PRIMEIRA PÁGINA
Pressão
para fechar cerco aos corruptos
No rastro da lei que afasta das eleições candidatos
condenados por corrupção, cresce o apelo popular para o Congresso tirar da
gaveta e votar 140 propostas que endurecem as punições
Infecção
pulmonar leva Lula a hospital
Com quadro de infecção pulmonar e febre baixa,
ex-presidente deve ficar no hospital por alguns dias, segundo médicos.
Imunidade baixa atrasa sua participação nas eleições
EDITORIAL
A Coreia
surpreende
Sul-coreanos alertam para o perigo de se confiar nos
vizinhos do norte
Surpresa e cautela marcam as reflexões em todo o
mundo a respeito do acordo firmando entre a hermética Coreia do Norte e os
Estados Unidos na semana passada. Os norte-coreanos aceitaram uma moratória de
lançamentos dos seus mísseis de longa distância, testes nucleares e atividades
de enriquecimento de urânio em seu complexo nuclear de Yongbyon. Além disso,
vão permitir o retorno das inspeções técnicas da Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA) para supervisionar a moratória sobre o enriquecimento de
urânio. Em troca, os norte-americanos vão retomar a ajuda alimentar, inicialmente
projetada em 240 mil toneladas, à Coreia do Norte.
O que surpreende é ser muito recente o aumento das
provocações à vizinha Coreia do Sul, desde a ascensão ao poder de Kim Jung-un
depois da morte de seu pai, Kim Jong-II, em dezembro. A situação ainda é das
mais delicadas entre os dois países, não havendo o menor sinal de que o novo
líder do norte estaria disposto a reabrir negociações, seja com os sul-coreanos
ou com os demais membros do chamado Grupo do Seis Países – Estados Unidos,
Japão, China e Rússia, além das duas Coreias.
Pelo contrário, Kim Jung-un vem de ameaçar com retaliações a exercícios militares desenvolvidos há poucas semanas por forças sul-coreanas em conjunto com tropas norte-americanas na zona militarizada entre as duas coreias. O mandatário do norte também reagiu com estridência à realização da Cúpula sobre Segurança Nuclear programada pela AIEA para Seul no final deste mês, classificando o evento de inaceitável provocação a Pyongyang.
Pelo contrário, Kim Jung-un vem de ameaçar com retaliações a exercícios militares desenvolvidos há poucas semanas por forças sul-coreanas em conjunto com tropas norte-americanas na zona militarizada entre as duas coreias. O mandatário do norte também reagiu com estridência à realização da Cúpula sobre Segurança Nuclear programada pela AIEA para Seul no final deste mês, classificando o evento de inaceitável provocação a Pyongyang.
Se há razões de sobra para a surpresa, não faltam
motivos para que o mundo, e não apenas a Coreia do Sul, receba com cautela esse
inesperado gesto de boa vontade do jovem ditador Kim Jung-Un. Ele pode estar
sofrendo pressões internas para aliviar as carências provocadas pelo fracasso
do regime que comanda o país desde o fim da guerra com a Coreia do Sul, em
1953. De fato, as condições de vida do povo norte-coreano tinham se deteriorado
nos últimos anos e a situação pode estar muito pior do que o severo bloqueio às
informações tem permitido ao mundo saber sobre o país.
Mas pode apenas tentar ganhar tempo antes de voltar
a chantagear com seus arsenais nucleares a vizinha do sul e o Ocidente. Nos
próximos dias começa uma série de encontros diplomáticos para o detalhamento do
acordo. É quando se saberá até que ponto vai a disposição de Kim Jung-un,
especialmente em relação à Coreia do Sul. Afinal, até agora, Seul não foi
chamada a participar dos entendimentos e confia muito pouco nos propósitos da
ditadura implantada no norte.
De saída, analistas sul-coreanos alertam para o
fato de que o enriquecimento de urânio é apenas a menor e menos avançada parte
do programa nuclear norte-coreano. De fato, as bases militares mais importantes
da Coreia do Norte usam como combustível o plutônio enriquecido, que não entrou,
até agora, no acordo. Tampouco se sabe ao certo se há outras instalações à base
de urânio mantidas em sigilo. Acostumados a viver sob ameaças, os sul-coreanos
alertam para o perigo de se acreditar nessa súbita conversão ao bom senso por
parte do regime da Coreia do Norte. Talvez eles tenham razão.
OPINIÃO
Decisões
históricas :: Carlos Alberto Di Franco
O princípio da presunção da inocência deve ser garantido,
mas não à custa da falta de transparência. O secretismo é um perigo para a
democracia
Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha)
Duas decisões históricas do Supremo Tribunal
Federal (STF) devolveram esperança à cidadania e mostraram que a Corte Suprema
não é insensível ao justo clamor da opinião pública. Não foi necessário esperar
a quarta-feira de cinzas para a sociedade cair na realidade. Em pleno mês do
samba e da folia, marca registrada da terra do Carnaval, os ministros do STF
cravaram duas Magníficas estacas do Estado de direito. Reconheceram os poderes
de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e decidiram que a Lei da
Ficha Limpa vale para as eleições deste ano.
A maioria dos ministros do STF decidiu na tarde de
quinta-feira, 2 de fevereiro, manter os poderes de investigação do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Por 6 votos a 5, a decisão reconheceu a autonomia do
órgão para abrir investigações contra magistrados sem depender de corregedorias
locais.
A decisão contraria liminar concedida pelo ministro
Marco Aurélio Mello no fim do ano passado, atendendo pedido feito pela
Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), que tentava fazer valer a tese de
que o CNJ só poderia investigar magistrados após processo nas corregedorias
estaduais. Nada contra as corregedorias locais, muitas lideradas por
magistrados íntegros e competentes. A experiência do corporativismo e do seu
filhote, a impunidade, sugere que o Brasil não deve ver reduzidas ou limitadas
às instâncias investigatórias, mas ampliadas.
Em louvável e transparente entrevista, o novo
presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori,
reconheceu que o viés corporativista do Judiciário não é uma invenção da imprensa.
O magistrado afirmou que alguns colegas de toga, envolvidos em supostos
desvios, foram convidados a se aposentar sem a devida investigação. "Foi
um erro gravíssimo. Deveriam ter sido investigados, punidos e expostos. Porém
havia uma cultura de não fazer isso, para evitar que as pessoas pensassem que
somos todos assim." Foi para evitar a cultura do acobertamento e a
consequente impunidade que o Supremo Tribunal Federal referendou os poderes do
Conselho Nacional de Justiça. A decisão foi uma vitória da sociedade e dos
magistrados honrados, que não querem a sombra dos privilégios, mas
transparência que deve pautar o comportamento dos servidores públicos.
Em outra decisão história o Supremo Tribunal
Federal barrou os candidatos ficha-sujas nas eleições deste ano. "Uma
pessoa que desfila pelo Código Penal ou pela Lei da Improbidade Administrativa
não pode se apresentar como candidato", afirmou o ministro Ayres Britto.
Quem quiser ser candidato não pode, por exemplo,
ter sido condenado por um colegiado da Justiça ou por órgão profissional como
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Federal de Medicina, mesmo que
ainda possa recorrer da decisão. Nem pode ter renunciado ao mandato para
escapar da cassação. Também ficam impedidos de participar da eleição os
políticos que tiveram contas rejeitadas e tenham sido demitidos do serviço
público.
Apoiada em 1,3 milhão de assinaturas para que o
projeto de iniciativa popular fosse apresentado ao Congresso, a Lei da Ficha
Limpa, fortemente estimulada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) e agora plenamente reconhecida pelo STF, é um exemplo do que pode fazer
o exercício da cidadania. Foi um golaço da sociedade e uma derrota da
bandidagem.
A decisão evidencia também a importância do
trabalho da imprensa no combate à corrupção. É difícil encontrar um único
ficha-suja cuja nudez não tenha sido iluminada pelos holofotes da imprensa de
qualidade. Reportagens consistentes estão na origem de inúmeros processos
judiciais. É o papel inestimável dos jornais nas sociedades democráticas.
O secretismo é um perigo para a democracia. O
princípio da presunção da inocência deve ser garantido, mas não à custa da
falta de transparência. Não tem sentido querer dar à exposição jornalística dos
fatos qualquer viés antidemocrático. A imprensa, no cumprimento rigoroso de sua
missão de informar, continuará dizendo a verdade. Gostem ou não os políticos ou
os candidatos.
POLITICA
Pressão
no rastro da ficha limpa
Congresso tem mais de 140 projetos que endurecem as
punições a crimes de corrupção no país. Mobilizações populares cobram urgência
na votação das propostas pelo Legislativo
Alessandra Mello
Depois da aprovação da Lei da Ficha Limpa e o
reconhecimento de sua constitucionalidade pelos ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF), dois novos projetos em tramitação no Congresso Nacional podem
dificultar ainda mais a vida dos políticos e demais envolvidos em casos de
corrupção. Um deles, do deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR), quer
tornar hediondo o crime de corrupção. Outro, de autoria do deputado federal
Rubens Bueno (PPS-PR), determina o afastamento imediato do cargo de todo
funcionário público, incluindo nessa categoria chefes do Poder Executivo
(prefeitos, governadores e presidente da República) e detentores de cargos de
confiança, como secretários e ministros, em caso de prisão em flagrante,
preventiva ou temporária.
Mas eles não são os únicos. Atualmente tramitam no
Congresso Nacional outras 139 proposições para combater a corrupção. A maior
dificuldade, no entanto, continua sendo a lentidão do Legislativo. Quase todas
caminharam a passos lentos no ano passado, segundo relatório da Frente
Parlamentar Mista de Combate à Corrupção, criada ano passado e que reúne
senadores e deputados de todas as legendas, sobre o andamentos de propostas
anticorrupção na Câmara dos Deputados.
Mas para o juiz Marlon Reis, um dos fundadores do
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), uma das entidades
coordenadoras da campanha popular pela aprovação da Lei Ficha Limpa, o
Congresso Nacional não tem como resistir à pressão que vem sendo feita pela
sociedade contra as práticas nocivas da política. "O círculo está se
fechando. O Congresso não tem como agir de forma contrária à demanda da
população contra a corrupção em todas as suas formas. Por isso temos esperanças
de que cada vez mais novas leis para aperfeiçoar o sistema político e combater
a corrupção sejam criadas."
A proposta de afastar agentes públicos que estão
presos pode ser a próxima a virar lei. Ela tramita de maneira conclusiva, o que
encurta seu rito de tramitação. Basta passar pelas comissões da Câmara para ser
aprovada, sem necessidade de ir à votação antes de ser enviada para a
apreciação no Senado. Isso pode acelerar sua tramitação desde que não haja
nenhum recurso contra seu não envio ao plenário e que o projeto também tramite
de maneira terminativa no Senado, ou seja, também sem precisar ser votado no
plenário.
CRÍTICAS Já o projeto do deputado Francischini é
mais polêmico e já foi considerado inconstitucional por alguns juristas. Texto
semelhante ao do parlamentar tucano tramita desde o ano passado no Senado. De
autoria do senador Pedro Taques (PDT-MT), a proposta está à espera de decisão
na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Casa. Francischini,
delegado da Polícia Federal, justifica a medida sob o argumento de que, apesar
dos avanços da legislação, a certeza da impunidade estimula a corrupção.
"Uma norma que iniba o envolvimento de gestores públicos em atos
irregulares é de extrema necessidade no sentido de acabar com essa certeza ou
ao menos minimizá-la".
Memória
Despacho da
cadeia
Em Minas Gerais, prefeitos já governaram atrás das
grades. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o ex-prefeito Alberto Bejani chegou a
ser preso duas vezes durante seu mandato. Na primeira vez, em abril de 2008,
ele ficou detido 14 dias, acusado de desvio de recursos do município. Quatro
meses depois foi preso novamente e, da cela, acabou renunciando ao cargo.
Depois de 39 dias de detenção, ele renunciou ao cargo. Em Ouro Fino, no Sul de
Minas, o vice-prefeito Deoclécio Consentino (PSDB) cumpre pena na cadeia da
cidade. Ele foi condenado por desvios de recursos da Câmara durante o tempo em
que foi vereador.
União
pela internet
O assunto já mobiliza grupos e entidades de combate
à corrupção e uma petição eletrônica já está em andamento nas redes sociais
para colher assinaturas a favor da transformação da corrupção em crime
hediondo. "A corrupção no Brasil mata milhões de brasileiros anualmente,
verdadeiro genocídio. A violência, assaltos, sequestros, assassinatos, roubos,
tráfico de drogas, armas, animais e mulheres, falsificação de medicamentos,
milícias, prostituição infantil e tantos outros crimes, tudo isso é reflexo da
impunidade que assola o nosso país beneficiando servidores públicos corruptos
que não cumprem a Constituição Federal, roubando verbas destinadas saúde,
educação, habitação, estradas, saneamento, transportes e demais necessidades de
que o cidadão brasileiro tanto carece", diz o texto do manifesto a favor
das proposições de Taques e Francischini.
Agentes públicos despachando das cadeias virou
rotina, principalmente no caso de prefeituras, é o argumento de Rubens Bueno
para seu projeto. "Rotineiramente, vemos agentes públicos, normalmente
prefeitos, despachando de cadeias públicas mesmo depois de serem presos
cautelarmente. Cremos que o administrador público, agente político ou não, deve
ser automaticamente afastado de suas funções em caso de prisão cautelar –
flagrante, preventiva ou temporária. Hoje é possível que um prefeito seja preso
e não seja automaticamente afastado, chegando-se ao absurdo de governar o
município, mesmo estando na cadeia", afirma o deputado sobre o projeto
apresentado por ele no início deste ano legislativo da Câmara.
Uma outra proposta que pode tramitar esta semana é
um sinal de que o Congresso está atento aos desejos da população, que, segundo
Marlon Reis, antes considerava a corrupção como algo natural da política. Ela
propõe a extensão da Lei Ficha Limpa para ocupantes de funções e cargos de
confiança – aqueles que não precisam de concurso público – em todos os poderes
e em todos os níveis de governo – União, estados e municípios. Taques, que já
defende a corrupção como crime hediondo, começa a colher esta semana a
assinatura de 27 senadores para a apresentação da proposta de emenda à
constituição (PEC) que estende o conceito da Lei Ficha Limpa para toda a
administração pública.
Ataques
sem fim na web
Especialista em direito digital acredita que novas
mídias serão cada vez mais usadas para que adversários políticos se alfinetem,
configurando crimes de calúnia, difamação ou injúria
Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Enquanto nos Estados Unidos as mídias digitais
tornaram-se, desde a campanha presidencial que elegeu Barack Obama, novo
paradigma de mobilização dos eleitores, no Brasil prevalece o achincalhe. São
ataques à reputação, que podem ser tipificados em crimes de calúnia, de
difamação ou de injúria. Sob o anonimato, a estratégia é trabalhar a campanha
negativa, a partir da avaliação de que, embora ela não dê, tem potencial para
tirar muitos votos. A tendência, que se delineou nas eleições municipais de
2008 e nas eleições presidenciais de 2010, vai se acentuar neste ano: mais as
novas mídias vão ser usadas para atacar adversários. A avaliação é de Alexandre
Atheniense, advogado e especialista em direito digital, que coordena o curso de
propaganda eleitoral na internet na Escola Superior de Advocacia da OAB-SP.
Se antes das eleições de 2010 apenas 226 dos 513
deputados federais usavam o Twitter, hoje a febre se alastrou. Só o perfil
@twiticos tem em suas listas mais de 2.783 políticos cadastrados, entre os
quais 347 deputados federais, 377 deputados estaduais, 402 perfis ligados a partidos
políticos, 101 prefeitos, 468 vereadores, 66 senadores, 65
ministros/ministérios e 30 governadores, entre outras categorias. A estimativa
é de que entre 60% e 70% dos políticos brasileiros estejam engajados em alguma
mídia digital.
O uso dos recursos da internet pelas campanhas
torna-se ainda mais inevitável quando se considera que o Brasil já tem 80
milhões de internautas. Além da ampla penetração e da possibilidade de
interação direta entre as campanhas e o eleitor, a regulamentação das eleições
deste ano, que será divulgada pelo TSE por meio de instrução até o mês que vem,
incorpora as mídias digitais às plataformas tradicionais de campanha, como a
televisão e o rádio, disponibilizados aos partidos pelo horário eleitoral.
Segundo Alexandre Atheniense, a instrução que
regulamentará a propaganda pela internet vai reiterar o princípio da
"livre manifestação do pensamento" pela rede mundial de computadores
e a propaganda em blogs, redes sociais, sítios, mensagens instantâneas como
pelo Twitter ou SMS com conteúdo gerado ou editado por candidatos, partidos ou
qualquer cidadão. "À medida que estamos avançando, estamos tendo
flexibilização do uso da mídia digital", considera o advogado. Segundo
ele, no ano passado o TSE reconheceu pela primeira vez a possibilidade de o
YouTube ser um canal da propaganda eleitoral, quando analisou a representação
da coligação que elegeu Dilma Rousseff contra José Serra, pelo vídeo
"2012. O fim está próximo".
Com mais de 324 mil visualizações de junho até
hoje, o vídeo contém ataques a Dilma, de olho nas eleições presidenciais de
2014. O cenário discursivo no vídeo construído para justificar "o fim
próximo" anuncia uma "perseguição implacável" que a Receita
Federal faria a José Serra, que seria forçado a viajar aos Estados Unidos para
um novo exílio político. Na sequência, a peça diz que "Dilma abre guerra
contra São Paulo" e, adiante, que ela aprovaria a descriminalização do
aborto". Argumentando ter sido o vídeo postado fora do período eleitoral,
o TSE considerou que o assunto não seria de sua competência. O processo foi
arquivado.
EXCESSOS Apesar disso, o vídeo marca, na avaliação
do especialista, uma época que ainda não terminou e sinaliza para uma
tendência. "A internet é um canal de propaganda inevitavelmente empregado
pelas campanhas. Mas há poucos instrumentos para combater os excessos",
diz Atheniense, em referência ao fato de diferentemente dos Estados Unidos,
onde as campanhas políticas são bem-sucedidas em propiciar o engajamento e o
financiamento, no Brasil a campanha pela internet ser muito mais empregada para
paródias ou excessos na liberdade de expressão, mirando a honra dos candidatos.
"Isso acontece porque existe uma falsa
sensação de que a tecnologia propicia anonimato e de que esses ataques não terão
a autoria revelada", avalia o advogado. Ledo engano. A cada 10 casos
investigados, sete têm a autoria dos conteúdos desnudada. "Os excessos são
ainda mais explicados pelo fato de o valor das condenações ser considerado
pífio, naqueles casos em que os autores dos ataques são revelados", afirma
Alexandre Atheniense.
Direito
de resposta é tendência
As mais recentes decisões do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) envolvendo as mídias digitais apontam para uma tendência: há
determinação para a retirada do ar daqueles casos de difamação, calúnia ou
injúria e quando o autor é identificado têm sido concedidos direitos de
resposta nas mesmas plataformas. Entretanto, a maior dificuldade da Justiça
continua sendo o anonimato. As peças com a propaganda negativa em geral são
canceladas, mas obviamente os autores não são punidos.
O primeiro direito de resposta concedido pelo TSE
no Twitter foi postado na página do atual presidente nacional do PT, Rui
Falcão, na ocasião coordenador da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência
da República. Em 19 de outubro, Falcão tuitou: "Cuidado com os telefonemas
da turma do Serra. No meio das ligações, pode ter gente capturando seu nome
para usar criminosamente...". O petista completou: "...podem clonar
seu número, pode ser ligação de dentro dos presídios, trote, ameaça de
sequestro e assim por diante. Identifique quem liga!". Condenado 10 dias
depois, Falcão teve de publicar em seu microblog: "Justiça Eleitoral puniu
Rui Falcão com este direito de resposta por ofensas à campanha de José Serra
vinculadas em seu Twitter. Cabe esclarecer que a comunicação feita pela
campanha de Serra agiu com lisura, de forma íntegra, respeitando todos os
eleitores!".
Os comentários de Rui Falcão que resultaram em
direito de resposta ao então candidato a presidente da República José Serra
(PSDB) referiam-se a ataques feitos a Dilma, entre outros, pelo site
www.dilmentiras.com.br, cujo domínio fora registrado com o uso indevido e não
autorizado do nome e do CPF de Odair Lucietto, na ocasião tesoureiro de
campanha da candidata Marina Silva (PV). O site apontava o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como "bebum" e acusava Dilma de preconceito
contra nordestinos. Lucietto soube por meio do site www.registro.br, do Comitê
Gestor da Internet no Brasil, que seus dados teriam sido usados por Ademir
Silva Fernandez para registrar o domínio. O tesoureiro de Marina pediu ao TSE a
retirada do ar e a aplicação de multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil a Fernandez. O
site foi retirado do ar, mas Ademir Silva Fernandez nunca foi localizado.
HONRA Entre os inúmeros casos de ataques à honra
dos candidatos pelas mídias sociais feitos sob a proteção do anonimato, está
também uma ação ajuizada pela coligação de Dilma contra o telemarketing com
emprego do Voip, serviço de comunicação que substitui as linhas telefônicas
pela internet banda larga. Nessas ligações falava-se aos eleitores sobre o
aborto, sobre a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e a então candidata
petista era acusada de "chefiar uma quadrilha". A Justiça Eleitoral
definiu que a identificação do responsável pela divulgação não seria elemento
indispensável à suspensão do serviço. (BM)
Em
julgamento no TSE
Está em pauta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
um julgamento que colocará em debate o uso do Twitter por candidatos antes do
início da propaganda eleitoral permitida em lei. Em 2010, o então candidato a
vice-presidente da República na chapa de José Serra (PSDB), Índio da Costa
(DEM), pediu votos pelo microblog em 5 de julho, um dia antes do permitido por
lei. Ele escreveu: "Conto com seu apoio e com o seu voto. Serra
Presidente: o Brasil pode mais". O Ministério Público requereu à Justiça
Eleitoral a aplicação de multa por propaganda antecipada. Índio da Costa
recorreu e agora o caso vai a julgamento no TSE. O então vice-candidato na
chapa de Serra se envolveu em outras polêmicas no Twitter, como críticas à
relação do governo brasileiro com questões internas do Irã (foto) e
religiosidade.
Dilma na
Alemanha
A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem em
Hannover (foto), na Alemanha, onde vai participar, a convite da chanceler
alemã, Angela Merkel, da abertura da maior feira tecnológica do mundo, a CeBit,
que tem o Brasil como parceiro na edição deste ano. Dilma será homenageada por
Merkel em jantar hoje à noite. Depois, as duas terão uma conversa a sós. Nesse
encontro, Dilma pretende tocar naquilo que chamou na semana passada de
"tsunami monetário", em referência ao impacto da decisão do Banco
Central Europeu de despejar 530 bilhões de euros em bancos do continente e
ajudá-los durante a crise.
ECONOMIA
União
que multiplica
Sem uma legislação que os favoreça, pequenos empresários se
unem reduzir custos e ganhar mercado com a formalização dos negócios. Falta de
incentivos provoca sonegação elevada
Zulmira Furbino, Marinella Castro e Luiz Ribeiro
Em 2010, existiam 6 milhões de micro e pequenas
empresas no país e elas empregavam 14,7 milhões de trabalhadores. Dois anos
antes, eram 1,7 milhão de trabalhadores e 200 mil empresas a menos. Os números
do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que, entre
2008 e 2010, os pequenos e micro negócios formais no Brasil cresceram 6,59% e o
de empregados 12,92%. Em ambos os casos, o avanço, que poderia ser maior, foi
limitado pela legislação brasileira. Em série de reportagens até amanhã, sobre
os desafios do cooperativismo o Estado de Minas mostra que, órfãos de uma lei
que os incentive de fato e de direito, os micro e pequeno empreendedores têm no
esforço coletivo uma forma de cobrir essa lacuna. A união os empurra para a
formalidade e os ajuda a reduzir custos, ganhar espaço no mercado e concorrer
com os grandes.
No Brasil, existem cerca de 8 milhões de micro e pequenas empresas em situação informal, segundo estimativa do Sebrae. "O problema é que o país arrecada fortemente com poucas grandes empresas e parece não ter muito interesse em melhorar o sistema de tributação para incentivar os pequenos negócios", diz o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Elói Olenike. Quando isso acontecer, pequenas organizações como a Associação Comunitária de Morro Alto, que reúne 25 produtores de farinha de mandioca em Morro Alto, distrito de Boicaiúva, no Norte de Minas, terão muito mais chance de fortalecer o seu negócio e ganhar mercado em todo o país.
No Brasil, existem cerca de 8 milhões de micro e pequenas empresas em situação informal, segundo estimativa do Sebrae. "O problema é que o país arrecada fortemente com poucas grandes empresas e parece não ter muito interesse em melhorar o sistema de tributação para incentivar os pequenos negócios", diz o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Elói Olenike. Quando isso acontecer, pequenas organizações como a Associação Comunitária de Morro Alto, que reúne 25 produtores de farinha de mandioca em Morro Alto, distrito de Boicaiúva, no Norte de Minas, terão muito mais chance de fortalecer o seu negócio e ganhar mercado em todo o país.
Depois de mais de 20 anos de existência, pela
primeira vez a associação teve acesso à palavra mágica que move as empresas
brasileiras: crédito. O empreendimento foi viabilizado com recursos da ordem de
R$ 100 mil, liberados pela Fundação Banco do Brasil. O recurso foi suficiente
para a compra do material. Já a construção foi feita no melhor estilo
cooperativista, com um mutirão de produtores. Mas ainda faltava a instalação
elétrica. Para conseguir o dinheiro, os produtores fizeram promoções, festas e
sorteios.
Até aqui, a farinha de Morro Alto é fabricada num
forno a lenha instalado numa fabriqueta de fundo de quintal construída em cada
uma das 25 casas. Depois de pronta, ela é acondicionada em sacos de 50 quilos e
vendida nos mercados de Montes Claros e Bocaiúva. O processo vem se repetindo
há mais de 20 anos, mas vai mudar. A associação está prestes a inaugurar uma
fábrica e a lançar a farinha com a marca Morro Alto. A unidade contará com uma
embaladora, o que permitirá que a mercadoria – hoje, vendida "solta"
em sacos – seja comercializada em embalagens plásticas vedadas, de um quilo e
dois quilos. As embalagens terão código de barra, o que possibilitará a venda
do produto também em supermercados e outros estabelecimentos.
Segundo o presidente da associação, Domingos
Fonseca, um dos fatores que levou a comunidade a se envolver com afinco na
iniciativa foi a percepção dos pequenos produtores de farinha de mandioca de
que corriam o risco de perder mercado. "Hoje, tem gente comprando a nossa
farinha e misturando com farinha de outro lugar para depois revender como se
fosse tudo de Morro Alto. Com a embalagem e com o código de barras, vamos
acabar com essa fraude". Ele acredita que a partir do momento em que a
comunidade se une, agindo em grupo, ganha melhores condições para alcançar seus
objetivos. "Esta é a única forma de crescer. Com o cooperativismo, as
coisas ficam mais fáceis: podemos reduzir os custos e elevar lucros".
Impacto O IBPT está trabalhando em um estudo sobre
o impacto da sonegação nos cofres públicos. O presidente da entidade estima que
a cada um real arrecadado pelo governo R$ 0,25 sejam sonegados e as empresas
informais têm forte participação nesse número. A atuação coletiva nos negócios
de pequeno porte é um forte aliado do governo na redução desse índice e tem o
poder de empurrar os empreendedores para a formalidade. Foi o que ocorreu no
pequeno vilarejo de Morro Alto e também acontece nas grandes cidades, como
Fortaleza, no Ceará.
A cearense Auricélia Soares, que preside uma rede
de 12 pequenas empresas do ramo da alimentação – confeitarias e panificadoras,
refeições, casa de massas , pães artesanais e chocolates –, a Sabor Demais, em
Fortaleza, é um exemplo. Até determinado ponto, a trajetória dela se confunde
com a de milhões de empreendedores no Brasil. Auricélia trabalhava com carteira
assinada quando resolveu fazer ovos de páscoa para faturar um dinheirinho a
mais. A demanda cresceu e ela resolveu deixar o emprego e trabalhar por conta
própria.
O que começou na informalidade, em pouco tempo se
transformou em empreendedorismo individual e, agora, vai virar microempresa. O
que fez a diferença? Entrar para uma rede de negócios, a Sabor Demais, que hoje
ela comanda num bairro da Zona Norte de Fortaleza. "Dos 12 empreendedores
que compõem a rede, oito estavam à margem da lei. Hoje só um participante ainda
permanece nessa situação. A entrada para a rede empurrou a todos para o mundo
formal", explica.
GERAIS
Violência
pula o muro da escola
Pedro Ferreira e Sandra Kiefer
Antes de abrir o portão de casa para quem bate, a
aposentada Magali da Conceição Câmara Soares, de 65 anos, espia pela fresta da
janela. Seus olhos são o reflexo do medo, que é vizinho, tem nome e sobrenome:
Escola Estadual Professor Pedro Américo, do outro lado da esquina, no Bairro de
Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte. Sob ameaça iminente de
fechamento, em parte motivado pelas próprias condições de segurança, esse
endereço, que como muitos outros na capital e no estado deveria ser referência
em educação, tornou-se um marco de violência e preocupação. O temor, que antes
rondava professores, diretores e funcionários de instituições de ensino, pulou
o muro e se espalhou pela vizinhança, traduzindo-se em arrombamentos, assaltos
e agressões, além de tráfico e uso de drogas diante das moradias.
O problema está longe de se restringir a Santa
Tereza. Em várias regiões de BH, morar perto de escola virou sinônimo de
insegurança e até mesmo pânico, diante da ameaça em que se transformaram alunos,
principalmente os envolvidos com uso e tráfico de drogas, que cometem delitos
na vizinhança para sustentar o vício. A infiltração dos tóxicos na comunidade
escolar já chegou ao ponto de jovens se matricularem a mando de criminosos
apenas para traficar, segundo relatos de funcionários. No ano passado, de
acordo com a Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds), foram 174 registros
de crimes contra a pessoa (como agressões e ameaças) e 201 ocorrências de
crimes contra o patrimônio (como furtos e roubos) em escolas de BH. E essa
violência continua, ou começa, do lado de fora.
Até mesmo quem passou a vida profissional lidando
com infrações à lei se surpreende com o comportamento dos estudantes. O militar
reformado Walter Costa, de 72 anos, mora em frente à Escola Pedro Américo, em
Santa Tereza, e também vive com medo. “Quebraram meu carro na porta de casa.
Jogaram pedras de dentro da escola. Fui lá, mas fui ameaçado. Eles me xingaram
de tudo quanto é nome. São perigosos”, diz Walter, se unindo ao coro de queixas
contra as drogas. “Têm 16, 17 anos, mas até os seguranças e a diretora têm medo
deles. No dia em que eles quebraram meu carro, fui lá e o vigia não quis falar
quem foi.”
O medo da aposentada Magali também se relaciona a
um carro destruído. Ela conta que tudo ocorreu quando uma vizinha, com quem
conversava na rua, indicou um aluno da Pedro Américo que vendia drogas.
"Ela falou tão sem maldade que apontou. No dia seguinte, meu carro estava
todo quebrado: para-brisa, espelhos, porta, tudo. Ele viu que ela apontou e
deve ter entendido que eu iria fazer alguma coisa contra ele", disse a
aposentada. "Moro aqui há 12 anos, perdi meu marido há quatro meses e faz
uma semana que arrombaram a minha casa. Estou com medo de continuar aqui",
lamenta a aposentada, decidida a instalar cerca elétrica para tentar se
proteger.
ZONA SUL A região da cidade é outra, o nome da
escola é parecido, a situação é idêntica. Na Escola Estadual Pedro Aleixo,
apenas as questões do dever de casa permanecem intactas na sala de aula, apesar
de escritas a giz. Em volta está tudo destruído: paredes pichadas, vidros
quebrados e cadeiras depredadas, com o estofado azul arrancado até o esqueleto
de madeira. Na instituição, a violência também transborda, atingindo moradores
do Bairro Mangabeiras, Centro-Sul de BH. "A maioria dos meus alunos são
bons, mas existem aqueles que roubam. No fim do ano passado, meninos arrombaram
uma casa e vieram se esconder aqui dentro", conta uma professora, que já
teve o rádio do carro furtado diante da escola. Dias atrás, conta ela, uma
colega ficou sem um notebook que deixara escondido debaixo do banco do veículo.
Em fevereiro de 2011, a escola enfrentou uma onda
interna de violência, desencadeada pelo assassinato de um dos estudantes,
Jefferson Coelho da Silva, de 17 anos, morto por policiais quando estava na
companhia do tio Renilson Veriano da Silva, dentro do Aglomerado da Serra.
"Os alunos passaram a depredar a escola. Pulavam o muro, quebravam os
vidros e faziam gestos obscenos para as professoras, dependurados nas
grades", afirma uma fonte. Segundo ela, todos os vidros foram trocados e
novamente quebrados.
O clima piorou em setembro, quando o auxiliar de
serviços gerais Marco Túlio Miranda Dias, de 38, escapou ileso de três tiros
disparados por um aluno, de 17 anos. O funcionário desistiu do posto e mudou de
endereço. "Tentei consertar as coisas, mas perdi a esperança. Está tudo
errado", desabafou. Desde então, a escola permanece sem o funcionário, que
atuava informalmente como disciplinário. Também não conta com vigilantes. Na
semana passada, até a roçadeira (máquina usada para aparar a grama do jardim) e
o retroprojetor foram roubados.
A diretora, Raquel Coutinho, mandou aumentar o muro
de 1,5 metro com uma grade de mais 2 metros e aguarda investimento de R$ 2,5
milhões na reforma das instalações, aprovado pela Secretaria de Estado da
Educação. Conseguiu também portão eletrônico e sistema de vigilância por vídeo.
Em Belo Horizonte, apenas 15 escolas estaduais, de um total de 237, receberam
câmeras em 2011. Pouco para conter a ousadia de estudantes que transformam a
vida de colegas, vizinhos e funcionários das unidades em um tormento diário.
Enquanto
isso...
...Pedro
Américo está definhando
A violência motivada pelo tráfico é um dos motivos
para o iminente fechamento da Escola Estadual Pedro Américo, no Bairro Santa
Tereza, que está acabando aos poucos com as turmas. Das 13 salas de aula,
apenas cinco são ocupadas por cerca de 150 alunos do ensino médio. A
instituição cancelou as matrículas para o primeiro ano, que foi extinto, e,
assim que a última turma do terceiro ano concluir os estudos, a escola deixa de
existir de vez. A Secretaria de Estado de Educação, por nota, informou que a
instituição vem recebendo cada vez menos matrículas, mas não esclarece os motivos.
"Outras escolas na região já atendem à demanda e não faltará vaga para
nenhum aluno que necessite estudar na região", informa o texto.
Falta
consenso para enfrentar a questão
Para a Secretaria de Estado da Educação, a escola
não deve ser vigiada como um banco ou um shopping center. “Por ser pública, a
escola pertence à comunidade e deveria ser reconhecida como tal”, defende a
secretária-adjunta da Educação, Maria Céres Pimenta. Segundo ela, é preciso
diferenciar a violência da escola – que envolve assaltos e depredações contra o
patrimônio e deve ser combatida com equipamentos de segurança, como câmeras,
vigilantes e polícia – em relação à violência na escola.
Segundo a secretária, esse segundo tipo envolve os
alunos que estudam na instituição de ensino e estão inseridos em um contexto de
criminalidade. “Muitas vezes, não adianta investir em equipamentos de
segurança. O que diminui o conflito é ter menos alunos dependentes de
atividades ilícitas e, para isso, é necessário fazer uma reflexão envolvendo
toda a comunidade”, propõe. Ela lembra a importância das políticas de abertura
da escola para a comunidade como Escola Viva, além da escola de formação de
educadores, que vai passar a dar cursos de mediação de conflitos.
Já o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação
reclama da falta de uma política preventiva em relação à violência escolar. “A
Secretaria de Estado de Educação não reconhece o problema. Com isso, ele não é
diagnosticado e políticas não são estabelecidas. Muitas vezes, o professor se
sente humilhado e não passa para a direção ou outros órgãos competentes o
problema”, afirma a coordenadora da entidade, Beatriz Cerqueira.
Quando há caso de violência, segundo Beatriz, ele é
minimizado. “Não é possível ter um diagnóstico em número exato, devido à
prática de se tentar resolver a questão no próprio ambiente escolar”, afirma.
Para ela, quando há registro policial das ocorrências, há um esforço oficial
para tratar a questão como um caso isolado ou problema decorrente da condição
do aluno.
INTERNACIONAL
Putin
ganha sem surpresa
Primeiro-ministro vence com folga o primeiro turno
das eleições em meio a acusação de fraude e falta de legitimidade. Partidários
dele esperam mais independência do Ocidente
Moscou – Mais de 110 mil simpatizantes de
Vladimir Putin se reuniram na noite de ontem perto do Kremlin, no Centro da
capital russa, em uma manifestação de apoio ao primeiro-ministro, apontado como
vencedor das eleições presidenciais no primeiro turno. Homem forte da Rússia,
Vladimir Putin venceu com 65% dos votos, uma vez apurados os votos de 60% dos
colégios eleitorais. O candidato comunista Ziuganov chega na segunda posição
com 17,1% dos votos; na terceira, o populista Vladimir Jirinovski (6,7%) supera
o multimilionário Mikhail Projorov (6,9%) e o centrista, próximo ao Kremlin,
Serguei Mironov (3,7%). Os ativistas convocaram para hoje protestos contra o
resultado.
Putin será reconduzido à Presidência para um
terceiro mandato, após ter sido primeiro-ministro por quatro anos. Ele governou
o país de 2000 a 2008, mas a Constituição russa impede que um presidente se
candidate a um terceiro mandato consecutivo. A votação ocorreu em meio a uma
forte onda de protestos, indignação popular e ceticismo, provocada por
acusações de que teriam ocorrido fraudes generalizadas a favor do partido de
Putin, Rússia Unida, nas eleições parlamentares de dezembro. As denúncias
provocaram uma série de concentrações em diferentes pontos do país de nove
fusos horários, que reuniram cerca de 90 mil pessoas, que desafiaram um inverno
rigorosopara se manifestar.
A fim de aplacar os críticos, Putin anunciou a
instalação de webcams nos 90 mil postos eleitorais do país, mas muitos na
Rússia e entre a comunidade internacional questionam a eficácia da iniciativa.
Em um relatório, a Organização de Segurança e Co- operação na Europa
(OSCE) afirmou que ""câmeras não podem capturar todos os detalhes do
processo de votação, em especial a contagem de votos". Voluntários se
ofereceram para ser fiscais eleitorais e receberam treinamento para saber
identificar e denunciar possíveis fraudes.
ILEGÍTIMA O pleito presidencial, ao qual
tiveram acesso 109 milhões de eleitores, já vinha sendo questionado por muitos
russos depois de Putin ter anunciado que faria, na prática, um
""revezamento"" com o atual presidente, Dimitri Medvedev,
que foi o seu primeiro-ministro durante a sua Presidência. Com a já antecipada
vitória de Putin, Medvedev provavelmente retomará o antigo cargo. Há um debate
no país sobre se Putin seria a melhor pessoa para a Rússia e se é chegado o
momento de realizar mudanças. Quem seria melhor do que ele?
O candidato comunista Guenadi Ziuganov considerou
que a eleição presidencial russa foi "um roubo", enquanto Vladimir
Rijkov, um dos organizadores das manifestações opositoras de dezembro, afirmou
que não pode ser considerada "legítima". "Não reconhecemos estas
eleições", acrescentou Ziuganov. Para Rijkov, "estas eleições não
podem ser consideradas legítimas". Em contrapartida, os apoiadores de
Putin esperam que o ex-espião da KGB retorne ao Kremlin com duros discursos de
luta contra o Ocidente, uma marca registrada de seu primeiro mandato como
presidente e nas campanhas eleitorais. Economistas dizem que o principal teste
da volta de Putin ao governo seria vê-lo disposto a reformar a economia,
extremamente dependente da exportação de energia.
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