Pesquisar

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

21 de dezembro 2011 - CORREIO BRASILIENSE


PRIMEIRA PÁGINA

E a frota da servidora não para de crescer...
Presa por desvios no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Márcia de Fátima Pereira e Silva Vieira tem uma lista extensa de bens valiosos. Além dos 10 veículos apreendidos, foram encontrados mais quatro carros e um caminhão. A funcionária foi detida durante a Operação Perfídia, da Polícia Federal, na manhã de segunda-feira. O valor desse conjunto de automóveis é avaliado em cerca de R$ 1 milhão

Crise derruba empregos no Brasil
A geração de postos de trabalho em novembro foi a menor desde 2008, quando explodiu a bolha imobiliária nos Estados Unidos. Foram 42.735 vagas geradas, quase 70% menos do que as registradas no ano passado

Aposentados vão ficar sem reajuste
Governo reafirma: o Orçamento só será aprovado se não forem incluídos aumentos para ativos e inativos. O texto será votado hoje

Mercosul aprova aumento de impostos
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a colega Dilma Rousseff: reunião em Montevidéu amplia em até 100 produtos a lista de importados que vão sofrer elevação de tarifa


POLÍTICA
A frota da servidora
Quatro carros e um caminhão juntam-se à lista de 10 veículos apreendidos com a funcionária do TRT acusada de desviar depósitos judiciais ou com seus parentes

Não para de crescer a lista de bens valiosos da servidora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) Márcia de Fátima Pereira e Silva Vieira, presa na manhã da última segunda-feira durante a Operação Perfídia da Polícia Federal (PF). Na noite de segunda, foram apreendidos pela operação três carros, incluindo um Mercedes Benz Rexton e um Hyundai Veracruz, e um caminhão. Um desses veículos está registrado em nome do marido de Márcia, José Aílton, dois em nome da filha da servidora e um em nome do genro — ambos sem a identidade revelada pela polícia.
Esses quatro veículos somam-se a outros 10 já apreendidos durante o dia. Entre eles, estão um Toyota RAV 4 e um Toyota Hilux. A delegada Fernanda Oliveira, responsável pelo inquérito, aponta que todos os automóveis apreendidos são avaliados em cerca de R$ 1 milhão. Os bens representam um montante incompatível com a renda de Márcia, segundo a polícia, e podem ter sido adquiridos a partir de desvios de depósitos judiciais cometidos pela servidora. Neste ano, Márcia desviou ao menos R$ 5,5 milhões. Mas o valor pode ser muito maior, já que a acusada tinha autorização para efetivar transferências desde 2006.
Márcia Pereira foi ouvida ontem pela segunda vez na Superintendência da Polícia Federal, com o objetivo de solucionar inconsistências verificadas no primeiro interrogatório. A responsabilidade pelos desvios, no entanto, já foi assumida pela acusada, segundo a polícia. "Ela confessou os crimes e disse que agiu isoladamente, não envolvendo os colegas. Disse que só ela sabia o esquema", afirmou a delegada. Ainda segundo Fernanda Oliveira, a servidora demonstrou frieza durante o depoimento: "Ela não demonstrou arrependimento, nem surpresa. Acredito que ela achava que poderia ser presa. Como o esquema era muito sistemático, a pessoa acaba cometendo um deslize".
A responsável pelo inquérito explicou que a fraude consistia em realizar transferências fraudulentas de valores vinculados a processos que tramitavam em duas varas da Justiça do Trabalho do Distrito Federal, para contas de beneficiários ilegítimos. Segundo a assessoria de imprensa da PF, o pedido de prisão temporária de Márcia, que acaba na próxima sexta-feira, deverá ser prorrogado por mais cinco dias. Um pedido de prisão preventiva, de 30 dias, também está sendo analisado.
Aproximadamente 20 pessoas consideradas laranjas do esquema comandado por Márcia serão ouvidas pela Polícia Federal, a partir de hoje. "Não sabemos até que ponto efetivamente essas pessoas tinham ciência do que estava acontecendo. Então, não sabemos se o envolvimento é doloso", ponderou a delegada. Entre essas pessoas, podem estar incluídos familiares e amigos da servidora. A investigação já constatou que Márcia agia em conjunto com outras quatro pessoas, todas familiares, que foram presas também na segunda-feira: são a mãe da acusada, Maria Pereira; o marido, José Aílton; e dois irmãos, Maurício Pereira e Márcio Pereira. Os presos, incluindo Márcia, podem responder por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistemas de informática. Ela pode ser condenada também por peculato. As penas podem chegar a 20 anos de prisão para cada um dos acusados.
Além da prisão temporária, a investigação determinou também o bloqueio e sequestro de bens e valores de todos os envolvidos, incluindo os laranjas do esquema criminoso. "Está tudo bloqueado em função da quebra de sigilo. Mas é possível que nem tudo consiga ser devolvido", alertou a delegada. O delegado executivo da PF Rodrigo Carneiro havia afirmado na segunda-feira que os bens apreendidos tendem a ser suficientes para ressarcir os prejudicados. Além dos veículos, os bens registrados em nome da família incluem uma casa no Park Way — avaliada em R$ 2,7 milhões —, outra residência no Guará II e uma fazenda na Cidade Ocidental. Com os presos, também foram apreendidas joias, relógios de luxo, seis televisões, 16 celulares, um monitor de computadores e eletrodomésticos ainda encaixotados. Dois comprovantes de pagamentos de prestações de imóveis — nos valores de R$ 200 mil e R$ 300 mil — também foram encontrados.

Ressarcimento
Os bens que já foram apreendidos serão enviados para o TRT para que ele decida a melhor forma de ressarcir os prejudicados. Outro esforço, a partir de agora, é descobrir quanto a servidora pode ter desviado desde 2006. Segundo investigadores, ainda não é possível apontar o valor total porque os bancos que abrigaram a movimentação financeira só liberaram, até agora, o fluxo financeiro deste ano.
O inquérito da Polícia Federal que deflagrou na Operação Perfídia foi instalado em 9 de dezembro, depois que o Correio revelou o golpe. A operação foi batizada de Perfídia para ilustrar a confiança que foi quebrada por Márcia, que exercia funções estratégicas no tribunal. Segundo a delegada que conduz a investigação, o esquema criminoso cometido pela servidora é frequente quando uma única pessoa costuma ter acesso a contas de inúmeros correntistas.


Aposentados não terão reajuste acima da inflação
Às vésperas da votação do Orçamento, emissários do Planalto visitam parlamentares e cobram que aumentos reais fiquem fora do projeto. Servidores também serão afetados

» Vinicius Sassine

A tropa de choque da presidente Dilma Rousseff foi a campo ontem para garantir que o Orçamento da União de 2012 permaneça sem reajustes reais a servidores públicos e aposentados. Os ministros que atuam no Palácio do Planalto deixaram seus gabinetes para defender que o Orçamento seja aprovado pelo Congresso somente caso os aumentos fiquem fora da proposta.
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, encontrou-se com representantes dos aposentados no Ministério da Previdência. O recado foi claro: estão descartados, por iniciativa do Executivo, aumentos acima da inflação para aposentados e pensionistas que recebem mais de um salário mínimo. "A voz do governo é que, no momento, não há como assumir esse compromisso", disse Carvalho. O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, também esteve com os aposentados.
No Congresso, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ressaltou que Dilma "quer terminar o ano com o Orçamento votado". "Mas reajustes ou qualquer situação que crie dificuldades para enfrentar a crise econômica não são apoiados pelo governo", reforçou a ministra.

Judiciário
O relatório geral do Orçamento da União de 2012 excluiu os reajustes aos servidores e aos aposentados. Servidores do Judiciário e os próprios magistrados são os que mais pressionam por aumento salarial. O texto elaborado pelo relator geral, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), deve ser votado hoje na Comissão Mista de Orçamento. O relatório ainda não está fechado e pode ser alterado por emendas que incluam os reajustes dos salários. Deputados do DEM e do PSDB já deram o recado a Chinaglia de que proporão destaques ao relatório, com essa intenção.
Se o texto for aprovado na comissão, seguirá amanhã para votação no plenário do Congresso. "As negociações sobre aumentos salariais no Orçamento de 2012 estão paradas. Diminuíram as forças afirmativas no Congresso sobre esse assunto", afirma o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da Comissão Mista de Orçamento.


Jader volta no dia 28

PAULA FILIZOLA

A posse de Jader Barbalho (PMDB-PA) no Senado foi marcada para o dia 28. Segundo o primeiro-secretário da Casa, senador Cícero Lucena (PSDB-PB), o recesso parlamentar, que começa a partir desta sexta-feira, não comprometerá a cerimônia.
Jader foi enquadrado nos critérios da Lei da Ficha Limpa no ano passado, quando concorreu ao Senado, e não pôde tomar posse. Ele obteve cerca de 1,8 milhão de votos, mas o registro da candidatura acabou negado pelo STF porque Jader renunciara ao mandato de senador em 2001 para evitar a cassação. Na época, ele foi acusado de desviar recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
Desde que o STF decidiu, em março, que a Lei da Ficha Limpa não poderia ser aplicada ao pleito de 2010, Jader tentava ter a posse liberada pela Corte, o que ocorreu apenas na semana passada.
Marinor Brito (PSol-PA), hoje ocupando a cadeira pleiteada por Jader, será notificada e terá prazo de cinco dias úteis para apresentar defesa. O ministro Joaquim Barbosa arquivou recurso de Marinor contra a posse de Jader. Ainda ontem, Barbosa, relator do processo do mensalão na Corte, concluiu o relatório da ação penal que investiga 38 réus. O julgamento deve ocorrer em 2012.


ECONOMIA
FMI vê fase perigosa

Lagos — A economia mundial enfrenta uma fase "muito perigosa", afirmou ontem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, ao fazer um alerta sobre as repercussões da crise global nos países pobres, durante uma reunião na Nigéria. Ela citou entre os fatores mais preocupantes a desconfiança dos mercados, os altos índices de desemprego e uma desaceleração geral do crescimento.
Lagarde já havia advertido que "o que está acontecendo nas economias desenvolvidas, particularmente na Europa, é uma preocupação para todo o mundo", ao desembarcar na segunda-feira na Nigéria, a nação de maior população na África e maior produtora de petróleo do continente. Essa é a primeira visita dela ao continente desde que assumiu o cargo no FMI, no fim de junho.
Em uma entrevista publicada no site do jornal norte-americano Washington Post, a diretora afirmou ainda que a Zona do Euro deveria estabelecer um calendário para a execução de medidas contra a crise. "A capacidade de comunicar e de marcar um calendário será extremadamente útil. E é algo que eu mesma não me dava conta quando era ministra de Finanças (da França)", disse. "Os europeus já planejaram muitas coisas e agora terão que executá-las."


Mercosul aumenta impostos
Integrantes do bloco econômico ampliam em até 100 produtos a lista de importados que terão a tarifa elevada para 35%

Montevidéu — Em um dia marcado pela morte de um integrante do governo argentino (leia matéria ao lado), os presidentes dos países que integram o Mercosul — Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai — aprovaram uma lista adicional com até 100 produtos que poderão ser taxados com a Tarifa Externa Comum (TEC) mais elevada, de 35%. O mecanismo é permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme destacou a presidente Dilma Rousseff, em discurso. De acordo com técnicos da delegação brasileira, a lista começará a vigorar já em 2012, com validade até 2014.
Apesar das alegações em contrário da presidente Dilma, os especialistas consideraram a decisão do Mercosul protecionista, um caminho perigoso que vem sendo trilhado, sobretudo pela Argentina e pelo Brasil. No entender da secretária de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, a lista deve ser vista como um "poder de manobra" dos países do bloco para lidar com a atual crise internacional. Muitos países atolados em recessão estão desviando produtos para os mercados que ainda se mantêm aquecidos, com o brasileiro. Além disso, há o risco de entrada de produtos de países como a China, que manipulam as suas moedas. "Não se pode facilitar, pois o risco de invasão de mercadorias é grande", assinalou.
A secretária destacou que cada país poderá apresentar sua lista com até 200 posições tarifárias e os sócios terão 15 dias para avaliar as sugestões e dizerem se aceitam ou não. Ela destacou que foi criado um mecanismo, por meio do qual se poderá tomar decisões imediatas, com o intuito de se proteger determinados setores de importações consideradas prejudiciais à indústria local. Hoje, a tarifa de importação média aplicada para produtos de países de fora do Mercosul é de 13%. O governo brasileiro acredita que, com a alíquota de 35%, as importações diminuirão e a indústria nacional, que está patinando neste ano, conseguirá recuperar o fôlego.

Acordo com a Palestina
O Mercosul assinou ontem um acordo de livre comércio com a Palestina. O tratado, segundo o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, equilibra as relações econômicas do bloco sul-americano com o Oriente Médio, já que, no primeiro semestre, um acordo semelhante havia sido firmado com Israel. O acerto permite que mercadorias produzidas por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai entrem no território palestino com tarifas de importação reduzidas. O mesmo acontecerá com os produtos palestinos que forem exportados para o Mercosul. Para o Brasil, conforme o ministro, o acordo pode representar negócios de US$ 200 milhões por ano.


Morte abala o encontro

Montevidéu — A morte de subsecretário de Comércio Exterior da Argentina, Iván Heyn, causou consternação ontem, na reunião de cúpula do Mercosul. O economista, de 33 anos, foi encontrado enforcado com um cinto em um quarto do luxuoso hotel Radisson, onde normalmente as delegações estrangeiras se hospedam na capital do Uruguai.
Ao ser informada da tragédia, a presidente argentina, Cristina Kirchner, abandonou a sala onde os mandatários do bloco sul-americano estavam reunidos. Segundo fontes da delegação argentina, ela teve uma crise nervosa e precisou ser atendida por uma equipe médica. Com o clima de tristeza, a tradicional foto dos participantes da cúpula foi suspensa.
A morte do economista foi classificada inicialmente como suicídio pelas autoridades uruguaias, mas não está descartada a possibilidade de crime sexual. Heyn estava em Montevidéu desde a semana passada para participar de reuniões técnicas preparatórias. Ontem, sua ausência chamou a atenção da comitiva argentina. De acordo com José Luis Rondán, chefe de Relações Públicas da Polícia de Montevidéu, ele foi encontrado no início da tarde por um funcionário do hotel, que avisou as autoridades.
Heyn era integrante do grupo juventude peronista La Cámpora, do qual participa Máximo Kirchner, filho mais velho da presidente argentina. Ex-dirigente da Federação Universitária do país, ele ocupou outros cargos no Ministério da Economia durante a primeira presidência de Cristina Kirchner e havia assumido a Subsecretaria de Comércio Exterior há apenas 10 dias.


EcoSport para o mundo

ATAIDE DE ALMEIDA JR.

Depois de muito mistério e especulações, que envolveram inclusive uma imagem falsa circulando pela internet, a Ford liberou uma foto que mostra parte da nova EcoSport. O veículo vai ser produzido na unidade de Camaçari (BA). Para isso, a Ford fez um investimento de R$ 400 milhões em uma fábrica de motores na região, capaz de produzir até 210 mil unidades por ano. "O novo empreendimento incorporou o que existe de mais avançado em termos de manufatura, qualidade e flexibilidade operacional para produzir uma família de motores inédita no mundo, com ganhos significativos em eficiência e sustentabilidade", disse, em nota, o presidente da Ford Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira. A empresa deve investir no total R$ 2,8 bilhões apenas no Nordeste brasileiro — e US$ 4,5 bilhões em toda a América do Sul.

Índia
O EcoSport vai ser apresentado em primeira mão no Brasil, no próximo 4 de janeiro, em um evento na capital federal para autoridades, entre elas, a presidente Dilma Rousseff e o governador da Bahia, Jacques Wagner. No entanto, não será possível ter acesso ao interior do carro. O lançamento oficial vai ser no Salão do Automóvel de Nova Déhli, na Índia, em um estande com 1,4 mil metros quadrados.

A chegada do utilitário esportivo faz parte do plano da empresa para fabricar modelos globais até 2015. Para isso, a montadora vai segmentar a fabricação de veículos, fazendo com que cada país produza os tipos de carros mais desejados pelo público local. Assim, o Brasil estará focado em montar veículos pequenos; os Estados Unidos, os de porte maior; as fábricas na Europa ficarão com os médios; e os asiáticos, com as picapes. Para o ano que vem, além da EcoSport, a Ford planeja lançar mais dois carros, seguindo o plano de ter automóveis globais. Até agora, o New Fiesta — nas versões sedã e hatch — foi o primeiro a ter esse título no Brasil.


BRASIL
Emboscada em Minas

Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais do trabalho Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira, foram mortos em emboscada enquanto faziam fiscalização de rotina. Eles averiguavam as condições de trabalho em lavouras de grãos em Unaí (MG), a 150km de Brasília.
As investigações apontaram como suspeitos dos crimes os irmãos Norberto e Antério Mânica, maiores produtores de grãos da região. Estimava-se que a fazenda dos Mânica acumulava mais de R$ 2 milhões em multas por descumprimento das leis trabalhistas.
Além dos irmãos Mânica, sete suspeitos foram acusados de terem participado das execuções. Dos nove indiciados, apenas cinco permanecem presos — os supostos os executores, que teriam recebido R$ 11 mil pelo serviço e ainda não foram julgados.


CIDADES
TSE exige pressa para tirar Benício
Em decisão monocrática, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral Ricardo Lewandowski manda que a cassação do parlamentar seja cumprida imediatamente. Mesa Diretora da Câmara Legislativa tem 48h para se pronunciar

LUCAS TOLENTINO

Acusado de captação ilícita de votos e abuso de poder econômico, o deputado distrital Benício Tavares (PMDB) corre o risco de deixar, de vez, a cadeira que ocupa no Legislativo. Na última segunda-feira, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, acatou o processo que pede a execução imediata da cassação do mandato do parlamentar, já anteriormente decidida pelo próprio tribunal. A ação foi ajuizada por Robério Negreiros Filho, suplente de Benício. A Câmara Legislativa tem até amanhã para se pronunciar. A defesa do distrital promete recorrer.
O ministro Lewandowski afirmou estar "perfeitamente caracterizada" a acusação de que o parlamentar "reuniu cerca de mil terceirizados em um templo" e aproveitou a ocasião para angariar votos de maneira ilícita. O texto do magistrado caracteriza essa e outras acusações como "fatos extremamente graves" e consta na decisão de 17 de novembro, em que o TSE concluiu, por unanimidade, pela cassação do mandato de Benício. Publicada no último dia 9, a sentença sustenta que o distrital coagiu eleitores e agiu com abuso de poder para vencer o pleito do ano passado.
O TSE determinou, na última segunda-feira, que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) fosse comunicado com urgência "para que tome todas as providências pertinentes ao imediato cumprimento e efetivação" da decisão. A Câmara Legislativa, porém, se encontra em recesso. Mesmo assim, a assessoria de comunicação informou que o processo chegou à Casa no fim da tarde. A partir daí, segundo o órgão, começam a contar as 48 horas para que a Mesa Diretora decida como proceder. Enquanto isso, a Procuradoria-Geral do órgão elabora parecer para embasar as ações futuras.
Por enquanto, o político acusado de várias denúncias, inclusive na Caixa de Pandora (leia Memória), continua no cargo de deputado distrital. A defesa de Benício tem duas estratégias. "Vamos protocolar um pedido de reconsideração da decisão (de Lewandowski), além de entrar com uma ação cautelar com efeito suspensivo dos embargos de declaração", adiantou Rodrigo Pedreira, um dos advogados do parlamentar. Caso os recursos não tenham sucesso, conforme a decisão do TSE, Benício ficará impedido de disputar eleições durante oito anos.

Respeito
Filho de um empresário que mantém contratos com o GDF e também na Esplanada dos Ministérios, o primeiro suplente do PMDB, que cobra a vaga, tenta manter a discrição em relação a Benício Tavares. Segundo sua assessoria de imprensa, Robério Negreiros Filho está em viagem ao exterior, mas ressalta manter "um respeito muito grande" pelo distrital e tê-lo como um "grande articulador". De acordo com a assessoria, Robério não tem agido no sentido de "acelerar" o processo de cassação do parlamentar.
Apesar das declarações oficiais, na prática a situação é outra. A petição que o ministro Lewandowski apreciou na última segunda-feira foi ajuizada justamente por Robério Negreiros Filho. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o documento requer que a Corte "comunique ao TRE-DF o resultado do julgamento" pela cassação de Benício.


Tragédia destrói toda uma família
Acidente envolvendo dois carros e um caminhão mata o promotor de Justiça Albertino de Souza Pereira Netto, a mulher e o único filho, de 14 anos. Cinco horas depois, um engavetamento, no mesmo local, tira a vida de uma mulher de 59 e do neto, de 3 anos

ANA MARIA CAMPOS
LILIAN TAHAN

Albertino de Souza Pereira Netto, 35 anos, era filho, marido, pai, amigo, um promotor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Tinha um senso apurado de Justiça. Era da safra de profissionais que não tem hora para começar, nem para largar o trabalho. Fazia parte do grupo que desvendou os maiores escândalos de corrupção de Brasília. Foi um dos responsáveis pela Operação Megabyte, uma investigação sobre lavagem de dinheiro que jogou luz no personagem Durval Barbosa, central para entender esquemas engenhosos de crime organizado.
Filho de juiz, Albertino dedicou-se a desbaratar contratos sobre armações por onde escoava dinheiro público. Uma dessas maracutaias que se tornou uma brecha para a malversação de recursos do erário são eventos promovidos pelo governo que acabam se transformando em uma festa com o dinheiro público. Combater esses desvios esteve sob a responsabilidade de Albertino. Ele era rigoroso com a transparência e a prestação de contas de contratos na área cultural. É autor de várias ações contra a Secretaria de Cultura pelo que considerava irregular: excessos cometidos com o dinheiro de impostos. O trabalho de Albertino despertou a atenção para a organização de shows superfaturados. Integrou a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep). Antes, havia atuado como promotor do Tribunal do Júri da Ceilândia.
No último um ano e meio, Albertino assumiu um papel de comando no Ministério Público. Ele vinha exercendo a chefia de gabinete da procuradora-geral de Justiça do DF, Eunice Amorim Carvalhido. Albertino fez campanha para ela entre os colegas. A popularidade dele e o respeito no Ministério Público foram importantes para que muitos promotores dessem um voto de confiança a Eunice.
Fluminense de Itaperuna (RJ), mas criado em Minas Gerais, Albertino elegeu Brasília como sua cidade após ingressar, em 2003, na carreira que amava. "Nada é mais gratificante do que conseguir condenar bandidos", costumava dizer aos amigos. Pois bem. Às 6h30 da manhã de ontem, esse homem que dedicou a vida à missão de buscar a Justiça tornou-se mais uma vítima do asfalto. Ele, sua mulher, Roberta Resende Pereira, 34 anos, e filho único do casal, Bruno Resende Pereira, 14. Assim, Brasília, uma cidade carente de retidão, ética e moralização ficou órfã desse promotor de Justiça.
No fim da tarde de ontem, quando amigos se reuniram para acompanhar uma missa em homenagem a Albertino e sua família, Eunice Carvalhido, a chefe do Ministério Público, chorava a perda no auditório do MPDFT. "Não sei se para mim ele era um irmão, um filho ou um amigo. Não sei como lidar com essa perda", desabafou a procuradora-geral de Justiça. Albertino era gentil. Todos os dias acompanhava Eunice até o elevador e se despedia para o dia seguinte de trabalho. Na última segunda-feira, último dia antes do início do recesso no MP, os colegas contaram que ele ficou no gabinete até as 20h30.
O acidente aconteceu nas primeiras horas da manhã de ontem. Ele levava a mulher, o filho e o cachorrinho, Denver, para passar o Natal em família na cidade de Conselheiro Lafaiete, a 100km de Belo Horizonte (MG). Albertino falava do pai como um exemplo que lhe inspirou a carreira de promotor. A paixão do filho Bruno por cavalos, a mesma que ele tinha, lhe dava orgulho. O menino praticava equitação. Em um porta-retrato na mesa de trabalho, ele mantinha sempre a mulher ao alcance dos olhos.
As mortes de Albertino e da família dele ocorreram no terceiro dia de publicação da série de reportagens do Correio sobre histórias de pessoas do Distrito Federal que se envolveram em desastres fatais. A 10 dias do fim de 2011, o promotor, seu menino e sua mulher entraram para essa triste estatística. Apenas de janeiro a outubro, 77 pessoas morreram em cinco rodovias federais que cortam o DF. Na manhã de ontem uma Saveiro bateu frontalmente no Prisma que Albertino comprara recentemente. Em seguida, o carro pegou fogo. A família toda ficou carbonizada. O reconhecimento oficial será feito por teste de DNA ou pela arcada dentária. Amigos de longa convivência do Ministério Público, no entanto, não tiveram dúvidas sobre a morte da família.
O desastre chegou como uma notícia de terror para os colegas. Assessor de Política de Segurança do Ministério Público, o promotor Eduardo Gazzinelli, o melhor amigo que Albertino tinha em Brasília, foi um dos primeiros a chegar na cena da tragédia. Outros promotores foram até o local, como o coordenador do Centro de Inteligência do Ministério Público, Wilton Queiroz. Eram todos muito próximos.

Falha oficial
Como se não bastasse uma tragédia que fez desaparecer uma família inteira, a intervenção do Estado falhou. Ao interditar a rodovia por causa do acidente, a Polícia Rodoviária Federal não tomou as providências necessárias para isolar devidamente a área e impedir outro triste episódio. A sinalização deficiente do local do acidente acabou provocando outro desastre, a menos de 500 metros de onde a família Pereira morreu. Uma cadeirinha que acomodava e protegia uma criança de 3 anos foi o que restou da batida que matou avó e neta. Houve um engavetamento de oito veículos atingindos por um caminhão que atropelou uma fila de carros parados em função da primeira batida. O Honda Civic onde estavam Jane Hilsea Gomes Santos, 59 anos, e um neto de 3 anos ficou irreconhecível. Em um período de apenas três horas, dois acidentes, envolvendo 11 veículos, custaram a vida de cinco pessoas, além de deixar 11 feridos, sendo quatro deles em estado grave.


SAÚDE
"A doença é terrível"

Amante da pescaria, o aposentado José Maria de Melo, 61 anos, de Pará de Minas, na Região Central de Minas Gerais, desconfiou de uma ferida aberta no cotovelo que não cicatrizava de jeito nenhum. No fim de 2009, depois de uma série de exames, descobriu que estava com leishmaniose cutânea. Com o diagnóstico, começou o tratamento. Da primeira vez, tomou 60 ampolas do medicamento. Todos os dias, por duas horas, era internado para se medicar por meio de um soro. Dois meses depois do procedimento, a doença voltou. Ele teve que tomar tudo de novo. Há um ano está bem. "Ficou só a cicatriz. A doença é terrível. A ferida vai abrindo, arde e aparece em outros lugares. Durante o tratamento, a gente fica muito fraco, é como se fosse uma quimioterapia", lembra, lamentando que ainda não haja cura para o mal. "O governo deveria investir nisso, pois o mal já é epidemia em nosso país. É urgente a produção de uma vacina", diz.

LEISH TEC à prova
Como recomendado pelo Ministério da Saúde, a vacina Leish Tec, desenvolvida por pesquisadores da UFMG e produzida pelo laboratório Hertape Calier, se submeteu à fase 3 de testes, como forma de comprovar em uma população de cães a eficácia do produto, comercializado no país desde 2008. Conheça o passo a passo do teste, que comprova a eficiência da imunização:

* Há dois anos, 1,2 mil cachorros saudáveis de Porteirinha, no norte de MG, participaram dos testes — metade deles vacinados com a Leish Tec.
* A cidade foi escolhida por registrar alto número de casos da doença.
* Ao fim de dois anos, 96,41% dos animais imunizados não apresentaram a doença.
* Além da eficácia da vacina, foi avaliado o percentual de transmissão dela. O cão, ao entrar em contato com o protozoário, se vacinado, reduz 50% da capacidade de transmitir  a doença para os seres humanos.

fonte: http://clipping.radiobras.gov.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário