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quinta-feira, 1 de março de 2012

1º de março de 20121 - ZERO HORA


PRIMEIRA PÁGINA

Dilma pressiona construtora por obra no Beira-Rio
Ao assumir a reforma do Beira-Rio como questão pessoal, presidente dá ultimato à empreiteira Andrade Gutierrez

Por que piso deixa Tarso em saia justa
Apesar de discordar do cálculo de reajuste para professores, RS não participa de mobilização

COLUNAS
Informe Econômico

Maria Isabel Hammes

Trilhões evaporados
A crise mundial que assola os países do mundo todo deixou um rastro de perdas em todas as bolsas do mundo. No acumulado, a desvalorização sofrida pelos pregões no período de 2008 a 2011 chega a 12% do valor de mercado de 2007 frente ao de dezembro passado.
Em valor financeiro acumulado no mesmo período, chega-se a US$ 50,4 trilhões, conforme dados do Instituto Assaf, a partir de informações de mercados mundiais.

Zero a lamentar
Confiante de que a obra no Beira-Rio possa sair do chão a partir do ultimato dado ontem pela presidente Dilma, Aod Cunha, ex-CEO do clube, não tem qualquer arrependimento de ter levado à frente as negociações para acertar o contrato com a Andrade Gutierrez. Afastado da reforma desde fevereiro do ano passado, diz que não havia outra opção por duas razões: o clube não tinha condições de levá-la sozinho no modelo pretendido e um projeto com este vulto, sem comprometer as finanças do Inter, só poderia ser tocado por uma empresa grande:
– Sobre a decisão, tenho zero de arrependimento, mas o que veio depois sobre sua condução e fazer com que ela acontecesse mesmo é outra história.

Know-how gaúcho
Um incorporador imobiliário entende que várias construtoras teriam condições técnicas de tocar o projeto, como a intenção manifestada pelo Nex Group. O problema é outro, o mesmo que enfrenta a Andrade Gutierrez (AG): a falta de um investidor:
– Nosso negócio é construir, não administrar estádio por 20, 30 anos, isso não tem nada a ver com nossa operação. Construir um estádio é fácil, há umas seis empresas aqui com capacidade para isso. Agora, buscar um fundo, internacional ou do país, não é fácil na pressa por todo este atraso que ocorreu no processo.
– O que a AG fez com o Estado foi uma grande enganação, o prefeito José Fortunati está certo ao falar que estávamos sendo engambelados pela empresa – comentou outro empresário da construção.

Antes da Andrade Gutierrez
O leitor Paulo Guaraci Rodrigues, atento às discussões sobre os rumos do Beira-Rio, lembra que o Inter já havia recebido uma proposta para a reforma do estádio, em 2008. A empresa espanhola MKG visitou o clube (representantes na foto ao lado) há quatro anos.
Entre as vantagens oferecidas, destacou o leitor, seria a inexistência de custos para o Inter, o que também teria evitado a venda do Eucaliptos. O clube ignorou a oferta.

Azul contrata
Uma equipe da Azul Linhas Aéreas – formada por comandantes e pessoal de recursos humanos – fica até hoje na PUCRS realizando uma seleção para copilotos da companhia. Participam do processo 29 diplomados pela Faculdade de Ciências Aeronáuticas da universidade, a grande maioria formada no último semestre.
A seleção envolve provas de conhecimentos gerais, exames médicos, provas de inglês, entre outros. A expectativa do diretor da faculdade, professor Elones Ribeiro, é que todos sejam contratados.

Reestruturada para crescer
Apesar de admitir incertezas na economia, especialmente no segundo semestre, o diretor-presidente do Grupo Competence, João Satt Filho, projeta receita 15% maior em 2012. O plano é gerar mais negócios nos três Estados da Região Sul, mas não estão descartadas parcerias com agências de outras regiões, inclusive o Nordeste.
A meta de crescimento é calcada em um processo de restruturação técnica e de diretoria que pretende reforçar os setores de estratégia, criação e multicanais.

Capital indiano investe em Nova Santa Rita
Nova Santa Rita está prestes a ganhar investimento importante. É a nova fábrica e sede administrativa da Dorf Ketal Brasil, empresa de capital indiano que produz aditivos químicos para o mercado de extração, produção e refino de petróleo, bem como para os mercados petroquímico e de combustíveis e com atuação em toda a América Latina.
Investimento de R$ 8,5 milhões, a obra, a cargo da Adelchi Colnaghi Arquitetura & Construção, inclui ainda um laboratório de pesquisas e aplicações, a instalação de um novo reator e a ampliação da área de tancagens, estruturas que devem ser concluídas em 2013.
Colaboraram Erik Farina e Tássia Kastner

Brasília

Carolina Bahia

Vestindo a camisa

Diante do risco de Porto Alegre passar pelo fiasco de perder a Copa, a presidente Dilma finalmente resolveu interferir, acionando a cúpula da Andrade Gutierrez. Como a opção por um novo consórcio significaria ainda mais perda de tempo e desgaste, ela determina que a empresa honre o compromisso. Empreiteira com inúmeros contratos com a União, é claro que a AG não tem interesse em um mal-estar com o Planalto. A empresa é líder da construção da hidrelétrica de Belo Monte, principal obra do PAC. O que ainda não está claro é como esse imbróglio chegará ao fim, uma vez que a falta de garantias continua. O difícil é entender a postura da AG, que, cada vez mais pressionada, não age com transparência. O próprio consórcio apresentado ao Banrisul, com a previsão de recursos de fundos de pensão do Estado e do município, só agora é desvendado.

Padrinho
Carlos Araújo (foto) foi acionado pela cúpula do Inter e procurou a presidente Dilma, pedindo solução para o impasse no Beira-Rio. Ex-marido e conselheiro, Araújo encaminhou detalhes sobre as negociações. Diante da solicitação especial, Dilma passou a monitorar o caso.

Três em um
O Planalto sucumbiu aos evangélicos e nomeou Marcelo Crivella (PRB), um dos principais nomes da Igreja Universal do Reino de Deus, o novo ministro da Pesca. A jogada acalma a bancada no Congresso, mesmo que a pasta não possua prestígio algum. Ligado aos militares, o senador também auxiliará nessa relação. Em jogo, ainda, a renúncia de Celso Russomanno (PRB) à prefeitura de São Paulo, beneficiando Fernando Haddad (PT).

Corneta
Apesar da tensão no Planalto envolvendo as obras no Beira-Rio, interlocutores da presidente Dilma não perderam o senso de humor. Um deles brincou, dizendo que os jogos da Copa deveriam ocorrer no estádio do Caxias ou no do Novo Hamburgo, em uma referência aos dois finalistas do primeiro turno do Gauchão.

RECORTE E COBRE
Consolação - Quanto ao Ministério dos Transportes, o Planalto avisa: é mais fácil Dilma renunciar do que devolver o posto ao PR. O partido reivindica um lugar na Esplanada e deve ganhar uma vaga de importância equivalente à da Pesca.

POLÍTICA
Assinatura na lei do piso engessa atuação de Tarso
Apesar de discordar do cálculo de reajuste para professores, RS não participa de mobilização

Tarso Genro aprovou – está lá seu nome, embaixo da assinatura do então presidente Lula – a lei que agora quer mudar. À época ministro da Justiça, o atual governador concordou com um critério de reajuste do piso nacional do magistério que se revela assustador para o Piratini. Agora, ele se equilibra entre o lobby para alterar a legislação e o constrangimento de quem "deu um tiro no pé", como avalia um assessor.
Embora Tarso assuma abertamente que é impossível cumprir a lei, seus movimentos são acanhados. Na terça-feira, 10 governadores foram ao Congresso pressionar os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pela aprovação de uma proposta que derruba a atual forma de corrigir o piso. O governante gaúcho, segundo sua assessoria, tinha outras questões para resolver. Um secretário próximo analisa assim:
– Ele é signatário da lei. Não vai se expor muito, não vai ficar na linha de frente. Tem um lado meio constrangedor. O fato é que esta lei precisa mudar, porque os reajustes são insustentáveis.
Atualmente, o índice utilizado para o reajuste baseia-se no valor gasto por aluno no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). É o que manda a lei – assinada, em 2008, pelo próprio Tarso. E é o que desejam os sindicatos.
Ocorre que essa forma de correção do piso resultou em um aumento de 22% em 2012. A tendência é esse índice crescer ano após ano. Por isso, os governadores lutam pelo reajuste ditado pelo INPC, que girou em torno de 6% no ano passado e baseou a proposta de Tarso para elevar o salário dos professores (veja quadro).
No Piratini, a interpretação é de que o governador faz tudo o que pode, oferecendo ao magistério o maior reajuste dos últimos anos. A contradição mora na lei que ele subscreveu em 2008. Na época, conta um antigo assessor de Lula, Tarso ajudou a idealizar o piso. Mas nunca defendeu a utilização do Fundeb como forma de reajuste – essa questão surgiu no Congresso, após pressão de sindicatos sobre parlamentares.
Na hora de sancionar a lei, Lula entendeu que seria um prejuízo político vetar o artigo. Aprovou, com a assinatura de Tarso embaixo, e na semana seguinte enviou outro projeto que trocaria o Fundeb pelo INPC. O texto até hoje aguarda votação.

PMDB tenta contornar crise no diretório

Na tentativa de sepultar a crise que abala o partido, o PMDB gaúcho deve confirmar hoje, em reunião do diretório estadual, a permanência de Ibsen Pinheiro no comando da sigla no Rio Grande do Sul. Ele está no centro de uma disputa interna em relação ao futuro da legenda na Capital: lançar candidato próprio ou apoiar a reeleição de José Fortunati (PDT).
Em dezembro, Ibsen surpreendeu os colegas ao comunicar sua saída. Setores da legenda acreditam que ele pretendia ficar livre para concorrer à prefeitura da Capital, como defendem integrantes do diretório estadual. Já o diretório municipal prefere indicar o vice na chapa de Fortunati. Com a divisão, o PMDB acabou afundando em discórdia.
A intenção hoje é sensibilizar o ex-deputado para que volte atrás. A mobilização inclui o deputado Marco Alba, que chegou a liderar uma chapa de oposição a Ibsen nas eleições para o diretório estadual.
– Ibsen é necessário ao partido. Queremos que ele fique no comando, e vamos fazer de tudo para que isso aconteça – disse Alba.
Osmar Terra defende candidatura própria
Procurado por ZH, Ibsen não retornou as ligações. Apesar disso, sua permanência é dada como certa. Se nesse ponto há sinais de entendimento, o mesmo não se pode dizer em relação às eleições na Capital, cujo debate promete esquentar.
O presidente do PMDB em Porto Alegre, Sebastião Melo, segue convicto de que a sigla deve se manter fiel a Fortunati.
Para o deputado federal Osmar Terra, a opção pode enfraquecer ainda mais o partido, que viu sua influência diminuir drasticamente nas eleições de 2010. Terra não descarta a hipótese de que Ibsen possa ser candidato, mesmo retomando o comando do diretório estadual.
– Tanto a bancada federal quanto a estadual precisam ser ouvidas. Vamos provocar essa discussão na reunião. Seria um erro se não fizéssemos isso – adianta Terra.

Para ajudar Haddad, troca na Esplanada
Inclusão de Marcelo Crivella (PRB) deve incluir desistência da sigla em SP

Ainda que tenha ficado imune à maré de denúncias de corrupção que atingiu o governo Dilma Rousseff vitimando sete ministros, o Ministério da Pesca caminha para ser um campeão de trocas. Supostamente fruto de um arranjo político relacionado à eleição para prefeito de São Paulo, a dança das cadeiras derrubou o ministro Luiz Sérgio (PT-RJ) – que sucedera Ideli Salvatti (PT-SC) – para acomodar o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ).
Assim como Luiz Sérgio e Ideli, Crivella não tem relação com a cadeia pesqueira. O Planalto nega, mas o objetivo de Dilma Rousseff ao escolher o senador fluminense seria facilitar a vida do ex-ministro Fernando Haddad (PT). Com a candidatura do ex-governador José Serra (PSDB) a prefeito de São Paulo, pode ser crucial para o sucesso petista a saída de Celso Russomano (PRB) do páreo. Russomano nega que vá sair e Crivella, por sua vez, que o convite tenha ocorrido para impulsionar Haddad.

PT do Rio não sabia que perderia vaga na Esplanada
Outra boa razão para incluir o senador no primeiro escalão é a identificação dele com a bancada evangélica. Ainda que não seja reconhecido como líder por outros integrantes do grupo, a inclusão de Crivella distensiona o diálogo entre o Planalto e os religiosos, em pé de guerra com Dilma desde que a Presidência colocou a feminista Eleonora Menicucci na Secretaria de Políticas para Mulheres. De quebra, a presidente incorpora outra legenda aliada ao emaranhado de poder da Esplanada. O partido tem um senador e 10 deputados.
– Dilma usou de toda sua genialidade política para abrigar um partido por afinidade – afirmou Crivella.
O novo troca-troca na Pesca surpreendeu até o PT do Rio. Mesmo pisando em ovos para não constranger um aliado de peso como Crivella, os petistas fluminenses não esconderam a frustração.
– Me surpreendeu isso, não esperava. Viram a notícia na internet, na sede do partido, e me avisaram – afirmou o presidente do PT-RJ, Jorge Florêncio.
Em seguida, ele completou:
– Foi uma surpresa desagradável. Podiam ter nos informado antes, pelo menos.
Brasília

Se eleito, Serra promete não renunciar ao cargo

Em sua primeira entrevista como pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PSDB, o ex-governador José Serra disse que o "sonho" de disputar novamente a Presidência da República está "adormecido, pelo menos até 2016". Ele afirmou ainda que, se eleito, cumprirá os quatro anos de mandato na chefia da cidade de São Paulo.
Prestes a completar 70 anos no dia 19, Serra afirmou que tem "muito tempo pela frente".
– Estou no auge da minha energia – disse.
Ele, no entanto, evitou falar sobre 2018, quando poderia pensar novamente na disputa nacional, aos 76 anos:
– Está muito longe.
Serra foi eleito prefeito em 2004, dois anos depois de perder a corrida presidencial para o ex-presidente Lula. Mesmo tendo assinado um documento em que se comprometia a cumprir o mandato até o final, o tucano deixou a prefeitura em 2006 para concorrer ao governo do Estado – e, assim, pavimentar o caminho para voltar a disputar a Presidência, em 2010.
Ontem, rechaçou abandonar a prefeitura novamente, se eleito.
– Eu estou sendo candidato para governar a cidade até quando o mandato dura, que é 2016. Estou dizendo: vou cumprir os quatro anos. Isso é mais que uma promessa – afirmou.

TJ abre processo por fraude na Assembleia

Chegou esta semana ao órgão especial do Tribunal de Justiça (TJ) um inquérito contra 11 pessoas suspeitas de envolvimento em suposta fraude na Assembleia Legislativa entre 2003 e 2008.
O inquérito da Polícia Federal, que originou o indiciamento, surgiu como desdobramento das investigações da Operação Solidária e foi finalizado em outubro de 2011, quando seguiu para parecer do Ministério Público. Antes de chegar ao TJ, o inquérito também foi analisado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O caso tramita em segredo de Justiça, mas os indiciamentos seriam por estelionato.
A Polícia Federal apurou que cinco funcionários da Assembleia recebiam salários sem trabalhar. Os outros seis indiciados seriam servidores e intermediários que colaboravam com a suposta fraude. Entre os funcionários fantasmas, dois teriam atuado no gabinete do ex-deputado Marco Peixoto, à época integrante da bancada do PP. Atualmente, Peixoto é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O presidente da Assembleia, Alexandre Postal (PMDB), afirmou que irá se pronunciar sobre o caso somente após receber informações oficiais.

Contraponto
O que diz Marco Peixoto
ZH deixou recado na caixa postal do telefone celular dele, que não retornou as ligações. A assessoria do ex-parlamentar informou, em contato com a RBS TV, desconhecer qualquer indiciamento de pessoa que tenha prestado serviço no gabinete de Peixoto.

Operação na Europa faz o BC intervir no câmbio
Perspectiva de que parte dos euros liberados possa chegar ao país provocou valorização do real

Para conter a crise e aumentar a oferta de crédito na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) fez uma oferta maciça de dinheiro aos bancos. A expectativa de que o Brasil receba parte dos recursos forçou ontem uma dupla intervenção do Banco Central (BC) no mercado de câmbio nacional.
No Exterior, o BCE repassou 529,23 bilhões de euros com prazo de refinanciamento de três anos a 800 bancos. O valor ficou bem acima do estimado pelo mercado, de 450 bilhões de euros.
Poucas horas depois do anúncio, os negócios abriram no Brasil com forte demanda pelo real. O interesse pela moeda brasileira era, segundo analistas, apenas uma amostra da avalanche de recursos que pode aportar na esteira da superinjeção nos bancos europeus. Isso porque parte dos valores emprestados pelo BCE pode rumar para mercados emergentes em busca de juro mais alto.
– A tendência é de que o BC fique ainda mais atuante. Acho que a frequência das ações do governo deve voltar ao que era no primeiro semestre do ano passado com, por exemplo, compras mais próximas à frequência diária – disse Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados.
Depois da atuação do BC, o dólar, que chegou a recuar para R$ 1,68, fechou cotado a R$ 1,7143 no mercado à vista da BM&F Bovespa.
Foi a segunda injeção maciça de recursos no continente europeu em pouco mais de dois meses. A anterior ocorreu em 21 de dezembro passado, quando 523 instituições financeiras aceitaram 489 bilhões de euros. Na operação de dezembro, os bancos usaram o dinheiro principalmente para comprar títulos de governos, o que ajudou a aliviar o custo de financiamento de diversas nações em situação financeira difícil.
Uma delas é a Itália, terceira maior economia da zona do euro, que deve o equivalente a 120% do seu Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas por um país). Na última segunda-feira, o governo italiano conseguiu captar cerca de 12 bilhões de euros por meio de oferta de títulos de curto prazo, oferecendo retorno abaixo de 2% ao ano. Há poucos meses, havia sido forçado a ofertar bônus com juro na casa de 6%.
A operação de socorro ao sistema financeiro, no entanto, não freou os contínuos protestos no continente europeu. Na Espanha, estudantes secundaristas e universitários criticaram cortes na educação.
Em Barcelona, os protestos foram marcados pela violência. Quando a passeata chegou perto da bolsa de valores, foram lançados objetos contra o edifício. A polícia dispersou os manifestantes e prendeu alguns deles. Um grupo de jovens, alguns com os rostos cobertos, quebrou as portas de vidro de um banco e colocou fogo em contêineres de lixo.

Operação na Europa faz o BC intervir no câmbio
Perspectiva de que parte dos euros liberados possa chegar ao país provocou valorização do real

Para conter a crise e aumentar a oferta de crédito na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) fez uma oferta maciça de dinheiro aos bancos. A expectativa de que o Brasil receba parte dos recursos forçou ontem uma dupla intervenção do Banco Central (BC) no mercado de câmbio nacional.
No Exterior, o BCE repassou 529,23 bilhões de euros com prazo de refinanciamento de três anos a 800 bancos. O valor ficou bem acima do estimado pelo mercado, de 450 bilhões de euros.
Poucas horas depois do anúncio, os negócios abriram no Brasil com forte demanda pelo real. O interesse pela moeda brasileira era, segundo analistas, apenas uma amostra da avalanche de recursos que pode aportar na esteira da superinjeção nos bancos europeus. Isso porque parte dos valores emprestados pelo BCE pode rumar para mercados emergentes em busca de juro mais alto.
– A tendência é de que o BC fique ainda mais atuante. Acho que a frequência das ações do governo deve voltar ao que era no primeiro semestre do ano passado com, por exemplo, compras mais próximas à frequência diária – disse Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados.
Depois da atuação do BC, o dólar, que chegou a recuar para R$ 1,68, fechou cotado a R$ 1,7143 no mercado à vista da BM&F Bovespa.
Foi a segunda injeção maciça de recursos no continente europeu em pouco mais de dois meses. A anterior ocorreu em 21 de dezembro passado, quando 523 instituições financeiras aceitaram 489 bilhões de euros. Na operação de dezembro, os bancos usaram o dinheiro principalmente para comprar títulos de governos, o que ajudou a aliviar o custo de financiamento de diversas nações em situação financeira difícil.
Uma delas é a Itália, terceira maior economia da zona do euro, que deve o equivalente a 120% do seu Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas por um país). Na última segunda-feira, o governo italiano conseguiu captar cerca de 12 bilhões de euros por meio de oferta de títulos de curto prazo, oferecendo retorno abaixo de 2% ao ano. Há poucos meses, havia sido forçado a ofertar bônus com juro na casa de 6%.
A operação de socorro ao sistema financeiro, no entanto, não freou os contínuos protestos no continente europeu. Na Espanha, estudantes secundaristas e universitários criticaram cortes na educação.
Em Barcelona, os protestos foram marcados pela violência. Quando a passeata chegou perto da bolsa de valores, foram lançados objetos contra o edifício. A polícia dispersou os manifestantes e prendeu alguns deles. Um grupo de jovens, alguns com os rostos cobertos, quebrou as portas de vidro de um banco e colocou fogo em contêineres de lixo.

Gol pretende voar para os Estados Unidos

A Gol prepara a entrada no mercado de voos regulares entre o Brasil e os Estados Unidos. Há duas semanas, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) concedeu à companhia o direito de operar 14 voos semanais no trecho.
A aérea confirmou ontem o interesse em voltar a atuar nesse mercado, mas não forneceu detalhes do projeto. O plano de retomar as rotas de longo curso – iniciadas com a bandeira Varig, logo depois da compra da empresa, em 2007 –, contradiz o discurso repetido até recentemente.
Nos últimos anos, a Gol tem reafirmado que as prioridades são o mercado doméstico e o internacional de médio curso, restrito a voos para a América do Sul e o Caribe. Logo depois de adquirir a Varig, a companhia chegou a operar voos para Frankfurt, Paris e Cidade do México, mas resolveu extinguir as rotas.
Com aviões ultrapassados, que consumiam muito combustível, a Gol fracassou na empreitada. A falta de uma estratégia diferenciada de preços e serviços também foi um entrave para o sucesso no segmento. Em 2009, a aérea também chegou a operar voos fretados para Orlando, nos EUA.
Se realmente iniciar essas operações, a Gol entrará em um segmento de rentabilidade mais elevada dentro do setor aéreo.
– Usualmente, as margens são maiores nas rotas de longo curso. Você consegue diluir melhor seus custos fixos em voos de maior duração – explica o professor Marcio Migon, do MBA em Logística da Fundação Getulio Vargas no Rio.
No início de dezembro passado, a Gol anunciou um acordo comercial com a Delta Air Lines. A americana comprou participação minoritária de 3% por US$ 100 milhões. Conforme informado na data,a partir do terceiro trimestre de 2012 deve haver expansão do compartilhamento de voos (code share) entre as duas companhias, o que permitirá, por exemplo, que passageiros comprem trechos internacionais da Delta pela Gol, e trechos de viagens no Brasil pela Delta.

Envio de declaração começa hoje

A entrega da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física 2012 começa hoje. A Receita espera receber, até 30 de abril, 25 milhões de declarações, ante 24,37 milhões em 2011.
Foram feitas pequenas alterações no imposto. Doações em dinheiro aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais e municipais – efetuadas entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano –, por exemplo, poderão ser abatidas já na atual declaração.
Precisa declarar, entre outras condições, quem recebeu, em 2011, rendimento bruto tributável superior a R$ 23.499,15 ou rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados apenas na fonte acima de R$ 40 mil.
Embora não seja obrigado, quem teve IR retido em 2011 e tem direito à restituição precisa entregar a declaração para recebê-la.

Leão na rede
- O programa para o preenchimento da declaração está em www.receita.fazenda.gov.br

CAMPO E LAVOURA
Seca e Argentina causam dispensa nas indústrias
Unidade gaúcha da Agco demite 55 em Santa Rosa, e redução de vagas supera 2 mil no país

A redução na exportação para a Argentina e a seca, que diminui o investimento de produtores gaúchos, estão se refletindo na queda das vendas de máquinas agrícolas no Estado, e as demissões começam a aumentar. Desde outubro do ano passado, o segmento perdeu 2.322 postos de trabalho no país, número ao qual se somaram, na terça-feira, 55 funcionários da Agco do Brasil dispensados em Santa Rosa, noroeste do Estado.
Em 2011, a John Deere havia desligado mais de 300 operários. O fato de a agricultura movimentar valores apenas durante as safras foi a principal causa apontada pela Agco para justificar as demissões.
A situação se agravou em decorrência da seca, que causou prejuízos nas lavouras de milho e soja, duas das principais culturas de verão.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas, Claudio Bier relata redução de 10% na produção de máquinas agrícolas no Estado nos últimos seis meses. O dirigente culpa também a retração do mercado argentino. Destino de 25,3% das máquinas exportadas pelo Brasil, a Argentina apresentou, em 2011, queda de 8,1% nas compras em relação a 2010. A diminuição significa R$ 60 milhões a menos circulando na indústria.
– A Argentina impôs licenças prévias para produtos brasileiros, o que restringiu a entrada das mercadorias. Logo depois liberaram, por pressão do Brasil. Só que, de outubro para cá, voltaram a restringir. Como 10% do que é feito no Estado era exportado para lá, é um lucro significativo que deixa de entrar – explica Bier.

Dirigente projeta crescimento menor
A perspectiva da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) para o desempenho do faturamento nacional em 2012 foi reduzida. A expectativa de alta de até 8% caiu para 5%.
O fraco desempenho reflete nos empregos. Apesar de 2011 ter registrado crescimento de 3,6% nas vagas em comparação a 2010, há risco de novas dispensas.
– A tendência é de mais demissões – afirma o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto.
ROBERTO WITTER

Regras para exportar tabaco à China

O Ministério da Agricultura publicou ontem os critérios a serem seguidos pelo tabaco produzido no Brasil, curado em estufa e em galpão, que tenha a China com destino. A regra prevê monitoramento do agente causador do mofo azul, doença que ataca as folhas, destruindo o produto final.

Ruralistas insistem em anistia a desmatadores

Na retomada da discussão da reforma do Código Florestal na Câmara dos Deputados, prevista para este mês, a bancada ruralista corre o risco de tropeçar nas regras do Congresso. Defendida pelo grupo, a anista a desmatadores seria dificultada pelas normas internas.
Aemenda 164 autoriza a retirada de vegetação e a manutenção de áreas desmatadas em qualquer tipo de atividade no campo. O problema apontado pela bancada é que o Senado alterou o texto original, estabelecendo a necessidade de recompor áreas de preservação permanente em margens de rio. A bancada ruralista pressiona pela dispensa total de reposição para quem desmatou em margens de rios até 22 de julho de 2008.
Segundo consultores legislativos, como a Câmara e o Senado já aprovaram a medida, pode haver restrições no regimento interno – normas de votação no Parlamento – para modificar esse ponto. A Câmara pode retomar o texto original, acolher o texto do Senado ou fazer ajustes na proposta. Não pode inserir medidas não tratadas nas análises anteriores. Relator do código, o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) avisa que muitos parlamentares pretendem retomar a emenda 164.
– Um grupo de deputados quer ver de volta essa emenda 164, vamos ver a possibilidade. Esse vai ser o grande problema – prevê Piau.

A origem da controvérsia

COMO É HOJE
- Um produtor que desmata pode receber multa de até R$ 50 milhões, ter a atividade suspensa e ser preso.

Como vai ficar
- Se aprovado, o código vai permitir que o desmatador se inscreva em um programa de regularização ambiental.

O CÓDIGO FLORESTAL
- Peça-chave da legislação ambiental, define as áreas que devem ter vegetação conservada e as que podem ser usadas para agricultura, pecuária e silvicultura (plantação de florestas com objetivo comercial). Atualiza o código vigente, implantado ainda em 1965.

GERAL
Ministro quer incluir ciências em exame

O Ministério da Educação quer incluir a disciplina de ciências na Prova Brasil, a principal avaliação da educação básica. Atualmente, o exame analisa apenas o desempenho dos alunos em matemática e português.
A proposta foi anunciada ontem pelo ministro Aloizio Mercadante. A Prova Brasil é aplicada a cada dois anos para alunos entre a 5ª e a 9ª séries. Esse exame é um dos principais componentes para a formação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que analisa a qualidade de escolas e redes de ensino. Mercadante, no entanto, não deu detalhes sobre a inclusão da nova disciplina na Prova Brasil.


Frente parlamentar propõe "SUS" para animais

Animais domésticos que vagam por ruas e vilas terão a saúde monitorada pelo Estado. Essa é a intenção de um projeto de lei que prevê criação de um programa nacional de atendimento veterinário gratuito, espécie de SUS animal.
Apresentada em 2011 pelo deputado federal paulista Ricardo Izar (PSD), a proposta está no grupo de projetos discutidos a partir das 18h de hoje no Plenarinho da Assembleia Legislativa, durante a passagem pelo Estado da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais. O movimento visita capitais brasileiras para mobilizar a sociedade em torno dos projetos relacionados ao tema, que tramitam na Câmara dos Deputados.
Propostas como a proibição de animais em circos e combate à caça ilegal e ao tráfico de espécies silvestres estão na pauta. Das discussões com parlamentares, profissionais ligados a universidades e ONGs, o grupo pretende ao final do ano redigir e enviar ao Congresso o texto de um estatuto dos direitos dos animais.
A proposta do SUS animal é voltada para famílias de baixa renda, de até três salários mínimos. Nesses casos, cães, gatos e outras espécies receberão atendimento gratuito, envolvendo consultas e cirurgias. Órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e outros estabelecimentos oficiais formarão a rede de assistência, na qual o poder público poderá firmar convênios com ONGs, clínicas, empresas e entidades de classe.
– Hoje o animal domesticado faz parte da família. Além disso, é um potencial transmissor de doenças. Tratá-los também é uma questão de saúde pública – defende Ricardo Izar.
O financiamento para o programa virá de outro projeto, que prevê a criação do Fundo Nacional de Defesa Animal, apto a receber doações e a deduzir parte do imposto de renda.
– São propostas que contemplam o cuidado com o ser vivo e atuam como medidas de prevenção de doenças entre a população de baixa renda – elogia a médica veterinária Norma Centeno Rodrigues.
Outro projeto envolve os rodeios, com a proibição de provas que consistam "em perseguição, seguida de laçada ou derrubada de animal". Conforme Rodrigo Teixeira, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos, que promove o Freio de Ouro, se for aprovado o texto implicará mudanças no rodeios de estilo americano, mais comuns no centro do país.

As propostas
- SUS Animal – Projeto cria um programa de atendimento veterinário gratuito para animais pertencentes a donos que comprovem renda familiar de até três salários mínimos.
- Fundo de Defesa Animal – Proposta institui o Fundo Nacional de Defesa Animal, autorizado a deduzir do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas e a receber doações. Os recursos ajudariam na manutenção da rede de assistência do SUS animal.
- Rodeios – Projeto de lei que proíbe rodeios e eventos similares a realizar provas com perseguições seguidas de laçadas e derrubadas dos animais.
GUILHERME MAZUI

POLICIA
Pesquisa avalia Forças Armadas na segurança

A maioria dos brasileiros ouvidos por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) considera que as Forças Armadas devem ser empregadas no combate ao crime. É o que aponta pesquisa do Sistema de Indicadores de Percepção Social, divulgada ontem, para avaliar a relação dos militares com a sociedade.
Apesquisa mostrou que 91,7% das 3.796 pessoas consultadas em todos os Estados consideram que Exército, Marinha e Aeronáutica devem colaborar com as polícias militar e estadual, atuando também na segurança pública. Os entrevistados só se dividem quanto à frequência com que isso deve ocorrer. Quase metade (47%) diz que o emprego dos militares deve ser constante, enquanto os demais defendem que isso ocorra apenas em algumas situações específicas.
A ideia de que as Forças Armadas atuem cotidianamente contra os criminosos comuns é mais bem aceita entre as pessoas mais velhas, as de menor faixa de renda familiar e as com menor grau de escolaridade.

MUNDO
Promessa em troca de comida
Coreia do Norte aceita paralisar programa atômico e testes com mísseis para receber ajuda contra a fome crônica no país

A Coreia do Norte já fez muitas promessas nos últimos anos para, em seguida, quebrá-las. Porém, o acordo anunciado ontem com os EUA, segundo o qual o regime comunista paralisa o desenvolvimento de armas nucleares e mísseis capazes de transportar ogivas em troca de comida, é um passo importante – e positivo – em uma das regiões mais tensas do planeta.
Assinado em Pequim, na China, o novo tratado obriga o regime de Kim Jong-un a suspender testes com armas atômicas, a parar de enriquecero urânio e a permitir o retorno dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica, expulsos do país há três anos. A contrapartida americana será o envio de 240 mil toneladas de comida – a primeira remessa desde que a ajuda foi suspensa em 2009. Como tática de negociação, os diplomatas de Washington precisaram reforçar repetidas vezes que os EUA não tinham interesse em derrubar o regime.
A secretária de Estado Hillary Clinton, contudo, foi cautelosa ao falar sobre o alcance do acordo:
– O anúncio representa um passo modesto na direção correta. Nós, obviamente, vamos seguir olhando de perto e julgando os novos líderes da Coreia do Norte por suas ações.
A nação comunista indicou que os EUA se ofereceram para discutir a suspensão das sanções e o abastecimento de reatores de água leve para gerar eletricidade como prioridade, uma vez que as negociações sobre o desarmamento nuclear foram retomadas.
Segundo o especialista Gordon Flake, diretor da Fundação Mansfield, os norte-coreanos aceitaram uma moratória e inspeções em troca de algo que os EUA estão dispostos a dar – por isso, trata-se de um bom acordo para o Ocidente. Pyongyang realizou testes nucleares em 2006 e 2009.
O regime comunista tem investido pesado em pesquisas militares, mas se demonstrou incapaz de levar comida às mesas da população do país. Nos anos 1990, uma grande fome matou milhares de pessoas. Ao mesmo tempo, as agências de ajuda humanitária afirmam que a situação se deteriorou novamente depois de um inverno inclemente sobre as lavouras norte-coreanas.
Os quilos a mais de Kim Jon-un, (na foto) demonstram que ele não passa pelos mesmos problemas de falta de comida enfrentados pelos homens e mulheres que governa. Na sua estreia diplomática, ele ao menos emite um sinal de que – ao contrário do pai – importa-se com a população do país.
Pyongyang

REPORTAGEM ESPECIAL
Dilma manda resolver
Ao assumir a reforma do Beira-Rio como questão pessoal, presidente dá ultimato à empreiteira Andrade Gutierrez

A presidente Dilma Rousseff perdeu a paciência e interveio nas negociações envolvendo a Andrade Gutierrez (AG), o Inter e o Banrisul. Em um telefonema na terça-feira à direção da construtora, Dilma enquadrou o presidente do conselho de administração, Sérgio Lins Andrade, e o presidente-executivo do grupo, Otávio Marques de Azevedo:
– É o meu clube, é o meu Estado. Não há hipótese nenhuma da empresa sair que nem cachorro e deixar todo mundo de pincel na mão – esbravejou a presidente.
Irritada, Dilma cobrou uma solução rápida para o impasse, proibindo a AG de abandonar o projeto. A presidente lembrou que foi a empresa que se ofereceu para conduzir a reforma e agora precisa cumprir sua parte.
Esta não foi a primeira vez que Dilma cobrou a empreiteira. Em viagem recente à Venezuela, ela alertou executivos da AG que o caso de Porto Alegre tinha uma importância pessoal, e que não admitia ser "deixada na mão".
Dilma fez ainda referência direta ao caso Itaquerão, emperrado até o ano passado por falta de garantias envolvendo a empreiteira Odebrecht. Corintiano fanático, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também emparedou os diretores da empreiteira e exigiu que a obra tivesse início.
– Eu quero que o caso Odebrecht seja a inspiração de vocês. A brincadeira acaba aqui – sentenciou a presidente na conversa com os executivos da AG.
Do outro lado da linha, empresários garantiram que o caso seria resolvido a tempo. Para o Planalto, a empreiteira não ousaria desobedecer uma ordem da presidente. Em 2011, a AG recebeu pelo menos R$ 393 milhões da União referentes a contratos, a sexta construtora que mais recebeu recursos.
O imbróglio envolvendo Inter e AG vinha sendo monitorado pelo Planalto há bastante tempo. A nota publicada pela AG nos jornais, culpando o Banrisul pelo atraso, repercutiu muito mal no Planalto.
– Resolvam de uma vez essa situação com o Banrisul – determinou a presidente.
CAROLINA BAHIA E KELLY MATOS | Brasília

Reunião às pressas e decepção

Não foi ontem, no entanto, que o ultimato de Dilma deu resultado. Foi sem avanço algum que terminou mais um encontro entre Andrade Gutierrez e Banrisul, no final da tarde de ontem, na sede do banco, na Capital. Quatro executivos da empreiteira – um deles, vice-presidente da área financeira, chamado às pressas de São Paulo – participaram de um encontro para detalhar a proposta de pedido de empréstimo já feita anteriormente ao presidente Túlio Zamin:
– Eles só vieram aqui para apresentar um detalhamento da proposta de ontem (terça-feira), mas não há qualquer diferença em relação ao já apresentado – declarou Zamin, que veio de Teutônia para a reunião.
Na reunião de terça, participaram o vice-presidente de finanças corporativas da AG, Ricardo Campolina, o diretor de desenvolvimento de novos negócios, Helder Dantas, o diretor de negócios estruturados, João da Silva Neto, e o diretor de financiamentos estruturados, Luiz Jordão. Não foram divulgados os nomes dos representantes da AG na reunião de ontem, sabe-se apenas que Dantas foi um deles.
O único fato novo da reunião de ontem foi a oferta de uma das empresas do grupo mineiro de fazer aplicações no Banrisul em troca da liberação dos recursos:
– É algo interessante, mas não ataca o problema central das garantias– disse o presidente do Banrisul.
Curiosamente, Zamin foi todo elogios ao consórcio de empreiteiras gaúchas Nex Group, disposto a ser um plano B para a obra. Disse mais de uma vez que se trata de um "grande parceiro" do Banrisul:
– Se vierem até nós, vamos olhar a proposta deles com muito carinho.
No Inter, que em meio ao temporal de ontem realizou uma rápida reunião com a Comissão de Obras, a expectativa é de que o ultimato de Dilma faça com que a negociação avance significativamente em até 48 horas. Porém, foi com incredulidade que o presidente Giovanni Luigi recebeu, por telefone, esquivando-se da chuva, o resultado da reunião da AG com o Banrisul que ocorria a poucos quilômetros do estádio:
– Mas que barbaridade...

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