% do total de processos revisados. Como resultado do exame das condições legais do cumprimento das penas também foram reconhecidos os direitos a benefícios de 71.166 apenados.


BRASIL
Risco ainda maior nas estradas
Temporais que castigam Minas agravam problemas nas rodovias federais e estaduais, que têm 11 pontos críticos, como deslizamentos e erosões. Rachaduras no Anel interditam trânsito

A nuvem cinza que cobre Minas Gerais, onde chove praticamente sem parar desde quinta-feira, não só levou ao chão casas, alagou ruas e avenidas e derrubou árvores. As tempestades também deixam rastro de destruição nas estradas federais e estaduais de Minas e agravam os problemas comuns já enfrentados por motoristas. Segundo a meteorologia, este o segundo dezembro mais chuvoso nos últimos 40 anos.
Ao todo, são pelo menos 11 trechos críticos afetados pela chuva, seja por erosões, deslizamentos de terra ou buracos na pista. Os dados, consolidados pelo Estado de Minas, são do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e da Polícia Rodoviária Federal. Mas, além das águas, ainda se somam à equação do perigo o início das férias escolares e o consequente aumento do movimento nas rodovias.
De acordo com a PRF, em dezembro o fluxo de veículos costuma crescer 30% e o número de acidentes 35%. No ano passado, apenas no período de Natal, entre os dias 24 e 26, ocorreram 596 acidentes, com 390 feridos e 27 mortes. A polícia não tem ainda dados consolidados de acidentes neste mês, mas as ocorrências de destaque postadas na página da corporação no Twitter dão a medida da tragédia intensificada pela chuva. O registro na rede social aponta pelo menos seis mortos, 16 acidentes, 17 vítimas, 12 interdições de pistas e três deslizamentos de terra em cinco dias, entre quinta-feira e a tarde de ontem, nas BRs que cortam Minas.
Para piorar, ontem, mais problemas em importantes rodovias do estado. Rachaduras no Viaduto São Francisco, que liga o Anel Rodoviário à Avenida Antônio Carlos, na Região da Pampulha, provocadas pelo escoamento da água da chuva, levaram o Dnit a interditar duas das três pistas do viaduto. Na MG-030, próximo à entrada de Nova Lima, na região metropolitana, houve deslizamento de pedras na pista. Em Florestal, na BR-262, uma erosão deixou o trânsito lento e interditou parte de uma das pistas.
O alerta do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para Minas reforça a necessidade de cuidado. Um aviso meteorológico especial foi emitido pelo Inmet para o estado, informando sobre a previsão de chuva significativa no Centro, Oeste, Noroeste, Sudeste e Leste de Minas.
O mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME) Paulo Rogério da Silva Monteir, ressalta que a combinação chuva, buracos e estradas contribui para os acidentes. Segundo ele, o perigo maior é dirigir debaixo de chuva fina. "Durante as tempestades, normalmente os condutores já reduzem a velocidade e agem com maior prudência, diminuindo os riscos", diz.
O Dnit destacou cinco pontos críticos nas BRs com estragos causados pelas chuvas. Na BR-354, tanto nas proximidades de Arcos, no Centro-Oeste, quanto de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, há muitos buracos na pista, assim como na BR-040, entre o Viaduto da Mutuca, em Nova Lima, e Conselheiro Lafaiete, na Região Central. A BR-251, entre Montes Claros e Salinas, que liga o o Norte de Minas ao Sul da Bahia, também está cheia de buracos.
anel O surgimento de rachaduras no asfalto do Anel Rodoviário, na cabeceira do Viaduto São Francisco, no Bairro Nova Cachoreirinha, Região Noroeste de BH, levou ao fechamento de duas faixas no sentido Vitória, ontem. Pelo local passam diariamente 55 mil veículos (cerca de 110 mil nos dois sentidos) , sendo 40% caminhões de carga. O trânsito ficou restrito a uma única faixa, causando engarrafamento de nove quilômetros, segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv). A estrutura do viaduto não foi afetada.
Segundo o comandante de policiamento do Anel Rodoviário, tenente Geraldo Donizete, o problema na pista foi causado pela ocupação irregular às margens da pista. Barracos foram construídos no acostamento e os moradores entupiram as canaletas para desviar a água da chuva das suas casas, provocando infiltração no solo debaixo do asfalto. "Houve deslocamento do terreno, o que causou abatimento na pista", disse o tenente.
Funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fecharam as rachaduras com areia e asfalto. Depois, todo o trecho, cerca de 20 metros, recebeu nova camada de asfalto. A previsão era de que ainda ontem uma segunda faixa fosse liberada, permanecendo a terceira, próxima ao acostamento, interditada. "Vamos ficar monitorando o local, até que seja feita recuperação definitiva", informou o tenente. Se o reparo não fosse feito, o tenente acredita que parte da pista poderia desabar com nova chuva.
"A liberação de mais uma faixa de trânsito vai depender da avaliação da Defesa Civil", disse o engenheiro supervisor do Dnit, Alexandre Oliveira. "Vamos acompanhar a evolução do problema. Há várias famílias morando no nível abaixo ao da rodovia. Segundo Sérgio Alves, funcionário da empreiteira que presta serviços para o Dnit no Anel, toda semana as canaletas são desobstruídas. "A gente faz a manutenção, retira entulhos e outros objetos que os moradores colocam nas canaletas, mas eles fecham a passagem da água novamente. Retiramos várias toneladas de sujeira, mas não adianta", informou Sérgio.
Tatiane de Jesus, de 27, mora com três filhos, de 4 meses, 4 anos e 10 anos, às margens da rodovia. Ela confirmou que seus vizinhos fazem barreira para impedir que água entre nas casas. "No meu caso, coloco apenas uma madeira na porta para a água não entrar em minha casa", disse Tatiane, que comprou o barraco por R$ 2,5 mil, há três anos, e agora está com medo de ficar no local.


GERAIS
Um pediatra, 1.463 crianças
Pesquisa inédita do Conselho Federal de Medicina confirma gravidade do problema de falta de médicos no atendimento infantil em Minas. Situação é mais crítica no interior do estado

A pouca valorização profissional e a falta de retorno aos hospitais reduzem, ou até extinguem, o atendimento pediátrico em Minas Gerais. O maior prejudicado, porém, não entende nem tem culpa alguma: a criança. Na portaria do Hospital das Clínicas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leandro, de 10 anos, esperava na sexta-feira o carro que o levaria ao rotineiro caminho entre a capital e sua casa, em Nova Serrana, no Centro-Oeste. O choro não é por ter pedido a visão de um olho e por não ter conseguido ainda um transplante de córnea, mas por ter perdido o dia de aula.
A mãe adotiva, Luzia Vasconcelos Menezes, explica que o problema de Leandro veio antes dos 4 anos. "Ele não teve um acompanhamento pediátrico, que poderia ter percebido a alta pressão do olho. Quando resolvemos pagar uma consulta particular, já não tinha volta. Era certo que tinha perdido a vista. A gente sofre junto demais da conta", lamenta. Segundo ela, as idas e vindas continuam, com pouca esperança, mas sem desanimar, até que ele consiga o transplante. "Rezo todos os dias para isso, embora saiba que as chances são pequenas."
Minas tem um pediatra para cada 1.463 crianças, levando em consideração os 3.003 especialistas registrados no Conselho Federal de Medicina (CFM) e a população de 4,4 milhões de habitantes de até14 anos, de acordo com o Censo 2010 do IBGE. "O idoso de amanhã é o jovem de hoje e merece ser pensado e cuidado desde já. Obesidade, hipertensão, diabetes são exemplos claros de patologias onde a intervenção precoce garante maior sobrevida associada à qualidade de vida", destacou Fernando Luiz Mendonça, secretário-geral da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP).
Ele aponta reflexos desse cenário considerado preocupante: estudantes não optam pela pediatria, aqueles formados e experientes mudam de especialidade, vários hospitais e unidades pediátricas fecham suas portas, escalas estão incompletas, usuários reclamam e o déficit financeiro para quem ousa perseverar no atendimento às crianças é certo. "A medicina vive um momento histórico em que saber ouvir e examinar um paciente, resolvendo o problema do cliente por meio de uma consulta, não reflete retorno social financeiro digno", disse Mendonça.
Para Hermann von Tiesenhausen, conselheiro que representa Minas no CFM, o problema maior não é a falta de pediatras, mas o desinteresse deles em ocupar as vagas oferecidas pelos hospitais. A "Demografia médica no Brasil", recente pesquisa divulgada pelo conselho, mostra que o interesse dos médicos, englobando todas as especialidades, está especialmente nas capitais. E, em Minas, pela sua dimensão territorial, a desigualdade assusta mais. A cada 1 mil habitantes há 2,58 médicos em São Paulo (4,33 na capital), ao passo que Minas tem 1,97 (6,28 na capital). "A cada três médicos em Belo Horizonte há só um no interior do estado", afirma.
Também há desigualdade entre o atendimento público e privado. "São 43 mil postos de trabalho médicos do sistema privado em Minas e 31 mil no público. Mas a população mineira é de cerca de 14 milhões de habitantes e somente 4,8 milhões têm plano de saúde. É desproporcional", compara Tiesenhausen.
PEREGRINAÇÃO Ranea Aparecida de Oliveira saiu às 2h do dia 12 de Coqueiral, no Sul de Minas, para a filha Emanuelly, de cinco meses, ser atendida no Hospital das Clínicas da UFMG. "Na minha cidade tem uma pediatra que faz atendimento uma vez por semana. Por isso, não tinha como acompanhar a doença da Manu. A prefeitura me trouxe para cá, onde ficarei até o dia 21, quando sairá um último exame", conta a mãe. Enquanto a pequena tenta se recuperar de um grave anemia, ficará hospedada na casa de uma tia em Contagem, na Grande BH.
Nem o teste do pezinho Cristiane Aparecida Marcelino conseguiu para a sua filha Ana Lara, de quatro meses, em São João del-Rei, no Campo das Vertentes. "Na maternidade de lá não tinha pediatra. Daí, me mandaram para cá", reclamou. Ana Maria Nascimento também se queixa de ter de sair de Morro da Garça rumo a BH e não a uma cidade-polo mais próxima, como Curvelo, para exames não tão complexos. Ela trouxe a filha Flávia, de 8 anos, para fazer os exames respiratórios antes que a única pediatra da cidade entre de férias. "Durante o Natal e o réveillon e em janeiro ficamos sem pediatra lá", lamenta.
Para o coordenador da pesquisa do CFM, Mário Scheffer, há emprego, mas falta pediatra. "O problema do Brasil não é a escassez de médicos, mas a desigualdade geográfica e as condições oferecidas, especialmente aos pediatras.
Há especialistas, muitos deles jovens, que preferem a capital e, ainda assim, não aceitam baixa remuneração", avaliou. Ele lembra que o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a escassez de mão de obra médica mundial não coloca o Brasil entre os países que sofrerão com a falta de médicos até 2015. Mas o país também não serve de exemplo para o mundo. Pelo contrário. O levantamento também revela que enquanto a relação é de 1,95 médicos para cada 1 mil habitantes no Brasil, é, por exemplo, de 6,39 em Cuba, 6,04 na Grécia, 4,77 na Rússia, 3,76 em Portugal, 3,43 na Dinamarca, 3,16 na Argentina e 2,67 nos Estados Unidos.

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Paulo Poggiali, presidente da smp
"Há necessidade de valorização do pediatra. Os gestores da saúde pública e suplementar precisam passar das palavras às ações, corrigindo a sofrível situação de remuneração, recuperando estrutura física e impedindo o fechamento ou sucateamento das unidades. Quanto à saúde suplementar, os gestores já perceberam a necessidade de adequar o pagamento de consultas e procedimentos. Falta-lhes, porém, a coragem para executar o que é óbvio e necessário para sustentabilidade das próprias operadoras de planos de saúde. O descredenciamento de convênios é realidade já concreta nas ações e intenções dos pediatras. Vejo que o futuro  é de recuperação, já que os pediatras não declinarão da luta e esforços pela valorização de sua atuação, em prol especialmente do melhor atendimento para as crianças."

GREVE EM HOSPITAL
Médicos pediatras neonatologistas do Hospital Júlia Kubitschek, no Barreiro, em BH, entraram ontem em greve, segundo o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Eles vão trabalhar em escala mínima para atender gestantes e recém-nascidos. "O Júlia já funciona normalmente com escala mínima, por falta de profissionais. Vários plantões do fim de ano e de janeiro estão descobertos", alerta  o presidente da entidade, Cristiano da Mata Machado. A Fhemig abriu concurso para contratação imediata de especialistas. Os interessados podem ligar para (31) 3239-9520 ou (31) 3239-9521.

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